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Curso de Farmacologia dos Antibióticos, Antifúngicos e Antivirais MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 115 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO III Fungos e Infecções Fúngicas Os fungos são micro-organismos que se encontram no solo, na água, nos vegetais, o ar, nos animais e em detritos em geral. Pertencem ao reino Fungi e são organismos eucariontes que contém esporos e se reproduzem de forma sexuada e assexuada. Contém um núcleo limitado por uma membrana nuclear; não contém clorofila; não sintetizam macromoléculas a partir de CO2 e de energia luminosa. Os fungos podem ser saprófitas, alimentando-se de matéria orgânica mista ou em decomposição, simbiontes ou comensais, vivendo em associações em que um organismo é beneficiado e o outro não é prejudicado nem beneficiado. Os fungos podem ser parasitas de organismos superiores. São geralmente anaeróbicos. Figura 39 - Exemplo de alguns fungos. Os fungos têm grande importância médica porque causam doenças no homem e nos animais. Ocasionam também numerosas doenças nas plantas. A ciência que estuda 116 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores os fungos que acarretam infecções fúngicas ao homem é a Micologia Médica. Esses micro-organismos são de suma importância ao nível da alimentação porque são elementos fundamentais na preparação de queijos, molho de soja, pão, vinho e cerveja. A partir dos fungos produzem-se: antibióticos (ex. penicilina, griseofulvina), drogas imunossupressoras (ex. ciclosporina) e ácidos orgânicos (ex. ácido cítrico). A estrutura vegetal de um fungo é designada talo, que varia em complexidade e tamanho podendo ser: unicelulares e microscópicos (ex. leveduras) ou multicelulares e macroscópicos (ex. bolores e cogumelos). Os fungos apresentam parede celular que recobre o plasmalema. A parede celular é estrutural e bioquimicamente complexa, contendo quitina, um polímero de N-acetilglucosamina, como base estrutural. Nos fungos filamentosos a biossíntese de quitina ocorre na extremidade crescente e é controlada pela atividade da quitina sintetase, uma enzima que existe no citosol em composições membranárias chamadas de quitossomas. Formando camadas sobre a quitina, existem mananos, glucanos e outros polissacarídeos complexos em associação com polipeptídeos. Figura 40 – Estrutura polimérica da quitina. . Alguns fungos produzem uma cápsula polissacarídica que recobre a parede celular, exemplo é a espécie Cryptococcus neoformans. A parede celular e a cápsula determinam a virulência de alguns fungos e são importantes determinantes antigênicos. 117 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 41 – Cápsula do Cryptococcus neoformans, agente da Criptococcose. O citosol da célula fúngica é complexo e contêm microvesículas, microtúbulos, ribossomos, mitocôndrias, complexo de Golgi, núcleo, retículo endoplasmático e outras estruturas. O núcleo apresenta características de uma célula eucarionte, é envolvido por uma membrana nuclear e o nucléolo é rico em RNA. Em termos genômicos, são organismos constituídos por múltiplos cromossomos. A membrana citoplasmática da célula fúngica, designada plasmalema, recobre o citosol e é composta de glicoproteínas, lipídios e ergosterol, diferindo neste aspecto das membranas celulares de mamíferos que contêm colesterol. Muitos dos fungos passíveis de causar infecções vivem em associação com os seres humanos como comensais ou estão presentes no meio ambiente; todavia até pouco tempo as infecções superficiais graves eram relativamente raras e as infecções sistêmicas eram, na verdade, muito incomuns – pelo menos nas regiões de clima frio e temperado. Nestes locais, uma infecção fúngica significava a ocorrência de pé-de-atleta ou candidíase oral ou vaginal, que causavam desconforto, mas que dificilmente ameaçavam a vida do indivíduo. Esse quadro começou a mudar a partir de 1970, quando se observou um aumento constante na incidência de infecções fúngicas sistêmicas secundárias graves. Um dos fatores que contribuíram para a propagação da doença fúngica foi o uso indiscriminado de antibióticos de amplo espectro, que eliminam ou reduzem as populações bacterianas não-patogênicas que normalmente competem com os fungos. 118 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Outro fator vem sendo o aumento do número de indivíduos contaminados pelo vírus HIV, pacientes que fazem uso de agentes imunossupressores ou agentes quimioterápicos antineoplásicos, levando a um aumento na prevalência de infecções oportunistas, isto é, infecções por fungos que raramente provocam doença em indivíduos sadios. Nos Estados Unidos, Candida albicans tornou-se o quarto micro-organismo mais comum isolado de hemoculturas. Agentes novos e incomuns estão sendo detectados relacionados a infecções em pacientes imunocomprometidos. Além disso, os fungos são, em sua maioria, totalmente resistentes aos agentes antibacterianos convencionais. As infecções fúngicas são denominadas micoses e, em geral, podem ser divididas em infecções superficiais (que afetam a pele, as unhas, o couro cabeludo ou as mucosas) e infecções sistêmicas (que atingem os tecidos e órgãos mais profundos). Infecções fúngicas superficiais podem ser classificadas em dermatomicoses e candidíase. As dermatomicoses afetam a pele, os cabelos e as unhas e as espécies causadoras mais comuns são Trichophyton, Microsporum e Epidermophytons spp., que causam vários tipos de “tinha”. A Tinea capitis afeta o couro cabeludo, Tinea cruris, a virilha, Tinea pedis, o pé (causando pé-de-atleta), e Tinea corporis, o corpo. Na candidíase superficial, o micro-organismo leveduriforme infecta as mucosas da boca (sapinho), ou da vagina ou a pele. Infecções fúngicas sistêmicas mais comuns consistem em blastomicose, histoplasmose, coccidiomicose e paracoccidiomicose, consideradas infecções primárias, ou seja, não é decorrente de outras infecções ou do comprometimento imunológico do indivíduo. Embora qualquer pessoa possa ser acometida por uma infecção fúngica, alguns indivíduos correm mais riscos que outros. Assim, os idosos, os diabéticos, as mulheres grávidas e as vítimas de queimaduras são, todos eles, mais propensos a contrair infecções fúngicas, como a candidíase. Outras infecções fúngicas sistêmicas graves são a meningite ou endocardite criptocócica, a aspergilose pulmonar e mucormicose rinocerebral. A aspergilose pulmonar é a principal causa de morte em receptadores de transplante de medula óssea. 119 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores * Fármaco de escolha. Farmacologia dos Antifúngicos A farmacoterapia das doenças antifúngicas foi revolucionada pela introdução dos azóis orais relativamente atóxicos. A terapia de combinação está sendo reconsiderada e novas formulações de agentes antigos estão surgindo. Os agentes antifúngicos atualmente disponíveis são classificados em: fármacos sistêmicos (orais ou parenterais) para infecções sistêmicas, fármacos orais para infecções mucocutâneas e fármacos tópicos para infecções mucocutâneas. Patologia Fármacos utilizados Infecções Sistêmicas Candidíase sistêmica Anfotericina + flucitosina, fluconazol* Criptococcose (meningite) Anfotericina + flucitosina, fluconazol*, itraconazol Aspergilose sistêmica Itraconazol, anfotericina* Blastomicose Itraconazol, anfotericina* Histoplasmose Anfotericina, itraconazol, fluconazol Coccidiomicose Fluconazol, itraconazol, anfotericina Paracoccidiomicose Fluconazol, itraconazol, anfotericina Mucormicose Anfotericina + flucitosina* Esporotricose disseminada Anfotericina, fluconazol Infecções Superficiais (dermatomicoses) Tinea pedis (pé-de-atleta) Azol tópico ou itraconazol oral Tinea corporis (tinha da pele) Azol tópico, terbinafina oral, itraconazol oral Tinea cruris Azol tópico, terbinafina oral, itraconazol oral Tinea capitis Itraconazol oral Tinea unguium (infecção das unhas) Terfinafina oral ou tópica, amorolfina tópica Infecções Superficiais (candidíase) Pele Azol tópico, nistatina tópica Boca (sapinho) Azol ou nistatina tópicos, fluconazol oral Vagina Azol tópico, fluconazol oral Mucocutânea crônica Fluconazol, cetoconazol 120 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores I) Agentes Antifúngicos Sistêmicos Anfotericina B A anfotericina B foi descoberta em 1956 por Gold e colaboradores que estavam estudando uma cepa de Streptomyces nodosus, um actinomicetos aeróbico obtido no vale do rio Orinoco, na Venezuela. Esse agente é um dos membros de uma família de cerca de 200 antibióticos macrolídios poliênicos. Consiste em um macrolídio heptaênico, que contém 7 ligações duplas conjugadas na posição trans e uma 3-amino-3,6- didesoximanose (micosamina) ligada ao anel principal por uma ligação glicosídica. O comportamento anfotérico que deu nome ao fármaco provém da presença de um grupo carboxila no anel principal e de um grupo amino primário na micosamina; esses grupos conferem hidrossolubilidade em valores extremos de pH. A parte hidrofílica do anel macrolídicos formado pelas hidroxilas estão opostas à face poliênica lipofílica. E quase insolúvel em água, sendo, portanto preparada na forma de suspensão coloidal de anfotericina B e desoxicolato sódico para injeção intravenosa. O complexo é comercializado em forma de sal liofilizado, que contém 50 mg de anfotericina B, 41 mg de desoxixolato e uma pequena quantidade de tampão fosfato de sódio. Figura 42 – Fórmula estrutural da anfotericina B. A anfotericina é pouco absorvida pelo trato gastrointestinal. Por conseguinte, a anfotericina administrada por via oral só é eficaz contra fungos existentes na luz do trato gastrointestinal, não sendo útil para o tratamento de infecções sistêmicas. Pode ser 121 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores administrada topicamente. A injeção intravenosa de 0,6 mg/kg/dia de anfotericina B resulta em níveis sanguíneos médios de 0,3-1 µg/mL, com ligação às proteínas plasmáticas de mais de 90%. Apesar de ser metabolizada, certa quantidade de anfotericina B é excretada lentamente na urina. O tempo de meia-vida é de aproximadamente de 15 dias. O fármaco distribui-se amplamente nos tecidos, mas apenas 2-3% dos níveis sanguíneos são atingidos no líquido cefalorraquidiano. Algumas vezes é necessária administração intratecal de anfotericina B no tratamento de certos tipos de meningite fúngica. Esse agente é seletivo no seu efeito fungicida, visto que distingue a diferença na composição lipídica das membranas celulares dos fungos e das células dos mamíferos. A anfotericina B liga-se ao ergosterol presente na membrana celular dos fungos e altera a permeabilidade da célula ao formar poros associados ao fármaco na membrana celular. Conforme sugerido pela sua estrutura, a anfotericina B combina-se avidamente com lipídios (ergosterol) ao longo do lado rico em ligações duplas de sua estrutura e associa- se a moléculas de água ao longo de seu lado rico em hidroxilas. Essa característica anfipática facilita a formação dos poros por múltiplas moléculas de anfotericina, estando as porções lipofílicas ao redor do lado externo do poro, enquanto as regiões hidrofílicas revestem o interior do poro. O poro permite o extravasamento de íons e macromoléculas intracelulares, levando à morte da célula. A resistência à anfotericina B resulta da substituição do ergosterol por determinados esteroides precursores. A terapia com anfotericina B é frequentemente limitada pela sua toxicidade, em particular quanto ao comprometimento renal induzido pelo fármaco. Isso levou ao desenvolvimento de formulações lipídicas com base na pressuposição de que o fármaco acondicionado em lipídio deverá ligar-se menos facilmente à membrana dos mamíferos, permitindo o uso de doses eficazes de anfotericina B com menor toxicidade. As preparações de anfotericina lipossomal acondicionam o fármaco ativo em veículos lipídicos, em contraste com as suspensões coloidais de uso atual. O veículo lipídico serve como reservatório de anfotericina, reduzindo a ligação inespecífica do fármaco às membranas celulares humanas. Geralmente essas preparações lipídicas são 122 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores de custo bem mais elevado, sendo seu uso habitualmente reservado a indivíduos intolerantes, ou que não respondem ao tratamento convencional com anfotericina. A anfotericina B tem atividade clínica útil contra Candida spp., Cryptococcus neoformans, Blastomyces dermatitidis, Histoplasma capsulatum, Sporothrix schenckii, Coccidioides immitis, Paracoccidioides braziliensis, Aspergillus spp., Penicilium marneffei, e contra agentes da murcormicose. Alguns micro-organismos como Candida lusitaniae e Pseudallescheria boydii exibem resistência intrínseca à anfotericina B. A toxicidade renal constitui o efeito adverso mais comum e mais grave da anfotericina B. Observa-se uma redução da função renal em mais de 80% dos pacientes em uso do fármaco. Embora haja geralmente recuperação após a interrupção do tratamento, pode permanecer algum comprometimento da filtração glomerular. Em 25% dos pacientes ocorre hipocalemia, exigindo uma suplementação com cloreto de potássio. A hipomagnesemia e a anemia podem representar mais um problema. Outros efeitos indesejáveis podem ocorrer como comprometimento da função hepática, trombocitopenia e reações anafiláticas. A injeção de anfotericina B provoca inicialmente calafrios, zumbido, febre, vômito e cefaleia. Devido à irritação do endotélio das veias, a anfotericina B pode causar tromboflebite local. As injeções intratecais podem causar neurotoxicidade, enquanto que as aplicações tópicas promovem exantemas. As preparações encapsuladas em lipossomas e complexadas com lipídios causam menos reações adversas, porém seu custo é consideravelmente mais elevado. Flucitosina A flucitosina (5-FC) foi descoberta em 1957 durante a pesquisa de novos agentes antineoplásicos. Embora desprovido de propriedades antineoplásicas, tornou-se evidente sua potência como agente antifúngica. A flucitosina é um análogo fluorado da pirimidina relacionado ao agente quimioterápico fluorouracil (5-FU). 123 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 43 – Fórmula estrutural da flucitosina e seu mecanismo de ação. A flucitosina (5-FC) é transportada na parede do fungo, onde é desaminada em 5-fluorouracil (5-FU). O 5-FU é então convertido em monofosfato de 5-fluorouracil-ribose (5-FUMP) e, em seguida, em 5-FUTP e incorporado ao RNA ou convertido pela ribonucleosídio redutase em 5-FdUMP, que é um potente inibidor da timidilato sintase. A flucitosina é captada pelas células fúngicas através da enzima citosina permease. No interior da célula é convertida inicialmente em 5-FU e, a seguir, em 5- fluorodesoxiuridina monofosfato (F-dUMP) e fluorouridina trifosfato (FUTP), que inibem a síntese de DNA e de RNA, respectivamente. As células humanas são incapazes de converter o fármaco original em seus metabólitos ativos. Esse fato é de suma importância para a ação seletiva desse composto. O efeito sinérgico com a anfotericina B tanto in vitro quanto in vivo está relacionado à maior penetração da flucitosina através das membranas celulares fúngicas danificadas pela anfotericina B. A resistência ao fármaco que surge durante a terapia constitui uma importante causa do fracasso terapêutico quando a flucitosina é utilizada isoladamente para tratamento da criptococos e da candidíase. O mecanismo dessa resistência pode consistir na perda da permease necessária ao transporte da citosina ou em redução da atividade 124 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores da UMP pirofosforilase ou da citosina desaminase. Em geral, a flucitosina é administrada por infusão intravenosa, mas também pode ser utilizada por via oral. Por esta via é bem absorvida pelo trato gastrointestinal. Dissemina-se amplamente pelo organismo, com volume de distribuição que se aproxima do volume do líquido corporal total. Ocorre ligação mínima do fármaco às proteínas plasmáticas. Em pacientes com função renal normal, a concentração máxima é atingida dentro de 1-2 horas após administração. Cerca de 90% são excretados de modo inalterado pelos rins. A meia-vida do fármaco é de 3-6 horas nos indivíduos normais. Na insuficiência renal, a meia-vida pode atingir até 200 horas. A flucitosina é encontrada no líquido cefalorraquidiano em concentrações que correspondem a cerca de 60-90% daquelas presentes simultaneamente no plasma. O fármaco parece também penetrar no humor aquoso. Os efeitos adversos da flucitosina resultam de seu metabolismo no agente tóxico, fluorouracil. A toxicidade da medula óssea com anemia, leucopenia e trombocitopenia constituem o efeito adverso mais comum, enquanto a alteração das enzimas hepáticas é observada com menos frequência. Ocorrem também distúrbios gastrointestinais e alopecia, porém esses efeitos são habitualmente leves e revertidos com a interrupção da terapia. A flucitosina tem atividade clínica útil contra Cryptococcus neoformans, Candida spp. e os agentes da cromomicose. É administrada por via oral em quantidades de 100- 150 mg/kg/dia, fracionada em quatro doses a intervalos de 6 horas. A posologia da flucitosina deve ser reajustada em casos de comprometimento da função renal. Em geral, a flucitosina não é usada como monoterapia, devido à sua ação sinérgica com outros agentes e para evitar o desenvolvimento de resistência cruzada. É utilizada preferencialmente em combinação com a anfotericina B para tratamento da meningite criptocócica ou com o itraconazol para a cromoblastomicose. Azóis A exigência de administração intravenosa e a toxicidade dos agentes antifúngicos antigos criaram a necessidade de desenvolver agentes antifúngicos com melhor perfil terapêutico. Os azóis orais relativamente atóxicos representam o primeiro grande avanço 125 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores nesse sentido. Os antifúngicos azólicos incluem duas grandes classes: os imidazólicos e os triazólicos. Ambas compartilham o mesmo espectro antifúngico e o mesmo mecanismo de ação. Os triazólicos sistêmicos são metabolizados mais lentamente e exercem menos efeito sobre a síntese de esteróis humanos do que os imidazólicos. Devido esses fatores, os novos congêneres em desenvolvimento são, em sua maioria, triazólicos. Entre os fármacos comercializados, o clotrimazol, o miconazol, o cetoconazol, o econazol, o butoconazol, oxiconazol e o sulconazol são imidazólicos; o terconazol, o itraconazol, o fluconazol são triazólicos. Embora os fármacos individuais tenham seu próprio espectro de utilidade, os azólicos, como um todo, apresentam ampla atividade, incluindo muitas espécies de Candida, Cryptococcus neoformans, as micoses endêmicas (blastomicose, coccidioidomicose, histoplasmose), os dermatófitos e, no caso do itraconazol, até mesmo infecções por Aspergillus. Esses agentes também são úteis no tratamento de infecções causadas por micro-organismos intrinsecamente resistentes à anfotericina B, como Pseudallescheria boydii. A atividade antifúngica dos azóis resulta da diminuição da síntese de ergosterol através da inibição da esterol 14 α-desmetilase, um sistema de enzimas microssomais do citocromo P-450 (CYP3A). Por conseguinte, os azóis comprometem a biossíntese do ergosterol na membrana citoplasmática e levam ao acúmulo de 14-α-metilesteróis. Esses metilesteróis podem desagregar o arranjo compacto das cadeias acíclicas dos fosfolipídios, comprometendo as funções de determinados sistemas enzimáticos ligados à membrana, como ATPase e as enzimas do sistema de transporte de elétrons, inibindo, assim, o crescimento de fungos. A especificidade dos azóis decorre de sua maior afinidade pelas enzimas do citocromo P-450 dos fungos do que pelas enzimas dos seres humanos. Os imidazóis exibem menor grau de especificidade do que os triazóis, explicando a sua maior incidência de interações farmacológicas e efeitos colaterais. 126 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 44 – Estrutura química do anel imidazólico e triazólico e fórmulas estruturas de alguns azóis antifúngicos. A resistência aos antifúngicos azóis ocorre através de múltiplos mecanismos. O mecanismo primário de resistência em Candida albicans consiste no acúmulo de 127 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores mutações no gene ERG11, que codifica a C14-α esterol desmetilase. Essa mutação protege o alvo da enzima que se ligaria com os azóis, mas permite o acesso do substrato natural da enzima, o lanosterol. Ocorre resistência cruzada com todos os azóis. Cetoconazol: o primeiro azol a ser administrado por via oral no tratamento das infecções fúngicas sistêmicas. Apresenta maior tendência a inibir as enzimas do citocromo P-450 de mamíferos, sendo, portanto, menos seletivo para o citocromo P-450 fúngico do que os azóis recentes. Mostra-se eficaz contra vários tipos de fungos. Em geral, possui boa absorção pelo trato gastrointestinal; entretanto a absorção depende de um ambiente ácido para a dissolução do cetoconazol. A biodisponibilidade é significativamente inibida em pacientes que estão utilizando agentes bloqueadores dos receptores de histamina H2 Os efeitos adversos mais comuns do cetoconazol são dependentes da dose e consistem em náuseas, anorexia, vômitos e erupção cutânea alérgica. A hepatotoxicidade apesar de rara pode ser fatal. Foi relatada a inibição da biossíntese de esteroides nos pacientes, do mesmo modo que nos fungos, através da inibição dos sistemas enzimáticos dependentes do citocromo P-450. Consequentemente observa-se diversas anormalidades endocrinológicas. Mulheres relatam irregularidades menstruais e homens apresentam ginecomastia e diminuição da libido e da potência. O cetoconazol em pequenas doses causa uma queda transitória nas concentrações plasmáticas de testosterona livre e estradiol C-17β. A elevação leve e assintomática da atividade das aminotransferases no plasma é comum em 5-10% dos pacientes, os níveis normalizam espontaneamente. De (ex. cimetidina) ou os inibidores da bomba de prótons. Distribui-se amplamente por todos os tecidos e líquidos teciduais, porém não atinge concentrações terapêuticas no sistema nervoso central, a não ser que sejam administradas altas doses. Cerca de 84% do fármaco se liga às proteínas plasmáticas. A meia-vida é de 8 horas. É inativado no fígado e excretado na bile e na urina. A indução das enzimas microssomais hepáticas por fármacos como, rifampicina, isoniazida, fenitoína, acelera o metabolismo do cetoconazol reduzindo a concentração terapêutica em mais de 50%. E o cetoconazol eleva as concentrações plasmáticas de ciclosporina, midazolam e indinavir, visto que são metabolizados pela enzima CYP3A4 do citocromo P-450. 128 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores qualquer maneira, deve-se realizar periodicamente o acompanhamento da função hepática. Itraconazol: agente triazólico sintético que consiste em uma mistura racêmica de 1:1:1:1 de 4 diastereoisômeros. É administrado por via oral e, após absorção, sofre extenso metabolismo hepático. É altamente lipossolúvel e dispõe-se de uma formulação em que o fármaco é retido dentro de bolsas de β-ciclodextrina. Nesta forma, pode ser administrado por via intravenosa, superando a absorção variável pelo trato gastrointestinal. O itraconazol é metabolizado no fígado, principalmente pelo sistema de citrocormo CYP3A4, em hidroxi-itraconazol, encontrado no plasma na mesma concentração que o fármaco original. Ocorre ligação do itraconazol e seu metabólito às proteínas plasmáticas, de 99,8% e 99,5%, respectivamente. Ambos não aparecem na urina nem no líquido cefalorraquidiano. A meia-vida do itraconazol é de 30-40 horas. Os níveis plasmáticos máximos do itraconazol são alcançados após 4 dias, e do metabólito hidroxi-itraconazol em 7 dias, razão pela qual se administra uma dose de ataque no tratamento de micoses profundas. Podem ocorrer efeitos adversos do itraconazol em consequência de interações com muitos fármacos. O itraconazol na forma de cápsulas é bem tolerado na dose de 200 mg/dia. Com o uso de doses maiores, como 400 mg/dia surgem desconforto gastrointestinal, como náusea e vômito, hipertrigliceridemia, hipopotassemia, aumento das aminotransferases séricas e exantema. A hepatotoxicidade e a ocorrência de exantemas levam à interrupção do tratamento. Em doses de 300 mg/ 2x dia resultam em outros efeitos colaterais, como insuficiência da suprarrenal, edema dos membros inferiores, hipertensão e rabdomiólise. O itraconazol intravenoso é bem tolerado, à exceção da flebite química. Fluconazol: é um bistriazol fluorado que se diferencia dos outros azóis pela sua hidrossolubilidade e boa penetração no líquido cefalorraquidiano. Sua hidrossolubilidade permite a sua administração intravenosa e resulta em excelente biodisponibilidade por via oral. As interações farmacológicas são menos comuns, visto que dentre os azóis, o 129 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores fluconazol é o que possui menos efeitos sobre as enzimas microssomais hepáticas. Devido à menor interação com as enzimas hepáticas e melhor tolerância gastrointestinal, o fluconazol apresenta maior índice terapêutico dos azóis. O fluconazol pode ser administrado por via oral ou por via intravenosa. Atinge concentrações terapêuticas no líquido cefalorraquidiano, líquidos oculares, tecido vaginal, na saliva, na pele e nas unhas. Possui tempo de meia-vida de 25 horas; 90% são excretados na urina na sua forma inalterada e 100% nas fezes. Cerca de 12% do fármaco presente no plasma está ligado à proteínas plasmáticas. Os efeitos indesejáveis, que geralmente são leves, consistem em náusea, cefaleia e dor abdominal com doses superiores a 200 mg/dia. Os pacientes que recebem 800 mg/dia podem necessitar de antieméticos e de tratamento intravenoso para prevenir vômitos, que reduzem a disponibilidade do fármaco. Pode ocorrer alopécia em pacientes tratados por longo tempo com 400 mg/dia. Embora rara, a hepatite pode surgir. II) Agentes Antifúngicos Sistêmicos para Infecções Mucocutâneas Griseofulvina A griseofulvina é uma agente fungistático de espectro estreito, isolado de culturas de Penicillium griseofulvum. Atua sobre diversas espécies de dermatófitos Microsporum, Epidermophyton e Trichophyton. Pode ser administrada no tratamento de infecções da pele, dos cabelos e das unhas causadas por essas espécies de dermatófitos. Também é eficaz no “pé-de-atleta”. Figura 45 – Fórmula estrutural da griseofulvina. 130 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A ação da griseofulvina consiste na produção de células fúngicas multinucleadas resultantes da inibição da mitose do fungo. A griseofulvina causa ruptura do fuso mitótico através de sua interação com os microtúbulos polimerizados. Embora os efeitos do fármaco sejam semelhantes aos da colchicina e dos alcaloides da vinca, seus locais de ligação na proteína microtubular são distintos. Há evidências de que a griseofulvina liga- se a uma proteína associada aos microtúbulos, além de sua ligação à tubulina. A griseofulvina é administrada por via oral. É pouco solúvel em água e a sua absorção varia de acordo com o tipo de preparação, em particular com o tamanho das partículas. Alguns estudos mostraram uma melhora da absorção quando o fármaco é ingerido com uma refeição gordurosa. Como as taxas de dissolução e de desagregação limitam a biodisponibilidade da griseofulvina, utilizam-se, atualmente, pós de dimensões microscópicas e ultramicroscópicas nas preparações. As concentrações plasmáticas máximas são alcançadas em cerca de 5 horas. Possui tempo de meia-vida de cerca de 24 horas e podem-se detectar na urina aproximadamente 50% da dose oral dentro de 5 dias, principalmente em forma de metabólitos. O metabólito primário é a 6-metilgriseofulvina. O fármaco deposita-se nas células precursoras da queratina. Quando estas células se diferenciam a griseofulvina está fortemente ligada à queratina, tornando-a resistente à invasão fúngica. Por essa razão, os cabelos ou as unhas em crescimento recente são os primeiros a ficarem livres da infecção. À medida que é eliminada, a queratina que contém fungos é substituída por tecido normal. A griseofulvina é detectada no extrato córneo da pele dentro de 4-8 horas após a sua administração oral. A sudorese e a perda de líquido transepidérmica desempenham importante papel na transferência do fármaco para o extrato córneo. Apenas uma pequena fração da dose do fármaco é encontrada nos líquidos e nos tecidos corporais. A dose diária recomendada de griseofulvina é de 5-15 mg/kg para crianças e de 500-1000 mg para adultos. O tratamento deve ser mantido até que o tecido infectado seja substituído por cabelo, pele e unhas normais, o que exige 1 mês para as dermatofitoses do couro cabeludo e do cabelo, 6-9 meses para as unhas das mãos e pelo menos 1 ano para as unhas dos pés. A incidência de reações graves associadas ao uso da griseofulvina é muito baixa. Um dos efeitos menores é a ocorrência de cefaleia, que é às vezes intensa e em geral desaparece com a continuação do tratamento. 131 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Outras manifestações do sistema nervoso incluem neurite periférica, letargia, confusão mental, fadiga, vertigem e visão embaraçada. Entre os efeitos que afetam o trato gastrointestinal destacam-se náuseas, vômitos, diarreia, flatulência e ressecamento da boca. Os efeitos hematológicos incluem leucopenia, neutropenia e basofilia. Devem-se realizar exames hematológicos pelo menos 1x/semana durante o primeiro mês de tratamento ou por mais tempo. As reações que acometem a pele consistem em urticária do frio e do calor, fotossensibilidade, eritema e erupções cutâneas. A griseofulvina induz poderosamente as enzimas microssômicas hepáticas do citocromo P-450 e causa diversas interações farmacológicas clinicamente importantes, como por exemplo, aumento da taxa de metabolismo da varfarina e redução da eficácia de anticoncepcionais orais. Terbinafina A terbinafina é uma alilamina sintética fungicida. Consiste em um composto altamente lipofílico e queratinofílico, ativo contra uma ampla variedade de patógenos cutâneos. Atua ao inibir seletivamente a enzima esqualeno epoxidase, que está envolvida na síntese de ergosterol a partir do esqualeno na parede celular dos fungos. O acúmulo de esqualeno no interior da célula é tóxico para o fungo. Figura 46 – Fórmula estrutural da terbinafina. A terbinafina é bem absorvida, mas a sua biodisponibilidade é reduzida para cerca de 40% devido ao metabolismo hepático de primeira passagem. Mais de 99% do fármaco no plasma ligam-se às proteínas. Quando administrada por via oral, sofre rápida 132 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores absorção e é captada pela pele, unhas e tecido adiposo. Quando administrada topicamente, penetra na pele e nas mucosas. A meia-vida inicial é de cerca de 12 horas, mas estende-se para 200-400 horas no estado de equilíbrio dinâmico. O fármaco pode ser encontrado no plasma durante 4-8 semanas após a terapia prolongada. O fármaco é bem tolerado, com baixa incidência de desconforto gastrointestinal, cefaleia ou erupções cutâneas. Raramente podem ocorrer hepatotoxicidade, neutropenia grave, síndrome de Stevens-Johnson ou necrólise epidérmica tóxica. Foi relatada a ocorrência de dores musculares e articulares e, mais raramente, hepatite. O fármaco é metabolizado no fígado pelo sistema do citocromo P-450 e os metabólitos são excretados na urina. É administrada em forma de 1 comprimido de 250 mg/dia, é pelo menos tão eficaz quanto 200 mg/dia de itraconazol para o tratamento da onicomicose das unhas. A duração do tratamento, que varia de acordo com a unha tratada, geralmente é de 3 meses. A terbinafina pode também ser utilizada topicamente na forma de creme aplicado 2 x/dia e mostra-se eficaz na tinha do corpo do corpo, na tinha crural e na tinha do pé. A terbinafina é menos ativa contra espécies de Candida e Malassezia furfur, mas o creme também pode ser usado na candidíase cutânea e na tinha versicolor. III) Agentes Antifúngicos Tópicos O tratamento tópico é útil em muitas infecções fúngicas superficiais, àquelas confinadas ao extrato córneo, à mucosa escamosa ou à córnea. Essas doenças incluem dermatofitoses, candidíase, tinha versicolor, pedra, tinha negra e queratite fúngica. A eficácia dos agentes tópicos nas micoses superficiais depende não apenas do tipo de lesão e do mecanismo de ação do fármaco, mas também da viscosidade, da hidrofobicidade e da acidez da formulação. Inúmeros agentes tópicos são disponíveis para o tratamento das micoses superficiais. Muitos dos fármacos mais antigos, incluindo violeta de genciana, carbol- fucsina, acrisorcina, enxofre e iodo, estão raramente indicados atualmente para esse tipo de infecções. Entre os agentes fúngicos utilizados, a formulação preferida para aplicação 133 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores cutânea costuma ser o creme ou a solução. As pomadas são incomodas e excessivamente oclusivas para as lesões maceradas ou fissuradas. O uso de pós, aplicados na forma de sprays ou aerossóis, limita-se, em grande parte, aos pés e às lesões úmidas das virilhas e de outras partes intertriginosas. Nistatina A nistatina é um macrolídio tetraêncio produzido por Streptomyces noursei. Possui estrutura semelhante à anfotericina B e apresenta o mesmo mecanismo de ação através da formação de poros na membrana celular do fungo. Praticamente não ocorre nenhuma absorção pelas mucosas do corpo ou a partir da pele, limitando o uso do fármaco a infecções fúngicas da pele e do trato gastrointestinal. Existe uma formulação lipossômica em fase de estudo clínico para a candidemia. Figura 47 – Estrutura da nistatina. O fármaco tem como principal utilidade clínica a candidíase e é fornecida em preparações destinadas a administração cutânea, vaginal ou oral para esse propósito. Outra indicação clínica inclui a afta orofaríngea. As preparações tópicas incluem pomadas, cremes e pós. Os pós são preferidos em lesões úmidas e aplicados 2 ou 3x/dia. Os cremes e pomadas são utilizados 2 x/dia. Estão disponíveis associações de nistatina com corticosteroides ou antibacterianos. As reações alérgicas à nistatina são raras. 134 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Ciclopirox olamina Trata-se de um agente antifúngico novo que possui amplo espectro de ação antifúngica. É fungicida para Candida albicans e fungistática para Malassezia furfur. O mecanismo de ação não está bem definido. Parece que o fármaco interfere com o DNA, RNA e a síntese de proteínas pelo fungo. Após aplicação à pele, penetra pela epiderme até a derme; todavia, mesmo sob oclusão, ocorre absorção de menos de 1,5% na circulação sistêmica. Sua meia-vida é de 1,7 horas, não ocorrendo acúmulo sistêmico. O fármaco é capaz de penetrar nos folículos pilosos e nas glândulas sebáceas. Às vezes pode causar hipersensibilidade. Encontra-se disponível em forma de creme e loção a 1% e esmalte a 80 mg/g para tratamento da candidíase cutânea e para as tinhas do corpo, crural, do pé e versicolor. Foram registradas taxas de cura de 81-94% em casos de dermatomicoses e nas infecções por Candida. Figura 48 – Fórmula estrutural da ciclopirox olamina. Azóis Tópicos Como já discutido, os agentes desta classe são utilizados tanto tópica como sistematicamente. As indicações para uso tópico incluem as dermatofitoses, a tinha versicolor e a candidíase mucocutânea. Clotrimazol: disponível em forma de creme, loção e solução a 1%, creme vaginal a 1 ou 2%, comprimidos vaginais de 100, 200 ou 500 mg e pastilhas de 10 mg. Foi relatado que o clotrimazol cura as infecções por dermatófitos em 60-100% dos casos. Na candidíase vulvovaginal, a taxa de cura costuma ser superior a 80% quando se utiliza o esquema de 135 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 7 dias. A absorção do clotrimazol é de menos de 0,5% após a aplicação na pele intacta; na vagina, a absorção é de 3-10%. As concentrações fungicidas permanecem na vagina por um período de 3 dias após aplicação do fármaco. A pequena quantidade absorvida é metabolizada no fígado e excretada na bile. Em uma pequena parcela de pacientes, o clotrimazol aplicado à pele pode causar queimação, eritema, edema, formação de vesículas, descamação, prurido e urticária. Quando aplicado à vagina, algumas pacientes queixam-se de sensação de ardência e, raramente cólicas abdominais baixas, ligeiro aumento da frequência urinária ou erupções cutâneas. O clotrimazol por via oral pode causar irritação gastrointestinal. Miconazol: agente que penetra rapidamente no extrato córneo da pele e persiste por mais de 4 dias após aplicação. Absorção ocorre em menos de 1% no sangue. A absorção não ultrapassa 1,3% quando aplicado à vagina. Os efeitos adversos decorrentes da aplicação na vagina incluem prurido, queimação ou irritação em cerca de 7% das pacientes e, raramente, cólica pélvica, cefaleia, urticária e erupção cutânea. O miconazol é considerado seguro para uso em gestantes, apesar de ser evitado durante o primeiro trimestre gestacional. Encontra-se disponível como nitrato de miconazol na forma de pomada, creme, solução, spray, pó ou loção dermatológica. No tratamento da tinha do pé, da tinha crural e da tinha versicolor, a taxa de cura pode ultrapassar 90%. No tratamento da candidíase vulvovaginal, a taxa de cura micológica no final de 1 mês é de cerca de 80- 95%. IV) Novas Terapias Antifúngicas Potenciais Um número cada vez maior de cepas fúngicas está se tornando resistente aos fármacos antifúngicos atualmente utilizados. Felizmente, a resistência a fármacos não é transferível nos fungos – o que proporciona um pequeno alívio ao paciente infectado por uma cepa resistente. Outro problema é o aparecimento de novas cepas de fungos comensais que se tornam patogênicos. Com o aumento das infecções fúngicas novos agentes antifúngicos estão sendo aprimorados e investigados, com o desenvolvimento de novos agentes, muitos com mecanismos de ação diferentes. 136 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Vários compostos azóis de “nova geração” estão sendo atualmente objeto de estudos clínicos. O voriconazol é o agente mais novo desta classe. Apresenta espectro de ação semelhante ao itraconazol, exibindo boa atividade contra espécies de Candida (incluindo espécies resistentes ao fluconazol, como Candida krusei), contra os fungos dimórficos e os fungos filamentosos patogênicos, incluindo Aspergillus. Interfere no ergosterol da célula fúngica. Está disponível em formulação injetável e oral. A dose recomendada é de 400 mg/dia. É bem absorvido por via oral, com biodisponibilidade de mais de 90%. Exibe menor ligação às proteínas plasmáticas do que o itraconazol. Seu metabolismo é predominantemente hepático, porém a tendência à inibição do citocromo P-450 de mamíferos parece ser baixa. Embora as informações sobre a toxicidade do fármaco sejam limitadas devido o seu pouco tempo no mercado, foi relatada a ocorrência de distúrbios visuais reversíveis (visão borrada, alteração na percepção visual, alteração das cores na visão, sensibilidade à luz); distúrbios gastrointestinais (náusea, vômito, diarreia), febre, inchaço periférico e desordem respiratória. Outros azóis em fase de desenvolvimento incluem o posaconazol e o ravuconazol. Os fármacos que reduzem a viabilidade da parede celular dos fungos constituem importante objeto de estudo. As candidas são uma nova classe de antifúngicos semissintéticos derivados de antibióticos hexapeptídicos cíclicos descobertos nos anos 70. Estas substâncias inibem a enzima β-1,3-glicano sintase, resultando na interrupção da formação da parede celular. A cilofungina foi a primeira candina a alcançar a fase II de ensaios clínicos, por sua atividade contra espécies de Candida. Posteriormente, seu desenvolvimento foi interrompido devido sua nefrotoxicidade e da acidose metabólica associada ao veículo polietilenoglicol contido na preparação para injeção intravenosa. Outra candida, a caspofungina tem sido observada em humanos e é o primeiro componente desta classe a receber a aprovação comercial. Outras candinas que alcançaram ensaios clínicos são a anidulafungina e a micafungina. As candinas são inibidores não competitivos da enzima β-1,3-glicano sintase, que catalisa a polimerização da glicose-uridina-difosfato (UDP-glicose) em β-1,3-glicano. Quando a síntese deste polímero é inibida, ocorre o extravasamento de componentes da célula, como resposta à alta pressão osmótica exercida sobre a membrana enfraquecida. 137 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A caspofungina mostra-se ativa in vitro pra uma variedade de fungos e evidenciou ser eficaz no tratamento da candidíase e de formas de aspergilose invasiva que são refratárias à anfotericina. Ocorre pouca absorção oral e a caspofungina liga-se extensamente às proteínas na corrente sanguínea. Após administração intravenosa, o fármaco exibe tempo de meia-vida de 9-10 horas, sendo possível administrar uma única dose ao dia. Figura 49 – Fórmula estrutura do acetato de caspofungina. A síntese de proteínas fúngicas pode constituir outro alvo para o desenvolvimento de fármacos antifúngicos, visto que essa síntese exige a presença de um fator de alongamento inexistente nas células humanas. As sordarinas, uma classe de inibidores seletivos destes fatores de alongamento, derivado de produto natural é um diterpeno glicosídico tetracíclico, que se mostra ativo in vitro contra uma variedade de fungos patogênicos inclusive Candida spp., Cryptococcus neoformans e Pneumocystis carinii. Uma abordagem diferente, que também está sendo testada como agentes antifúngicos, consiste em potencializar a capacidade do hospedeiro em combater o patógeno fúngico. Formas recombinantes do fator de estimulação de colônias de granulócitos humanos, como, por exemplo, a lenograstina e a molgramostima, podem aumentar a contagem de neutrófilos em pacientes neutropênicos com infecções fúngicas. 138 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A possibilidade de desenvolver uma vacina antifúngica foi aventada pela primeira vez na década de 1960. Os fungos são várias ordens de magnitude mais complexos do que as bactérias ou até mesmo do que os vírus, contra os quais se dispõe de vacinas, e, apesar de algum sucesso limitado em animais, ainda não existe nenhuma vacina antifúngica disponível para uso clínico. ------------------FIM DO MÓDULO III----------------- Curso de Farmacologia dos Antibióticos, Antifúngicos e Antivirais MÓDULO III
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