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Universidade Federal da Bahia Instituto de Física FIS123 – Física Geral e Experimental III-E EXPERIÊNCIA 01 MEDIDA DE CORRENTE E DIFERENÇA DE POTENCIAL Luciano Pereira Marcel Lobão Salvador Abril de 2015 Objetivo Estudo e discussão dos princípios básicos da instrumentação para medidas de corrente elétrica e diferença de potencial. Introdução Para a medição da corrente elétrica é necessário o conhecimento prévio da diferença de potencial (d.d.p.) à qual o circuito esta submetido e a resistência mínima associada a este, para que seja possível a escolha do medidor correto. No caso específico deste trabalho só havia um amperímetro com fundo de escala de 10 mA disponível, já que o objetivo estabelecido foi o estudo das possíveis transformações feitas com o aparelho. Foi estabelecida uma tensão usada para o experimento de 3,7 V (fornecida por um gerador de tensão). A tensão é diretamente proporcional a corrente elétrica a partir da relação: � = � ⋅ � (Lei de Ohm) No caso da medição de correntes com intensidades maiores que o fundo de escala do amperímetro, deve-se colocar em paralelo uma resistência de valor menor que a do amperímetro, de modo a desviar a maior parte da corrente e assim não danificar o medidor. Desse modo podemos definir um amperímetro como um galvanômetro associado em paralelo com uma resistência. Para isso é necessário que se conheça a resistência interna do aparelho. A medida dessa resistência se dá a partir do conhecimento da corrente total no sistema e, com essa na intensidade igual ao fundo de escala do amperímetro, varia-se a resistência em paralelo até que o amperímetro indique metade de seu fundo de escala. Dessa forma, pode-se afirmar que a resistência interna do amperímetro é igual a resistência colocada em paralelo com ele, como vemos na dedução a seguir: �� = �� ⇒ �� ⋅ �� = �� ⋅ �� ⇒ �� = �� ⋅ (� − ��) �� ⇒ ⇒ ���� �� = � 2 ∴ �� = �� Essa expressão se baseia no circuito apresentado abaixo: FIGURA 1 - Circuito com amperímetro. A partir dessa configuração apresentada acima, podemos aumentar o fundo de escala do amperímetro a partir da redução da resistência em paralelo (��). A �� pode ser dimensionada a partir da mesma formulação: �� = �� ⇒ �� ⋅ �� = �� ⋅ �� ⇒ �� = �� ⋅ �� (� − ��) Neste ponto, é necessário o conhecimento da resistência interna do amperímetro (��). Assim, substitui-se os valores de fundo de escala do amperímetro (��) e de valor máximo de corrente que se deseja medir (�). Ao final do experimento, foi realizada a transformação do amperímetro em um voltímetro, que consiste em um amperímetro em série com uma resistência, que deve ser dimensionada a partir do circuito representado abaixo: FIGURA 2 - Circuito com voltímetro. A partir dessa configuração, podemos medir a diferença de potencial fornecida pelo gerador de tensão. A resistência R deve ser dimensionada a partir da seguinte formulação: � = (� + ��) ⋅ � ⇒ � = � � − �� onde, � é a tensão máxima a ser medida, � é o fundo de escala do amperímetro e �� é a resistência interna do mesmo. Metodologia Para a execução do experimento, foram utilizados: duas décadas de resistores, fios para interligação do circuito, amperímetro, chave, placa de ligação, fonte de tensão, multímetro e jogo de baterias. O experimento foi dividido em 4 partes. A primeira consiste em realizar medições abaixo do fundo de escala do medidor. Para isso precisamos utilizar a Lei de Ohm para calcular a resistência mínima e a máxima que pode ser colocada no circuito. A partir daí, são realizadas várias medidas, alterando a resistência entre a máxima e a mínima. A segunda etapa visa a determinação da resistência interna do amperímetro. Para isso, se utiliza o método descrito com a Figura 2, utilizando a resistência � com o valor mínimo experimental e, em paralelo ao amperímetro, uma resistência ��, cujo valor vai sendo aumentado até que o amperímetro marque metade de seu fundo de escala. A terceira parte é o aumento da faixa de medição do aparelho. Com o mesmo circuito utilizado anteriormente, calcula-se o valor da �� para duplicar e para quadruplicar a faixa de medida. Então realizamos medidas com o valor de resistência mínima para a corrente de duas e quatro vezes o fundo de escala do medidor, e vamos dobrando o valor até realizar cinco medidas. No quarto passo, o amperímetro foi transformado em um voltímetro a partir da configuração utilizada na Figura 2. Dimensiona-se a resistência em série � para fazer um voltímetro de fundo de escala de 5 e 10 V para realizar medidas da tensão fornecida. Após isso, foi feita uma comparação das medidas do voltímetro de 10 V (feito a partir do amperímetro) e de um multímetro calibrado. Ao final, foram feitas medições em um jogo de 5 baterias, cada uma com 1,2 V de tensão. Resultados e Discussão 1. Medição de corrente menor que o fundo de escala do amperímetro. Com a tensão fornecida, precisávamos calcular a resistência necessária para as medidas a serem realizadas pela lei de Ohm. Assim, com a tensão dada de 3,7 V, e sabendo que o amperímetro tem um fundo de escala de 10 mA, calcula-se que a resistência mínima a ser colocada no circuito é de 370 Ω. Também se fez necessário calcular a resistência para uma corrente mínima de 1 mA (abaixo disso a medida não é confiável), que é de 3700 Ω. A Tabela 1 mostra os valores calculados e medidos nesta primeira etapa. TABELA 1 - Valores medidos (��) e calculados (��) de corrente elétrica a partir dos valores de resistência máxima e mínima calculada. � (Ω) �� (mA) �� (mA) ∆� = �� − ��(mA) 3700 0,9 1,0 0,1 2313 1,5 1,6 0,1 1682 2,0 2,2 0,2 1321 2,6 2,8 0,2 1088 3,2 3,4 0,2 925 3,9 4,0 0,1 804 4,5 4,6 0,1 712 5,2 5,2 0,0 638 5,8 5,8 0,0 578 6,4 6,4 0,0 529 7,0 7,0 0,0 487 7,6 7,6 0,0 451 8,2 8,2 0,0 421 8,8 8,8 0,0 394 9,4 9,4 0,0 374* 10 9,9 -0,1 370** >10 10,0 - NOTA: A tensão usada no cálculo foi de 3,7 V * Resistência mínima experimental **Resistência mínima calculada Nota-se que parte dos valores experimentais, em geral, são menores que os calculados. Isso ocorre devido a resistência interna do amperímetro, que não foi considerada nos cálculos. Podemos perceber também que, pela mesma razão, é percebido uma diferença entre a resistência mínima calculada e a experimental; isso também pode ser explicado por conta da diferença de potencial fornecida pelo gerador de tensão não ter o valor exato previsto em cálculo. 2. Determinação da resistência interna do amperímetro. Nesta etapa, foi utilizada a resistência mínima experimental, pois com esta, atém de se ter maior precisão na medida da corrente, tem-se também a certeza de trabalhar dentro da faixa de medida do amperímetro. Foi utilizado o circuito apresentado na Figura 1 com a resistência �� inicialmente em 1Ω. Esta foi sendo aumentada de 1Ω em 1Ω até que o amperímetro medisse 5 mA de corrente. Neste ponto, foi possível afirmar, de acordo com a dedução apresentada na introdução, que a �� era igual a ��(11 Ω). A Tabela 2 apresenta as medidas realizadas com cada resistência colocada na década ��. TABELA 2 - Medidas para a determinação da resistência interna do amperímetro. �� (Ω) �� (mA) 0 0,8 1 1,4 2 1,9 3 2,4 4 2,8 5 3,3 6 3,6 7 4,0 8 4,2 9 4,4 10 4,6 11 5,0 Considerando a corrente � como isenta de erros, sabendo e a década tem um desvio relativo de 5%, dado pelo fabricante, e que o desvioavaliado do amperímetro é de 0,1 mA, podemos calcular o erro associado a medida da resistência interna do medidor. �� = �� � ⇒ 5% = ��� 11 ⇒ ��� ≃ 0,6 Ω �� = � − �� �� ⋅ �� ��� = � ��� ��� � ⋅ ��� + � ��� ��� � ⋅ ��� ⇔ ⇔ ��� = � ⋅ �� (��)² ⋅ ��� + � � �� − 1� ⋅ ��� ⇔ ⇔ ��� = 1,0 Ω Portanto a resistência interna do amperímetro mede �� = 11,0 ± 1,0 Ω ��� = 9,1% Sendo ���o desvio relativo da resistência do amperímetro, o valor encontrado se mostra coerente pois ainda está dentro do limite de erro experimental aceitável (10%). Com a informação acima, podemos calcular a corrente real que passa pela resistência � quando o amperímetro mede 5 mA. � = � �� ⋅ �� �� + �� + �� ⋅ � ⇒ � = 9,78 mA A discrepância entre o valor utilizado anteriormente (10 mA) e o valor calculado (9,8 mA) é de 2,0%, então podemos afirmar que foi boa a aproximação anterior. 3. Transformação da faixa de medida de um amperímetro. Com o conhecimento da resistência interna do amperímetro, pode-se agora aumentar a faixa de medida deste aparelho. Usando o mesmo circuito anterior e a formulação apresentada na introdução, foi calculado o valor da resistência �� que possibilita ao amperímetro a representação de medidas de duas vezes (20 mA) e quatro vezes (40 mA) o seu fundo de escala. a. Duplicação do fundo de escala do amperímetro. Para duplicar a faixa de medição, a resistência �� deve ter 11 Ω. A resistência � que permite uma passagem de 20 mA (a partir da tensão aplicada de 3,7 V), foi calculada diretamente pela Lei de Ohm como sendo 185 Ω, sendo este valor utilizado como a resistência mínima para o novo amperímetro. A Tabela 3 mostra os valores medidos no amperímetro para cada resistência � colocada a partir dessa resistência mínima. TABELA 3 - Valores medidos (��) e calculados (��) de corrente elétrica para um amperímetro com fundo de escala de20 mA. � (Ω) �� (mA)* �� (mA) ∆� = �� − ��(mA) 185 9,6 | 19,2 20 0,8 370 5,0 | 10,0 10 0 740 2,4 | 4,8 5 0,2 1480 1,2 | 2,4 2,5 0,1 2960 0,6 | 1,2 1,25 0,05 * Os valores a direita são as medidas equivalentes ao fundo de escala de 20 mA. b. Quadruplicação do fundo de escala do amperímetro Para quadruplicar a faixa �� deve ter 3,7 Ω, mas como a década não permite esse valor, foi utilizado 3 Ω (a utilização de 4 Ω poderia danificar o equipamento). A resistência �, que permite uma passagem de 40 mA (a partir da tensão aplicada de 3,7 V), foi calculada diretamente pela Lei de Ohm como sendo 93 Ω, sendo este valor utilizado como a resistência mínima para o novo amperímetro.A Tabela 4 mostra os valores medidos no amperímetro para cada resistência R colocada a partir dessa resistência mínima. TABELA 4 - Valores medidos (��) e calculados (��) de corrente elétrica para um amperímetro com fundo de escala de 40 mA. � (Ω) �� (mA)* �� (mA) ∆� = �� − ��(mA) 93 8,5 | 34,0 39.8 5,8 186 4,2 | 16,8 19,9 3,1 372 2,0 | 8,0 9,9 1,9 744 1,0 | 4,0 5,0 1 1488 0,5 | 2,0 2,5 0,5 * Os valores a direita são as medidas equivalentes ao fundo de escala de 40 mA. É possível notar que os valores calculados, tanto na duplicação quanto na quadruplicação da escala, são maiores que os obtidos experimentalmente. Isso acontece porque o cálculo efetuado não considera a resistência do amperímetro e nem o fato de que a d.d.p. fornecida pelo gerador de tensão não é exatamente a usada no cálculo. No caso da quadruplicação da faixa de medida, nota-se que os erros são ainda maiores por conta da aproximação feita para a resistência ��. A resistência interna dos “novos” medidores podem ser calculadas pela associação em série das resistências. O amperímetro de fundo de escala de 20 mA tem �� = 5,5 Ω, e o de 40 mA, ��= 2,4 Ω. O desvio avaliado aumenta junto com a faixa de medição. Para fundo de escala de 20 mA, o desvio é de 0,2 mA, e, para 40 mA é de 0,4 mA. A partir disso, podemos inferir que os erros tendem a aumentar à medida que aumentamos a faixa de medição, porém pode ser visto através dos cálculos que o desvio relativo do amperímetro permanece inalterado em toda a faixa de medição. 4. Transformação do amperímetro em voltímetro. A partir da configuração apresentada na Figura 2, foi feita a transformação do amperímetro em um voltímetro. No caso em questão, o aparelho foi usado para medir a d.d.p. fornecida pelo gerador de tensão. a. Voltímetro com fundo de escala de 5V. De acordo com o cálculo mostrado na introdução a resistência usada para o voltímetro com fundo de escala de 5 V é de 489 Ω. O desvio avaliado para esse voltímetro é de 0,05 V e sua resistência, dada pela associação em série, é de 500 Ω. O valor de tensão medida para uma d.d.p. fornecida de 3,7 V foi de 3,6 ± 0,05V. b. Voltímetro com fundo de escala de 10V. Da mesma forma que o voltímetro anterior, para um fundo de escala de 10 V foi calculada uma resistência de 989 Ω. O desvio avaliado para esse voltímetro é de 0,1 V e sua resistência interna é de 1000 Ω. O valor de tensão medida para uma d.d.p. fornecida de 3,7 V foi de 3,4 ± 0,1V. Usando o mesmo voltímetro de fundo de escala de 10 V (por conta da facilidade de conversão dos valores de uma escala para a outra), foram feitos testes de comparação das tensões fornecidas (indicadas no gerador de tensão), medidas com o voltímetro, e medidas com um multímetro calibrado. A Tabela 5 mostra os valores registrados desta etapa. TABELA 5 - Comparação das medições com voltímetro. Multímetro (V) Voltímetro (V) Gerador de tensão (V) 2,00 1,9 ± 0,1 2,0 4,02 3,8 ± 0,1 4,0 6,02 5,8 ± 0,1 6,0 8,02 7,9 ± 0,1 8,0 9,82 9,8 ± 0,1 9,8 Utilizando essa tabela como um meio de validação do voltímetro, pode-se calcular a discrepância máxima entre os aparelhos, que é de 5,5%, sendo, portanto, uma aproximação válida por estar dentro do limite aceitável (10%). Após essa validação, foram feitos testes em um jogo de 5 baterias. Estas tiveram suas d.d.p. medidas isoladamente e depois com associação em série entre elas. A Tabela 6 mostra essas medições. TABELA 6 - Medições realizadas no jogo de baterias. Bateria Medida (V) 1 1,2 ± 0,1 2 1,2 ± 0,1 3 0 4 1,2 ± 0,1 5 1,2 ± 0,1 1+2 2,4 ± 0,1 1+2+3 2,2 ± 0,1 1+2+3+4 3,5 ± 0,1 1+2+3+4+5 4,8 ± 0,1 Interessante notar que a bateria de número 3 não apresentou medida de tensão. Na medida da associação em série das baterias 1, 2 e 3 a medida de 2,2 V ao invés de 2,4 (associação das baterias 1 e 2) pode ser explicada pela resistência interna da bateria 3, que somada ao circuito funciona como um acréscimo à resistência interna da bateria resultante. Na medida em série das cinco baterias, nota-se que o resultado foi exatamente a soma das quatro baterias. Com a tensão da associação das cinco baterias associadas, é provável que a resistência interna da bateria 3 se torne insignificante na medida. Conclusão Com esse experimento, pode-se concluir sobre a importância do estudo e compreensão das grandezas da corrente e tensão elétrica. A partir das discussões com o grupo, podemos inferir sobre a utilidade destes conhecimentos, principalmente no que se refere a aplicação em metrologia industrial de transdutores e ampliadores de sinal. Não podemos deixar de citar as diferenças encontradas em muitas das medidas realizadas. Isso acontece devido a erros aleatórios e sistemáticos na medição. Importantes causas de erros são: a precisão no valor da resistência das décadas, os fios envolvidos, a resolução dos instrumentos de medição e o Efeito Joule. É importante lembrar que a montagem de um circuitodeve levar em conta as resistências internas dos componentes, que apesar de serem pequenas, podem influenciar no sistema como um todo.
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