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AD1.2015.2.LITERATURA PORTUGUESA I

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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Universidade Federal Fluminense
Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ
Disciplina: Literatura Portuguesa I
Coordenadora: Maria Lúcia Wiltshire de Oliveira
 AD1 - 2015/ 2
Aluno: 
Polo: 
Matrícula: 
QUESTÕES
 
1. Por que as línguas humanas não são instrumentos neutros de comunicação? Para compor a sua resposta, releia a Aula 1 no Caderno e consulte o texto fundamental Aula de Barthes, disponível na sala virtual 1 (Introdução) da plataforma (20 p.).
 
Resposta: 
 As línguas humanas não são instrumentos neutros de comunicação porque elas são fruto da construção simbólica de grupos sociais, sendo assim elas refletem a cultura, o modo de pensar, e o comportamento desses grupos. Ao contrário da linguagem binária dos computadores, as línguas humanas são muito diversificadas. Mas, para além do caráter instrumental da linguagem há também o caráter artístico que pode ser identificado na produção literária dos grupos humanos. Segundo as autoras Maria Lúcia Wiltshire de Oliveira e Jane Rodrigues dos Santos:
(...) o pensamento é capaz de fazer-se linguagem fora da forma usual, através da arte. Se na linguagem comum predomina o caráter instrumental – utilitário, destinado à comunicação – de uma língua, na arte literária prevalecem os desvios, o novo, o criativo. Como arte, a Literatura é um gênero de discurso desviante que repensa criticamente a cultura oficial. 
(in Literatura Portuguesa Por quê? – Aula 01 – Apostila Cederj 2013)
 Ainda sobre a isenção de neutralidade das línguas humanas o semiólogo francês, Roland Barthes afirmou, durante sua Aula Inaugural no Colégio de France em 1978, que os discursos possuem um caráter impositivo, sendo a língua fascista porque “obriga a dizer”. Não há como se expressar de forma isenta, neutra, porque a própria língua traz em sua gênese valores culturais de seus grupos constituintes. 
 É importante observar que essa Aula Inaugural foi o ponto de partida para a construção de seu trabalho sobre Semiologia. Durante a explanação Barthes também falou sobre as três forças da literatura, quais sejam: Mathesis, Mimesis, e Semiosis. Para o pensador Mathesis reflete os muitos saberes abarcado pela literatura; Mimesis a força de representação da literatura; já a Semiosis seria a possibilidade de se jogar com os signos em vez de destruí-los. Barthes, para explicar a impossibilidade de neutralidade das línguas humanas, realiza ainda uma belíssima metáfora comparando “saber” e “sabor”. De acordo com ele, as duas palavras possuem a mesma etimologia latina, e assim como na culinária é importe que haja o equilíbrio de sal para que se realce o sabor, assim também ocorre com as línguas humanas, em que o sal das palavras dão sabor às construções linguísticas e literárias. 
2. Segundo o crítico Antonio José Saraiva, o cronista português Fernão Lopes (séc. XV) concebeu “A existência do povo como sujeito da história, do povo que se sente senhor da terra onde nasce, vive, trabalha e morre e que ganha consciência colectiva contra os que querem senhoreá-lo.” (SARAIVA, 1988, p. 181-2). Releia atentamente a Aula 5 e comente a afirmação considerando a importância do cronista para a  consolidação da identidade territorial portuguesa.
Resposta: 
 Fernão Dias (nascido entre 1378 e 1383 – falecido por volta de 1460) foi guarda-mor da Torre do Tombo, local onde eram arquivados os documentos históricos do reino de Portugal. Ele tinha acesso a muitos arquivos e informações acerca dos acontecimentos do reino, e é atribuído a ele a primeira narrativa sobre da batalha de Ourique no século XV, essa narrativa, escrita em 1419, imortalizou-se com o título Crônica de Portugal. Segundo esta crônica o combatente Afonso Henriques foi protegido por Deus na batalha contra os mouros em Ourique. Após o sangrento combate ele saiu-se vencedor, e foi aclamado rei de Portugal. Iniciou-se assim a dinastia Afonsina, e ele assumiu o posto de primeiro rei de Portugal – rei Dom Afonso I. Nessa época o reino estava consolidando seu território, e teve de travar constantes embates contra os mouros. 
 Passados 236 anos, um dos descentes da dinastia Afonsina, rei Dom Fernando I, casou-se com D. Leonor Teles de Menezes. O casal teve a princesa Beatriz. Essa princesa casou-se com Dom João I, rei de Castela. Após a morte de Dom Fernando I o povo de Portugal não apoiou a união dos reinos de Castela e Portugal, e neste momento entrou em cena outro Dom João – mas este era português e também era conhecido por Mestre de Avis. Dom João era um irmão ilegítimo de Dom Fernando I, portanto tio de Beatriz. Ele entrou em guerra contra a família real, saiu-se vencedor e foi aclamado rei Dom João I – inaugurando assim a dinastia de Avis. 
 Neste ponto, quando Dom João I consegue vencer dentro de Portugal àqueles que queriam a junção dos dois reinos, e posteriormente quando ele também vence os castelhanos na batalha de Aljubarrota, ele consolida em Portugal a vitória do direito de naturalidade (ou nacionalidade) sobre o direito dinástico, ou senhorial. Aqueles que queiram a junção dos dois reinos porque a princesa Beatriz deveria obedecer a seu marido, Dom João rei de Castela, seguiam o direito dinástico, ou seja, o direito que considera as dinastias reais acima dos interesses do povo. Já os que apoiaram a guerra dos portugueses contra os castelhanos defendiam o direito de nacionalidade, ou seja, Portugal deveria ser comandado por um português, no caso Dom João I (Mestre de Avis), e não por um castelhano que não possuía naturalidade portuguesa. 
 Fernão Dias escreveu essa crônica bem depois dos fatos ocorridos. Ele era o cronista oficial de Dom Duarte, rei da dinastia de Avis. Seu papel como cronista foi fundamental para legitimar a Dinastia de Avis, e também é importante ressaltar que com essa narrativa Dias põe luz a um fato muito importante não só para Portugal como para todo o continente europeu – o fato de que com a vitória de Portugal sobre os castelhanos o povo português tornou-se pioneiro na consolidação da noção de nacionalidade em toda Europa, visto que até então o direito dinástico era o que prevalecia. 
3. Antes de Camões, o dramaturgo Gil Vicente (séc. XV e XVI) criticou a expansão marítima portuguesa em seu Auto da Índia por meio do riso. Releia a peça, escolha alguma passagem voltada para o contexto político e comente o(s)  recurso(s) utilizados nesta crítica (Aula 6), comparando-a com  a crítica de Camões (séc. XVI), anos mais tarde (1572)  através de Os Lusíadas (Aula 4).
Resposta:
 O Auto da Índia, encenado pela primeira vez em 1509, onze anos após a viagem de Vasco da Gama às Índias, é um auto profano, uma farsa, que Gil Vicente escreveu para criticar a política expansionista de Portugal. A peça, muito engraçada, conta a história uma mulher casada (Ama) que se vê forçada a se despedir de seu marido (Marido) porque ele embarca numa expedição marítima para Índia. A mulher finge ser uma esposa honesta e fiel, mas na verdade ela tem dois amantes; um espanhol (Castelhano) e um português (Lemos). Ela conta com a cumplicidade interesseira de sua empregada (Moça) que sabe de seus amantes, mas finge não saber de nada, pois quer ganhar presentes de sua patroa quando o Marido voltar de além-mar. Com apenas cinco personagens e 515 versos Vicente consegue, através do riso, colocar em xeque os valores político-sociais lusitanos do período expansionista de Portugal. 
 Vale ressaltar que nesse período uma das justificativas da coroa para realizar essas expedições era a de que os portugueses estariam levando o cristianismo para os povos pagãos, porém Vicente deixa claro que interesses econômicos, e a promessa de enriquecimento, eram os verdadeiros motivadores dos navegadores no reinado de Dom João II. Não há nessa farsa o mito do herói português. Vicente mostra o português como um homem comum quepassa a ser traído (gamo) ao se afastar de casa, e que precisa roubar em terras estrangeiras para sobreviver à fome e miséria; e ainda quando volta traz as mãos vazias porque somente o capitão amealhava riquezas com a viagem. 
 No verso 465 Vicente mostra o navegador português como um ladrão faminto que faz tudo pela sobrevivência:
“Fomos ao rio de Meca, 
pelejámos e roubámos 
e mui risco passámos: 
a vela, árvore seca.”
 No verso 500, já quase no final do auto, a Ama pergunta ao Marido se ele havia ficado rico, e em sua resposta ele deixa claro que só o capitão enriqueceu, ou seja, o “sonho português” , a fantasia de enriquecer com essas expedições, só se realizava mesmo, e quando se realizava, para alguns poucos. 
 “Se não fora o Capitão, 
Eu trouxera a meu quinhão 
Um milhão, vos certifico.”
 Nesse auto Gil Vicente evidencia que o ideal de riqueza não é o mesmo ideal religioso que se pretendia inicialmente com as expedições, e é justamente essa a crítica que Camões faz às expedições em Os Lusíadas, 63 anos mais tarde, em 1572.
 Os dois fazem a mesma crítica, o interesse ambicioso do português nas expedições ultramarinas em contraposição ao ideal religioso. A grande diferença é que Vicente faz essa crítica por meio do recurso do riso, da ironia, evidenciando a hipocrisia de seus personagens, já Camões o faz em tom sério, profético, através da crítica realizada por seu personagem o Velho do Rastelo. O Velho avisa, na praia do Rastelo, no momento da partida das naus, que eles estão embarcando numa viagem inglória, pois buscam fama e dinheiro, e que esses valores não justificam tão sofrida empreitada. É uma voz agourenta para quem está partindo, e que desmerece o pseudo-heroísmo dos portugueses que se arriscavam a atravessar até mesmo o Cabo Bojador (Cabo das Tormentas) “para levar o cristianismo aos povos pagãos”. 
 Em Os Lusíadas, no Canto IV (oitavas 95 e 96), é possível perceber a mesma crítica que Vicente faz à cobiça portuguesa e aos adultérios, frutos do abandono e desestruturação familiar que as expedições causavam. 
	95
—"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
	96
— "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!
4. Consulte na sala virtual da plataforma os poemas de Saramago (“Fala do Velho do Restelo ao Astronauta”) e de António Gedeão (“Pedra Filosofal”) que retomam de formas diferentes o tema do Deslocamento marítimo português. Leia cuidadosamente a Aula 3 para comentar esta diferença, acrescentando sua opinião pessoal à questão.   
Resposta:
 O poema Pedra Filosofal, do escritor português Antônio Gedeão, foi publicado em 1956 no livro Movimento Perpétuo. Esse poema, de beleza singular, trata da matéria “sonho” e do quanto sua força molda os acontecimentos do mundo. Ao gosto de um bom professor de química, Gedeão registra a fórmula do sonho e do quanto essa alquimia, essa Pedra Filosofal, traz em si a essência do humano, da possibilidade de se construir naus e se ter a necessária coragem para atravessar o desconhecido. Ao escrever sobre o “sonhar humano” Gedeão tange os descobrimentos portugueses do século XVI evidenciando o quanto esse movimento da alma, o sonho, foi mola propulsora de seus antepassados. 
 Já o poema Fala do Velho do Restelo ao Astronauta, do também escritor português José Saramago, escrito dez anos depois da Pedra Filosofal, foi publicado no livro Os poemas possíveis, em 1966. 
 Apesar de o homem só ter pisado na Lua em 1969, ou seja, dois anos após Saramago publicar seu poema, é preciso levar em conta que, historicamente, a exploração espacial começou com o lançamento do satélite artificial Sputnik 1 pela União Soviética em 4 de outubro de 1957. Sendo assim podemos concluir que depois de 1957 havia uma grande expectativa mundial de quem seria o primeiro a pisar na Lua, o americano ou o russo, e de quando isso aconteceria. Era só uma questão de tempo. E foi nesse contexto de exploração espacial, e Guerra do Vietnã, que Saramago compôs sua narrativa. 
 Saramago, ganhador do Nobel de Literatura em 1998, faz nesse poema uma comparação entre os grandes descobrimentos portugueses e o interesse da humanidade nas viagens espaciais, ou seja, uma comparação entre a ousadia de ir além-mar, a despeito do medo do desconhecido, com a ousadia de ir além-Terra, também a despeito do medo do desconhecido. 
 De fato, esses dois momentos da humanidade têm muito em comum. O sonho desbravador, a coragem de se entregar ao total desconhecido, assim como a busca da fama, e a vaidade de ser o primeiro a realizar um feito inédito de tal quilate. Não podemos esquecer qual foi a primeira ação dos americanos quando pisaram na Lua em 1969, eles enterraram a bandeira americana em solo lunar. Não seria essa uma atitude da mais destilada vaidade? Vejam povos do mundo inteiro, nossa supremacia, somos os primeiros a pisar na Lua! 
 O poema de Saramago traça um paralelo entre o avanço tecnológico alcançado no final da década de 60, com as bombas de Napalm que os americanos estavam lançando no Vietnã para matar centenas de civis e militares. 
 Saramago, num tom ácido e justificado, compara a ambição e vaidade de concretizar grandes feitos com a manutenção da miséria, pobreza e desamor. Nesse sentido seu poema em muito se aproxima do aviso do Velho do Rastelo de Os Lusíadas, quando evidencia a ambição e vaidade como principais motivos do projeto expansionista lusitano, em contraposição ao discurso religioso dos cruzadistas. 
 Na minha opinião, quando Gedeão compara o deslocamento português com o “sonhar humano” ele traz a essência do herói para o deslocamento. O homem realiza esses grandes feitos porque deseja “além”. Ele quer ir além, quer buscar o sonho, o impossível. Já na narrativa de Saramago há o contradiscurso do Velho do Rastelo, que acredita que o deslocamento pode ser apenas a concretização, não do sonho, mas da ambição desmedida, da vaidade, da cobiça. Saramago deixa isso claro quando mostra que a humanidade investe em tecnologia espacial, mas não investe em extinguir a fome, a pobreza, o desamor. Ele afirma que há um desejo nesse sonho, mas que ele não sabe qual e que talvez esse desejo seja mais alto e mais puro que a própria humanidade, mas só talvez. Acredito que as duas visões caibam no mesmo desejo. Lançar-se ao desconhecido por obra do “sonhar humano” e, da mesma matéria humana, lançar-se o desconhecido por obra da “ambição, cobiça, e vaidade”. Tudo isso junto faz com que haja avanços tanto tecnológicos quanto sociais. Uns mais rápidos, outros mais lentos. Uns por muito sucesso, outros por muito fracasso.

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