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Brasil Republica resumo

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Brasil Republica
AULA 01 – 16/08/2013 – A crise da monarquia e a proclamação da república (1881-1889)
Introdução
Em nossa primeira aula, examinaremos o cenário histórico que antecedeu ao golpe militar de 15 de novembro de 1889, liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Não podemos pensar esse golpe como uma simples intervenção militar na política, mas sim, como resultado do enfraquecimento dos pilares que até então sustentavam o regime político comandado pelo Imperador D. Pedro II e da troca de hostilidades, intensificada na década de 1880, entre a elite política civil e parte do Exército. Nesse sentido, o grande desafio será recolocar o golpe militar republicano de 1889 em seu tempo, percebendo, paralelamente, suas relações com mudanças estruturais de longa duração e com a conjuntura histórica de curta e média duração. Não era propriamente a República o objetivo inicial da intervenção militar de 1889 (Monteiro, 1986 ; Castro, 1995; Izecksohn, 1997; Schwarcz, 1998 ; Oliveira, 2013). Em um primeiro momento, tratava-se da demissão do gabinete ministerial chefiado por Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto. A bibliografia especializada é praticamente unânime ao afirmar que foi somente após a decisão do Imperador D. Pedro II sobre a convocação de Silveira Martins, desafeto pessoal do Marechal Deodoro da Fonseca, para o novo ministério, que os oficiais do Exército responsáveis pelo comando da ação decidiram pela orientação republicana. Por outro lado, o encaminhamento republicano dessa rebeldia militar não foi exatamente uma solução de última hora. A República já estava presente nas aspirações de alguns militares e de lideranças civis que buscaram se aproximar dos oficiais descontentes e explorar essa insatisfação. Estamos diante, então, de um ato político não partidário, híbrido e formado por uma frágil aliança entre civis e militares. A análise do golpe militar republicano de 1889 será tão mais criteriosa quanto for mais capaz de fugir da tentação de reduzir essa experiência aos extremos. Ou seja, o golpe não foi produto da manipulação do Exército por parte dos civis nem a demonstração da total e completa autonomia dessa corporação em relação aos outros atores políticos importantes do período. De fato, a República brasileira nasceu de uma quartelada. Foram os militares, e não os propagandistas republicanos civis, que agiram e derrubaram a monarquia. Também foram os militares que, nos primeiros cinco anos de vida do regime republicano, silenciaram os monarquistas e consolidaram as novas instituições. Portanto, o protagonismo do Exército nesse cenário é inegável, o que não quer dizer que as elites civis e as manifestações populares também não tenham sido importantes. Vamos acompanhar com cuidado a década de 1880, que foi o momento de intensificação da crise da monarquia e de fortalecimento da proposta republicana. Definitivamente, a República teve pressa; não pôde esperar
Só o Exército, afirmou Deodoro, sabia sacrificar-se pela pátria e, no entanto, maltrataram-no os homens políticos que até então haviam dirigido o país. Aludiu aos seus serviços no campo de batalha, rememorando que pela pátria estivera três dias e três noites combatendo em campos paraguaios no meio do lodaçal, sacrifício que eu não poderia avaliar (Visconde de Ouro Preto, 1891 , p. 167).
Com essas palavras, Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, foi o último chefe de governo da história da monarquia brasileira. Foi exatamente o governo chefiado por Ouro Preto o alvo original do movimento militar liderado por Deodoro da Fonseca. 
Guerra do Paraguai 
Há, no testemunho do Visconde de Ouro Preto, um elemento central para a compreensão da insatisfação existente entre segmentos do oficialato do Exército nesse período. 
A ação golpista dos militares foi motivada pela insatisfação em não ver reconhecidos, por parte do governo e da elite civil, os méritos do Exército durante a Guerra do Paraguai (1864-1870) e, ao longo da década de 1880, os segmentos do Exército responsáveis pelo discurso oficial da corporação mobilizaram a memória da Guerra do Paraguai em razão de um projeto de fortalecimento institucional e político.
Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul. O Brasil, Argentina e Uruguai, aliados, derrotaram o Paraguai após mais de cinco anos de lutas.
A derrota marcou uma reviravolta decisiva na história do Paraguai, tornando-o um dos países mais atrasados da América do Sul. Após a Guerra, por décadas, o Paraguai manteve-se sob a hegemonia brasileira.
É possível consultar os elementos mais fundamentais desse discurso oficial na Revista do Exército Brasileiro, fundada em 1881, que constitui o primeiro periódico oficial do Exército. 
Em 1881 um grupo de três oficiais do Exército fundou a Revista do Exército Brasileiro, o primeiro periódico científico oficial do Exército. A REB foi projetada para ocupar o lugar de veículo do conhecimento oficial produzido na corporação. Essa produção editorial tinha uma finalidade bem delimitada: reforçar a institucionalização do Exército, fazendo da corporação um elemento de peso no cenário político/institucional do país.
Nas páginas dessa revista ocorreu a construção de certa representação da Guerra do Paraguai baseada na afirmação da “vocação messiânica” do Exército brasileiro para exercer a função de guardião da honra nacional e de defensor dos interesses brasileiros.
Trabalhando com a documentação de época
Todos os exemplares da Revista do Exército Brasileiro se encontram disponíveis para consulta no setor “Obras Raras” da Biblioteca Nacional, situada no Rio de Janeiro.
Fica claro nas páginas da revista o interesse dos comandantes do Exército brasileiro em fortalecer a corporação tanto no plano institucional quanto no político.
É necessário situar a Revista do Exército Brasileiro no contexto da “questão militar”, ou seja, os conflitos travados entre parte do oficialato do Exército e a elite dirigente da monarquia.
Para os dirigentes civis, o militar deveria ser um profissional especializado na arte da guerra e obediente às ordens do Estado. Já para alguns setores do oficialato positivista, o soldado era um cidadão fardado e, por isso, também tinha direito à voz política.
A tensão entre os princípios do “soldado profissional” e do “soldado cidadão” foi característica da monarquia brasileira e se acentuou após 1870, quando parte do Exército se sentiu desprestigiada pelas tentativas do governo em desmobilizar os efetivos da corporação.
Documentação da época
Assim como identificamos anteriormente no testemunho do Visconde de Ouro Preto, há, nos ataques de Sena Madureira aos políticos civis junto a questão militar, a definição de uma “vocação messiânica” para o Exército, o que foi usado pelos militares descontentes para reivindicar uma melhor posição institucional para a corporação. 
Para Sena Madureira, um civil não era legítimo para ocupar o mais alto cargo da administração militar; um “casaca” não sabia o que era pôr em risco a própria vida pela pátria.
A essa altura, a retórica messiânica fundamentada na memória da Guerra do Paraguai já se tornara a base discursiva da ação política dos oficiais do Exército que eram opositores ao regime monárquico.
 
No dia 2 de setembro, Visconde da Gávea enviou ao Marechal Deodoro da Fonseca uma carta na qual perguntava se ele havia concedido permissão para Sena Madureira publicar seu protesto. Deodoro respondeu que não e que dedicaria atenção ao assunto.
Dias depois, Deodoro enviou um ofício ao ministro da Guerra informando que a legislação em vigor se referia apenas à discussão pública entre militares e que Sena Madureira não havia cometido nenhum ato digno de represália. 
O ministro Alfredo Chaves desconsiderou a avaliação de Deodoro e mandou punir Sena Madureira com uma repreensão. Essa foi a primeira grande indisposição entre Deodoro da Fonseca, um dos principais líderes militares da época, e a administraçãoimperial. Foi a partir desse momento que os acontecimentos começaram a se configurar, cada vez mais, como uma “questão militar”.
Os políticos civis ligados ao Partido Republicano, fundado em 1870, não tardaram a ver na “questão militar” uma oportunidade para indispor ainda mais o Exército com a monarquia.
 
Júlio de Castilhos aproveitou as discussões públicas entre Sena Madureira e o ministro da Guerra para publicar, em 23 de setembro, o artigo “Arbítrio e inépcia”, que reforçava a retórica messiânica já articulada pelos oficiais do Exército. 
 
Castilhos alegava que o governo imperial estava ofendendo “aquele que lhe salvou de grandes apuros nos campos paraguaios”. A partir de então, as páginas do jornal gaúcho A Federação foram palco dos artigos escritos por Sena Madureira e Júlio de Castilhos. Ambos não pouparam críticas à administração imperial. 
Ainda em setembro, os oficiais da guarnição do Rio Grande do Sul solicitaram a Deodoro autorização para homenagear Sena Madureira, delegando-lhe poderes para representar a classe militar contra as “injúrias do governo” (Castro, 1995).
A onda de protestos chegou à Escola Militar da Praia Vermelha
A onda de protestos chegou à Escola Militar da Praia Vermelha no Rio de Janeiro. No dia 1o de outubro, a mocidade militar manifestou solidariedade a Sena Madureira e afirmou sua disposição para assumir, juntamente com o tenente-coronel, as responsabilidades que poderiam resultar da rebeldia contra o governo. 
Os promotores do movimento foram presos a mando do comandante da Escola Militar, o General Severiano da Fonseca, irmão de Deodoro. Diante da atmosfera de conflitos, o Barão de Cotegipe solicitou a Deodoro que acalmasse os ânimos dos jovens alunos. Na resposta, é possível perceber a disposição do marechal em assumir o papel de representante dos protestos da classe militar. 
A partir de então, a situação se tornaria ainda mais tensa. Deodoro, que ainda não era identificado com a República, tornou-se uma importante liderança militar nos conflitos com o governo.
Uma crise estrutural e profunda
Não era apenas com a rebeldia dos militares que os dirigentes da monarquia tinham que se preocupar. O próprio sistema parecia estar doente; desde meados do século XIX, algumas mudanças estruturais tornaram o centralismo monárquico inadequado para a nova realidade nacional. 
Conflitos entre oficiais do Exército e políticos civis 
No dia 9 de novembro de 1889, realizou-se uma inflamada reunião na sede do Clube Militar. A mocidade militar, formada pelos alunos da Escola Militar da Praia Vermelha, e seu líder, o General Benjamin Constant, estavam em pé de guerra (Castro, 1995). 
Os anos anteriores haviam sido marcados por sucessivos conflitos entre oficiais do Exército e políticos civis (Costa, 1996). A corporação estava dividida quanto à sua fidelidade em relação ao Imperador D. Pedro II. 
Oficiais como Benjamin Constant, Sólon, Sebastião Bandeira e Mena Barreto defendiam a solução republicana para a crise da monarquia. Por outro lado, oficiais mais veteranos, como Deodoro da Fonseca, relutavam em trair o velho imperador.
Em relação à posição do Marechal Floriano Peixoto, é impossível dar uma resposta definitiva. Ao mesmo tempo em que era a principal liderança militar do gabinete Ouro Preto, Floriano Peixoto parecia endossar a conspiração que estava sendo tramada nos bastidores do Clube Militar (Castro, 1995).
Os militares golpistas sabiam da necessidade do apoio de Deodoro para o sucesso do movimento. Deodoro da Fonseca se torna um dos oficiais mais estimados de todo o Exército. A adesão da corporação dependia necessariamente de seu apoio ao movimento republicano. 
Foi por isso que Benjamin Constant lhe fez uma visita para informar ao velho e enfermo general como havia sido a sessão do dia anterior no Clube Militar. 
Naquele final de século, a monarquia já dava claros sinais de ser um sistema incapaz de conciliar as velhas e novas demandas dos diferentes grupos sociais brasileiros.
Benjamin pediu a Deodoro que refletisse bem e utilizasse a astúcia de “velho soldado” para tomar a decisão mais adequada. O líder positivista afirmava que a República não poderia mais ser adiada e era importante “fazê-la de forma serena para evitar derramamento de sangue”. Após muito pensar, Deodoro teria dito: “Benjamin, já que não há outro remédio, leve a breca a Monarquia; nada há mais que esperar dela, venha a República” (apud Castro, 1995, p. 184) .
No dia seguinte, Benjamin Constant e Sebastião Bandeira organizaram um encontro de Deodoro com líderes civis do Partido Republicano, como Quintino Bocaiúva, Aristides Lobo, Rui Barbosa e Francisco Glicério.  
Pactos de sangue
Em um primeiro momento do encontro, Deodoro não simpatizou com a possibilidade de aproximação com os civis. Entretanto, o marechal foi persuadido por Benjamin Constant da necessidade de dar ao movimento um caráter mais amplo que o de uma revolta puramente militar (Castro, 1995). 
Ainda nessa noite, foi assinado o primeiro dos “pactos de sangue” a Benjamin Constant, que já começara a traçar a estratégia militar para o desfecho do golpe.
O líder militar organizou a tomada do Arsenal de Guerra, de Marinha, Alfândega, Tesouro Nacional, Estação Central dos Telégrafos, da Estrada de Ferro D. Pedro II, dos telefones, das fábricas da pólvora da Estrela e Conceição, das Escolas de Tiro de Realengo e Campinho (Castro, 1995, p. 185). Pela quantidade de pontos estratégicos visados, percebe-se que os golpistas esperavam resistência armada.
Golpe militar republicano
Floriano Peixoto é o personagem mais ambíguo do cenário do golpe militar republicano. Tanto os golpistas quanto o governo contavam com ele na hora do combate. No dia 14 de novembro, Floriano enviou uma carta a Ouro Preto informando-o de que algo “mui grave estava para acontecer”. 
Floriano Peixoto foi um militar e político brasileiro. Primeiro vice-presidente e segundo presidente do Brasil, presidiu o Brasil de 23 de novembro de 1891 a 15 de novembro de 1894, no período da República Velha. Foi denominado "Marechal de Ferro" e "Consolidador da República".
O chefe do gabinete ordenou a convocação de Deodoro e solicitou ao ministro da Justiça que a Polícia e a Guarda Nacional fossem postas em prontidão. Sólon espalhou o boato de que Deodoro seria preso, fato que precipitou os acontecimentos.
Do lado dos golpistas, a preparação se deu sem a presença de Deodoro e de Benjamin Constant. Deodoro estava ausente e sua adesão ao movimento ainda era uma incógnita. Em virtude de seu estado de saúde, considerava-se improvável a participação. Para a surpresa de todos, assim que soube da movimentação, Deodoro foi ao encontro das tropas, passando a comandá-las no Campo de Santana, localizado na região central da cidade do Rio de Janeiro.
Do lado do governo, Ouro Preto tentava desesperadamente organizar a resistência. As forças legalistas que foram reunidas no pátio do Ministério da Guerra eram mais estruturadas e numerosas que as forças golpistas. Entretanto, não havia disposição para o combate, apenas o Barão de Ladário, ministro da Marinha, agiu em defesa da monarquia, o que, obviamente, não foi suficiente para salvá-la.
Convencendo Deodoro a proclamar a República
Somente a notícia de que o imperador pretendia convidar Silveira Martins para organizar o novo gabinete teria convencido, definitivamente, Deodoro a proclamar a República (Costa, 1996). Um aspecto importante nesse capítulo é o argumento mobilizado por Deodoro para legitimar a intervenção militar. A memória da Guerra do Paraguai foi acionada para fundamentar a “vocação messiânica” do Exército para salvar a pátria.  
Estava feito! Depois de mais de sessenta anos, o Brasil, finalmente, seguia a tendência política do continente americano. Estava extinta a inusitada monarquia tropical. Contudo, diferentemente do que demonstrou a facilidade com que ocorrera o golpe republicano, o novo regime encontraria dificuldades para se consolidar.Foi necessária uma violenta ditadura militar para que o projeto da contrarrevolução monarquista não se tornasse uma alternativa real aos opositores da República.
RELEMBRANDO
1 – Apesar de o golpe militar republicano ter acontecido somente em novembro de 1889, suas origens podem ser situadas bem antes. A Guerra do Paraguai (1864-1870) complementa essa sentença.
2 – "A monarquia caiu sozinha", disse Joaquim Nabuco, um contemporâneo ao golpe militar republicano, na década de 1890. Os proprietários de escravos, que estavam insatisfeitos com a abolição da escravidão e eram identificados com a monarquia, não estava disposto a defendê-la no final da década de 1880.
3 – O golpe militar foi marcado pela atuação de setores do Exército, que foram animados à ação política por um sistema de valores que fazia parte do pensamento positivista. O Soldado cidadão era aquele que melhor apresenta esse sistema.
AULA 02 – A republica das espadas: A consolidação da Republica e primeira ditadura militar
Introdução
Nesta aula você compreenderá a história da primeira ditadura militar brasileira, ou seja, os cinco primeiros anos de vida da República brasileira, quando o Exército governou o país. Esse período foi caracterizado pela instabilidade já que as instituições republicanas ainda não estavam plenamente consolidadas e havia de fato a possibilidade da restauração monárquica. Pretendemos explorar esse período na complexidade que lhe é própria, devolvendo os agentes à incerteza e instabilidade características dos primeiros anos de vida das instituições republicanas no Brasil.
História republicana
Apesar de o adesismo (adesão politica de forma interesseira) ter sido o fenômeno recorrente nessa fase inicial da nossa história republicana, não podemos esquecer que algumas importantes lideranças intelectuais e políticas se manifestaram contra os governos militares, sofrendo, por isso, a violenta repressão que caracterizou a atuação política desses militares. 
A análise apresentada nessa aula pretende evitar o tratamento do Exército como o detentor do poder ou uma instituição manipulada pelas elites civis. Ambas as abordagens simplificam a complexidade das alianças políticas construídas no período.
É inegável que os militares controlavam o Estado e conduziam os rumos da administração do Brasil. Porém, não há como negar que, mesmo estando desalojadas do poder executivo, as oligarquias cafeicultoras, particularmente a paulista, também exerceram grande influência nas políticas públicas e nas estratégias mobilizadas para a consolidação do regime republicano.
Nesse sentido, podemos dizer que a principal característica da República das Espadas foi à aliança entre as elites civis mais poderosas do Brasil e o Exército. Contudo, enquanto existiu, essa aliança foi frágil e conflituosa, o que ficou claro no momento em que Floriano Peixoto entregou o poder ao primeiro Presidente civil da República brasileira, o paulista Prudente de Morais. A partir de então, e até o começo do século XX, os militares florianistas não mais serias aliados dos civis, seriam, ao contrário, os seus principais inimigos, como veremos.
Os barões do café, elite da época, se sentiram prejudicados pela monarquia quando da assinatura da ‘Lei aurea’ e também se voltaram contra o regime monárquico.
Os difíceis primeiros anos de vida da República brasileira
Como vimos na aula anterior, com a exceção do incidente envolvendo o Barão de Ladário na tarde do dia 15 de novembro, o golpe militar que demitiu o gabinete ministerial chefiado pelo Visconde de Ouro Preto transcorreu sem resistência. Porém, os anos que se seguiriam, os primeiros da República, não seriam tão tranquilos...
A reorientação na política externa
As instituições ainda eram frágeis, a ausência do Poder Moderador e a resistência das lideranças monarquias transformaram os cinco primeiros anos da jovem República brasileira em um período conflituoso e particularmente violento.
Ao contrário do que era comum na Monarquia, o governo controlado pelo Exército mostrou-se pouco tolerantes com as oposições: jornais foram empastelados, lideranças foram assassinadas e presas.
A reorientação na política externa
O que estava em jogo nesse momento era o modelo político brasileiro e a imagem do País no mundo. A Inglaterra, que até então era a principal parceira econômica do Brasil, recebeu a novidade com algumas ressalvas, pois o Imperador D. Pedro II era muito estimado na Europa e a estabilidade do Estado monárquico era considerada uma qualidade que distinguia o Brasil dos países com os quais fazia fronteira.
Enfim, a imagem da República na Europa não era nada boa, o que dificultou bastante à concretização de contratos financeiros e a aquisição de empréstimos e financiamentos.
Analisando a documentação de época
Eduardo Prado foi um escritor paulista que se destacou na oposição aos governos republicanos. Em 30 de agosto de 1894, Eduardo Prado deu uma entrevista ao “Jornal do Comércio”, um importante periódico português sobre a situação política no Brasil aborando questões tais como a truculência dos militares, o jacobismo militar entre os jovens, criticas a Floriano e ao positivismo.
Se por um lado no Velho Mundo, a República era vista como um retrocesso político, na América, países como Argentina e EUA viam na mudança de regime a possibilidade de estreitar as relações diplomáticas com o Brasil.
O golpe militar republicano
O golpe militar republicano aconteceu quando era realizada nos EUA a I Conferência Internacional Americana, evento organizado pelo governo norte-americano visando aumentar os contatos com o restante do continente, enfraquecendo assim a influência europeia.
Imediatamente, o recém-empossado governo chefiado pelo Marechal Deodoro da Fonseca substituiu o representante brasileiro enviado ao congresso pelo governo monárquico por Salvador Mendonça, um republicano histórico que deu o pontapé inicial na nova política externa brasileira, muito mais americanista do que aquela desenvolvida ao longo do século XIX.
No calor dos acontecimentos
Uma das principais características do primeiro ano da República foi à intensidade dos negócios e da especulação financeira, tendo como consequência as vultosas emissões de dinheiro e a facilidade do crédito, sendo que várias empresas nasceram da noite para o dia, algumas eram fantasmas, e o resultado foi à elevação da inflação a índices altissimos.
No início de 1891, a crise de manifestou de forma mais clara com a derrubada nos preços das ações, a falência dos estabelecimentos bancários e de empresas. O valor da moeda brasileira, que era mensurado a partir do valor da libra inglesa, despencou. Esses foram os resultados do “Encilhamento” ― política econômica desenvolvida por Rui Barbosa (1849-1923), na época o Ministro da Economia do governo provisório de Deodoro da Fonseca. O objetivo de Rui Barbosa era fomentar a atividade industrial no Brasil, fazendo com que o país não dependesse tanto das atividades agrícolas.
Enquanto o governo provisório do Deodoro dava seus tropeços econômicos, os primeiros representantes eleitos sob a égide da República redigiam a nova constituição brasileira, que deveria substituir a carta monárquica de 1824.
Orientados por Rui Barbosa e tomando como modelo a constituição dos EUA, as novas leis introduziram importantes mudanças no sistema político do país, até então caracterizado pela centralização monárquica.
As principais determinações previstas na Nova Constituição
As principais determinações previstas na constituição dos Estados Unidos do Brasil foram à adoção da organização federativa (Estados com direitos de organizar força militar própria, constituir a justiça estadual e criar impostos), o pacto federativo (dever da União organizar as forçar armadas, regular a emissão de papel moeda e intervir nos governos estaduais quando a ordem republicana estivesse correndo perigo), a manutenção da separação entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário,cargo máximo da administração pública passava a ser o de Presidente da República (eleito majoritariamente através da votação direta, com a exceção do primeiro Presidente, que seria eleito de forma indireta pelo congresso), o corpo legislativo passava a ser formado pelo Congresso Nacional (Câmara e o Senado), o fim do padroado com a implantação do Estado Laico e o fim da exigência de renda mínima para a obtenção do direito ao voto. A constituição de 1891 não fortaleceu apenas o poder executivo, mas também o legislativo, com a adoção do presidencialismo ligao ao poder executivo e a força e ampla atuação do poder legislativo.
Governo de Deodoro da Fonseca e seu vice Floriano Peixoto
Em plena crise econômica provocada pelo fracasso do encilhamento, o Congresso formalizou o governo de Deodoro da Fonseca, sendo Floriano Peixoto (1839-1895), eleito, também de forma indireta, o Vice-Presidente. 
Apesar de ambos serem oficiais do Exército, havia grandes diferenças entre os modelos político/administrativo defendido pelo Presidente e pelo Vice-Presidente da República brasileira.
Floriano Peixoto Defendia uma proposta “jacobina” de República baseada no forte personalismo do líder e no diálogo direto com alguns setores da população urbana. Já Deodoro tinha convicções republicanas frágeis, o que provocava certa desconfiança por parte dos republicanos históricos, que temiam o alinhamento do Presidente com as lideranças monarquistas.
O conturbado governo do Marechal Floriano Peixoto
O governo de Floriano Peixoto foi extremamente conturbado. A situação não seria nada fácil para o vice-presidente da República, afinal a Constituição de 1891, versava em seu artigo 42 que no caso de vaga, da presidência ou vice-presidência, sem que houvesse decorrido pelo menos dois anos do mandato, deveriam ser convocadas novas eleições.
A primeira grande luta de Floriano seria para se manter no poder na medida em que a legitimidade de seu mandato era questionada por grupos políticos monarquistas adesistas, que exigiam a convocação de novas eleições.
Voltando ao calor dos acontecimentos...
As oligarquias que dominavam o poder legislativo apoiaram Floriano Peixoto na manutenção de seu mandato e na repressão à Revolução Federalista e à Revolta da Armada.
Esse apoio teve efeito ambíguo no governo do Marechal. Se por um lado foi fundamental para a manutenção das instituições republicanas, por outro fez com que Floriano ficasse preso na rede política das oligarquias.
Tal fato foi central para transição ao governo civil de Prudente de Morais. O Marechal não teve uma sólida base política que o apoiasse em seu projeto de continuar no poder.
Quando se dá a convenção do Partido Republicano, em 25 de setembro de 1893, que ratificou o nome de Prudente de Morais para a corrida presidencial, a rebelião da marinha já estava em pleno curso e Floriano Peixoto não poderia rejeitar o apoio da oligarquia paulista.
Revolta da armada e a Revolução Federalista
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelo governo do Marechal Floriano Peixoto certamente está a Revolta da Armada e a Revolução Federalista, ambas em 1893 e consistiram em movimentos de contestação do Marechal Floriano, que contou com o apoio irrestrito do Congresso, na época controlado pelas oligarquias regionais.
De fato houve a participação de lideranças monarquistas nessas revoltas. Ainda nesse momento, havia quem acreditasse ser possível a restauração do regime deposto pelo golpe militar de novembro de 1889.
Entre esses líderes, destacam-se os nomes do já citado Eduardo Prado, principal intelectual monarquista em atuação nos primeiros anos da República, e Carlos de Laet.
Porém, o verdadeiro potencial restaurador desses movimentos foi exagerado pelo governo militar e utilizado como elemento legitimador da repressão contra as manifestações da oposição.
Após fraudes escandalosas em duas eleições e uma sucessão de assassinatos políticos, Júlio de Castilhos assumiu a presidência desse Estado em janeiro de 1893. Poucos dias depois, os adversários políticos do novo governante organizaram um movimento armado que tinha o objetivo de depor Castilhos.
Guerra Civil
Começou nesse momento a Guerra Civil, que colocou frente a frente às forças do governo e da oposição com liderança federalista de Gaspar Silveira Martins, contrária à centralização do Estado e ao cerceamento da liberdade administrativa do Estado.
Portanto, a oposição ao governo de Júlio de Castilho era heterogênea demais, tornando, assim, a sua principal fraqueza. Por outro lado, os castilhistas possuíam uma agenda muito clara e coesa. Eram positivistas de vontade férrea que fechavam colunas sólidas e ainda contava com o apoio do governo presidido pelo Marechal Floriano.
A guerra durou 31 meses e se estendeu por mais três Estados fronteiriços, teve como resultados a vitória dos castilhistas e a morte de muitos por degola. Esse foi o momento em que a violência do governo do Marechal Floriano ficou mais evidente.
Segunda Revolta da armada
A Segunda Revolta da Armada foi promovida por setores da Marinha e liderada pelo contra-almirante Custódio José de Melo. Os revoltosos não possuíam um programa definido e se manifestavam contra a corrupção e a inconstitucionalidade do governo do Marechal Floriano.  
O movimento jamais assumiu a sua identidade monarquista, apesar de ter sido incentivado por líderes relacionados ao regime deposto.
A Revolta da Armada foi debelada ainda em 1893, quando o governo fez um acordo, com ajuda do governo português, com os líderes revoltosos, que foram exilados.
Seria um navio oficial da Marinha portuguesa o responsável por transportar esses homens. Porém, os revoltosos foram desembarcados no Rio Grande do Sul, onde se integraram às tropas comandadas por Silveira Martins. O governo do Marechal Floriano considerou o fato uma traição e rompeu relações diplomáticas com Portugal. 
Consolidação das instituições republicanas
Realmente, o governo do Marechal Floriano Peixoto parece ter cumprido o seu objetivo: desmobilizar as oposições e consolidar definitivamente as instituições republicanas, praticamente excluindo a possibilidade da restauração da Monarquia.
Para as elites civis, com destaque para a oligarquia paulista, a necessidade passava a ser outra: desmilitarizar a república. Pois, esses grupos acreditavam que os militares já haviam cumprido seu papel.
Porém, para alguns setores do Exército, aqueles identificados com a liderança de Floriano Peixoto, a República ainda corria risco e os civis não tinham condições morais de assumir o controle do país.
Foi nesse momento, na segunda metade do ano de 1894, que a aliança entre os militares florianistas e as oligarquias civis mostrou a sua fragilidade.
A última semana de governo do Marechal Floriano, que marcou também as festividades do quinto aniversário da República e a posse de Prudente de Morais,  deixou evidente que a partir de então a história política do Brasil seria caracterizada por outro conflito:
Deixava de ser Monarquistas X Republicanos para se tornar Militares Florianistas X Governo Civil
Governo de Prudente de Morais e seu vice Manoel Vitorino
Em 1° de março foram realizadas as eleições presidenciais destinadas a definir o sucessor de Floriano Peixoto. O resultado confirmou o controle da máquina eleitoral pela oligarquia paulista.
Prudente de Morais e Manoel Vitorino foram eleitos Presidente e Vice-Presidente da República. Aproximava-se, então, o momento da transferência do poder para os civis.  Entretanto, os militares não voltariam ao quartel de forma tranquila.  
Se por um lado a cúpula florianista declinou aos anseios jacobinos por um movimento militar que mantivesse a ditadura, por outro, não entregou o poder aos civis sem antes encenar simbolicamente a sua insatisfação.
A ausência de um golpe militar em prol de Floriano não significa que a transição da “República das espadas” para a “República das casacas” tenha acontecido harmonicamente.O Marechal Floriano estava preso à teia política construída pela oligarquia paulista, que lhe deu apoio irrestrito nos momentos mais críticos do seu governo, e sabia bem das poucas possibilidades de sucesso de um golpe militar continuísta.
Porém, o Presidente Militar fez questão de deixar clara a sua insatisfação e não compareceu aos rituais cívicos destinados a marcar a posse do novo chefe de Estado. Quebrando completamente o protocolo, não comparecendo à posse do seu sucessor.
Estava feito! Em 15 de novembro de 1894, quando a República comemorava o seu quinto aniversário, o paulista Prudente de Morais assumiu a chefia do Estado brasileiro.  
Finalmente, o projeto da oligarquia paulista que estava sendo idealizado desde a década de 1870 era concretizado: o grupo mais rico do Brasil agora controlava também o governo do país. Entretanto, a vida dos primeiros governos civis não seria nada fácil. 
RELEMBRANDO
1 – Durante o século XIX, costumava-se dizer que o Brasil tinha uma "vocação agrícola". Houve nos primeiros anos da República a tentativa de modificar essa vocação através de medidas economicas. O Encilhamento de Rui Barbosa apresenta o nome com o qual ficou conhecida essa tentativa. 
2 – Durante o governo do Marechal Deodoro da Fonseca, havia quem desconfiasse das convicções políticas do Presidente. O Golpe foi o evento que mostrou que essas desconfianças tinham de fato fundamento.
3 – Apesar de ter sido caracterizada pela desconfiança recíproca, a aliança entre o governo do Marechal Floriano Peixoto e as elites civis foi fundamental para a consolidação das instituições republicanas. Em 1890 — Quando as oligarquias fecharam voluntariamente o congresso e deram carta branca ao governo do Marechal Floriano para reprimir a ações monarquistas apresenta o momento em que essa aliança ficou mais nítida.
AULA 03 – 30/08/2013 – Os primeiros governos civis e a pacificação dos militares (1894-1902)
Introdução
O dia 15 de novembro de 1894 é um momento de transição na história dos primeiros anos de vida da República brasileira. Quando o paulista Prudente de Morais assumiu o governo do Brasil, começou a ser posto em prática um projeto de saneamento político e econômico do país. Os novos governantes acreditavam que já era o momento de a República navegar em águas mais tranquilas; as oposições monarquistas já haviam sido silenciadas, e as novas instituições já estavam consolidadas. Para isso, havia sido fundamental a atuação política do Exército, particularmente do governo do Marechal Floriano Peixoto. Contudo, apesar de reconhecer a importância da administração militar para o novo regime, os governos civis acreditavam que o Brasil precisava se apresentar perante a opinião pública internacional como um país estável. Isso não seria possível se a República continuasse a ser comandada por uma ditadura militar. Enfim, havia o consenso entre as oligarquias agrárias, destacando-se a paulista, de que os militares precisavam ser reconduzidos ao quartel. Temos aqui a reconfiguração dos conflitos políticos que até então caracterizavam a história da República brasileira: não mais monarquistas x governo militar, mas sim governo civil x jacobinos. Examinar a dinâmica desse conflito e as bases do governo oligárquico fundado no período de 1894 a 1902 é o principal objetivo desta aula.
O grande projeto idealizado
Tanto as palavras de Prudente de Morais quanto às de Jacques Ourique referentes à indesejável presença no poder dos militares são fundamentais na medida em que traduzem aquele que foi o grande projeto idealizado pelo grupo político que assumiu a Presidência da República brasileira em novembro de 1894. 
Ambos acreditavam que a República já estava consolidada; realmente os monarquistas inconformados foram desmobilizados pela violenta repressão desenvolvida pela ditadura florianista.
O marechal Floriano encarnava uma visão da República não identificada com as forças econômicas dominantes. Pensava construir um governo estável, centralizado, vagamente nacionalista, baseado, sobretudo no exército e na mocidade das escolas civis e militares. Essa visão chocava-se com a da chamada "República dos Fazendeiros", liberal e descentralizada, que via com suspeitas o reforço do Exército e as manifestações da população urbana do Rio de Janeiro.
Floriano Peixoto, em seus três anos de governo como presidente enfrentou a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, iniciada em fevereiro de 1893. Ao atacá-la, apoiou Júlio Prates de Castilhos. O apelido de "Marechal de Ferro" se popularizou devido à força com que o presidente suprimiu tanto a "Revolução" Federalista, que ocorreu na cidade de Desterro (atual Florianópolis), como a Segunda Revolta da Armada.
O culto à personalidade de Floriano – o florianismo – foi o precursor dos demais "ismos" da política do Brasil: o getulismo, o ademarismo, o janismo, o brizolismo, o malufismo e o lulismo.
Prudente José de Moraes Barros
Prudente de Morais, sucessor de Floriano Peixoto, reconheceu a importância da “coragem, a pertinácia e a dedicação do benemérito marechal” para a consolidação das novas instituições. Contudo, ao mesmo tempo em que o primeiro presidente civil manifestou publicamente sua gratidão a seu antecessor, deixou claro qual seria o principal desafio dos civis, que, ligados diretamente aos interesses das oligarquias cafeicultoras, controlariam a partir de então, e até 1930, os rumos da República brasileira: pacificar a conduta política do Exército e reconduzir os militares à caserna, retirando-os da arena política.
Escola Militar da Praia Vermelha
O novo diretor da Escola Militar da Praia Vermelha, General Jacques Ourique, assumiu o comando da instituição de ensino militar e deixou claro, desde o início, que era fiel ao novo governo e iniciou um programa de disciplinarização da conduta política dos alunos da Escola Militar, a que o General Teixeira Jr., diretor da escola no quadriênio Campos Sales, deu prosseguimento. 
Esse empreendimento não se mostrou bem-sucedido, visto que, depois de anos de indisciplina, a escola foi fechada em 1904, após o envolvimento de seus alunos na Revolta da Vacina (Carvalho, 1987).
A Revolta da Vacina foi uma revolta popular ocorrida na cidade do Rio de Janeiro entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904. Ocorreram vários conflitos urbanos violentos entre populares e forças do governo (policiais e militares).
 
A principal causa foi à campanha de vacinação obrigatória contra a varíola, realizada pelo governo brasileiro e comandada pelo médico sanitarista Dr. Oswaldo Cruz. A grande maioria da população não conheciam o funcionamento de uma vacina e seus efeitos positivos. Logo, não queriam tomar a vacina.
 
O clima de descontentamento popular com outras medidas tomadas pelo governo federal, que afetaram principalmente as pessoas mais pobres. Entre estas medidas, podemos destacar a reforma urbana da cidade do Rio de Janeiro (então capital do Brasil), que desalojou milhares de pessoas para que cortiços e habitações populares fossem colocados abaixo para a construção de avenidas, jardins e edifícios mais modernos.
Desenvolvimento do projeto político
O desenvolvimento do projeto político esteve longe de ser harmônico. Prudente de Morais administrou as Forças Armadas de forma completamente diferente de como havia feito Floriano Peixoto. 
O primeiro presidente civil da República brasileira reduziu os efetivos do Exército, prestigiou a brigada policial, dando-lhe o caráter de força de segurança privada, promoveu oficiais contrários à participação castrense na política e negou promoções aos que dela participavam. 
Isso desagradou profundamente os jacobinos que foram a principal base de apoio popular a Floriano Peixoto, e gerou atritos constantes entre eles e o governo civil.
Sucessão presidencial
Como vimos, um acordo tático entre Floriano e a elite política de São Paulo determinou os rumos da sucessão presidencial. Dispondo de poucas bases de apoio, entre as quais se encontravamos jacobinos, Floriano não teve força política para indicar seu sucessor, que, muito provavelmente, seria o General Moreira César. 
Prevaleceu assim o nome do paulista Prudente de Morais, eleito em 1º de março de 1894. O marechal demonstrou sua contrariedade não comparecendo à posse.
A sucessão presidencial marcou o fim da presença do Exército na presidência da primeira República, com exceção do Marechal Hermes da Fonseca. Além disso, a atividade política dos militares como um todo declinou. 
O clube militar, que coordenava essas atividades, ficou fechado entre 1896 e 1901. Nos governos de Prudente de Morais e Campos Sales, radicalizou-se a animosidade entre as oligarquias civis e o republicanismo militar dos jacobinos, concentrados no Rio de Janeiro.
A ação urbana dos jacobinos era organizada pelos alunos da Escola Militar da Praia Vermelha, a “mocidade militar”, como falavam os contemporâneos. A imprensa da época é repleta de notícias a respeito dos meetings promovidos pelos jovens alunos.
Eduardo Prado - um dos principais adversários políticos da ditadura florianista
Eduardo Prado, um dos principais adversários políticos da ditadura florianista, criticou a enorme influência de Floriano Peixoto entre os estudantes da Escola Militar. 
Mesmo após sua morte, em junho de 1895, Floriano continuou sendo muito estimado pelos alunos da Escola Militar. A litografia do marechal era presença obrigatória nas manifestações que eles organizavam. Logo após sua chegada à Europa, o escritor paulista, na condição de foragido político, deu uma entrevista ao periódico português Jornal do Comércio. 
Publicada entre 4 e 11 de dezembro de 1894 no jornal jacobino A Bomba, nessa entrevista o escritor criticou violentamente o governo de Floriano Peixoto, acusando o marechal de ter “contaminado a mocidade da escola militar com seu jacobinismo rubro (...)”.
Recepcionando o regimento de cavalaria
O interesse do governo em se aproximar do Exército ficou claro em 27 de janeiro de 1895, quando o primeiro regimento de cavalaria retornou de Santa Catarina, onde lutara por dez meses contra os federalistas. 
Em carta ao Ministro da Guerra, General Bernardo Vasques, Prudente de Morais solicitou a organização de uma grande festa para receber o regimento comandado pelo Coronel Martinho da Silva. O ministro da Guerra atendeu ao pedido do presidente da República e uma grande festa foi organizada para recepcionar o regimento de cavalaria. 
Os militares chegaram ao porto conduzido por embarcações do arsenal de guerra e foram ovacionados por uma multidão na praça XV de Novembro, onde uma banda do Exército tocou músicas militares. 
O projeto de desmilitarização da política nacional não foi idealizado e efetivado apenas pelos governos civis; contou com a colaboração de segmentos do próprio Exército, destacando-se aí nomes como Jacques Ourique e Nepomuceno Mallet.
Arraial de Canudos
Não foi somente o jacobinismo dos alunos da Escola Militar que criou dificuldades ao governo de Prudente de Morais, poia desde meados de 1893, formava-se no sertão norte da Bahia, em uma fazenda abandonada, uma povoação conhecida como “Arraial de Canudos”. 
Seu líder era Antônio Vicente Mendes Maciel, mais conhecido como Antônio Conselheiro. Vamos examinar a Revolta de Canudos mais detidamente na próxima aula.
Antônio Vicente Mendes Maciel, mais conhecido na História do Brasil como Antônio Conselheiro, que se autodenominava "o peregrino", foi um líder religioso brasileiro.
Figura carismática, ele adquiriu uma dimensão messiânica ao liderar o arraial de Canudos que atraiu milhares de sertanejos, entre camponeses, índios e escravos recém-libertos, e que foi destruído pelo Exército da República na chamada Guerra de Canudos em 1897.
A imprensa dos primeiros anos da República e muitos historiadores, para justificar o genocídio, retrataram-no como louco, fanático religioso e contrarrevolucionário monarquista. A posição e formação das casas no arraial de Canudos foram importantes para o uso defensivo deste local na revolta.
Desafios no Governo Campos Salles
Apesar do esforço empreendido, Prudente de Morais não conseguiu entregar a seu sucessor, o também paulista Campos Sales, uma República pacificada. 
Eleito em 1º de março de 1898, quando derrotou Lauro Sodré, candidato do PRF, que contou com o apoio dos jacobinos, Campos Sales herdou um cenário de grave crise econômica e de grande instabilidade política. 
O principal desafio para o novo presidente foi à consolidação da hegemonia das oligarquias cafeicultoras. Para tal, era imprescindível dar continuidade ao projeto de pacificação da conduta política dos militares iniciado no governo de Prudente de Morais.
Se a devassa promovida pelo governo anterior havia desmobilizado os clubes jacobinos, os alunos da Escola Militar da Praia Vermelha continuaram se manifestando contra a liderança política dos civis. 
Os conflitos entre a mocidade militar e as forças do governo foram constantes também no governo de Campos Sales. Por isso, o presidente da República, contando com a fidelidade de setores do oficialato do Exército, prosseguiu tentando controlar as ações dos estudantes militares e enfraquecer a influência do jacobinismo florianista entre eles.
O Governo de Campos Sales e a restruturação econômica
O governo de Campos Sales (1898-1902) promoveu a consolidação da República liberal-oligárquica. Após grandes esforços, a elite política dos grandes estados triunfou. 
Para tanto, o Presidente Campos Sales precisou reestruturar a economia, em crise desde os últimos anos da monarquia, e estabilizar a política, sobretudo naquilo que se referia à participação dos militares. 
No plano financeiro, o governo republicano herdara do Império uma dívida externa que consumia grande parte do saldo da balança comercial. O quadro se agravou ao longo da década de 1890, com o aumento do déficit público.
O apelo ao crédito internacional foi utilizado com frequência, e a dívida cresceu aproximadamente 30% entre 1890 e 1897, gerando novos compromissos de pagamento. 
Em junho de 1898, foi acertado o penoso funding loan, resultando em novos empréstimos destinados ao pagamento dos juros do montante dos empréstimos anteriores.
O Brasil deu em garantia aos credores as rendas da Alfândega do Rio de Janeiro e ficou proibido de contrair novos empréstimos até junho de 1901 e comprometeu-se ainda a cumprir um programa de austeridade econômica caracterizado pelo corte dos gastos públicos. Esse pacote econômico se tornou bastante impopular e comprometeu a imagem do governo perante a sociedade.
O Governo Campos Sales e as estratégias políticas
O governo de Campos Sales foi marcado pela criação de uma estratégia política destinada a dificultar a atuação das oposições no Congresso Nacional. 
A enorme importância atribuída aos estados provocou conflitos entre facções locais. O governo federal aí intervinha, usando de seus poderes. Isso tornava incerto o controle do poder central em alguns estados e reduzia as possibilidades de um acerto entre estes e a União. Diante disso, Campos Sales idealizou um arranjo político conhecido como “política dos governadores”.
Por meio de uma alteração artificiosa do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, assegurou-se que a representação parlamentar de cada Estado corresponderia ao grupo regional dominante. Ao mesmo tempo, garantiu-se maior subordinação da Câmara ao Poder Executivo. 
O propósito da política dos governadores, apenas em parte alcançado, foi eliminar as disputas entre as facções nos estados, reforçar o Poder Executivo e inaugurar a “rotinização do poder” na Primeira República.
Campos Sales e seus aliados entenderam bem que a origem da instabilidade política não estava na ordem jurídica, mas sim na dificuldade dos governos em garantir o respeito à sua autoridade e à ordem constituída. Por isso, o governo desse presidente desenvolveu a “política dos governadores”. Tratou-se de um acordo entre o presidente daRepública e os presidentes dos estados, que hoje corresponderiam aos governadores. 
Em termos gerais, o governo central dava ampla autonomia aos governos estaduais, que, por sua vez, ajudavam a controlar as eleições legislativas, fazendo com que apenas candidatos da base de apoio chegassem ao Congresso Nacional. 
Na falta de uma justiça eleitoral autônoma, quem reconhecia os diplomas dos candidatos eleitos era a própria Câmara, o que era feito de acordo com os interesses do governo federal.
Campos Sales e à administração militar
Naquilo que se refere à administração militar, Campos Sales enfrentou os mesmos problemas que caracterizaram o governo de Prudente de Morais: o conflito com militares exaltados, especificamente os alunos da Escola Militar da Praia Vermelha. 
 
A mocidade militar continuou a promover dificuldades ao governo civil. Eram comuns os conflitos entre a brigada policial e setores legalistas do Exército contra os estudantes. Campos Sales trocou o comando do Ministério da Guerra e da Escola Militar da Praia Vermelha. O prédio da Escola Militar foi demolido por estar em precárias condições após ser duramente bombardeado durante uma revolta em 1935 e substituída pela atual Instituto Militar de Engenharia.
Voltando ao tema, segundo o jornal Gazeta de Notícias, de 23 de maio de 1898, a troca foi motivada porque Campos Sales considerou “infrutífero o que até então havia sido feito para controlar os ânimos dos militares subversivos”. A mocidade militar continuou a ser controlada de perto, e suas manifestações eram violentamente combatidas, sobretudo aquelas realizadas no dia 29 de junho, aniversário de morte de Floriano Peixoto. 
Término do mandato de Campos Sales
Campos Sales passou a faixa presidencial em 1902 ao também paulista Rodrigues Alves (1848-1919) com a certeza de que a República navegava em águas mais tranquilas e começava a viver um período de estabilidade e de relativa prosperidade, que era baseada na agroexportação de café. 
Tal estabilidade, porém, não resultou na ausência de contestações por parte da população mais pobre, até então excluída dos mecanismos formais de participação política. 
RELEMBRANDO
1 – Entre as opções a seguir, melhor traduz a proposta da "política dos governadores" o acordo entre os governos centrais e estaduais para controlar o Poder Legislativo.
2 – Considerando as opções a seguir, melhor apresenta o principal conflito político travado no período dos governos de Prudente de Morais e Campos Sales a disputa entre Governo civil x militares jacobinizados.
3 – O maior desafio dos dois primeiros governos civis foi mostrar, para a opinião pública internacional, que o Brasil era governado de forma democrática. Para isso, foi necessário Pacificar a conduta política dos militares, reconduzindo-os aos quartéis.
AULA 04 – 30/08/2013 – Do messianismo de Canudos ao moralismo popular, RJ (1897-1904)
Introdução
De acordo com o historiador José Murilo de Carvalho ― autor dos importantes livros Os bestializados e A formação das almas, no qual analisa os primeiros anos de vida da República brasileira ―, nossa experiência republicana destoou do conceito tradicional de res publica, baseado no princípio das liberdades públicas e no primado da participação popular formal nos assuntos políticos. Para o autor, a República brasileira, em vez de estimular a participação popular, restringiu-a, representando por isso um retrocesso em relação à monarquia naquilo que se refere às práticas políticas democráticas. Carvalho acreditava que, em 1881, quando o Brasil ainda era governado pelo regime monárquico, foi estabelecido um mecanismo jurídico que se tornou fundamental para a futura restrição do eleitorado a uma parcela irrisória da população brasileira: a exigência da alfabetização para o pleno exercício do voto. Uma restrição dessa natureza contribuiu bastante para diminuir ainda mais o tamanho da população eleitoralmente ativa. Como os primeiros governos republicanos não se preocuparam em resolver esse problema, o novo regime aprofundou ainda mais as diferenças ― já observadas durante grande parte do século XIX ― entre o “Brasil real” e o “Brasil representado” no voto. Era como se os resultados das eleições não traduzissem a verdadeira opinião popular, mas sim a dinâmica dos acordos e das negociatas daqueles que controlavam as altas esferas do poder político. No entanto, seria um erro supor que tal fato significou que os setores mais populares, justamente aqueles que não conseguiam se manifestar por meio do voto, eram indiferentes às ações do Estado republicano ou destituídos de capacidade de influência política. Fazê-lo significaria propor uma concepção bastante estreita de participação política, como se isso se resumisse apenas à formalidade dos rituais eleitorais. É exatamente esse o aspecto central da reflexão desenvolvida por Carvalho. O autor afirma que, na República, os setores mais pobres encontraram mecanismos alternativos de participação política, extrapolando as vias formais e se fazendo ouvir por meio da revolta e do tumulto. O tema desta aula são justamente esses mecanismos não formais de participação política, destacando-se a Guerra de Canudos (1897) e a Revolta da Vacina (1904). Nesses eventos, precisamos ver algo além de simples radicalismo religioso ou ignorância popular. Precisamos ver exemplos de participação política; tudo bem que fora dos canais formais, mas nem por isso menos participativa e influente.
Perspectiva: João do Rio
O escritor Paulo Barreto, mais conhecido como João do Rio, foi um dos principais cronistas em ação no Rio de Janeiro nos primeiros anos do século XX. Na obra de João do Rio, a cidade não é apenas o espaço físico a sofrer as transformações resultantes das mudanças políticas e da modernização.
No conto “Os tatuadores”, João do Rio afirma: 
 
Para o cronista, as tatuagens nos corpos dos populares que vagavam pelas ruas do Rio de Janeiro nos primeiros anos do século XX mostravam que, pelo menos no imaginário popular, a monarquia ainda levava vantagem sobre a República.
Perspectiva: José Murilo de Carvalho
A dificuldade encontrada pelos primeiros governantes republicanos para sensibilizar o imaginário popular também foi diagnosticada por José Murilo de Carvalho.
Para Carvalho, Tiradentes, ao contrário de outros candidatos a herói oficial ― como Floriano Peixoto, Benjamin Constant, Deodoro da Fonseca, Bento Gonçalves e Frei Caneca ―, não tinha sua imagem atrelada nem ao separatismo nem ao militarismo. Pelo contrário, o mito Tiradentes, que começou a ser construído ainda na década de 1880, estava diretamente relacionado à inconfidência mineira, um acontecimento libertário e civil.
Para quem a consolidação da República não teria sido completa sem um projeto simbólico destinado a justificar o regime, se não perante a totalidade da população, pelo menos diante de setores politicamente mobilizados. Segundo Carvalho, os primeiros anos do novo regime foram marcados por disputas pelo controle da simbologia oficial republicana.
Carvalho destaca ainda os esforços dos primeiros governos republicanos para criar uma simbologia oficial para o novo regime. Para o autor, a tradição popular foi importante tanto na escolha do hino quanto na escolha da bandeira da jovem República, o que demonstra que o regime não esteve indiferente à opinião popular e tentou conquistar a adesão dos mais pobres.
Sobre o termo “bestializar”
Analisando os primeiros anos de vida da República brasileira, é possível propor a revisão do adjetivo “bestializado”.
Para esse propagandista, o povo, que deveria ser o protagonista na cena política do regime republicano, assistiu bestializado, ao nascimento do novo regime, chegando mesmo a confundir a movimentação golpista liderada pelo Marechal Deodoro Fonseca com um desfile militar.
Em Os bestializados, Carvalho afirma que os diagnósticos críticos de Couty e Aristides Lobo traduzem apenas uma concepção de participação política, justamente aquela consideradaideal pela tradição ocidental. Com essa concepção, a participação política deveria envolver o ativismo popular manifestado no voto consciente e na organização partidária.
O autor acredita, porém, que essa é apenas uma forma de pensar as relações entre o governo e a sociedade. Há outras, e, para José Murilo de Carvalho, os anos iniciais da história da República brasileira podem nos fazer refletir sobre a complexidade de termos como ativismo popular e participação política.
Positivação do tumulto popular
A República brasileira, segundo Carvalho, teria sido diferente; teria sido marcada por outras modalidades de ativismo popular e participação política. O autor José Murilo de Carvalho crê que as relações entre o Estado e a sociedade precisam ser vistas como uma via de mão dupla, que não é obrigatoriamente equilibrada.
De acordo com essa interpretação, o “povo” brasileiro dos anos finais do século XIX e dos primeiros anos do século XX não precisa ser visto obrigatoriamente como uma massa acéfala facilmente manipulada pelos detentores do poder.
É possível, sim, ver esse “povo” como uma comunidade política ativa e participativa que soube muito bem se fazer ouvir, tentando limitar as ações do Estado republicano sempre que essas pareceram evasivas demais. Tudo bem que o “povo” brasileiro agiu de forma bem peculiar, mostrando que a “participação política” não se esgota na ação eleitoral e no associativismo voluntário tão prezado pela tradição republicana ocidental. Assim, o que propomos nesta aula é a positivação do tumulto popular.
Quando falamos em “positivação do tumulto”, queremos dizer que a manifestação popular não é motivada pela falta de instrução, de educação ou de valores civilizatórios, mas sim pela presença de uma insatisfação que se torna forte o bastante para provocar a mobilização coletiva. É nessa chave interpretativa que trataremos a Guerra de Canudos (1897) e a Revolta da Vacina (1904).
A Revolta de Canudos (1897)
De acordo com o historiador Douglas Teixeira Monteiro (2006), desde meados de 1893, formava-se no sertão norte da Bahia, em uma fazenda abandonada, uma povoação conhecida como “Arraial de Canudos”.
Seu líder era Antônio Conselheiro. Com o passar dos anos, Canudos se tornou uma sociedade alternativa, e o poder de Conselheiro um desafio às autoridades republicanas (Monteiro, 2006). Os seguidores de Conselheiro foram se tornando uma ameaça à credibilidade do governo de Prudente de Morais.
No Rio de Janeiro, os jacobinos afirmavam que os sertanejos de Canudos contavam com o apoio logístico da família real, especialmente do Conde d’Eu, e tramavam a restauração da monarquia. O movimento liderado por Conselheiro surgiu em um contexto social marcado pela crise e pelas mudanças nas relações entre a Igreja católica e o poder público.
Laicização do Estado
Entre todas as mudanças destacadas por Monteiro, certamente a mais importante foi à institucionalização do Estado laico, que pôs fim ao padroado, que na monarquia definia a Igreja católica como uma instituição indiferenciada do Estado brasileiro. De acordo com a Constituição republicana de 1891, o Brasil se tornava um Estado laico, no qual inexistia qualquer religião oficial, sendo o culto definido como assunto de foro pessoal.
Estado laico
As relações entre o Estado e Igreja católica no Brasil foram herdadas de Portugal. Como gratidão pelo emprenho do português na reconquista cristã da Península Ibérica e na expulsão dos mouros, Roma concedeu o padroado ao governo desse país. 
A convivência entre o Estado brasileiro e a autoridade católica foi relativamente pacífica até 1846, quando Pio IX, que ficou conhecido como o mais reacionário e ultramontano dos papas, iniciou uma campanha destinada a limitar as ingerências dos governos nos assuntos religiosos. Esse projeto ficou ainda mais claro em 1864, quando o Papa mandou publicar a encíclica Quanta cura, que tinha como anexo o Syllabus, que rejeitava a supremacia da lei civil sobre o direito eclesiástico e criticava duramente os maçons. 
No Brasil, o Syllabus teve efeito explosivo e motivou, em 1872, ações contrarias aos maçons das irmandades religiosas, lançando sobre eles um interdito que lhes proibia o culto. As irmandades maçônicas questionaram juridicamente a determinação dos bispos afirmando que a legislação romana não era válida no Brasil. 
Após muita polêmica e várias tentativas de negociação, o Conselho de Estado deliberou contra os bispos afirmando que eles haviam extrapolado a legislação brasileira ao colocarem em prática as determinações romanas sem o consentimento prévio do governo. Os bispos se recusaram a se retratar e foram presos em 1874. Esse episódio ficou conhecido como “Questão Religiosa”.
Retomando, a laicização do Estado foi vista com bons olhos tanto por setores do poder público quanto por membros da hierarquia eclesiástica que desejavam ter mais autonomia em suas ações. Nas regiões do interior do Brasil, porém, o fim do padroado foi considerado uma afronta aos desígnios divinos. Nesses lugares, a República passou a ser vista como um regime herético, infame e contrário à religião.
Em seu apogeu, o Arraial de Canudos chegou a contar com 20 mil habitantes e foi visto tanto pelas autoridades políticas locais quanto pelo governo do Rio de Janeiro como um movimento religioso formado por fanáticos que lutavam pela restauração da monarquia. Vamos analisar a documentação da época? 
Voltando ao calor dos acontecimentos
Moreira César, representante do governo na questão de Canudos, não retornaria. Surpreendentemente aquele que era visto pelos jacobinos como o sucessor de Floriano Peixoto, pereceu em combate na madrugada de 4 de março de 1897, o que acabou por gerar agitação na capital da República; redações de jornais foram incendiadas, lojas depredadas, e casas de monarquistas invadidas.
O proprietário dos jornais Liberdade e Gazeta da Tarde, o Coronel Gentil de Castro, teve sua casa saqueada pelos manifestantes. Quando tentava fugir da cidade, ao lado do Visconde de Ouro Preto, foi trucidado a socos, pontapés e punhaladas por um grupo de aproximadamente trinta jacobinos na estação de São Francisco Xavier.
Como mostram tanto a documentação de época quanto a bibliografia especializada, a repercussão de Canudos ultrapassou, e muito, as fronteiras do Estado baiano, chegando a ser um importante elemento nas disputas políticas que então movimentavam a capital da República.
A Revolta da Vacina (1904)
De acordo com José Murilo de Carvalho, a cidade do Rio de Janeiro sentiu de modo particularmente intenso as mudanças provocadas pelo advento da República. 
É exatamente na conjuntura dessas mudanças e nas políticas públicas modernizantes desenvolvidas pelos governos republicanos que propomos a análise da Revolta da Vacina. A primeira grande mudança foi de natureza demográfica:
A abolição lançou o restante da mão de obra escrava no mercado de trabalho livre e engrossou o contingente de subempregados e desempregados. Além disso, provocou um êxodo para a cidade proveniente da região cafeeira do estado do Rio e um aumento na imigração estrangeira, especialmente de portugueses (Carvalho, 1987, p. 16).
Com o aumento da população, os velhos problemas de água e de saúde pública se tornaram ainda mais graves. Fora isso, o autor destaca também a dinâmica da circulação de ideias e de valores políticos na capital da República:
“Liberalismo, positivismo, socialismo e anarquismo misturavam-se e combinavam-se das maneiras mais esdrúxulas na boca e na pena das pessoas mais inesperadas” (Carvalho, 1987, p. 42). 
O direito político não era considerado um direito natural, mas sim uma concessão da sociedade àqueles que ela considerasse merecedores, e o voto não eram visto como um direito, mas sim um dever social, uma responsabilidade daqueles que eram capazes de manter a harmonia social.
Apesar de ter sido motivada por um único estopim, a obrigatoriedade da vacina, a Revolta de 1904 foi fragmentada e envolveu umamplo leque de interesses. Podemos ver, nesse evento, os seguintes grupos e motivações:
Os setores mais pobres da população carioca que moravam na região central da cidade e tiveram suas moradias destruídas pela política sanitária do Dr. Oswaldo Cruz. A insatisfação dessas pessoas era motivada tanto pela revolta de terem sido desalojadas de suas casas quanto pelo moralismo conservador que considerava o corpo, sobretudo o feminino, inviolável.
Os jacobinos positivistas e florianistas liderados por Lauro Sodré e Barbosa Lima. Como vimos na última aula, esses grupos representavam a principal oposição ao governo das oligarquias civis. Representados também pelos alunos da Escola Militar da Praia Vermelha, os jacobinos viram, na Revolta da Vacina, a chance de restabelecer a ditadura positivista.
Durante cinco dias, a região central da capital federal ficou em pé de guerra. Podemos ver, nessa manifestação popular, uma ação política na qual a sociedade civil tentou limitar a ação do governo. Para José Murilo de Carvalho, o povo carioca, definitivamente, não era bestializado.
RELEMBRADO
1 – A miséria dos sertanejos e a crítica ao Estado laico é uma das principais motivações da Guerra de Canudos (1897).
2 – A modernização excludente do governo republicano e a vacinação obrigatória são as motivações da Revolta da Vacina (1904).
3 – Revolta da Vacina foi um movimento popular provocado por um projeto de modernização e estimulado pelo moralismo a respeito da inviolabilidade do corpo feminino presenta a interpretação proposta por José Murilo de Carvalho a respeito da.
AULA 05 – 13/09/2013 – A relativa eficiência de um eficaz mecanismo de dominação politica (1902-1922)
Introdução
Como vimos na última aula, foi no quadriênio do governo Campos Sales (1898-1902) que se desenvolveu um mecanismo de dominação política capaz de fazer aquilo que era feito pelo Poder Moderador nos tempos da monarquia: arbitrar conflitos políticos e conferir certa estabilidade às instituições. Esse foi o grande mérito da “política dos governadores”, ou “política dos estados”, como se costumava dizer na época. Ao articular o coronelismo e a comissão verificadora das eleições, essa política se mostrou capaz de controlar a constituição do Poder Legislativo, tornando-o alinhado com a presidência da República. Podemos dizer, assim, que, a partir da formulação dessa estratégia de dominação, a República brasileira entrou em um período relativamente estável e marcado por aquilo que o historiador Renato Lessa chamou de “rotinização do poder”, no qual as oligarquias diretamente relacionadas à agroexportação de café, destacando-se aqui a mineira e a paulista, se transformaram, para utilizar os termos de Raymundo Faoro, em os “donos do poder”. É claro que, por mais eficaz que tenha sido o modelo da “política dos governadores”, não é possível dizer que ele esteve completamente imune às crises. Pontualmente, ao longo dos anos que compreendem o recorte cronológico analisado nesta nossa quinta aula, é possível observar algumas crises no coração do pacto oligárquico hegemônico que pontualmente desestabilizaram o sistema. Até 1922, porém, essas crises, por mais que gerassem certo incômodo não foram capazes de comprometer a estrutura do jogo político. Até 1922, e esse é um ano fundamental na história da Primeira República brasileira, as relações entre as oligarquias ainda eram marcadas mais pelo consenso do que pelo dissenso. Isso mudaria em 1922.
Um federalismo bem às avessas
Quando o golpe militar de novembro de 1889 transformou o Brasil em uma República, prontamente o novo regime adotou o modelo jurídico dos Estados Unidos, que constituíram a primeira República Federativa Presidencialista dos tempos modernos. 
Esse modelo republicano era baseado no primado da descentralização política e da autonomia administrativa dos poderes locais, o que era considerado fundamental para a eficiência da administração pública.
 
Apesar de formalmente ser uma República federalista, o princípio federativo ganhou cores específicas quando posto em prática no Brasil. 
Por aqui, os poderes municipal e estadual não chegaram a ser engrenagem fundamental da máquina político-administrativa, apesar de terem sido fundamentais para a dinâmica oligárquica que caracterizou a política brasileira entre 1902 e 1930.
Dinâmica oligárquica
Como vimos em nossa terceira aula, as bases da dinâmica oligárquica foram formuladas ao longo dos primeiros dois governos civis da República brasileira, o de Prudente de Morais (1894-1898) e o de Campos Sales (1908-1922). Nas palavras do historiador Boris Fausto, esses governos consolidaram a República Liberal Oligárquica, provocando o esfacelamento do jacobinismo, após o fracasso da tentativa de assassinar Prudente de Moraes. Os militares voltaram em sua maioria para os quartéis. A elite política dos grandes Estados, São Paulo à frente, tinha triunfado (1972, p. 146).
O autor afirma que os dois primeiros presidentes civis foram ainda mais longe ao adaptarem o princípio da federação a uma cultura política marcada pelos valores monárquicos da atuação do Poder Moderador como o árbitro dos conflitos políticos. É importante citar mais uma vez o estudo de Fausto: 
O grande papel atribuído aos Estados provocou em alguns deles lutas de grupos rivais. O governo federal aí intervinha usando de seus controvertidos poderes estabelecidos na Constituição. Isso tornava incerto o controle do poder em alguns Estados e reduzia as possibilidades de um acerto duradouro entre a União e os Estados (1972, p. 146-147). 
Política dos governadores
Manter os conflitos dentro de uma margem de segurança, visando ao não comprometimento da estrutura do sistema, foi objetivo fundamental da “política dos governadores”.
Certamente, Victor Nunes Leal, em seu importante livro Coronelismo, enxada e voto, oferece-nos um dos principais modelos interpretativos a respeito do funcionamento da República oligárquica. Para o autor, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, o poder local não era o mais forte nesse pacto. 
Partindo do caso específico dos municípios paulistas, Nunes Leal acredita ser possível desenvolver um sistema interpretativo a respeito das relações entre os poderes federal, estadual e municipal constituídos ao longo da República oligárquica. 
Para Nunes Leal, o fenômeno do coronelismo teve origem na criação da Guarda Nacional, em 1831, se alimenta da fragilidade do poder público. Temos, dessa maneira, um poder regionalizado de dimensões privadas e patrimoniais que é controlado pelos grandes potentados rurais.
A própria estrutura latifundiária da época, marcada pela concentração de terra, alimenta a lógica dessa prática, que pode se desdobrar tanto no amparo aos sertanejos quanto na violência. É exatamente essa a grande característica do coronelismo.
Coronelismo segundo Nunes Leal
O homem pobre do campo caía nas malhas do poder dos coronéis tanto por vontade própria quanto por medo das punições que os mandatários poderiam impingir a todos aqueles que ousassem se opor à sua autoridade. 
 
Esse homem pobre sabia muito bem que, havendo a possibilidade de algum tipo de amparo, este estava na generosidade do coronel. Por outro lado, o sertanejo sabia que o “padrinho” também poderia se tornar algoz. Era, então, nessa combinação entre a assistência e a violência que se fundamentava a relação entre o grande proprietário e o homem pobre do campo nos primeiros anos de vida da República brasileira.
Se, de um lado, o “coronel” era a personificação do poder na localidade, de outro, sua autoridade dependia, necessariamente, de uma boa relação com as instâncias superiores da administração política, como os poderes estadual e federal. 
Para que o “coronel” fosse de fato um mandatário local, ele precisava evitar conflitos com seus superiores. Nesse sentido, a equação do poder oligárquico, por mais que fosse caracterizada pelos princípios da complementariedade e da reciprocidade, não se dava entreiguais. Nesse sistema político, a presidência era o elemento central de coesão, e as alianças em nível nacional giravam em torno da disputa para eleger o chefe do Executivo. 
Para determinar a sucessão presidencial, os partidos políticos de São Paulo e Minas Gerais geralmente trabalhavam juntos, mas, a partir de 1910, o Rio Grande do Sul também entrou no páreo (Souza, 1972, p. 148). Veremos a seguir como funcionavam esses mecanismos oligárquicos na prática política.
História política
A história política, que durante muitas décadas ficou marginalizada pelo cânone historiográfico da história social francesa, vem sendo revitalizada nas últimas décadas. 
Certamente, as abordagens teóricas desenvolvidas por autores como René Rémond e Michel Foucault são fundamentais para essa revitalização, que faz com que a história política praticada hoje não seja, sob aspecto algum, a mesma que caracterizou os escritos de historiadores do século XIX, como Gustav Droysen, Leopold Ranke e Fustel de Coulanges.
As atuais abordagens políticas não têm mais o tom do elogio biográfico nacionalista nem se limitam apenas às altas esferas do poder do Estado. Abordam temas como as crises da hegemonia política dos poderosos e as relações pontuais e microscópicas entre dominadores e dominados, que são tratados como agentes históricos em constante negociação de limites e possibilidades.
É essa abordagem que inspira as breves considerações a respeito da história política da República oligárquica brasileira que apresentamos a seguir.
Uma história política dos governos oligárquicos brasileiros (1902-1922)
De acordo com as considerações de Boris Fausto a República concretizou a autonomia estadual, dando plena expressão aos interesses de cada região. Isto se refletiu, no plano da política, na formação dos partidos republicanos restritos a cada Estado. 
As tentativas de organizar partidos nacionais foram transitórias ou fracassaram. Controlados por uma elite reduzida, os partidos republicanos decidiam os destinos da política nacional e fechavam os acordos para a indicação de candidatos à Presidência da República (2006, p. 148). O autor destaca aqueles que eram os principais grupos no jogo político da República oligárquica sendo eles o PRP, o PRM e o PRR. 
Cada um desses grupos tinha uma relação específica com o jogo político estadual e nacional, o que torna o período analisado extremamente complexo.
Em São Paulo, o PRP tinha estreita relação com as elites locais, que eram diretamente envolvidas com a agroexportação de café e atividade industrial. Já o PRR e o PRM tinham mais autonomia em relação às sociedades rio-grandense e mineira. 
O PRR se caracterizava por uma máquina política forte e leituras mais autoritárias do positivismo. Funcionou como uma espécie de instância de arbitramento das relações entre os estancieiros e os imigrantes. 
O PRM também não traduziu de forma imediata os interesses das elites econômicas locais, sendo formado por políticos profissionais que utilizavam a máquina pública para favorecer aliados e perseguir adversários.
Voto – o instrumento impeditivo
Poderíamos dizer, então, que o voto poderia ter sido o principal instrumento mobilizado pela sociedade civil para impedir o monopólio político dessas oligarquias. Vejamos mais uma vez o que nos diz Boris Fausto:
À primeira vista, parecia que o domínio das oligarquias poderia ser quebrado pela massa da população por meio do voto. Entretanto, o voto não era obrigatório e o povo, em regra, encarava a política como um jogo entre os grandes e os partidos estaduais se acertavam, lançando candidaturas únicas, ou quando os candidatos de oposição não tinham qualquer possibilidade de êxito. A porcentagem de votantes oscilou entre um mínimo de 1,4% da população total do país e um máximo de 5,7% (2006, p. 148-149).
Os especialistas afirmam também que os resultados das eleições não traduziam a opinião pública nacional, já que o voto não era secreto e os eleitores estavam sujeitos a todo tipo de pressão política.
Problemas do sistema eleitoral 
Nas primeiras décadas do Brasil republicano, um dos mais graves e delicados problemas do sistema eleitoral era a falsificação das atas eleitorais, com a alteração do número de votantes. Esse procedimento fez com que as eleições se tornassem conhecidas como “eleições a bico de pena”. O número de pessoas envolvidas com as fraudes era alto, e muitos recebiam nomes especiais: os “cabalistas (inclusão de nomes nas listas), os “fósforos” (assumiam a identidade de eleitores mortos/ausentes) e os “capangas” (intimidadores).
Era comum também reunir eleitores em um recinto, conhecido como “curral”, onde permaneciam vigiados e recebiam cédulas fechadas para serem depositadas diretamente na urna (...). Diante desse quadro, dificilmente a população poderia perceber o voto como um direito, como um modo de participar da vida política e decidir os destinos do país. 
O voto era visto como uma moeda de troca, como uma maneira de servir ou prestar lealdade a alguém mais poderoso e conseguir benefícios (Pandolfi, 1995, p. 78).
Para a historiadora Ângela de Castro Gomes as eleições podiam ser e fraudadas, mas não eram, por isso, uma prática descartável ou meramente cosmética. Esse ritual cumpria funções estratégicas, abrindo brechas no interior do jogo de poder oligárquico e implicando uma série de procedimentos de negociação que essas elites mantinham com seu eleitorado, quer fosse ele “de cabresto” ou não, como acontecia em algumas cidades, como o Rio de Janeiro e São Paulo (2002, p. 67). 
O voto de cabresto é o sistema de controle de poder político através do abuso de autoridade, compra de votos ou utilização da máquina pública. É um mecanismo muito recorrente nos rincões mais pobres do Brasil como característica do coronelismo.
Máquina de dominação política
Por mais que a máquina de dominação política tenha funcionado bem durante o período, em alguns momentos é possível perceber tensões que mostram que o relacionamento entre as oligarquias também foi marcado por conflitos. 
Ao contrário do que aconteceria em 1922, porém, quando o modelo oligárquico manifestou de forma mais clara os indícios da crise que se estenderia até 1930, quando se deu o golpe de Estado que pôs fim à República oligárquica, as experiências de que tratamos nesta aula não foram capazes de comprometer estruturalmente o funcionamento do sistema.
As eleições de 1909: a fissura no pacto oligárquico entre o PRP e o PRM
As negociações entre as oligarquias de minas e paulista não foram de todo harmônicas. Também houve conflitos nas relações entre os dois estados que, no período, controlavam a política nacional. 
Entre 1894 e 1906, os paulistas dominaram o Executivo em virtude da coesão de sua elite política e da força econômica do café. Esses foram os anos dos governos de Prudente de Morais, Campos Sales e Rodrigues Alves. 
Prudente de Morais: 1894 - 1898
Campos Sales: 1898 - 1902
Rodrigues Alves: 1902 - 1906
A partir daí, o pacto político entre paulistas e mineiros foi consolidado, fato que permitiu que um mineiro, Afonso Pena, ocupasse a presidência da República entre 1906 e 1910.
Afonso Pena aplicou a rede ferroviária, impulsionou o povoamento territorial, incentivou a produção de café e foi renovada a marinha de guerra. Foram resolvidas questões de limites e o Brasil foi representado na Conferencia de Haia por Rui Barbosa. Faleceu antes do termino de seu mandato.
Em 1909, ano de eleição presidencial, houve um desentendimento entre paulistas e mineiros a respeito do sucessor de Afonso Pena. Tal fato permitiu que esse pleito fosse o primeiro verdadeiramente disputado na República oligárquica. As eleições de 1909 foram marcadas pela volta provisória dos militares ao poder e pela entrada da oligarquia gaúcha no cenário da política nacional. 
Foram dois os candidatos ao cargo de presidente da República no período: Marechal Hermes da Fonseca e Rui Barbosa. O militar gaúcho Marechal Hermes

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