TRANSTORNOS DO SONO

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TRANSTORNOS DO SONO 
Ana Carolina Capeloti
O sono é uma condição fisiológica de atividade cerebral, natural e periódica, caracterizada por modificação do estado de consciência, redução da sensibilidade aos estímulos ambientais, acompanhados por características motoras e posturais próprias, além de alterações autônomas (Gomes et al, 2010). Difere-se de outros estados patológicos pela capacidade de reversão de um estado sono-vigília, sendo alvo de estudos desde a antiguidade remota. Sua função, embora parcialmente desconhecida pela ciência, pode ser explicada através da hipótese de Mignot (2008 apud Gomes et al, 2010) que afirma ser de promover e facilitar a conservação de energia e função ecológica, bem como o aprendizado e a memória através de mudanças na plasticidade cerebral e sinaptogênese – processo restaurativo de componentes celulares chave de biossíntese de macromoléculas. 
Segundo o DSM-V, transtornos de sono-vigília abrangem 10 transtornos ou grupo de transtornos: transtorno de insônia, transtorno de hipersonolência, narcolepsia, transtornos do sono relacionados à respiração, transtornos do sono-vigília do ritmo circadiano, transtornos de despertar do sono não-REM, transtorno do pesadelo, transtornos comportamental do sono REM, síndrome das pernas inquietas e transtorno do sono induzido por substância ou medicamento. 
A seguir, serão apresentadas discussões e aspectos específicos de cada transtorno.
Transtorno de insônia
Caracteriza-se pela insatisfação com a qualidade ou quantidade do sono e dificuldades para iniciar ou mantê-lo. A queixa deve causar sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes. Pode ocorrer durante o curso de outro transtorno mental ou condição mental ou de forma independente. Subdivide-se Insônia na fase inicial do sono – envolvendo a dificuldade em conciliar o sono na hora de dormir, Insônia de manutenção do sono – caracterizada por despertares freqüentes ou prolongados durante a noite, Insônia terminal – despertar antes do horário habitual e incapacidade de retomar o sono. Sono não-reparador, de má qualidade e exaustão ao despertar também são queixas comuns. É necessário ter ao menos 20-30 minutos na dificuldade de conciliar o sono e o mesmo tempo desperto na dificuldade de manter o sono.
Os prejuízos funcionais ao longo do dia incluem fadiga, sonolência, dificuldades para manter a atenção, memória e a concentração, irritabilidade ou labilidade de humor, depressão e ansiedade. Estima-se que ao menos um terço dos adultos apresentem queixas de problemas com o sono.
Hipersonolência
Termo diagnóstico que inclui sintomas de quantidade excessiva de sono (sono noturno excessivo ou diurno involuntário), qualidade deteriorada de vigília e inércia do sono. Indivíduos com tais transtornos possuem facilidade para adormecer e relatam boa eficiência do sono. Apresentam dificuldades para despertar de manhã, às vezes parecendo confusos, combativos ou atáxicos (condição que também pode aparecer após cochilos ao longo do dia). Nesse período, há um declínio da habilidade motora, comportamentos inadequeados, lapsos de memória, desorientação no tempo e espaço e sensação de atordoamento. O episódio de sono principal costumar ter 9 horas ou mais, por vezes não-reparador, ocasionando diversos cochilos diurnos involuntários e dificuldade para despertar.
Narcolepsia
Características essenciais desse transtorno envolvem cochilos diurnos recorrentes ou ataques de sono. A sonolência ocorre diariamente, pelo menos três vezes por semana, por um período mínimo de três meses. Produz cataplexia, que apresenta-se em episódios breves desencadeados por emoções (sobretudo risos e brincadeiras), devendo ocorrer ao menos algumas vezes por mês. 
Apneia Central do Sono
Esse transtorno caracteriza-se por episódios repetidos de apneias e de hipopneias durante o sono, causados pela variabilidade no esforço respiratório. O tipo idiopático caracteriza-se por sonolência, insônia e despertares causados por dispnéia em associação com cinco ou mais apneias por horas de sono.
Hipoventilação relacionada ao sono
Pode ocorrer de forma independente ou comórbida com transtornos neurológicos. Indivíduos relatam sonolência excessiva durante o dia, excitações e despertares freqüentes durante o sono, cefaléias pela manhã e queixas de insônia. Polissonografias apontam episódios de respiração reduzida associada a níveis elevados de CO2.
Transtorno do Sono-vigília do ritmo circadiano
Padrão persistente ou recorrente de interrupção do sono devido a alteração do sistema circadiano ou desequilíbrio entre o ritmo endógeno e os horários impostos pelo ambiente físico, social e profissional. Tal interrupção leva a sonolência excessiva ou insônia, ou ambas, causando sofrimento clinicamente significativo e prejuízo de funcionamento ao paciente. O tipo fase do sono atrasada caracteriza-se por histórias de atraso no horário principal de sono (2 horas) em relação ao horários desejados de dormir e acordar, resultando em sonolência excessiva ao longo do dia. Quando livres para estabelecer seus horários para dormir e acordar, os portadores apresentam qualidade e durações de sono normais para a idade. Insônia no início do sono, dificuldade para acordar e sonolência excessiva nas primeiras horas do dia são os principais sintomas. 
O tipo fase do sono avançada caracteriza-se por horários de sono-vigília que estão várias horas antes do horário desejado ou convencional. O diagnóstico baseia-se em antecipação de pelo menos 2 horas do período de sono maior em relação ao horário desejado de dormir-acordar. Já no tipo sono-vigília irregular, há uma falta de ritmo circadiano sono-vigília discernível, o sono é fragmentado em pelo menos 3 períodos durante as 24 horas do dia.
Parassonias
Transtornos caracterizados por eventos comportamentais, experimentais ou fisiológicos anormais que ocorrem associados ao sono, estágios específicos do sono ou transições do sono-vigília. Subdividem-se em: transtorno de despertar do sono não-REM e transtorno comportamental do sono REM.
Transtorno de despertar do sono não-REM: Episódios recorrentes de despertares incompletos, em geral ocorrendo durante o primeiro terço do sono principal, acompanhados de uma entre as seguintes alternativas: 1 – Sonambulismo, 2 – Terrores no sono. Há esquecimentos em relação aos episódios. 
Transtorno comportamental do sono REM: Episódios repetidos de despertar durante o sono associados a vocalização ou comportamentos complexos que surgem durante o sono. 
Síndrome das pernas inquietas
Transtorno neurológico sensório-motor que se caracteriza por uma necessidade de movimentar as pernas ou os braços associadas a sensações desconfortáveis descritas como de rastejar, engatinhar, formigamento, entre outras. Os sintomas pioram quando o indivíduo está em repouso e podem retardar o início do sono, causando sua fragmentação.
Transtorno do sono induzido por substâncias
Perturbação proeminente do sono suficientemente grave para justificar atenção clínica independente e que esteja associada aos efeitos farmacológicos de uma substância. Costuma-se relatar uma entre quatro tipos de perturbações do sono.
REFERÊNCIAS
GOMES, M.M et al. Neurofisiologia do sono e aspectos farmacoterapêuticos dos seus transtornos. Revista Brasileira de Neurologia, 46. p. 5-15. 2010.
American Psychiatry Association. Manual diagnósticoe estatístico dos transtornos mentais - DSM-5. 5th.ed. Washington: American Psychiatric Association, 2013.