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Negócios Jurídicos

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TEORIA GERAL DO DIREITO 
ATOS NULOS E 
NEGÓCIOS JURÍDICOS
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De grande relevo é a distinção entre atos nulos, anuláveis e inexistentes. 
Os primeiros (nulos) são atos que carecem de validade formal ou vigência, por padecerem de um vício insanável que os compromete irremediavelmente, dada a preterição ou a violação de exigências que a lei declara essenciais.
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Anuláveis, ao contrário, são aqueles atos que se constituem com desobediência a certos requisitos legais que não atingem a substância do ato, mas sim a sua eficácia, tornando-os inaptos a produzir os efeitos que normalmente lhes deveriam corresponder. 
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Daí dizer-se, com terminologia a ser empregada com o devido critério, que os atos nulos estão eivados de nulidade absoluta, enquanto que os anuláveis padecem de nulidade relativa. 
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O certo é que os anuláveis podem ser sanados ou ratificados através de processos que variam segundo a natureza da matéria disciplinada. 
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Os atos jurídicos inexistentes têm a existência contestada por diversos autores que os equiparam aos atos nulos, ou os repelem como elementos estranhos ao Direito. 
Não se pode confundir a inexistência, - que é um vício antes natural ou fático, devido à falta de elementos constitutivos, com a nulidade, que resulta da não-correspondência dos elementos existentes com as exigências prefiguradas em lei. 
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O ato inexistente, na realidade, carece de algum elemento constitutivo, permanecendo juridicamente embrionário, devendo ser declarada a sua não-significação jurídica, se alguém o invocar como base de uma pretensão. 
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Os atos nulos ou os anuláveis, ao contrário, já reúnem todos os elementos constitutivos, mas de maneira aparente ou inidônea a produzir efeitos válidos, em virtude de vícios inerentes a um ou mais de seus elementos constitutivos. 
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Assim, se alguém pretender divorciar-se, invocando casamento concluído apenas perante a autoridade religiosa, segundo o Direito canônico, e ainda não devidamente registrado de conformidade com a nossa lei civil, não será este casamento nulo, mas sim inexistente em face da lei brasileira. 
Se, ao contrário, se realizar, com todas as formalidade legais, o casamento, por exemplo, de duas pessoas casadas, o ato será nulo, e não inexistente.
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Recorrendo, com as devidas cautelas, a uma imagem de tipo físico, diríamos que os atos nulos já entraram nos domínios do Direito e dele devem ser expulsos, pelos vícios de que padecem. 
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Acontece que alguns deles (os anuláveis ou relativamente nulos) podem ser recuperados e restituídos à saúde jurídica, enquanto que outros, os eivados de nulidade absoluta, sofrem de mal irremediável. 
Já os atos inexistentes não chegam a ingressar no mundo jurídico, mas lhe batem às portas com pretensão de entrar. 
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 Negócio Jurídico
Definição: 
A manifestação de vontade destinada a produzir efeitos jurídicos, o ato de vontade dirigido a fins práticos tutelados pelo ordenamento jurídico ou uma declaração de vontade, pela qual o agente pretende atingir determinados efeitos admitidos por lei. 
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Nesse sentido, ainda, pontifica Orlando Gomes que "o negócio jurídico é, para os voluntaristas, a mencionada declaração de vontade dirigida à provocação de determinados efeitos jurídicos ou a ação da vontade que se dirige, de acordo com a lei, a constituir, modificar ou extinguir uma relação jurídica”.
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Para Miguel Reale, “negócio jurídico é aquela espécie de ato jurídico que, além de se originar de um ato de vontade, implica a declaração expressa da vontade, instauradora de uma relação entre dois ou mais sujeitos tendo em vista um objetivo protegido pelo ordenamento jurídico. 
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“Tais atos, que culminam numa relação intersubjetiva, não se confundem com os atos jurídicos em sentido estrito, nos quais não há acordo de vontade, como, por exemplo, se dá nos chamados atos materiais, como os da ocupação ou posse de um terreno, a edificação de uma casa no terreno apossado etc. Um contrato de compra e venda, ao contrário, tem a forma específica de um negócio jurídico...”
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Francisco Amaral: 
“Por negócio jurídico deve-se entender a declaração de vontade privada destinada a produzir efeitos que o agente pretende e o direito reconhece. Tais efeitos são a constituição, modificação ou extinção de relações jurídicas, de modo vinculante, obrigatório para as partes intervenientes. De qualquer modo, o negócio jurídico é o meio de realização da autonomia privada, e o contrato é o seu símbolo”.
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Classificam-se os negócios jurídicos:
Quanto ao número de declarantes:
a) unilaterais - quando concorre apenas uma manifestação de vontade (o testamento, a renúncia, p. ex.);
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b) bilaterais - quando concorrem as manifestações de vontades de duas partes, coincidentes sobre o objeto, formadoras do consenso (os contratos de compra e venda, locação, prestação de serviços, p. ex.);
c) plurilaterais – envolvem mais de duas partes. As deliberações neste caso não decorrem de intercâmbio de declarações convergentes, mas de decisões da maioria, como acontece nas deliberações societárias.
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Quanto à forma:
a) formais ou solenes - são aqueles que exigem, para a sua validade, a observância da forma prevista em lei (o testamento, o casamento etc.);
b) não formais ou de forma livre - são aqueles cujo revestimento exterior é livremente pactuado, sem interferência legal, bastando o consentimento para sua formação (compra e venda de bem móvel).
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Quanto ao momento da produção de efeitos:
a) inter vivos - produzem os seus efeitos estando as partes ainda em vida (doação, troca);
b) mortis causa - pactuados para produzir efeitos após a morte do declarante (testamento, p. ex.).
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ATENÇÃO PARA OS SEGUINTES CONCEITOS
Direito atual: é aquele adquirido, que já está em condições de ser exercido por se incorporar imediatamente ao patrimônio do adquirente (se, na compra e venda, houver pagamento integral à vista, com a sua tradição transfere-se o patrimônio ao comprador). 
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Direito futuro: é aquele que ainda não se constituiu, dado que sua efetivação depende de uma condição ou de um prazo (se se compra uma casa a prestações mensais, a transferência da propriedade só se dará quando se pagar a última parcela).
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Expectativa de direito: é a mera possibilidade ou esperança de se adquirir um direito (os filhos, na sucessão dos pais).
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Direito eventual: quando é ultrapassada a fase preliminar e se acha, inicial e parcialmente, cumprida ou realizada a situação fática exigida pela norma, como no caso da aceitação de proposta de compra e venda.
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Direito condicional: é o que se perfaz pelo acontecimento de um evento futuro e incerto, de modo que seu titular só o adquire se sobrevier a condição. É o caso de um advogado que oferece sociedade a seu estagiário caso ele se forme em direito, ficando o estagiário com a possibilidade de adquirir o direito caso cole grau.
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ELEMENTOS ESSENCIAIS GERAIS À GENERALIDADE DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS OU DOS REQUISITOS (OU PRESUPOSTOS) DE VALIDADE
Os atos jurídicos determinam a aquisição, modificação ou extinção de direitos. 
Para que, porém, produzam efeito, é indispensável que reúnam certo número de requisitos que costumamos apresentar como os de sua validade. 
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Se o ato possui tais requisitos, é válido e dele decorre a aquisição, modificação e extinção de direitos prevista pelo agente. 
Se, porém, falta-lhe um desses requisitos, o ato é inválido, não produz o efeito jurídico em questão e é nulo.
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O Código Civil brasileiro enumera, em seu art. 104, os pressupostos legais de validade do negócio jurídico:
a) agente capaz;
b) objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
c) forma prescrita ou não defesa em lei.
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Manifestação de vontade livre e de boa-fé ou Consentimento 
A manifestação ou declaração
de vontade há que ser livre e não estar impregnada de malícia (má-fé), não podendo ter vício de consentimento, nem social, sob pena de invalidade.
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Agente capaz
Ainda no plano de validade, diz-se que o ato negociaI demanda, para ser válido, a concorrência de um agente emissor de vontade capaz e legitimado.
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Desde que seja plenamente capaz, poderá a pessoa física ou jurídica – para esta última exigindo-se o necessário registro dos seus atos constitutivos – praticar atos e celebrar negócios em geral, na órbita jurídica.
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No que se refere à pessoa natural, se lhe faltar plena capacidade para a prática pessoal de atos jurídicos, deverá ser devidamente representada ou assistida, a fim de se imprimir perfeita validade ao ato praticado.
As hípóteses de incapacidade também se encontram enumeradas no Código Civil, arts. 3º e 4º.
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É preciso ainda que não esteja circunstancialmente impedido de celebrar o ato, não obstante goze de plena capacidade. 
Em outras palavras, é necessário, além da capacidade, haver legitimidade, segundo noção desenvolvida pelos processualistas.
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Denomina-se impedimento a falta de legitimidade para a prática de um ato específico. 
Aqui é preciso acrescentar que, além da capacidade geral, exige-se a capacidade especial para o negócio de que se trata. 
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É que, além das incapacidades genéricas, a lei prevê ainda motivos específicos, que obstam a que o agente, sem quebra de sua capacidade civil, realize determinados negócios jurídicos. 
A fim de não colidirem tais restrições com a teoria das incapacidades é preferível designá-las como impedimentos.
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São hipóteses de falta de legitimidade para a celebração de negócio jurídico as seguintes: 
1) o tutor, plenamente capaz, não pode, mesmo em hasta pública, adquirir bens do tutelado; 
2) dois irmãos, maiores e capazes, não podem se casar; 
3) o excluído por indignidade, mesmo não sendo considerado incapaz, não poderá herdar da pessoa em relação à qual é considerado indigno.
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Note-se que, em todas estas situações as partes gozam de plena capacidade, porém estão impedidas circunstancialmente de praticar ato específico, por relevantes razões de ordem social e pública.
A consequência da violação de um desses impedimentos é a nulidade do negócio
que se realizou, por violação a expressa disposição de lei.
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Objeto lícito, possível, determinado ou determinável
A validade do negócio jurídico requer, ainda, objeto lícito, possível, determinado ou determinável (condição objetiva).
Objeto lícito é o que não atenta contra a lei, a moral ou os bons costumes. 
Objeto jurídico, objeto imediato ou conteúdo do negócio é sempre uma conduta humana e se denomina prestação: dar, fazer ou não fazer. 
Objeto material ou mediato são os bens ou prestações sobre os quais incide a relação jurídica obrigacional.
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O objeto deve ser, também, possível. Quando impossível, o negócio é nulo. A impossibilidade do objeto pode ser física ou jurídica.
Impossibilidade física é a que emana de leis físicas ou naturais. 
Deve ser absoluta, isto é, alcançar a todos, indistintamente, como, por exemplo, a que impede o cumprimento da obrigação de colocar toda a água dos oceanos em um copo d’água. 
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A relativa, que atinge o devedor mas não outras pessoas, não constitui obstáculo ao negócio jurídico. 
Dispõe, com efeito, o art. 106 do Código Civil que “a impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado”.
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A impossibilidade jurídica do objeto ocorre quando o ordenamento jurídico proíbe, expressamente, negócios a respeito de determinado bem, como a herança de pessoa viva (CC, art. 426), de alguns bens fora do comércio, como os gravados com a cláusula de inalienabilidade etc. 
A ilicitude do objeto é mais ampla, pois abrange os contrários à moral e aos bons costumes.
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Forma
O terceiro requisito de validade do negócio jurídico é a forma, que é o meio de revelação da vontade. 
Deve ser a prescrita em lei.
Há dois sistemas no que tange à prova como requisito de validade do negócio jurídico: 
o consensualismo, da liberdade de forma, e 
o formalismo ou da forma obrigatória.
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No direito brasileiro a forma é, em regra, livre. 
As partes podem celebrar o contrato por escrito, público ou particular, ou verbalmente, a não ser nos casos em que a lei, para dar maior segurança e seriedade ao negócio, exija a forma escrita, pública ou particular. 
O consensualismo, portanto, é a regra, e o formalismo, a exceção. 
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Dispõe, com efeito, o art. 107 do Código Civil:
“Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir”.
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É nulo o negócio jurídico quando “não revestir a forma prescrita em lei ” ou “for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade” (CC, art. 166, IV e V). 
Em alguns casos a lei reclama também a publicidade, mediante o sistema de Registros Públicos (CC, art. 221). 
Cumpre frisar que o formalismo e a publicidade são garantias do direito.
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Podem ser distinguidas três espécies de formas: forma livre, forma especial ou solene e forma contratual.
a) Forma livre — É a predominante no direito brasileiro (cf. CC, art. 107). É qualquer meio de manifestação da vontade, não imposto obrigatoriamente pela lei (palavra escrita ou falada, escrito público ou particular, gestos, mímicas etc.).
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b ) Forma especial ou solene — É a exigida pela lei, como requisito de validade de determinados negócios jurídicos. 
Em regra, a exigência de que o ato seja praticado com observância de determinada solenidade tem por finalidade assegurar a autenticidade dos negócios, garantir a livre manifestação da vontade, demonstrar a seriedade do ato e facilitar a sua prova.
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Forma contratual — É a convencionada pelas partes. 
O art. 109 do Código Civil dispõe que, “no negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato”. 
Os contratantes podem, portanto, mediante convenção, determinar que o instrumento público torne-se necessário para a validade do negócio.
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BIBLIOGRAFIA
Gonçalves, C.R. Direito civil brasileiro, vol. I. São Paulo, Saraiva, 2012.
Reale, M. Liçoes preliminares de direito. São Paulo, Saraiva, 2009.

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