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Apostila Comunicação e Expressão 2015

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UNIP
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
PROF.ª Monique Sampaio
2015
UNIDADE 1: AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DE TEXTO
PRÉ – QUESTIONAMENTO: 
Que condições você julga necessárias para a produção de um texto?
Onde está o sentido de um texto: no leitor, escritor, no próprio texto ou contexto?
Que relação se torna necessária entre escritor e leitor para a leitura de um texto?
Ao ler a mesma fábula que foi escrita por autores diferentes, em épocas diferentes, tente dar a moral da história de acordo com tais escritores. 
Moral da história: 
	Quem desdenha quer comprar.
Moral: a frustração é uma forma de julgamento tão boa como qualquer outra.
É fácil desdenhar daquilo que não se alcança.
Adiantaria se chorasse?
A Raposa e as uvas
                                                                                           Esopo
Uma raposa entrou faminta num terreno onde havia uma parreira, cheia de uvas maduras,
cujos cachos se penduravam, muito alto, em cima de sua cabeça. A raposa não podia resistir à tentação de chupar aquelas uvas, mas, por mais que pulasse, não conseguia abocanhá-las. Cansada de pular, olhou mais uma vez os apetitosos cachos e disse:
- Estão verdes...
                                                                                              La Fontaine
Certa raposa astuta, normanda ou gascã, quase morta de fome, sem eira nem beira, andando à caça, de manhã, passou por uma alta parreira carregada de cachos de uvas bem maduras.
Altas demais -  não houve impasse:
"Estão verdes. . .  já vi que são azedas, duras. . ."
                                                   Monteiro Lobato
Certa raposa esfaimada encontrou uma parreira carregadinha de lindos cachos maduros, coisa de fazer vir água à boca. Mas tão altos que nem pulando.
O matreiro bicho torceu o focinho.
- Estão verdes -  murmurou. -  Uvas verdes, só para cachorro.
E foi-se.
Nisto deu o vento e uma folha caiu.
A raposa ouvindo o barulhinho voltou depressa e pôs-se a farejar. . .
                  Millôr Fernandes 
De repente a raposa, esfomeada e gulosa, fome de quatro dias e gula de todos os tempos, saiu do areal do deserto e caiu na sombra deliciosa do parreiral que descia por um precipício a perder de vista. Olhou e viu, além de tudo, à altura de um salto, cachos de uvas maravilhosos, uvas grandes, tentadoras. Armou o salto, retesou o corpo, saltou, o focinho passou a um palmo das uvas. Caiu, tentou de novo, não conseguiu. Descansou, encolheu mais o corpo, deu tudo que tinha, não conseguiu nem roçar as uvas gordas e redondas. Desistiu, dizendo entre dentes, com raiva: "Ah, também, não tem importância. Estão muito verdes." E foi descendo, com cuidado, quando viu à sua frente uma pedra enorme. Com esforço empurrou a pedra até o local em que estavam os cachos de uva, trepou na pedra, perigosamente, pois o terreno era irregular e havia o risco de despencar, esticou a pata e. . . conseguiu !  Com avidez colocou na boca quase o cacho inteiro. E cuspiu. Realmente as uvas estavam muito verdes !
Qual seria a razão de estes escritores darem diferentes moral para a história?
Onde está o verdadeiro sentido do texto? No escritor?
A fábula  "A Raposa e as uvas"  de Esopo  foi escrita também por  La Fontaine  no século  XVII  e, depois de mais de dois séculos, traduzida e adaptada para o português (sem alteração) por Monteiro Lobato. Em seu livro  Fábulas (1922), Monteiro Lobato coloca a personagem Dona Benta contando às crianças do Sítio do Picapau Amarelo (Narizinho, Pedrinho e Emília) várias fábulas, algumas criadas por ele e a maioria de Esopo e La Fontaine, traduzidas e adaptadas.
Trinta anos mais tarde,  Millôr Fernandes  apresenta  uma  versão  modificada  de "A Raposa e as uvas", alterando o desfecho e a moral da fábula.
 
As fábulas de  Esopo  têm como características a concisão e a objetividade. A efabulação inicia-se de imediato com o motivo central da história e os acontecimentos se sucedem num ritmo acelerado.
 
 A julgar pelo testemunho de seus contemporâneos, as fábulas de La Fontaine são verdadeiros textos cifrados que denunciavam misérias, desequilíbrios e injustiças de sua época.  Embora tenha alterado ou enriquecido substancialmente os argumentos e o espírito das fábulas que retomou dos Antigos, ele não tocou no caráter ou na simbologia que seus antecessores atribuíram aos animais.
 
No livro Fábulas, de Monteiro Lobato, há, após cada fábula, um comentário dos personagens do Sítio do Picapau Amarelo.
 
Millôr Fernandes, humorista, desenhista, jornalista, autor e tradutor de peças   de teatro, publicou além de Fábulas fabulosas, também Novas fábulas fabulosas, dentre outras obras.
OBSERVE AGORA ESSE QUADRO DE TARSILA DO AMARAL E DÊ SUA INTERPRETAÇÃO. 
	TARSILA DO AMARAL
	  
Costureiras, 1950 
óleo s/ tela, 73,3 x 100,2 cm
Fonte: http://www.mac.usp.br/exposicoes/01/acolecao/galeria5/obrasgaleria5.html
 
AGORA INTERPRETE NOVAMENTE SABENDO O CONTEXTO HISTÓRICO DA ÉPOCA.
Na década de 40 as cidades do estado de São Paulo passam por um desenvolvimento industrial e urbano que foi impulsionado pela chegada de grandes empresas. 
Durante a década de 50 esses desenvolvimentos se intensificaram, mesmo que lentamente, e proporcionaram à mulher a oportunidade de ingressar com maior facilidade no mercado de trabalho obtendo dessa forma sua independência financeira.
 A partir desse período a mulher vivenciou e participou de mudanças de hábitos e costumes, o que ocasionou uma nova realidade em seu papel social.
 A década de 60 foi um momento de transição desses hábitos e costumes o que abalou a sociedade e causou divergências entre conservadores e pessoas que escolheram viver em uma nova realidade, esse período foi um momento decisivo que acabou gerando a “revolução sexual” na década de 70. 
   A obra Costureiras  refere-se ao lento processo de industrialização em que o Brasil se encontrava. São mulheres trabalhando artesanalmente, num ambiente caseiro. Essa atmosfera doméstica é enfatizada pela presença de um gato, no canto esquerdo do quadro. Temos aí um embrião da emancipação feminina.
Que diferença houve na sua interpretação ao ler o contexto histórico?
Podemos afirmar, então, que o sentido do texto está no contexto?
TEXTO PARA ANÁLISE: A PRÁTICA DE PRODUÇÃO DE TEXTO
Assim como a leitura, a produção de textos escritos é uma prática de linguagem e, como tal, uma prática social. Quer dizer: em várias circunstâncias da vida escrevemos textos para diferentes interlocutores, com distintas finalidades, organizados nos mais diversos gêneros, para circularem em espaços sociais vários.
Por exemplo: ao lermos um jornal, se o tratamento recebido por determinado assunto em uma determinada matéria nos causar indignação — ou mesmo admiração — podemos escrever uma carta para o jornal manifestando nossa forma de pensar a respeito. 
Se quisermos divulgar um serviço que prestamos, podemos escrever um anúncio para uma revista, para um determinado site, para um jornal; ou podemos escrever um folheto de propaganda para ser distribuído na saída do metrô, ou, ainda, organizar um outdoor para veicular informação a respeito do serviço nos lugares que se espera que circulem potenciais interessados no serviço divulgado.
Se pretendermos divulgar dados organizados de determinada pesquisa que realizamos, por exemplo, a respeito da evasão dos alunos, escrevemos um artigo acadêmico-científico, para ser publicado em uma revista de educação — ou um livro — que circule no espaço no qual essa discussão interesse.
Se quisermos ter notícias de um ente querido que se encontra distante de nós geograficamente, podemos escrever uma carta, ou enviar uma mensagem por e-mail. 
Se desejarmos informar um possível contratante sobre nossa formação e experiência profissionalpara que ele possa avaliar se correspondemos às expectativas que a empresa tem para um provável funcionário, elaboramos um currículo.
Como se pode ver, produzimos textos em diferentes circunstâncias. A cada circunstância correspondem: 
a) finalidades diferentes: manifestar nossa forma de pensar a respeito de determinada matéria lida; divulgar determinados serviços buscando seduzir possíveis clientes; convencer a respeito de determinadas interpretações de dados; obter notícias sobre um ente querido; informar sobre sua qualificação profissional;
b) interlocutores diversos: leitores de um determinado veículo da mídia impressa (jornal, revista); transeuntes de determinados locais (vias de circulação, rodoviária etc.); colegas de trabalho, leitores de determinada revista acadêmico-científica ou de determinado tipo de livro; um parente próximo ou um amigo; um possível contratante;
c) lugares de circulação determinados: mídia impressa; academia; família ou círculo de amizades; determinada empresa (esfera profissional); vias públicas de grande circulação de veículos e pessoas;
d) gêneros discursivos específicos: carta de leitores; anúncio; folheto de propaganda; outdoor; artigo acadêmico-científico; carta pessoal; currículo.
Quer dizer: escrever um texto é uma atividade que nunca é a mesma nas diferentes circunstâncias em que ocorre, porque cada escrita se caracteriza por diferentes condições que determinam a produção dos discursos. Essas condições referem-se aos elementos apresentados acima. Mas não apenas a eles. Um aspecto a ser considerado ainda é o lugar do qual se escreve. 
Todos desempenhamos diferentes papéis na vida: o de mãe/pai, de filho/filha, de irmão/irmã, de associado de determinado clube, de consumidor de determinado produto, de cidadão brasileiro, o relativo à profissão que exercemos (professores, médicos, dentistas, vereadores, escritores, revisores, feirantes, digitadores, diretores de escola etc.), entre outros. Cada um desses papéis estabelece entre nós e aqueles com quem nos relacionamos determinados vínculos, que implicam responsabilidades assumidas, pontos de vista a partir dos quais os acontecimentos são analisados, recomendações são feitas, atitudes são tomadas... 
Ainda que esses papéis se articulem todo o tempo, uma vez que são todos constitutivos do sujeito e que, dessa forma, influenciam-se mutuamente, quando assumimos a palavra para dizer alguma coisa a alguém, um desses papéis predomina, em função das demais características do contexto de produção (sobretudo do lugar de circulação do discurso e do interlocutor presumido).
Por exemplo: um cineasta, quando em uma conferência ou mesa-redonda, ao analisar determinado filme, certamente produzirá um discurso permeado por análises técnicas e históricas. Isso ocorrerá não só porque o discurso será uma conferência, que poderá ter como interlocutores estudantes ou outros cineastas, ou porque circulará na esfera acadêmica, tendo, portanto, que se adequar a essas condições, mas também porque o cineasta não poderá, nessas condições enumeradas, produzir o discurso a partir do lugar de pai, por exemplo, ou de amigo de determinado empresário do ramo, sob pena de não ser eficaz. 
Se estiver conversando com amigos em um encontro casual, ao contrário, o contexto de produção dado lhe permitirá assumir o lugar de espectador/apreciador da arte do cinema e seu discurso, certamente, não terá a mesma organização, nem a mesma escolha lexical, podendo ser mais descontraído, menos comprometido com argumentações coerentes com determinadas posições teóricas. E isto por causa de todas as condições de produção citadas, incluindo-se nestas o papel social de onde fala o produtor.
Da mesma forma, se a uma pessoa for solicitado um discurso recomendando a redução do consumo de energia elétrica, este não será o mesmo, caso seja produzido a partir do lugar de deputado federal, de industrial do ramo da produção de lâmpadas, ou do lugar do pai que fala a seus filhos. Os argumentos serão diferentes porque, embora não apenas por este motivo, a relação entre os interlocutores instituiu compromissos diferenciados entre eles. 
Ser um escritor proficiente, portanto, significa saber lidar com todas as características do contexto de produção dos textos, de maneira a orientar a produção do seu discurso pelos parâmetros por elas estabelecido.
UNIDADE 2: INTERTEXTUALIDADE.
Pré-questionamento:
1. O que você entende por intertextualidade?
2. Quantas vezes já ocorreram de você ler um texto e lembrar-se de outro?
TEXTO PARA ANÁLISE: Observe o que Maurício de Sousa criou através de quadros famosos e tente definir o que você entende por intertextualidade. 
	História em Quadrões
	 
O desenhista Mauricio de Sousa, criador dos personagens da Turma da Mônica, alia cultura à diversão em uma exposição aberta no Museu Metropolitano de Arte de Curitiba. 
	
"Mônica Lisa" - baseado na obra "Mona Lisa" (1503) de Leonardo Da Vinci.
"Minha história com os “Quadrões” começou por brincadeira. Em uma visita que fiz ao Masp – Museu de Arte de São Paulo, no final dos anos 80, parei para observar Rosa e Azul, uma das obras que mais gosto do pintor francês Augusto Renoir"– diz Mauricio de Sousa ao contar sobre as primeiras idéias que teve ao começar a pintar seus personagens em cenas retratadas pelos maiores pintores da história. 
Desta brincadeira, resultaram dez anos de pesquisas e a exposição  “História em Quadrões” que já percorreu museus de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador reunindo um público estimado em 500 mil pessoas. 
Depois de Curitiba, a mostra segue para outras capitais brasileiras, Europa e Estados Unidos. “Espero, com essa exposição, que o nosso público, principalmente as crianças, aproximem-se da história dos grandes mestres da pintura, conhecendo suas vidas, suas obras e tendo o seu momento lúdico com as nossas releituras” - conclui o criador da Turma da Mônica. 
"Criação do Cebolinha" - baseado na obra "A criação de Adão".
" A criação de Adão" (1510) - Michelangelo.
"O Cochilo" - baseado na obra "A Sesta".
"A Sesta" (1890) - Van Gogh.
Mauricio de Sousa revela que além de visitas ao MASP, também esteve no Museu do Louvre, em Paris, onde crianças copiando Monalisa, também o impressionaram e o levaram a pensar em fazer o mesmo com as crianças brasileiras. 
Nesses dez anos de pesquisa para desenvolver as releituras, o desenhista conta que procurou verificar detalhes das pinturas, como a utilização das tintas, o jeito das pinceladas, a iluminação. A diversão e a brincadeira do início, que somente eram vistas nas paredes dos corredores dos estúdios da Mauricio de Sousa Produções, acabou virando trabalho sério, pintados em tinta acrílica com o máximo de fidelidade ao original. Até mesmo as molduras foram pesquisadas para que ficassem próximas das originais. 
De pincelada em pincelada, Mauricio de Sousa acabou se identificando com o genial Van Gogh. "Ele é o pintor que mais se aproxima do que eu gosto de fazer. São dele os quadros que eu tive mais facilidade para reproduzir, por causa da forma livre como ele pinta", informa. Segundo suas declarações, quando começar a pintar seus próprios quadros -e que não vai demorar muito - acredita que terão forte influência do pintor holandês.
Fonte: http://beta.geracaopedreira.com.br/cgi-bin/showmat.pl?g=gr6&mat=178.
INTERTEXTUALIDADE
Considerada por alguns autores como uma das condições para a existência de um texto, a intertextualidade se destaca por relacionar "um texto concreto com a memória textual coletiva, a memória de um grupo ou de um indivíduo específico" (Mira Mateus et alii, 1983)
Trata-se da possibilidade de os textos serem criados a partir de outros textos. As obras de caráter científico remetem explicitamente a autores reconhecidos, garantindo, assim, a veracidade das afirmações. Nossas conversas são entrelaçadas de alusões a inúmeras consideraçõesarmazenadas em nossas mentes. O jornal está repleto de referências já supostamente conhecidas pelo leitor. A leitura de um romance, de um conto, novela, enfim, de qualquer obra literária, nos aponta para outras obras, muitas vezes de forma implícita.
A nossa compreensão de textos (considerados aqui da forma mais abrangente) muito dependerá da nossa experiência de vida, das nossas vivências, das nossas leituras. Determinadas obras só se revelam através do conhecimento de outras. Ao visitar um museu, por exemplo, o nosso conhecimento prévio muito nos auxilia ao nos depararmos com certas obras.
A noção de intertextualidade, da presença contínua de outros textos em determinado texto, nos leva a refletir a respeito da individualidade e da coletividade em termos de criação. Neste sentido, Fiorin e Savioli (1996) afirmam:
	"Todo texto é produto de criação coletiva: a voz do seu produtor se manifesta ao lado de um coro de outras vozes que já trataram do mesmo tema e com as quais se põe em acordo ou desacordo." 
Já vimos anteriormente que a citação de outros textos se faz de forma implícita ou explícita. Mas, com que objetivo? 
Um texto remete a outro para defender as idéias nele contidas ou para contestar tais idéias. Assim, para se definir diante de determinado assunto, o autor do texto leva em consideração as idéias de outros "autores" e com eles dialoga no seu texto. 
Ainda ressaltando a importância da intertextualidade, remetemos às considerações de Vigner (1988): "Afirma-se aqui a importância do fenômeno da intertextualidade como fator essencial à legibilidade do texto literário, e, a nosso ver, de todos os outros textos. O texto não é mais considerado só nas suas relações com um referente extra-textual, mas primeiro na relação estabelecida com outros textos". 
A intertextualidade ocorre em diversas áreas do conhecimento. Eis abaixo algumas delas:
A literatura: por exemplo, entre Casimiro de Abreu “Meus oito anos” e Oswald de Andrade “Meus oito anos”. Aquele foi escrito no século XIX e este foi escrito no século XX. Portanto, o 2 texto cita o 1, estabelecendo com ele uma relação intertextual.
 
 
	Meus oito anos Oh! Que saudade que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais Que amor, que sonhos, que flores Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras Debaixo dos laranjas! Casimiro de Abreu
	Meus oito anos Oh! Que saudade que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais Naquele quintal de terra Da rua São Antônio Debaixo da bananeira Sem nenhum laranjais! Oswald Andrade 
A pintura: o quadro do pintor barroco italiano Caravaggio e a fotografia da americana Cindy Sherman, na qual quem posa é ela mesma. O quadro de Caravaggio foi pintado no final do século XVI, já o trabalho fotográfico de Cindy Sherman foi produzido quase quatrocentos anos depois do quadro. Na foto, ela recria o mesmo ambiente e a mesma atmosfera sensual da pintura, reunindo um conjunto de elementos: a coroa de flores na cabeça, o contraste entre claro e o escuro, a sensualidade do ombro nu etc. A foto de Sherman é uma recriação do quadro de Caravaggio. Aquela, explícita e intencionalmente, cita este ao manter quase todos os elementos do quadro original.
O jornalismo: - a publicidade - um dos anúncios do Bom Bril em que o ator se veste e se posiciona como se fosse a Mona Lisa de Da Vinci e cujo enunciado-slogan é “Mon Bijou deixa sua roupa uma perfeita obra-prima” Esse enunciado sugere ao leitor que o produto anunciado deixa a roupa bem macia e perfumada, ou seja, uma verdadeira obra-prima (se referindo ao quadro de Da Vinci).
Quanto à intertextualidade na publicidade, pode-se dizer que ela assume a função não só de persuadir o leitor como também de difundir a cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, escultura, literatura etc). Assim, quando há a utilização deste recurso, boa parte do efeito de uma propaganda ou do título de uma reportagem é proveniente da referência feita a textos pré-existentes. Esses textos ora são retomados de forma direta, ora de forma indireta, levando o destinatário a reconhecer no enunciado o texto citado. (Portanto, segundo Almeida, pode tratar-se da citação tanto de um enunciado cuja autoria é reconhecida (Os documentos são “imexíveis) usando o neologismo criado pelo ministro do trabalho Magri “imexível”); quanto de um enunciado anônimo pertencente ao patrimônio social (um político) diz: “Se Lincoln fosse vivo, ele estaria rolando no túmulo”, fazendo alusão a este enunciado “Fulano deve estar rolando no túmulo” cujo valor é de descontentamento
INTERTEXTUALIDADE
UMA PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO
MODALIDADES MAIS CONHECIDAS:
PARÁFRASE: não há mudança do texto original. São as citações e transcrições.
ESTILIZAÇÃO: Ocorre um “remake”. A bíblia escrita com um vocabulário moderno e para crianças.
PARÓDIA: desvio total do texto original. São as mudanças de letras musicais, por exemplo.
Apresentaremos a seguir uma proposta de classificação de intertextos com base no corpus selecionado a fim de trabalhá-lo em sala de aula de Português e de Literatura.
Clichê: é o enunciado que se transformou em uma unidade lingüística estereotipada por ser muito proferido pelas pessoas. Num jornal sobre esportes foi criada uma charge com o enunciado: “Por trás de todo grande time há um grande treinador”. Tal enunciado remete a outro pertencente ao patrimônio social “Por trás de todo grande homem há uma grande mulher”. O enunciado do jornal, na época, pretendia elogiar a conduta do treinador pelo fato do time Vasco ter ganhado o campeonato.
Outro exemplo destacado foi o da publicidade do Sesi a respeito de um concurso de empresas sobre a qualidade no trabalho. O slogan da publicidade era: “Se o trabalho dignifica o homem, o trabalho em equipe o torna um vencedor”. Observa-se que a partir de um clichê “O trabalho dignifica o homem”, utilizado numa estrutura com valor condicional “Se o trabalho...”, ressalta-se em seguida a importância do trabalho em equipe “...o trabalho em equipe o torna um vencedor”.
Proverbial: é um enunciado popular que expressa de forma sucinta uma mensagem. O título de uma reportagem sobre funcionários e ações trabalhistas: “Depois do suor, o desamparo” que remete ao provérbio “Depois da tempestade vem a bonança”. Sendo que ao contrário esse (depois dos fatos negativos vem o positivo), o título da reportagem sugere que depois de todo esforço “suor”, os funcionários não obtiveram o que almejavam: o reconhecimento. Foram vítimas do desemprego “desamparo”.
Palavrão: é o enunciado que apresenta uma palavra grosseira ou obscena. O jornalista Agamenon, responsável por uma matéria do Segundo Caderno do jornal O Dia, cuja característica é o humor, nomeou uma de suas matérias de Cuba se Fidel. No mesmo, observa-se a alusão ao palavrão “se foder” e um jogo entre este e o nome do presidente de Cuba, Fidel Castro, por causa da semelhança fonética “Fidel e fodeu”.
Bíblico: quando o enunciado menciona uma passagem da Bíblia. O título de uma reportagem sobre o turismo na Ilha Grande “A fé move turistas nas trilhas da Ilha Grande” se referindo à passagem bíblica que diz: “A fé move montanha”.
Literário: quando o enunciado se refere a verso(s), a passagem (ns) ou a título (s) de obra.
- Exemplo de título de obra: A publicidade da marca Ceramidas usa como slogan o seguinte enunciado: “Dona flor e seus dois produtos”, que, por sua vez, se reporta a uma das obras de Jorge Amado intitulada Dona flor e seus dois maridos. Observa-se assim que na publicidade Dona Flor é representada pela marca Ceramidas e os dois produtos pelo xampu e pelo condicionador.
Uma matéria da revista Isto é intitulada: “E o vento levou” sobre produtos de cabelo é o título de uma obra de Margaret Mitchell. Essa matéria mostra como os produtos mencionados deixam os cabelos leves e soltos.
- Exemplo de verso: O título de uma reportagem: “Infinito, masenquanto durou” se referindo ao verso de Vinícius de Moraes “que seja infinito enquanto dure” que, por sua vez, faz alusão ao pensamento de Sofocleto: “O amor é eterno enquanto dura”.
Musical: quando a letra de uma música se reporta a outra letra já existente. Num trecho do rap Sem saúde de Gabriel O Pensador, o compositor diz: “... me cansei de lero-lero / dá licença mas eu vou sair do sério...” mencionando uma das músicas de Rita Lee.
ATIVIDADES COMPLEMENTARES:
Leia e responda sobre os textos:
TEXTO A:
 
�
“Era um sonho dantesco... o tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho. Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar... 
Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras moças, mas nuas e espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs! 
E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais... Se o velho arqueja, se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais... 
Presa nos elos de uma só cadeia, A multidão faminta cambaleia, E chora e dança ali! Um de raiva delira, outro enlouquece, Outro, que martírios embrutece, Cantando, geme e ri! 
 
No entanto o capitão manda a manobra, E após fitando o céu que se desdobra, Tão puro sobre o mar, Diz do fumo entre os 
densos nevoeiros: "Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Fazei-os mais dançar!..." 
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . . E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais... Qual um sonho dantesco as sombras voam!... Gritos, ais, maldições, preces ressoam! E ri-se Satanás!...’
�
TEXTO B: Todo Camburao Tem Um Pouco De Navio Negreiro
O Rappa
�
Composição: Marcelo Yuka
Tudo começou quando a gente conversava
naquela esquina alí
de frente àquela praça
veio os homens
e nos pararam
documento por favor
então a gente apresentou
mas eles não paravam
qual é negão? Qual é negão?
o que que tá pegando?
qual é negão? Qual é negão?
é mole de ver
que em qualquer dura
o tempo passa mais lento pro negão
quem segurava com força a chibata
agora usa farda
engatilha a macaca
escolhe sempre o primeiro
negro pra passar na revista
pra passar na revista
**
todo camburão tem um pouco de navio negreiro
todo camburão tem um pouco de navio negreiro
***
é mole de ver
que para o negro
mesmo a AIDS possui hierarquia
na África a doença corre solta
e a imprensa mundial
dispensa poucas linhas
comparado, comparado
ao que faz com qualquer
figurinha do cinema
comparado, comparado
ao que faz com qualquer
figurinha do cinema
ou das colunas socias
****
todo camburão tem um pouco de navio negreiro
todo camburão tem um pouco de navio negreiro.
�
QUESTÕES:
Em que sentido os dois textos se dialogam?
Examinando a intertextualidade (explícita ou implícita):
“Era um sonho dantesco...”. Castro Alves refere-se aqui ao poema “A divina comédia” de Dante Alighieri, recuperando a descrição que o poeta italiano faz dos horrores e dos sofrimentos daqueles que padecem no inferno e associando-o aos horrores vividos pelos negros nos porões dos navios negreiros. Você considera essa intertextualidade implícita ou explícita. Por quê?
Ao intitular a música “Todo Camburão Tem Um Pouco De Navio Negreiro”, que tipo de intertextualidade temos: 
O sentido da palavra negão na primeira e na segunda estrofe da música?
“quem segurava com força a chibata
agora usa farda
engatilha a macaca
escolhe sempre o primeiro
negro pra passar na revista
pra passar na revista”
Diante do que está posto, o que você julgaria de pressuposto e subentendido nesse fragmento da música?
INTERTEXTUALIDADE – AS RELAÇÕES ENTRE OS TEXTOS 
Observe os trechos que seguem:
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
“Nossos bosques têm mais vida”
“Nossa vida”, no teu seio, “mais amores”.
 (Hino Nacional Brasileiro)
Nossas flores são mais bonitas
Nossas frutas mais gostosas
Mas custam cem mil réis a dúzia.
 (MENDES, Murilo. Canção do Exílio.)
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores.
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
 (DIAS, Gonçalves. Canção do exílio.)
Os três textos são semelhantes. Como o de Gonçalves Dias é anterior aos dois primeiros, o que ocorre é que estes fazem alusão àquele. Os dois primeiros citam o texto de Gonçalves Dias.
A essa citação de um texto por outro, a esse diálogo entre textos dá-se o nome de intertextualidade.
Um texto cita outro com, basicamente, duas finalidades distintas:
para reafirmar alguns dos sentidos do texto citado;
para inverter, contestar e deformar alguns dos sentidos do texto citado; para polemizar com ele.
A percepção das relações intertextuais, das referências de um texto a outro, depende do repertório do leitor, do seu acervo de conhecimentos literários e de outras manifestações culturais. Daí a importância da leitura. Quanto mais se lê, mais se amplia a competência para apreender o diálogo que os textos travam entre si por meio de referências, citações e alusões. Diz-se que todo texto remete a outros textos no passado e aponta para outros no futuro. Quanto mais elementos reconhecemos em um texto, mais fácil será a leitura e mais enriquecida será a nossa interpretação, ou seja, a intertextualidade é um fenômeno cumulativo: quanto mais se lê, mais se detectam vestígios de outros textos naquele que se está lendo. Reconhecer o GÊNERO a que pertence o texto lido é uma das chaves para a melhor interpretação do contexto..
A presença de vestígios de outros assuntos dá sustentação à tese de que intertextualidade constitutiva do texto é eminentemente interdisciplinar (o mesmo texto pode ser utilizado em diversas matérias com enfoques específicos a cada uma delas). O conjunto de relações com outros textos do mesmo gênero e com outros temas transforma o texto num objeto tão aberto quantas sejam as relações que o leitor venha a perceber.
EXERCÍCIOS: SAMPA - Caetano Veloso
Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruza a ipiranga e a avenida são joão
é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
da dura poesia concreta de tuas esquinas
da deselegância discreta de tuas meninas
ainda não havia para mim rita lee
a tua mais completa tradução
alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruza a ipiranga e a avenida são joão
quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
chamei de mau gosto o que vi de mau gosto o mau gosto
é que narciso acha feio o que não é espelho
e à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
nada do que não era antes quando não somos mutantes
e foste um difícil começo afasto o que não conheço
e quem vem de outro sonho feliz de cidade
aprende depressa a chamar-te de realidade
porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
do povo oprimido nas filas nas vilas favelas
da força da grana que ergue e destrói coisas belas
da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
tuas oficinas de florestas teus deuses da chuva
panaméricas de áfricas utópicas túmulo do samba mais possível novo quilombo de zumbi
e os novos baianos passeiam na tua garoa
e os novos baianos te podem curtir numa boa.
Explique o significado de Sampa.
O texto relaciona lugares de São Paulo, bem como poetas, músicos e movimentos culturais que agitavam a cidade na época em que foi escrito. Identifique-os.
Há uma referência à mitologia grega e a um de seus mitos. Qual é ele? Conte sua lenda e relacione-a com a explicação dada por Freud, dentro da psicanálise.
O poeta, CaetanoVeloso, cita o quilombo de Zumbi. O que você sabe sobre essa passagem da história? Qual o seu significado na letra da música?
O texto faz alusão a uma particularidade climática de São Paulo. Identifique-a.
Nas questões acima, você pôde testar o seu acervo de conhecimentos literários e de outras manifestações culturais. Faça um levantamento dos assuntos que você precisou pesquisar para entender melhor a leitura do poema.
 Como seria sua compreensão do texto sem esses conhecimentos prévios? Qual a importância da intertextualidade na interpretação textual? 
O reconhecimento do GÊNERO facilitou identificar elementos característicos dessa modalidade da escrita? Justifique.
Por que Caetano Veloso usou letras minúsculas em todo o texto, inclusive nos nomes próprios?
Podemos interpretar SAMPA apenas com esta frase: São Paulo inspira ao mesmo tempo ódio e amor? Justifique?
Texto - Intertextualidade
Os usos do brinco
(1) O homem - um senhor já de certa idade, trajando terno e gravata -  estava furioso:
(2) -   Onde é que já se viu? Brinco no colégio, isso tinha de ser mesmo proibido!
(3) Com risco de incorrer em sua ira, perguntei se aplicaria a proibição também às (4)meninas. Olhou-me com desprezo:
(5) -  Claro que não. Você é idiota? Claro que não. Meninas podem usar brincos. (6)Rapazes é que não podem.
(7) Lembrei que vários homens de cuja masculinidade não se pode duvidar  - (8)bucaneiros, até, e bandidos - usavam brincos, isso sem falar em índios guerreiros. O (9)argumento deixou-o perplexo e irritado:
(10)      -   E os estudantes são índios, por acaso? Não pode e pronto.
(11) Ficou em silêncio um instante. Um silêncio intranqüilo, queria ganhar a discussão, claro,
(12) mas não com “não pode e pronto”: não ficava bem para um cavalheiro estes rompantes. 
(13)Queria um argumento inteligente, e procurava desesperadamente. Por fim seu rosto se iluminou:
(14) -  E tem mais uma coisa: o brinco pode ser um disfarce.
(15) Disfarce de quê, perguntei surpreso. E ele:
(16) -  Disfarce para um transmissor, ora. Então você não sabe que eles estão fabricando
(17)transmissores cada vez menores? O cara coloca um transmissor destes no brinco (18)e está feito: daí por diante, colar é barbada. Fica o rapaz na aula, o cúmplice lá (19)fora. O professor dita as questões da prova, o cúmplice ouve, procura as respostas (20)curtas e transmite para o cara do brinco. Não é uma barbada?
(21) Tive de confessar que sim, que era uma barbada. E tive de confessar também que era uma coisa
(22)genial: nem mesmo o Lan Fleming, criador do James Bond, tinha pensado numa coisa (23)assim.
(24) - Não é mesmo? _ Ele, triunfante. _ Não é uma grande sacada? Acho até.
(25) Deteve-se, ficou um momento em silêncio, pensando. E aí mirou-me, inquisidor:
(26) -   Diga-me uma coisa: quanto é que você acha que daria para cobrar por um brinco desses? 
 (Moacyr Scliar. Folha de São Paulo, 27/11/94)
TEXTO E TEXTUALIDADE
O que é texto?
TEXTO - escrito ou oral;
O que as pessoas têm para dizer umas às outras não são palavras nem frases isoladas, são textos;
TEXTO - dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal;
TEXTO - Unidade de linguagem em uso, cumprindo função sociocomunicativa (1ª função).
Existe uma série de fatores pragmáticos que contribuem para a construção e reconhecimento do texto, ou seja, para sua produção e recepção:
I - As intenções do produtor/redator;
II - Jogo de imagens mentais que cada um dos interlocutores faz de si, do outro e do outro com relação a si mesmo e ao tema do discurso/texto;
III - O espaço de perceptibilidade visual na comunicação;
IV - O contexto sociocultural em que se insere o discurso, delimitando os conhecimentos compartilhados pelos interlocutores (tom de voz, postura....).
2ª função: Unidade Semântica
O texto pode ser percebido pelo receptor como um todo significativo: A coerência – responsável pelo sentido do texto. Esse é coerente quando apresenta uma configuração conceitual compatível com o conhecimento de mundo do receptor/leitor que precisa deter os conhecimentos necessários à sua interpretação. 
Grande parte destes conhecimentos necessários não vem explícita, mas fica dependente da capacidade de pressuposição e inferência do receptor/leitor.
A coerência do texto deriva de sua lógica interna e o conhecimento de mundo de quem processa o discurso/texto.
3ª Função: Unidade formal, material
Elementos linguísticos devem se mostrar reconhecivelmente integrados, de modo a permitir que ele seja percebido como um todo coeso.
O texto será bem compreendido quando avaliado sob três aspectos:
I - pragmático: atuação informacional e comunicativa;
II - semântico-conceitual: coerência;
III - formal: coesão.
TEXTUALIDADE
Conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto e não apenas uma seqüência de frases.
Fatores responsáveis:
I - Coerência;
II – Coesão.
FATORES PRAGMÁTICOS: Tipos de fala, contexto de situação, intenção comunicativa, características e crenças do produtor e receptor.
Intencionalidade – fator pragmático - Redator/produtor/emissor.
Satisfazer os objetivos que tem em mente numa determinada situação comunicativa: informar, impressionar, alarmar, convencer, pedir, ofender, etc.
Aceitabilidade – fator pragmático - Receptor/recebedor/leitor (a quem? Para quem?) Conjunto de ocorrências de um texto coerente, capaz de levar o leitor a adquirir conhecimentos ou a cooperar com os objetivos do produtor. A aceitabilidade depende da autenticidade – qualidade, veracidade.
Informatividade – fator pragmático – Quantidade de informação – Suficientes para que seja compreendido com o sentido que o redator pretende. Não é possível nem desejável que o texto explicite todas as informações necessárias; é preciso que deixe inequívocos os dados para o receptor compreender a mensagem. O nível de informação ideal é o mediano, no qual se alternam ocorrências de processamento imediato, que falem do conhecido, mas que trazem informação. Discurso menos previsível – mais informativo ( recepção mais trabalhosa, mais envolvente). Discurso mais previsível – menos informativo ( tendência a rejeição).
Intertextualidade – fator pragmático – Concerne aos fatores que fazem a utilização de um texto dependente de outro(s) texto(s). Inúmeros textos só fazem sentido quando entendidos em relação a outros textos que funcionam como contexto, pois um discurso constrói-se através de um já-dito em relação a outros textos, que funcionam como seu contexto.
Situacionalidade – fator pragmático – Diz respeito aos elementos responsáveis pela pertinência e RELEVÂNCIA - importância da informação – do texto quanto ao contexto em que ocorre. É a adequação do texto à situação sociocomunicativa. O contexto pode, realmente, definir o sentido do discurso e, normalmente, orienta tanto a produção quanto a recepção.
Inferências: Idéia não exposta, mas subtendida. Conexões que o leitor faz (contexto), tentando alcançar uma interpretação do que lê ou ouve, estabelecendo uma relação não explícita no texto.
Focalização: É a maneira como cada leitor vê o texto. 
Ex.: Um médico, um advogado, um engenheiro.... lendo um romance. (cada um terá uma visão).
Conhecimento de mundo: O texto fala sobre o quê?
Conhecimento partilhado: Necessário para a compreensão do texto - emissor e receptor devem ter um conhecimento de mundo com certo grau de similaridade, constituindo o conhecimento compartilhado.
Conhecimento linguístico: é o conhecimento da gramática em si e sua aplicação dentro do texto para que possa ser estabelecida a coerência.
Ex.: Uso de artigos, ordem das palavras, conjunções, tempos verbais, uso dos conectores de modo geral....
Contextualização: Informações sobre localização, data e autor. (texto).
Texto para análise:
Recado ao senhor 903
Vizinho –Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor teria ainda ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003,me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão, ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.
Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou.” E o outro respondesse: “Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela”.
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.
(Rubem Braga).
UNIDADE 3: AS INFORMAÇÕES IMPLÍCITAS: PRESSUPOSTO E SUBENTENDIDO
FIORIN, José Luiz e PLATÃO, Francisco. Lições de Texto: leitura e redação. (lição 20)
FIORIN, José Luiz e PLATÃO, Francisco. Para entender o texto: leitura e redação (Lição 27) 
Observe a seguinte frase: “Fiz faculdade, mas aprendi algumas coisas.”
 Nela, o falante transmite duas informações de maneira explícita:
que ele freqüentou um curso superior;
que ele aprendeu algumas coisas.
Ao ligar essas duas informações com um “mas” comunica também de modo implícito sua crítica ao sistema de ensino superior, pois a frase passa a transmitir a idéia de que nas faculdades não se aprende nada.
Um dos aspectos mais intrigantes da leitura de um texto é a verificação de que ele pode dizer coisas que parece não estar dizendo: além das informações explicitamente enunciadas, existem outras que ficam subentendidas ou pressupostas. Para realizar uma leitura eficiente, o leitor deve captar tanto os dados explícitos quanto os implícitos. Se ele não tiver essa habilidade, a de ler nas entrelinhas passará por cima de significados importantes ou – o que é bem pior - concordará com idéias ou pontos de vista que rejeitaria se percebesse.
PRESSUPOSTOS: são aquelas idéias não expressas de maneira explícita, mas que o leitor pode perceber a partir de certas palavras ou expressões contidas na frase.
Ex.: Pedro deixou de fumar.
Idéia explícita: agora, Pedro não fuma.
Idéia implícita ou pressuposto: antes, Pedro fumava (informação transmitida pelo verbo “deixar”)
A informação explícita pode ser questionada pelo ouvinte, que pode ou não concordar com ela. Os pressupostos, no entanto, têm que ser verdadeiros ou pelo menos admitidos como verdadeiros, porque é a partir deles que se constroem as informações explícitas. Se o pressuposto é falso, a informação explícita não tem cabimento. No exemplo acima, se Pedro não fumava antes, não tem cabimento afirmar que ele deixou de fumar.
 
Ao introduzir um conteúdo sob a forma de pressuposto, o falante transforma o ouvinte em cúmplice, pois a idéia implícita não é posta em discussão, é apresentada como se fosse aceita por todos, e os argumentos explícitos só contribuem para confirmá-la. O pressuposto aprisiona o ouvinte ao sistema de pensamento montado pelo falante.
Ex.: É preciso construir mísseis nucleares para defender o Ocidente de um ataque soviético.
Idéia explícita: - a necessidade da construção de mísseis;
 - com a finalidade de defesa contra o ataque soviético.
Pressuposto: - os soviéticos pretendem atacar o Ocidente.
Argumentos contra: - os mísseis não são eficientes para conter o ataque soviético;
 - uma guerra de mísseis vai destruir o mundo inteiro e não apenas os soviéticos; 
 - a negociação com os soviéticos é o único meio de dissuadi-los de um ataque ao Ocidente.
Como se pode ver, os argumentos são contrários ao que está dito explicitamente, mas todos eles confirmam o pressuposto, isto é, todos os argumentos aceitam que os soviéticos pretendem atacar o Ocidente.
SUBENTENDIDOS: SÃO INSINUAÇÕES ESCONDIDAS POR TRÁS DE UMA AFIRMAÇÃO.
Ex.: Você está em visita à casa de outra pessoa num dia de muito frio e uma das janelas da sala, por onde entrava um vento terrível, estivesse aberta. Se o visitante dissesse: “Que frio terrível! poderia estar insinuando “Feche a janela”. Mas, se o dono da casa alegasse que não é higiênico ficar com todas as janelas fechadas, você pode dizer que concorda e que apenas constatou que o frio era muito intenso.
Diferença entre pressuposto e subentendido: o pressuposto é um dado posto como indiscutível para o falante e para o ouvinte, não é para ser contestado; o subentendido é de responsabilidade do ouvinte, pois o falante, ao subentender, esconde-se por trás do sentido literal das palavras e pode dizer que não estava querendo falar o que o ouvinte entendeu. O subentendido diz sem dizer, sugere, mas não diz.
UNIDADE 4: ARGUMENTAÇÃO
ARGUMENTO - observemos a origem do termo: vem do latim argumentum, que tem tema argu, cujo sentido primeiro é “fazer brilhar”, “iluminar”. É o mesmo tema que aparece nas palavras argênteo, argúcia, arguto etc. Pela sua origem, podemos dizer que argumento é tudo aquilo que faz brilhar, cintilar uma idéia. Assim, chamamos argumento a todo procedimento lingüístico que visa a persuadir, a fazer o receptor aceitar o que lhe foi comunicado, a levá-lo a crer no que foi dito e a fazer o que foi proposto.
Nesse sentido, todo texto é argumentativo, porque todos são, de certa maneira, persuasivos. Alguns se apresentam explicitamente como discursos persuasivos, como a publicidade, outros se colocam como discursos de busca e comunicação do conhecimento, como o científico. Aqueles usam mais a argumentação em sentido lato; estes estão mais comprometidos com raciocínios lógicos em sentido estrito. Seja a argumentação considerada em sentido mais amplo ou mais restrito, o que é certo é que, quando bem feita, dá consistência ao texto, produzindo sensação de realidade ou impressão de verdade. Achamos que o texto está falando de coisas reais ou verdadeiras
São inúmeros os recursos lingüísticos usados com a finalidade de convencer. Trataremos de alguns tipos de argumento.
a) Argumento de autoridade
	É a citação de autores renomados,autoridades num certo domínio do saber, numa área da atividade humana, para corroborar uma tese, um ponto de vista. O uso de citações, de um lado, cria a imagem de que o falante conhece bem o assunto que está discutindo, porque já leu o que sobre ele pensaram outros autores; de outro, torna os autores citados fiadores da veracidade de um dado ponto de vista.
	Se é verdade que o argumento de autoridade tem força, é preciso levar em conta que tem efeito contrário a utilização de citações descosturadas, sem relação com o tema, erradas, feitas pela metade, mal compreendidas.
	Se é verdade que o argumento de autoridade tem força, é preciso levar em conta que tem efeito contrário a utilização de citações descosturadas, sem relação com o tema, erradas, feitas pela metade, mal compreendidas.
Ex: A educação é a base do desenvolvimento.
	Não se deve, no entanto, confundir argumento baseado no consenso com lugares-comuns carentes de base científica, de validade discutível. É preciso muito cuidado para distinguir o que é uma idéia que não mais necessita de demonstração e a enunciação de preconceitos do tipo: só o amor constrói; a Aids é um castigo de Deus.
c) Argumentos baseados em provas concretas 
	As opiniões pessoais expressam apreciações, pontos de vista, julgamentos, que exprimem aprovação ou desaprovação. No entanto, elas terão pouco valor se não vierem apoiadas em fatos.
Os dados apresentados devem ser pertinentes, suficientes, adequados, fidedignos.
	
Se alguém diz que todo político é ladrão, porque a imprensa divulgou que dezenas de deputados fizeram emendas ao orçamento para tirar proveito pessoal, os dados são insuficientes para fazer a generalização, pois do fato de alguns (ou muitos) terem sido apontados como desonestos não decorre necessariamente que todos o sejam. Aliás, é preciso tomar muito cuidado com esses argumentos que fazem apelo a uma totalidade indeterminada, pois basta um único caso em contrário, para derrubá-los.
Não se podem fazer generalizações sem apoio em dados consistentes, fidedignos, suficientes, adequados, pertinentes. As provas concretas podem ser cifras e estatísticas, dados históricos, fatos da experiência cotidiana etc. Esse tipo de argumento, quando bem feito, cria a sensação de que o texto trata de coisas verdadeiras e não apresenta opiniões gratuitas.
d) Argumentos com base em raciocínio lógico 
	Diz respeito às próprias relações entre proposições e não à adequação entre proposições e provas.
	Um dos defeitos na argumentação com base no raciocínio lógico é fugir do tema. Esse expediente é muito usado por políticos, para evitar questões embaraçosas
Outro problema é a tautologia (erro lógico que consiste em aparentemente demonstrar uma tese, repetindo-a com palavras diferentes), que ocorre quando se dá, como causa de um fato, o próprio fato exposto em outras palavras. Apresenta-se, nesse caso, a própria afirmação como causa dela mesma, toma-se como demonstrado o que é preciso demonstrar.
Nada é pior para convencer do que um texto sem coerência lógica, que diz e desdiz-se, que apresenta afirmações que não se implicam umas às outras, que está eivado de contradições.
e) Argumento da competência lingüística 
	Em muitas situações de comunicação (discurso político, religioso, pedagógico etc.) deve-se usar a variante culta da língua. O modo de dizer dá confiabilidade ao que se diz. Utilizar também um vocabulário adequado à situação de interlocução dá credibilidade às informações veiculadas.
	Se um professor não é capaz de usar a norma culta, achamos que ele não conhece sua disciplina. 
Há textos que são mais convincentes se forem elaborados de maneira a criar efeitos de sentido de objetividade. Outros persuadem melhor se mostrarem um efeito de subjetividade.
	O discurso dissertativo de caráter científico deve ser elaborado de maneira a criar um efeito de sentido de objetividade, pois pretende dar destaque ao conteúdo das afirmações feitas (ao enunciado) e não à subjetividade de quem as proferiu (ao enunciador). Quer concentrar o debate nesse foco e por isso adota expedientes que, de um lado, procuram neutralizar a presença do enunciador nos enunciados e, de outro, põem em destaque os enunciados, como se eles subsistissem por si mesmos. É claro que se trata de um artifício lingüístico, porque sempre, por trás do discurso enunciado, está o enunciador com sua visão de mundo.
Estratégias Argumentativas 
	Para neutralizar a presença do enunciador, isto é, daquele que produz o enunciado, usam-se certos procedimentos lingüísticos:
a) Evitam-se os verbos de dizer na primeira pessoa (digo, acho, afirmo, penso, etc.) e com isso procura-se eliminar a idéia de que o conteúdo de verdade contido no enunciado seja mera opinião de quem proferiu, e sugerir que o fato se impõe por si mesmo.
Não se diz, portanto: Eu afirmo que os modelos científicos devem ser julgados pela sua utilidade.
	Mas simplesmente: Os modelos científicos devem ser julgados pela sua utilidade.
b) Quando, eventualmente, se utilizam verbos de dizer, são verbos que indicam certeza e cujo sujeito se dilui sob a forma de um elemento de significação ampla e impessoal, indicando que o enunciado é produto de um saber coletivo, que se denomina ciência. Assim, o enunciador vem generalizado por um nós em vez de eu ou indeterminado:
Temos bases para afirmar que a agricultura constitui uma alternativa promissora para a nossa economia.
c) A exploração do valor conotativo das palavras não é apropriada ao enunciado científico. Nele, os vocábulos devem ser definidos e ter um só significado. 
Num texto de astronomia, lua significa satélite da Terra e não um astro dos enamorados.
d) Nesse tipo de discurso não se ajusta o uso de gírias ou quaisquer usos lingüísticos distanciados da modalidade culta e formal da língua.
OBS: Além de procurar neutralizar a figura do enunciador, o discurso dissertativo de caráter científico procura destacar o conteúdo de verdade dos enunciados. Esse valor de verdade é criado pela fundamentação das idéias e pela argumentação.
UNIDADE 5: OTEXTO DE INFORMAÇÃO/ RESENHA CRÍTICA
 Vamos começar nossa prática observando um gênero de linguagem : o texto de informação. A informação é uma qualidade presente em todo texto , por ora, ela nos serve corno um primeiro divisor de águas. Podemos dizer simplesmente que o texto de in​tormação é aquele que tem como objetivo primeiro informar o leitor. 
TEXTO 1: 
BADMINTON
 Sônia de Castilho
Tem quadra e raquete, mas não é tênis. Tem rede e set de 15 pontos, mas não é vôlei. Tem peteca, mas não é tamboréu. É badminton, um divertido jogo que, apesar de ainda pouco difundido no Brasil, é praticado por milhares de pessoas em mais de 100 países, principalmente na Inglaterra, Dinamarca e nos países asiáticos. E mais: aprovado pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), o badminton será disputado ofi​cialmente nos próximos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, com premiação em quatro categorias.
A história conta que, por volta de 1870, oficiais da Marinha britânica descobri​ram, na Índia, um jogo chamado poona. levado para a Inglaterra — mais especificamente para a cidade de Badminton , o jogo ganhou adeptos, regras e o nome que o acompanha até hoje. No Brasil, o badminton vem ganhando destaque desde 1984, com a criação da Associação Paulista de Badminton, filiada à IBP (International Bad​minton Federation), entidade internacional que existe desde 1 934.
 O badminton é disputado em uma quadra de 13,4m de comprimento por 6,1m de largura, dividida por uma rede de 76 cm fixada a uma altura de 1,55m. Usa como uma levíssima peteca, agilmente golpeada no jogo por raquetes, mais leves e mais longas que as usadas no tênis — devem medir entre 64 e 67cm e pesar de 90 a 140g. A peteca tem 8,8cm de comprimentoe pesa entre 4,73 e 5,5g. A melhor é feita com penas de ganso, mas é cara — custa cerca de 1 dólar — e dura muito pouco — em média, um set. A peteca de nylon é a opção mais barata e durável. O uniforme dos jogadores de badminton é predominantemente branco (70%), no melhor estilo tenista. No Brasil, a regra ainda não é obrigatória, mas deve se tornar oficial no próximo ano.
 Também como no tênis, o badminton pode ter partidas individuais ou de duplas. O objetivo do jogo é devolver a peteca para o lado adversário, tentando fazer com que ela caia no chão, dentro dos limites da quadra. Revista Boa Forma, ed. 54
Roteiro para análise do texto:
1.	 O texto acima pode ser considerado um texto informativo? Justifique. 
2.	Observe que as frases são bastante curtas. No caso, isso é uma qualidade? Por quê?
3.	 Existe informação pura? Em algum momento apare​ce uma opinião? 
4.	Observe que a autora não aparece diretamente no texto (por exemplo, em cons​truções como “gosto muito do jogo”, “eu acho que»...). Quaís são as conse​qüências dessa ausência?
5.	O texto está bem escrito? Por quê?
RESENHA CRÍTICA
A resenha crítica (também denominada recensão crítica, quando mais longa e acompanhada de aparato crítico) consiste num conjunto de comentários sobre um livro no seu todo ou sobre os aspectos mais relevantes da obra. É um artigo de divulgação científica em que se dá uma idéia sobre o conteúdo de uma obra por meio de um resumo de seu conteúdo e, também, se exerce análise crítica, observando a expressão lingüística, os métodos, os conceitos, os seus valores de acordo com os objetivos do texto resenhado. Para maior validade da análise crítica, apóia-se, com citações bibliográficas, nas opiniões de outros estudiosos de reconhecida autoridade no assunto.
A linguagem segue os padrões da linguagem científica das redações acadêmicas, respeitando as opiniões expressas no texto estudado com fidelidade, sem deformação das idéias nem procura de polêmica apaixonada. O autor da resenha deve conhecer bem o assunto e ter espírito crítico capaz de perceber; no conjunto e nas partes, os valores críticos.
A resenha distribui-se, geralmente, em partes que podem não estar indicadas com títulos.
Introdução com as referências bibliográficas e dados sobre o autor.
Resumo do conteúdo.
Análise com julgamentos de valores dos pontos mais importantes ou controversos. Em obras literárias, estuda-se a construção das personagens, psicológica e socialmente.
Apreciação da obra quanto ao seu valor científico ou estético em visão crítica objetiva, imparcial, sem digressões, que mais ressaltam as idéias do resenhador que do resenhado. Avalia-se a importância da obra dentro da área de atuação.
Conclusão que abranja o valor do conjunto todo da obra.
Exemplo de resenha crítica
O dicionário do mundo brasileiro - Dino Preti - Especial para a Folha
NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO DA LÍNGUA PORTUGUESA 2.a EDIÇÃO,
de Aurélio Buarque de Holanda, Nova Fronteira, 1.838 págs. CR$4.200,00
	Não é preciso aprofundar-se muito na leitura dos verbetes desta obra para se constatar que seu objetivo fundamental é constituir-se num instrumento para conhecer a língua portuguesa contemporânea (muito especialmente a do Brasil), dando-se ênfase ao fator uso lingüístico na escolha dos vocábulos. Isto quer dizer que se privilegia a função da língua como meio de comunicação, colocando-se na abonação das variações semânticas escritores de renome ao lado de cronistas de imprensa diária, jornalistas, letristas de músicas populares etc., além da própria linguagem oral ou da veiculada pelos meios de comunicação de massa. E, apesar da indicação das possíveis e mais conhecidas etimologias dos vocábulos lusitanos, denotando um possível interesse histórico, acentua-se uma visão sincrônica do léxico, que se observa, mão só no grande número de brasileirismos, mas também na presença de termos estrangeiros, vocábulos técnicos e gíria, em uso na língua comum do Brasil.
ATIVIDADE: COMENTE, COM SUAS PALAVRAS, A RESENHA ACIMA.
SUGESTÃO: PODE SER FEITO UM RESUMO DOS PARÁGRAFOS, RETIRANDO A IDÉIA CENTRAL DE CADA UM DELES E UMA CONCLUSÃO COM SUA OPINIÃO.
COESÃO
Para cada um dos exercícios, você terá um “texto básico” onde não está ainda realizada a coesão. Esta tarefa caberá a você, na medida em que for capaz de substituir os termos repetidos pelos elementos constantes dos mecanismos de coesão explicitados neste capítulo. Você deverá, em primeiro lugar, fazer um levantamento de sinônimos ou expressões adequadas e substituir os termos que se repetem. Assim, no exercício 1, é importante saber que baleias podem ser chamadas de cetáceos, grandes animais marinhos; que China, no exercício 3, pode ser chamada de grande país amarelo, gigante amarelo etc. Esse levantamento permitirá uma maior agilidade no uso da coesão lexical.
A seguir, apresentamos um modelo. 
Suponhamos que o texto básico ou não-texto (é não texto porque ainda não apresenta coesão) fosse o seguinte:
As revendedoras de automóveis não estão mais equipando os automóveis para vender os automóveis mais caro. O cliente vai à revendedora de automóveis com pouco dinheiro e, se tiver que pagar mais caro o automóvel, desiste de comprar o automóvel e as revendedoras de automóveis têm prejuízo.
Sabemos que automóveis podem também ser chamados de veículos, carros, e até mesmo de mercadoria ou produto, quando expostos em uma revendedora. Uma revendedora de automóveis pode também ser chamada de concessionária, agência etc. 
Uma possível versão coesiva do não texto acima, utilizando os váriosmecanismos de coesão, poderia ser, por exemplo:
As revendedoras de automóveis não estão mais equipando os carros para vendê-los mais caro. O cliente vai lá com pouco dinheiro e, se tiver que pagar mais caro o produto, desiste e as agências têm prejuízo.
Uma outra versão, utilizando somente o mecanismo de elipse, nos forneceria:
As revendedoras de automóveis não estão mais equipando para ven¬der mais caro. O cliente vai com pouco dinheiro e, se tiver que pagar mais, desiste e as revendedoras têm prejuízo.
1. Construa uma nova versão do texto abaixo, utilizando, em relação à palavra baleia, os mecanismos de coesão que julgar adequados.
Todos os anos dezenas de baleias encalham nas praias do mundo e até há pouco nenhum oceanógrafo ou biólogo era capaz de explicar por que as baleias encalham. Segundo uma hipótese corrente, as baleias se suicidariam ao pressentir a morte, em razão de uma doença grave ou da própria idade, ou seja, as baleias praticariam uma espécie de eutanásia instintiva. Segundo outra, as baleias se desorientariam por influência de tempestades magnéticas ou de correntes marinhas.
Agora, dois pesquisadores do Departamento de História Natural do Museu Britânico, com sede em Londres, encontraram uma resposta científica para o suicídio das baleias. De acordo com Katharine Parry e Michael Moore, as baleias são desorientadas de suas rotas em alto-mar para as águas rasas do litoral por ação de um minúsculo verme de apenas 2,5 centímetros de comprimento.
2. Construa uma nova versão do texto abaixo, utilizando, em relação à palavra Vera, os mecanismos de coesão que julgar adequados.
Desde cedo o rádio noticiava: um objeto voador não identificado estava provocando pânico entre os moradores de Valéria. A primeira reação de Vera foi sair da cama e correr para o porto. Fazia seis meses que Vera andava trabalhando em Parintins. Vera levantava cedo todos os dias e passava a manhã inteira conversando com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Vera estava em Parintins, tentando convencer os trabalhadores a mudar a técnica do plantio da várzea.
3. Faça o mesmo exercício em relação à palavra China no texto abaixo. 
A China é mesmo um país fascinante, onde tudo é dimensionado em termos gigantescos. A China é uma civilização milenar. A China abriga, na terceira maior extensãoterritorial planetária (com 9960 547 km2), cerca de 1 bilhão e 100 mil habitantes, ou seja, um quarto de toda a humanidade. Mencionar tudo o que a China, um tanto misteriosa, tem de grande ocuparia um espaço também exagerado.
O que é Metáfora e Metonímia:
Metáfora e metonímia são duas figuras de linguagem, mais concretamente, constituem figuras de palavras.
A metáfora é uma figura de linguagem que indica duas características semânticas comuns entre dois conceitos ou ideias. A metáfora é importantíssima na comunicação humana. Seriamente praticamente impossível falar e pensar sem recorrer à metáfora. Uma pesquisa recente demonstra que durante uma conversa o ser humano usa em média 4 metáforas por minuto. Ex: A lua é uma bola de queijo. Neste caso, a lua é caracterizada como uma bola de queijo porque tem crateras, assim como alguns queijos. Os buracos são então o traço semântico comum entre os dois.
Linguisticamente, a metáfora é verificada entre dois significantes, existindo uma substituição, onde na cadeia significante um assumo o lugar do outro.
No texto publicitário:
Metáfora é uma figura de linguagem que consiste na alteração de sentido de uma palavra ou imagem quando entre o sentindo que o termo ou imagem tem e o que ele adquire existe uma intersecção, pontos comuns. Em outras palavras, ocorre uma comparação implícita entre a significação própria da palavra ou imagem e o seu sentido figurado.
						
	Observando a imagem maior do anúncio da Parmalat, vê-se uma moça negra e um rapaz loiro. E ao canto direito (embaixo) visualiza-se uma xícara branca com café e a embalagem do produto propagado Café Parmalat.
	A imagem da moça negra metaforiza ou significa café. Houve essa alteração de sentido para a imagem da moça, porque existe uma intersecção, um traço comum, que é a cor escura do café e da moça.
	Com a imagem do moço ocorre o mesmo mecanismo, a comparação implícita, pois adquire o sentido do leite. Há também uma intersecção de sentido, isto é, ambos apresentam um traço comum: a cor branca.
	A xícara branca com café novamente utiliza o recurso da metáfora, pois a xícara branca simboliza o leite Parmalat. Assim, nessa imagem da xícara estão os dois produtos da publicidade: o novo café e o leite.
	Essa alteração de sentido denomina-se Metáfora.
A metonímia, também uma figura de palavra, está relacionada com uma relação de continguidade/proximidade entre duas ideias ou conceitos. Ex: Ele bebeu o copo inteiro. Neste caso, a pessoa não bebe o copo, e sim o que estava dentro do copo.
Em nível linguístico, a metonímia tem uma função significante, em que a parte é tomada pelo todo. Outro exemplo disto é uma vela que representa navio. A conexão entre navio e vela acontece no significante, a cada palavra é construída a ligação onde se sustenta a metonímia.
Metonímia no texto publicitário:
REFERÊNCIAS
CIPRO NETO, Pasquale. Gramática da língua portuguesa. São Paulo: Scipione, 1998. 
FIORIN, José Luiz e PLATÃO, Francisco. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2003 (Lição 2)
GONZALES, Lucilene. Linguagem publicitária: análise e produção. São Paulo: Arte & Ciência, 2003.
KLEIMAN, Ângela. Leitura e interdisciplinaridade. Tecendo redes nos projetos das escolas. Campinas: Mercado de Letras, 1999. (Capítulo 3) 
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