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Serviço Público Federal Ministério da educação Universidade Federal de Sergipe Campus Universitário “Professor Antônio Garcia Filho” Graduação em Medicina Sanni Silvino Parente Resumo problema 09: DORES MUSCULARES FIBROMIALGIA Quadro de dor muscular crônica e difusa, associada a queixas de fadiga (90%), distúrbios do sono (sono leve ou interrompido, dificuldade para inicia-lo, despertares precoces, que culminam com a sensação de sono não restaurados) e baixa tolerância aos exercícios físicos. Já foi descrita como: reumatismo psicogênico, fibrosite, síndrome da fadiga crônica e síndrome da guerra do golfo. Na população geral apresenta-se entre 2,5 e 4,4%. Mais prevalente em mulheres entre 35 e 60 anos. Nesse grupo, sua prevalência varia entre 2 a 11%. Também pode estar presente em crianças e adolescentes, com frequência de 1,3 a 6,2%. A queixa pode ser de dor difusa, variando em intensidade, sendo mais forte em períodos de ansiedade ou estresse (físico ou psicológico). Também são frequentemente descritos sintomas como sensação de adormecimento, pontadas, queimação ou câimbras. Sintomas vagos como parestesias, sensação subjetiva de edema de extremidades, alterações cognitivas com dificuldade de concentração e raciocínio, ansiedade, humor deprimido e irritabilidade. Também são frequentes algumas síndromes disfuncionais que causam dor em outros locais, como dor precordial atípica, dor em parede abdominal sugestiva de cólon irritado, dor pélvica e sintomas urinários. Também são frequentes queixas de tontura, sensação de desmaio iminente, perda da memória, dores de cabeça (tensional ou migranêa), palpitações e fraquezas. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA Não existe evidência de que apenas um evento seja o causador da fibromialgia, fatores físicos e/ou emocionais podem dar inicio ou agravar os sintomas já existentes. Acredita-se que quadros infecciosos (doenças virais – hepatite C – doença de Lyme ou traumatismos físicos – DORT) são os possíveis desencadeantes. Abaixo algumas possibilidades etiopatogênicas: Alterações muscularas: a redução da microcirculação local acarreta hipóxia das fibras musculares, culminando com a redução do teor energético do tecido muscular. Interpretado pelos achados de atrofia muscular de fibras tipo II, presença de fibras reticulares, edema focal, aumento do conteúdo do lipídeo e do numero de mitocôndrias. Por outro lado, a hipóxia tecidual ativa receptoras adenosina A2, estimulando e sensibilizando fibras nervosas não mielinizadas. Alterações hormonais: A hiperprolactinemia é encontrada em 71% (4,5% na população geral). O GH encontra-se diminuído em 30%. Também encontra-se nível diminuído de cortisol circulante, bem como resposta diminuída ao teste de estresse induzido por hipoglicemia. Como a maior prevalência é em mulheres em torno dos 45 anos, acredita-se no envolvimento de hormônios femininos. Há também a correlação com o hipotireoidismo, devido a sintomas em comum como dores musculares e fadiga e o achado de hipotireoidismo subclinico em muitas mulheres com fibromialgia. Citocinas: está comprovado a elevação de imunomoduladores, como IL-1B, IL-6, TNF-alfa, entretanto, não se pode definir como causa ou consequência. Em pacientes portadores da afecção há mais de dois anos, encontra-se elevada a IL-8. Neurotransmissores: constatou-se diminuição dos níveis de serotonina (depressão e modulação nas fases III e IV do sono não-REM) e norepinefrina (estado de alerta e função vasomotora). Ambas possuem ação antinoceptiva, principalmente das vias descendentes supramedulares). Foi constatado, também, níveis três a quatro vezes superior da substancia P. Alterações neuroendócrinas e autonômicas: o eixo HPA desenvolve uma resposta sustentada ao estresse, em virtude do aumento do CRH, provavelmente devido a cronicidade da dor e às anormalidades nos mecanismos nociceptivos do SNC. Percebeu-se, também, uma diminuição de fluxo cerebral em áreas do cérebro envolvidas no controle da dor (tálamo, núcleo caudado, teto pontinho). A hiperatividade persistente do SNA é sugerido por alterações na frequência cardíaca de repouso, hipotensão rtostatica e diminuição da variabilidade da frequência cardíaca. ASPECTOS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICOS Dor difusa pelo corpo (acima e abixo da cintura, do lado direito e esquerdo do corpo) por mais de 3 meses e a detecção de 11 tender points. Os pacientes apresentam um padrão postural flexor típico, pois 12 dos 18 pontos apresentam-se em músculos eretores e outros 2 em articulações eternais. Entende-se, portanto, que a fibromialgia é uma entidade patente, resultado de uma interação entre fatores predisponentes, fatores precipitantes e fatores perpetuantes. Considerando, também, a interação com fatores biológicos e psicossociais. DIAGNOSTICO DIFERENCIAL 1. Doenças associadas a fibromialgia : osteoartrite, AR, HAS e hipotireoidismo. 2. Afcções com sintomatologia semelhante: hiperparatireoidismo, polimialgia reumática, dermato/polimiosite, parkinsonismo, hipocalemia, uso de medicamentos (estatinas, bloqueadores H2, corticosteroides) ou ilícitos (cocaína, canabis). A investigação é feita por meio de exames laboratoriais (provas de atividade inflamatória, dosagem de hormônios tireoidianos, avaliação do metabolismo ósseo com a dosagem de cálcio e parato- hormonio, dosagem de potássio sérico – uso de diuréticos – CPK e aldolase). Bem como um exame físico minucioso, buscando os pontos gatilhos e a observação dos fatores de risco. TRATAMENTO Objetivos: minimizar a dor, restaurar a amplitude de movimento e a flexibilidade, melhorar a qualidade de vida, promover o trabalho educativo. Tratamento medicamentoso: o Analgésicos antiinflamatórios: os analgésicos comuns (paracetamol ou AINHs) possuem ação periféria. Opióides tem uso restrito aos períodos de exacerbação da dor. o Agentes antidepressivos: a amitriptilina reduz os sintomas durante tratamento a curto prazo. Moderado efeito sobre a dor, o sono e a sensação de bem estar, bem como leve efeito sobre a fadiga e o número de pontos dolorosos. Os inibidores da receptação de serotonina são mais frequentemente utilizados devido aos seus poucos efeitos colaterais. Agentes receptadores de serotonina e norepinefrina (milnacepran e duloxetina) obtiveram resultados no controle da fadiga, nível de rigidez, auto-relato de dor e melhora do estado geral. o Relaxantes musculares: a ciclobenzaprina tem sua estrutura e ação semelhante aos tricíclicos, associada a ação miorrelaxante a nível do tronco e da medula poor inibição do potencial eferente para os músculos esqueléticos. A tizanidina diminui os níveis da substancia P. o Hipnóticos: propriedade de bloquear o refluxo nociceptivo espinhal e diminuir o potencial evocado somatossensorial primário que modula a percepção da dor. Os benzodiazepínicos funcionam como sedativos, anticonvulsivantes e ansiolíticos, com potente ação miorrelaxante. O alprazolan é o mais utilizado nas fases iniciais da doença devido a seusefeitos ansiolíticos. Entretanto, deve-se lembrar que eles acarretam dependência química. Dentre os hipnóticos não diazepínicos, destaca-se o zolpidem e zoplicone, com melhora do sono e fadiga. o Anticonvulsivantes: pregabalina e gabapentica reduzem a dor e melhoram o padrão de sono através da redução da liberação de glutamato e substancia P e por diminuição da excitabilidade em geral, em virtude do aumento do GABA. o Outras terapias: GH; Estrogênio em monopausadas; Lidocaina nos tender points. Tratamento não medicamentoso: o Exercícios físicos: pouco condicionamento > pouca tolerância a sustentação da atividade > baixos níveis de composto de fosfato de alta energia (ATP-CP) nas áreas musculares > reforçar desmotivação = espiral de inatividade. o Reabilitação multidisciplinar; o Não-convencionais: Acupuntura; Quiropatia e massoterapia. SÍNDROME MIOFASCIAL É um conjunto de sintomas sensoriais (disestesias, hiperalgesias e dor referida), motores e autonômicos (alterações de temperatura, sudorese, piloereção, eritema, salivação e queixas proprioceptivas) que são associados aos pontos-gatilho miofasciais. Ponto-gatilho refere-se a um ponto hipersensível em um músculo esquelético associado a um nódulo, também hipersensível, palpável ao exame físico. Quando pressionado, a dor causada, por distúrbio motor ou autonômico, produz efeito no alvo ou na zona de referência, que é distante do foco do ponto gatilho, normalmente não segue a distribuição do dermátomo, más segue um padrão, portanto é reprodutível. Esses pontos-gatilhos são relacionados a cauda da dor, portanto, se tratados, o paciente melhorará. Síndrome escápulo-costal ou síndrome do ângulo da escápula: dor na região dorsal (face posterior da cintura escapular) que irradia para região cervical, ombro e parede torácica. Ponto-gatilho na porção medial e sob a escápula. Esse quadro geralmente está associado a posturas viciosas, ombros protusos, escoliose e microtraumatismos por movimento repetidos. Fascites da região pré-sacral, glútea e do tensor da fáscia: dor irradiada para os membros inferiores, simulando ciatalgia. EPIDEMIOLOGIA Existem 200 músculos pareados no corpo que funcionam como sítios para essa afecção, dessa forma, é uma doença extremamente comum. As regiões mais comumente afetadas estão na musculatura cervical e cintura escapular. Acomete mais mulheres entre 30 e 50 anos. ETIOPATOGENIA Inicia-se com o desenvolvimento de um ponto-gatilho (após uma injúria inicial – um evento traumático evidenciado ou traumas de repetição no músculo acometido). À medida que o estresse aumenta, o músculo vai se tornando fadigado e mais suscetível à ativação de novos ponto-gatilhos adicionais. Vários fatores predisponentes se combinam com um evento produtor de estresse agudo, ativando a síndrome. ASPECTOS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICOS O quadro é insidioso e bem localizado. O paciente geralmente observa uma área endurecida que corresponde as bandas de contratura muscular. A dor existe no repouso, mas é mais pronunciada com a movimentação passiva ou ativa. A dor segue um padrão de dor referida em que o paciente relata dor em uma área-satélite da região marcada pela contratura muscular. Podem existir queixas de hiperestesia e perda de força na região acometida. Sintomas como lacrimejamento, salivação, disfagia, alterações do equilíbrio e tonturas também podem estar relacionados. Ao exame físico, deve-se solicitar ao paciente que tente apontar com um dedo a região mais intensa de dor. Para identificar o ponto-gatilho deve-se percorrer a banda palpável por três métodos – palpação plana, em pinça ou profunda- e pressionar o ponto gatilho a fim de verificar o padrão referido. Os desvios posturais devem ser avaliados, bem como roupas e calçados justos, que podem indicar a origem. Traumas, práticas esportivas e manipulações cirúrgicas também são causas pontuais. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Afecções de partes moles: tendinopatias, bursopatias e contraturas musculares. Síndromes compressivas radiculares; Quando acompanha fraqueza e fadiga: fibromialgia, hipotireoidismo e espondiloartropatias soronegativas. Além disso, não raro a síndrome é acompanhada de uma outra afecção localizada no aparelho locomotor (tendinite no punho associada a dor na musculatura do antebraço, por exemplo), dessa forma, o diagnóstico não deve ser limitado. TRATAMENTO Antes de qualquer intervenção, é essencial identificar os agentes causadores. Tratamento local: o prescrição de exercícios de alongamento e fortalecimento; o métodos físicos: US, ondas curtas e estimulação transcutânea; o agulhamento seco – mais evidência cientifica na literatura; o acumputura; o infiltração com lidocaína; o toxina botulínica; o massoterapia; Terapia medicamentosa: analgésicos, antiinflamatórios, miorrelaxantes, tricíclicos e inibidores da receptação de serotonina. Terapia não medicamentosa: o Fases mais agudas: crioterapia, iontoforese, cinesioterapia o Fases subaguda e crônica: calor superficial ou profundo e cinesioterapia. Prevenção de outros surtos.
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