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Prévia do material em texto

não BRINQUEDOS
2022
Anna Carolina Ferreira 
Camila Daniel
Georgia de Almeida Malavolta 
Marcelo Oliveira da Silva
BRINQUEDOS
brincando com
Como citar este livro (ABNT)
FERREIRA, Anna; DANIEL, Camila; 
MALAVOLTA, Georgia; SILVA, 
Marcelo. Brincando com brinquedos 
não brinquedos. Porto Alegre: 
Bestiário / Class, 2022. 
Todas as imagens apresentadas 
neste livro foram produzidas pelxs 
autorxs e pertencem a seus acervos 
pessoais. 
Editora Bestiário
Rua Marquês do Pombal, 788/204
CEP 90540-000
Porto Alegre, RS, Brasil
Fones: (51) 3779.5784 - 
99491.3223
www.bestiario.com.br
Todos os direitos desta edição 
reservados.
Copyright © 2022:
Anna Carolina Ferreira 
Camila Daniel
Georgia de Almeida Malavolta 
Marcelo Oliveira da Silva
Coordenação editorial
Roberto Schmitt-Prym
Conselho editorial
Antonio David Cattani
Claudio Vescia Zanini
Daniela Pinheiro Machado Kern
Demetrius Ricco Ávila
Elaine Barros Indrusiak
Jéferson Assumção
Karina de Castilhos Lucena
Luciana Wrege Rassier
Pedro Demenech
Revisão
Marina Castro de Freitas Sommer
Projeto gráfico e capa
Andrei Cunha
Ficha catalográfica
não BRINQUEDOS
BRINQUEDOS
brincando com
Dedicamos esta obra a todas as professoras e professores 
da Educação Infantil que deixam suas marcas nas crianças e 
valorizam a infância. Nosso respeito e admiração a vocês.
Dedicamos este livro também a todas as crianças com as quais 
convivemos e que nos auxiliam a compreender um pouco mais 
sobre o que significa ser criança e sobre as descobertas da infância.
Anna Carolina, Camila, Georgia e Marcelo
O LIVRO-BRINQUEDO
PARA COMEÇAR A BRINCADEIRA
O que são brinquedos não brinquedos?
O que podemos esperar?
Brincar tem regras?
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Como nasceu a ideia deste livro?
Em quais fontes fomos beber?
O que é o brincar heurístico?
O que é o brincar livre?
Como formamos nossa própria coleção de brinquedos não 
brinquedos?
Qual é o contrário de brinquedos não brinquedos?
Podemos misturar brinquedos com brinquedos não 
brinquedos?
Há brinquedos não brinquedos para meninas e meninos?
Quem são as crianças?
Quem são os adultos?
Qual o papel do adulto?
O que o adulto não deve fazer?
O que o adulto pode fazer?
Por que brincar com brinquedos não brinquedos?
Há uma idade específica?
Sempre há um propósito em cada brincadeira?
Brinquedos com sucata são brinquedos não brinquedos?
Devemos evitar o plástico?
Podemos usar materiais como EVA?
S U M Á R I O
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NA CRECHE
Atenção, bebês brincando!
O primeiro brinquedo
O que podemos sugerir como brinquedos para bebês?
O cesto dos tesouros?
O que incluir no cesto?
Coleções de brinquedos não brinquedos
Territórios naturais
Territórios de luz e sombra
Territórios de luz e objetos
Territórios de materialidades
Tabuleiro investigativo
Brincando com objetos do cotidiano
NA PRÉ-ESCOLA
E a partir dos quatro anos?
Brincando com partes soltas
BRINCAR NA NATUREZA
Nós também somos do mato como o pato e o leão
Até que nos tragam frutos teu amor, teu coração
Amanhacerá tomate anoitecerá mamão
Jardim de desenho zen
Brincar de abastecer
Chocando ovos de dinossauro
BELEZA, BONITEZA E 
MARAVILHAMENTO
A disposição estética
Como podemos fazer a disposição dos brinquedos não 
brinquedos?
O círculo
A espiral
O ninho
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A linha o caminho
O labirinto
A casa
A montanha
A selva
Ainda sobre composição
Como podemos combinar os brinquedos não brinquedos?
Assemblage ensemblagem
PARA ENCERRAR A BRINCADEIRA
E começar outras tantas brincadeiras
Recomendamos
REFERÊNCIAS
QUEM SOMOS?
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009
O L I V RO - B R I N Q U E D O
Altino José Martins Filho
Prefaciar uma obra de um conjunto de professoras e um 
professor que colocam em principal evidência o brincar 
“com”, “para” e “das” crianças é um convite um tanto 
emocionante. Me vejo preenchido de uma amorosidade, 
alegria e alma plena de esperançar. O brincar é ainda uma 
temática que necessita de muitos diálogos e afirmação de 
sua essência no universo das crianças e na produção das 
suas culturas infantis. O brincar é a força das culturas 
infantis. 
No campo da Educação Infantil, primeira etapa da 
Educação Básica brasileira, ainda temos muito para 
avançar na garantia do brincar e das interações entre pares 
como eixos fundantes do currículo, como propõem as 
Diretrizes Curriculares Nacionais (2009) e a Base Nacional 
Comum Curricular (2017). Neste sentido, o presente livro 
ganha uma importância gigantesca, o que de início, já 
o coloca como um material de primeira grandeza para os 
professores e as professoras. Uma obra escrita por muitas 
mãos, com pensamentos de respeito à criança, ao seu 
brincar, ao que é primordial na sua vida! 
As autoras e o autor, em um gesto brincante com as 
palavras e em um espírito brincalhão (espírito que está 
muitas vezes adormecido nos adultos), já no início do livro 
procuram situar o leitor, lançando algumas perguntas com 
pistas de respostas abertas. 
A primeira pergunta — “Como nasceu a ideia deste 
livro?” — nos informa que a obra irá explorar as brincadeiras 
em contextos brincantes com materiais não estruturados 
(brinquedos não brinquedos) e que irá reunir alternativas 
10 11
e aprofundamentos, um convite às professoras e aos 
professores de expandir um conhecimento ainda recente 
no nosso campo de exercício da docência. 
Um livro inteirinho direcionado a promover 
brincadeiras com brinquedos não brinquedos. Todo o 
texto em si já nos aguça a pensar no livro como brinquedo, 
algo que para a Educação Infantil precisa ganhar força e 
vigor. O livro-brinquedo no contexto das crianças desde 
bebês não remete mais a uma adjetivação para a literatura 
infantil, mas procura retratar com destaque a dimensão 
da brincadeira, mesmo quando estamos envolvidos com a 
literatura. 
Assim deveria ser também para os adultos leitores. Eu 
senti essa possibilidade de envolvimento na leitura d0 
livro. Ele oferece essa oportunidade em sua composição 
— as autoras e o autor, ao brincarem com as palavras 
quando escrevem sobre a brincadeira, despertam em nós 
um olhar sensível e reflexivo acerca dos efeitos positivos 
quando estamos planejando uma Educação Infantil mais 
brincante com o grupo social da primeira infância. 
Este livro tem por intenção constituir-se 
fundamentalmente como uma leitura que acena para 
o valor do brincar e suas implicações educativas e 
pedagógicas em uma perspectiva crítica. Uma abordagem 
pedagógica ensopada por uma desobediência crítica que 
diz não aos livros didáticos e as atividades mecanicistas, 
utilitaristas e reprodutivistas — às atividades quase 
sempre realizadas em folhas A4. 
De mãos dadas às autoras e ao autor desta obra, em 
um encontro fortuito e afortunado, me desperto na feliz 
posição de afirmar que as experiências das crianças 
não cabem em uma folha A4 — proposição educativa e 
pedagógica que tenho veementemente difundido no Brasil 
com a síntese da tese que a “docência na Educação Infantil 
vai além da A4”. 
A minha reflexividade crítica se encontra com as 
proposições pedagógicas brilhantemente presentes 
e explicitadas neste texto, que passo a chamar 
carinhosamente de livro-brinquedo. Uma união repleta 
de mobilização coletiva, a qual afirma a necessidade de 
lançarmos ideias poderosas e fortes para uma escola da 
infância que corresponda àquilo que as crianças desde 
bebês querem porque precisam aprender, vivenciar, 
experimentar e, especificamente dizendo, querem porque 
precisam brincar!
Diante de tantos desafios postos à Pedagogia da Infância 
atualmente, essa obra destaca inúmeras possibilidades 
que nos fazem refletir: Para quais experiências 
convidaremos as crianças desde bebês nos contextos 
de educação coletiva? Para escolas mais abertas, mais 
brincantes, alegres e divertidas, organizadas para alémdas salas fechadas entre quatro paredes, que perpetuam 
o emparedamento das crianças? Para um contato mais 
efetivo com a natureza, com materiais não estruturados 
e com o propósito de que crianças e adultos cuidem do 
planeta em que habitam de forma mais sustentável e 
amigável? Para a construção de propostas pedagógicas que 
rompam com o ciclo do consumo, do descarte, das datas 
comemorativas e de atividades mecanicistas em folhas A4? 
Estamos argumentando faz tempo que as crianças, 
desde bebês, já nascem como sujeitos sociais e culturais, 
que portam a novidade a qual permite fazer continuar e 
fazer renascer o mundo. Faz tempo que temos abordado 
com efeito potencializador o protagonismo infantil, faz 
tempo que temos acenado para o brincar como ponto 
fulcral do fazer-fazendo da docência em educação infantil 
12 13
(Martins Filho, 2020). Defendemos o brincar como a 
cidadania da infância, como uma prática que representa a 
expressão da ação humana das crianças. Este também é o 
ponto nodal dos argumentos do livro. 
Cabe ressaltar que todos os dias há nascimentos e 
chegadas de meninas e de meninos ao nosso planeta. 
Contudo, cada dia mais as crianças estão sendo acolhidas 
nas instituições educativas, e assim grande parte de seu 
viver a infância atualmente acontece em espaços coletivos. 
O mundo é apresentado para as crianças nas instituições 
de Educação Infantil. Essa situação está afetando e 
ocasionando reconfiguração na produção e reprodução 
das culturas infantis. Com esse intento, como professores 
e professoras nessa etapa da educação, temos que saber 
de nosso comprometimento ético, político, pedagógico e 
humano com as novas gerações.
A leitura desta obra nos faz pensar sobre a possibilidade 
de traçarmos no campo da Pedagogia da Infância 
uma pedagogia brincante, uma pedagogia poética, 
uma pedagogia transgressora e que seja também uma 
pedagogia autoral — porque educar é criar a novidade, 
deixar ser mais, não fabricar ou produzir, instrumentalizar 
e ensinar mais do mesmo. Precisamos romper com uma 
visão de sociedade que encara as instituições educacionais 
como fabricação do outro, isto é, como uma tarefa 
instrumental de torná-lo competente para funções que 
correspondam às expectativas adultocêntricas.
Nos escritos desta obra, encontramos aprofundamentos 
metodológicos, epistemológicos e práticas educativas e 
pedagógicas que nos fazem entender que seria necessário 
— e urgente — proporcionar um espaço educativo 
brincante. As autoras e o autor colocam a dimensão da 
brincadeira como ponto de conexão entre passado e 
futuro, possibilitando às crianças, no seu presente, no 
seu aqui e agora, afetos alegres, práticas divertidamente 
brincantes, contato com elementos da natureza, 
materiais diversificados, denominados de materiais não 
estruturados — brinquedos não brinquedos — , os quais 
possam aumentar e acionar a potência de agir, em uma 
radical subjetividade das crianças desde bebês. 
Nesta obra, as autoras e o autor trazem indicativos, os 
quais acredito, podem incidir reconstruções necessárias 
aos currículos da Educação Infantil, que também em 
minha ótica, poderiam focalizar a formação humana das 
crianças, desde a tenra idade, em seus começos, com plena 
oportunidade de experienciar o viver pelas interações e 
brincadeiras, para que possam continuar a viver nesse 
mundo de forma mais brincante e brilhante — tornando 
o brincar o brilho das nossas crianças!
Finalizo a recomendação desta obra e o significativo 
trabalho das autoras e do autor com as palavras de Hannah 
14 15
Arendt (2011), quando nos lembra que a Educação é o 
ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante 
para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal 
gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a 
renovação e a vinda das crianças. A Educação é também 
onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante 
para não as expulsarmos de nosso mundo e abandoná-
las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas 
mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova 
e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com 
antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum.
Além de poética em relação ao brincar de nossas 
crianças, esta obra apresenta também muitas 
possibilidades para pensarmos e agirmos em favor de 
escolas infantis mais brincantes. Essas escolas teriam 
ambientes mais acolhedores, menos emparedados, e 
se ocupariam e se envolveriam afetivamente com as 
potencialidades das crianças, com os seus contextos 
familiares e culturais, com as condições da docência 
desescolarizante e com a natureza e o planeta do qual 
fazemos parte. Por fim, propõe uma escola que se 
preocupe e se responsabilize com todos esses aspectos, 
tendo como premissa fundamental a brincadeira para, das 
e com as próprias crianças. Uma escola mais “tribrinque”, 
para fazer jus ao espírito gaúcho das autoras e do autor. 
Esse é o mérito desta obra!
Ao incluir a racionalidade infantil, considerando 
suas manifestações, expressões e seus pontos de vistas, 
concebendo as crianças como seres sociais plenos, 
com especificidades próprias deste momento da vida, 
desafiaremos nosso poder adulto e também o rigor e a 
imaginação metodológicos, para a criação de mecanismos 
para a efetiva participação das crianças, vencendo práticas 
adultocêntricas e o histórico percurso de quem detém o 
poder sobre o espaço ser apenas o adulto, no sentido de 
juntos se somarem e construir um espaço chamado “lugar” 
para todos se sentirem mais felizes e amigáveis.
Uma escola “tribrinque”, uma escola brincante, uma 
escola com brinquedos não brinquedos, uma escola que 
proporcione enfrentar o desafio de colocar nossa cultura 
adulta em diálogo com a cultura infantil, requerendo 
uma produção de conhecimento coletiva, interativa, 
intersubjetiva, num encontro profundamente potencial de 
informantes sobre as infâncias.
Anna Carolina, Camila, Georgia e Marcelo: parabenizo 
vocês pela ousada tarefa, em poder dizer de outro modo, 
como as escolas podem e devem ser para nossas crianças 
brasileiras. 
Mil vivas, minhas queridezas e meu queridezo!!!
Vamos juntos, avante, com uma pedagogia 
revolucionária na afirmação do brincar!!!
Altino José Martins Filho
Professor Criancista
Inverno de 2022
 
REFERÊNCIAS 
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. 
7. ed. São Paulo: Perspectiva, 2011.
MARTINS FILHO, Altino José. Minúcias da vida cotidiana 
no fazer-fazendo da docência em Educação Infantil: 
docência além da A4. 2. ed. Florianópolis: Insular, 2020.
1 PARA COMEÇAR 
A BRINCADEIRA
quem não pode viajar o mundo
dentro de embarcações
deve imediatamente
contemplar a ideia 
de virar sereia
Angélica Freitas
(2020)
18 19
Brinquedos não brinquedos encontrados em lojas de festas e em armarinhos 
— limpadores de cachimbo, barbantes, serpentina, fitas, palitos de picolé, 
pompons coloridos, argolas de cortina e balões — permitem criar, compor, 
esculpir, decorar e desenhar com partes soltas.
Utilizamos a nomenclatura “espaço 
propositor” para nos referirmos a uma 
composição de brinquedos não brinquedos 
pensada, planejada e organizada pela 
professora para a exploração, pesquisa 
e brincadeira das crianças. Um espaço 
propositor deve levar em conta os materiais 
e suas combinações, a quantidade desses 
materiais e a sua apresentação.
O Q U E S Ã O 
B R I N Q U E D O S N Ã O 
B R I N Q U E D O S ? 
 Os brinquedos não brinquedos são objetos cotidianos 
que colocamos à disposição da criança para que ela 
invente a sua própria brincadeira: palitos, botões, rolos 
de papel higiênico, rolhas, barbante, caixas, embalagens, 
dentre muitos outros.
O brinquedo não brinquedo — também chamado de 
recurso, elemento ou material não estruturado ou de 
longo alcance — não foi pensado para ser um brinquedo 
e não está à venda em lojas especializadas de brinquedos. 
Podemos encontrar brinquedos não brinquedos em 
lojas de festas, de materiais diversos, de utilidades 
domésticas, de construção,em ferragens, supermercados 
e, principalmente, no reaproveitamento de possíveis 
descartes.
A não estrutura desses materiais significa que podem 
assumir os mais variados usos: um pedacinho de madeira 
pode ser um carro, uma nave espacial, um barco, um bebê, 
o pai ou a mãe, uma montanha ou uma peça importante 
que faltava em uma construção. 
Em um mundo onde impera a lógica da produtividade 
e do trabalho, brincar pode ser um ato revolucionário. O 
brincar emerge como um refúgio, um espaço de novas 
possibilidades, invenções, descobertas e produções de 
sentido. É nesse contexto que surge este livro, produzido 
por três professoras e um professor que percebem no 
brincar um lugar de resistência. Temos assistido a tantos 
retrocessos na forma de perceber as infâncias que sentimos 
20 21
Espaço propositor “castelo” (lona branca, caixas de papelão, tecidos diversos 
e tubos de papelão).
necessidade de expor os princípios que fundamentam 
nossas práticas com as crianças. 
Endereçamos nossas reflexões, principalmente, às 
nossas colegas professoras da creche e da pré-escola1. O 
livro também é destinado às pessoas adultas que são 
entusiastas do brincar, que entendem o papel central da 
brincadeira na infância e que buscam conhecer um pouco 
mais sobre brinquedos que não são brinquedos. 
Entre 2020 e 2022, com muitas escolas fechadas durante 
a pandemia de COVID-19, a casa passou a ser um lugar 
ocupado pelo brincar. Nesse sentido, enquanto criávamos 
o livro, pensamos muito nas famílias e como os familiares 
1 Como atuamos no Rio Grande do Sul, optamos por utilizar a 
nomenclatura “escola” para nos referirmos às Instituições de Educação 
Infantil. 
Utilizamos a separação em faixas 
etárias proposta pela Base Nacional 
Comum Curricular (Brasil, 2017) apenas 
como uma referência para pensar as 
propostas para as crianças. Partimos 
da ideia de que as crianças continuam 
sendo crianças depois de saírem da 
Educação Infantil, fato desconsiderado 
por nosso sistema educacional, que as 
transforma em “alunas” e “alunos” ao 
ingressarem no Ensino Fundamental. 
poderiam ter acesso às brincadeiras com brinquedos 
não brinquedos para ampliar o repertório oferecido às 
crianças. Embora tenhamos estabelecido um diálogo 
mais direto com as professoras da Educação Infantil, 
acreditamos na potência do brincar com brinquedos não 
brinquedos também em outros espaços.
Acreditamos que as crianças aprendem sobre o mundo 
nas relações que estabelecem com as outras crianças, 
com as pessoas adultas e com as coisas. Acreditamos na 
centralidade das diversas relações estabelecidas com e 
pelas crianças.
No texto buscamos ser diretas e objetivas2, na intenção 
de facilitar as práticas das professoras. Apresentamos 
algumas possibilidades de adaptação das propostas para 
as famílias fazerem em casa. Vamos sempre ressaltar que o 
2 Como há maioria de mulheres na equipe autoral, escolhemos nos 
referirmos a nós mesmas no feminino, como “professoras”.
22 23
Obras realizadas pelo Rafael (cinco anos) com partes soltas a partir de kit 
brincante enviado para as famílias durante o período de atividades remotas 
de 2020 (bolas de gude, feijões de vidro, borboletas de papel e tabuleiro de 
jogo da velha).
que trazemos aqui está baseado nos nossos modos de fazer 
— portanto, não são receitas, nem métodos infalíveis! Há 
inúmeras possibilidades a partir das nossas propostas.
Desenvolvemos uma série de fotos para ilustrar os 
materiais e selecionamos outras fotos de nossos arquivos 
para servirem de inspiração.
Reúso de isopor: bandejas de alimentos, caixa e chips (permitem guardar, 
riscar, marcar, quebrar e simbolizar).
24 25
O Q U E P O D E M O S 
E S P E R A R ?
Neste livro, vocês vão encontrar sugestões e propostas 
de utilização de brinquedos não brinquedos nas 
brincadeiras em casa com a família ou na escola com as 
professoras. 
Buscamos trazer de forma simplificada e adaptada 
algumas possibilidades que já foram teorizadas 
por grandes pensadoras da Educação do campo das 
infâncias. Simplificamos as propostas para poderem 
ser feitas em diversos contextos, com diferentes turmas 
Espaço propositor com utensílios de cozinha (colheres, pegadores, potes, 
formas de gelo e copinhos).
de crianças e em distintos espaços — ou até mesmo em 
casa. Nesse sentido, temos a intenção pedagógica de 
aproximar o brincar com brinquedos não brinquedos das 
pessoas — crianças, professoras, adultos. Muitas vezes, 
percebemos que o excesso de regras, materiais específicos 
e desconhecimento se tornam fatores que afastam as 
possibilidades de experimentação com essa forma de 
brincar.
Escolhemos materiais que fossem fáceis de serem 
REDUZIR = diminuir o consumo
REAPROVEITAR = usar o que já temos 
RECICLAR = usar o que já temos 
com outro propósito
REPENSAR = encontrar novas soluções
RECUSAR = dizer não ao consumismo
encontrados em casa, conseguidos por meio de descarte 
e doação ou comprados a um preço acessível. Brincar 
com brinquedos não brinquedos deve ser sustentável, 
economicamente viável e seguir os cinco erres: reduzir, 
reaproveitar, reciclar, repensar e recusar. Lembre-se de 
dar o destino correto aos descartes depois da brincadeira.
Na maioria das vezes, são as professoras as responsáveis 
pelos materiais a serem utilizados com as turmas e é 
sobre elas que recaem esses gastos. Assim, trouxemos 
26 27
Reúso de caixas e bandejas de ovos e protetor de papelão para móveis 
(permitem empilhar, acomodar pequenos objetos, construir e simbolizar).
muitos materiais oriundos de descarte, que podem ser 
coletados, solicitados às famílias, recebidos como doação, 
encontrados nas casas das pessoas a custo zero... e 
outros tantos que podem ser adquiridos a baixo custo, se 
comparados ao valor de brinquedos tradicionais. 
Desta forma, buscamos pensar na realidade brasileira 
para nortear nossa escrita e propor adaptações para 
algumas abordagens e pedagogias que vêm sendo 
importadas de contextos distantes ao longo dos anos. 
Temos plena consciência de que nossa realidade é ampla, 
complexa e repleta de contrastes. Ao conversarmos com 
Nenhuma das propostas apresentadas 
aqui é uma prescrição, uma receita que 
deve ser seguida à risca. Pelo contrário: 
o que buscamos propor são pontos de 
partida. As brincadeiras com brinquedos 
não brinquedos surgem naturalmente 
— portanto, não há uma fórmula.
colegas de diferentes redes e escolas aqui da região, 
percebemos universos muito distintos. Podemos citar 
algumas variáveis que demonstram as diferenças entre as 
escolas: o número de adultos responsáveis pelas crianças, 
o espaço físico, as práticas pedagógicas assumidas pela 
escola, o envolvimento da direção e equipe gestora com 
as pedagogias ali praticadas, as propostas de formação 
continuada, dentre outras tantas.
Acreditamos nas brincadeiras feitas no chão — no chão 
da sala de referência, na caixa de areia, no pátio, no chão 
da sala de estar ou do quarto das casas das crianças. Elas 
passarão o resto das suas vidas estudando em cadeiras e 
mesas e depois trabalhando em cadeiras e mesas em suas 
vidas adultas. Vamos explorar o chão, vamos brincar com 
as crianças no chão! Salas de referência cheias de mesas 
e cadeiras não são para nós. As crianças e as professoras 
precisam de espaços abertos para construírem seus 
ambientes junto com as crianças.
Acreditamos também na valorização dos saberes, dos 
28 29
Obra feita pelo Theo (cinco anos) com partes soltas a partir de kit brincante 
enviado para as famílias durante o período de atividades remotas em 2020 
(folhas secas, cipó, pedrinhas e concha).
fazeres e dos princípios que norteiam as ações pedagógicas 
das professoras e professores. Como docentes da Educação 
Infantil, devemos valorizar nossa própria profissão. Não 
somos apenas cuidadoras e cuidadores de crianças. Há 
muito estudo, preparação e trabalho árduo para estar com 
nossos grupos de crianças diariamente.
É importante discutir com as crianças sobre o que 
colecionar,que materiais são interessantes para elas, 
a seleção dos objetos que fazem parte da coleção de 
brinquedos não brinquedos da sala, como armazenar e 
onde armazenar, o que expor e como expor. Compartilhe 
com as crianças as escolhas. Converse com elas sobre as 
coleções de brinquedos não brinquedos.
Espaço propositor “Adoramos caixas”: caixas de plástico e de papelão, tubos 
de papelão, habitáculo (cubo de PVC) decorado com plástico bolha, cortina 
de tampinhas e papel celofane.
30
B R I N C A R T E M 
R E G R A S ?
Em nossas conversas sobre o tema, criamos um 
decálogo do brincar com brinquedos não brinquedos. Um 
decálogo é um conjunto de dez leis, normas, conselhos ou 
princípios. A palavra “decálogo” tem origem grega e refere-
se aos Dez Mandamentos enviados por Deus a Moisés 
no Monte Sinai. Não buscamos um significado religioso, 
mas uma brincadeira séria que facilite a organização do 
brincar e do fazer pedagógico.
Reúso de potes plásticos variados (permite abrir, tampar, guardar, 
empilhar).
32 33
Mais do que regras, leis e mandamentos, o nosso 
decálogo é composto de provocações. A seguir, explicitamos 
nosso decálogo:
1 Não siga as regras (nem estas!): a ideia de termos 
regras para a brincadeira livre nos parece estranha. 
Afinal, a brincadeira não é livre? Quando pensamos em 
criar regras para não ter regras, queremos subverter 
as prescrições que são estabelecidas por alguém com 
a intenção de pedagogizar e determinar o trabalho e a 
atuação das professoras. 
2 Não imponha regras às colegas professoras: muitas 
vezes, nas escolas, as colegas professoras buscam impor 
seu modo de fazer como uma receita infalível que foi 
tirada de um livro, abordagem ou formação. Nos parece 
que o melhor caminho seja o de contar como você costuma 
trabalhar com brinquedos não brinquedos e falar sobre 
alguns resultados obtidos com a turma. Devemos sempre 
lembrar que tanto o modo de apresentar os brinquedos 
não brinquedos, quanto as brincadeiras que surgem e as 
habilidades desenvolvidas pelas crianças vão depender de 
uma série de variáveis que estão quase que completamente 
fora de nosso controle.
3 Só porque é importado não significa que é melhor: 
claro que é importante conhecer como as escolas de 
educação infantil que são referência no mundo trabalham, 
mas muitas vezes essas traduções e importações não são 
adequadas à realidade das nossas escolas. Aposte em um 
processo decolonial. Conheça pedagogias feitas no Brasil e 
na América Latina. 
4 Não diga às crianças nem às colegas o que fazer, como 
fazer e como brincar: cada contexto, cada turma, cada 
criança é única. As crianças irão encontrar seus modos de 
brincar, fantasiar, simbolizar. Não precisam das nossas 
instruções. Isso vale também para as colegas professoras. 
Cada uma de nós conduz o seu trabalho a partir de 
princípios, experiências e conhecimentos distintos.
5 Cinco erres (recicle, reuse, recuse, reaproveite e 
repense): mesmo que já tenhamos nos referido a eles 
anteriormente, vale lembrar esses princípios, pois eles 
devem constituir a nossa prática. Muitos brinquedos 
não brinquedos são oriundos de descarte, encontrados 
na natureza e frutos de campanhas de arrecadação. 
Observe os descartes da sua casa, veja o que pode dar uma 
boa brincadeira. Converse com amigos e família sobre 
possíveis descartes. Visite lojas de não brinquedos. Treinar 
o olhar é fundamental. 
6 Depende do contexto (não há uma melhor forma de 
fazer algo que se aplique a todas as situações): insistiremos 
muito nessa concepção. Cada contexto, cada turma vai 
demandar tipos diferentes de brinquedos não brinquedos, 
postura da professora, inícios, encaminhamentos e 
encerramentos. Uma das regras mais comuns do brincar 
com elementos não estruturados é propiciar um espaço 
livre de distrações, como os brinquedos estruturados, 
para manter o foco das crianças nos não estruturados. 
Entretanto, bonecas podem ser alimentadas, caminhões 
podem ser abastecidos e utensílios de cozinha podem 
auxiliar no jogo simbólico com brinquedos não brinquedos. 
Tudo dependerá da sua intenção, das necessidades das 
crianças e do momento.
34 35
7 Tente de um jeito, tente novamente, tente de outro 
jeito... Muitas vezes, nós planejamos uma sessão com 
brinquedos não brinquedos e, por mais que tenhamos 
clara nossa concepção, nem sempre dará certo. Pode ser 
que nesse dia as crianças estejam com o interesse em outra 
coisa. Nosso cotidiano com as crianças é atravessado por 
diversas variáveis: uma novidade, uma inquietação, uma 
descoberta, um bicho que apareceu e tantas outras. Se não 
deu certo hoje, tente outro dia. Se não deu certo assim, 
faça de outro jeito. Converse com as crianças. Entenda as 
necessidades delas. Faça o exercício de deixar de lado a sua 
posição de adulta para conhecer as crianças. Pode estar aí 
a chave para brincadeiras prazerosas e significativas.
8 Seja específica (conheça a sua turma de crianças para 
saber o que funciona melhor com esse grupo): seguindo 
o mandamento anterior, esse é o caminho para práticas 
pedagógicas bem-sucedidas — conhecer as crianças 
individualmente e como elas funcionam em grupo. A 
partir desse conhecimento, proponha!
9 Siga o seu instinto pedagógico e confie nas 
suas intuições pedagógicas: lembre-se que você tem 
conhecimento pedagógico, confie nesses conhecimentos. 
Você conhece mais as suas crianças do que qualquer 
teórico, teoria, abordagem ou formador de professores. 
Jamais busque enquadrar a turma. Fuja das generalizações. 
10 “A teoria diz assim” não é justificativa para nada 
nunca (a teoria só é útil se ela leva a pessoa a pensar; se 
ela não faz isso, nem é teoria): trazemos esse mandamento 
em função de percebermos que muitas pessoas repetem 
teorias e princípios teóricos sem refletir e outras tantas 
que ficam paralisadas frente a teorias, abordagens e 
realidades muito distantes das nossas. 
11 Faça do seu jeito (sabendo o que quer fazer e 
com segurança): conhecer a teoria, estudar, ler relatos 
de experiências de outras professoras, participar de 
formações continuadas são ações que auxiliam no nosso 
cotidiano com as crianças. Misture tudo isso com a sua 
experiência e seu conhecimento da turma, das crianças e 
das infâncias e faça do seu jeito. 
Cabana esconderijo (mesa vestida com cortina de tiras de pano).
2 PERGUNTAS E RESPOSTAS
Mapa de anatomia: o Olho
O Olho é uma espécie de globo,
é um pequeno planeta
com pinturas do lado de fora.
Mas por dentro há outras pinturas,
que não se veem:
umas são imagens do mundo,
outras são inventadas.
Cecília Meireles
(1974)
38 39
C O M O N A S C E U A 
I D E I A D E S T E L I V RO ?
Tivemos ideia de criar este livro a partir de um convite 
para elaborar um guia para as famílias e para as colegas 
professoras proporem brincadeiras com materiais 
não estruturados. Tal convite partiu da Secretaria de 
Educação do Município ao qual estávamos vinculadas. 
Ao desenvolver esse material, uma semente foi plantada 
e ficamos com vontade de aprofundar, expandir e criar 
sobre um tema que é apaixonante e pelo qual somos 
apaixonadas. Atendendo ao convite, nos propusemos 
a pensar e desenvolver um material que fosse de fácil 
entendimento para qualquer pessoa que tiver interesse em 
promover brincadeiras com brinquedos não brinquedos. 
No curto espaço de quinze dias, criamos a primeira 
Coleção de rolhas (permite guardar, delimitar espaços e criar).
versão do material. Nos concentramos em conseguir 
um resultado acessível, rico em informações, inédito, 
visualmente atraente e com muitas ilustrações. 
O que iniciou com um desejo de organizar nossos 
princípios, leituras, influências e propostas para brincar 
com brinquedos não brinquedos cresceu para tomar 
a forma deste livro. Portanto, agora com mais tempo 
para a revisão e ampliação, resolvemos disponibilizar o 
material que havíamos preparado na íntegra para acesso a 
todas, todos e todes que tenham interesse na forma como 
acreditamos que ele deva ser veiculado.Nossa intenção é de que as ideias, propostas e 
concepções que buscamos pôr em prática cotidianamente 
com as nossas turmas pudessem circular e, talvez, inspirar 
outras pessoas. O que trazemos nesta obra pode (e deve) 
ser repensando para cada contexto. Esperamos que seja 
um passo para a popularização dos brinquedos não 
brinquedos.
O profissional da Educação infantil 
deve “garantir experiências que 
incentivem a curiosidade, a exploração, 
o encantamento, o questionamento, 
a indagação e o conhecimento das 
crianças em relação ao mundo físico 
e social, ao tempo e à natureza.”
Diretrizes Curriculares Nacionais 
para a Educação Infantil (2009)
40 41
E M Q UA I S F O N T E S 
F O M O S B E B E R ?
 
Nos inspiramos em várias obras para compormos as 
propostas que escolhemos transpor para o livro. Ao fim 
na seção Recomendamos, trazemos fontes inspiradoras 
e que servem para quem desejar maior aprofundamento 
nessa perspectiva. 
Algumas dessas obras tratam do brincar de bebês e 
crianças bem pequenas (até três anos). Buscamos também 
obras que falam sobre a brincadeira na e com a natureza. 
Também fomos beber das possibilidades infinitas trazidas 
pela arte. Embora não abordemos a arte como um 
elemento essencial da Educação Infantil e das infâncias, 
estamos sempre envolvidas com a criação artística das 
Contas coloridas (permitem enfeitar, passar fio ou linha, guardar, desenhar 
e simbolizar).
crianças. Brincar com brinquedos não brinquedos é 
também brincar com arte, com desenho, com escultura, 
com arquitetura...
Alguns desses escritos consideramos como 
fundamentais para o nosso trabalho cotidiano com 
as crianças. Eles servem para aprofundar nossos 
conhecimentos sobre esse universo. A profissão de 
professora implica em muito estudo, leitura e atualização. 
Confira nossas recomendações ao final do livro.
O Q U E É O B R I N C A R 
H E U R Í S T I C O ?
“Heurístico” vem da palavra grega eureka, que significa 
”descobri!”. O brincar heurístico é a brincadeira da 
descoberta e da exploração. É a arte da descoberta. 
O brincar heurístico é fundamentado pelas pesquisas e 
teorias de Elinor Goldschmied e Sonia Jackson (2012) e de 
suas seguidoras. Em uma perspectiva heurística, o brincar 
é organizado em três diferentes possibilidades de acordo 
com a idade das crianças: cesto dos tesouros, bandejas de 
experimentação e jogo heurístico. 
A brincadeira heurística propõe que, a partir de 
uma seleção de objetos, a criança possa descobrir as 
suas propriedades, suas formas, suas texturas, suas 
semelhanças e suas diferenças. Assim, ela pode explorar, 
descobrir, construir, separar, agrupar, combinar, escolher, 
descartar, mover, empilhar, manipular, controlar, 
emprestar novos sentidos, desenhar e redesenhar, em 
infinitas possibilidades. 
Quando a brincadeira heurística acontece de 
42 43
forma coletiva as crianças desenvolvem habilidades 
relacionadas ao trabalho em grupo, à colaboração e 
ao coletivo, fortalecendo a noção de pertencimento ao 
grupo. Individualmente, a criança soluciona problemas 
relacionados às áreas da matemática, física e arquitetura, 
desenvolve seu senso estético e faz escolhas — habilidades 
importantes para a vida adulta. 
Nos inspiramos livremente na Teoria do 
Brincar Heurístico. Acreditamos que a 
brincadeira em seu sentido mais amplo não 
deva servir a este ou aquele propósito. A 
brincadeira deve ser livre e as regras devem 
ser criadas pelas crianças. O início da 
brincadeira, seus limites, seu fim, os papéis 
e as possibilidades devem ser pensados, 
criadas e negociadas pelas crianças.
O Q U E É O B R I N C A R 
L I V R E ? 
O brincar livre tem suas origens na abordagem 
desenvolvida por Emmi Pikler. A autora defende a 
importância de se deixar a brincadeira das crianças fluir 
com um mínimo indispensável de interferência dos 
adultos. O adulto seleciona os materiais e pensa no espaço 
físico destinado ao brincar. Esse espaço, para ela, deve 
constituir um ambiente calmo, com pouco ruído, sem 
interferências (televisão, celular...), confortável, iluminado 
e acolhedor. 
A ideia do brincar livre se fundamenta na possibilidade 
de a criança escolher e descobrir suas brincadeiras com 
a menor interferência possível. Não afirmamos sem 
interferência, pois os adultos escolhem os objetos, criam o 
contexto físico e resguardam a segurança da criança. 
Queremos ressaltar que não se demonstra ao bebê ou às 
crianças como se deve brincar: elas descobrem por si sós. 
Emmi Pikler acreditava que ensinar a uma criança algo 
que ela pode descobrir sozinha é, ao mesmo tempo, inútil 
e prejudicial. 
Para alguns, o brincar jamais será livre. O brincar será 
sempre restringido às experiências culturais, à classe 
social, ao gênero, ao espaço, ao que está disponível ou foi 
organizado pela professora e, até mesmo, às regras que 
as próprias crianças criam. Não queremos chegar nesse 
lugar de discussão. O brincar livre aqui é entendido em 
oposição a uma brincadeira dirigida, na qual todos devem 
seguir uma série de regras criadas pela professora ou pelos 
adultos.
Coleção organizada em vidros de café reutilizados contendo elementos da 
natureza.
44 45
C O M O F O R M A M O S 
N O S S A P R Ó P R I A 
C O L E Ç Ã O D E 
B R I N Q U E D O S N Ã O 
B R I N Q U E D O S ?
É interessante que cada sala de referência, turma ou 
família tenha a sua coleção de brinquedos não brinquedos. 
Essa coleção pode ser formada reaproveitando 
embalagens (caixas de ovos, bandejas, potes, rolos, 
bobinas, latas), elementos da natureza (pedras, folhas, 
flores, gravetos, conchas), coisas que temos em casa 
(formas e forminhas, colheres de metal e madeira, potes 
para guardar alimentos, batedores de ovos, cabides, 
panelas, tampas), coisas compradas (contas, lantejoulas, 
fitas, barbantes, pompons), tecnologias obsoletas (fitas K7 
“Quando a criança não está rodeada de 
brinquedos ‘inoportunos’ que se movem ou 
produzem ruídos a cada gesto involuntário, 
e quando está confortável em seu corpo, 
livre em seus movimentos, então, sua 
atenção e seu interesse se organizam 
no ritmo exato de sua maturidade.” 
Tardos e Szanto (2021, p. 50-51)
ou de VHS, CDs e DVDs, disquetes, discos de vinil). 
Procure manter, com o auxílio das crianças, esses 
materiais organizados, separados por famílias (coisas 
que são iguais ou parecidas). Podemos usar caixas de 
papelão, caixas plásticas, cestos, sacolas de tecido ou de 
plástico para auxiliar na organização. Descarte o que está 
inutilizado e impróprio para o brincar.
Os brinquedos não brinquedos ganham novos 
significados a cada brincadeira. Iniciar a brincadeira só 
depende da interação da criança com eles. 
Quanto mais se brinca com materiais não estruturados, 
mais se desenvolve o potencial inventivo da criança. 
As crianças criam e descobrem coisas novas a cada 
combinação de materiais e a cada novo momento de 
brincadeira. Muitas professoras e pesquisadoras chamam 
esses momentos de brincadeira de “sessão”.
Reúso de tampas de plástico (permitem separar por cor e tamanho, desenhar, 
empilhar, simbolizar).
46 47
Q UA L É O C O N T R Á R I O 
D E B R I N Q U E D O S N Ã O 
B R I N Q U E D O S ?
O contrário de um brinquedo não brinquedo é o 
brinquedo comprado pronto que possui uma única função. 
Esse tipo de brinquedo, além de custoso, não estimula 
tanto a imaginação das crianças, pois um carrinho será 
sempre um carrinho, uma boneca será sempre aquela 
boneca com determinadas características, um super-herói 
será sempre esse mesmo super-herói, e assim por diante. 
Em muitos casos, a brincadeira com brinquedos 
sofisticados comprados prontos não dura muito tempo. 
Esses brinquedos logo são esquecidos ou viram decoração 
Reúso de tecnologias obsoletas (fitas de VHS presas a um ventilador).
do quarto das crianças. Não estamos criticando quem 
investe na compra desses brinquedos, mas queremos 
propor outras possibilidades.
Observe como as crianças ficam fascinadas com os 
objetos de verdadedo nosso dia a dia. Brincar com panelas, 
colheres, ferramentas, potes, embalagens, prendedores 
de roupa, tecidos, pedaços de madeira e outros materiais 
ocupa o tempo das crianças de uma forma diferente, 
incentivando novas descobertas e possibilidades. Os 
brinquedos e jogos comprados prontos, como têm apenas 
uma função, não permitem essas descobertas, invenções, 
criações e possibilidades. Quando brincamos com um 
quebra-cabeças, não há outra possibilidade de montar. 
A figura final será sempre a mesma: aquela que foi 
determinada pela empresa comercial que criou o quebra-
cabeças. 
Espaço propositor (cones, bobinas, carros, dinossauros e bonecos).
48 49
Alguns brinquedos ou jogos comprados 
prontos são interessantes para ampliar 
o repertório da criança. Eles contêm 
possibilidades de uso como brinquedos 
não estruturados, assumindo outras 
formas e outras aplicações. Exemplos: 
• massa de modelar (comprada ou caseira)
• jogos de encaixar
• dominó
• “jenga” (peças de madeira 
que formam uma torre)
• “tangram” (jogo de formas 
geométricas coloridas que montam 
imagens, quebra-cabeça japonês)
• conjunto construtor ou engenheiro
• dados
• peças de jogos de tabuleiro
Encontramos nessa categoria os brinquedos 
de encaixar, construir, empilhar, criar 
ou montar. Eles também são uma ótima 
opção para incentivar a criatividade e 
promover o desenvolvimento das crianças. 
Seus preços não são tão altos, valendo o 
investimento, pois têm grande durabilidade.
50 51
Desenhos de barco e flor com sol e nuvens feitos pelo Bernardo (cinco anos) 
em 2021. As tampinhas podem ser movidas para criar muitas figuras.
P O D E M O S M I S T U R A R 
B R I N Q U E D O S C O M 
B R I N Q U E D O S N Ã O 
B R I N Q U E D O S ?
Podemos, sim. A mistura de brinquedos tradicionais 
com materiais não estruturados permite a ampliação do 
repertório dos brinquedos comprados prontos. Bobinas, 
rolos, pedaços de madeira e outros materiais de formato 
semelhante podem construir uma casa para uma boneca 
famosa ou a miniatura licenciada de um super-herói. 
Animais de brinquedo podem viver em um zoológico 
construído com peças soltas. As crianças podem construir 
um vale para os dinossauros de plástico habitarem. Assim, 
essa mistura é bem-vinda!
H Á B R I N Q U E D O S N Ã O 
B R I N Q U E D O S PA R A 
M E N I N A S E PA R A 
M E N I N O S ?
Não! Todos os brinquedos não brinquedos são para 
todas as crianças. Assim também deveriam ser os 
brinquedos manufaturados. Somos totalmente contra a 
generificação dos brinquedos. A brincadeira, a fantasia, as 
descobertas devem ser livres também quanto ao gênero.
52 53
Q U E M S Ã O A S 
C R I A N Ç A S ? 
As crianças, geralmente, podem ingressar nas creches 
e nas escolas de Educação Infantil a partir dos quatr0 
meses e lá permanecem até os cinco anos e onze meses. 
Para as Diretrizes Curriculares Nacionais da 
Educação Infantil (Brasil, 2009, p. 12), documento que 
regulamenta a Educação Infantil em todo o território 
nacional, a criança é “sujeito histórico e de direitos 
que, nas interações, relações e práticas cotidianas que 
vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, 
brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, 
experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre 
a natureza e a sociedade, produzindo cultura”.
Esse conceito orienta 
como nós, professoras 
e professores, devemos 
conceber cada uma das 
crianças com quem con-
vivemos na nossa turma. 
As crianças, primeiro, 
devem ser entendidas 
como pessoas, como su-
jeitos que vivem em de-
terminada sociedade e 
que possuem sua história 
pessoal. Elas também são 
fruto da família, da so-
ciedade, do local, da es-
cola em que crescem e se 
desenvolvem. Portanto, 
Brincadeira com retroprojetor 
e objetos plásticos.
as crianças são resultado das várias interações sociais co-
tidianas em determinada geografia e momento histórico. 
As crianças possuem sua própria cultura, produzem cul-
tura no convívio com as outras crianças e adultos e modifi-
cam essas mesmas culturas pela sua ação. As crianças são 
agentes sociais. Cada uma delas possui sua própria perso-
nalidade e temperamento.
54 55
Q U E M S Ã O O S 
A D U LT O S ?
Os adultos aos quais nos referimos são muitos: mães, 
pais, irmãs, irmãos, tias, tios, avós, avôs, madrinhas, 
padrinhos, cuidadoras, cuidadores, professoras e 
professores e todo o pessoal da escola. Os adultos são 
a figura de referência da criança durante o tempo da 
brincadeira.
Escultura com massa de modelar e palitos de picolé feita pela Livia, cinco 
anos, em 2020.
Q UA L O PA P E L D O 
A D U LT O ?
O papel do adulto na brincadeira com brinquedos não 
brinquedos é selecionar e higienizar os materiais; descartar 
aqueles que não podem mais ser utilizados; criar contextos 
(dispor os materiais de forma esteticamente interessante 
e desafiadora); pensar em combinações de materiais; 
observar para conhecer as crianças, filhas e filhos, 
percebendo seus interesses, apoiando suas descobertas, 
maravilhando-se com a sua imaginação. O adulto também 
deve registrar os momentos de brincadeiras das crianças 
por diversos meios — foto, vídeo, anotações... Os registros 
servem para criar memórias afetivas para as crianças 
e para as professoras os registros podem ser subsídios 
importantes para a criação de documentação pedagógica. 
O Q U E O A D U LT O N Ã O 
D E V E FA Z E R ?
A pessoa adulta que está com a criança ou grupo de 
crianças na escola ou em casa jamais deve:
• demonstrar como se brinca — mostrar como o 
material faz barulho ou que uma peça se encaixa na 
outra... a criança pode descobrir sozinha;
• guiar, torcer, concordar ou discordar;
• brincar pela criança;
• interagir de forma vazia e evasiva;
• usar elogios vazios (“muito bem”, “parabéns”).
56 57
A partir da proposta realizada na 
cidade italiana de Reggio Emilia, 
Dalila Lino (2007) lista três funções 
da documentação pedagógica:
1. criar memórias afetivas das 
experiências realizadas;
2. proporcionar perspectiva às 
professoras sobre o processo de 
aprendizagem das crianças;
3. fornecer informações para as 
famílias e público em geral sobre 
o que acontece nas escolas. 
Se você é professora ou professor, vale 
a pena se informar sobre o tema da 
documentação pedagógica. Verifique 
nossas recomendações ao final do livro.
O Q U E O A D U LT O 
P O D E FA Z E R ?
Além de pensar os materiais e o ambiente e de estar 
presente, emprestando sua segurança à brincadeira, o 
adulto pode:
• fazer perguntas inteligentes: “O que você 
construiu?”; “Será que dá para fazer maior?”; “Do 
que mais você precisa?”;
• elogiar coisas específicas, como o uso da cor, do 
espaço, a solução de problemas, a criatividade;
• procurar descrever o que a criança descobriu —
principalmente, para aquelas que ainda não falam: 
“Ah, se sacudir a lata faz um barulho legal!”.
As professoras podem propor que uma turma ou grupo 
escolha os brinquedos não brinquedos, ou ainda que 
prepare e organize o espaço para outra turma ou grupo. A 
proposta pode ser entre turmas de idades diferentes. 
P O R Q U E B R I N C A R 
C O M B R I N Q U E D O S 
N Ã O B R I N Q U E D O S ?
Em meio a tantos estímulos — celular, tablet, televisão, 
brinquedos comprados etc. —, o brincar com brinquedos 
não brinquedos cria novas oportunidades para que a 
criança:
• explore os materiais — sinta a textura, o cheiro, o 
peso, produza barulho;
• se concentre na brincadeira;
58 59
• faça escolhas, decida o que a interessa e o que não 
interessa — habilidade que será fundamental 
durante a vida toda;
• explore possibilidades de combinações — o que 
cabe dentro, o que é maior ou menor, o que encaixa;
• construa e derrube;
• crie desenhos, artes, instalações;
• brinque com partes soltas que podem ser 
movimentadas para criar infinitas possibilidades;
• entre em contato com a natureza, tanto pelo brincar 
com elementos naturais ou na natureza, quanto 
pela possibilidade de reúso de materiais queseriam 
descartados ou são facilmente encontrados nas 
casas;
• desenvolva a sua motricidade fina e fortaleça 
movimentos de preensão (pinça), que serão 
fundamentais para a escrita futuramente.
Caixas organizadoras tipo colmeia postas no chão deixam os brinquedos não 
brinquedos ao alcance dos bebês e das crianças.
H Á U M A I DA D E 
E S P E C Í F I C A PA R A 
C A DA T I P O D E 
B R I N C A D E I R A ?
A literatura especializada sugere um tipo de 
brincadeira para cada faixa etária (idade). Sabemos que o 
desenvolvimento individual de cada bebê e criança é muito 
particular, depende do entorno, da personalidade da 
criança, da família, etc. — ou seja, de uma série de fatores 
que são impossíveis de serem previstos e que são únicos 
para cada indivíduo. 
Entendemos que, 
embora as propostas de 
brincadeiras aqui apre-
sentadas tenham um 
vínculo com a idade cro-
nológica das crianças, 
elas podem acontecer 
antes ou depois da idade 
estabelecida pela teoria. 
A relação das crianças 
com a brincadeira vai 
depender, essencial-
mente, da maturidade 
física, do interesse e das 
ofertas feitas pelos adul-
tos. 
Não podemos propor 
uma brincadeira que 
force o bebê a ficar sen-
Brincadeira na natureza, 
com elementos naturais e 
utensílios de cozinha.
60 61
tado, se ele ainda não se senta por uma questão de desen-
volvimento físico. Igualmente, não propomos uma brinca-
deira que implique em andar, se o bebê ainda não anda. 
Forçar um bebê ou uma criança a fazer algo que seu corpo 
ainda não consegue é uma violência.
Podemos entender que, mesmo que tenhamos 
pensado nos materiais, na disposição deles no espaço, 
que tenhamos feito um convite, se as crianças não se 
interessarem pela proposta, teremos que pensar em outro 
modo de fazer. Pode acontecer também de termos uma 
intenção com uma proposta de brincadeira e as crianças 
trazerem outras brincadeiras que não havíamos pensado. 
O importante é abraçar o inusitado. 
Quanto à oferta, podemos dizer que apresentar uma 
proposta normalmente associada a uma faixa etária “xis” 
(por exemplo, um “cesto dos tesouros”) para crianças mais 
Construções como trabalho colaborativo (crianças de três anos descobrindo 
como construir uma torre).
Cesto dos tesouros pensado para uma turma de crianças de quatro anos 
(cilindros de madeira e papelão, cone, pena de arara, pinha, bucha vegetal, 
bucha de pano, milho seco e outros elementos menores que estão no fundo do 
cesto, como sementes, pedacinhos de tecido e toquinhos de madeira).
62 63
velhas pode ser uma prática que desperte o interesse. 
As crianças maiores irão explorar os mesmos objetos 
de uma forma diferente. O importante é que essa forma 
seja igualmente satisfatória. O mesmo pode acontecer 
com a oferta de exploração de materiais nas caixas de 
descobertas para crianças de quatro e cinco anos. Elas vão 
fazer as suas descobertas de acordo com seus interesses, 
seus conhecimentos prévios. 
O que queremos deixar claro é que, mesmo que 
muitos livros determinem que há uma idade “certa” para 
apresentar as brincadeiras não estruturadas ou heurísticas 
às crianças, acreditamos que elas podem também ser 
apresentadas para crianças mais velhas. Para as crianças 
mais novas, conforme já mencionado, vai depender das 
capacidades físicas já desenvolvidas.
S E M P R E H Á U M 
P RO P Ó S I T O PA R A 
C A DA B R I N C A D E I R A ?
Indicamos neste texto alguns benefícios que as 
brincadeiras com brinquedos não brinquedos podem 
trazer, mas na verdade esse não é o nosso foco. Se 
pedagogizarmos todas as brincadeiras e buscarmos 
para elas propósitos, objetivos a serem alcançados e 
conhecimentos a serem adquiridos, caímos na armadilha 
de não estarmos brincando e sim ensinando por meio de 
uma brincadeira ou mesmo ensinando a brincar.
A brincadeira livre pode parecer que diminui nosso 
papel como professoras. Só deixar as crianças soltas 
brincando e podermos nos sentar um pouco para conferir 
nossas mensagens no celular. Entretanto, essa não deveria 
ser a verdade. A professora propõe os contextos, pensa 
nos materiais, coleta, organiza e apresenta esses mesmos 
materiais. Além disso, a professora é responsável pela 
mediação entre as crianças e os conhecimentos durante a 
brincadeira. Ela sustenta as aprendizagens das crianças. 
A brincadeira livre é um momento muito importante 
para conhecer as culturas das crianças, seus desejos, 
seus conhecimentos e suas necessidades. Essa também 
é uma oportunidade para fazer registros (fotos, vídeos, 
anotações) para compor a documentação pedagógica.
 Entendemos que as práticas inspiradas no brincar 
livre demonstram a intencionalidade pedagógica das 
Construções como trabalho colaborativo (crianças de quatro anos 
descobrindo como construir um castelo).
64 65
professoras. Assim, se você é professora, esteja certa de 
que possui conhecimento pedagógico para saber o que está 
propondo, sem didatizar ou pedagogizar a brincadeira. 
Esse nos parece ser o caminho.
Muitas vezes pensamos uma proposta, escolhemos os 
materiais, montamos o espaço e as crianças criam outra 
possibilidade guiada pelo interesse e vontade. Se isso 
acontecer, pode ser que gere um sentimento de frustração 
e uma vontade quase que incontrolável de mostrar como 
brincar. Segure essa vontade, não se frustre! Se as crianças 
têm vontade de levar a brincadeira para uma possibilidade 
que você não pensou, aproveite para aprender com elas.
Experimente sem medo. Dará certo! Deixe a criança 
livre para explorar, descobrir, pesquisar e brincar. 
B R I N Q U E D O S 
C O M S U C ATA S Ã O 
B R I N Q U E D O S N Ã O 
B R I N Q U E D O S ?
Infelizmente, não! O brincar com brinquedos não 
brinquedos é uma prática alinhada ao brincar livre.
Construir brinquedos estruturados a partir de sucata 
é uma prática de uso de materiais que em sua essência 
podem ser reaproveitados (papelão, plástico, vidro, metal).
A ideia de criar brinquedos a partir de materiais 
recicláveis é muito interessante para as crianças, que 
podem criar seus próprios brinquedos. Há uma infinidade 
de tutoriais disponíveis de como fazer os brinquedos com 
sucatas.
É S E G U RO A C R I A N Ç A 
B R I N C A R C O M V I D RO ?
É, sim! Escolha vidros mais grossos que são mais 
difíceis de quebrar. Com os bebês, esteja atenta para a 
exploração. Com as crianças, explique que quebra e peça 
para terem cuidado. 
Quebrou? Faça uma limpeza cuidadosa no local.
Temos assistido uma revolução nos refeitórios. 
Algumas escolas têm oferecido o uso de copos de vidro e 
pratos de louça para as crianças comerem. Ao substituírem 
aqueles feitos de plástico, estão proporcionando para as 
crianças experiências mais perto da realidade dos adultos, 
menor segregação em função do critério idade e, ainda, 
diminuindo o contato das crianças com plásticos. 
Construindo uma torre com rolos de papelão (Nina, três anos).
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Em outros contextos, as crianças brincam com 
materiais que consideramos perigosos, mas que fazem 
parte do nosso cotidiano, como agulhas de tapeçaria 
e seguranças (joaninhas), cola-quente específica para 
crianças, pregos, martelos e outras ferramentas e objetos 
de carpintaria e de consertos. Claro que temos que levar 
em conta a idade, a familiaridade que as crianças têm com 
esses objetos e a supervisão do adulto. 
Aqui só tem uma regra: se você não se sente segura, não 
ofereça!
D E V E M O S E V I TA R O 
P L Á S T I C O ?
Sim e não! O plástico oferece poucas diferenças de 
sensações para o bebê. Quando propomos o cesto dos 
tesouros, temos que pensar nas diferentes texturas ao 
toque, conforme veremos no capítulo 3. Para as crianças 
mais velhas, o plástico pode ser utilizado em maior 
quantidade, pois outros atributos estão em jogo. 
Aqui não estamos falando de brinquedos de plástico, 
mas de brinquedos não brinquedos que são feitos de 
plástico e derivados: embalagens, tubos, canos, conduítes, 
potes, tampinhas de garrafa, garrafas pet, dentre outros. Já 
o excesso deuso de plásticos na fabricação de brinquedos e 
de suas embalagens é bastante questionável, pois impacta 
na baixa reciclagem dos brinquedos, no aumento do lixo 
e possível contaminação das crianças. Vale conferir a 
pesquisa “Infância Plastificada”, realizada pelo programa 
Criança e Consumo (2020; vide Referências).
P O D E M O S U S A R 
M AT E R I A I S 
C O M O E VA ?
Melhor não! O EVA — ou Etileno Acetato de Vinila — 
está em vários lugares: nos tatames que forram o chão das 
salas de referência, nos sapatos e chinelos, nos brinquedos 
e na decoração de ambientes infantis... Há um movimento 
forte na educação para a diminuição do uso de materiais 
industrializados e potencialmente tóxicos — os principais 
são o EVA e o plástico. 
Quando o EVA é utilizado na decoração, não significa 
muito para a criança, pois são desenhos prontos. Uma 
obra de arte feita pela criança faz mais sentido para ela e 
pode ser admirada por todos.
Reúso de plásticos (separador de talheres, vasos de plantas, copos 
promocionais).
3 NA CRECHE
Coisas que fazem o coração bater mais forte
A mamãe pardal e seus filhotes. Acender um 
bom incenso e ir me deitar sozinha. Descobrir que 
o espelho chinês está ficando escurecido. Lavar os 
cabelos, maquiar-me e vestir um quimono cheiroso. 
Passar por um lugar onde crianças 
pequenas estão brincando. 
Sei Shônagon
(século X)

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