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História da Comunicação Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Wiliam Pianco dos Santos Revisão Textual: Prof.ª Me. Natalia Conti Cinema e Televisão • O Cinema; • A Televisão. • Conhecer os contextos históricos que possibilitaram o advento do cinema e da televisão como modos de comunicação e transmissão de conhecimento, de elevada infl uência social; • Abordar a implicância da televisão especifi camente no âmbito social brasileiro. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Cinema e Televisão Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Cinema e Televisão O Cinema Ensinam os manuais de história que o cinema nasceu no dia 28 de dezem- bro de 1895, no Salão do Grand Café de Paris. Naquele dia, os irmãos Auguste Lumière (1862-1954) e Louis Lumière (1864-1948) projetaram publicamente, para cerca de 30 pessoas, o filme “Empregados deixando a Fábrica Lumière” (uma obra com pouco menos de um minuto de duração). Embora a reivindicação de “pais do cinema” não tenha sido uma manifestação dos irmãos franceses, fato é que o nas- cimento da chamada “Sétima Arte” está automaticamente correlacionado com a primeira projeção coletiva de um filme. E para conhecermos melhor essa trajetória, será preciso recuarmos um pouco mais na linha do tempo. Figura 1 – Imagem do filme “Empregados deixando a Fábrica Lumière” (Auguste Lumière e Louis Lumière, 1895) Fonte: Wikimedia Commons Esse recuo vai encontrar seu ponto de partida com o advento da imagem fixa tecnologicamente produzida. Em 1824, o inventor francês Joseph Nicéphore Niepce (1765-1833) foi capaz de produzir uma imagem “fotográfica” de longa per- manência em seu suporte material (ou seja, uma imagem que permaneceu por longo tempo em seu suporte de revelação até desaparecer por completo). Mas o primeiro exemplo de uma imagem permanente (ou seja, que não desapareceu do suporte de revelação) foi obtida por ele em 1826. O método de Niepce consistia em um processo cujo objetivo era copiar pinturas no vidro para produzir silhuetas pelo efeito da luz sobre nitrato de prata. Esse procedimento poderia durar até oito horas para ficar pronto. Em 1829, Louis Daguerre (1787-1851), sócio de Niepce, desenvolveu as primeiras imagens fotográficas precisas, dando a elas o nome de “daguerreótipos”. Seu feito, contudo, tornou-se de conhecimento público e amplo apenas em 1839. Os primeiros daguerreótipos fizeram muito sucesso no seio da alta sociedade da época (logo se espalhando um pouco por todo o mundo), uma vez que, além de serem muito mais 8 9 velozes que o sistema anterior (uma imagem demorava uma dezena de minutos para ficar pronta), aquela novidade tecnológica resultava em um objeto único, percebido como uma expressão de arte que não permitia a reprodução múltipla. O desenvolvimento da fotografia ganhou um capítulo de fundamental impor- tância nos finais da década de 1880, quando o empreendedor norte-americano George Eastman (1854-1932) criou a famosa câmera Kodak, com tamanho e cus- tos relativamente menores aos modelos anteriores, podendo ser manipulada por qualquer pessoa e, desse modo, tornando-se um item familiar no cotidiano social. Mais de 90 mil câmeras daquele estilo foram vendidas só nos cinco primeiros anos de sua existência – elas não tinham sistemas de foco e possuíam somente uma ve- locidade de disparo, mas tinham tempo de exposição de somente um vigésimo de segundo e eram vendidas já carregadas com um rolo de papel negativo suficiente para produzir cem imagens. “Quando o rolo acabava, a câmera era empacotada e enviada para a fábrica Eastman, onde era descarregada, recarregada com fil- me novo e devolvida ao consumidor em dias” (BURKE; BRIGGS, 2004: p. 167). Daquele momento em diante, a imagem produzida instantaneamente começou a alcançar o seu papel de preponderância na sociedade de consumo. Ao mesmo tempo em que transitava para a sua versão “doméstica”, a fotografia também serviu de curiosidade para experimentos dados à noção de “continuidade”. Vejamos, em 1872, Eadweard Muybridge (1830-1904), um fotógrafo inglês, conhe- cido por seus trabalhos com o uso de múltiplas câmeras, realizou um experimento que acabou por se revelar determinante para a história do cinema. Naquela oportu- nidade, interessado em verificar se um cavalo, ao trotar, retira em algum momento todas as patas do solo, Muybridge alinhou uma série de câmeras fotográficas em uma pista de corrida. Por meio de um sistema próprio, os dispositivos fotográficos eram acionados de maneira a produzir uma série fotográfica, na medida em que o animal transcorria o percurso determinado. Além de descobrir que, sim, o cavalo pode ter todas as patas suspensas em certo momento de seu trote, mais importan- te, a experiência demonstrou como registros fotográficos de movimentos, quando reproduzidos em série e em alta velocidade, passam a impressão de movimento real do elemento observado (o cavalo, no caso). Em decorrência dessas experiências preliminares, no final da década de 1870, o famoso empresário de patentes, Thomas Edison (1847-1931) apresentou publi- camente o kinetoscópio, um aparelho que tornava possível ver individualmente um filme em movimento, com a ajuda de um visor. Tratava-se de um protótipo de “ci- nema”, mas para ser visto por uma pessoa de cada vez. Seu objetivo comercial não obteve o êxito desejado, contudo, o experimento inspirou outros empreendedores da imagem em movimento. Já dentro da década de 1890, na Europa e nos EUA, surgiram filmes de curta duração com propósitos narrativos mais desafiadores. A ideia, então, passava a ser não apenas “distrair” o espectador individualmente, mas antes oferecer uma ver- dadeira história, com início, meio e fim, e exibida coletivamente. Nesse contexto, Edison volta ao cenário dos espetáculos, ali para apresentar o seu cinematógrafo, 9 UNIDADE Cinema e Televisão um modelo evoluído do kinetoscópio, mas com a pretensão de proporcionar uma experiência coletiva, não mais individualizada do cinema. Não tardou para que a experiência coletiva do cinema se tornasse popular e atrativa para os empreendedores. Nos grandes centros dos países ricos, salas de cinema passaram a ser erguidas com frequência cadavez maior na medida em que as narrativas fílmicas tornavam-se mais complexas e produtores e exibidores co- meçavam a se organizar em forma de grandes conglomerados empresariais. Desse modo, na segunda década do século XX, Hollywood já era uma realidade, e o seu domínio em termos de mercado confirmou-se enquanto uma tendência anunciada (para o pesar de uma diversidade artística e cultural que acabou por jamais ser ple- namente contemplada ao redor do mundo). É possível afirmarmos que, no campo cinematográfico, nas primeiras décadas do século XX, uma das empresas que melhor encarnou o espírito de dominação presente em Hollywood foi a Warner Brothers. Originária do mercado de entrete- nimento amador que caracteriza os primeiros anos do cinema, logo esta empresa passou a conceber e empregar muitas estrelas em uma enorme variedade de filmes, dos quais “O cantor de jazz” (Alan Crosland, 1927, EUA) é um relevante exemplar por ter sido o primeiro filme sonoro de grande repercussão mundial. Para termos uma percepção mais clara da relevância do filme para o período de sua realização, basta lembrarmos que “O cantor de jazz” custou espantosos 500 mil dólares para ser produzido, e gerou cinco vezes mais em lucros diretos em bilheteria, afirman- do-se assim como referência comercial para futuras obras cinematográficas (ver BURKE; BRIGGS, 2004). Apesar da grande predominância do modelo de negócio e entretenimento fo- mentado por Hollywood, também é importante termos claro que aquela forma de cinema nunca foi exclusiva. Outras maneiras de pensar e realizar a “Sétima Arte” surgiram em diversos outros contextos. Um caso significativo para os nossos estu- dos é o do cinejornal. Com origens na França dos anos 1910, mas também muito frequente em países como EUA, Inglaterra, Austrália, Canadá e Nova Zelândia, os cinejornais eram pequenos filmes documentários feitos com o objetivo de alimentar o conhecimento público em torno das atualidades mais relevantes do momento. Os cinejornais foram fonte de conhecimento e informação para milhões de espec- tadores durante décadas, até que a sua prática foi forçosamente diminuída com o advento da televisão na década de 1950. Ainda em tempo, é útil para os nossos estudos salientar que o cinema surge intimamente relacionado com a fotografia, entre outros fatores, também pelo uso do filme em película, cujo formato de bitola mais clássico é o de 35mm. Com os diversos avanços tecnológicos que se deram ao longo de todo o século XX, além de conhecer a cor como elemento predominante nas cinematografias ao redor do mundo, contemporaneamente, o cinema é realizado usualmente em formato digi- tal. Esse aspecto técnico das produções cinematográficas permite a maior facilidade de reprodução e circulação dos filmes nos dias atuais, bem como a sua exibição em suportes alheios às grandes telas cinematográficas, como é o caso dos televisores, dos computadores e dos celulares. 10 11 Importante! A primeira projeção pública de cinema no Brasil aconteceu em 1896, no Rio de Janeiro. Tratou-se de uma iniciativa proveniente do exibidor belga Henri Paillie. Naquela opor- tunidade, foram exibidos oito pequenos filmes que apenas retratavam curiosidades de algumas cidades europeias. Já em 1897 teve abertura o “Salão de Novidades Paris”, a pri- meira sala de cinema brasileira, inaugurada na capital carioca sob responsabilidade de Paschoal Segreto. Os italianos Paschoal e Affonso Segreto foram os grandes precursores do cinema nacional, na entrada do século XX. Você Sabia? A Televisão A televisão, ou televisor, conforme adotado em preferência à determinada no- menclatura, tem suas raízes etimológicas na palavra grega “tele” (ou seja, “distan- te”) e na palavra latina “visione” (“visão”). E ao contrário daquilo que usualmente é suposto, o desejo humano pela televisão, ou melhor, a vontade do homem em proceder com a transmissão de imagens a longas distâncias tem suas origens em um período ainda anterior ao século XX. Figura 2 – Modelo de aparelho de televisão da década de 1950 Fonte: Getty Images Grosso modo, podemos afirmar que esse sistema eletrônico de reprodução de sons e imagens, conforme estamos habituados hoje em dia a manipular, funciona, por uma via, com base na análise e conversão da luz e do som em ondas eletro- magnéticas, e por outra via como sistema de reconversão, ou de decodificação dos sinais eletromagnéticos enviados. Em poucas palavras, mecanismos apropriados de 11 UNIDADE Cinema e Televisão câmeras filmadoras e de microfones registram informações visuais e sonoras que são, por sua vez, convertidas em sinais eletromagnéticos. Tais sinais são enviados aos aparelhos receptores (os televisores), que têm por missão receber as ondas ele- tromagnéticas e, por meio de seu mecanismo interno de leitura, converter aqueles sinais novamente em imagem e som para o telespectador final. Para compreendermos o advento da televisão, será preciso recuarmos às pri- meiras décadas do século XIX. Mais precisamente, devemos notar a descoberta do selênio, em 1817, pelo químico sueco Jacob Berzelius (1779-1848). Anos mais tarde, durante a década de 1870, cientistas observaram que esse elemento quími- co, o selênio, apresentava uma propriedade incomum: sua resistência à passagem da corrente elétrica era alterada em função da intensidade de luz que sobre ele era exercida. Sendo mais preciso, a resistência à condução da corrente elétrica é maior no selênio quando este é colocado no escuro; já a mesma resistência diminui quan- do o elemento é iluminado por uma fonte de luz. A partir do contexto ao qual o selênio se oferecia, diversos experimentos foram realizados ao longo das décadas de 1870 e 1880 em diferentes localidades da Europa e dos EUA. A ideia básica das experiências consistia em fazer gerar algum tipo de imagem em suporte fixo por meio das qualidades do selênio em seu con- tato com a eletricidade e a luz. Por meio da resistência à corrente elétrica, imposta em maior ou menor intensidade pelo elemento químico, determinados dispositivos tinham por meta acender mais ou menos intensamente pequenas lâmpadas, de modo que um conjunto de lâmpadas ocasionasse a impressão visual de uma ima- gem registrada em sua totalidade. Importante! Com os primeiros aparelhos de televisão, o telespectador tem a impressão de ver ima- gens em sucessão. Mas na verdade, cada uma dessas imagens é concebida por um único ponto de luz que, na velocidade da eletricidade, se move na tela do tubo do televisor, aumentando ou reduzindo sua intensidade de modo a formatar áreas claras ou escuras. Nos aparelhos televisivos das primeiras gerações, o ponto de luz percorre 525 linhas. Sendo a varredura das linhas realizada em 1/25 de segundo, por meio da persistência retiniana, o telespectador tem a ilusão de sempre vislumbrar uma imagem completa (COSTELLA, 2002). Em Síntese A partir do desenvolvimento tecnológico obtido ao longo de décadas desde a descoberta do selênio, em 1923, o engenheiro russo-americano Wladimir Zworykin (1888-1982) finalmente concebeu o iconoscópio, o primeiro sistema de televisão to- talmente eletrônico. Contemporaneamente ao feito de Zworykin, outras conquistas no mesmo sentido também foram obtidas na Europa – nomeadamente na Inglater- ra, por meio da BBC de Londres que, em 1929, apresentou o seu sistema televisivo de 30 linhas; na Alemanha, onde se deu a conhecer um aparelho rudimentar, mas capaz de transmitir imagens, em 1930; e na França, onde se executaram as primei- ras demonstrações públicas de um televisor em 1931. 12 13 Nos finais da década de 1930, o projeto de televisão de Wladimir Zworykin encontrava-se bastante assentado, mas não de maneira exclusiva. Ao seu lado, e em concorrência, também o inventor estadunidense Philo Farnsworth (1906-1971) desenvolvera um sistema próprio de aparelhagem televisiva. Dessa maneira, em 1937, tanto o sistema de Zworykin quanto o de Farnsworth apresentavam-se sufi- cientemente amadurecidospara saírem dos laboratórios experimentais e ganharem o conhecimento público mundial. No final daquela década, os EUA, líderes no desenvolvimento televisivo, já con- tavam com 17 estações, tendo início com os programas comerciais já na entrada da década de 1940. Contudo, lamentavelmente, o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) im- põe uma interrupção forçada ao desenvolvimento tecnológico da televisão. As emis- soras estadunidenses, dessa forma, são reduzidas a cerca de meia dúzia, enquanto os aparelhos receptores domésticos estacionam na casa das 10 mil unidades. Mas, tal como observado na história do rádio durante a Primeira Guerra Mun- dial, a televisão retorna com grande força após o fim daquele terrível período béli- co. Depois do final da Segunda Grande Guerra, por volta de 1948, o número de estações saltou para 108 nos EUA. E esses números causam ainda mais espanto quando notamos que, ao longo da década de 1960 naquele país, as estações trans- missoras de programação televisiva chegaram à casa das seis centenas, enquanto os receptores domésticos giravam em torno das 60 milhões de unidades. Em 1975, o número de receptores nos lares americanos já era de 90 milhões, ou seja, corres- pondendo à presença do aparelho de televisão em 99% dos lares dos EUA. Neste momento de nossos estudos, também é importante observarmos que a televisão tirou grandes vantagens de toda uma estrutura comercial e jurídica já esta- belecida pelo rádio. Na Europa, por exemplo, onde o monopólio estatal era predo- minante, a televisão ingressou no quadro anteriormente moldado para a radiodifu- são. No continente americano, liderado nesse aspecto pelos EUA, a TV atraiu para si as verbas publicitárias outrora destinadas ao rádio. Diante desse cenário, não é de surpreender que grandes grupos empresarias de comunicação, tanto do rádio como da imprensa, tenham voltado suas atenções e pretensões comerciais para o veículo de domínio pleno no período, a televisão. Já na década de 1950, os EUA conheceram as transmissões televisivas a cores, certamente mais um motivo de grande interesse do público e, por consequência, dos investidores do veículo. Ao longo de décadas de existência, a televisão soube resistir plenamente às dife- rentes pressões que os demais veículos concorrentes tentaram lhe impor no sentido de minimizar a sua predominância nos meios de comunicação a nível global. Sua abrangência é tal que o seu modo de sobrevivência abarca, por exemplo, interseções com o cinema, com a música, com os esportes, com o universo dos games e com o mundo do entretenimento amplo em seus milhões de programas ao redor do mundo . Contudo, contemporaneamente, o veículo vem sofrendo com acentuadas quedas de popularidade (entenda-se, audiência). O rival do momento, possivelmente aquele que 13 UNIDADE Cinema e Televisão determinará as “regras do jogo” no futuro próximo, é a internet. Há diversos mode- los de vínculo entre o modelo de consumo da televisão com a internet, mas a alta velocidade de câmbio tecnológico nos dias atuais impede que qualquer previsão es- clarecedora seja feita relativamente ao futuro da televisão no mundo. Para o aprofundamento do debate relativo à queda de audiência da televisão, pontualmente no cenário brasileiro, recomenda-se a leitura de: “Audiência televisiva em queda: mudanças no jornalismo e na programação da TV aberta”, artigo da autoria de Valdecir Becker e Daniel Gambaro, publicado pela Revista Conexão – Cultura e Comunicação, UCS, Caxias do Sul – v. 15, n. 29, jan./jun. 2016. Disponível em: http://bit.ly/2IH9s7F Ex pl or O Advento da Televisão no Brasil A década de 1950 demarca o momento inaugural da televisão no Brasil. A che- gada dessa tecnologia de comunicação ao território nacional pontua ainda os es- forços de empreendedores em formar um público aderente ao então novo estilo de consumo de entretenimento e informação, bem como a dedicação dos investidores em encontrar formas de programação adequadas e atraentes ao veículo. De fato, esse momento inaugural da televisão brasileira pode ser caracterizado como uma fase de aventuras e improvisos, de tentativas e erros até que se fosse encontrado o rumo certeiro da história do veículo no país. Em causa, por exemplo, estava o elevado custo dos aparelhos receptores para o consumidor final, todo um investimento em formas de financiamento para a manutenção das emissoras de TV recém inauguradas, além da adaptação dos programas radiofônicos e teatrais para a realidade própria do formato televisivo. Como podemos observar, a televisão nasceu sob forte pressão no Brasil. Pressão que diz respeito, inclusive, ao desafio de lidar com a imaginação coletiva em torno do sistema televisivo. Uma imaginação que sugere a construção material do veículo comunicativo como uma espécie de mescla entre rádio e cinema, no qual, simbolicamente, os acontecimentos do mundo tornavam-se ainda mais próxi- mos do cotidiano em sociedade. Tratava-se ali do dinamismo radiofônico associado às imagens “vivas” do cinema. Um dos maiores responsáveis em dar asas, e concretude, à imaginação popular em torno da televisão no Brasil foi o magnata Assis Chateaubriand (1892-1968). Esse verdadeiro pioneiro da TV no país não mediu esforços para alcançar êxito em seus empreendimentos. Dessa maneira, é por meio da grande investida daquele empresário que nasce a televisão em nosso país, em 18 de setembro de 1950, no- meadamente através da inauguração da TV Tupi Difusora de São Paulo. Ainda no princípio da década de 1950, além da sede da TV Tupi no Rio de Janeiro, têm inauguração a TV Record de São Paulo e a TV do Jornal do Comércio de Recife. E de 1955 a 1961 são inauguradas mais 21 novas emissoras espalhadas por todo o território nacional. 14 15 Importante! Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, o Assis Chateaubriand, também co- nhecido como Chatô, foi um jornalista, empresário e político brasileiro. Chateaubriand foi uma das personalidades públicas mais influentes no cenário político, empresarial e midi- ático brasileiro entre as décadas de 1940 e 1960. Além de ter sido o grande responsável pela inauguração da TV no Brasil, ele ainda teve sob seu domínio os Diários Associados, o maior conglomerado de mídia da América Latina, que chegou a reunir em administração única mais de cem jornais, revistas, rádios, emissoras de televisão e agências de notícias. Você Sabia? Já na década de 1960, ou seja, com dez anos de existência ativa e ininterrupta no país, a televisão brasileira conhece o seu amadurecimento em direção ao pro- fissionalismo efetivo. Nesse período de sua história, além de novo acréscimo no número de emissoras, surge todo um conjunto de técnicos, artistas, produtores, estrelas televisivas, em suma, uma seleção de especialistas naquela linguagem que permite o prenúncio da massificação da televisão e a formatação definitiva da in- dústria cultural no Brasil. Dado relevante, nesse sentido, é o número de televisores vendidos no país ao longo da década de 1960: duzentos mil. Seria possível afirmarmos que a TV Excelsior, inaugurada em 18 de setembro de 1960, em São Paulo, exatamente na data de celebração da primeira década de existência da televisão brasileira, é um bom exemplo do caráter profissional que passaria a ditar o perfil das TVs no país. Aquela emissora, hoje extinta, tinha por hábito exibir na tela, em forma de créditos, o nome de todos os profissionais (de todos os segmentos envolvidos) responsáveis pela veiculação de um programa, sempre que este fosse ao ar. Assim, o telespectador passava a ter não apenas a per- cepção da quantidade de profissionais necessários para que uma emissora pudesse funcionar, mas também começava a associar determinados nomes à primazia da função técnica desempenhada. O aumento do público telespectador também implicou que a televisão populari- zasse a sua programação. Assim, não raramente, as emissoras recuperavam como referência modelos de programas vitoriososno rádio e os aplicavam à linguagem televisiva. Dessa maneira, os chamados “enlatados” norte-americanos surgiram como alternativa a um sistema de produção próprio e encarecido. As emissoras que buscaram fixar esforços em talentos nacionais acabaram por desenvolver uma criação concorrente bastante peculiar (e exitosa): a telenovela. Inaugurada em abril de 1965, ou seja, apenas um ano depois do Golpe Civil Militar de 1964 no Brasil, e mantendo relações estreitas com a ditadura vigente até meados da década de 1980, a Rede Globo de Televisão afirma-se como a principal emissora televisiva brasileira já desde a década de 1970. Aliás, um dos aspectos caracterizadores daquele período é a hegemonia da Globo entre as emissoras de televisão, seja do ponto de vista estético como da perspectiva comercial. Mas aque- la também foi uma fase de modernização da TV brasileira, de modo que tensões entre o conservadorismo e a ousadia da linguagem também fizeram parte dos 15 UNIDADE Cinema e Televisão embates no âmbito das programações da altura. Em pauta estava, inclusive como manteve-se a partir de então em nossa sociedade, o velho (e absolutamente impor- tante) dilema sobre qual deve ser o papel social da televisão: simplesmente entreter, ou também colaborar para a melhor conscientização política e social das massas? Após 21 anos de ditadura militar, em 15 março de 1985, o Brasil finalmente retoma o processo democrático de sua vida pública. A televisão no país, necessa- riamente, é influenciada por esse novo contexto. Com o afrouxamento da censura característica do período até então vigente, a TV brasileira direciona suas progra- mações para formatos mais populares. Assim, depois de uma etapa de moderniza- ção e incentivos a matérias televisas de cunho reflexivo acerca da realidade socio- política nacional, surge aquilo que podemos denominar como o “popular moderno” da televisão brasileira. Ou seja, um tipo de gênero televisivo que tenta justamente caminhar no limiar entre o apelativo de maior audiência e o exigente esteticamente. O Sistema Brasileiro de Televisão – SBT, inaugurado em 1981 sob a administração do empresário e animador Sílvio Santos, talvez seja o caso mais exemplar da apli- cação desse perfil recorrente naquela etapa da história da televisão no país. Já os anos 1990 trouxeram práticas de segmentação, os canais pagos, os vide- ocassetes, as experiências embrionárias de interatividade e de digitalização ao mer- cado televisivo brasileiro. Tratava-se da globalização efetiva do mercado televisivo. Assim, os desafios tornaram-se cada vez mais acentuados e complexos para as pro- gramações de TV no país. Algumas emissoras arriscaram seguir investindo na es- tratégia de popularização de sua imagem, como é o caso do SBT e sua associação com produções mexicanas. Outras emissoras buscaram encontrar em trabalhos de elevada qualidade o retorno de audiência desejado, como é o exemplo da extinta TV Manchete e a sua memorável telenovela “Pantanal”. A TV Globo, mesmo líder isolada de audiência, foi obrigada a rever seus padrões de qualidade e de investi- mento, é nessa década que surgem, por exemplo, produções de viés popularesco como “Domingão do Faustão” e “Linha Direta”. Por fim, os anos 2000 apresentaram características recorrentes perceptíveis na grande maioria das televisões do mundo democrático: o avanço do processo de digitalização. O Brasil não ficou alheio às transformações que a alta tecnologia implicou aos sistemas de comunicação ao redor do mundo. Aliás, em nosso país, podemos mesmo perceber como a convergência digital esteve sempre associada à própria expansão da televisão. Isso quer dizer que, além do processo característico de visionamento da programação televisiva no tradicional monitor da sala de estar, contemporaneamente, as programações da TV são consumidas via sites, blogs, redes sociais, celulares, tablets, etc. Por essa razão, é imperativo nos dias correntes que as empresas de televisão ampliem seus negócios e a penetração social via prá- ticas “transmidiáticas”. Interações do e com o público e correções de programações em tempo real, a partir de definições em programas de “reality show”, são bons exemplos das condutas adotadas pela televisão brasileira contemporaneamente. Uma característica que tende a ser acentuada na medida que a internet passa a ser a nova condutora dos modos de consumo em todo o mundo. 16 17 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros A bela época do cinema brasileiro ARAÚJO, V. P. A bela época do cinema brasileiro. São Paulo: Perspectivas, 1976. A televisão levada a sério MACHADO, A. A televisão levada a sério. 2 ed. São Paulo: Senac, 2000. História do cinema mundial MASCARELLO, F. (org.). História do cinema mundial. Campinas, SP: Papirus, 2014. (e-book) Leitura Gêneros e formatos na televisão brasileira SOUZA, J. C. A. Gêneros e formatos na televisão brasileira. São Paulo: Sumus, 2015. http://bit.ly/2IB9ezd 17 UNIDADE Cinema e Televisão Referências BURKE, P.; BRIGGS, A. Uma história social da mídia: de Gutenberg à internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. COSTELLA, A. F. Comunicação: do grito ao satélite. São Paulo: Editora Mantiqueira , 1984 (2 edição); 2002 (5 edição). MCLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensão do homem. São Paulo: Cultrix, 2016. RIBEIRO, A. P. G.; SACRAMENTO, I.; ROXO, M. (Org.). História da televisão no Brasil. Contexto. 2010. (e-book) 18