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Textos Informativos Acadêmicos – Resumo e Resenha

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA – UCB
CURSO: Formação Geral 
DISCIPLINA: Introdução à Educação Superior
TEXTOS INFORMATIVOS ACADÊMICOS – Resumo e Resenha
1. Leitura introdutória
A produção do texto acadêmico: um desafio a ser enfrentado
A capacidade de produzir textos de qualidade, nos mais diferentes níveis e estilos, literários ou não, esteve, durante muito tempo, associada a um dom divino, cujos agraciados deveriam ser admirados por aqueles que não tiveram tanta sorte assim. Uma das razões que levam a isso é a relação que se estabelece entre a capacidade de produção escrita e criatividade. Não é incomum que as pessoas considerem criativos apenas escritores ou alguns colegas, os quais muitas vezes destacam-se em sua turma.
Tal equívoco provoca uma sensação de impotência do aluno universitário diante das exigências de produção de textos criativos, originais, consistentes quanto ao conteúdo e formalmente corretos. Daí surge o mito de que a língua portuguesa é difícil. As barreiras psicológicas criadas a partir desta premissa são enormes, têm repercussões extremamente negativas na vida acadêmica, pois ao introjetar este mito, o universitário introjeta, a reboque, a infeliz idéia de que se ele não domina a habilidade de comunicar-se por escrito, não há solução, já que ou você tem esta habilidade ou não.
Refutar o fato de a Língua Portuguesa ser difícil não é tarefa simples, tendo em vista não ser pequena a rejeição ao seu aprendizado. No entanto, lingüistas contemporâneos, como Marcos Bagno, reconhecem que crianças de três ou quatro anos já dominam a estrutura gramatical que fundamenta sua língua materna. O que se faz necessário, com o tempo, é o aprendizado sistemático das nuances e engenhosidades da língua que se adquire a partir da literatura e da insistente prática de produção de textos.
O reconhecimento da Língua Portuguesa como instrumento que possibilita a comunicação na comunidade em que vivemos é o primeiro passo para a superação de preconceitos que envolvem o aprendizado da escrita. A consciência de que dominamos a língua materna é imprescindível: saber-nos emissores e receptores ativos do processo de comunicação pode nos apontar a viabilidade de desenvolvimento da competência escrita.
A percepção de que a Língua Portuguesa é muito mais do que o ato de escrever permite a antevisão de que ela não traz tantas dificuldades como supúnhamos e, portanto, é possível ampliar nossas possibilidades de comunicação, visto que já nos comunicamos em larga escala por meio da oralidade, gestualidade, corporeidade (movimentos voluntários ou não) e até informalmente, por meio da escrita quando deixamos bilhetes a amigos e familiares, listamos compras, registramos recados, enviamos cartões e e-mails ou mesmo participamos de chats e listas de discussão na Internet.
Comunicar-se é então uma necessidade que se confunde com a nossa própria existência. Rubem Alves, em seu texto “Pensar”, lembra-nos:
Todo mundo fala, e fala bem. Ninguém sabe como a linguagem foi ensinada e nem como foi aprendida. A despeito disso, o ensino foi tão eficiente que não preciso pensar em falar. Ao falar, não sei se estou usando um substantivo, um verbo ou um adjetivo, e nem me lembro das regras de gramática. Quem, para falar, tem que se lembrar dessas coisas, não sabe falar. Há um nível de aprendizado em  que o pensamento é um estorvo. (...) É um conhecimento que se tornou parte inconsciente de mim mesmo.
A linguagem constitui-se uma atividade fundamentalmente social e, como tal, apresenta variedades lingüísticas que devem ser consideradas sem que se lhe sobreponha os princípios de homogeneidade absoluta, o que se trata, sem dúvida, de uma ilusão. Reconhecer as diferenças individuais, advindas de particularidades pessoais ou grupais, é o segundo passo para que se alcance a proficiência escrita desejada na universidade. A consciência de que dominamos a língua que utilizamos para nos comunicar e de que o estilo pessoal deve prevalecer diante de normas artificiais é, portanto, primordial para que tenhamos o que Henrique Matos chama de tranqüilidade de espírito. A agitação mental e a preocupação excessiva com determinados paradigmas limitam a liberdade de pensamento e a autonomia estilística. Será que Quintana preocupava-se excessivamente com a gramática ao escrever “O Poema”? “Uma formiguinha atravessa, em diagonal, a página ainda em branco. Mas ele, naquela noite, não escreveu nada. Para quê? Se por ali já havia passado o frêmito e o mistério da vida...” 
Nesse sentido, há que se entender que escrever bem depende de um disciplinado e sistemático exercício de aprendizagem. O treinamento contínuo possibilitará a coordenação adequada e a expressão clara das idéias. Aqui se apresenta um novo quadro para a escrita, que pode ser representado metaforicamente como um caminho a ser cuidadosa e paulatinamente construído e cujo percurso exige um mapeamento (condições prévias para a escrita), bem como exige perseverança e disciplina.
FERREIRA, Sandra M. Bessa. A Produção do Texto Acadêmico: um desafio a ser enfrentado. 
In: FERNANDEZ, Márcia de S. M. (org). Texto Didático Organizado: Série Educação Física, ano 1, nº 1. Brasília: Editora Universa.
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2. Definições e exemplos de resumo e resenha
O texto acadêmico com função informativa estrutura-se de acordo com alguns tipos básicos, como o resumo e a resenha. Observe como se caracterizam e de que forma são elaborados.
2.1) Resumo
Resumo pode ser definido como uma apresentação concisa e seletiva das idéias de um texto. Trata-se de um gênero informativo, pois o objetivo principal é informar o leitor, e não fazer críticas ou julgamentos de valor. Constitui importante forma de estudo, visto que exige diversas habilidades cognitivas, como apreensão, compreensão/ interpretação, análise do texto-base e capacidade de síntese por parte do intelector. Há diferentes tipos de resumo: o indicativo (sumário narrativo, que exclui dados); o informativo (condensação do conteúdo, em que se expõem finalidades, metodologia, resultados e conclusões); o informativo/indicativo (um tipo misto, que dispensa a leitura do fundamental – a tese e as conclusões –, mas não a dos demais aspectos) e o crítico, também chamado de recensão ou resenha (resumo redigido por especialista/pesquisador, que inclui a análise interpretativa).
Para elaborar um resumo, é necessário realizar, primeiro, um bom trabalho de leitura, o que inclui anotar as idéias principais – os subtemas, ou temas das partes do texto-base. É preciso, ainda, verificar a progressão temática do texto, construída com base na expansão e na correlação/conexão das idéias principais. Na etapa da redação, é recomendável usar linguagem objetiva, clara e concisa, assim como expressões de referência ao texto-base, como “Segundo o autor...”, “De acordo com o que o autor afirma...”, “No parágrafo x, o autor discute que...”, e assim por diante. É importante priorizar o tom impessoal e evitar copiar frases e expressões do texto original. O resumo, por fim, deve ser uma fração do texto-base, na qual se preserva a ordem em que as idéias e fatos são originalmente apresentados. Para você conhecer as características sistematizadas do resumo, consulte o quadro seguinte:
	SISTEMATIZAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DO RESUMO
	O que incluir?
	Idéias relevantes: assunto, propósito, teoria, método, resultados e conclusões.
	O que deve sair?
	Conteúdos facilmente inferíveis e explicações, exemplos, justificativas.
	Como deve ser a linguagem?
	Objetiva e impessoal, sem juízo ou apreciação crítica sobre mérito ou falhas.
	Como deve ser quanto ao texto-base?
	Ter autonomia textual, sem repetição de frases literais do texto-base.
	Que tipo de ênfase pode haver?
	Enfatizar a contribuição do autor para o campo de saber, ou para o tema abordado.
	O que deve propiciar?
	Construir a visão sucinta do assunto e estimular a consulta do original.
O texto abaixo é um exemplo de resumo:
 
“Leonardo Boff inicia o artigo ‘A cultura da paz’ apontando o fato de que vivemos em uma cultura que secaracteriza fundamentalmente pela violência. Diante disso, o autor levanta a questão da possibilidade de essa violência poder ser superada ou não. Inicialmente, ele apresenta argumentos que sustentam a tese de que seria impossível, pois as próprias características psicológicas humanas e um conjunto de forças naturais e sociais reforçariam essa cultura da violência, tornando difícil sua superação. Mas, mesmo reconhecendo o poder dessas forças, Boff considera que, nesse momento, é indispensável estabelecermos uma cultura de paz contra a violência, pois essa estaria nos levando à extinção da vida humana no planeta. Segundo o autor, seria possível construir essa cultura, pelo fato de que os seres humanos são providos de componentes genéticos que nos permitem sermos sociais, cooperativos, criadores e dotados de recursos para limitar a violência e de que a essência do ser humano seria o cuidado, definido pelo autor como sendo uma relação amorosa com a realidade, que poderia levar à superação da violência. A partir dessas constatações, o teólogo conclui, incitando-nos a despertar as potencialidades humanas para a paz, como projeto pessoal e coletivo.” 
MACHADO, A. R.; LOUSADA, E.; ABREU-TARDELLI, L. S. Resumo. São Paulo: Parábola, 2004, p. 16. 
 
2.2) Resenha
A Resenha também consiste numa apresentação concisa e seletiva das idéias de um texto, mas, além das informações resumidas, traz avaliações, críticas e comentários por parte do resenhista. É uma redação técnica que avalia de forma sintética a importância de uma obra científica, literária, artística. Conforme Medeiros (2005: 159), também constitui importante forma de estudo, que exige diversas habilidades cognitivas e “contribui para desenvolver a maturidade intelectual e levar o iniciante à pesquisa e à elaboração de trabalhos monográficos”. Assim como o resumo, não dispensa rigoroso trabalho de leitura. No caso de um texto científico, por exemplo, nesse trabalho devem ser identificados o tema abordado pelo autor da obra a ser resenhada; o problema levantado por ele; a posição adotada frente ao problema; os argumentos centrais utilizados para defender sua posição, e assim por diante. Realizada tal leitura, procede-se à análise do objeto resenhado, passo em que é preciso responder a algumas perguntas sobre a obra/autor, por exemplo: Qual o alcance do texto? Qual a relevância das idéias? Que contribuições apresenta? A tese está apoiada argumentos? Que questões o texto levanta? Há diálogo com outras obras que abordam o mesmo tema? No quadro seguinte, com base em Medeiros (2005), apresentamos uma proposta de estruturação de resenha:
	PROPOSTA PARA ESTRUTURAÇÃO DE RESENHA
	1. Referência bibliográfica
	Autor; título da obra; elementos de imprenta (cidade, edição, editora, data); número de páginas.
Exemplo: MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2005. 326 p. 
	2. Credenciais do autor
	Informações sobre o autor, nacionalidade, formação, trabalhos publicados.
	3. Resumo da obra
	Tema abordado; problema levantado; síntese do conteúdo dos capítulos ou partes da obra; posição do autor diante do problema; argumentos apresentados; conclusões do autor.
	4. Crítica do resenhista (apreciação)
	Avaliação da qualidade do texto, quanto à coerência, validade, originalidade, profundidade, alcance, em relação a outros textos e autores. 
O texto a seguir é um exemplo de resenha:
Um gramático contra a gramática
Gilberto Scarton
     Língua e Liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino (L&PM, 1995, 112 páginas) do gramático Celso Pedro Luft traz um conjunto de idéias que subverte a ordem estabelecida no ensino da língua materna, por combater, veemente, o ensino da gramática em sala de aula.
Nos 6 pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, intencionalmente, sempre na mesma tecla - uma variação sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada de ensinar a língua materna, as noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramaticalista, inutilidade do ensino da teoria gramatical, a visão distorcida de que se ensinar a língua é se ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a prática lingüística, a postura prescritiva, purista e alienada - tão comum nas “aulas de português”.
 O velho pesquisador apaixonado pelos problemas da língua, teórico de espírito lúcido e de larga formação lingüística e professor de longa experiência leva o leitor a discernir com rigor gramática e comunicação: gramática natural e gramática artificial; gramática tradicional e lingüística; o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos gramáticos, dos lingüistas, dos professores; o ensino útil, do ensino inútil; o essencial, do irrelevante.
Essa fundamentação lingüística de que lança mão - traduzida de forma simples com fim de difundir assunto tão especializado para o público em geral - sustenta a tese do Mestre, e o leitor facilmente se convence de que aprender uma língua não é tão complicado como faz ver o ensino gramaticalista tradicional. É, antes de tudo, um fato natural, imanente ao ser humano; um processo espontâneo, automático, natural, inevitável, como crescer. Consciente desse poder intrínseco, dessa propensão inata pela linguagem, liberto de preconceitos e do artificialismo do ensino definitório, nomenclaturista e alienante, o aluno poderá ter a palavra, para desenvolver seu espírito crítico e para falar por si.
Embora Língua e Liberdade do professor Celso Pedro Luft não seja tão original quanto pareça ser para o grande público (pois as mesmas concepções aparecem em muitos teóricos ao longo da história), tem o mérito de reunir, numa mesma obra, convincente fundamentação que lhe sustenta a tese e atenua o choque que os leitores - vítimas do ensino tradicional - e os professores de português - teóricos, gramatiqueiros, puristas - têm ao se depararem com uma obra de um autor de gramáticas que escreve contra a gramática na sala de aula.
SCARTON, Gilberto. Um gramático contra a gramática. Disponível em: < http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php>. Acesso 20 maio 2007.
Referências bibliográficas
FERREIRA, Sandra M. Bessa. A Produção do Texto Acadêmico: um desafio a ser enfrentado. In: FERNANDEZ, Márcia de S. M. (org). Texto Didático Organizado: Série Educação Física, ano 1, nº 1. Brasília: Editora Universa.
MACHADO, Anna Raquel; LOUSADA, Eliane; ABREU-TARDELLI, Lília Santos. Resumo. São Paulo: Parábola, 2004, p. 16. 
MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2005. 326 p.
SCARTON, Gilberto. Um gramático contra a gramática. Disponível em: < http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php>. Acesso 20 maio 2007.

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