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Melhor é impossível: Análise do Filme Tácito Pereira dos Santos FILME MELHOR É IMPOSSÍVEL O filme Melhor é impossível foi filmado no ano de 1997 nos EUA com duração de 139 minutos tem no seu elenco principal Jack Nicholson, Greg Kinnear, Cuba Gooding Jr., Shirley Knight e Helen Hunt, e na direção de James L. Brooks. Em 1998 Elen Hunt ganhou o Oscar de melhor atriz e Jack Nicholson o de melhor ator por suas atuações no filme Melhor é impossível, além do prêmio Globo de Ouro no mesmo ano. A história se passa na cidade na cidade Nova York (EUA), a trama central conta a história de um famoso escritor Melvin (Jack Nicholson), que tem como vizinho Simon (Greg Kinnear) que faz o papel de um pintor homossexual e de Carol (Helen Hunt) garçonete que possui um filme com problemas de asma. O filme tem início com Melvin saindo de seu apartamento e encontrando sua vizinha, que o xinga. Ele, já no corredor, pega o cachorro de Simon e joga-o na lixeira do prédio. A partir daí ele inicia uma conversa tumultuada com Simon e seu empresário Frank (Cuba Gooding Jr). De forma preconceituosa se dirige a Simon e Frank, com agressões verbais e demonstrando um comportamento totalmente repulsivo. É nesse momento que se percebe uma característica do comportamento de Melvin dita pelo vizinho “O senhor não adora nada...” Em seguida ele entra em seu apartamento e notamos uma parte de sua vida: um comportamento obsessivo e compulsivo – fecha e abre a fechadura da porta, acende e apaga a luz, joga luvas no lixo, lava as mãos com um e depois com outro sabonete joga-os no lixo, além de levar uma vida totalmente isolada de outras pessoas. Ao longo do filme iremos perceber seu comportamento obsessivo e compulsivo no andar pela calçada do bairro em direção ao restaurante, ao querer sentar- se na mesma cadeira e mesa do mesmo restaurante, pedir o mesmo prato e comê-lo com talheres de plástico que traz consigo. Esse comportamento se manifesta também em querer ser atendido pela mesma garçonete, Carol, do restaurante, não aceitando pessoa 1 diferente. Que manifesta também por ela, principalmente por seu filho doente, uma atitude de desprezo diante da morte. É após Simon sofrer um assalto e ser violentamente espancado e Carol pedir demissão do restaurante para trabalhar mais perto de casa e cuidar de seu filho, que Melvin irá manifestar o seu lado mais egoísta e que entra em conflito com um lado solidário. Egoísta em querer que Carol volte para seu emprego para atendê-lo, visto que o mesmo repudia o atendimento feito pela garçonete substituta, chegando a ser expulso do restaurante. Ele chega ao ponto de pagar todo o tratamento médico de seu filho para que a mesma retorne ao antigo trabalho. Ao cuidar do cachorro de Simon, que se encontra hospitalizado, Melvin começa a despertar um outro sentimento nele o de ser solidário. A atitude de ficar com cachorro que era para ser de uma noite somente irá ser de semanas, e quando Simon retorna ao apartamento, este não quer deixar o cachorro voltar para seu dono. Simon totalmente falido, do ponto de vista financeiro, recebe de Melvin um sentimento de solidariedade com visita, passear com cachorro até levar comida. Porém, esse movimento é feito com muita dificuldade por Melvin, se percebe um esforço, mas uma grande dificuldade de ser natural nesses momentos. Totalmente falido Simon precisa da ajuda de seus pais, para isso terá que viajar até a cidade em que moram. Carol totalmente agradecida pelo tratamento e cura de seu filho escreve uma longa carta de agradecimento a Melvin, este recursa o agradecimento. Frank , o empresário, solicita a Melvin que faça a viagem com Simon em seu carro como forma de pagar as agressões feitas pelo mesmo, fato que ele não pode se negar, visto ter sido confrontado pelo empresário com a ida do cachorro ao veterinário, às visitas ao Simon, sobre saber dirigir. Quando a Carol, Melvin solicita um favor dela em acompanha-los nessa viagem. A fala de Melvin é sempre carregada de preconceito, ironias que são características de sua doença. É durante a viagem que Melvin se confronta com um sentimento a respeito de Carol, porém tem dificuldade de manifestar e assumir o mesmo. Chegando a agredir verbalmente no restaurante – eu aqui de paletó e gravata e você de vestido de casa, o que a faz abandonar ele e ir para hotel. É nesse momento que ele percebe que sente algo mais por ela, é confrontado novamente, agora por ele mesmo, com o 2 comportamento de idiota. Ao retornar para o hotel e ficar perto de Simon, este acaba por recuperar sua capacidade para a pintura, o que coloca para o trio o retorno a Nova York. Simon desalojado de seu apartamento, acaba abrigado por seu vizinho Melvin, que acabam por construir uma amizade e Melvin acaba por confessar seu sentimento por Carol, após receber uma ligação da mesma. Simon o incentiva a ir a luta. O que faz. Mesmo de madrugada, quatro horas da manhã, parte na porta de Carol e depois de alguns pequenos “conflitos verbais”, acaba por confessa seu sentimento e iniciam uma relação. Com todo o esforço de Melvin para declarar seu sentimento e manifestar ele por Carol, encerra dizendo “Eu sei que posso fazer melhor que isso”. BREVE ANÁLISE DO FILME Sob a perspectiva da psicologia, ou melhor ainda, da psicopatologia o Filme “Melhor é impossível” conta a história de um escritor – Melvin, que tem uma conduta logo no início que faz o telespectador não gostar dele. Possui uma patologia com um quadro grave que o deixa com algumas características que podem ser percebidas no filme: sarcástico e irônico no relacionamento com as pessoas, visto ser um homem extremamente culto, odeia todo mundo é tanto que tem atitudes preconceituosas contra negro e gay, vive recluso em seu apartamento onde ninguém além dele entrava, briga com seus vizinhos, usa palavras de maneira cruel com algumas pessoas. Melvin assume ser portador de transtorno obsessivo compulsivo com comportamentos característicos de abrir e fecha a tranca da porta três vezes, acende e apagar a luz três vezes, lava as mãos com um sabonete e em seguida jogá-lo fora e em seguida com outro sabonete e jogar fora também. Acreditar que os talheres do restaurante estão contaminados e sujos (obsessão) e levar consigo talheres de plástico, (compulsão), achar que todo mundo é sujo (obsessão) e se desviar das pessoas na rua ou não permitir que elas o toquem (compulsão). Não pisar nas margens de azulejos, lajotas... Transtorno Obsessivo Compulsivo 3 O transtorno obsessivo compulsivo é caracterizado com uma síndrome neurótica, cuja característica é ter uma obsessão (pensamento fixo) e uma compulsão (comportamento). Enquanto síndrome neurótica há duas características importantes destacadas por Dalgalarrondo que clarificam uma melhor compreensão do transtorno obsessivo compulsivo “a neurose também pode ser vista com uma forma particular de relação do indivíduo com os outros, com a corporeidade própria e a dos outros, com os objetos (...) do mundo, fonte de uso e de gozo” (apud BERG, 1970, p.237) e de que “as neuroses são transtornos caracterizados por conflitos intrapsíquicos que inibem a perturbam as condutas...sobressaem-se as manifestações de uma angústia permanente e de mecanismos de defesa que...fracassam na resolução de conflitos” (apud EY, 1974). Esse entendimento da forma de relação do indivíduo com os outros, com o mundo, de conflitos internos que atrapalham a conduta do portado da síndrome e que levam a uma angústia e a mecanismos de defesa nos ajudam a entender melhor o comportamento de um portador de transtornoobsessivo compulsivo. Para Dalgalarrondo (2008, P. 321) um quadro obsessivo compulsivo “caracterizam-se por ideias, fantasias e imagem e por atos, rituais ou comportamentos compulsivos”, nessa compreensão a pessoa acometida por essa síndrome tem uma ideia obsessiva (talher contaminado) e em seguida manifesta a ideia em um comportamento (levar consigo talheres de plástico). Rosário-Campos e Mercadante (2000) discutindo sobre o transtorno obsessivo-compulsivo ressalta a ligação entre obsessão e ideia e compulsão com comportamentos, para estes dois autores o TOC é caracterizado pela presença de obsessões e/ou compulsões e conceituam esses dois termos: “Obsessões podem ser definidas como eventos mentais, tais como pensamentos, ideias, impulsos e imagens, vivenciados como intrusivos e incômodos... podem ser criadas a partir de qualquer substrato da mente, tais como palavras, medos, preocupações, memórias, imagens, músicas ou cenas. Compulsões são definidas como comportamentos ou atos mentais repetitivos, realizados para diminuir o incômodo ou a ansiedade causados pelas obsessões ou para evitar que uma situação temida venha a ocorrer”. Melvin portado de TOC 4 O comportamento do personagem Melvin Udall, brilhantemente interpretado por Jack Nicholson, é um portador de transtorno obsessivo-compulsivo, ele mesmo reconhece a doença, frequenta psiquiatra, toma remédio, frequenta grupo de apoio. Os diversos comportamentos manifestados no decorrer do filme (do início ao final) são típicos de portadores do TOC, relatados em parágrafos anteriores. Porém do ponto de vista de diagnóstico e com as colaborações de Dalgalarrondo, Rosário-Campo e Mercandante podem ser destacadas o comportamento de ritual (frequenta o mesmo restaurante, sentar-se a mesma mesa, organizar a mala para uma viagem), evitação social (viver recluso em seu apartamento), querer controlar o tempo (o horário do início da viagem de carro), achar que o mundo girar em torno de si (depois de um ano volta ao psiquiatra sem horário marcado e questionar por que tudo mudou sem ele saber), ironias, sarcasmos (diversas palavras e comportamentos em relação aos outros, principalmente por ser um homem culto – escritor). Uma outra característica de Melvin com TOC é querer ter o controle sobre tudo, sobre qualquer situação, inclusive sobre seus sentimentos. Ele ao arrumar a mala para a viagem, coloca suas roupas e utensílios sobre a cama e com um caderno de anotações confere cada item para arrumar, organizadamente, na mala, a qual ele não pode perder o controle. Ele procura até certa altura da narrativa não entrar em contato com seus sentimentos e emoções, principalmente em relação a apaixonar-se, pois para o portador é um risco de não ser aceito, é não querer um sofrimento de algo novo na vida – quando Melvin reconhece seu sentimento por Carol e o declara para Simon em uma frase que havia sido despejado dele mesmo por Carol, ele começa a se deslocar daquilo que somente seu – sentimento, paixão, amor. CONSIDERAÇÕES FINAIS O filme “Melhor é impossível” nos faz refletir sobre as pessoas que são portadoras de transtornos obsessivos-compulsivos. É lógico que a versão do Diretor James L. Brooks procura dar uma visão de humor para o transtorno ao longo do filme, o que de certa forma ajudar retirar um rótulo de que o portador de TOC não pode ter uma vida normal e sociável, e inclusive amar. 5 É importante destacar que nem todo portador de transtorno obsessivo- compulsivo é agressivo, vive sempre mal-humorado e é agressivo, porém há casos que essas características, retratado no filme. Ao longo do filme percebemos uma mudança no comportamento de Melvin, este reconhece a doença, que é um passo importante para buscar uma melhora, reconhece seus exageros, e até certo ponto suas canalhices e o quanto é idiota. Ele toma remédio, frequenta psiquiatra e grupo de apoio. O confronto consigo mesmo, com a ajuda de Carol, Simon e Frank o ajudam a perceber, com muita dificuldade e resistência o quão a sua doença influencia em sua vida e nas relações com o mundo externo. Aos pouco essa confrontação o faz ter pequenas atitudes que são sinais de melhora: cuidar do cão de Simon, que inclusive ele tinha jogado pela lixeira do prédio; visitar Simon e levar comida em seu apartamento, fazer a viagem e dirigir com Simon e Carol para outra cidade e a principalmente se apaixonar por Carol. É importante destacar que para Melvin não é fácil fazer essa mudança, não é fácil de sair da segurança de seu mundo, o faz com muito esforço, mas sempre sem perder as principais características de seu comportamento ou de sua doença. No portador de TOC essas mudanças requerem a terapia e em alguns casos a combinação com fármacos, porém a mudança e a melhora são possíveis. Além das características citadas como mudança de Melvin, a ampliação de sua vida social é uma forte característica que ajuda na melhora dos sintomas. Ele se encontra recluso em seu apartamento logo no início do filme (é tudo o que um escritor precisa), porém já no final hospeda Simon por quem tinha uma total repulsa – vizinho, gay. Ele abre seu universo pessoal para outra pessoa, manifestando até certo ponto uma solidariedade, a qual é correspondido com o amor de Simon. O filme nos traz diversas mensagens – da doença, da melhora, da condição humana, das relações, da solidariedade, mas uma que chama muito atenção é que nós seres humanos somos seres únicos, seres singulares, somos aquilo que fazemos, somos especiais, somos capazes de mudar e de amar, mesmo com nossas manias e somos capazes de influenciar na vida das pessoas, principalmente daquelas que amamos, é como Melvin se declara para Carol: “Você me faz querer ser um homem melhor”. 6 REFERÊNCIAS DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentias. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2008. OMELETE – UOL - http://omelete.uol.com.br/filmes/melhor-e-impossivel/elenco/ , consultado em 10/10/2015. ROSÁRIO-CAMPO, Maria Conceição e MERCADANTE, Marcos T. Transtorno obsessivo-compulsivo. Rev Bras Psiquiatr 2000;22(Supl II):16-9. http://www.scielo.br/pdf/rbp/v22s2/3790.pdf consultado em 11/10/2015.
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