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Serviço Público Federal Ministério da educação Universidade Federal de Sergipe Campus Universitário “Professor Antônio Garcia Filho” Graduação em Medicina Sanni Silvino Parente Revisão: Lombalgias Apesar de a maioria dos casos de lombalgia serem benignas e auto-limitadas, as doenças da coluna lombar constituem a causa mais comum de invalidez relacionada a problemas musculoesqueléticos. Uma investigação mais detalhada deve ser feita quando a dor é persistente, progressiva ou em suspeita de doenças mais graves. EPIDEMIOLOGIA A dor lombar baixa (DLB) é a segunda doença mais frequente da humanidade, sua prevalência varia entre 10 a 50%. Cerca de 80% da população já apresentou um episodio de DLB. Metade dos episódios agudos melhoram em uma semana e após 8 semanas, cerca de 90% evoluem para a cura. Fatores de risco para cronicidade: trabalhos com levantamento de peso ou em posições especiais; histeria, neurose e quadros conversivos; fumo e obesidade. ANAMNESE Início da dor: o Súbito/intenso > hérnia discal; o Insidiosa> degenerativas; Localização: difusa ou localizada; Irradiação: o Abaixo do joelho> radicular; o Até o joelho> estruturas próprias da coluna; Ritmo da dor: o Piora ao repouso e melhora com o movimento> inflamatória (espondiloartropatias); o Piora ao movimento e melhora ao repouso> mecânico-degenerativa; o Fixa, intensidade crescente, sem fatores de melhora> infecciosa ou tumoral; Característica da dor: o Radicular> lancinante, parestesias; o Psicogênica> sofrimento ou punição, não segue trajeto de dermátono o Mecânica> dor surda, profunda, mal delimitada. Febre e perda de peso> infecção e tumores; EXAME FÍSICO Exame geral; Inspeção: avaliar desvios, simetrias, hiperlordose, sinais inflamatórios (edema e eritema), tofismo muscular e obesidade; Mobilização: o Dor na flexão> originária dos elementos anteriores (disco); o Dor à extensão> elementos posteriores (articulações facetarias); o Dor à extensão com melhora à flexão> estreitamento do canal lombar. o Lesão da raiz S1> dificulta marcha na ponta dos pés; o Lesão da raiz L5> dificulta marcha nos calcanhares; teste de Trendelenburg. Palpação; Exame osteoarticular; Exame neurológico: o Raiz L4: força de flexão da coxa; Dor: nádega> face antero- lateral da coxa> borda anterior da perna; Déficit motor: dorsiflexão do pé; Reflexo: patelar. o Raiz L5: dorsiflexão do pé; Dor: nádega> face póstero- lateral da coxa> face lateral da perna> tornozelo (em bracelete)> região dorsal do pé> hálux Déficit motor: extensão do hálux. o Raiz S1: motora (marcha na ponta dos pés); Dor: nádega> face posterior da coxa e perna> calcanhar e borda lateral do pé> quinto artelho Déficit motor: flexão plantar do pé; Reflexo: aquíleo. Testes especiais: o Lasègue: compressão radicular L5 ou S1; o Estiramento femoral: dor na região anterior da coxa> L2 ou L3; dor na face medial da perna> L4. o Babinski. INVESTIGAÇÃO Quando história de trauma importante, suspeita de doença sistêmica e dor persistente ou progressiva RX: constitui a primeira etapa; incidências em frente e perfil são suficientes; útial para avaliar alterações da arquitetura da coluna e no diagnóstico de lesões vertebrais tumorais e fraturas. TC: melhor método para visualização da arquitetura óssea; portanto, tem alta sensibilidade para detectar lesões ósseas; porém permite apenas a visualização de segmentos limitados da coluna e não permite a visualização de lesões intra- durais sem a injeção de contraste. RNM: principal exame no estudo das patologias da coluna; útil na detecção de patologias intramedulares, vertebral ou de tecidos moles paravertebrais; detecção de infecções e hérnias discais; alto-custo e contraindicações. Mielografia: é um exame agressivo, exige hospitalização e utilização de contrate intra-tecal; útil quando se trata de avaliação dinâmica, estudo topográfico pré-operatorio, síndrome da cauda equina e radiculopatias atípicas. Mapeamento com radioisótopos: detecção precoce de metástase ósseas e infecções. Eletroneuromiografia (ENMG); SÍNDROMES CLÍNICAS LOMBALGIA MECÂNICA COMUM Dor lombar, geralmente unilateral, podendo ser central, irradiando-se para região sacral e nádegas. Em geral, ocorre após esforço físico maior ou esforços físicos repetidos em posição de estresse para a coluna. Corresponde a cerca de 90% dos casos. Deve-se ter cuidado para não encorajar um comportamento “doente” e inseguro, motivando a voltar as atividade cotidianas o mais brevemente possível, pois a melhora geralmente acontece em poucas semanas. TRATAMENTO Atividade física; Modalidades físicas: melhora dos sintomas a curto prazo o Gelo: diminui dor, edema e espasmo muscular; o Calor: na fase crônica, produz analgesia, melhora a rigidez; superficial (infravermelho, compressas) ou profundo(US); o TENS: faz uso da teoria do portão; Medicamentoso: o Analgésicos: acetaminofen; os narcóticos (codeína) estão reservados para casos mais graves – hérnia discal- por curtos períodos de tempo; o AINHs: isoladamente ou associação com analgésicos; cuidado com os efeitos colaterais; permitem o reinicio das atividades físicas normais; o Miorrelaxantes: quando existe espasmo muscular, associação com AINHs; o Antidepressivos: em doses baixas, eficientes quando existir distúrbios do sono, inicio de ação lento, devem ser utilizados por longos períodos em lombalgia crônica. Infiltrações locais: o Anestésicos e corticosteroides: pontos-gatilho musculares ou ligamentares; o Epidurais: radiculalgia dos MMII; o De facetas sob fluoroscopia; Escola de coluna. ESPONDILOLISE E ESPONDILOLISTESE Espondilolistese: deslizamento parcial ou total de uma vértebra sobre a outra; Espondilolise: fratura do pars interarticularis A forma congênita da espondilolistese está associada a processos articulares displásicos ou outras alterações anatômicas que se tornam instáveis; a forma adquirida pode estar relacionada a espondilolise e ocorre com mais frequência em crianças a partir dos 5 a 7 anos ou em atletas jovens; a forma degenerativa resulta daa instabilidade crônica de um segmento da lombar, é 6x mais frequentes nas mulheres e a incidência aumenta após os 40 anos. São observações comuns em radiologia com portadores de dores lombares, principalmente à extensão da coluna. O tratamento é, em geral, conservador, sendo submetidos a fusão vertebral aqueles com dor intratável ou manifestações neurológicas. OSTEOARTROSE E DISCOPATIA Alterações degenerativas do disco e facetas: comuns, surgem com o envelhecimento; quando percebe-se calcificações discais, alerta para presença de uma afecção metabólica subjacente (ocronose, hemocromatose, depósito de pirofosfato de cálcio). A maioria dos portadores de osteoartrose radiológica é assintomática; dor mecânica; certo grau de rigidez matinal. Tratamento à base de analgésicos e AINHs, reabilitação e exercícios físicos. INFECÇÕES DA COLUNA Suspeita por dor persistente, presente no repouso e piorando aos movimentos, associados ou não à febre (50%). Os quadros bacterianos (Staphylococus aureus) costumam ser agudos. Emidosos e imunosuprimidos, gram- também podem estar presentes. O exame revela diminuição da mobilidade, espasmo muscular e dor à percussão. O RX pode indicar osteopenia localizada; lesões radiológicas costumam aparecer tardiamente. O disco costuma ser aatingido secundariamente à vértebra. O tratamento é sempre conservador no inicio: repoudo no leito e antibacteriano. A resposta terapêutica é monitorada através da melhora da dor, do espasmo muscular e pela diminuição da velocidade de hemossedimentação. A cirurgia é indicada quando comprometimento neurológico ou resistência ao antibiótico. TUMORES DA COLUNA Relativamente raros, diagnóstico, portanto, requer um alto grau de suspeita. A dor é persistente e progressiva. A dor lombar se manifesta como sintoma inicial na maioria dos pacientes. Benignos: dor localizada; envolvem o arco posterior da vértebra; o mais comum é o hemangioma (10% população); outros: osteoma osteóide, osteoblastoma, osteocordoma, tumor de células gigantes, cisto ósseo aneurismático e granuloma eosinofílico. Malignos: dor mais difusa; envolvem o corpo vertebral; mais comum: mieloma múltiplo e sua forma localizada – plasmocitoma (acima dos 50 anos); outras: metástases de mama, pulmão, próstata, rim, tireóide, bexiga e cólon. DOENÇAS INFLAMATÓRIAS Rigidez matinal importante, com mais de 1h de duração; dor noturna, elevação da velocidade de hemossedimentação e sarcolíte precoce. Esse quadro associado às alterações sistêmicas de articulações periféricas, típicas dessas doenças, auxiliam seu diagnóstico. As espondiloartropatias (espondilite anquilosante, síndrome de Reiter, artrite psoriática e artropatia enteropática) podem levar a quadros de lombalgia inflamatória. FRATURAS PATOLÓGICAS DAS VÉRTEBRAS Doenças que levam a desmineralização óssea vertebral podem levar a fraturas espontâneas ou após trauma mínimo. A dor é súbita, intensa, localizada; melhora progressiva após 2 a 3 meses; dor a palpação local, espasmo muscular reativo. A osteoporose é a principal; mulheres na pós- menopausa. Outras doenças metabólicas: osteomalácia, hiperparatireoidismo, doença de Paget, sarcoidose, etc. Na investigação, faz-se necessário avaliar o metabolismo do cálcio e vitamina D, fosfatase alcalina, estudos hematológicos e outros; exame radiológico. DOR VISCERAL REFERIDA A lombalgia raramente é o único sintoma; presença de dor com ritmo próprio, não melhora ao repouso deve levar a suspeita. Aneurisma aórtico; endometriose; gravidez tubaria; calculore renal; prostatite; pancreatite; úlcera péptica; câncer de cólon. HÉRNIA DISCAL A degeneração discal começa a contecer na segunda década de vida. Hérnia discal = deslocamento do núcleo pulposo além dos limites do anel fibroso. O núcleo herniado pode permanecer sob o ligamento comum posterior, migrar em direção cefálica ou caudal, ou romper com o ligamento (hérnia extraligamentar). É exclusa quando ocorre uma solução de continuidade do núcleo. Mais de 90% ocorrem no quarto e quinto espaço intervertebrar lombar, atingindo L4, L5 e S1. ETIOPATOGENIA O conflito disco-radicular é um fator necessário, porém não suficiente para o desenvolvimento da dor. Aceita-se que o edema, a congestão da raiz e a inflamação sejam importantes na gênese da dor. QUADRO-CLINICO Vários pacientes relatam episódios de lombalgia aguda iniciados na segunda década de vida, precipitados por levantamento de peso ou outra atividade física importante. A radiculalgia costuma aparecer cerca de 10 anos após. Dor intensa, aguda; piora em ortostase, longos períodos em posição sentada, aos movimentos e à tosse. Dor melhora parcialmente com o repouso. Atitude antálgica; contratura paravertebral importante do lado da hérnia e diminuição da lordose lombar fisiológica. Movimentos da coluna ficam limitados. Sinal de Lasègue; exame neurológico. Atenção a distúrbios esfincterianos, podem indicar síndrome da cauda equina. DIAGNÓSTICO Quadros de lombo-ciatalgia com topografia típica sem sinais de doença sistêmica devem ser considerados e tratados antes de outras avaliações. Em idosos, as hérnias são quadros mais raros, necessitando de um cuidado maior na busca de patologia inflamatória ou tumoral. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Doenças que cursam com radiculalgias: estenose do canal lombar; malformações do saco dural; espondilolistese por lise ístimica; tumorações; infecções e inflamações; Que simulam radiculalgia: pseudo- cruralgias da patologia coxofemoral e sacroileítes; processo expansivo ou trauma afetando o tronco nervoso ou nervo periférico; doenças viscerais com irradiada para MMIII; doenças neurológicas. TRATAMENTO Recomenda-se reiniciar precocemente as atividades. Reabilitação fisioterápica. Correção de hábitos e posturas. Fortalecimento da musculatura e alongamento. Usar uma cinta abdominal nas primeiras semanas. Analgésicos, AINHs e miorrelaxantes. Caso não haja melhora após 4 a 5 semanas, investigação radiológica (RNM, TC ou mielografia). Injeção de corticosteroides por via epidural. Cirurgia: tto da dor no membro inferior, não da lombalgia. Nucleólise pela quimiopapaina; Nucleólise por microcirurgia percutânea. ESTENOSE DO CANAL LOMBAR Qualquer tipo de estreitamento do canal medular que resulta em compressão das raízes nervosas lombossacrais ou cauda equina. Corresponde a principal causa de cirurgia lombar de pacientes com >65anos. Pode ser congênita ou degenerativa (>50anos); ou pode ser classificada de acordo com a anatomia: estenose central, do recesso lateral ou do forame intervertebral. ETIOPATOGENIA Contribuem para a progressiva diminuição da luz do canal: hipertrofia do ligamento amarelo, protusões, hérnias discais, hipertrofias ósseas e das articulações facetarias e espondilolistese. A compressão direta pelo processo degenerativo não é suficiente para explicar o desenvolvimento dos sintomas. Acredita-se que fatores vasculares que prejudicam a nutrição dos componentes nervosos tenham importante papel etiopatogenico nos sintomas. QUADRO-CLINICO >50 anos; dor lombar, radiculalgia (uni ou bilateral, mal localizada) e claudicação neurogênica (dor ou desconforto nos MMII exacerbada pela extensão da coluna lombar durante ortostase prolongada ou marcha, melhora com a flexão da coluna). Em geral, esses sintomas são precedidos de uma história de lombalgia crônica. DIAGNOSTICO DIFERENCIAL Claudicação vascular; hérnias discais (sinal de Lasègue); neuropatias periféricas, neoplasias; doenças desmielinizantes; alterações degenerativas do quadril ou joelho. O método de imagem mais bem visto é RNM. TRATAMENTO Medidas gerais: alivio da dor e manutenção das atividades físicas; repouso nos episódios de exacerbação da dor; exercícios com redução da lordose lombar; exercícios aeróbicos e de fortalecimento da musculatura abdominal. Medicamentoso: analgésicos comuns, AINHs, miorrelaxantes e antidepressivos; calcitonina. Cirúrgico: promove alivio imediato da dor, mas não há indícios de um melhor prognóstico quando estudado a longo prazo; indicado em complicações neurológicas importantes, dor intolerável resistente e progressão na limitação da marcha ou déficit neurológico. Infiltrações locais: corticosteroides por viaepidural; atuação em processo inflamatório.
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