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Transtornos do sono. Insonia, sonolencia. Soniloquio. Pe- sadelos. Terror notumo. Sonambulismo. Briquismo. Movimen- tos ritmicos da cabeera. Enurese notuma. Transtornos dasfunfoes cerebrais superiores. Disfonia. Disar- tria. Dislalia. Disritmolalia. Dislexia. Disgrafia. Afasia. Transtomos das gnosias. Transtomos da praxias (ver tambem Exame psiquico). EXAME PSIQUICO E AVALIA<;AO DAS CONDI<;OES EMOCIONAIS Consciencia. Alteraeroes quantitativas (normal, obnubilaeraO, perda parcial ou total da consciencia) e qualitativas. Atenpio. Nivel de atenerao e outras alteraeroes. Orienta(:iio. Orientaerao autopsiquica (capacidade de uma pessoa saber quem ela 6), orientaerao no tempo e no espaero. Du- pIa orientaerao, despersonalizaerao, dupla personalidade, perda do sentimento de existencia. Pensamento. Pensamento normal ou pensamento fantasti- co, pensamento maniaco, pensamento inibido, pensamento es- quizofrenico, desagregaerao do pensamento, bloqueio do pensa- mento, ambivalencia, perseveraerao, pensamentos subtraidos, sonorizaerao do pensamento, pensamento incoerente, pensamento prolixo, pensamento oligofrenico, pensamento demencial, id6i- as delirantes, fobias, obsessoes, compulsoes. Memoria. Capacidade de recordar. Alteraeroes da memoria de fixaerao e de evocaerao. Memoria recente e remota. Alteraeroes qualitativas da memoria. Inteligencia. Capacidade de adaptar 0 pensamento as neces- sidades do momento presente ou de adquirir novos conhecimen- tos. Deficit intelectual. Sensopercep(:iio. Capacidade de uma pessoa apreender as impressoes sensoriais. Ilusoes. Alucinaeroes. Vontade. Disposierao para agir a partir de uma escolha ou decisao. Perda da vontade. Negativismo. Atos impulsivos. Psicomotricidade. Expressao objetiva da vida psfquica nos gestos e movimentos. Alteraeroes da psicomotricidade. Estupor. Afetividade. Compreende urn conjunto de vivencias inclu- indo sentimentos complex os. Humor ou estado de animo. Exal- taerao e depressao do humor. EXERCicIO. Interrogatorio Sintomatologico. Fazer 0 interroga- t6rio sintomatol6gico de dois pacientes, anotando os dados positivos e os negativos. ANTECEDENTES PESSOAIS E FAMILIARES A investigaerao dos antecedentes nao pode ser esquematiza- da rigidamente. B possivel e util, entretanto, uma sistematizaerao que sirva como roteiro e diretriz do trl),balho. ANTECEDENTES PESSOAIS Nos individuos de baixa idade, a analise dos antecedentes pessoais costuma ser feita com mais facilidade do que em outras faixas etarias. As vezes, uma hipotese diagnostica leva 0 exarninador a uma indagaerao mais rninuciosa de algum aspecto da vida pregressa. Exemplo: ao encontrar-se uma cardiopatia congenita inves- tiga-se a possivel ocorrencia de rubeola na mae durante 0 pri- meiro trimestre da gravidez. 0 interesse dessa indagaerao e por saber-se que esta virose costuma causar defeitos congenitos em elevada proporerao dos casos. Passos a serem seguidos: Alllt'i.·rdellfesjisi(ll6giws ~"'Jt:(\'(\ii'ntts t'\;:~)1;. '~i...'\\S l~it.~t\ '\\kntl:' ;v..~ \~is~tisi );,\~;..'\\S i1~lt~nl\.~s.'g\ri.n:~it~n.., 1. Gestaerao e nascimento. Como decorreu a gravidez; uso de medicamentos ou irradiaeroes sofridas pel a genitora; viroses contrafdas durante a gestaerao, condieroes de parto (normal, for- ceps, cesariana); estado da crianera ao nascer, ordem do nasci- mento (se e primogenito, segundo filho, etc.). 2. Dentierao. Informaeroes sobre a primeira e a segunda dentierao, registrando-se a epoca em que apareceu 0 primeiro dente. 3. Engatinhar e andar. Anotando as idades em que estas atividades tiveram inicio. 4. Fala. Quando comeerou a pronunciar as primeiras pala- vras. 5. Desenvolvimento fisico. Peso e tamanho ao nascer e posteriores medidas. Averiguar sobre 0 desenvolvimento com- parativamente comos irmaos. 6. Controle dos esffncteres. 7. Aproveitamento escolar. S, Puberdade. Bpoca de seu infcio. 9. Menarca. Bpoca do aparecimento. 10, Caracteristicas do cicIo menstrual.....:....Duraerao do ciclo, duraerao e quantidade do fluxo menstrual. 11. Sexualidade. Primeiras noeroes e atividade sexual pos- terior. Os antecedentes pessoais patologicos, por sua vez, compre- endem os seguintes itens: 1.Doeneras sofridas pelo paciente. Comeerando-se pelas mais comuns na inffincia (sarampo, varicela, coqueluche, caxumba, molestia reumatica, amigdalites, diarr6ias freqiientes) e pas sando as da vida adulta (pneumonia, hepatite, malaria, pleurite, tubercu- lose, etc.). Pode ser que 0 paciente nao saiba informar 0 diagnostico, mas consegue se lembrar de urn deterrmnado sintoma ou sinal que teve importancia para ele, como ictericia e febre prolongada. Faz- se entao urn retrospecto de todos os sistemas, dirigindo ao pacien- te perguntas relativas as doeneras mais freqiientes de cada urn. 2. Alergias. Quando se depara com urn caso de doenera aler- gica, esta investigaerao passa a ter relevancia especial, mas, in- dependente disso, e possivel e uti! tomar conhecimento da exis- tencia de alergia a alimentos, medicamentos ou outras substan- cias. Se 0 paciente ja sofreu de afeceroes de fundo alergico (ecze- ma, urticaria, asma), este fato merece registro. 3. Cirurgias. Anotam-se as interveneroes cirurgicas, referin- do-se 0 motivo que as determinou. Havendo possibilidade, re- gistrar a data, 0 tipo de cirurgia, 0 diagn6stico que a justificou e o nome do hospital onde foi realizada. . 4. Traumatismos. B necessario indagar sobre 0 acidente em si e sobre as conseqiiencias deste. Em Medicina Trabalhista, este item e muito importante por causa das implicaeroes periciais de- correntes dos acidentes de trabalho. A correlaerao entre urn padecimento atual e urn traumatis- mo anterior pode ser sugerida pelo paciente sem muita consis- tencia. Nestes casos, a investigaerao anamnesica necessita ser detalhada para que 0 examinador tire uma conclusao propria a respeito da exisrencia ou nao da correlaerao sugerida. ANTECEDENTES FAMILIARES Os antecedentes farniliares comceramcom ameneraodo estado de saude (quando vivos) dos pais e irmaos do paciente. Se for casa- do inc1ui-se 0 conjuge e, se tiver filhos, estes sao referidos. Se tiver algum doente na famtlia, esc1arecer a natureza da enferrnidade. Em caso de falecimento, indagar a causa do 6bito e a idade em que ocorreu. I Perg.unt.l-5-e sistenuu-:3l1lCnte SI.."*,rea e:tistencia de en.'(aque- L:l.. cti:l~tes.. !'J~rLul0se. hij:"Cuens.ao arterial. cancer, doen~as aJexgicas, Ulcera peptica, colelitiase, varizes, que sac as doen~as com carater familiar mais comuns. Quando 0paciente e portador de uma doen~a de caroter heredi- tirio (bemofilia, anemia falcifonne, rins policfsticos, erros metab6li- cos), toma-se imprescindfvel urn levantamento geneal6gico mais ri- guoso e, neste caso, recorre-se as recnicas de investiga~ao genetica. EXERCICIO. Antecedentes. Analisar os antecedentes de urn pa- ciente que jii tenha 0 diagnostico estabelecido, determinando as rela- ~ entre este e os dados obtidos na investiga~1io dos antecedentes pcssoais e familiares. OOITOS DE VIDA E CONDI~6ES sOcIO-ECONOMICAS E CULTURAIS DO PACIENTE A medicina esta-se tomando cada vez mais uma ciencia so- cial, e 0 interesse do medico vai ultrapassando as fronteiras bio- l6gicas para atingir os aspectos sociais relacionados com 0 do- ente e com a doen~a. Este item, muito ample e heterogeneo, esta desdobrado nos seguintes: Alimentafiio Habitafiio Ocupafiio atual e ocupafoes anteriores Atividades jisicas Vicios Condifoes s6cio-economicas Condifoes culturais Vida conjugal e ajustamento familiar ALIMENTA~A.O No exame fisico, serao estudados os parametros para se ava- liar 0 estado de nutrifiio do paciente. Todavia, os primeiros da- dos a serem obtidos sao os habitos alimentares do doente. Toma-se comoreferencia 0 que seria a alimenta~ao adequa- da para aquela pessoa em fun~ao da sua idade,sexo e trabalho desempenhado. Induz~se 0 paciente a discriminar sua alimenta~ao habitual, especificando tanto quanta possfvel 0 tipo e a quantidade dos alimentos ingeridos. Assim procedendo, 0 examinador podera fazer uma avalia- 9ao quantitativa e qualitativa, ambas com interesse medico. Temos observado que 0 estudante encontra dificuldade em anotar os'dados obtidos. Com a finalidade de facilitar seu traba- lho, sugerimos as seguintes expressoes, as quais seriam sinteti- zadas nas conclusoes mais freqiientes: "alimenta~ao quantitativa e qualitativamente adequada" "deficit cal6rico global" "insuficiente consumo de protefnas, com alimenta~ao a base de carboidratos" "consumo de calorias acima das necessidades" "alimenta9ao com alto teor de gorduras" "reduzida ingestao de verduras e frutas" "insuficiente consumo de protefnas sem aumento compen- sador da ingestao de carboidratos" "redu9ao equilibrada na quantidade e na qualidade dos ali- mentos" "reduzida ingestiio de carboidratos" "reduzido consumo de gorduras" "alimenta~ao puramente vegetariana" "alimenta~ao lactea exclusiva" HABITA~AO Importiincia consideravel possui a habita~ao, principalmente as da zona rural. Estas, pela sua precariedade, comportam-se como abrigos ideais para numerosos reservat6rios e transmisso- res de doen9as infecciosas e parasitarias. A habita~ao nao pode ser vista como fato isolado, porquan- to ela esta inserida em urn meio ecol6gico do qual faz parte. Nao basta, portanto, analisar as condi90es da casa desconhecendo 0 meio ambiente que a envolve. A casa de pau-a-pique tern impor- tiincia porque os triatomfneos existentes na regiao encontram nela condi~oes ideais para sua sobrevivencia. Como exemplo eloqiiente poder-se-ia citar a doen9a de Cha- gas. Os triatomfneos (barbeiros) encontram na "cafua" ou "casa de pau-a-pique" seu habitat ideal, 0 que faz desta parasitose importante endemia de muitas regioes brasileiras. Ninguem tern duvida de que 0 fulcro do problema esta na habita9ao e nao no protozoario ou no triatomfneo. A falta de condi90es sanitarias mfnimas, tais como ausen- cia de fossa e uso de agua de po~o ou ribeirao, caracterfsticas de milhoes de casas brasileiras, propicia uma estreita correla9ao entre a elevada incidencia de doen~as infecciosas e parasitarias e as pessimas condi~oes habitacionais. Tambem, no que se refere a malaria e a esquistossomose, encontra-se este vfnculo entre a doen9a e a habita~ao. OCUPA~A.O ATUALE OCVPA~OES ANTERIORES Na identifica9ao do paciente, abordamos este aspecto. Na- quela ocasiao, foi feito 0 registro puro e simples da profissao; aqui pretendemos ir mais adiante, obtendo infonna90es sobre a natureza do trabalho desempenhado, com que substancias entra em contato, quais as caracterfsticas do meio ambiente equal 0 grau de ajustamento ao trabalho. Desse modo, ver-se-a que os portadores de asma bronquica terao sua doen9a agravada se trabalharem em ambiente enfuma- ~ado ou empoeirado, ou se tiverem de manipular inseticidas, pelos de animais, penas de aves, plumas de algodao ou de la, li- vros velhos e outros materiais reconhecidamente capazes de agir como antfgenos ou irritantes dasvias aereas. Os dados relacionados com este item costumam ser chama- dos Hist6ria Ocupacional e ·v0ltamosachamar a'aten~ao para a crescente importiincia medica e social da Medicina do Trabalho. ATIVIDADES 'FfSICAS Toma-se cada dia mais clara a reIa~ao entre algumas enfer- midades e 0 tipo de vida levada pela pessoa, no que conceme a execu~ao de exercfcios ffsicos. Exemplos: a comum ocorrencia de les6es degenerativas da coluna vertebral nos trabalhadores bra9ais e a maior incidencia de infarto do miocardio nas pessoas sedentarias. Tais atividades dizem respeito ao trabalho e a pratica de esportes, incluindo caminhadas, e, para caracteriza-Ias, ha que indagar sobre ambos. Vma classifica~ao pratica e a que se segue: Pessoas sedentarias Pessoas que exercematividadesfisicas moderadas Pessoas que exercem atividades jisicas intensas e cons- Pessoas que exercem atividades jisicas ocasionais vfCIOS Alguns vfcios sac ocultados pelos doentes e ate pelos pr6pri- os farniIiares. A investiga9ao deste item exige habilidade, discri- ~ao e perspicacia. Vma afrrmativa ou uma negativa seca por parte do paciente nao significa necessariamente a verdade! Investigar sistematicamente sobre tabagismo, alcoolismo e uso de t6xicos. o uso de tabaco, socialmente aprovado, nao e escondido pelos doentes, exceto quando tenha sido proibido de fumar e 0 esm fazendo as escondidas. Os efeitos maleficos do fumo nao sao mais discutidos. A relar;ao entre este e 0 cancer pulmonar e fato incon- testavel. Quanta ao efeito nocivo da fumar;a de cigarro sobre as afecr;oesbroncopulmonares (asma, bronquite e enfisema), nao cabe mais duvida. Relar;ao entre tabaco e insuficiencia coronana (an- gina do peito e infarto do miocardio) tamMm esta comprovada. Diante disso, nenhuma anamnese esta completa se se esque- cer de investigar este habito, registrando-se seu tempo de dura- r;ao, a natureza e a quantidade habitualmente usada. A ingestiio de bebidas alcoolicas tamrem e socialmente acei- ta, mas muitas vezes e omitida ou minimizada por parte dos doentes. Que 0 alcool tern efeitos deleterios graves sobre 0 ffgado, cerebro, nervos perifericos, pancreas e corar;ao nao mais se dis- cute. E fato comprovado. o proprio etilismo, em si uma doenr;a de fundo psicossoci- aI, deve ser colocado entre as enfermidades importantes e mais difundidas atualmente. Nao deixar de perguntar sobre 0 tipo de bebida e a quanti- dade habitualmente ingerida. Avaliar;iio do uso de bebidas alco6licas. Para facilitar a ava- liar;ao do habito de usar bebidas alcoolicas, pode-se lanr;ar mao da seguinte esquematizar;ao: • pessoas abstemias, isto e, nao usam definitivamente qualquer tipo de bebida alcoolica; • usa ocasional, em quantidades moderadas; • usa ocasional, em grande quanti dade, chegando a estado de embriaguez; • uso freqiiente em quantidade moderada; • usa diario em pequena quantidade; • usa diano em quantidade capaz de determinar embriaguez; • usa diano em quantidade exagerada, chegando 0 paciente a avanr;ado estado de embriaguez. Esta graduar;ao serve inclusive para se avaliar 0 grau de dependencia do paciente ao uso de alcool. Para triagem de pacientes que abusam de bebidas alcooli- cas esta tomando-se bastante difundido 0 questionario CAGE (sigla em ingles), constitufdo de 4 pontos a serem investigados: necessidade de diminuir (Cut down) 0 consumo de bebidas al- co6licas; sentir-se incomodado (Annoyed) por crfticas a bebida; sensar;ao de culpa (Guilty) ao beber; necessidade de beber no infcio da manha para abrir os olhos (Eye-opener). Duas respostas positivas identificam 75% dos alcoolatras com uma especificidade de 95%. COND1<;6ES SOCIO-ECONOMICAS OSprimeiros elementos estao contidos na propria identifi- ca'rao do paciente. Outros vao sendo colhidos no correr da anam- nese. Se houver necessidade de mais informar;oes, indagar-se-a sobre rendimento mensal, situar;ao profissional, se ha dependen- cia economica de parentes ou instituir;a6. Saber quanta 0 paciente dispoe em dinheiro para compra de medicamentos. A socializar;ao da medicina e urn rata que and a de par com estes aspectos socio-economicos. Nao so em relar;ao ao pacien- te em sua condi~ao individual, mas tamhclIl quando sc cllfoea a medicina dcntro de uma perspcctiva social. COND1<;6ES CULTURAIS Partir de algo simples como grau de escolaridade (alfabetiza- do ou nao) e amaneira mais pratica de abordar este aspecto da anam- nese. Todavia, e 0 conjunto de dados vistos e ouvidos que perrnitira uma avaliar;ao.Para facilitar 0 registro, sugerimos tres altemativa.<;: nivel cultural baixo nivel cultural medio nivel cultural elevado. Neste item, cabe incluir alguns elementos sobre a vida reli-giosa do paciente. No mfnimo, saber se tern ounao religiao equal o credo que professa. Este item pode ser exemplificado pelo fato de os seguidores da seita Testemunhas de Jeova nao admitirem transfusao de sangue. Outro aspecto que merece ser ressaltado e como os pacien- tes com doenr;a grave ou terminal se comportam em fun'rao de sua crenr;a religiosa. Os espfritas, por exemplo, demonstram mais tranqtiilidade e aceitar;ao em situar;oes de risco de vida. Anotam-se, ainda, costumes de vida relacionados com a ra'ra ou 0 grupo social ao qual pertence e que possam ser uteis do ponto de vista medico. VIDA CONJUGAL E AJUSTAMENTO FAMILIAR Investiga-se 0 relacionamento entre pais e filhos, entre ir- maos e entre marido e mulher. Em varias ocasi5es temos salientado as dificuldades da anamnese. Chegamos ao topico onde esta dificuldade atinge 0 seu maximo. Inevitavelmente, 0 estudante encontrara dificulda- de para andar neste terreno, pois os pacientes veem nele urn "aprendiz" adotando, em conseqiiencia, maior reserva a respei- to de sua vida fntima e de suas relar;oes familiares. Mas quando con segue estabelecer uma boa relar;ao medico-paciente, obtem com facilidade informar;oes da intimidade do paciente. Ha que reconhecer este obstaculo, mas preparando-se des- de ja, intelectual e psicologicamente, para em epoca oportuna e nos momentos exatos levar a anamnese ate os mais reconditos e bem guardados escaninhos da vida pessoal e familiar do pacien- te. Tal preparo so e conseguido quando se associa amadureci- mento da personalidade, solida formar;ao cientffica, adequada rela'rao medico-paciente. EXERCICIO. Htibitos de Vida. 0 estudante analisani os Mbitos de vida de tres pacientes com diagnosticos estabelecidos e procurani encontrar as rela~oes entre esses e os Mbitos de vida de cada urn deles. o EXAME CLINICO E A RELA<;AO MEDICO/PACIENTE A relar;ao medico/paciente tern pm componente cultural que nao depende do que 0 medico faz. E uma heranr;a do poder ma- gico dos feiticeiros, xamas e curandeiros que antecederam 0 nas- cimento da profissao medica, mas que ainda hoje muito influi na maneira como os pacientes veem os medicos. Nao ha por que menosprezar este fenomeno ligado a evolur;ao da humanidade. Existe, contudo, urn outro componente da relar;ao medico/pa- ciente, este sim, estreitamente ligado a propria ar;ao do medico, pois ele nasce durante a anamnese e e fruto da maneira como ela e feita. Depende do medico, portanto. Por isso, e necessano to- mar consciencia da importancia deste momento, porque ele e de- cisivo. Daf a razao de se dizer que 0 aprendizado do metodo clf- nico, cuja unica maneira de se conseguir e fazendo 0 exame clf- nico, e tambem a principal oportunidade para estabelecer as ba- scs do aprcndizado da rcl:u;iio mcdieo/paeicnte que scrviriio para o resto da vida. Sem duvida, 0 essencial deste aprendizado esta nas vivencias do proprio estudante, nascidas na realizar;ao de entre vistas, quan- do ele assume 0 papel de medico dentro de uma situar;ao real e verdadeira, como a propiciada pelo exame de pacientes em urn hospital. Jamais a tecnologia educacional conseguira reproduzi- la e, se 0 fizer, fican! faltando seu ingrediente principal, que e resultante da interac;ao de duas pessoas que se pOem frente a frente em busca de algo relevante para ambas. Se 0estudante tiver oportunidade - e isso depende de como o professor orienta 0 ensino do exame dinico - de analisar os aconteeimentos vivenciados por ele, duas coisas acontecem ao mesmo tempo: aprende a tecnica de fazer a anamnese e reco- nbece os processos psicodinamicos nos quais ele e 0 paciente se envolvem, querendo ou nao, proposital ou inconscientemente. E inevitavel e necessano que 0 estudante va descobrindo seu 1adohumano, com suas possibilidades e limita~oes, certezas e in- seguran~as, ate entao amortecido nos trabalhos feitos nos anfitea- lIOS anatomicos e laborat6rios das cadeiras basicas. Somente a partir do momenta em que tern diante de si pessoas fragilizadas pe1a do- erw;a,pelo receio dainvalidez, pelo medo de morrer, e que 0 estu- dante percebe que 0 trabalho do medico nao e apenas tecnica, em- born tenha que domina-Ia 0 melhor possivel para ser competente, e queMalguma coisa mais, diferente de tudo 0 que viu ate enta~, que interfere com seus valores, cren~as, objetivos, sentirnentos e emo- ~' obrigando-o a refletir sobre a carreira medica. Nesta hora 0 papel do professor de semiologia atinge seu ponto mais nobre, se ele souber tirar proveito daquelas situa~oes para mostrar aos seus alunos que aquele algo diferente e a rela- ~ao medico/paciente que esta nascendo. Sao as primeiras raizes, ainda debeis, de urn processo que precisa ser cultivado a cada dia, em multiplas situa~oes, agrada- veis ou sofridas, para se poder compreender 0 mais rapido pos- sivel a complexidade das situa~oes que 0 aluno esta vivendo. Alguns estudantes, talvez os mais sensiveis e os mais maduros, notam logo que participam de alguma coisa que ultrapassa os limites que se previa existir no trabalho direto com pacientes. Muitos desenvolvem uma ansiedade que lhes tira 0 sono, des- perta questionamentos, provoca duvidas. Tudo isso e inevitavel, . porque a aprendizagem verdadeira do metodo dinico e indisso- ciavel da aprendizagem da rela~ao medico/paciente. Precisamos estar atentos, preparados e disponiveis para nao desperdi~ar a oportunidade que os pr6prios estudantes nos ofe- recem para formarmos a mente e 0 cora~ao dos futuros medicos. Estamos convencidos de que a recupera~ao do prestigio da profissao medica, tao reclamada, come~a ai, valorizando desde cedo a rela~ao estudante/paciente, nao por meio de palavras e prele~oes, mas orientando-os nestes passos inici- ais, mostrando para eles que a rela~ao medico/paciente nada tern a ver com apare1hos e maquinas, nao importa quae sofis- ticados sejam. Que ela continua dependendo da palavra, dos gestos, do olhar, da expressao fisionomica, da presen~a, da capacidade de ouvir, da compreensao, enfim, de urn conjunto de elementos que s6 existerri na condi~ao humana do medico. A rela~ao medico-paciente e uma rela~ao interpessoal que tern principios aplicaveis a qualquer tipo de rela~ao, mas, a con- di~ao de medico e a doen~a a faz particular e diferente de todas as outras (Quadro 3.1). COMENTARIOS FINAlS As vezes, os estudantes questionam 0 detalhamento - ex- cessivo, como costumam dizer - da anamnese como e exposto neste livro, argumentando que nao e assim que se faz na vida pratica. Na verdade, 0 que estamos propondo e urn esquema para o aprendizado do metodo cHnico. Para isso, e necessario ser 0 mais abrangente possivel, de modo a induir quase tudo de que se precisa nas inumeras maneiras em que e feito 0 exercfcio da profissao medica, sempre pensando, e claro, que 0 trabalho do ' medico deve ter a mais alta qualidade. A transposi~ao ou adapta~ao deste esquema para "prontua- rios" e "fichas clinicas" precisa levar em conta as diferentes con- di~oes em que se da 0 exercicio profissional. Em hospitais uni- versitanos, por exemplo, os prontuanos costumam ser muito de- talhados, constituindo verdadeiros cademos. Isso e justificavel porque durante 0 curso de medicina e na p6s-gradua~ao e neces- sano aproveitar ao maximo a oportunidade de obter dos pacien- tes urn conjunto de dados que vao permitir uma visao ampla e profunda das enfermidades. Nestes casos, os prontuanos se as- semelham ao esquema de anamnese aqui proposto. De modo di- ferente, por razoes 6bvias, nos postos de saude as fichas clinic as sac mais simples, contendo apenas os dados essenciais do exa- me do paciente. Entre urn extremo e outro, encontra-se uma gran- de variedade de modelos de fichas e prontuanos, muitos deles ja buscando uma forma adequada para 0 uso dos dados dinicos em computador. Em clinic as especializadas, deterrninados aspectos sac extremamente detalhados, enquanto os protocolosde pesqui- sa dinica sao especificamente.preparados,para~sclarecer .ques- toes que estao sendo investigadas. Por isso, para se adquirir uma s6lida base do metodo clinico, e indispensavel a realiza~ao de hist6rias clinicas com a maior abrangencia possivel, nao importando 0 tempo e 0 esfor~o que se gastam. 0 dominio do metodo clinieo depende deste primei- ro momento. As adapta~oes que vao ser feitas mais tarde, am- pliando ou sintetizando urn ou outro aspeeto da anamnese, nao irao prejudiear a correta apliea~ao do metodo dinico. 1. Qualquer pessoa e, em grande parte, resultado das rela~5es interpessoais que estabeleceu durante sua vida. 2. Ninguem sai sem sofrer interferencia de urn encontro com outra pessoa. 3. Ha sempre uma rela~aode causa e efeito acontecendo entre duas pessoas - uma causa efeitos sobre a outra, e vice-versa. 4. Esses efeitos podem ser para melhor ou para pior, constru- tivos ou destrutivos, para uma das partes ou ambas. 5. Esses efeitos SaGespecialmente marcantes quando uma das pessoase considerada significativa - aquela que ternmaior influen- cia sobre a outra devido ao papel social que desempenha. 6. Na rela~ao medico-paciente a responsabilidade maior pe- los resultados do encontro e do medico, que tern obriga~aode se dis- por a ajudar 0 paciente. 7. 0 resultado do encontro..depende.das habilidades daspes- soas em estabelecer la~os entre elas. 8. Essas habilidades podem ser aprendidas e/ou aperfei~oa- 9. Essas habilidades,apesar de caracterizarema rela~aode aju- da, sao comuns a qualquer encontro entre duas pessoas, mesmo que nao Ihe seja dada a conota~aode ajuda - sao elas que determinam a qualidade desse encontro. 10. A capacidade de cuidar de urnpaciente depende da rela~ao medico-paciente, ou seja, 0 significado do encontro entre 0medico e o paciente e fundamental para uma boa pratica medica. Tono muscular /0 tono pode ser considerado como 0 estado de tensao cons- If tante aque estiio submetidos os musculos, tanto em repouso (tono de postura), como em movimento (tono de a~iio). / ¥ I 0 exame do tono e efetuado com 0paciente deitado e em com- pleto relaxamento muscular, obedecendo-se a seguinte recnica: I a) Inspe~iio. Verifica-se a existencia ou niio de achatamen- to das mass as musculares de encontro ao plano do leito. Emais evidente nas coxas e s6 possui valor significativo quando hou- ver acentuada diminui~iio do tono. b) Palpa~iio das massas musculares. Averigua-se 0 grau de consistencia muscular, a qual se mostra aumentada nas lesoes motoras centrais e diminufda nas perifericas. c) Movimentos passivos. Imprimem-se movimentos naturais de flexiio e extensiio nos membros e se observam: F~ 17.5a Exame da for9a muscular para os membros superiores: I) da mao globalmente; 2) da flexao do antebra90 com predomfnio bicipital ou 3) ioquial; 4) da eleva9ao do bra90, isolada ou 6) simultaneamente; 5) da extensao do antebra90. As setas indicam 0 sentido do movimento com opo- 51;30 do exarninador, exceto no exame da for9a da mao (1), onde a seta mostra 0 sentido da retirada dos dedos do examinador, seguros pelo paciente. 1- a passividade, ou seja, se ha resistencia (tono aumenta- do) ou se a passividade esta aquem do normal (tono diminuf- do); 2- a extensibilidade, isto e, se existe ou nao exagero no grau de extensibilidade da fibra muscular. Assim, na flexao da perna soOrea coxa, fala-se em diminui9ao do tono quando 0 calcanhar lDCa a regiao glUtea de modo facil. d) Balanfos articulares. A diminui<;ao do tono (hipotonia) ou 0 seu aumento (hiper- Dlia) devem ser registrados com as respectivas gradua<;ao e sede. Exemplos: moderada hipotonia nos membros inferiores. Acentuada hipertonia dos membros direitos. HIPOTONIA E HIPERTONIA Considerando 0 interesse clfnico no reconhecimento das al- tera<;oes do tono muscular, vamos reunir as caracterfsticas semi- ol6&icas da hipotonia e da hipertonia: INa hipotonia, observam-se 0 achatamento das massas mus- culares no plano do leito, consistencia muscular diminufda, passi- vidade aumentada, extensibilidade aumentada e prova de balan<;o com exageradas oscila<;oes. A hipotonia e encontrada nas lesoes do cerebelo, no coma profundo, no estado de choque do sistema nervoso central, nas les6es das vias da sensibilidade propriocepti- va consciente, das pontas anteriores da medu1a, dos nervos, na coreia aguda e em algumas encefalopatias (rnongolismo). I Na hipertonia, encontram-se consistencia muscular aumen- :ada, passividade diminuida, extensibilidade aumentada e prova do balan~o com reduzidas oscila~5es. A hipertonia esta presente nas les5es das vias motoras pira- :nidal e extrapirarnidal. A hipertonia piramidal, denominada espasticidade, e obser- \-ada comumente na hemiplegia, na diplegia cerebral infantil, na e:s.cleroselateral da medula e na mielopatia compressiva. Apre- ;enta pelo menos duas caracterfsticas: 1.") e eletiva, atingindo globalmente os musculos, mas com predomfnio dos extensores dos membros inferiores e flexores dos membros superiores. Estas a1tera~5es determinam a classica pos- t mra de Wernicke-Mann (Fig. 17.6); 2.a) e elastica, com retorno a posi~ao inicial de urn segmen- tD do corpo (antebra~o, por exemplo) no qual se interrompeu 0 movimento passive de extensao. A hipertonia extrapiramidal, denominada rigidez, e encon- trada no parkinsonismo, na degenera~ao hepatolenticular e em outras doen~as do sistema extrapiramidal. Tern duas caracterfs- cicas biisicas que a diferenciam da hipertonia piramidal: La) nao e eletiva, porquanto acomete globalmente a muscu- 1anrra agonista, sinergista e antagonista; 2.a) e plastica, com resistencia constante a movimenta~ao passiva, como se 0 segmento fosse de cera; esta habitualmente associada ao sinal da roda dentada, que se caracteriza por inter- ~5es sucessivas ao movimento, lembrando os dentes de uma cremalheira em a~ao. A hipertonia tambem pode ser transit6ria e/ou intermitente, como ocorre em certas condi~5es clfnicas (descerebra~ao, sin- drome menfngea, tetano, tetania e intoxica~ao estricnfnica)/ Fig. 17.6 Postura de Wernicke-Mann, observada na fase de espastici- dade da hemiplegia. OUTRAS ALTERA<;OES DO TONO MUSCULAR ;J MIOTONIA e 0 relaxamento lentificado ap6s contra~ao mus- cular. Pode ser demonstrada solicitando ao paciente que cerre 0 punho e em seguida abra a mao rapidamente. Se houver 0 feno- meno miotOnico, a mao se abrira lentamente. Pode tambem ser elicitada ap6s percussao com martelo neurol6gico. Ocorre na dis- ;/ trofia miotonica de Steinert e na miotonia congenita de Thomsen. DISTONIA e a contra~ao simultfinea da musculatura agonista e antagonista, 0 que pode ocasionar posturas anomalas intermi- tentes ou persistentes. A postura adotada e usualmente no extre- mo de extensao ou flexao. Podemos citar como exemplos 0 tor- cicolo espasm6dico, a caibra do escrivao e a distonia museulorum deformans·f Paratonia ou gegenhalten: 0 paciente aparentemente se op5e a tentativa do exarninador em movimentar seu membro. Ocorre em les5es frontais bilaterais. Por fim, nao se pode esquecer que em certas condi~5es 10- cais (retra~ao tendinosa), gerais (convalescen~a prolongada) ou fisio16gicas (contorcionismo), 0 tone muscular tambem costu- ma sofrer modifica~5es. Na execu~ao dos movimentos, por mais simples que sejam, entram emjogo mecanismos reguladores de sua dir~ao, veloci- dade e medida adequadas, que os tomam economicos, precisos e harmonicos. Nao basta, portanto, que exista for~a suficiente para a exe- cu~ao do movimento, e necessario que haja coordena~ao na ati- vidade motora. Coordena~ao adequada traduz 0 born funcionamento de pelo menos dois setores do sistema nervoso: 0 cerebelo (centro coor- denador) e a sensibilidade proprioceptiva. A sensibilidade pro- prioceptiva cabe informar continuamente ao centro coordenador as modifica~5es de posi~ao dos variossegmentos corporais. A perda de coordena~ao e denominada ataxia, a qual pode ser de tres tipos: eerebelar, sensitiva e mista. Cumpre referir que nas les5es da sensibilidade propriocep- tiva 0 paciente utiliza a visao para fiscalizar os movimentos in- coordenados. Cerradas as palpebras, acentua-se a ataxia. Tal fate nao ocorre nas les5es cerebelares. Faz-se 0 exame da coordena~ao por meio de inumeras pro- vas, mas bastam as que se seguem: a) Pro va dedo-nariz - Com 0 membro superior estendido lateralmente, 0 paciente e solicitado a tocat a ponta do nariz com o indicador. Repete-se a prova algumas vezes, primeiro com os olhos abertos, depois, fechados. 0 paciente deve estar preferen- temente de pe ou assentado (Fig. l7.7a). b) Prova ealcanhar-joelho - Na posi~ao de decubito dor- sal, 0 paciente e solicitado a tocar 0 joelho com 0 calcanhar do membro a ser examinado (Fig. l7.7a). A prova deve serrealizada viirias vezes, de infcio com os ollios abertos, depois, fechados. Nos casos de discutfvel altera~ao, "sensibiliza-se" a prova mediante 0 deslizamento do calcanhar pela crista tibial, ap6s tocar 0 joelho. Diz-se que ha dismetria (disturbio na medida do movimen- to) quando 0 paciente nao consegue alcan<;arcom precisao 0 alvo. c) Prova dos movimentos altemados - Determina-se ao pa- ciente realizar movimentos rapidos e alternados, tais como abrir e fechar a mao, movimento de supina~ao e prona<;ao (Fig. 17.7b), extensao e Hexao dos pes. Denomina-se diadoeoeinesia a estes movimentos. A capa- cidade de realiza-Ios e chamada eudiadoeoeinesia. Sua dificul-
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