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Nota de aula_Maria Isabel_Inflacao2

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1 
 
Nota de aula1 – Teoria macroeconômica II 
Universidade Federal do Rio de janeiro 
Profa. Maria Isabel Busato 
 
Tema: Inflação de demanda e Inflação de custos 
Referencias básicas: Kalecki (1954), cap 1 (e Keynes como complementar) 
 
Vou começar fazendo distinção bastante simplificada entre aumento do nível de 
preços; inflação e aceleração da inflação. O aumento do nível de preços, ainda que 
generalizado, não presume sua continuidade ao longo do tempo. Ou seja, os preços 
podem aumentar sem que isso desperte um processo inflacionário. A inflação é o 
aumento generalizado e contínuo dos preços. Desse modo, uma inflação de 3% ao ano 
indica que, em média, os preços crescem 3% ao ano. 
Além disso, é importante compreender o que significa aceleração da inflação, 
que nada mais é do que a inflação crescente (não em nível, mas em taxa), ou seja, a 
inflação cresce a taxa positiva. 
Esclarecida essas questões volta-se ao tema principal. Numa formulação tão 
simples quanto possível, pretende-se apresentar os argumentos centrais que são 
normalmente aceitos ou empregados para explicar a origem da inflação. A princípio, 
destacaremos: (a) inflação de demanda, que é apontada como central para explicar a 
inflação nos modelos de filiação neoclássica; e (b) inflação de custos, apontada como 
elemento central dentro da heterodoxia (em especial Kalecki). 
A inflação de demanda ocorre quando a demanda efetiva cresce acima da 
capacidade produtiva ou da oferta de uma economia. Ou melhor, quando a taxa de 
expansão da demanda cresce acima da taxa de expansão do produto. 
Já a inflação de custos ocorre quando os preços respondem às variações nos 
cursos de produção, sem relação direta necessária com a demanda. Ou seja, os preços 
são formados a partir de margens sobre custos diretos. Se os custos aumentam e o 
markup é fixo, os preços também aumentam. De outra forma, mesmo que os custos não 
aumentem, se o markup aumentar2, os preços aumentam. Mas o aumento do nível de 
 
1 Versão preliminar 
2 O markup pode aumentar em virtude de maior poder de mercado da firma. Desse modo, a estrutura 
de mercado pode também influenciar a dinâmica dos preços. 
2 
 
preços não presume um processo inflacionário contínuo porque esses modelos não 
adotam como pressuposto a hipótese de inércia completa. 
A inflação de demanda pode ser desencadeada por um processo de estímulo à 
demanda agregada, quando a capacidade produtiva não pode responder prontamente. 
Essa seria a chamada true inflation, na tipologia do próprio Keynes. No caso recente da 
economia brasileira, Summa (2013) encontrou no setor de serviços uma situação que 
parece exemplificar este caso. Ou seja, os ganhos reais salariais acabam pressionando a 
demanda por serviços e a oferta não responde prontamente, basicamente porque o setor 
de serviços é um setor cuja produtividade não é facilmente expandida. Ou seja, a 
elasticidade da oferta de bens de serviços é baixa ao menos no curto prazo e, neste setor, 
aparece como um caso típico de inflação de demanda. 
Uma forma bastante simplificada para compreender a formação de preços a 
partir dos curtos de produção pode der encontrada em Kalecki (1954, cap.1). Segundo o 
autor, as alterações de preços no curto prazo podem ser classificadas: (a) preços que 
são determinados principalmente pelos custos e; (ii) preços que são determinados pela 
essencialmente pela demanda. 
Segundo Kalecki (1954, cap.1) os preços das matérias primas, commodities em 
geral e produtos alimentícios primários, são determinados essencialmente pela 
demandada devido à baixa elasticidade da oferta no curto prazo e, normalmente à 
dificuldade de manter estoques. Ou seja, “é necessário um período de tempo 
relativamente grande para se conseguir um aumento da oferta de produtos agrícolas” 
frente à demanda. De modo que boa parte do aumento da demanda se refletiria em 
aumento dos preços, seguida de rodadas de especulação em mercado futuros que reforça 
o impacto inicial da pressão de demanda sobre preços. 
Já no caso dos bens finais, produtos industrializados, comércio e etc. os preços 
são determinados essencialmente pelos custos diretos (custos de insumos e salários). Ou 
seja, parte relevante dos preços das economias capitalistas é determinado através de 
uma margem sobre custos diretos de produção. Visto que, boa parte dos setores 
industriais opera com capacidade ociosa, e ou, têm possibilidade de atender a demanda 
através de redução de estoques. A elasticidade da oferta frente à variações na demanda é 
positiva, de modo que expansão na demanda se refletirá em aumento das vendas e não 
dos preços. Em mercados oligopolizados preços são variável estratégica e não 
determinado por curvas de oferta e demanda. O preço é determinado ao nível micro, da 
firma que, além de olhar para seus custos diretos de produção, observa o preço médio de 
3 
 
quem produz similares (concorrentes), que funciona como restrição ao aumento do 
preço deliberadamente (via aumento de mark-up). 
Logo, no modelo kaleckiano de formação de preços, os produtos industrializados 
seguem uma lógica de formação de preços a partir dos custos. Em casos específicos 
como em períodos de guerra ou entre guerra, a demanda pode crescer muito 
rapidamente e a lógica de formação de preços pode extrapolar a prevista por custos, 
reduzindo a demanda agregada real. No entanto, se, como propõe Kalecki, a capacidade 
produtiva é induzida pelo grau de utilização, essa pressão seria apenas temporária. 
Vejamos a seguinte passagem: “a utilização do equipamento pode atingir o ponto de 
eliminar a capacidade ociosa e assim, sob pressão da demanda [aumentar]” os preços, 
no entanto, devido à [...] “possibilidade de aumentar o volume do equipamento sempre 
que ocorrem estrangulamentos, esse fenômeno não é encontrado frequentemente mesmo 
em fases de prosperidade” (Kalecki, 1954, p. 42). 
A formação de preços a partir dos custos diretos de produção, poderia ser 
expresso, com uma simplificação em relação ao modelo original de Kalecki, da seguinte 
forma: 
p = ku (1) 
onde p = preço 
k = markup >1 
u = custos diretos de produção (insumos/matérias primas e salários diretos) 
 
A expressão (1) acima sugere que dado o markup (k), um aumento nos custos de 
produção implicará em aumento dos preços. O aumento dos preços não gerará 
necessariamente um processo inflacionário contínuo. No agregado a inflação pode ser 
gerada pela inflação dos custos de produção. Deve-se aproveitar para discutir os efeitos 
de um maior poder de barganha salarial por parte dos trabalhadores. 
Se os trabalhadores conseguem aumento de salários e o markup for fixo, isso 
poderá gerar rodadas de aumento na inflação e nos salários, o que poderia caracterizar 
um processo de aceleração da inflação. Por outro lado, se os capitalistas aceitam 
contração no markup, os preços não necessariamente aumentariam na mesma proporção 
que o aumento dos salários, afetando a distribuição entre salários e lucros. Isso pode 
gerar um aumento no nível dos preços (repasse parcial do aumento dos salários) ou 
aceleração da inflação se há completo repasse para preços e se houver poder de 
barganha que gere repasse inflacionário sobre salários – espiral inflacionária. 
4 
 
O mark-up expressa o poder de mercado da firma, quando mais concentrado 
(menor for a pressão competitiva), maior tende a ser o makup. A teoria da inflação 
essencialmente de custos consegue nos explicar porque a inflação aumenta quanto 
temos choques de custos de produção, como o choque de petróleo; ou como o 
mecanismo cambial afeta preços através dos custos ou pela concorrência; alémdisso, é 
claro que o aumento nosso preços certas matérias primas (commodities) pode estar na 
demanda, mas o mecanismo através afeta os preços e sempre através dos custos. 
Desse modo, a inflação de custos pode ocorrer sem que a economia esteja 
utilizando plenamente seus recursos produtivos. Já a inflação de demanda requereria (ou 
supõe) que o crescimento da demanda supera a capacidade produtiva, por isso dá 
inflação e não simplesmente aumento nos preços, já que se supõe inércia completa. 
A persistência da inflação de demanda está diretamente relacionada à ideia de 
exogenia do produto potencial em relação à demanda, ou seja, o aumento do grau de 
utilização não estimula novos investimentos (ou inovação) e por isso a expansão da 
demanda resulta em aumento da inflação sob uma curva de oferta vertical no longo 
prazo. Por outro lado, caso se defina a forma funcional do investimento como função do 
grau de utilização, este responderá à aumentos da demanda, de modo que, a expansão da 
demanda, ao aumentar o grau de utilização, ainda que porventura gere efeitos 
transitórios na inflação, não produzirá efeitos permanentes, mesmo se as expansões de 
demanda forem persistentes. Isso porque, o investimento e, portanto, a capacidade 
produtiva também responderá ao aumento da demanda, reduzindo a pressão sobre os 
preços. 
O diagnóstico da inflação sempre irá influenciar o tratamento. Na visão 
tradicional, como a inflação persistente é sempre de demanda, o caminho para reduzir a 
inflação está sempre relacionado com políticas de contração da demanda agregada, não 
é por acaso que tais modelos vêem a taxa de juros como mecanismo principal de conter 
a inflação. O caminho sugerido para os mecanismos de transmissão seriam: aumento da 
taxa de juros, reduziria a demanda e reduzia a pressão sobre a inflação. 
 Se o diagnóstico for outro, ou seja, se reconhecermos que o processo 
inflacionário é gerado por pressão de custos de produção, não faz sentido fazer políticas 
de contração de demanda. Já que, políticas de contração na demanda poderiam gerar, 
neste caso, estagflação, não contendo o a inflação e reprimindo o crescimento. 
 
 
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