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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA COORDENAÇÃO DE HISTÓRIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA ELISSANDRA SOUZA TERRITÓRIO FEDERAL DO RIO BRANCO: ESTUDO DE CASO DA CRIAÇÃO DA COLÔNIA AGRÍCOLA FERNANDO COSTA Boa Vista / RR 2014 ELISSANDRA SOUZA TERRITÓRIO FEDERAL DO RIO BRANCO: ESTUDO DE CASO DA CRIAÇÃO DA COLÔNIA AGRÍCOLA FERNANDO COSTA Monografia apresentada à Universidade Federal de Roraima - UFRR, como pré- requisito para obtenção do título de Bacharel e Licenciado em História. Orientadora: Profª. Drª. Gersa Maria Neves Mourão Boa Vista /RR 2014 ELISSANDRA SOUZA TERRITÓRIO FEDERAL DO RIO BRANCO: ESTUDO DE CASO DA CRIAÇÃO DA COLÔNIA AGRÍCOLA FERNANDO COSTA Monografia avaliada e aprovada pela comissão examinadora e referendado pela Universidade Federal de Roraima, como requisito final para obtenção do grau de Bacharel e Licenciado em História. Boa vista-RR, 12/12/2014. NOTA:___________________ Membros da Comissão: __________________________________ Profª. Dra. Gersa Maria Neves Mourão Orientadora/ Curso de Geografia - UFRR _________________________________ Prof. Me. Márcia d’ Acampora Membro - UFRR _________________________________ Prof. Me. Orlando de Lira Carneiro Membro – UFRR AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar a Deus pela força, coragem, sabedoria e muita paciência que Ele me proporcionou, pois em tantas dificuldades e imprevistos, sempre vinha uma força maior que nunca me deixou desistir. À minha família, em especial minha mãe Maria Jose de Souza pelas orações, todos os dias quando chegava da aula, estava no portão me esperando com todo seu amor. Meu pai Francisco Edson de Oliveira Sousa, mesmo morando em outro Estado, sempre sentia bem perto de mim, me apoiado sempre em tudo. Aos meus irmãos Edcleide Souza e Edson Souza por acreditarem e me incentivarem a nunca desistir dos meus sonhos. Aos sobrinhos que amo mais que tudo, Lohana Sousa Galvão e Caua Souza da Costa pelo amor, carinho, atenção por todos os abraços gostosos que inúmeras vezes tiravam o cansaço e as preocupações do dia a dia. Aos amigos, amiga e irmã de coração, Regiane Aguiar, que participou do inicio ao fim dessa etapa da minha vida emprestando seus ouvidos nas minhas angustias e por toda paciência e carinho ao longo dessa caminhada e ao Manoel Carlos por me mostrar que nos momentos mais receosos do curso existem coisas bem maiores a se considerar, e que o segredo para vencê-los está na coragem, determinação e muita paciência. A todos os colegas da turma de história 2008.1 noturno, onde passamos momentos inesquecíveis e em especial ao grupo da Luluzinha, guardo cada uma de vocês com muito carinho no coração. Agradeço a todos os professores do Departamento de História pelo conhecimento compartilhado. Um agradecimento especial à minha orientadora Gersa Mourão do Departamento de Geografia pela acolhida, colaboração e contribuição nesse trabalho. “A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos”. (Marcel Proust) RESUMO A presente pesquisa aborda a temática “Território Federal do Rio Branco: estudo de caso da criação da Colônia Agrícola Fernando Costa” e buscou analisar os fatores que contribuíram para a Política de Colonização na Amazônia/ Roraima, com ênfase na trajetória da política de criação e ocupação da colônia Fernando Costa. Esse estudo encontra-se alinhado a uma análise bibliográfica, onde buscamos artigos, dissertações e teses de autores que discutiram esta temática. Para tanto, o trabalho aborda o processo de colonização, a nível de Brasil até chegar na Amazônia e consequentemente em Roraima. E, por fim, analisa o processo de criação da Colônia Fernando Costa, evidenciando a sua trajetória política, a partir de uma análise dos autores Di Manso ( 2004) e Indira de Oliveira (2005). Palavras-chave: Colônia Fernando Costa, Colonização, Roraima. ABSTRACT This research addresses the theme "Federal Territory of Rio Branco: case studies of the creation of the Agricultural Colony Fernando Costa" and seeks to analyze the factors that contributed to the Settlement Policy in the Amazon / Roraima, with emphasis on the history of the creation of policy and occupation of the colony Fernando Costa. This study is aligned to a literature review, where we seek articles, dissertations and theses of authors who have discussed this subject. Thus, the paper addresses the colonization process, the level of Brazil to reach the Amazon and consequently in Roraima. Finally, analyzes the process of creation of the Colony Fernando Costa, highlighting his political career. Keywords: Cologne Fernando Costa, Colonization, Roraima. LISTA DE QUADRO QUADRO 1: ESTADO DE RORAIMA - PROJETOS DE ASSENTAMENTO DA BR- 174 e 210 (PERIMETRAL NORTE)............................................................................17 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: MUNICÍPIO DE MUCAJAÍ, ESTADO DE RORAIMA...............................26 LISTA DE SIGLAS INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12 1 BREVE CONTEXTO DA COLONIZAÇÃO BRASILEIRA ....................................... 16 2 COLONIZAÇÃO NA AMAZÔNIA ............................................................................ 20 2.1 A COLONIZAÇÃO EM RORAIMA .................................................................... 23 2.2 A COLÔNIA FERNANDO COSTA ................................................................... 26 3 A HISTORIOGRAFIA SOBRE A OCUPAÇÃO DO ESPAÇO RORAIMENSE ........ 29 3.1 COLONIZAÇÃO AGRÍCOLA NA VISÃO DE DI MANSO ................................ 30 3.2 COLONIZAÇÃO AGRÍCOLA NA VISÃO DE INDIRA DE OLIVEIRA ............. 34 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 39 12 INTRODUÇÃO A historiografia regional elaborada ao longo das últimas décadas tem contribuído significativamente para ressaltar a importância do incentivo à colonização tanto para o desenvolvimento econômico desta cidade (Boa Vista) como para as outras regiões do país. Nesse sentido, convém destacar trabalhos que tratam dessa problemática na historiografia local. Tendo como exemplo, o trabalho de Oliveira (2005) Estratégias Governamentais para a Colonização Agrícola e os TrabalhadoresRurais, abordando a questão de que ao longo da história do Brasil, o estímulo ao processo de migração tanto dirigida quanto espontânea, por parte da administração pública, foi fundamental para a colonização agrícola do Território Nacional. Tanto que essa agricultura passou a assumir um papel relevante no projeto desenvolvimentista do governo brasileiro, uma vez que passou a ser vista como tábua de salvação da economia nacional a ponto de gerar as condições propícias à inserção do país nas relações capitalistas de produção mundial. Outro trabalho que foi utilizado como base foi Di Manso (2004) Pérolas á Beira Rio: a história, a lenda e os casos de Mucajaí – RR na versão de seus moradores mais antigos, que traz questões vivenciadas por moradores do então município de Mucajaí, assim também como relata o processo de criação do mesmo, enfatizando todo o processo como por exemplo as três tentativas de efetivação, no qual somente na terceira é que houve êxito no processo de criação daquele município. As mudanças ocorridas no Brasil após a década de 30, mais precisamente após a Revolução tenentista, se abre para o capital industrial que vem substituir o modelo agrário vigente até então. Neste mesmo período, observa-se que há uma política voltada para a migração interna, como proveito dos espaços nacionais, uma vez que esta era a política adotada por Vargas. Vargas buscava trabalhar desenvolvimento do país de dentro para fora, era a então política desenvolvimentista de Vargas, nestes casos dando prioridade para a produção interna e principalmente para o fortalecimento da mão de obra nacional que passa a ser vista como política de substituição de importações. 13 Ainda durante o Estado Novo (1937-1945) iniciou-se uma política de colonização, com as “Colônias Agrícolas Nacionais”, com a distribuição gratuita de lotes de terras e incentivos para os colonos desenvolverem atividades de produção agrícola e transformarem as áreas de colonização em áreas produtivas. Tal política estava eminentemente ligada ao projeto desenvolvimentista que incentivava o crescimento do setor industrial e estimulava a diversificação da produção agrícola através do incremento do processo de ocupação das zonas de fronteira agrícola do país, por meio da chamada “Marcha para o Oeste”. Tal situação ficou nítida durante o governo de Getúlio Vargas que elaborou e executou diversos programas de desenvolvimento nacional para a Amazônia. Para Vargas a solução dos problemas dependia da exploração das riquezas regionais. Portanto a fim de sanar a falta de colonização na região, em 1943, cria os Territórios Federais, que tiveram como fatores determinantes além das questões de limites territoriais, a necessidade de povoar e extrair os recursos naturais dos mesmos. Segundo Silva (2011) a região amazônica se tornaria por meio da intervenção do Governo um poderoso centro de “engrandecimento” nacional, com o povoamento e a fixação do homem na terra, através dos projetos de colonização agrícolas. É diante deste contexto que este trabalho se insere, através do processo de colonização na Amazônia, mais precisamente em Roraima, a pesquisa tem como objetivo: analisar a politica de criação da colônia Agrícola Fernando Costa na visão de Indira Oliveira e Di Manso. Que traz como objetivos específicos: verificar quais os fatores contribuíram para a colonização no Território Federal do Rio Branco e identificar as dificuldades que os colonos encontravam ao chegar à região do Rio Branco, em especial na Colônia Agrícola Fernando Costa. A metodologia utilizada neste trabalho foi construída sob um viés bibliográfico com a utilização de artigos, monografias, dissertações e teses de autores que trabalharam sobre o processo de ocupação em Roraima, dentre os autores trabalhados estão: Becker (2004), Di Manso (2004), Magalhães (2008), 14 Mourão (2003), Nogueira (2011), Oliveira (2005), Santos (2011), Vainer (2000) e Vale (2005 e 2007). A pesquisa bibliográfica foi utilizada como procedimento técnico, devido tratar-se de um levantamento, seleção e documentação de bibliografias já publicadas a respeito deste assunto. O primeiro ponto de partida foi a pesquisa bibliográfica nas bibliotecas da Universidade Federal de Roraima /UFRR, na Universidade Estadual de Roraima- UERR e na Biblioteca Pública do Estado. Além de acervos particulares e internet. O segundo ponto deste estudo foi o levantamento nos arquivos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária/INCRA e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estática/IBGE, com o intuito de confrontar os dados, alguns aspectos dos trabalhos citados. A criação dos territórios federais, segundo a historiografia teve como fatores determinantes além das questões de limites territoriais, o advento da segunda Guerra Mundial e a necessidade de povoá-los. Porém, desde a criação dos territórios em 1943 até o início dos governos militares, ou seja, durante mais de vinte anos, os projetos de infraestrutura, criados com o objetivo de garantir o desenvolvimento da região, não foram aplicados de forma plena. A razão está, sobretudo com o fim da guerra, cuja preocupação voltou-se para as áreas de maior interesse econômico e político. Inicialmente três colônias agrícolas foram planejadas e implantadas. No presente trabalho, foi dado maior ênfase à Colônia Agrícola Fernando Costa, localizada à margem direita do Rio Mucajaí, a 54 km ao sul de Boa Vista (atual município de Mucajaí). Esta colônia foi a primeira a ser criada, em 1944 e desenvolveu uma agricultura com características de subsistência, mas buscando a comercialização do excedente. (SILVEIRA & GATTI, 1988). As famílias que chegaram à região, um total de 150 famílias, são riograndenses, cearenses e na grande maioria maranhenses. Após a instalação dessas referidas colônias, o processo ficou paralisado no Território para a abertura de novas colônias (FREITAS, 2009). Essa situação só vai 15 se transformar a partir da construção das BRs 174 e 210, na década de 70, quando inicia a segunda fase de colonização no Território Federal do Rio Branco em 1964, e este ano é marco final da nossa proposta de estudo, período este que deu início a várias mudanças, como o processo de ocupação e desenvolvimento econômico impulsionados com a abertura das referidas BRs. O trabalho divide-se em três capítulos. O primeiro traz um breve contexto da colonização brasileira. O segundo faz uma abordagem sobre o processo de colonização na Amazônia/Roraima e o terceiro discute a visão de duas autoras Di Manso e Oliveira, sobre o processo de colonização da Colônia Fernando Costa. 16 1 BREVE CONTEXTO DA COLONIZAÇÃO BRASILEIRA É sabido que o homem desde os seus primórdios saiu em busca de explorar novos horizontes, afinal foi desta forma que aconteceu o povoamento da terra. Apesar de todos os avanços e descobertas já realizadas nos dias atuais o homem busca cada vez mais encontrar novas terras, assim também como explorar o desconhecido. Ver-se-á de acordo com Dezan (2007) que: A história da humanidade registra, desde o seu aparecimento na face da Terra até hoje, repetidos movimentos de migração e de fixação de populações em várias regiões do globo. Os seres humanos sempre se movimentaram, por instinto, com o desejo de conhecer e explorar o desconhecido ou impulsionados por problemas políticos, econômicos, sociais, religiosos, guerras, ou através da combinação de dois ou mais desses fatores. Nodecorrer dos séculos aconteceram muitos movimentos migratórios de proporções diferentes, sendo alguns de grandes dimensões, os quais influíram significativamente na evolução histórica do gênero humano.” (DEZAN, 2007, p. 18) E ao tratarmos da saída do homem em busca de novas oportunidades, não podemos deixar de falar dos processos de colonização ocorridas no Brasil. Está intrinsicamente arraigada na história brasileira, pois ao buscarmos dados sobre a história do Brasil, vemos que passamos e ainda vivenciamos grandes projetos de colonização como forma de desenvolvimento do país. O processo de colonização ocorreu de forma recente, mas especificamente no governo de Vargas, se efetivando posteriormente no período do Golpe Militar. De acordo com Patarra (2003) o movimento migratório teve início com a República, sendo que a mão de obra empregada na produção de café era composta principalmente por imigrantes internacionais, assim também como por migrantes brasileiros vindo de vários lugares do país, onde o ciclo produtor havia finalizado. No que se refere a outro momento importante para a migração, veremos que: O segundo período (1930 – 1950) é marcado pela formação do mercado produtor e consumidor interno na década de criação do Estado Novo. A industrialização, ainda que restringida, reforçou a desigualdade regional iniciada no ciclo do café. Guanabara, os estados do Rio de Janeiro e São Paulo eram colocados como fortes regiões de atração de migrantes oriundos de Minas Gerais, Paraná e da região Nordeste. (AYDA, s.d., p.2) 17 Portanto, com a implantação do Estado Novo (1937) o governo passou a desenvolver ações que visassem à mobilização interna da população, uma vez que neste período o Brasil estava entrando na Segunda Guerra, então estava ocorrendo a mobilização dos trabalhadores, principalmente do Nordeste, devido a seca que estava ocorrendo (1941) para virem trabalhar nos seringais da Amazônia, este período ficou conhecido como Batalha da Borracha. (CYTRYNOWICZ, 2000) Outro movimento migratório que ficou bastante conhecido foi a Marcha para o Oeste em 1940, que possuía um cunho político ideológico presente no Estado Novo, pois tinha como finalidade a ocupação e exploração do território nacional. (VAINER, 2000) O terceiro período (1951-1980) se deu com a instalação da planta industrial pesada e a aceleração do crescimento econômico nacional. O Brasil passou a se inserir com maior centralizada na produção de bens de exportação no cenário internacional com base nas indústrias paulista e carioca. Esta concentração industrial acirrou o processo de concentração regional do desenvolvimento econômico. Juntamente com o crescimento vegetativo nacional elevado, o desenvolvimento econômico territorialmente concentrado nos dois estados levou ao aumento expressivo da migração interna com destino à região Sudeste em números relativos e absolutos. (AYDOS, s.d., p. 2) Depois do golpe militar uma das primeiras ações dos militares em relação a Amazônia, ocorreu em 1966, denominada “Operação Amazônia”, sendo que esta representou a criação de leis e instituições que vieram a fortalecer a ação do Estado, principalmente no que se refere a defesa da área fronteiriça. (OLIVEIRA, 2014). Mas também serviram para incentivar o povoamento, criando infraestruturas. Além das ações implantadas pelos militares, existem também as que surgiram através das políticas de colonização, dentre elas os projetos de assentamentos rurais implementados pelo INCRA. Dentre esses projetos de assentamentos rurais no Estado de Roraima, vale destacar os que foram sendo criados ao longo da BR-174 e BR-210 (Perimetral norte) conforme quadro 1. 18 QUADRO 1: ESTADO DE RORAIMA - PROJETOS DE ASSENTAMENTO DA BR-174 e 210 (PERIMETRAL NORTE). PROJETO E LOCALIZAÇÃO ANO DE CRIAÇAO Projeto Jatapu – criado em 26 de setembro de 1975. Área de 160.000 há localizado à margem da BR – 210 (Perimetral Norte) a 250 km de Caracaraí e 400 km de Boa Vista destinado ao assentamento de 3.000 família de agricultores. 1975 Projeto Anauá – criado pela Resolução de nº 141, de 07 de outubro de 1975, localizado no município de Caracaraí e foi alterado pela Resolução de nº 95, de 11 de junho de 1979, definiu-se que a área do projeto Anauá é de 221.832,2046 há e sua capacidade de assentamento é de 3.460 unidades agrícolas familiares. 1975-1979 Projeto Novo Paraíso – Possui Área De 85.9670 Há, Perímetro 14.517,67. Localização Gleba Barauana, municípios de Cantá e Caracaraí/ RR. Com área aproximada de 1.289, 310 há. Criado em 1995, no dia 19 de outubro com área de 4.252 há para assentamento de 70 famílias. Foi retificado em setembro de 1999, aumentando a área para 24.355 há, com 200 unidades agrícolas familiares. 1995 Projeto Jauaperi BR-210, Seguindo Pela Margem Direita No Sentido Manaus/ Boa Vista Sobre O Rio Branco. Foi Criado Pela Resolução nº 130, de 31 de maio de 1982, com área de 15.781, 0 há, para atender a 263 famílias. No exercício de 2001, o projeto foi marcado, ficando definida a área de 16.436,1541 há, conforme planta e memorial descritivo / (folhas 20 a 27) 1997 FONTE: SANTOS, 2010, p. 72. Estes projetos de assentamentos foram à saída para colocar em marcha a colonização desta região, pois como afirma Barros (1995), a maioria destes migrantes, 19 [...] recebiam lotes urbanos de 30 a 50 metros, em ruas perpendiculares entre si (reticulado) tendo a rodovia como eixo orientador. Este foi o arranjo para o surgimento de todas as aglomerações no sudeste do Estado, antes e depois da ação do Incra. (BARROS, 1995, p. 213) Estes assentamentos, além de proporcionar uma organização agrícola para os colonos, também se deu como forma de regularizar a situação fundiária daqueles colonos que já ocupavam a região antes de sua criação. Os projetos de assentamentos rurais são entendidos como sendo: [...] a criação de novas unidades de produção agrícola, por meios de políticas governamentais visando o reordenamento do uso da terra, com benefício de trabalhadores sem terra ou com pouca terra. O que transmite a ideia de que tais unidades para se tornarem produtivas necessitem ser acompanhadas de outras medidas de apoio, como forma de viabilizar esta produção e a permanência do trabalhador na terra. (BERGAMASCO; NORDER, 1996, p. 07) Na Amazônia/Roraima, estes projetos de assentamentos eram administrados pelo INCRA, como forma de povoar a região. No que se refere ao conceito de Colônia, podemos dizer que “é considerada como um projeto responsável pelo progresso econômico para a região, devido à colonização, povoamento e o incentivo a produção agrícola”. (NAGLIS, 2007, p. 36) 20 2 COLONIZAÇÃO NA AMAZÔNIA Ao buscarmos historicamente o que vem a ser a colonização percebemos que esta é a forma que o poder público encontrou para ocupar os espaços considerados vazios, para que pudesse assentar famílias para a formação de centros agrícolas, onde estes possam desenvolver a agricultura e posteriormente vender seus excedentes como forma de sustento da sua família. O Território Federal do Rio Branco foi criado através do decreto de Lei nº 5.812/ 43, no governo de Getúlio Vargas, sendo que em 1962 teve seu nome alterado para Território Federal de Roraima. Foi criada uma estrutura administrativa para gerir a implantação da mais nova unidade da federação. O Território teve a pessoa do capitão Ene Garcez dos Reis o seuprimeiro governador, que nesta época criou alguns órgãos administrativos a exemplo do Departamento de Serviços Públicos, 06 Divisões (Saúde, Educação, Assistência e Proteção a Infância e Juventude, Produção, Obras e Serviços Industriais, Segurança), o Parque Nacional da Ilha de Maracá. (SILVA, 2011, p. 27) Com essa estrutura administrativa no Território Federal de Roraima, houve o incentivo no processo de ocupação atraindo mão de obra e cargos administrativos. Outro fator determinante no processo de ocupação da Amazônia, particularmente em Roraima, foi a busca por terras, conforme Souza (2006): Nos tempos mais recentes, o motivo para a ocupação da região foi a busca por terras. A tônica foram os projetos de grande envergadura, sejam aqueles norteados pelo grande capital, na área extrativa, agrícola ou industrial, sejam os capitaneados pelo Estado, de infra-estrutura e de assentamento e colonização de pequenos e médios proprietários. A abertura da fronteira engendrou novos pólos de atração que se moveram de acordo com as frentes abertas, o capital envolvido e os recursos disponibilizados. Neste período as migrações se intensificaram, confirmando situações tradicionais – como a entrada de nordestinos – e configurando novas situações, como os deslocamentos de paranaenses e gaúchos, por exemplo. (SOUZA, 2006, p. 30-31) Nesse contexto, as frentes pioneiras foram de grande importância para o povoamento do então Território Federal de Roraima, hoje estado de Roraima. Ainda no que tange o povoamento do estado de Roraima, podemos dizer de acordo com Silva (2011), que a Amazônia foi objeto de preocupação por parte do governo 21 federal principalmente ao longo da década de 1970 durante os governos militares. Nesse período, foram criadas políticas públicas que visavam à ocupação e o desenvolvimento das faixas de terras mais longínquas, principalmente as de fronteiras. A ideia governista de povoamento da Amazônia fez com que inúmeros migrantes deixassem seus estados de origem e viessem em busca de novos desafios, novas oportunidades de vida, onde a busca pela terra em nome da sobrevivência falou mais alto do que o medo do desconhecido. Santos (2004) afirma que desde o século XVIII o Estado marca sua forte presença na Amazônia. No entanto, foi somente após 1964 que o poder público, através da imposição de um projeto de modernização inseriu a Amazônia nas bases produtivas nacionais. Esta profunda e abrangente intervenção atingiu o cotidiano das populações amazônicas, transformando o espaço e modificando o universo das relações econômicas, sociais e políticas. Vargas ao criar os territórios tinha como objetivo defender essas imensidões de áreas não povoadas contra a invasão de inimigos estrangeiros, incentivando a migração, em especial de nordestinos, mas desejava também o desenvolvimento sócio-econômico dessas terras, aproveitando os recursos existentes nas mesmas. Patarra e Cunha (1987 apud CONCEIÇÃO, 2011), ressaltam que à medida que avançamos na história, encontramo-nos com novos tipos de movimentos que decorrem de modificações estruturais e até mesmo conjunturais no espaço, possibilitando ao indivíduo que migra a inserção em uma realidade na qual ele se torna sujeito no processo de modificações que venha a ocorrer. Os movimentos migratórios para Roraima ora se deram em função da exploração mineral, década de 30, posteriormente década de 80; ora em busca de terras, incentivados pela política de colonização. Este processo foi uma forma que o governo encontrou para povoar o Estado. Assim, o fluxo migratório para Roraima se deu em várias partes do estado, mas com uma concentração maior na capital Boa Vista. De acordo com Barbosa (1993, p. 139) 22 Os primeiros dados oficiais confirmando a política de ocupação do Território são relatados através dos recenseamentos de 1950, que conta com 18.116 habitantes, e 1960, com 28.302 habitantes. A população apresentou taxas médias de crescimento anual de 5,49% e 4,65% para os decênios de 1940/50 e 1950/60 respectivamente. Na verdade, os migrantes sempre fizeram parte do processo de ocupação do estado de Roraima. No entanto, houve um período de maior intensificação migratória em Roraima, conforme cita Silva (2011, p. 38), No caso de Roraima, a intensificação da migração acabou sendo influenciada pela integração física de Roraima ao Amazonas, que ocorre na segunda metade da década de 1970, quando o Estado sai do isolamento terrestre, com a construção da estrada BR 174. Até essa década, Roraima dependia do rio Branco para transporte, e o rio não era navegável durante todo ano. A partir da construção da estrada houve uma intensificação do processo de migração para essa região. (SILVA, 2011, p. 38) Neste sentido, a BR-174 é um propulsor no processo migratório em Roraima, pois a partir de sua abertura intensificou o processo migratório no Estado, assim também como os projetos de assentamento que tem grande participação nesse processo. Sendo assim, percebemos que a BR-174 muito contribuiu no processo de ocupação recente no estado de Roraima (como, também, as BRs 210 e 401), atraindo assim levas de migrantes estimulados pelos projetos de assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), influenciando decisivamente na dinâmica econômica e na configuração territorial de Roraima. Acrescenta ainda o autor que, no contexto de sua construção, a BR-174 - construída a partir de intensos conflitos e gerando um desflorestamento - alterou as dinâmicas espaciais e imprimiu uma nova lógica na organização espacial. (OLIVEIRA, 2007, p. 9- 14). O fato é que a BR-174 é uma das “contribuintes” desse processo de implantação dos assentamentos rurais em Roraima, pois conforme verificamos foi a partir de sua criação que houve um intenso movimento migratório para a região em que estava ocorrendo sua abertura, apesar de que o processo de abertura da BR- 23 174 não ocorreu de forma pacífica, houveram muitos conflitos, dentre eles os conflitos com indígenas Waimir-Atroari. Outro fator considerado importante para, a questão da instalação dos migrantes em Roraima foram os projetos de assentamentos rurais, que foi um dos grandes atrativos para as pessoas que estavam buscando novas oportunidades. Essa política de colonização (os assentamentos rurais) é implementada de fato ao final da década de 60 e foi decisiva na ocupação do território e na consolidação das colônias agrícolas. 2.1 A COLONIZAÇÃO EM RORAIMA Uma das formas de se povoar Roraima foi através dos projetos de assentamento rurais. Segundo Silva (2011) a região amazônica se tornaria por meio da intervenção do Governo um poderoso centro de “engrandecimento” nacional, com o povoamento e a fixação do homem na terra, através dos projetos de colonização agrícolas. De acordo com Oliveira (2005) a primeira tentativa de colonização na Amazônia ocorreu em 1789 através da migração dirigida com base na colonização agrícola, sendo esta uma forma que o poder público brasileiro achava para fazer o adensamento populacional do país. Muitas tentativas foram feitas como forma de estimular a vinda dos colonos para a região Amazônica, conforme o que diz Oliveira (1983, p. 226) Tentativas então foram feitas pelo governo, através de uma migração dirigida, no sentido de estimular e orientar a vinda para o Amazonas tanto de brasileiros quanto de estrangeiros para a colonização agrícola. Criou-se um fundo especial para incentivar essa forma de colonização. Um dos objetivos dessa ocupação era justamentea proteção às fronteiras dada através da ocupação humana, e para que isto ocorresse havia o incentivo por parte do governo Federal, inclusive através de incentivos fiscais. O que se percebeu 24 foi que este método não funcionou, neste período, pois no início do século XIX, o ciclo da borracha se sobrepôs a questão agrícola, recebendo inúmeros migrantes para trabalhar nos seringais. (OLIVEIRA, 2005). O que se difere dos acontecimentos do século XX, principalmente em seu início, conforme veremos. Mas no início do século XX, devido à concorrência asiática, a produção do látex brasileiro entrou em decadência, o que fez com que o governo, criasse através da Lei nº 2542-A/1912 o Plano de Valorização da Amazônia. Neste caso, para que houvesse a efetivação deste plano foram criados órgãos que desempenharam funções específicas, o que também não deu muito certo porque não possuíam recursos financeiros e mão de obra suficiente. Ainda no século XX começam as frentes pioneiras agropecuárias, e as que ocorrem em busca de minério, essas frentes pioneiras tiveram início no Nordeste brasileiro, rumo a Amazônia, e se intensificaram nos anos 50 e 60. (OLIVEIRA, 2005). No estado de Roraima os assentamentos agrícolas foram uma segunda estratégia para o povoamento e desenvolvimento econômico, adotada pelo governo, pois antes da implantação dos assentamentos agrícolas, a economia era pautada na pecuária. Mas devido a inúmeros fatores no Nordeste, como a seca que assolou aquela região no final do século XIX, e posteriormente o “boom” da borracha na região Norte, a migração espontânea ocorreu devido à forma insalubre que se dava o trabalho nos seringais. (OLIVEIRA, 2005) Segundo Becker (1990,p.33) “o intenso processo de ocupação pelo qual passou a Amazônia” contribuiu para o desenvolvimento da migração em Roraima através dos assentamentos agrícolas. Neste contexto, as políticas de ocupação dirigida em Roraima, recomeçaram com os mesmos discursos de se proteger as fronteiras. De acordo com Mourão (2003, p. 219) “en el estado de Roraima, como fue comentado, la mayoría de los proyectos son fruto de interesses políticos locales o de circunstancias específicas 25 [...]1”. Este sempre direcionado para o interesse político, mesmo que estes interesses venham a povoar regiões que antes seriam impossíveis de serem habitadas. Veras (2009 p. 78): afirma que “até o ano de 1940 os habitantes do Estado concentravam-se no meio rural e a transformação da área em Território Federal do Rio Branco, em 1943, gerou uma mobilidade crescente de moradores vindos do interior e um fluxo migratório de outras regiões do país para a capital Boa Vista”. E esses assentamentos agrícolas além de povoar também tinham a função de produzir alimentos, e desta forma suprir as necessidades de consumo da população boavistense, além de procurar diminuir a dependência de consumo dos produtos de Manaus. A razão está, sobretudo com o fim da guerra, cuja preocupação voltou-se para as áreas de maior interesse econômico e político. Quanto ao desenvolvimento da região, Cavalcanti afirma que: O maior obstáculo ao desenvolvimento econômico do Território Federal do Rio Branco e à ação administrativa do governo seja o povoamento da região, pois enquanto não houver uma ocupação efetiva do solo imenso e vazio, as possibilidades da terra em todos os setores permaneceram sempre como uma riqueza potencial, pois entre os territórios federais situados na bacia Amazônica, o território do Rio Branco, era o que possuía o menor contingente populacional (CAVALCANTI,1949,p.40). Com aporte ainda em Cavalcante (1949) “o incentivo da agricultura no Território Federal do Rio Branco visou de início, os seguintes pontos essenciais: abastecimento alimentar e formação de riqueza regional; venda das sobras do abastecimento e melhoria do padrão de vida do rio-branquense” (CAVALCANTI,1949,p.31). A colonização dirigida foi à solução encontrada para a ocupação da região e para o abastecimento do mercado da capital de produtos agrícolas e hortifrutigranjeiros. 1“No estado de Roraima, como foi comentado, a maioria dos projetos são fruto de interesses políticos locais ou se circunstâncias específicas [...]” 26 2.2 A COLÔNIA FERNANDO COSTA A Colônia Agrícola Fernando Costa, localizada à margem direita do Rio Mucajaí, a qual foi à primeira colônia a ser criada, em 1944, localizada a 54 km ao sul de Boa Vista (atual município de Mucajaí), FIGURA 1. FIGURA 1 – Município de Mucajaí, Estado de Roraima. Fonte: SEPLAN/CGPTERR As outras duas foram à colônia Coronel Mota (atual Taiano), localizada a 93 km de Boa Vista, fundada em 1953. Tratava-se de uma colonização com imigrantes estrangeiros, com 20 famílias japonesas, a fim de produzirem pimenta-do-reino e hortaliças. Nesta colônia também se encontravam nordestinos, com destaque para os paraibanos, com a cultura do tabaco. 27 E a colônia Braz de Aguiar (atual município do Cantá), localizada a 30 km a sudoeste de Boa Vista. Em 1957 existiam na referida colônia 58 famílias assentadas que produziam arroz e mandioca. (SILVEIRA & GATTI, 1988) No caso dos colonos da Colônia Fernando Costa, eles não ocuparam terras de ocupação antiga, pelo contrário, os primeiros colonos que ali chegaram tiveram que desbravar aquelas terras para viverem. Muitas foram as dificuldades encontradas por eles. Além de inúmeros problemas que surgem ao se depararem com terras antes inexploráveis. Desta forma as dificuldades vão além da questão da terra envolve desde o acesso a localidade até a própria instalação do colono. Com a criação do território, o Rio Branco experimentou pela primeira vez tentativa de ocupação mais efetiva. A maioria dos migrantes que chegavam aos locais de colonização encontravam dificuldades em se fixar à terra, devido à falta de políticas públicas, como melhoria de acesso aos serviços básicos de saúde, educação entre outros que são necessários para o desenvolvimento. Mourão (2003) relata que a maioria destes projetos de assentamento não permite integração socioeconômica e cultural dos colonos, o que dificulta a sua permanência destes colonos nestas regiões. De fato, isto poucas vezes aconteceu, pois como já fora citado, os incentivos por parte do governo eram poucos o que dificultava a produção, além de todo transtorno que existia por causa das dificuldades no deslocamento dessa produção para chegar a capital Boa Vista. Por muito tempo a capital continuou comprando a preços abusivos de outros estados. De acordo com Magalhães (2008) o governador Ene Garcez revelou que tinha consciência dos percalços da colonização dirigida, pois as condições de acessibilidade a essas colônias eram extremamente precárias, o que dificultou, de certa forma, a viabilidade destes empreendimentos em curto espaço de tempo. 28 Além de todos os imprevistos que vieram a acontecer durante o processo de implantação destas colônias, podemos destacar dentre eles as doenças, como por exemplo, a malária, que assombrou muitos dos colonos recém chegados. Muitos agricultores abandonaram seus lotes com medo da morte causada pela doença. Portanto, podemos dizer que diante das dificuldades de locomoção, instalação nos lotes, ainda existiam as doenças que assolavam os moradores, conforme já citamos anteriormente, sendo esta uma das principais causas de abandono de lotes, uma vez que estes adoeciam recorrentemente e ficavamimpossibilitados de prosseguirem com os lotes. Isso de certa forma prejudicou o real interesse de ocupação daquela área, que era justamente, a produção de verduras e hortaliças para o abastecimento da capital Boa Vista. 29 3 A HISTORIOGRAFIA SOBRE A OCUPAÇÃO DO ESPAÇO RORAIMENSE Atualmente muitos são os pesquisadores que dedicam seu tempo em busca de novas informações a respeito dos migrantes. Sendo que os migrantes fazem parte da constituição de muitas cidades brasileiras, e Roraima não fica distante dessa realidade, pois a migração está intrinsicamente relacionada a ocupação do estado de Roraima. Ao fazermos o levantamento bibliográfico percebemos que o processo migratório envolve muitos fatores, dentre eles o econômico, social e político, conforme afirma Brito (2007, p. 09) A migração é um fenômeno que vai além do fator econômico, está inserida em uma ampla mudança social e cultural, tanto individual, quanto coletiva. A população precisa ser mobilizada socialmente para que seja atraída pela sociedade em desenvolvimento. Diante das novas possibilidades de participação social ela se coloca disponível para a emigração. Esse processo de mobilização social em direção a sociedade em desenvolvimento, e o que define a migração e faz dela um processo que se estende desde o lugar de origem até a integração do migrante no lugar de destino. (BRITO, 2007, p. 9) Percebe-se então que a migração surge como uma “saída” para aqueles que nela se aventuram. A maioria dos migrantes deixam suas terras em busca de novas oportunidades. Um dado interessante é que a migração sempre se fez presente na vida do homem, desde os primórdios, inclusive desta forma é que houve o povoamento da terra. No estado de Roraima, conforme já mencionado anteriormente, a ocupação foi impulsionada por um processo migratório a partir do planejamento e criação de colônias agrícolas e posteriormente os assentamentos da reforma agrária. As colônias agrícolas foram planejadas e implantadas com intuito de suprir as necessidades de produtos agrícolas, ou seja, a ideia era colonizar a região e transformá-la em um centro agrícola que pudesse suprir a necessidade da capital Boa Vista. Oliveira (2005) afirma que “a colonização dirigida parecia ser a alternativa 30 que estava faltando para desenvolver a economia na região e abastecer o mercado da cidade de produtos agrícolas”. Neste contexto, os estudos aqui apontados são baseados na visão dos autores Di Manso (2004) e Oliveira (2005) que trabalharam a colonização agrícola em Roraima. 3.1 COLONIZAÇÃO AGRÍCOLA NA VISÃO DE DI MANSO A Colônia Agrícola Fernando Costa, atual município de Mucajaí passou por várias tentativas de criação até firmar como colônia agrícola. No ano de 1944, Ene Garcez foi nomeado o primeiro governador do então Território de Roraima, pelo então presidente Getúlio Vargas. Diante desse contexto o então recém nomeado governador decide criar a Colônia Agrícola Fernando Costa, este nome se deu em homenagem ao então Ministro da Agricultura. Di Manso (2004, p. 12) demonstra que: A colônia foi criada mediante a necessidade de se ter um núcleo produtor que abastecesse a cidade de Boa Vista com produtos de primeira necessidade, pois, com a criação do novo território, os funcionários do governo que pra cá foram trazidos provocaram um aumento populacional, e a capital por si só não tinha como suprir a demanda de alimentos. Principalmente porque tudo que aqui chegava vinha a barco de Manaus e na época do verão, como as águas baixavam, muitas vezes os barcos encalhavam. Isso dificultava muito a vinda de certos produtos, provocando um racionamento de mantimentos. Cada família receberia uma quantidade proporcional ao número de pessoas que moravam na mesma casa. A implantação da Colônia Agrícola Fernando Costa ocorreu nas proximidades do rio Mucajaí, sendo os migrantes responsáveis por este processo, dentre os migrantes que povoaram aquela região citamos os nordestinos, grupo este de maior expressão. Os nordestinos são figuras marcantes em todos os processos de colonização do atual Estado de Roraima. E no caso da colônia Fernando Costa, ressaltamos os maranhenses como em maior número. Estes viam no estado a possibilidade de melhorar suas condições de vida, uma vez que o Estado de 31 Roraima encontrava-se em expansão, por ser um estado recém-criado e em processo de colonização de suas terras. Como já citado anteriormente, esta colônia foi criada para que seus colonizadores criassem uma agricultura de subsistência que pudesse abastecer a capital, mas as condições de acesso àquela região eram totalmente precárias. Os colonos tinham por obrigação produzir insumos para a demanda da capital, para tanto além da terra os mesmos recebiam ferramentas e sementes para que pudessem produzir no lote. Esta autora também afirma que houve três tentativas no sentido de implantar a colonização daquela região. De acordo com Di Manso, A primeira tentativa de colonização ocorreu em fins de 1945, quando a colônia começou a se organizar á margem do Rio Mucajaí. Cerca de oito famílias foram levadas para o local, que passou a ser conhecido como colônia Fernando Costa, cujos patriarcas foram: Raimundo Germiniano de Almeida, Joaquim Estevão de Araújo, Chagas “Pintor”, Genésio Rufino, Lindolpho Braga Pires, Firmino (primeiro enfermeiro) e Caboclo “Rancho”. (DI MANSO, 2004, p. 13) Ernandes Dantas (2006) afirma que a primeira tentativa é um período em que não houve apoio efetivo por parte do governo do território, que seria uma espécie de experiência. “Os colonos recebiam uma área de 20 hectares onde deveriam realizar uma missão praticamente impossível: produzir gêneros agrícolas suficientes para abastecer o mercado de Boa Vista”. No que se refere ao impossível, este fato se dá devido às dificuldades para habitar aquela região, uma vez que não existia nenhuma estrutura para aqueles colonos. Isso fez com que a proposta de assentamento não fosse bem vista pelos colonizadores, levando os mesmos a buscarem alternativas mais viáveis. Deixando assim aquela região praticamente desabitada. De acordo com Di Manso (2004) Durante cerca de um ano e meio, os únicos moradores da região foram o Sr Raimundo Germiniano de Almeida, sua esposa, a Sr.a Francisca Batista de Almeida, seus filhos José (Dedé), Maria (Enfermeira), Anita, Evanilde, Roldão, João, Fátima, Antonia, todos com o sobrenome Batista de Almeida. Viviam da caça e da pesca e só se separavam quando precisavam ir a Boa 32 Vista. O pai partia com os dois mais velhos e a mãe ficava sozinha. Iam de canoa a remo, o único transporte disponível. [...] Remavam três dias na subida ( ida) e um dia na descida (volta), aproveitando as forças das águas. Percebe-se o quanto era difícil a vinda deles até à capital, e as dificuldades que enfrentavam estes colonos para escoar sua produção. Então aqueles objetivos que eram almejados com a criação da Colônia Agrícola Fernando Costa, estavam longe de serem alcançados, pois devido a falta de incentivo por parte do governo e a produção de subsistência dos poucos habitantes que ali ficaram. Desta forma a primeira tentativa de implantação da Colônia Agrícola Fernando Costa jamais se efetivou. Mas os moradores que estavam instalados na região não desistiram e buscaram o reconhecimento de suas terras, desta forma foi necessário investir na política de colonização e surgiu a segunda tentativa.Como não houve efetivação da Colônia Fernando Costa no período de 1943 a 1946 o governo decide mais uma vez levar famílias para habitarem a região, como forma de dar continuidade ao então projeto agrícola. Portanto, a iniciativa do governo em (re)habitar a região não estava surtindo efeito; pois apesar do governo dar subsídios para que os mesmos ficassem na região, muitos colonos ao se depararem com a realidade encontrada desistiam imediatamente de permanecerem no local. Vale ressaltar que, além das precárias condições de deslocamento à região, neste período muitos colonos morreram em decorrência da malária, doença que assolava a região neste período. E como para se chegar a capital era muito difícil, muitos colonos morriam nas suas casas mesmo. Os colonos que permaneciam na região alimentavam um desejo de possuírem suas terras e assim produzirem e crescerem no que tange a posse tão sonhada ao deixarem suas terras de origem. Já Di Manso (2004) acredita que muitos colonos que chegavam a estes projetos de assentamento estavam vindos de outros assentamentos que não deram certos e desta forma buscavam outro que tinham ouvido falar, ou seja, buscavam a sorte literalmente. 33 Segundo a professora Terezinha de Jesus Barros Guimarães, filha de Aniceto Viera Barros, seu pai e seu tio vieram para Roraima atraídos pelo garimpo. Aqui conheceram (...), o advogado Miguel Ximenes Melo, que os convenceu a trazerem suas famílias para Colônia Fernando Costa, dizendo que “investir na agricultura era muito mais seguro do que arriscar a sorte nos garimpos”, comenta ela. Assim o governo deu a ele o dinheiro para agilizar as passagens e os preparativos para a viagem. (Di MANSO, 2004,p.19) Através desta fala fica nítido o interesse de muitos migrantes que vieram para Roraima, que buscaram a exploração de minério (garimpo) uma nova esperança. Neste contexto, a política de colonização não surtiu efeito e a terceira tentativa com novas investidas foram realizadas no sentido de efetivar a criação da colônia. O fato é que a Colônia Fernando Costa foi oficialmente criada em 1951, como projeto de assentamento, mais tarde passou a chamar-se Mucajaí e atualmente faz parte do grupo de municípios que compõem o estado de Roraima. Após sua efetivação Di Manso (2004) nos mostra que: [...] o governo passou a investir efetivamente na região, no sentido de criar um centro agrícola que correspondesse aos desejos do ato de criação de colônia: produção de alimentos. Mas a concretização da terceira tentatativa de colonização se deu com o assentamento de 50 famílias na região. Tal façanha se deu no governo do pernambucano Gerocílio Gueiros, sob a responsabilidade dos também migrantes Domingos Reis, José Firmino de Azevedo e Pedro “Crente”. De forma geral, o governo passou a investir na colônia agrícola Fernando Costa, com políticas mais efetivas. O governo auxiliou os colonos com programas de distribuição de sementes e outros insumos como também com medicação, pois muitos adoeciam, conforme veremos abaixo: O governo ajudava com sementes, para o cultivo de arroz, feijão e milho, arranjava mudas de mandioca, usadas para consumo e produção de farinha; distribuía ferramentas, como machados, foices, enxadas e terçados; se responsabilizava também por remédios, principalmente para o combate à malária, muito frequente na época, e concedia uma ajuda de custo durante os dez primeiros meses de assentamento, tempo que se acreditava ser suficiente para que os colonos já pudessem se sustentar por conta própria. (DI MANSO, 2004, p. 22) Neste caso, houve investimentos mais concretos na área com as pessoas que ali moravam, visando a permanência delas na região. Houve também melhorias 34 na infraestrutura, o que de certa forma ajuda a fixar as pessoas na colônia. Com a conclusão da BR-174 houve um grande salto para os moradores da região, pois agora eles poderiam transportar suas produções, e desta forma atender os objetivos ao qual lhes foi incumbido, que é abastecer a capital Boa Vista. 3.2 COLONIZAÇÃO AGRÍCOLA NA VISÃO DE INDIRA DE OLIVEIRA De acordo com Oliveira (2005) ao longo da história do Brasil, o estímulo ao processo de migração tanto dirigido quanto espontâneo, por parte da administração pública, foi de fundamental importância para a colonização agrícola do território Nacional. Tal fato foi um dos principais responsáveis pelo povoamento das regiões com baixa densidade demográfica, além de viabilizar a tentativa de proteger as fronteiras políticas do país através da ocupação humana. Dentre as regiões citamos a Região Norte que segundo Oliveira fazia parte de um projeto estatual definido de colonização agrícola, o qual era amplamente divulgado nos meios de comunicação de massa criando um imaginário coletivo, junto à população pobre do país, especialmente do Nordeste para virem habitar e colonizar essas áreas despovoadas. A autora traz também informações sobre o processo de colonização, inclusive no Estado de Roraima, com especificidades que detalham o processo de colonização da região, com a implantação das colônias agrícolas. No que se refere à implantação das Colônias Agrícolas, citamos a Colônia Fernando Costa, onde Oliveira (2005) ressalta que houveram três tentativas. A primeira tentativa ocorreu em plena “Era Vargas”, porém essa primeira não se consolidou uma vez que quando os colonos lá estavam, perceberam que não seria implementada a infraestrutura mínima para a fixação e produtividade, a abandonaram. Entre 1947 a 1.949, houve uma segunda tentativa, mas que pelos mesmos motivos não deu certo. Somente e 1.951 foram criadas as condições infra-estruturais 35 de colonização agrícola: a abertura de estradas e outras estradas – vicinais e incentivos financeiros, condições essas que fizeram com que os trabalhadores rurais não só se fixassem na colônia, bem como deu continuidade a mentalidade junto a estes de que em Roraima o Governo lhes proporcionaria, cedo ou tarde, as devidas condições ao desenvolvimento da atividade agrícola Ainda segundo Oliveira (2005) como a estratégia e infra- estrutura adotadas pelo governo para consolidar a Colônia Fernando Costa deram resultados positivos, marcando a conquista da parte sul florestal de Roraima, esse mesmo modelo foi utilizado para a criação da colônia Coronel Mota (1.953), atual Taiano e da Colônia Agrícola Braz de Aguiar (1.957), atual Cantá, originando assim, novos núcleos populacionais no Território. De acordo com a autora essas colônias agrícolas foram formadas seguindo o modelo tradicional para assentamento conhecido por “espinha de peixe”, ou seja, é aberta uma estrada principal chamada de tronco, que normalmente dá continuidade a rodovia ou estrada de acesso a localidade e, perpendicular a esta, são abertas as demais estradas chamadas de vicinais. Oliveira ressalta também as constantes endemias de doenças tropicais, principalmente de malária no inicio da implantação das colônias agrícolas, fazendo com que muitos trabalhadores abandonassem seus lotes. E por fim, menciona que a continuidade da estratégia de cunho paternalista iniciada por Vargas, no que diz respeito à colonização agrícola, particularmente em Roraima, deu resultados positivos no que tange ao adensamento populacional sobre o território. A população do estado de Roraima, segundo dados do IBGE (2002), contabilizou em 1950 18.116 indivíduos, 28.304 habitantes em 1960, 40.885 habitantes em 1970, chegando a 79.159 pessoas em 1980. No ano de 2000 chegou a 324.397habitantes, distribuídos entreos 15 municípios do estado. No entanto, os objetivos de povoar, integrar essa região ao processo produtivo e expandir a fronteira agrícola foram alcançados de forma parcial. 36 A visão dos dois autores sobre a criação da Colônia Fernando Costa mencionados nos tópicos acima abordam que o processo e colonização do Estado de Roraima no início foram muito precários devido à falta de incentivos por parte do governo, em especial da Colônia Agrícola Fernando Costa, que passou por várias tentativas de criação até firmar como uma colônia agrícola. Di Manso e Oliveira ressaltam as constantes endemias de doenças tropicais, principalmente de malária no início da implantação das colônias agrícolas no estado. E por fim, mencionam que a continuidade da estratégia de cunho paternalista iniciada por Vargas, no que diz respeito à colonização agrícola, particularmente em Roraima, deu resultados positivos no que tange ao adensamento populacional sobre o território. 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS Percebe-se que a necessidade humana de buscar novas oportunidades está presente desde os primórdios. No entanto, a busca por novas oportunidades se faz presente a cada momento, essas oportunidades muitas vezes surgem em lugares distantes daqueles que atualmente moramos, eis que surge neste contexto o migrante, que deixa seu local de origem em busca de novas oportunidades. Juntamente com essa vontade de crescer e alçar novos voos, surgem os movimentos migratórios que envolvem outros fatores para que possa se efetivar. Neste caso, quando trazemos este processo de colonização para a Amazônia, observamos que sua ocupação se deu através dos movimentos migratórios. Diante da preocupação do governo Federal em perder estas terras e impedindo invasões de estrangeiros, houve inúmeros incentivos para assegurar a posse dessas terras. Dentre elas uma política de colonização voltada para a migração interna, como proveito dos espaços nacionais, uma vez que esta era a política do governo de Vargas, onde tinha como um dos seus objetivos fomentar o desenvolvimento do país de dentro para fora, nestes casos dando prioridade para a produção interna e principalmente para o fortalecimento da mão de obra nacional que passa a ser vista como política de substituição de importações. Com relação à Colônia Fernando Costa, hoje município de Mucajaí, muitos foram os atores que participaram do processo de sua criação. Vimos que foi devido à politica migratória que houve a ocupação deste município. Foram três experiências até sua real efetivação. O que se percebe no final desse estudo é que os colonos que permaneceram na Colônia Agrícola Fernando Costa foram guerreiros, pois apesar de toda adversidade não abandonaram seus lotes, mesmo em meio às doenças dentre elas a malária que assolava a região no período e as precárias condições de deslocamento à região que a maioria do percurso para a se chegar a cidade mas próxima era feito pelo Rio Branco de canoa e levava dias para chegar a capital e ao pouco investimento do governo federal. 38 Os colonos que permaneciam na região, alimentavam um desejo de possuírem suas terras e assim produzirem e crescerem no que tange a posse tão sonhada ao deixarem suas terras de origem. Como percebemos nos autores trabalhados como Oliveira (2005) que trata o processo de migração de uma forma geral, enfatizando o papel do migrante e sua importância para o desenvolvimento do campo. Outra que contribuiu para o entendimento do processo de colonização do então município de Mucajaí, que na época se chamava Colônia Agrícola Fernando Costa, foi Di Manso (2004), que traz a visão dos próprios moradores em relação ao processo de criação de Mucajaí. 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Anna Luiza Ozorio de. Colonização Dirigida na Amazônia. Rio de Janeiro, IPEA, 1992. AYDOS, Mariana Recena. Migrações Internas no Brasil Contemporâneo: reflexões teóricas e analíticas dos principais fluxos interestaduais 1930-2008. Disponível em: www.ippur.ufrj.br/download/semana_pur_2010/.../Mariana_Aydos.pdf. Acessado em: 20/08/2014. BARROS, Nilson Cortez Crócia de. Roraima paisagens e tempo na Amazônia setentrional. Recife: Ed. UFPE, 1995. BARBOSA, Reinaldo Imbrósio. A ocupação humana em Roraima II. Uma revisão do equívoco da recente política de desenvolvimento e o crescimento desordenado. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi 9 (2). Belém – PA, 1993, p. 177-197. BECKER, Berta K.. 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