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DIREITOS HUMANOS Guérula Mello Viero Revisão técnica: Renato Selayaram Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais Especialista em Ciências Políticas Mestre em Direito Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin — CRB 10/2147 A658d Arakaki, Fernanda Franklin Seixas. Direitos humanos [recurso eletrônico] / Fernanda Franklin Seixas Arakaki, Guérula Mello Viero [revisão técnica: Renato Selayaram]. – Porto Alegre : SAGAH, 2018. ISBN 978-85-9502-537-0 1. Direitos humanos I. Viero, Guérula Mello. II.Título. CDU 342.7 Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever os antecedentes sociais vividos na Alemanha antes da chegada ao poder do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Definir nazismo e as suas características. Identificar os efeitos jurídicos surgidos após a queda do III Reich e a sua relação com os direitos humanos. Introdução A Primeira e a Segunda Guerras Mundiais marcaram a história. A pri- meira por levar ao poder regimes autoritários e antidemocráticos, como o nazismo (na Alemanha) e o fascismo (na Itália). A segunda, devido às atrocidades cometidas ao longo dos conflitos. Diversos países de- clararam guerra entre si. O Holocausto gerou a morte de milhões de pessoas. Após todo esse caos, os países viram a necessidade de proteger os cidadãos — assim, assinaram a Carta da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Neste capítulo, você vai ler sobre os fatores que antecederam a ascen- são do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, partido de Hitler, e como eram os regimes nazista e fascista. Vai ler também sobre as consequências jurídicas da Segunda Guerra Mundial, bem como sobre o contexto em que surgiu a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH). Ascensão do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães A Alemanha e a França, duas potências continentais europeias, possuem um histórico de crises. Ao menos quatro guerras marcaram essa relação confl ituosa entre os países. A origem dessas desavenças reside nas diferenças entre tribos celtas e germânicas, visto que, no período do Império Romano, ocupavam os territórios do que hoje vêm a ser a Alemanha e a França (MARTINS JUNIOR, 2011). Foi no século XVIII, porém, que essa rivalidade se acirrou com o reino da Prússia. A Áustria e a Prússia disputavam a hegemonia regional. Duas grandes guerras marcaram essa rivalidade: a Guerra da Sucessão Austríaca (1740–1748) e a Guerra dos Sete Anos (1756–1763). Com os efeitos gerados pela Revolução Francesa, que pretendia liquidar com as monarquias na Europa, os prussianos e austríacos se uniram em 1792, ocasionando a derrota do inimigo em comum, a França, na batalha de Leipzig, em 1813 (MARTINS JUNIOR, 2011). Durante o Congresso de Viena, em 1815, o mapa europeu foi redesenhado, fazendo a Prússia herdar territórios da Renânia e da Vestfália. Essa medida permitiu ao País duplicar a sua população e aumentar a sua influência sobre a recém-criada Confederação Germânica, embrião do que hoje é a Alemanha. Esse crescimento deu início a mais uma disputa. O ministro-presidente da Prússia a partir 1862 — e chanceler do Reich desde 1871 — Otto von Bismarck liderou a guerra franco-prussiana em 1870. O objetivo era colocar os austríacos em segundo plano para confiná-los em um Estado separado. Após um ano de lutas, a nação alemã ficou mais poderosa, sendo unificada sob o amparo do kaiser Guilherme I, da Prússia (MARTINS JUNIOR, 2011). Assim, a Alemanha se tornou a principal potência da Europa continental, em forma de confederação, sob a hegemonia da Prússia. Com a vitória sobre a França, nascia o Estado Nacional Alemão (Kaiserreich), marcado pelo espírito militar e autoritário. O kaiser Guilherme I foi proclamado imperador em 18 de janeiro de 1871. A vitória sobre a França permitiu à Alemanha reaver a Alsácia, parte de Lorena e ainda uma fortuna em indenizações dos franceses (MARTINS JUNIOR, 2011). Na década posterior à guerra, a França permaneceu com um sentimento de revanche, o que ocasionava uma forte tensão na fronteira entre os dois países. A tensão era agravada por Otto von Bismarck, um dos líderes da unificação, ao estabelecer uma aliança com a Áustria-Hungria e Itália, conhecida como Tríplice Aliança, para favorecer os acordos comerciais, financeiros e militares (FERNANDES, 2018a). Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos2 Sentindo-se ameaçada pela influência da Alemanha, a França passou a firmar acordos com o Império Russo em 1894. A Inglaterra, um dos maiores impérios da época, também temia o avanço alemão e acabou aliando-se à França e à Rússia, culminando na Tríplice Entente. Em algumas regiões, a tensão entre as duas alianças se acirrava. Na região dos Balcãs, os impérios Austro-Húngaro e o Russo lutavam para impor um domínio nacionalista. De um lado, a Rússia, que procurava expandir sua ideologia eslava e apoiava a criação do Estado da Grande Sérvia. De outro, a Áustria-Hungria, que, devido à fragilidade do Império Turco-Otomano, queria o controle da mesma região e, com o auxílio da Alemanha, também se valia de uma ideologia naciona- lista. Em 1908, a Áustria-Hungria anexou a região da Bósnia-Herzegovina, dificultando a criação da Grande Sérvia (FERNANDES, 2018a). Ainda, para agravar o conflito entre as duas alianças, em 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono da Áustria-Hungria, foi assassinado por um militante com viés nacionalista eslavo. A morte de Ferdinando acirrou os ânimos, levando as alianças das duas principais potências europeias à guerra. Esse acontecimento oportunizou que a Áustria atacasse a Sérvia e eliminasse o projeto eslavo de construir um Estado forte. A Áustria-Hungria e a Alemanha exigiram da Sérvia a solução para o assassinato do arquiduque. No entanto, a Sérvia não cedeu à pressão germânica. Assim, em 28 de julho de 1914, a Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia, que contava com o apoio da Rússia. A França ofereceu apoio à Rússia, gesto que levou a Alemanha a declarar guerra contra os dois países (França e Rússia). Para agravar a situação, o exército alemão, ao marchar para a França, passou pelo território belga (que era neutro), fazendo a Inglaterra, aliada da Rússia, também declarar guerra à Alemanha (FERNANDES, 2018a). As principais formas de tática militar eram: a guerra de trincheiras, ou guerra de posição, que tinha por objetivo a proteção dos territórios conquistados; a guerra de movimento, ou de avanço de posições, que era mais ofensiva e contava com armamentos pesados e infantarias equipadas. O uso de novas armas, aperfeiçoadas pela indústria, aliado a novas invenções, como o avião e os tanques, deu aos combates uma característica de impotência por parte dos soldados. Milhares de homens morreram instantaneamente em bombardeios ou envoltos em imensas nuvens de gás tóxico (FERNANDES, 2018a). 3Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos Em 1917, a Rússia se retirou do fronte de batalha, que foi um momento decisivo à Grande Guerra. Nesse mesmo ano, os Estados Unidos se aliaram à Inglaterra e à França contra a Alemanha. Em 1918, a guerra chegou ao fim, com a derrota da Alemanha para os aliados da França (FERNANDES, 2018a). O saldo de mortos durante os cinco anos da Primeira Guerra Mundial foi de 8 milhões, dentre os quais 1,8 milhão eram alemães (FERNANDES, 2018a). Em 1919, foi realizada a Conferência da Paz, em Paris, com a presença de representantes da coligação aliada dos 27 países vitoriosos nas Primeira Guerra Mundial, quando foi assinado o Tratado de Versalhes, decretando oficialmente o término da guerra. Com um caráter essencialmente punitivo, o documento constituía um tratado de paz unilateral, impositivo, com vistas a impedir novas investidas militares da Alemanha. Composto por 440 artigos e inúmeros apêndices,o texto responsabilizava os alemães por todas as agruras ocorridas. Entre as exigências: a redefinição das fronteiras europeias. Para Martins Junior (2011, p. 18), “A Alemanha deveria ser exemplarmente punida e as demais potências centrais, Áustria, Bulgária, Hungria e Turquia, então aliadas da nação germânica, seriam alvo de negociações”. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha foi submetida a humilhações e cobranças pelos países vencedores, que refletiam em todos os setores: econômico, cultural, social, entre outros (FERNANDES, 2018b). Esse cenário pós-guerra aumentou ainda mais o ressentimento dos alemães em relação aos demais países, o que fazia revigorar o extremismo naciona- lista. Após a derrota, em paralelo à assinatura do Tratado de Versalhes, a Alemanha se reestruturou, constituindo a República de Weimar. Tratava-se de um sistema bem distinto do império alemão do período pré-guerra e tinha o intuito de solucionar os graves problemas que o País enfrentava. Entre os mais urgentes, a necessidade de reorganizar as estruturas política e econômica da Alemanha (FERNANDES, 2018c). Em fevereiro de 1919, a cidade de Weimar sediou uma assembleia consti- tuinte, que elaboraria a Carta Constitucional do país. O projeto republicano parlamentarista foi o vencedor, então a Alemanha passou a contar com duas casas legislativas: o Parlamento (Reichstag) e a Assembleia (Reichsrat). Ao mesmo tempo que a República de Weimar se reestruturava, outras tendências, Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos4 com teores mais radicais, formavam-se na Alemanha. No radicalismo de esquerda, figurava o espartaquismo, ou movimento espartaquista, liderado pela marxista Rosa Luxemburgo. Do outro lado, o nazismo, organizado em torno do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães e liderado por Adolf Hitler (FERNANDES, 2018c). Em 5 de janeiro de 1919, foi fundado o Partido do Trabalhador Alemão na Baviera, ao qual Hitler se associaria em setembro do mesmo ano, tornando-se o seu principal orador. Em 1920, o grupo adotou o nome de Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) e definiu o seu programa político, caracterizado pelo antissemitismo, extremo nacionalismo e críticas ao capitalismo internacional. De um conjunto de 25 pontos do programa do partido, vários se referiam aos judeus, exigindo que fossem eliminados dos cargos públicos e da imprensa, com uma legislação específica para esse grupo, o qual seria comparado a estrangeiros. O discurso radical contra os judeus foi um dos fatores de atração sobre outros partidos de extrema direita e grupos antissemitas; outro fator foi a capacidade retórica de Hitler, toda a encenação montada para os seus discursos e, ainda, a incorporação de grupos paramilitares, devido a suas relações privilegiadas com o exército. No período de três anos, o partido cresceu de forma significativa, chegando a 55 mil filia- dos, sendo que parte era de quadros da burocracia do governo, militares e elementos da alta burguesia, que enxergavam o NSDAP como uma força na luta contra os grupos de esquerda (A FORMAÇÃO..., 2018). A República de Weimar atingiu resultados satisfatórios em relação ao contexto econômico alemão, entre 1924 e 1929, muito devido aos investimentos estrangeiros, grande parte vindo dos Estados Unidos. Contudo, o pagamento de onerosas reparações impostas aos perdedores da guerra ocasionou a hi- perinflação da moeda alemã (Reichsmark). Somada aos efeitos da Grande Depressão, iniciada em 1929, com a Quebra da Bolsa de Valores de Nova York, a estabilidade da economia alemã sofreu um sério abalo, acabando com as economias pessoais da classe média e acarretando desemprego em massa (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2018a). Com Hitler na liderança do partido e não vislumbrando possibilidades de subir ao poder por meio de eleição, os nazistas tentaram um golpe contra o governador da Baviera. Com o fracasso, Hitler e outros nazistas foram presos. Durante os oito meses de prisão, Hitler conheceu Rudolf Hess, que seria o seu aliado por quase toda a vida. Inteligente e com pensamentos próximos 5Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos aos ideais de Hitler, Hess o auxiliou na escrita do livro Mein Kampf (Minha luta), uma mistura de biografia e ideologias políticas, na qual explicava todos os seus pensamentos (SILVA, 2018). Após a prisão e convencido de que o povo alemão não aceitaria uma proposta revolucionária, Hitler reestruturou o partido com base no modelo fascista italiano, reformulando a atuação da sua militância e focando em vender as eleições. Em 1932, Hitler foi indicado ao posto de chanceler (primeiro-ministro) do presidente Paul von Hindenburg, sendo nomeado em 1933. Por conta de um incêndio no Parlamento alemão (Reichstag), Hitler conseguiu que o pre- sidente assinasse um decreto que ampliava o seu poder e endurecia o governo (SILVA, 2018). Com a morte do presidente Hindenburg, em 1934, Hitler tomou para si o cargo de presidente da Alemanha, dando início a um governo totalitário, que duraria 11 anos, levando o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães ao poder. Nazismo e fascismo O nazismo e o fascismo ascenderam em um período entreguerras, isto é, durante o período de crise e descrédito na Europa, que ocorreu entre 1919 e 1939. A Alemanha, que havia sido derrotada na Primeira Guerra Mundial, viu nas ideias de Adolf Hitler uma solução para a recuperação. Já a Itália, que se consagrou vitoriosa na Primeira Guerra Mundial, enxergou em Benito Mussolini um líder que, por meio do fascismo, salvaria a Itália da crise (RODRIGUES, 2018). Hitler e Mussolini conseguiram formar grupos paramilitares, de extrema direita, compostos por ex-militares, estudantes e profissionais liberais. Ambos utilizavam as organizações paramilitares para combater, com o aval do Estado, comícios e qualquer tipo de manifestação socialista, os quais chamavam de perigo vermelho (RODRIGUES, 2018). Nazismo Com a chegada dos nazistas ao poder, encerrou-se a República de Weimar, bem como a democracia parlamentar estabelecida na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial. A nomeação de Adolf Hitler como chanceler transformou a Alemanha nazista (chamada também de Terceiro Reich) em um regime no qual os direitos básicos dos alemães foram extintos. Com o incêndio do Parlamento Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos6 alemão, em 1933, o governo editou um decreto em que suspendia os direitos civis constitucionais e declarava estado de emergência, o que permitia ao governo executar decretos governamentais sem aprovação parlamentar (UNI- TED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2018b). Durante os primeiros meses de Hitler como chanceler, os nazistas instituí- ram uma política de coordenação, alinhando os indivíduos e as instituições com os objetivos do nazismo. Uma ampla campanha de propaganda disseminava os objetivos e ideais do regime nazista. Em 1934, após a morte do presidente alemão Paul von Hindenburg, Hitler assumiu a presidência. O exército jurou lealdade pessoal a ele. A ditadura de Hitler baseava-se em suas posições como Presidente do Reich (chefe de estado), Chanceler do Reich (chefe de governo), e Führer (chefe do Partido Nazista). Segundo o “princípio Führer”, Hitler colocava-se fora do estado de direito e passou a determinar as questões políticas (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2018b). Hitler era responsável tanto pela legislação nacional quanto pela política externa alemã. A política externa: [...] era guiada pela crença racista de que a Alemanha era biologicamente destinada a expandir-se para o leste europeu por meio de força militar, e de que uma população alemã, maior e racialmente superior, deveria ter domínio permanente sobre o leste europeu e a União Soviética (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2018b). Para essa crença, as mulheres exerciam um papel importante como re- produtoras,visto que a política populacional do Terceiro Reich encorajava as mulheres consideradas racialmente puras a darem à luz ao maior número de crianças arianas possível. No contraponto, as pessoas consideradas racialmente inferiores, como judeus e ciganos, deveriam ser eliminadas (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2018b). A política externa nazista tinha como foco principal travar uma guerra aniquiladora contra a União Soviética. Para atingir o objetivo, os nazistas utilizaram os anos de paz anteriores à guerra para preparar o povo alemão para o conflito. Nesse contexto de guerra ideológica, os nazistas planejaram e colocaram em prática o Holocausto, o assassinato em massa de judeus, vistos como os principais inimigos raciais dos alemães (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2018b). 7Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos Em 2016, os pesquisadores do Arquivo Nacional da Alemanha corrigiram o número de judeus alemães mortos durante o Holocausto: de 160 mil, passou para 175.191 assas- sinatos. Cerca de 90% dos judeus no País foram mortos nos campos de concentração e o restante acabou perdendo a vida dentro dos confins do Reich. O grande historiador do Holocausto, Raul Hilberg, explica que a maioria das vítimas do genocídio nazista foi assassinada, logo após desembarcar de um vagão, em câmaras de gás em locais que ressoam na memória, como Auschwitz, mas também em outros, dos quais restam apenas destroços, como Treblinka, Belzec e Sobibor. Os dois principais centros de documentação do Holocausto, o Yad Vashem, em Jerusalém, e o Museu do Holocausto, em Washington, utilizam o número total de 6 milhões de mortos. O Museu do Holocausto dedica uma detalhada análise às cifras, apesar de lembrar que nenhum documento nazista estabelece o número de judeus, nem de outros grupos, assassinados entre 1933, quando Hitler chegou ao poder, e 1945, com o final da Segunda Guerra Mundial, dificultando estimar o número exato de mortes ocorridas. As estatísticas se baseiam em todo tipo de censo e investigações anteriores. Auschwitz (1 milhão de mortos, dos quais 870 mil foram levados para câmaras de gás logo após chegarem), Treblinka (925 mil) e a atuação dos Einsatzgruppen (unidades móveis de extermínio) na União Soviética (1,3 milhão) concentram mais da metade dos judeus mortos. Os dados de Treblinka são especialmente impressionantes: as instalações eram muito pequenas, com uma plataforma de chegada e câmaras de gás. Esteve em operação de julho de 1942 a novembro de 1943. Os seus restos nunca foram investigados até o fim (NÚMERO..., 2016; ALTARES 2017). Depois de assegurar a neutralidade da União Soviética por meio do Pacto de Não Agressão Germano-Soviético, em agosto de 1939, a Alemanha iniciou a Segunda Guerra Mundial ao invadir a Polônia, em 1º de setembro de 1939. Em 3 de setembro do mesmo ano, a Inglaterra e França declararam guerra aos alemães em resposta à agressão. Após um mês, a Polônia foi derrotada e teve o seu território dividido entre Alemanha e União Soviética. Em 9 de abril de 1940, o exército alemão invadiu a Dinamarca e a Noruega. Ainda no mesmo ano, em 10 de maio, a Alemanha deu início a uma série de ataques contra a Europa ocidental, invadindo os Países Baixos (Holanda, Bélgica e Luxemburgo), visto que tinham assumido uma postura neutra em relação aos conflitos, ocupando também a França (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2018c). Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos8 Em meio à atmosfera de tensão política que desencadeou a sucessão de conflitos da Segunda Guerra Mundial, em 1939, um acordo de não agressão foi firmado entre a Alemanha e a União Soviética: o Pacto Germano-Soviético ou Pacto Ribbentrop–Molotov. Assinado em 23 de agosto de 1939 pelos representantes dos governos da Alemanha nazista e da União Soviética, Joachim von Ribbentrop e Vyacheslav Mikhaylovich Molotov, respectivamente, o documento estabelecia que, se acaso a Alemanha en- trasse em conflito com a Inglaterra ou a França, em razão de uma eventual investida da Alemanha contra a Polônia, a União Soviética, por sua vez, ficaria afastada, sem se manifestar militarmente (FERNANDES, 2018d). Seguindo o exemplo da Alemanha, em junho de 1940, a União Sovié- tica ocupou os países bálticos (Lituânia, Letônia e Estônia), anexando-os formalmente. A Itália integrava o Eixo, que consistia nos países aliados da Alemanha, e, em 10 de junho de 1940, aderiu à guerra. De 10 de julho a 31 de outubro do mesmo ano, os nazistas travaram uma intensa batalha aérea contra a Inglaterra, na qual foram derrotados. Em 6 de abril de 1941, os alemães invadiram a Iugoslávia e a Grécia, garantindo a sua posição na região dos Balcãs. Em 22 de junho do mesmo ano, violando o Pacto Germano-Soviético, a Alemanha invadiu a União Soviética, além dos Estados bálticos, que foram ocupados entre junho e julho (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2018c). No entanto, o chefe de Estado soviético, Josef Stalin, não aceitou a Alemanha nazista e os seus parceiros do Eixo (Itália e Japão), tornando-se, a partir desse momento, um importante líder das forças aliadas, formadas por Inglaterra, França, Estados Unidos e União Soviética. Durante o período do verão e do outono de 1941, os alemães avançaram em direção ao território soviético, mas a forte resistência do Exército Vermelho impediu que as cidades-chave de Le- ningrado e Moscou fossem capturadas. Em 6 de dezembro, as tropas soviéticas contra-atacaram, expulsando definitivamente as tropas alemãs. No dia seguinte, o Japão, que integrava o Eixo, bombardeou Pearl Harbor, localizado no Estado americano do Havaí, fazendo os Estados Unidos declararem guerra imediata- mente ao Japão. Como resposta, a Alemanha e Itália se voltaram contra os Estados Unidos (UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM, 2018c). 9Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos Após anos de guerras, em 30 de abril de 1945, Hitler cometeu suicídio. Dias depois, na madrugada de 7 para 8 de maio de 1945, os aliados derrotaram a Alemanha nazista, obtendo a sua rendição. Finalmente, em 2 de setembro do mesmo ano, chegou ao fim a Segunda Guerra Mundial. Fascismo O fascismo é um regime político que defende a prevalência, ou seja, a supe- rioridade dos conceitos de Estado, nação e raça sobre os valores individuais. A Itália vivia uma profunda crise no início do século XX. O seu território foi unifi cado tardiamente. Mesmo com as guerras entre 1859 e 1870, os proble- mas políticos e sociais persistiam: o papado romano não admitia se submeter ao rei do País, além disso, as diversas regiões, historicamente diferentes, recusavam-se a adotar o italiano como idioma, dando preferência aos dialetos locais (TURCI, 2008a). Além disso, também enfrentava sérios problemas econômicos: a indus- trialização e modernização da economia caminhavam em ritmo lento; no Sul da Itália, predominava a área agrícola muito pobre, enquanto no Norte havia modernização, o que dificultava a integração econômica no País. Ao mesmo tempo, os migrantes buscavam trabalho nas indústrias, esvaziando os campos, fazendo o desemprego se elevar nas cidades industriais (TURCI, 2008a). A elite capitalista começava a se preocupar, pois os partidos de esquerda — comunistas e socialistas, além dos anarquistas — conquistavam cada vez mais adeptos entre os italianos. Em contrapartida, o Estado monárquico pouco fazia para resolver os problemas sociais, pois mantinha um profundo conservadorismo, bem como contava com o apoio das elites industriais. Vi- sando ao seu crescimento no cenário internacional, visto a pretensão de ter reconhecida sua soberania política e angariar territórios para sua expansão econômica, a Itália se declarou inimiga da Alemanha e ingressou na Primeira Guerra Mundial em 1915 (TURCI, 2008a). Como estava ao lado dos países vitoriosos na guerra, a Itália acreditava que receberia alguns territórios, mas teve suas intençõesfrustradas, o que a fez se sentir traída pela Inglaterra e França. Além disso, a crise econômica se agravou no pós-guerra. Com esse contexto, surgiu o movimento fascista. Nesse clima de total insatisfação, diversos movimentos políticos emergiram na Itália, entre eles, o Fascio de Combate, no qual um de seus fundadores foi o jornalista e agitador político Benito Mussolini. O objetivo era retomar a história do povo italiano. Usando o símbolo de poder dos magistrados da Roma Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos10 Antiga, o feixe de varas ( fascio = feixe), demonstravam que a Itália poderia voltar a ser o Império Romano da Antiguidade (TURCI, 2008a). Fundado em Milão, em 1919, o movimento ainda não tinha o perfil político- -ideológico que assumiria alguns anos depois. Como dizia Mussolini, “não temos uma doutrina pronta; nossa doutrina é a ação!” (TURCI, 2008a, docu- mento on-line). O programa oficial do movimento foi publicado em junho de 1919 e trazia algumas das seguintes reivindicações (TURCI, 2008a): jornada de trabalho de 8 horas; sufrágio universal extensivo às mulheres; representação proporcional no Parlamento; abolição do Senado do Reino; formação de uma milícia que atuasse paralelamente ao Estado; maior atuação da Itália no cenário internacional. O fascismo crescia à medida que a economia se deteriorava na Itália. Em 1992, os fascistas promoveram uma “marcha sobre Roma”, a qual levou Mussolini ao poder, recebendo do rei Vitório Emanuel III a incumbência de formar um novo governo (BENITO..., 2018). Benito Mussolini governou de forma conciliatória entre 1922 e 1924, mantendo o poder do rei Vitor Emanuel III, o que desagradou muitos membros do Partido Nacional Fascista, que pedia pela instalação de uma ditadura. Aos poucos, porém, Mussolini formou um governo paralelo (TURCI, 2008b). Com o apoio do rei, dos industriais, do Exército e da Marinha, Mussolini promoveu, entre 1925 e 1926, uma ampla perseguição política, momento em que impôs o Partido Nacional Fascista como partido único e deu início à ditadura fascista. Nessa nova fase da política italiana, Mussolini era Duce (o guia). A partir de 1925, o Estado, com o apoio dos capitalistas italianos, passou a controlar fortemente a economia. O rei passou a nomear os prefeitos das cidades, por indicação de Mussolini. Houve ampliação da censura: a educação, as artes, os esportes, as rádios, o cinema e, inclusive, o lazer da população deviam seguir as orientações fascistas. Também foi criado o Tribunal Especial de Defesa do Estado, que ficava responsável por julgar os crimes políticos, no qual os juízes eram os oficiais da Milícia Voluntária de Segurança Nacional, grupo composto por milícias fascistas (TURCI, 2008b). Filiar-se ao Partido Nacional Fascista era praticamente obrigatório, visto que só assim era possível prestar concursos públicos, ter livre passagem entre 11Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos as várias regiões ou exercer cargos no funcionalismo público. Em abril de 1926, foi criada uma legislação trabalhista: Patrões e empregados deveriam participar das 22 corporações organizadas pelo Estado, a fim de resolver seus embates dentro das leis impostas. Em cada corporação, empresários e empregados tinham o mesmo direito, o problema era que os primeiros apoiavam o fascismo e os segundos eram representados por sindicatos fascistas, os únicos que tinham permissão para participar das corporações. A negociação de fato não acontecia, mas era uma tentativa de suprimir a luta de classes através do modelo corporativista fascista (TURCI, 2008b, documento on-line). Assim, Mussolini visava aniquilar as organizações trabalhistas, enquanto aumentava o poder do Estado sobre as relações sociais. Essa centralização política intensificou-se quando foi oficializado o Grande Conselho Fascista, em 1928, incorporando os Poderes Legislativo e Judiciário (TURCI, 2008b). Outra preocupação de Mussolini era a relação com a Igreja Romana. Desde a unificação da Itália, no século XIX, as relações entre Estado e Igreja não eram fáceis, principalmente porque o papado não admitia perder o poder político sobre os antigos Estados Pontifícios. Pretendendo resolver esse con- flito e ao mesmo tempo ganhar o apoio dos católicos, Mussolini e o Papa Pio XI assinaram três acordos, conhecidos como Tratado de Latrão, em 1929 (TURCI, 2008b, documento on-line): 1. A Santa Sé teria sua soberania política dentro do Estado do Vaticano, ao mesmo tempo que reconheceria o Estado Italiano; 2. A Itália indenizaria o Vaticano pelos danos causados durante as guerras de unificação; 3. A religião católica seria a religião oficial do Estado Italiano, sendo ensinada obrigatoriamente em todas as escolas. Mussolini aparentava ser um líder anticomunista, o que agradava as po- tências ocidentais, como Inglaterra e França. Porém, em 1936, o italiano deu início a uma política expansionista na África, momento em que invadiu a Etiópia. Essa manobra o aproximou da Alemanha de Hitler. Em 1939, ambos os países firmaram uma aliança, que ficou conhecida como Eixo. Em 1940, Mussolini foi contra a opinião de seus colaboradores e ingressou a Itália na guerra. Suas derrotas militares deram força aos movimentos antifascistas da Itália (BENITO..., 2018). Mesmo com inúmeras medidas centralizadoras, Mussolini não conseguiu implantar efetivamente um Estado totalitário na Itália. A monarquia havia Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos12 sido mantida, com parte do poder nas mãos do rei Vitor Emanuel III, ao mesmo tempo em que a Igreja Católica passou a ter maior participação no cenário internacional, bem como na educação e na cultura italiana, após a assinatura do Tratado de Latrão. O modelo fascista entrou em declínio durante a Segunda Guerra Mundial. A Igreja e a monarquia, com a intenção de manter seus privilégios, agiram de forma decisiva para tirar Mussolini do poder (TURCI, 2008b). Em 1943, Mussolini foi deposto e preso pelo rei. No entanto, foi libertado por paraquedistas alemães e levado para junto de Hitler, momento no qual proclamou o Partido Fascista Republicano. Voltou à Itália, sob total dependência de Hitler, e em Saló fundou a República Social Italiana, em setembro de 1943. Como não tinha forças para sustentar a república e não contava mais com grande apoio da Alemanha, visto que ela havia se retirado da Itália, após a invasão dos aliados, Mussolini tentou fugir para a Alemanha junto com a sua amante Clara Petacci, disfarçando-se de soldado alemão. Porém, o caminhão em que viajava foi detido, e Mussolini foi reconhecido por homens da resistência italiana. Mussolini e Clara foram executados e tiveram os seus corpos pendurados de cabeça para baixo, expostos à execração pública (BENITO..., 2018). Efeitos jurídicos após o III Reich e a universalidade dos direitos humanos As maiores violações aos direitos humanos ocorreram durante a Segunda Guerra Mundial, com o Holocausto e a agressão japonesa contra a China. Isso fez as potências vencedoras criarem dois tribunais militares: de Nu- remberg e de Tóquio, para julgar os acusados pelas violações (SANTOS et al., 2016). Tribunal Militar Internacional de Nuremberg O Tribunal de Nuremberg foi criado em 8 de agosto de 1945, por meio do Acordo de Londres, mas, antes mesmo do fi m da guerra, os aliados e representantes dos governos europeus em exílio já debatiam a forma de punição aos nazistas devido aos inúmeros crimes cometidos durante o confl ito (BAZELAIRE, 2004). A ideia de criação de um tribunal surgiu durante duas conferências — uma em Moscou e Teerã, em 1943, e outra em Yalta e Potsdam, em 1945 —, realizadas por Estados Unidos, União Soviética e Inglaterra; posteriormente, a França se uniu ao grupo dos aliados (CASTRO; SOARES, 2014). 13Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos O Acordo de Londres foi confeccionado no dia 8 de agostode 1945 e trazia o anexo B, com o Estatuto do Tribunal Militar Internacional para a Alemanha, junto com os princípios norteadores que os julgamentos iriam seguir no Tribunal de Nuremberg. Esse acordo resultou da reunião dos representantes dos aliados, ocorrida entre 26 de junho e 6 de julho, em Londres, na qual se definiu a realização de um processo coletivo dos grandes criminosos de guerra e, de acordo com a proposição norte-americana, a formação de um Tribunal Militar Internacional. Esse foi o ato constitutivo do Tribunal de Nuremberg. Ainda, o art. 6º do acordo previa, nas alíneas a, b e c, os crimes sob a jurisdição do tribunal (RAMOS, 2009). De acordo com Piovesan (2006), a competência do Tribunal de Nuremberg consistia em julgar os crimes cometidos pelos líderes do partido ou oficiais militares durante o nazismo. O Tribunal de Nuremberg trouxe uma inovação no campo internacional penal, pois distinguia a responsabilidade do indivíduo da responsabilidade do Estado. A composição do tribunal consistia em quatro juízes titulares e quatro suplentes, todos escolhidos pelas potências vencedoras. Os réus no Tribunal de Nuremberg foram (PAULO FILHO, 1989): Hermann Göering; Rudolf Hess; Joachim von Ribbentrop; Robert Ley; Wilhelm Keitel; Ernst Kaltenbrunner; Alfred Rosenberg; Hans Frank; Wilhelm Frick; Julius Streicher; Wilhelm Funk; Hjalmar Schacht; Gustav Krupp; Karl Dönitz; Erich Raeder; Baldur von Schirach; Fritz Sauckel; Alfred Jodl; Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos14 Martins Bormann; Franz von Papen; Arthur Seyss-Inquart; Albert Speer; Konstantin von Neurath; Hans Fritzsche. O Acordo de Londres estabelecia, no art. 6º, os crimes contra a paz, de guerra e contra a humanidade. Conforme Lima e Costa (2006), os crimes julgados no Tribunal de Nuremberg geraram discussões a respeito do princí- pio da legalidade em relação aos crimes contra a humanidade e contra paz, uma vez que as condutas tipificadas pelo tribunal não eram consideradas criminosas quando foram cometidas, o que poderia sugerir uma ideia de justiça retroativa. Como lecionam Castro e Soares (2014), os crimes de guerra ficaram excluídos da questão de legalidade, visto que já tinham sido codificados por instrumentos do direito de conflitos armados e, também, por estarem inseridos nos usos e costumes de guerra. No entanto, o tribunal afastou qualquer questionamento referente ao princípio da legalidade se impor como um limite à eficácia, uma vez que seria injusto não punir os crimi- nosos devido à gravidade das condutas realizadas e do prejuízo trazido à população mundial. Nas palavras de Paulo Filho (1989, documento on-line), ao relatar como ocorreu o julgamento: Foi uma experiência extremamente dolorosa para os advogados alemães a defesa de seus clientes, acusados perante o Tribunal de Nuremberg de graves crimes de guerra. Advogar perante o Tribunal dos vencedores em favor dos vencidos era tarefa hercúlea de heróis, pois a Alemanha vencida na Segunda Guerra Mundial estava submetida aos aliados, que instituíram o Tribunal de Nuremberg para julgar os vencidos de guerra. Entendendo esse desafio imposto aos defensores, o tribunal elogiou os serviços prestados pelos advogados, pois os juízes entenderam que as condições eram extremamente difíceis. Durante as 400 sessões públicas do Tribunal de Nuremberg, observou-se que: A linha de defesa dos advogados alemães resumiu-se em adotar uma posição que protegesse o homem comum da Alemanha e defendesse a reputação do país. Frustrados por não poderem se lastrear em argumentos mais jurídicos, 15Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos lutaram por expungir da Alemanha a mácula de culpa coletiva, no que despen- deram, com louvor e admiração pública, um esforço sobre-humano (PAULO FILHO, 1989, documento on-line). Com isso, as sentenças impostas pelo Tribunal Militar de Nuremberg foram as seguintes (PAULO FILHO, 1989): Göering (morte); Hess (prisão perpétua); Ribbentrop (morte); Ley (prisão perpétua); Keitel (morte); Kaltenbrunner (morte); Rosenberg (morte); Frank (morte); Frick (morte); Streicher (morte); Funk (prisão perpétua); Schirach (20 anos de prisão); Schacht (absolvição); Krupp (absolvição); Dönitz (10 anos de prisão); Raeder (prisão perpétua); Sanckel (morte); Jodl (morte); Bormann (morte); Papen (absolvição); Seyss-Inquart (morte); Speer (20 anos de prisão); Neurath (15 anos de prisão); Fritzsche (absolvição). Tribunal Militar Internacional de Tóquio O Tribunal de Tóquio teve a sua carta proclamada em janeiro de 1946 e foi ativado por um comandante do exército dos Estados Unidos, País que também indicou 11 juízes. Conforme Bazelaire (2004), a Carta do Tribunal de Tóquio foi elaborada de forma idêntica ao Estatuto do Tribunal de Nuremberg, visto Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos16 que a competência material para o julgamento dos crimes contra a paz, contra as convenções de guerra e contra a humanidade era idêntica. De acordo com Lima e Costa (2006), os Tribunais Militares são um marco na história do Direito Internacional Penal. Como explicitam Castro e Soares (2014), entre os fatores que convergem para esse marco, estão: duas novas categorias de crimes (contra a paz e contra a humanidade) tiveram previsões expressas e definições dos seus elementos constitu- tivos em um texto legal; responsabilização de oficiais de Estado pelos seus atos e desconsideração de suas imunidades, além de não ser aceita qualquer tese de defesa relacionada ao fato de que estavam apenas cumprindo ordens; ganhou força a ideia de uma comunidade internacional empenhada em combater as atrocidades cometidas durante a guerra não pelo Direito Nacional, mas mediante normas de Direito Internacional que protege- riam o indivíduo independentemente de sua nacionalidade. Universalidade dos direitos humanos Diante do cenário instalado com o fi m da Segunda Guerra Mundial e após todas as atrocidades cometidas durante os confl itos, foi criada em São Francisco, nos Estados Unidos, a Organização das Nações Unidas (ONU), em fevereiro de 1945 (CUNHA, 2018). A Carta da ONU foi elaborada pelos representantes de 50 países que estavam presentes na Conferência sobre Organização Inter- nacional, realizada na mesma localidade, entre 25 de abril e 26 de junho. No entanto, a ONU passou a existir, ofi cialmente, em 24 de outubro de 1945, após a ratifi cação da Carta pelos seguintes países: China, Estados Unidos, França, Reino Unido e ex-União Soviética, bem como pela maioria dos signatários (NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL, 2018). O nome Nações Unidas foi concebido pelo presidente norte-americano Franklin Roosevelt e utilizado pela primeira vez na Declaração das Nações Unidas, de 1º de janeiro de 1942, quando os representantes de 26 países assumiram o compromisso de que os seus governos continuariam lutando contra as potências do Eixo (Nações Unidas do Brasil, 2018). 17Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos A Carta da ONU é o documento mais importante da Organização, pois estabelece o cumprimento do texto mediante conflitos internacionais, como disciplina o seu art. 103: “no caso de conflito entre as obrigações dos membros das Nações Unidas, em virtude da presente Carta e das obri- gações resultantes de qualquer outro acordo internacional, prevalecerão as obrigações assumidas em virtude da presente Carta” (NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL, 2018). Os países signatários da DUDH assumiram o compromisso de realizar esforços para eliminar todas as formas de afronta aos direitos dos povos. O texto trouxe em seus princípios a proibição da escravidão, da tortura e de todas as formas de discriminação e violência, bem como proibia o tratamento desigual entre os indivíduos, além de disciplinaro direito à liberdade de expressão, de opinião e de pensamento (STRECKER, 2018). Essa proteção aos direitos ficou evidente já no preâmbulo da Carta (NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL, 2018, documento on-line): Preâmbulo da Carta da ONU NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla. E PARA TAIS FINS, praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, como bons vizinhos, e unir as nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios e a instituição dos métodos, que a força armada não será usada a não ser no interesse comum, a empregar um mecanismo internacional para promover o progresso econômico e social de todos os povos. RESOLVEMOS CONJUGAR NOSSOS ESFORÇOS PARA A CONSECUÇÃO DESSES OBJETIVOS. Em vista disso, nossos respectivos Governos, por intermédio de representantes reunidos na cidade de São Francisco, depois de exibirem seus plenos poderes, que foram achados em boa e devida forma, concordaram com a presente Carta das Nações Unidas e estabelecem, por meio dela, uma organização internacional que será conhecida pelo nome de Nações Unidas. Segunda Guerra Mundial e a fragmentação dos direitos humanos18 A DUDH foi aprovada em 10 de dezembro de 1948, então o Dia Internacional dos Direitos Humanos passou a ser comemorado nessa data, a partir de 1950, dois anos após a ONU adotar a DUDH como marco legal regulador das relações entre governos e pessoas. Com esse ato, mais do que celebrar, a ONU visava destacar o longo caminho a ser percorrido na efetivação dos preceitos da declaração. Nos 30 artigos do documento, estão descritos os direitos básicos que garantem uma vida digna para todos os habitantes do mundo, como liberdade, educação, saúde, cultura, informação, alimentação e moradia adequadas, respeito, não discriminação, entre outros (CARVALHO, 2011). A FORMAÇÃO do partido nazista: a formação do nazismo na Alemanha. HistoriaNet. 2018. Disponível em: . Acesso em: 13 ago. 2018. ALTARES, G. Por que falamos de seis milhões de mortos no Holocausto? Jornal El País, 16 set. 2017. Disponível em: . Acesso em: 13 ago. 2018. 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