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SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 3 
1 O DIREITO NO TEMPO ........................................................................ 3 
2 CONSTITUCIONALISMO: CONCEITOS PRIMORDIAIS ..................... 3 
2.1 Fundamentos históricos da construção do constitucionalismo no Estado5 
2.2 O constitucionalismo e a Constituição de 1988 – movimentos sociais .. 7 
3 A IMPORTÂNCIA DA DEMOCRACIA E OS MOVIMENTOS SOCIAIS NO 
BRASIL ............................................................................................................ 13 
3.1 A democracia da atualidade ................................................................ 16 
3.2 Constitucionalismo e democracia ........................................................ 19 
3.3 As influências da Constituição de Weimar 1919 .................................. 20 
4 SURGIMENTO DA DECLARAÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS 
HUMANOS ....................................................................................................... 24 
4.1 O caminho percorrido pelos Direitos Humanos ................................... 25 
4.2 Direitos humanos no Brasil .................................................................. 27 
5 CONCEITO DE CIDADANIA E SUA RELEVÂNCIA NO ESTADO 
DEMOCRÁTICO .............................................................................................. 29 
5.1 Cidadania e Democracia ..................................................................... 31 
5.2 Atuação jurídica da cidadania .............................................................. 33 
5.3 Atuação política: cidadania e políticas públicas ................................... 34 
6 APRECIAÇÃO DE TEORIAS E CONCEITOS DOS DIREITOS HUMANOS: 
NACIONALIDADE, CIDADANIA, DEMOCRACIA ........................................... 36 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 42 
 
 
INTRODUÇÃO 
Prezado aluno, 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. 
O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e 
todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em 
perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que 
serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 O DIREITO NO TEMPO 
Conforme Motta (2021), o tempo traz consigo transformações às sociedades, 
influenciando sua maneira de viver, suas novas necessidades, conquistas, desafios e 
valores. Com o direito, não é diferente, pois ele deve acompanhar essas mudanças. As 
normas, concebidas à luz das exigências sociais de uma época e lugar específicos, 
variam conforme o contexto histórico e geográfico. 
A noção de tempo e suas consequentes mudanças encontram expressão no 
movimento do constitucionalismo, que congrega eventos históricos significativos 
alinhados às novas demandas sociais, resultando na criação de um documento 
normativo conhecido como Constituição. Através dela, testemunhamos importantes 
fatos determinadores de mudanças sociais. 
A transição do Estado Absoluto para o Estado de Direito, promovida pelo 
movimento do constitucionalismo, marca não apenas o surgimento de um documento 
jurídico precursor do Estado, mas também a concepção de que o governante, junto de 
seu povo, está sujeito às leis. Dessa forma, esse movimento não apenas resulta em 
uma mudança de regime político, mas também redefine a organização e aplicação do 
direito, deixando para trás a vontade arbitrária do soberano (MOTTA, 2021). 
2 CONSTITUCIONALISMO: CONCEITOS PRIMORDIAIS 
O termo ‘constitucionalismo’, segundo Motta (2021), refere-se ao movimento 
surgido da vontade humana de controlar seu destino político e de participar na vida do 
Estado. Essa participação poderia ser exercida como governante ou, pelo menos, com 
a garantia de que os governantes respeitariam um conjunto mínimo de direitos. Teve 
seu início nas raízes da Idade Média, ganhando impulso durante o Renascimento e os 
debates políticos e religiosos da Reforma Protestante (MOTTA, 2021). 
O constitucionalismo representou a luta do homem por liberdade em oposição 
ao governo, muitas vezes tirânico, e pela garantia de um conjunto mínimo de direitos a 
serem respeitados, não apenas pelos governantes, mas também pelos cidadãos. Essas 
aspirações deveriam ser refletidas em Constituições originadas da vontade popular, 
mesmo que sob a autoridade de um imperador ou rei. 
 
4 
 
Tendo em mente que todos os Estados, de uma forma ou de outra, possuem 
regras básicas, o propósito do constitucionalismo foi incorporar a esses sistemas 
normativos um conjunto mínimo de garantias contra o arbítrio. Entre essas garantias, 
destacam-se a divisão das funções estatais e a proteção dos cidadãos em relação ao 
Estado, estabelecendo um composto de limitações para prevenir a invasão do domínio 
privado dos indivíduos pelo Estado, e prevendo os meios para enfrentar essa 
eventualidade. 
Os pactos que surgiram nas Idades Média e Moderna consistiam em acordos 
entre o monarca e os membros da burguesia ou da nobreza, com foco principalmente 
nas disposições relacionadas ao governo, aos direitos individuais e às garantias 
correspondentes. 
O mais famoso desses pactos foi a Magna Carta, de 1215, acordada entre os 
nobres ingleses e o rei João Sem Terra. Motivados principalmente pela tentativa do 
monarca de tributar suas propriedades, os nobres conseguiram estabelecer um 
documento que garantia diversas liberdades individuais, sendo estas: proteção da 
liberdade pessoal, garantia da inviolabilidade domiciliar, restrições à criação e cobrança 
de impostos e o reconhecimento do direito a um devido processo legal, entre outras 
(MOTTA, 2021). 
Posteriormente, na Inglaterra, durante a Idade Moderna, em 1628, outro pacto 
digno de nota foi o ‘Petition of Rights’, no qual o monarca Carlos I concordou que as 
contribuições ao tesouro público só poderiam ser estabelecidas com o consentimento 
dos súditos. 
Além disso, na Inglaterra, o ‘Bill of Rights’, de 1689, também merece destaque 
como um pacto de notória abrangência, que não apenas excluiu a dinastia Stuart do 
trono inglês, mas também abordou diversos direitos e garantias dos súditos, como a 
regulamentação do direito ao porte de armas e a liberdade nas eleições. 
As cartas de franquia, comuns na Europa medieval, foram instrumentos formais 
que concediam às corporações autonomia para exercerem suas específicas atividades, 
livres da influência do rei ou da nobreza feudal. Os forais, também comuns nesse 
período histórico, eram documentos mais abrangentes, concedendo aos burgos 
autonomia administrativa e política para se autogovernarem. 
Os ‘contratos de colonização’ foram acordos celebrados entre os puritanos 
ingleses que chegaram na América do Norte durante o período colonial da Inglaterra. 
 
5 
 
Devido à falta de um poder estabelecido na Colônia, os próprios imigrantes 
concordaram com regras de autogoverno. Destacam-se, nesse contexto, o pacto 
celebrado a bordo do navio Mayflower, em 1620, conhecido como Compact, e as 
Fundamental Orders of Connecticut, pactuadas em 1639. 
Embora uma análise detalhada desses documentos esteja além do escopo desteuma questão sempre controversa (GARCIA, 
1998). 
No contexto delineado pela Constituição, a cidadania consiste em possuir 
direitos. A concretização da democracia ocorre por meio da cidadania, isto é, através 
da participação política nos rumos da nação. A cidadania plena emerge com a garantia 
dos direitos sociais. Não pode haver liberdade de expressão sem o acesso à educação. 
Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade e à isonomia perante 
a lei, resumidamente, é possuir direitos civis. Também envolve participação na vida da 
sociedade, votando, sendo votado e possuindo direitos políticos. No entanto, os direitos 
civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, que garantem a 
participação do indivíduo na prosperidade coletiva, como o direito ao trabalho, a um 
 
31 
 
salário justo, à educação, à saúde e a uma velhice digna. Exercer a cidadania plena 
significa possuir direitos civis, sociais e políticos (SIQUEIRA; OLIVEIRA, 2016). 
A cidadania, nesse sentido, implica a consciência de pertencimento à sociedade 
estatal como detentor dos direitos fundamentais e da dignidade como ser humano, 
integrando-se de forma participativa no processo do poder, com a consciência 
igualitária de que essa posição subjetiva também implica deveres de respeito à 
dignidade do próximo e a contribuição para o progresso de todos. Essa forma de 
cidadania requer ações estatais para garantir a satisfação de todos os direitos 
fundamentais em condições isonômicas. Embora a promoção dos direitos sociais tenha 
limitações financeiras, mesmo em tempos de recessão econômica, o princípio da 
igualdade continua sendo um princípio fundamental constitucional, que demanda a 
distribuição equitativa dos efeitos negativos dos períodos de crise. 
Cidadania é a incorporação do indivíduo nos desafios da sociedade. Dentro 
desse contexto, T. H. Marshall (1988) define a cidadania como "um status concedido 
àqueles que são membros integrais de uma comunidade". O mesmo autor descreve a 
cidadania em três partes distintas: 1. Civil, que engloba as garantias e liberdades 
individuais; 2. Político, relacionado ao direito de participar no exercício do poder político, 
incluindo a capacidade de votar, ser votado e organizar partidos; 3. Social, que abrange 
as condições mínimas necessárias para se gozar de uma vida digna, envolvendo desde 
o direito a um mínimo de bem-estar econômico e segurança até o direito de participar 
plenamente da herança social (MARSHALL, 1988). 
Essa apartação entregue por Marshall corresponde aos diferentes períodos de 
desenvolvimento. Cada um dos elementos está associado a um século distinto, os 
direitos os políticos relativos ao século XI, civis ao século XVIII, e os sociais ao século 
XX (SIQUEIRA; OLIVEIRA, 2016). 
 
 
5.1 Cidadania e Democracia 
Ainda conforme Siqueira e Oliveira (2016), a democracia repousa sobre dois 
pilares institucionais: os partidos políticos e a sociedade civil. A prática da cidadania se 
desenrola nesses dois contextos, onde se materializa a atividade política do dia a dia. 
A cidadania é intrínseca à democracia e à participação política, manifestando-se por 
 
32 
 
meio das tomadas de decisão política nos municípios, estados ou na comunidade em 
que o indivíduo reside. É a junção da liberdade e da soberania do povo, garantidas pela 
Constituição Federal. A democracia é construída através da prática. Uma ideia 
essencial do conceito de cidadania reside em sua ligação com o princípio democrático. 
Logo, pode-se afirmar que, à medida que a democracia evolui e se enriquece ao longo 
do tempo, a cidadania também adquire novos traços. É por essa razão que a cidadania 
é o ponto focal para onde é voltado a soberania popular. 
Não havendo democracia, a prática da cidadania torna-se inviável, pois esta é 
exercida no âmbito público por pessoas conscientes. A cidadania implica um 
sentimento de pertencimento à comunidade, envolvendo processos de inclusivos da 
população e o reconhecimento de um conjunto de direitos civis, econômicos e políticos. 
No entanto, também implica inevitavelmente a exclusão do outro. Todo cidadão é um 
membro ativo da comunidade, o que lhe confere obrigações, mas também o capacita a 
reivindicar direitos, buscar mudanças nas relações dentro da comunidade e redefinir 
seus princípios e identidade simbólica, além de repartir os recursos comuns 
(SIQUEIRA; OLIVEIRA, 2016). 
A essência da cidadania reside precisamente nesse caráter público e impessoal, 
onde diversas situações sociais, aspirações, desejos e interesses conflitantes se 
confrontam dentro dos limites de uma comunidade. Embora existam comunidades ao 
longo da história que não possuam cidadania, a verdadeira cidadania só se manifesta 
dentro de uma comunidade concreta, que pode ser definida de várias maneiras, mas 
que sempre representa um espaço privilegiado para a ação em conjunto e o 
levantamento de projetos para o futuro. 
A Constituição fundamenta o Estado Democrático em dois pilares relacionados 
ao indivíduo: dignidade da pessoa humana e cidadania. A dignidade da pessoa humana 
representa o valor fundamental do indivíduo, enquanto a cidadania refere-se ao 
enfoque social. 
A cidadania implica em uma ação que permite ao cidadão participar ativamente 
da vida do Estado. É o exercício da construção do bem comum realizado pelos próprios 
cidadãos, sendo sinônimo de participação. No Estado Democrático e Social de Direito, 
essa participação é imprescindível, dada a amplitude da esfera de atuação estatal, que 
envolve garantias de liberdades positivas e negativas. 
 
33 
 
No paradigma do Estado democrático de direito, o conceito de cidadania 
expandiu-se, com a introdução constitucional da cláusula social, fixando novas formas 
de participação do indivíduo no Estado. Isso abrange não apenas o gozo dos direitos 
políticos e civis, mas também expandindo para os direitos civis e políticos, assim como 
os direitos econômicos, sociais e culturais. Busca-se, assim, superar as distinções da 
cidadania social, promovendo uma cidadania que concretize os direitos fundamentais 
e seja estendida a todos os segmentos sociais (SIQUEIRA; OLIVEIRA, 2016). 
Nessa perspectiva, o cidadão não é apenas um eleitor ou um candidato, mas sim 
um agente ativo, responsável pela história em que está inserido, participante do 
fenômeno político. Ele tem direitos e habilidades para participar das decisões do 
Estado, exigindo posturas e ações efetivas para atender às necessidades e aspirações 
sociais e individuais. Essa nova postura do cidadão o coloca em um papel de 
fiscalizador da Administração Pública. 
A democracia se efetiva através da cidadania. Ter um regime democrático não 
se resume à existência de liberdades e procedimentos democráticos na Constituição; é 
necessário que haja uma diversidade de opiniões e interesses representados em 
partidos políticos. Isto é, a democracia só se torna realidade quando os cidadãos 
reconhecem sua importância e participam ativamente, exercendo seus direitos. 
Nesse contexto, é importante ressaltar que a força normativa da Constituição se 
manifesta por meio de sua prática. A Constituição só é eficaz se houver vontade política 
de cumpri-la. Ela não tem capacidade de agir por si só, mas pode estabelecer tarefas 
a serem cumpridas. Ainda, se torna ativa quando essas tarefas são efetivamente 
realizadas e quando há disposição de seguir suas diretrizes, mesmo diante de 
questionamentos e reservas. Em resumo, a Constituição se torna uma força ativa 
quando há uma vontade geral, especialmente entre os principais responsáveis pela 
ordem constitucional, de não apenas buscar o poder, mas também de respeitar a 
Constituição. 
A cidadania se firma através de práticas de exercício, ou seja, pela conquista ou 
criação de mecanismos de comunicação que permitam a participação democrática do 
centro para a periferia. Em outras palavras, a cidadaniase manifesta na prática da 
Constituição Democrática (SIQUEIRA; OLIVEIRA, 2016). 
5.2 Atuação jurídica da cidadania 
 
34 
 
A cidadania é um dos princípios fundamentais da República Federativa do Brasil, 
promovendo a democratização do acesso à justiça e a colaboração popular no 
processo de decisão governamental. O estudo do direito de ação e do acesso ao 
Judiciário vai além do âmbito jurídico, adentrando também o campo político, nos 
parâmetros de Siqueira e Oliveira (2016). 
Nessa circunstância, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu mecanismos 
para que o cidadão possa fiscalizar as atividades do Estado por meio do Poder 
Judiciário. A atuação cidadã envolve a participação ativa e a fiscalização das atividades 
estatais, incluindo as jurisdicionais. A efetividade da justiça em prol da cidadania 
transcende o domínio jurídico, alcançando a esfera política da nação. 
A advocacia e cidadania são inseparáveis, enquanto a cidadania se manifesta 
dentro de uma nação que se fundamenta na ordem, nas leis, na Justiça, no Estado 
Democrático de Direito, a advocacia, por sua vez, é o instrumento a serviço da 
cidadania. A Constituição de 1988 prevê explicitamente duas ações de defesa da 
cidadania: a ação civil pública e a ação popular. Esses instrumentos são de extrema 
importância para garantir os direitos coletivos. A origem da tutela coletiva tem dois 
fundamentos: social e político. No aspecto social, reflete a influência da sociedade 
contemporânea, uma sociedade de massa. No aspecto político, essas ações buscam 
consolidar o Estado Democrático e Social de Direito (SIQUEIRA; OLIVEIRA, 2016). 
O modelo jurídico adotado pelo Estado brasileiro demonstra uma preocupação 
em relação a tutela coletiva, visando proteger o interesse social, conforme preconizado 
pelo Estado Democrático e Social de Direito estabelecido na Constituição Federal de 
1988. A efetividade dos Direitos Sociais se materializa por meio da atuação processual 
contida na própria Constituição Federal. As ações coletivas têm como propósito 
fundamental conferir maior eficácia ao processo. 
Enquanto em Portugal e em outros países da Europa a principal forma de 
proteção dos direitos massificados é a ação popular, no sistema jurídico brasileiro, além 
desse instrumento, também se encontra prevista a ação civil pública (SIQUEIRA; 
OLIVEIRA, 2016). 
5.3 Atuação política: cidadania e políticas públicas 
Siqueira e Oliveira (2016) ressaltam que a cidadania se refere à participação 
ativa do indivíduo nos assuntos do Estado. Um cidadão é alguém que se envolve no 
 
35 
 
desempenho estatal. Em um Estado Democrático e Social de Direito, essa participação 
dos cidadãos não se limita apenas ao ato de votar, mas inclui a atuação na formulação 
das decisões sobre questões de interesse público, muitas vezes concretizadas por meio 
de políticas públicas. 
A democracia participativa se efetiva por meio da cidadania plena, que não se 
restringe ao voto, mas abrange uma atuação efetiva na definição dos rumos e nas 
políticas públicas estatais. A participação popular busca garantir a legitimidade política 
das ações governamentais. 
Sendo a cidadania uma manifestação da participação política, na terminologia 
comum das ciências políticas, a expressão 'participação política' é comumente utilizada 
para descrever uma ampla gama de atividades: desde o ato de votar, passando pelo 
engajamento em um partido político, até a participação em manifestações, a 
contribuição para uma determinada organização política, a discussão de eventos 
políticos, entre outras. É evidente que esse uso da expressão reflete práticas, 
orientações e processos característicos das democracias ocidentais (SIQUEIRA; 
OLIVEIRA, 2016). 
Ainda existem pelo menos três formas ou níveis de participação política que 
precisam ser destacados. A primeira forma, que pode se chamar de 'presença', é a 
menos intensa e mais periférica forma de participação política; refere-se a 
comportamentos essencialmente receptivos ou passivos, como participar de reuniões, 
expor-se voluntariamente a mensagens políticas, etc., eventos em que o indivíduo não 
contribui pessoalmente. 
A segunda forma intitulada de 'ativação', o indivíduo desenvolve, fora ou dentro 
de uma organização política, uma série de atividades a ele delegadas 
permanentemente, ocasionalmente ou mesmo promovidas por ele mesmo. Isso ocorre 
em ações de proselitismo, engajamento em campanhas eleitorais, disseminação de 
informações do partido, participação em protestos, etc. 
O termo 'participação', usado em sentido estrito, poderia ser reservado, por fim, 
para eventos em que o indivíduo contribui direta ou indiretamente para uma decisão 
política. Essa contribuição, pelo menos para a maioria dos cidadãos, só pode ocorrer 
de forma direta em contextos políticos muito específicos; na maior parte das situações, 
a contribuição é indireta e se reflete na escolha dos líderes, ou seja, das pessoas 
investidas de poder por um determinado período para analisar alternativas e tomar 
 
36 
 
decisões que afetam toda a sociedade. É claro que a participação política em sentido 
estrito só é possível para uma quantidade reduzida de pessoas, nos sistemas políticos 
ou organismos que não são competitivos e que utilizam procedimentos eleitorais, se os 
utilizam para fins muito diferentes (SIQUEIRA; OLIVEIRA, 2016). 
Os partidos políticos e a sociedade civil organizada, como portadores naturais 
dos interesses e valores sociais, têm o direito assim como o dever de influenciar o 
processo decisório das políticas públicas. É importante ressaltar que todo o poder 
emana do povo. A legitimidade do Estado não deriva apenas da expressão legislativa 
da soberania popular, mas também da consecução de objetivos coletivos, a serem 
alcançados de forma planejada; o critério distintivo das funções e, portanto, dos 
poderes estatais, deve ser o das políticas públicas ou programas de ação 
governamental. 
Na democracia, quanto mais ampla e disseminada for a participação popular, 
mais legítima e democrática será a política pública adotada. A formulação e o 
procedimento das políticas públicas são funções do governo, assim como sua 
implementação e responsabilidade. No entanto, a sociedade civil e os partidos políticos 
devem cooperar ativamente do processo de elaboração das políticas públicas. O 
verdadeiro cerne da democracia está ligado à cidadania, que implica a atuação efetiva 
nos assuntos do Estado. O cidadão pleno deve contribuir na definição das políticas 
públicas, indo além do simples ato de votar em eleições. 
Não é somente o Poder Judiciário o órgão responsável pela realização da 
cidadania e, em consequência, pela efetivação da Constituição. O próprio sistema 
jurídico oferece outros mecanismos para o exercício da cidadania. O Estado 
Democrático e Social de Direito demanda a atuação conjunta do poder público e da 
sociedade civil para a elaboração das políticas públicas. O conceito de cidadania é 
abrangente e inclusivo. A participação nos assuntos do Estado ocorre por meio de 
diversos instrumentos políticos que garantem o pleno exercício da cidadania 
(SIQUEIRA; OLIVEIRA, 2016). 
6 APRECIAÇÃO DE TEORIAS E CONCEITOS DOS DIREITOS HUMANOS: 
NACIONALIDADE, CIDADANIA, DEMOCRACIA 
 
37 
 
A nacionalidade está intrinsecamente ligada ao episódio de uma pessoa nascer 
como cidadã de um país ou adquirir a cidadania desse país ao longo da vida, conforme 
Coelho (2023), muitas vezes em consonância com o desenvolvimento e a democracia. 
De acordo com o Dicionário de Políticas Públicas, os termos ‘cidadão’ e ‘cidadania’ 
comumente se referem a indivíduos que fazem parte de uma comunidade e possuem 
um conjunto de direitos e deveres. 
Nas palavras de Costa e Ianni (2018), a palavra ‘cidadão’ tem origem no latim 
‘civitas’. O conceito remonta à Antiguidade, em que na civilização grega o termo estava 
associado à virtudes, liberdade e igualdaderepublicanas. Na obra ‘A Política’, 
Aristóteles (1973) define quem poderia ser considerado cidadão e gozar desse status. 
Ser cidadão significava ser detentor de um poder público e colaborar nas decisões 
coletivas realizadas nas chamas ‘polis’ ou cidades (COSTA, IANNI. 2018). 
No entanto, como já mencionado anteriormente, historicamente nem todos os 
indivíduos eram considerados cidadãos. Em relação à igualdade, o status de cidadão 
era restrito a um pequeno grupo de homens livres, excluindo escravos, mulheres e 
estrangeiros. Com o passar do tempo e a modernização da sociedade, juntamente com 
a garantia de direitos individuais, o conceito de cidadania evoluiu. A moderna cidadania 
nacional atinge os direitos sociais globais, garantindo direitos individuais e permitindo 
o pluralismo político por meio de eleições (COELHO, 2023). 
Essa distinção entre a cidadania da antiguidade e cidadania moderna é 
apresentada por Constant (1985). Sob essa análise, a liberdade da antiguidade tinha 
como referência a república, enquanto a dos modernos está associada à tradição 
liberal. No posicionamento moderno de Marshall (1967), cidadania é a capacidade 
concedida a um indivíduo para ser detentor de certos direitos políticos, sociais e civis, 
além de poder exercê-los dentro de um Estado-Nação. Assim, a cidadania tem suas 
fronteiras delimitadas pelas dimensões do Estado nacional, e o cidadão é o sujeito que 
mantém um vínculo jurídico com o Estado, sendo detentor de direitos e deveres 
estabelecidos por uma determinada estrutura legal, sendo estas a constituição e as leis 
(COSTA, IANNI. 2018). 
Portanto, o cidadão é aquele que pertence a um Estado-Nação que detenha 
direitos e deveres em um determinado nível de igualdade. Nesse sentido, o princípio 
da igualdade está presente no conceito de cidadania, uma vez que se apresenta como 
 
38 
 
uma condição que assegura aos indivíduos pertencentes a uma comunidade que são 
iguais em direitos e deveres, restrições e liberdades. 
A cidadania é a posição dos indivíduos reconhecidos como membros de uma 
comunidade, acompanhado de direitos e deveres e que possuem em relação à 
sociedade da qual fazem parte. Ao longo da história, a cidadania tem sido moldada por 
referências espaciais, constituídas a partir das interações entre os indivíduos em 
determinada região (organização sociopolítica do espaço). Essa noção de cidadania é 
construída socialmente e adquire significado através das experiências sociais e 
individuais, tornando-se uma identidade social e política. 
A identidade pessoal ou individual compreende o conjunto de características 
humanas, e o comportamento social é uma dessas características que diferencia um 
indivíduo de outros membros da sociedade. É a consciência de que fazer parte de uma 
sociedade implica pertencer a um coletivo maior, a uma comunidade. 
Portanto, as características sociais e políticas que definem uma identidade 
coletiva em relação a outras sociedades incluem aspectos como cultura, linguagem, 
religião, música, culinária e outros hábitos que representam a comunidade. Assim, a 
identidade social também assume uma dimensão política, vinculada ao pertencimento 
a uma comunidade política, construída por um Estado-Nação, que possui suas próprias 
bases legais para regular a contato do cidadão com o Estado e com o restante dos 
membros da sociedade. Isso parte do princípio da necessidade do cidadão de adquirir 
direitos e cumprir deveres dentro da comunidade (COELHO, 2023). 
Nesse contexto, a cidadania é entendida como uma identidade social e política, 
derivada do conjunto de práticas culturais, políticas, jurídicas e econômicas que 
determinam o indivíduo como membro de uma comunidade. Sob tal prospectiva, a 
concepção de cidadania como identidade social e política é composta por elementos 
como: os vínculos de pertencimento, a participação política e coletiva, e a consciência 
de ser portador de direitos e deveres (COSTA, IANNI.2018). 
É por meio da identificação com o ambiente em que vive que as pessoas se 
tornam cidadãs, desenvolvendo seu entendimento sobre si mesmo e sobre o mundo ao 
seu redor. Costa e Ianni (2018) oferecem uma perspectiva sobre como o indivíduo se 
torna cidadão, destacando o conceito de vínculo de pertencimento, onde o conceito de 
Estado-Nação é primordial na caracterização de uma identidade nacional, de 
pertencimento coletivo e de inserção em determinada comunidade política. O que 
 
39 
 
articula esse espaço de Estado-Nação é a afirmação de uma cultura nacional 
homogênea que promove e assegura o sentimento de pertença. 
O vínculo de pertencimento surge da incorporação de uma cultura específica 
daquela nação, onde o indivíduo reside, e ocorre quando ele passa a reconhecer 
costumes, fatos, tradições, lendas e diversas narrativas sobre o passado. Essa 
identidade nacional é fundamental para sustentar, organizar e possibilitar a existência 
do Estado, conferindo ao indivíduo o status de cidadão. 
Em concordância com Habermas (1994), o papel do Estado na definição das 
culturas nacionais é dual: de um lado, diferencia a cultura do território nacional em 
relação ao exterior; de outro lado, proporciona a homogeneidade cultural dentro do 
território nacional. As nações modernas buscavam uniformizar culturalmente seus 
cidadãos, fomentando sua unificação linguística, religiosa e de costumes, e instituíam 
direitos exclusivos, símbolos e rituais que os reconheciam como membros de uma única 
nação. O Estado-Nação, logo, pode ser compreendido como uma entidade política e 
cultural que confere significado à identidade nacional (COELHO, 2023). 
Destarte, de acordo com uma visão mais restrita e conforme o senso comum, a 
cidadania poderia ser simplificada à nacionalidade, ou seja, à filiação formal de 
indivíduos aos Estados-Nacionais. Essa concepção está ligada ao sentimento de 
lealdade para com um grupo, uma comunidade, a sociedade civil e o Estado, o que 
associa a cidadania a uma identificação subjetiva e a um sentimento de pertencimento 
a uma determinada sociedade. Portanto, a cidadania é uma forma institucionalizada de 
filiação e constitui uma expressão de pertencimento formal e pleno. Envolve uma série 
de interações recíprocas que estabelecem laços entre o cidadão e o Estado, e é a 
percepção de que pertence a um Estado, validada pelo reconhecimento público desses 
laços, que confere a identidade de cidadão (COSTA, IANNI. 2018). 
O indivíduo que integra uma comunidade com interesses comuns e possui 
cidadania, respeitando suas leis, recebe reconhecimento por meio de uma filiação 
reconhecida pelos vínculos públicos que conferem identidade e nacionalidade ao 
cidadão. 
A Participação política coletiva, entende-se que a cidadania não está 
exclusivamente ligada à ideia de identidade nacional, mas também está vinculada ao 
costume pelo qual os cidadãos desempenham seus direitos civis e políticos. A 
cidadania não é apenas um critério estático de pertencimento a uma comunidade 
 
40 
 
nacional, regida por direitos e deveres conferidos pelo Estado. Ela também é uma 
prática social que os indivíduos constituem para além do Estado, por meio de 
instituições da sociedade civil e de ações civis (COELHO, 2023). 
A contar da participação política coletiva, o conceito de cidadania se torna mais 
árduo, podendo ser empregado não apenas para fazer alusão ao regras legais do 
indivíduo e à sua filiação a uma nação, mas também para definir sua participação ativa 
na esfera pública. Portanto, além dessa participação, o nacionalismo é apenas um dos 
elementos que compõem o conceito de cidadania, mas não o define integralmente. 
Nesse ponto de vista, o comprometimento cívico permite o diálogo com o Estado 
e a integração da política na sociedade, e a efetivação da cidadania está 
profundamente ligada a um Estado democrático. A democracia não é apenas entendida 
como um sistema político com eleições e partidosliberais, mas especialmente como 
uma maneira de existência social. 
Os governos democráticos consentem com a formação de sociedades abertas, 
onde novas liberdades são desenvolvidas e as pessoas podem participar da tomada de 
decisões políticas. Entende-se, então, que um Estado democrático é aquele que leva 
em consideração as disputas legais e age no interesse dos órgãos jurídicos públicos e 
internacionais de forma universal (COELHO, 2023). 
A envolvimento do indivíduo na política, tanto de forma individual como coletiva, 
teve início após as lutas ligadas a procura dos direitos individuais e sociais. Essas lutas 
asseguraram um ambiente de cidadania e nacionalidade e conquistaram a tão sonhada 
democracia. 
A atualidade do direito trouxe consigo uma nova concepção de indivíduo, 
considerado como um ser dotado de valor intrínseco e de direitos naturais. Nesse 
contexto, surgiram perspectivas individualistas que colocam o indivíduo como 
precedente ao Estado e à sociedade, contestando a visão orgânica na qual a sociedade 
é vista como um todo coeso. 
Hobbes (1999) e Locke (2006) compartilham a ideia de que os homens são 
detentores de direitos, sendo indivíduos autônomos que antecedem a organização 
social e política. Essa crença na primazia dos direitos humanos é uma característica da 
modernidade, na qual se acredita que tais direitos são inerentes à própria natureza 
humana. 
 
41 
 
No entanto, Bobbio (2004) argumenta que as perspectivas individualistas podem 
levar à inconsistência e desintegração nos sistemas políticos, tornando difícil a criação 
de um caminho claro. Mesmo assim, a visão contemporânea coloca o indivíduo em 
primeiro plano, seguido pelo Estado, que é erguido pelos próprios indivíduos. Essa 
inversão de perspectiva fundamenta o reconhecimento dos direitos humanos e dá 
origem ao chamado direito público subjetivo, característico do Estado de direito. Cada 
cidadão, ao se conscientizar de seus direitos e deveres, contribui para a consolidação 
de orientações civis, políticas e sociais. 
Os direitos civis e individuais, fundamentados na Constituição de 1988, incluem 
direitos como liberdade de expressão, reunião, opinião, pensamento e fé, ir e vir, além 
do direito à propriedade, trabalho, acesso à justiça e outros. Essa dimensão dos direitos 
teve origem no século XVIII, na Europa. Os direitos políticos, de outro modo, como o 
direito de votar e ser votado, foram conquistados no século XIX, também na Europa, 
enquanto os direitos sociais, que garantem acesso a benefícios como saúde, educação 
e previdência, surgiram no século XX. 
A promulgação legal desses conjuntos de direitos reflete a busca por igualdade 
em uma sociedade que os reconhece como fundamentais. O direito civil estabelece a 
igualdade perante a lei e o Estado, o direito político assegura a participação política 
independente de diferenças econômicas, e o direito social busca amenizar as 
desigualdades existentes. O reconhecimento e a efetivação desses direitos têm sido 
impulsionados por diversas organizações na sociedade, como os movimentos pelos 
direitos humanos (COELHO, 2023). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
 
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globalização: fundamentos e possibilidades desde a teoria crítica. 2. ed. Porto Alegre: 
EDIPUCRS, 2010.texto, é importante enfatizar que eles demonstram que o constitucionalismo, com sua 
exigência de Constituições escritas e dos valores nelas contemplados, não foi um fato 
isolado na história, mas sim o resultado de um longo e significativo processo de 
conscientização coletiva sobre a importância de um documento que estabelecesse 
regras de governo e garantisse os direitos e as liberdades individuais dos membros da 
sociedade (MOTTA, 2021). 
2.1 Fundamentos históricos da construção do constitucionalismo no Estado 
Conforme Ferdinand Lassalle (2015) observa, "uma Constituição real e efetiva é 
algo que todos os países possuíram e continuarão a possuir, pois é um equívoco pensar 
que a Constituição é uma prerrogativa dos tempos modernos". Isso implica que, em 
qualquer época e lugar, todos os Estados sempre tiveram e sempre irão ter uma 
Constituição, pelo menos em seu sentido material, denotada por um conjunto de 
normas fundamentais para sua estruturação. Com a chegada dos tempos modernos, 
surgiram as Constituições escritas, materializadas em documentos que estabelecem os 
princípios fundamentais de uma sociedade específica. Alexandre de Moraes (2022) 
argumenta que, "o constitucionalismo escrito emerge com o Estado, com seu propósito 
de racionalizar e humanizar, conduzindo ao seu lado a necessidade de proclamar 
declarações de direitos". 
A partir do século XVIII, a Constituição real adquiriu características jurídico-
normativas, baseadas na ideia de organização formal dos Estados e na salvaguarda 
dos direitos fundamentais, alcançando seu ápice nas revoluções liberais da América do 
Norte e da França. As Constituições norte-americana (1787) e da francesa (1791) 
apresentaram duas características distintivas nesse sentido: a limitação do poder 
estatal e a estruturação do Estado. 
Com efeito, as Constituições dos Estados Unidos e França representam a 
primeira progressão dos direitos fundamentais. Durante as revoluções americana e 
francesa, o foco principal era estabelecer uma esfera de autonomia pessoal que 
 
6 
 
resistisse às expansões do poder. Os direitos reivindicados naquela época eram 
principalmente de abstenção por parte dos governantes, estabelecendo obrigações de 
não interferência, baseadas na ideia de que o Estado não deveria se intrometer na 
autonomia de cada indivíduo. 
Contudo, o ideal de não intervenção, que surgiu das revoluções americana e 
francesa, com o passar do tempo, deixou de atender satisfatoriamente às necessidades 
da sociedade. O avanço da industrialização, o aumento populacional e o agravamento 
das desigualdades internas geraram novas demandas, que agora exigiam do Estado 
um papel mais ativo na promoção da igualdade material, indo de encontro ao que havia 
sido postulado nas revoluções citadas (CASTRO, 2023). 
A consagração de uma igualdade meramente formal, combinada com a ausência 
de intervenção estatal, deu origem a diversos movimentos sociais, como a Revolução 
Mexicana de 1910 e a Revolução Russa de 1917. Nesse período, as tensões estavam 
relacionadas à necessidade de incluir nos textos constitucionais direitos sociais e 
econômicos, ocasionando um grande impacto no desenvolvimento da segunda geração 
dos direitos fundamentais. Como observa Gilmar Mendes (2023), "os direitos de 
segunda geração são chamados de direitos sociais, não porque sejam direitos de 
coletividades, mas porque estão ligados a demandas por justiça social, na maioria dos 
casos, esses direitos são reivindicados por indivíduos específicos". 
Por outro lado, há os direitos de terceira geração, que são garantias 
fundamentais de titularidade difusa ou coletiva. Esses direitos são desenvolvidos para 
proteger coletividades ou grupos, e não apenas indivíduos isoladamente considerados. 
Surgiram nesse momento os direitos à qualidade do meio ambiente, à paz, ao 
desenvolvimento, à preservação do patrimônio histórico e cultural, entre outros. 
A atual Constituição é resultado de um extenso processo histórico de evolução 
de ideias e demandas sociais. A compreensão dessa progressão se concretiza por 
meio do estudo do constitucionalismo, que se concentra na constituição política do 
Estado, delineando sua estrutura, a organização de suas instituições e os mecanismos 
de limitação e aquisição do poder (Alexandre de Moraes, 2022). 
Pode-se afirmar que a premissa essencial do constitucionalismo não se limita 
apenas a elaborar Constituições escritas, mas sim a garantir que princípios que 
assegurem o ideal de liberdade, como a separação dos poderes e os direitos e 
garantias fundamentais, sejam estabelecidos como instrumentos de limitação do poder 
 
7 
 
do estado. Tanto é assim que o art. 16 da Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão de 1789, resultante da Revolução Francesa, declarava que "a sociedade na 
qual não tenha estabelecido a separação dos poderes e nem esteja assegurada a 
garantia dos direitos, não tem Constituição". 
Nota-se, portanto, que um dos fundamentos do constitucionalismo é garantir ao 
indivíduo o direito à liberdade. Essa concepção é claramente articulada por Dirley da 
Cunha Jr. (2019), que argumenta que o constitucionalismo "busca realizar o ideal de 
liberdade humana por meio da criação de mecanismos e instituições necessárias para 
estabelecer limites e controlar o poder político, opondo-se, desde sua origem, a 
governos arbitrários, independentemente de época ou lugar". Ao reconhecer que a 
liberdade é o fundamento do constitucionalismo, torna-se inegável estudar sua 
evolução, especialmente para compreender como esse direito fundamental representa 
um marco no Estado Democrático de Direito (CASTRO, 2023). 
2.2 O constitucionalismo e a Constituição de 1988 – movimentos sociais 
Conforme Simões (2022), essa temática teve início em junho de 2013, com 
manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus no Estado de São Paulo, que 
evoluíram para discussões relativas a regimes políticos, democracia direta (claramente 
uma das principais demandas dos manifestantes) e democracia representativa, além 
da Constituição de 1988. Essas discussões ocorreram diante de um clima de agitação 
e clamor por transformações por parte da sociedade nas grandes cidades brasileiras 
(SIMÕES, 2022). 
Durante esse período, espaços pertinentes ao poder político, como o Palácio do 
Itamaraty e o Congresso Nacional em Brasília, o Palácio dos Bandeirantes em São 
Paulo, a Prefeitura de São Paulo, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e 
a Câmara Municipal de Belo Horizonte, foram cercados por multidões e, em várias 
ocasiões, alvo de depredação, resultando em danos ao patrimônio público, histórico e 
particular. 
Além disso, agências bancárias, lojas, caixas eletrônicos, ônibus, terminais de 
ônibus e estações de metrô foram alvos de ataques, pichações e saques por parte dos 
manifestantes, durante protestos realizados em 12 capitais brasileiras, além de 
dezenas de cidades de médio e pequeno porte. As manifestações contra o aumento 
das tarifas de transporte urbano, que começaram naquele mês, capturaram a atenção 
 
8 
 
do país por um longo período. Os protestos, que ocorriam praticamente a cada hora, 
alcançaram 353 cidades brasileiras no total, atingindo seu ápice em 20 de junho, 
quando ocorreram em 150 municípios. Nesse dia, foram feitas 467 mil citações às 
manifestações nas redes sociais Facebook e Twitter. 
Em Brasília, os manifestantes tomaram a cúpula do Congresso, clamando: "o 
Congresso é nosso!". No Palácio do Itamaraty, sede da diplomacia brasileira, pilares 
externos foram incendiados e vidros quebrados pelos manifestantes, que somente 
foram impedidos na rampa de acesso ao local pela ação da Polícia Militar. Durante os 
tumultos, o diretor-geral da Câmara dos Deputados e 2 coronéis da Polícia Militar foram 
agredidos. 
Em São Paulo, foi pichado pelos manifestantes o Teatro Municipal, bem como a 
Faculdade de Direito da USP, no Largo deSão Francisco, e um edifício da Universidade 
Mackenzie. Nesta data, aproximadamente 1 milhão de pessoas saíram às ruas em 75 
cidades, incluindo 12 capitais estaduais, para reivindicar em relação a uma série de 
problemas. Marcos Delafrate, um dos manifestantes, de 18 anos, foi fatalmente 
atropelado em Ribeirão Preto (SP) por um motorista em um veículo blindado que 
tentava passar por uma área onde ocorria um protesto. Em 18 de junho, os jornais 
divulgaram uma pesquisa que estimava que cerca de 79 milhões de pessoas haviam 
discutido os protestos nas redes sociais no decorrer daquela semana (SIMÕES, 2022). 
Inicialmente planejado como uma manifestação do Movimento Passe Livre 
(MPL) em discordância ao aumento das tarifas dos ônibus urbanos, metrô e trem em 
São Paulo, as manifestações logo evoluíram para abordar uma série de temas tanto 
diversos quanto complexos. Além da revogação da PEC 37, que limitava a atuação do 
Ministério Público, em discussão no Congresso, as manifestações abordavam questões 
como os gastos com a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, a corrupção, educação, 
saúde, transporte, redução da maioridade penal, críticas relativas ao presidente do 
Senado, Renan Calheiros (PMDB), e ao presidente da Comissão de Direitos Humanos 
da Câmara Federal, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), além de pedidos pela 
prisão dos envolvidos no Mensalão do PT e pela reforma política, entre muitos outros 
tópicos relacionados aos direitos civis garantidos pela Constituição de 1988. 
Faixas e palavras de ordem expressavam uma rejeição prolixa aos políticos 
convencionais, à democracia representativa e aos partidos políticos. Demandas por 
democracia direta eram frequentes nos cartazes, como uma solução universal para as 
 
9 
 
adversidades políticas brasileiras. O debate direto dos problemas e sua subsequente 
resolução pareciam ser o foco central das multidões. 
Na capital paulista, houve por exemplo, a praticamente uma paralisação sob o 
slogan "São Paulo vai parar se a tarifa não baixar", ecoado pelos manifestantes, que 
em grande parte eram jovens. No Rio de Janeiro, inicialmente, utilizou-se outra 
expressão: "acabou o amor, isso aqui vai virar a Turquia", em referência à luta dos 
turcos, na mesma época, contra o regime do primeiro-ministro Recep Tayyp Erdogan. 
Em todo o país, a frase "o gigante acordou" ganhou destaque entre os manifestantes. 
Os protestos em São Paulo, iniciados em 6 de junho de 2013, exigiam do 
governo municipal (Fernando Haddad - PT) e estadual (Geraldo Alckmin - PSDB) a 
revogação da elevação das tarifas de metrô, ônibus e trem, que foi alterada no dia 2 
daquele mês, de R$ 3,00 para R$ 3,20. Começaram com relativa modéstia, com um 
número superior a mil manifestantes interrompendo a Avenida Paulista e causando 
danos a 2 estações de metrô em enfretamentos com a polícia. Os protestos perduraram 
durante os dias 7, 11, 13, 17, 19 e 20, com um aumento progressivo no número de 
manifestantes, alcançando 65 mil no dia 17, segundo o Instituto Datafolha (SIMÕES, 
2022). 
Já no 2º dia de protestos, o promotor de Justiça Rogério Zagallo, com restrição 
de locomoção devido à efetuação de um dos atos, escreveu em uma rede social: "estou 
há duas horas tentando voltar para casa, mas um grupo de manifestantes está 
bloqueando a Faria Lima e a Marginal Pinheiros. Por favor, alguém pode avisar à Tropa 
de Choque que essa região faz parte do meu Tribunal do Júri e que se eles 
machucarem essas pessoas eu arquive o inquérito policial". Posteriormente, diante da 
negativa repercussão, o promotor deletou a postagem e publicou outra, na qual 
afirmava que os manifestantes têm o direito de expressar sua insatisfação. 
Pesquisadores das ciências sociais se reuniram no Instituto de Estudos 
Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP), buscando discutir as questões 
levantadas pelos manifestantes logo nos primeiros dias, tentando compreender o 
significado e o direcionamento dessas manifestações. Renato Janine Ribeiro, professor 
de filosofia política na USP, que mais tarde viria a se tornar ministro da Educação no 
governo de Dilma Rousseff (PT), atribuiu as manifestações ao desapontamento com a 
democracia e equiparou o cenário brasileiro ao da Espanha, onde também ocorreram 
protestos. "Talvez o problema, para nós, não seja tanto a opressão, mas o tédio", 
 
10 
 
afirmou. Conforme Renato, a falta de possibilidades entre os jovens também foi um dos 
motivos que ocasionou as revoltas de maio de 1968 em Paris. 
Em outra perspectiva, Sylvia Dantas, professora de Psicologia na Universidade 
Federal de São Paulo (Unifesp), expressou uma opinião análoga durante o debate. 
Segundo ela, o estado psicológico dos brasileiros alternava entre a impotência e a 
melancolia. Ela descreveu as manifestações como um momento de vida e esperança, 
uma oportunidade de catarse onde a insatisfação encontrou voz (SIMÕES, 2022). 
 O professor José Álvaro Moisés do curso de Ciência Política da USP, também 
presente no encontro, observou um grande mal-estar em relação à democracia no 
Brasil. Ele comentou sobre o fracasso dos partidos políticos, inclusive os que surgiram 
de movimentos sociais, como o PT. Sergio Adorno, coordenador do Núcleo de Estudos 
da Violência (NEV) da USP, destacou que as manifestações refletiam uma interrupção 
na comunicabilidade entre os atores políticos, onde os canais tradicionais pareciam 
ilegítimos. Os pesquisadores apresentaram uma possível guinada conservadora dos 
protestos como um dos desdobramentos prováveis. Essa previsão se confirmou 
posteriormente, quando as manifestações foram capturadas pela direita política e 
começaram a refletir temáticas conservadoras. 
Monika Dowbor, cientista política do Centro de Análise e Planejamento (Cebrap), 
fez uma comparação entre a estratégia dos grupos manifestantes no Brasil e os 
movimentos pelos direitos civis nos Estados Unidos da década de 1960. Segundo ela, 
assim como naquele contexto, as lideranças escolheram cidades com histórico de 
violência e racismo para protestar, visando provocar reações que os tornassem heróis 
aos olhos do público. Dowbor destaca que os protestos no Brasil nos anos 1970 eram 
marcados pela violência devido à falta de diálogo com as autoridades. Entretanto, nos 
anos 1980, houve uma mudança relevante quando o Estado passou a abrir espaço 
para membros desses grupos em conselhos e cargos públicos. 
Ela sugere que o confronto nas ruas das cidades brasileiras pode ser uma 
estratégia para diferenciar esses grupos. Dowbor enfatiza que, ao se engajar no 
conflito, esses grupos se distinguem politicamente, destacando o Movimento dos Sem-
Terra (MST) como um exemplo dessa abordagem diferenciada. 
Segundo Roberto Romano, professor de Filosofia na Universidade Estadual de 
Campinas (Unicamp), as manifestações, rotuladas por alguns grupos de esquerda 
como ‘de direita’ e ‘fascistas’, revelaram que os movimentos sociais e os partidos 
 
11 
 
políticos, de modo geral, se transformaram em ‘palácio’, isto é, integrantes das 
estruturas de poder, em contraposição à ‘praça’, que representa a população em geral. 
Romano argumenta que todos os partidos se tornaram oligarquias, controladas por 
grupos, e por vezes por um único indivíduo, que permanecem no comando da máquina 
partidária por décadas sem qualquer abertura para suas bases. Ele aponta que mesmo 
o PT, que anteriormente mantinha certa democracia interna, sucumbiu a essa prática, 
especialmente após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (SIMÕES, 2022). 
Além disso, Romano critica o fato de que os movimentos sociais passaram a agir 
de maneira semelhante aos órgãos de Estado, buscando privilégios como carros 
oficiais e verbas de representação, adotando uma postura burocrática e oligarquizada. 
Essas reflexões foram feitas durante uma palestra no evento Café Filosófico CPFL. 
O filósofo enfatizou em uma entrevista, que seria um equívoco subestimaras 
manifestações que eclodiram nas principais cidades brasileiras, reduzindo-as a simples 
reivindicações pela redução das tarifas de transporte público. Ele argumentou que tais 
protestos vão além disso, revelando a capacidade dos brasileiros de exigir seus direitos. 
O intelectual observou que, de certa forma, a estabilidade econômica proporcionada 
pelo Plano Real havia deixado a população em um estado de dormência em relação a 
outros problemas, como serviços públicos sem qualidade. Contudo, ele destacou que 
esse cenário estava começando a mudar. 
O filósofo apontou que, ao pegar um ônibus nas primeiras horas da manhã em 
cidades como Porto Alegre, Salvador e São Paulo, tornava-se evidente o tipo de serviço 
insatisfatório oferecido à população. Ele ressaltou que essa insatisfação ocorria 
simultaneamente ao aumento da percepção de corrupção em várias esferas da 
administração pública, exemplificada pelos escândalos envolvendo empresas de 
transporte. Esses fatores, segundo ele, estavam desgastando a população, levando ao 
surgimento das manifestações. 
Na análise do filósofo, os protestos evidenciam a falta de respeito do Estado pelo 
cidadão, que paga altos impostos por serviços de qualidade insatisfatória e sem 
transparência. Ele expressa incerteza sobre até que ponto esses protestos podem 
progredir, mas reconhece que representam um sinal positivo da capacidade da 
população em reivindicar seus direitos. Além disso, Romano critica a abordagem do 
governo da então presidente Dilma Rousseff (PT), que, em sua opinião, baseava-se 
exclusivamente em propaganda, tentando dissociar-se das manifestações. Ele também 
 
12 
 
aponta a inércia das instituições como um fator que amplifica a força dos protestos 
(SIMÕES, 2022). 
No Brasil, os três monopólios essenciais do Estado: o da força física, da norma 
jurídica e da taxação do excedente econômico através de impostos, estão se 
desintegrando como gelo. Um exemplo disso é a erosão intencional da Lei da Ficha 
Limpa pelos legisladores. Aqui, enfrentamos o conceito de anomia, onde a lei não é 
efetiva. O país está quase retornando ao estado de natureza; não confiamos mais na 
polícia, no prefeito, no vereador, no Judiciário ou no promotor, porque os mesmos 
defendem somente interesses particulares. Hoje, com essas manifestações, a 
sociedade é tratada como inimiga a ser combatida. Precisamos de uma polícia 
capacitada para gerenciar e controlar multidões. No entanto, como é comum no Brasil, 
há um uso excessivo da força, e esses excessos são ineficazes. 
 Quando há controle pela força, não há verdadeira autoridade. A polícia deveria 
inspirar respeito e confiança, mas, na prática, é temida. No Estado brasileiro, há um 
poder que gera medo, mas não incute respeito e confiança. O pensador refuta a ideia, 
considerada falsa, de que o povo brasileiro é pacífico e não luta por seus direitos. Ele 
aponta eventos históricos como a Revolução Farroupilha, Canudos e a Balaiada, todos 
reprimidos pelo monopólio da força física, como evidências de setores inteligentes 
enfrentando as forças do poder. Ele ainda argumenta que ainda estamos longe de uma 
verdadeira democratização política. À medida que os serviços públicos se deterioram, 
um número crescente de cidadãos se organiza e expressa sua insatisfação com o 
Estado e a estrutura política brasileira. 
Em 2013, Romano destaca que o povo despertou da anestesia causada pelo 
Plano Real, que temporariamente controlou a inflação, mas não provocou mudanças 
significativas no modo de governar e na implementação de políticas públicas no país. 
Ele critica a análise política que se concentra apenas na orientação ideológica dos 
manifestantes, rotulando-os como de esquerda ou direita. Mesmo que haja uma 
inclinação para a direita, ele observa que a grande massa está insatisfeita com o 
sistema tributário brasileiro, a falta de mudanças no campo, a deficiente prestação de 
serviços públicos e a falta de segurança. Concluiu ainda, apontando que as últimas 
notícias confirmam o que todo brasileiro negro, pobre ou pertencente a minorias já sabe 
que a polícia brasileira é uma das mais violentas do mundo. 
 
13 
 
Uma semana após o primeiro protesto, os movimentos já adquiriam uma 
dimensão de massa, comparável à maior manifestação popular desde o impeachment 
do então presidente da República, Fernando Collor, em 1992. No auge dos eventos, 
conforme reportagens da imprensa, uma multidão diversifica de cerca de 1 milhão de 
pessoas marchou pelas ruas de 12 capitais brasileiras em protesto, marcados por 
confrontos com a Polícia Militar e os guardas civis municipais, além de atos de 
vandalismo contra mobiliário urbano, ônibus e lojas. 
 Durante os eventos, militantes de partidos de esquerda, incluindo o PT, que 
carregavam bandeiras, foram alvo de hostilidades por parte de grupos de extrema 
direita e foram expulsos de diversas manifestações. Além disso, jornalistas foram 
agredidos tanto por policiais quanto por manifestantes. Esses episódios ressaltaram a 
intensidade das tensões políticas e sociais presentes nos protestos, que refletiam uma 
profunda insatisfação da população com diversos aspectos da governança e da 
estrutura política do país (SIMÕES, 2022). 
3 A IMPORTÂNCIA DA DEMOCRACIA E OS MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL 
Consoante com Lopes (2018), o termo ‘democracia’ tem suas origens em 
Atenas, na Grécia, por volta do século V a.C., e é derivado das palavras ‘demos’, que 
significa povo, e ‘kratos’, que significa poder. Em seu sentido amplo, democracia é uma 
referência política na qual o poder tem sua base na participação do povo, seja de forma 
direta ou indireta, nas decisões políticas. 
Embora, na Grécia Antiga a prática da democracia não tenha abrangido toda a 
população, excluindo mulheres, idosos, escravos, entre outros, o famigerado modelo 
democrático grego, conhecido como aquele no qual o povo detinha o poder de 
influenciar a direção política do Estado. Para isso, a estrutura governamental deveria 
manter um meio de comunicação acessível para que as demandas populares 
pudessem ser consideradas. Na arcaica Grécia, a ‘ágora’ era o local onde as questões 
populares eram debatidas, e ali os representantes de parte da população apresentavam 
diversas questões, transmitindo os anseios populares aos governantes (LOPES, 2018). 
Atualmente, a democracia apresenta algumas características distintas de suas 
origens gregas. De forma positiva, a democracia contemporânea engloba uma ampla 
parcela da população, respeitando a diversidade de religião, etnia, gênero e orientação 
 
14 
 
sexual, reconhecendo a participação de todos como fundamental para o 
desenvolvimento da sociedade. No entanto, de maneira negativa, a participação 
popular passou a se limitar à prática do voto, ou seja, à escolha entre opções 
previamente apresentadas como propostas, com a elaboração dessas propostas sendo 
reservada aos políticos, considerados os representantes legítimos da população. 
Nesse contexto, no atual cenário, a democracia depende da participação ativa 
do público para que os representantes legítimos da população possam elaborar 
projetos e leis que atendam às necessidades de todos os cidadãos. Os movimentos 
sociais trazem total notoriedade nesse processo, manifestando as reivindicações 
daqueles que sentem não serem representados pela atual conjuntura política. Através 
das redes sociais, da mídia e de manifestações nas ruas, esses movimentos clamam 
pelo reconhecimento e pela implementação de leis que combatam o preconceito e 
garantam os direitos dos cidadãos, encontrando na democracia um ambiente propício 
para que pelo menos o debate possa acontecer. 
É importante ressaltar que, em um estado democrático, os movimentos sociais 
não representam apenas os grupos oprimidos pelo sistema, mas englobam todos os 
esforços em prol das reivindicações daqueles que não se sentem amparados pela 
ordem políticaestabelecida, podendo até mesmo se opor a certas mudanças que 
beneficiem a maioria ou exigindo a manutenção de políticas discriminatórias (LOPES, 
2018). 
No Brasil, os movimentos sociais firmam-se em torno das demandas de grupos 
que utilizam ações coletivas para garantir que suas necessidades sejam reconhecidas 
por toda a população e, consequentemente, chamem a atenção das autoridades 
governamentais. Dessa forma, promovem um princípio de transformação efetiva. Com 
sua maior expressão durante o período do regime militar brasileiro, que ocorreu entre 
os anos de 1964 e 1985, as manifestações populares levaram para as ruas as 
reivindicações políticas que culminaram no fim de um longo período de hegemonia 
política e na implantação da democracia. Durante esse período, os movimentos sociais 
que se opunham ao regime eram categorizados em 2 ideologias políticas: 
• Os movimentos liberais, identificados como defensores de uma política de 
direita, tinham como objetivo, de maneira geral, promover o bem-estar 
social através da redução da intervenção econômica em função do 
Estado. Isso possibilitaria que trabalhadores e empregadores 
 
15 
 
conseguissem, em teoria, progredir economicamente por meio da livre 
negociação. 
• Por outro lado, os movimentos socialistas, associados a uma política de 
esquerda, buscavam, de maneira geral, promover o bem-estar social 
através da intervenção direta na política econômica do estado. Isso 
teoricamente garantiria direitos a todos os trabalhadores, impedindo que 
a desigualdade perpetuasse, considerando inerente à relação entre 
empregador e empregado. 
Esses posicionamentos, inicialmente bastante radicais, deram origem a partidos 
políticos, muitos dos quais ainda ativos na atualidade, e possuem em sua estrutura 
diversas variantes que tornam mais flexíveis aquilo que antes era conhecido como 
direita e esquerda (LOPES, 2018). Hoje em dia, as diversas orientações de movimentos 
sociais encontraram na política democrática brasileira um espaço fértil para atuar, 
muitas vezes sendo representados diretamente por algum partido político. Entre os 
movimentos sociais de grande destaque atualmente, estão: 
• Os movimentos trabalhistas, que pleiteiam melhores condições de 
trabalho e salários, além de buscar a conquista de mais direitos 
relacionados à atuação profissional em diversos setores. Geralmente, são 
representados pelos sindicatos de cada categoria profissional. 
• Os movimentos educacionais, que se dividem em duas grandes vertentes: 
os professores e os estudantes. Ambos clamam por uma melhoria na 
qualidade do sistema educacional como um todo, incluindo salários mais 
dignos para os professores, melhores infraestruturas nas instituições de 
ensino, reformas curriculares e garantias de condições de trabalho 
adequadas para docentes e discentes. 
• Os movimentos civis, que têm representantes engajados em 
reivindicações relacionadas a questões de gênero, etnia e sexualidade. 
Em geral, esses movimentos trabalham pela aprovação de leis contra o 
preconceito e buscam modificar comportamentos socialmente 
indesejáveis e naturalizados. 
Na sociedade brasileira, diversos movimentos sociais recorrem a manifestações, 
tanto físicas quanto virtuais, como forma de fazer com que suas reivindicações 
alcancem êxito e, consequentemente, sejam atendidas. No entanto, alguns recorrem à 
 
16 
 
violência para alcançar seus objetivos, enfrentando as consequências de suas ações. 
Nesse último caso, frequentemente acabam prejudicando suas próprias causas ao 
impossibilitar o diálogo através do uso da violência e da imposição de suas ideias pela 
força física. Portanto, é importante lembrar que a democracia, como sugere sua 
etimologia, é o poder do povo: o poder de garantir que todas as vozes sejam ouvidas e 
que, mesmo diante de divergências, seja possível construir um Estado baseado no bem 
comum (LOPES, 2018). 
3.1 A democracia da atualidade 
Há regimes híbridos que se harmonizam com elementos dos regimes totalitários 
com perfis dos regimes democráticos, não se referindo, portanto, àquela dicotomia 
mencionada, em concordância com Simões (2022). São os intitulados regimes de 
‘democracia controlada’. Um exemplo contemporâneo é a Rússia, que não se enquadra 
como um regime verdadeiramente democrático, assim como o México até pouco tempo 
atrás. Não é por acaso que os relatórios anuais da Freedom House, sobre a situação 
das liberdades e da democracia no mundo, repartem os Estados em três notáveis 
categorias: livres, parcialmente livres e não livres (SIMÕES, 2022). 
Alguns estudiosos argumentam que a democracia é uma forma de governo 
superior, em razão de maximizar a oportunidade dos cidadãos de participarem 
plenamente das tomadas de decisões coletivas. Outros afirmam que a democracia 
promove formas conscientes de desenvolvimento da justiça, como destacou o 
estudioso indiano Rajni Kothari. Há ainda aqueles que exaltam a democracia como 
melhor do que outros sistemas para estimular o crescimento econômico. Além disso, 
há argumentos de que a democracia domestica promove a "paz democrática", além de 
reduzir ameaças "terroristas" à "segurança nacional". 
Outros, como Dahl, sugerem que a democracia fomenta o desenvolvimento 
humano mais completamente do que qualquer outra opção realizável. Ele destaca que, 
para nossos ancestrais, a ideia de democratizar o próprio ideal da democracia era 
impensável e até mesmo inimaginável. Nenhum democrata sensato teria acusado o 
ideal democrático de ser absolutista, seguindo em direção a um metadiscurso arrogante 
que transformava a democracia em um dogma, vinculando sua existência a princípios 
que a faziam parecer um Absoluto terreno, uma substituta para Deus. 
 
17 
 
Naquela época, os democratas não consideravam que seus princípios 
arrogantes estavam em desacordo com uma compreensão da democracia que 
permitisse uma diversidade de justificações diferentes, ou que esses princípios 
conflitassem com a realidade de que as pessoas, independentemente de viverem em 
sociedades democráticas ou não, geralmente seguiam uma variedade de noções 
conflitantes e muitas vezes incompatíveis do que constitui uma boa vida (SIMÕES, 
2022). 
Propor democratizar o próprio ideal da democracia, estar atualizado sobre as 
mais recentes reflexões sobre os ideais democráticos, à primeira vista, parece fazer 
pouco ou nenhum sentido nos dias de hoje. Grande parte das pessoas simplesmente 
não compreende; demonstram confusão quando se menciona a sugestão de que a 
democracia precisa aprender a falar de si mesma de maneira diferente. Isso se deve 
em grande parte ao fato de que, na era da democracia monitorada, milhões de pessoas 
ao no mundo iniciaram uma crença de que a democracia é a correção contínua do 
poder público, um modo de vida que abre espaços para minorias dissidentes e 
uniformiza a competição pelo poder entre cidadãos iguais. Portanto, é difícil para a 
maioria das pessoas apreciar que, no passado, o ideal democrático abrigava seus 
próprios demônios; teorias filosóficas grandiosas, questões metafísicas e certezas 
dogmáticas. 
Houve uma época, em que a democracia exercia uma dominação. Ela se 
apresentava ao mundo de forma imprescindível, sua linguagem tinha nuances de 
dominação estranhas. Considere a era da democracia de assembleia, em que a própria 
palavra transmitia poderosas sugestões de conquista e controle militar. Apesar de não 
existirem tratados dos democratas defendendo o ideal da democracia, de acordo com 
os padrões atuais, os discursos atenienses mais memoráveis sobre o assunto, era grau 
zero do pensamento sobre a democracia. Não apenas retratavam a democracia 
ateniense como algo belo e harmonioso, o que perceptivelmente não era, mas também, 
de maneira estranha, os defensores ativos da demokratia frequentemente a 
justificavam associando-a ao império (SIMÕES, 2022). 
No século V a.C., o poder e a buscapor ele estavam no centro das vidas, 
experiências e perspectivas dos atenienses. A política de poder e o imperialismo eram 
considerados típicos de Atenas e, por extensão, típicos da democracia; a reputação de 
Atenas como uma intrometida nos assuntos alheios, envolvida em constantes batalhas 
 
18 
 
pelo poder sobre outros, tornou-se sinônimo da própria democracia. Daí as palavras 
bem conhecidas de Péricles para os cidadãos de luto ligados para honrar os soldados 
mortos. Lembrem-se, a razão pela qual Atenas tem o maior nome no mundo inteiro é 
porque nunca cedeu diante do infortúnio, mas gastou mais esforços e vidas em guerras 
do que qualquer outra cidade, adquirindo assim o maior poder que já existiu na história. 
A memória de sua grandeza, será deixada para sempre à posteridade. 
Parece que nos países do mundo ocidental, como Inglaterra, Estados Unidos e 
França, a ideia de uma ‘democracia liberal’ prevaleceu, e seus princípios decorrem da 
filosofia iluminista dos séculos XVII e XVIII. As noções de liberdade e igualdade, 
consagradas pela Declaração de Independência americana de 1776 e pela Declaração 
dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada na França em 1789, não têm um 
status claro na doutrina em que é definida, pois não foram formuladas de maneira 
simples, uma vez que não têm uma fonte única e homogênea. 
Ao longo dos séculos, as reformas constitucionais concepções à luz do ideal 
normativo da democracia e de suas aspirações por igualdade, justiça e liberdade nunca 
conseguiram refutar as acusações de Platão de que a anarquia, potencial ou real, 
espreita em toda democracia. Essa crítica deixou marcas profundas. No século XIX, 
frente ao avanço rigoroso do ‘fato democrático’, Tocqueville evocou os temores já 
expressos por Platão: a democracia é afligida por um mal político intrínseco, na qual as 
raízes residem na ideia popular e que corrói até mesmo as instituições visivelmente 
mais promissoras e sólidas. Ainda hoje, ecoa-se que a democracia é o epicentro de 
uma crise endêmica que, ao segregar, através de seus próprios avanços, a 
despolitização da política, torna-se vítima dos esforços que sempre efetuou para se 
consolidar e se proteger. 
A democracia antiga, direta e escravista, assim como a moderna, compartilha, 
ao contrário, um caráter vertiginoso que as condena: possuem a face de Jano, que 
simultaneamente revela a sombra sinistra da anarquia sociopolítica e a luminosidade 
da autonomia dos cidadãos. Além disso, a democracia cria uma ilusão carregada com 
as ameaças do sufocamento totalitário. Dentro de seus princípios, a democracia não 
pôde evitar, a introdução da ambiguidade de sua própria natureza em suas instituições. 
Isso não se tornar suficiente para condenar a ideia. 
No entanto, não se pode negligenciar as lições de uma reflexão sobre a essência 
de seus princípios, nem o que a experiência ensina: desde seu surgimento, a 
 
19 
 
democracia não conseguiu escapar de dilemas essenciais que deram seguimento a 
miná-la. Portanto, mesmo diante de suas promessas, ela está repleta de ameaças e, 
sob as luzes do progresso da consciência política que ela ilumina, espreita uma sombra 
mortífera. 
A democracia revela-se simultaneamente inquietante e fascinante. Desde os 
dias em que Platão criticava ‘a sociedade aberta’, seguido rapidamente por Aristóteles, 
que advertia contra um sistema cuja Constituição é ‘desviada’, o impulso político do 
povo nunca cessou de crescer, gerando, por sua própria dinâmica, uma crise que se 
intensifica inexoravelmente e que ameaça, um dia, resultar na negação da política 
(SIMÕES, 2022). 
3.2 Constitucionalismo e democracia 
O liberalismo e a democracia estão diante de um ponto fundamental na virada 
para a década de 2020, de acordo com Vale (2022). Enquanto enfrentam a pressão 
crescente para cumprir sua promessa de criar comunidades políticas de indivíduos 
livres e iguais, também lidam com uma crise sem precedentes na credibilidade de suas 
instituições. A crise de legitimidade abalou profundamente as estruturas políticas das 
democracias liberais, revelando sua incapacidade de resolver uma variedade de crises, 
desde econômicas e políticas até ambientais. Como observou o sociólogo Manuel 
Castells (2018), a crise da democracia liberal é a mãe de todas as crises. Para os 
politólogos e juristas desta década, os desafios são ainda mais complexos, exigindo 
uma redefinição essencial dos modelos e das instituições da democracia constitucional 
(VALE, 2022). 
A ascensão da biotecnologia e da inteligência artificial continuará desafiando a 
narrativa liberal, tornando imperativa uma reconstrução das instituições democráticas. 
Como destaca o historiador Yuval Noah Harari (2018), a democracia em sua forma atual 
não será capaz de sobreviver à fusão da biotecnologia com a tecnologia da informação. 
Em suas perspectivas, a democracia se reinventa com sucesso em uma forma 
radicalmente nova, ou os humanos acabarão vivendo em ditaduras digitais. 
Indubitavelmente, nos próximos anos, o direito constitucional e seus conceitos 
centrais relacionados à estrutura normativa e à defesa judicial dos direitos fundamentais 
enfrentarão grandes desafios devido ao avanço da biotecnologia e da inteligência 
artificial. As noções jurídicas fundamentais de liberdade, igualdade e privacidade serão 
 
20 
 
submetidas a uma análise rigorosa em um contexto no qual algoritmos altamente 
precisos e poderosos terão a capacidade de monitorar e influenciar todos os aspectos 
da vida humana em tempo recorde. 
O liberalismo, de certa forma, manterá sua influência e atratividade como a 
narrativa predominante para o contínuo aprimoramento da proteção dos direitos 
individuais fundamentais. No entanto, nos próximos anos, as teorias liberais dos direitos 
enfrentarão o desafio de questionar suas próprias suposições para enfrentar os novos 
desafios emergentes. 
As democracias constitucionais precisam ser entendidas em relação aos seus 
limites para enfrentar as mudanças complexas, possibilitando uma compreensão mais 
profunda e a correção de suas falhas, levando à adaptação de suas instituições 
políticas. 
Acredita-se que o projeto iluminista do constitucionalismo e da democracia, 
embora cada vez mais contestado, continuará em sua determinada trajetória histórica 
como a melhor alternativa para o progresso civilizatório das sociedades. Isso exigirá a 
persistente defesa dos ideais iluministas de razão, ciência e humanismo na resolução 
dos desafios complexos enfrentados pelas sociedades contemporâneas. A fé contínua 
no potencial revigorante dos valores liberais e a confiança na capacidade de 
revitalização institucional das democracias serão elementos necessários para os 
estudos e pesquisas em direito constitucional e ciência política (VALE, 2022). 
3.3 As influências da Constituição de Weimar 1919 
Em consonância com Vale (2022) todas as Constituições elaboradas após as 
duas guerras do século XX foram de certa forma influenciadas pela Constituição de 
Weimar de 1919. Por conseguinte, o centenário de Weimar representa um marco 
histórico de grande relevância, proporcionando às democracias contemporâneas uma 
oportunidade valiosa de reflexão e aprendizado sobre a vasta experiência jurídica, 
cultural e política de um dos momentos de extremo valor da história do direito 
constitucional moderno (VALE, 2022). 
Apesar de sua curta vigência efetiva (1919-1933), a Constituição de Weimar 
estabeleceu uma nova democracia e um programa social inovador no início do século 
XX na Europa. Essas características a tornaram alvo de diversas críticas, 
desencadeando um intenso debate público em razão do seu significado, suas 
 
21 
 
expectativas normativas e os limites de sua aplicação. Como resultado, ela se tornou 
um dos documentos constitucionais mais discutidos e influentes do mundo. 
A Constituição de Weimar teve uma repercussão imediata no Brasil, nadoutrina 
do direito público durante a década de 1920 e serviu de inspiração para a elaboração 
da Constituição de 1934, que se destacou no constitucionalismo brasileiro ao introduzir 
um determinado capítulo dedicado aos direitos fundamentais de natureza social. Como 
se sabe, tanto a Constituição de Weimar quanto a Constituição do México de 1917 
foram pioneiras no que ficou conhecido como ‘constitucionalismo social’, ao garantirem 
uma série de direitos sociais demandados pelos principais movimentos populares 
contestatórios do início do século XX. 
É relevante observar que o projeto original da Constituição alemã, desenvolvido 
por Hugo Preuss, não incluía um capítulo próprio para os direitos fundamentais. Foi 
somente na Assembleia Constituinte de Weimar, seguindo a proposta de Friedrich 
Naumann, que se adicionou a chamada ‘segunda parte’ do texto constitucional, 
abordando uma série de direitos e deveres dos cidadãos alemães. Foi justamente essa 
parte da Constituição, particularmente os novos direitos sociais, que gerou considerável 
controvérsia nos debates políticos e estimulou um rico debate metodológico no campo 
do direito público em relação ao seu potencial normativo (VALE, 2022). 
A República de Weimar foi um verdadeiro ‘laboratório constitucional’, onde, 
apesar das crises políticas e econômicas que a marcaram, surgiram métodos e 
conceitos jurídicos inovadores. O debate metodológico no campo do direito público foi 
liderado por uma geração de eminentes pensadores da política e do direito, incluindo 
nomes como Hans Kelsen, Max Weber, Carl Schmitt, Rudolf Smend, Gerhard Anschütz, 
Hermann Heller, Hugo Preuss, Erich Kaufmann e Heinrich Triepel. Carl Schmitt, por 
exemplo, foi um dos principais críticos da chamada segunda parte da Constituição, 
considerando-a um mero anúncio político programático, de outra forma, Hermann Heller 
e Rudolf Smend defendiam os novos direitos sociais como importantes avanços 
constitucionais. 
Em meio à crise do Estado, os debates jurídico-políticos foram 
extraordinariamente ricos, caracterizando um período excepcional na história 
constitucional. De fato, há quem compare a importância de Weimar no discurso jurídico 
da primeira metade do século XX à Revolução Francesa para os juristas do século XIX. 
 
22 
 
Ambos os eventos encapsularam momentos de profunda crise político-institucional 
juntamente com a idealização e criação engenhosa de modelos e conceitos jurídicos. 
Além de suas características inovadoras, as contribuições teóricas dos juristas 
de Weimar adquiriram um significado universal e influenciaram gerações de 
professores de direito público ao redor do mundo. Como destacaram Arthur Jacobson 
e Bernhard Schlink, os debates sobre o direito do Estado em Weimar desempenham 
hoje, na Alemanha, um papel semelhante ao dos Federalist Papers nos Estados Unidos 
da América, cujas lições sobre os fundamentos de um Estado democrático específico 
ganharam importância global (VALE, 2022). 
Em Weimar, o direito e a política foram abordados por meio de categorias 
teóricas que resultaram em avanços nunca vistos na Teoria do Estado, com as notáveis 
contribuições de Hans Kelsen e Hermann Heller, culminando na estruturação de uma 
Teoria da Constituição, na qual Carl Schmitt se destacou com sua obra 
Verfassungslehre. 
É fundamental ressaltar que os pensadores de Weimar, ao abordarem o direito 
público sob a ótica do fenômeno político, desenvolveram a ‘teoria jurídica do político’. 
Democracia, liberalismo, governo e socialismo, como próprios objetos da reflexão 
política, passaram a ser analisados teoricamente por meio de modelos e conceitos 
jurídicos. Cada jurista de Weimar, a sua forma, buscou compreender a política em sua 
essência, para capturá-la teoricamente. Carl Schmitt e Hans Kelsen foram, sem dúvida, 
dois dos principais expoentes dessa teorização do político, enquanto Max Weber 
contribuiu com uma das mais importantes obras da teoria política moderna durante o 
período weimariano. 
No dia 28 de janeiro de 2019, comemorou-se o centenário da famosa conferência 
de Max Weber intitulada ‘Politik als Beruf’ (Política como vocação), um marco na 
literatura política que continua a fornecer análises éticas do comportamento político até 
os dias atuais. A revista The Economist destacou esse evento, enfatizando a 
importância desse centenário ao ressaltar que o pensamento político-liberal de Weber, 
que moldou os debates sobre constitucionalismo e democracia em Weimar, oferece 
lições valiosas para o cenário político das democracias contemporâneas, marcado por 
desafios e críticas semelhantes aos enfrentados durante a experiência política de 
Weimar. 
 
23 
 
A presente relevância da reflexão sobre a experiência de Weimar sucede 
principalmente do fato de que muitas democracias contemporâneas enfrentam desafios 
semelhantes aos enfrentados pela República de Weimar. Cem anos após, Weimar 
permanece como um modelo considerável para o estudo do direito e da política, 
proporcionando uma compreensão mais profunda dos riscos e das potencialidades de 
uma democracia (VALE, 2022). 
Não são poucos os pensadores contemporâneos que expressam forte 
preocupação com uma crise atual da democracia liberal, observada em vários países 
com características distintas. Essa crise é evidenciada por processos político-sociais 
facilmente perceptíveis, como a falta de representatividade e a constante perda de 
legitimidade democrática, manifestadas pelo declínio dos índices oficiais de confiança 
popular no regime. Além disso, há o recrudescimento na garantia e proteção das 
liberdades fundamentais, especialmente a liberdade de expressão e de consciência 
religiosa, resultando em um aumento da intolerância. A incapacidade dos sistemas 
democráticos de cumprir suas promessas sociais, como a redução das desigualdades, 
também é uma preocupação, juntamente com a ascensão, em alguns casos, de figuras 
políticas demagógicas e com instintos autoritários ao governo, através de processos 
legais e democráticos. 
A democracia atual tem muito a aprender com as lições de Weimar. Como 
observaram Arthur Jacobson e Bernhard Schlink, em períodos de crise do Estado de 
Direito, o interesse por Weimar ressurge. Para esses autores, Weimar oferece um 
paradigma sombrio, porém útil, para os Estados em que o constitucionalismo e o Estado 
de Direito enfrentam forças antiliberais e antidemocráticas. 
A breve história de Weimar é marcada por suas crises. Não apenas a crise 
política abalou as estruturas do regime democrático, do sistema de governo e da 
organização dos poderes, mas também uma grave crise econômica contribuiu para a 
ineficiência dos programas sociais pressupostos na constituição. Weimar, portanto, 
oferece aos juristas contemporâneos um exemplo dos desafios difíceis e complexos 
que o constitucionalismo e a democracia podem enfrentar diante da conjunção de uma 
crise política com uma profunda crise econômica. As crises política e econômica que o 
Brasil enfrentou nos últimos anos impuseram vários desafios à sobrevivência do regime 
democrático, à organização dos poderes, à estrutura do sistema de governo e, 
principalmente, à normatividade da Constituição de 1988 (VALE, 2022). 
 
24 
 
4 SURGIMENTO DA DECLARAÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS 
Os direitos humanos são princípios ou valores ético-políticos que possibilitam a 
todo indivíduo assegurar suas condições e dignidade enquanto ser humano, destaca 
Lopes (2018). Posteriormente ao término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, os 
países se uniram com o objetivo de recompor a paz entre os povos. A Organização das 
Nações Unidas (ONU) foi oficialmente estabelecida em 1945, mediante a ratificação da 
carta por parte das nações vencedoras da guerra (Estados Unidos, China, França, 
União Soviética e Reino Unido). Com o propósito de promover a paz e evitar um novo 
conflito mundial, a Declaração Universal dos DireitosHumanos foi assinada em 10 de 
dezembro de 1948 pelos mesmos países. Nesta carta estão arrolados 30 artigos dos 
direitos humanos e das liberdades fundamentais que mulheres e homens possuem e 
que devem ser respeitados (LOPES, 2018). 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi assinada em um contexto 
histórico e político marcado pelo período da Guerra Fria. Nesse período, o mundo 
encontrava-se dividido e em disputa entre duas potências principais: os Estados 
Unidos, líder do bloco dos países capitalistas, e a União Soviética, líder dos países 
socialistas. O conflito entre esses blocos abrangia questões militares, políticas, 
tecnológicas, sociais, econômicas e ideológicas. 
O cerne da Declaração Universal dos Direitos Humanos reside na dignidade da 
pessoa humana, que deve prevalecer sobre qualquer interesse de ordem 
governamental ou econômica. Os direitos humanos são os princípios ou valores que 
capacitam um indivíduo a assegurar sua condição humana e a participar plenamente 
da vida. Esses direitos devem permitir que o indivíduo viva plenamente sua condição 
política, psicológica, biológica, econômica, social e cultural. Com base na prioridade 
dada à dignidade humana e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, a 
Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos. 
É destacado no preâmbulo da Declaração: "[...] considerando ser essencial que 
os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não 
seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão [...]" (ONU, 
1948). Dessa forma, a Declaração apresenta o Estado como responsável pela garantia, 
proteção e efetivação dos direitos (LOPES, 2018). 
 
25 
 
4.1 O caminho percorrido pelos Direitos Humanos 
A construção da Declaração Universal dos Direitos Humanos ocorreu em um 
processo histórico de lutas e conquistas que incluíram, desde a Modernidade, os 
campos sócio-político, jurídico e cultural. Na Modernidade, um primeiro conjunto de 
direitos se manifestou por meio das revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII, 
como a Revolução Inglesa em 1688, a Revolução Americana em 1776 e a Revolução 
Francesa em 1789. O debate em torno da liberdade foi central nessas revoluções, 
reivindicando as liberdades individuais. Nesse contexto, o liberalismo político dominava 
as discussões sobre direito político e civil (LOPES, 2018). 
Os direitos civis e políticos referem-se aos direitos individuais vinculados à 
liberdade, à igualdade, à propriedade, à segurança e à resistência às diversas 
formas de opressão. Direitos inerentes à individualidade, tidos como atributos 
naturais, inalienáveis e imprescritíveis, que, por serem de defesa e serem 
estabelecidos contra o Estado, têm especificidade de direitos “negativos” 
(WOLKMER, 2010, p. 15). 
Inicialmente, a geração de direitos visava estabelecer os direitos em oposição 
ao Estado absolutista, sendo este o violador dos direitos individuais. No entanto, em 
um segundo momento histórico, outras gerações colocaram o Estado como o garantidor 
desses direitos. 
A segunda geração de direitos é composta pelos intitulados ‘direitos sociais, 
econômicos e culturais’. Esses direitos incluem o direito à saúde, ao trabalho e à 
educação, fundamentados nos princípios da igualdade e com abordagem positiva, pois 
não são contra o Estado, mas requerem a garantia e concessão a todos os indivíduos 
por parte do poder público (WOLKMER, 2010). Com a concretização desses direitos, o 
Estado se apresenta como garantidor, enquanto a sociedade civil se torna o sujeito 
ativo que busca a realização desses direitos. 
A necessidade de o Estado intervir ao longo do período liberal, para garantir 
direitos, especialmente no âmbito social, que o livre funcionamento do mercado não 
possibilitava, marca uma nova etapa na história dos Estados desenvolvidos. Estamos 
na era do Estado social, no qual o Estado interveio para assegurar não apenas uma 
igualdade puramente formal, utópica, idealizada pelo Liberalismo, mas sim buscar uma 
igualdade material. Isso permitiu que os menos favorecidos tivessem acesso à 
educação, cultura, participação, saúde e à busca pela felicidade. 
 
26 
 
O pensamento marxista exerceu grande influência na transformação dos direitos 
durante os séculos XIX e XX que, anteriormente, eram centrados na figura do sujeito 
individual, para serem discutidos como direitos sociais em uma nova fase. Os 
chamados direitos de segunda geração, voltados para a garantia social realizada pelo 
Estado em relação ao trabalho digno, salário justo, assistência social, educação, lazer, 
saúde, moradia, cultura, livre associação sindical, greve, saneamento básico, entre 
outros, ainda têm suas bases no direito individual (LOPES, 2018). 
No século XXI, foram estabelecidos os direitos de terceira geração, que visam 
proteger grupos humanos, povos, nações e grupos étnicos, além de promover a paz, 
solidariedade entre os povos, cuidados com os recursos naturais, dignidade das 
diversas culturas e relações mais justas, igualitárias e pacíficas entre os povos. Com 
os avanços científicos e tecnológicos, surgiram os direitos humanos de quarta geração, 
relacionados à bioética e à tecnologia na medicina, respeito ao patrimônio genético de 
indivíduos e grupos étnicos. 
Alguns estudiosos, como Carneiro (2007), destacam esse período como 
posterior ao Estado social, marcado pelo progresso do neoliberalismo, no qual a 
intervenção do Estado é cada vez mais reduzida. Historicamente, esse período é 
marcado pela queda do Muro de Berlim em 1990, o que impulsionou o avanço do 
liberalismo econômico, sem encontrar perspectivas adequadas para limitar essa 
tendência. Com o mercado livre para se organizar em várias sociedades, os campos 
político, social e econômico adquiriram características de globalização. Os vínculos 
entre capital e trabalho, anteriormente intermediados pelo Estado de bem-estar social, 
foram absorvidas pelo mercado. O mercado, como principal ator no âmbito econômico, 
ganhou espaço em diversos campos, incluindo os políticos, culturais e sociais, 
alterando as relações que, desde a Modernidade, estavam estruturadas no Estado 
Democrático de Direito (LOPES, 2018). 
Na atual terceira fase, a intervenção estatal está diminuindo cada vez mais 
devido às limitações econômicas dos Estados, que tornam inviável a manutenção de 
programas sociais importantes. Como resultado, há uma tendência à privatização de 
serviços não essenciais e à redução dos investimentos em serviços considerados 
fundamentais, o que gera crises, incluindo desemprego e assistência inadequada a 
direitos básicos como proteção à infância, saúde e cuidados para idosos (CARNEIRO, 
2007). 
 
27 
 
Esse novo contexto traz diversas consequências para os direitos conquistados 
em períodos passados. Os direitos anteriormente garantidos pelo Estado de bem-estar 
social, tais como o direito ao trabalho, à educação e à saúde, estão sob ameaça devido 
às políticas de privatização, que priorizam o lucro financeiro em detrimento do bem-
estar social. Essa tendência coloca em risco os direitos sociais, especialmente em 
relação à privatização de serviços públicos essenciais, os quais estão alinhados com 
os princípios estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, tais como 
o acesso aos direitos trabalhistas, à saúde e à educação (LOPES, 2018). 
4.2 Direitos humanos no Brasil 
Em concordância com Lopes (2018), no Brasil, os direitos humanos são 
assegurados pela Constituição Federal de 1988. No cenário brasileiro, os direitos 
humanos representaram um grande avanço jurídico para uma sociedade que enfrentou 
cerca de 20 anos de Ditadura Civil-Militar (1964-1985). 
Flores (2009) destaca que, se os direitos humanos não são dados ao povo, mas 
sim construídos, é importante enfatizar que as violações a esses direitos se tornam 
também construídas.Em outras palavras, as discriminações, exclusões, 
desigualdades, injustiças e intolerâncias são frutos de um processo histórico que 
precisa ser urgentemente desconstruído. 
Frente a uma realidade em que a violência era institucionalizada por meio de 
torturas, desaparecimentos e assassinatos, os direitos humanos emergiram como um 
dispositivo crucial para salvaguardar a dignidade humana e promover a cidadania. O 
ressurgimento do viés democrático no Brasil e em outros países latino-americanos a 
partir dos anos 1970/1980 foi uma conquista essencial tanto da classe política quanto 
da sociedade civil, fundamental para criar espaços nos quais a dignidade humana seja 
respeitada e os direitos sejam efetivados. 
Conforme Dagnino (1994), a temática da cultura democrática assume uma 
importância imprescindível no Brasil e em toda a América Latina. Esta é uma sociedade 
em que a miséria, a desigualdade econômica e a fome são os aspectos mais evidentes 
de uma estrutura social caracterizada pela organização hierárquica e desigual das 
relações sociais, o que podemos denominar de autoritarismo social. 
Nesta situação de conflitos nos quais o Brasil está imerso, resultante de um 
‘autoritarismo socia’, Dagnino (1994) enfatiza que se trata de uma cultura 
 
28 
 
fundamentada predominantemente em critérios de raça, classe e gênero. Esse 
‘autoritarismo social’ se manifesta em um sistema de classificações que determina 
diferentes categorias de pessoas, posicionadas em seus respectivos lugares na 
sociedade. É uma sociedade na qual as elites exercem uma indúctil influência, e as 
adversidades aos direitos humanos ainda é uma realidade a ser superada. Esse 
autoritarismo gera formas de sociabilidade e uma cultura de absoluta exclusão que 
permeia todas as práticas sociais e perpetua a desigualdade nas relações sociais em 
todos os níveis (DAGNINO, 1994). 
O Brasil tem progredido em direção à efetivação dos direitos humanos, contudo, 
pesquisas realizadas por entidades nacionais e organizações não governamentais 
revelam que muitos desafios ainda precisam ser superados. Conforme dados do 
Ministério dos Direitos Humanos, no ano de 2016, foram registradas 133.061 denúncias 
de violações a direitos humanos no país, de acordo com o balanço divulgado pelo 
Disque 100, um serviço ligado à Secretaria de Direitos Humanos, isso equivale a 364 
casos por dia. 
Os efeitos da exclusão e da cultura antagônica aos direitos humanos contribuem 
para tornar a sociedade brasileira violenta. Segundo o Anuário de Segurança Pública 
do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2016). A cada 9 minutos, uma pessoa era 
vítima de homicídio no Brasil, totalizando 58.492 mortes violentas intencionais em 2015. 
Esses números incluem lesões corporais seguidas de morte, vítimas de homicídios 
dolosos, latrocínios e mortes decorrentes de intervenções policiais. Entre as pessoas 
assassinadas, 54% eram jovens com idades entre 15 e 24 anos, e 73% eram pretas ou 
pardas. 
Nessas estatísticas, a polícia brasileira é destacada como a que mais morre (fora 
do trabalho) e a que mais mata. Entre 2009 e 2015, os policiais brasileiros registraram 
um aumento de 113% nas mortes em serviço em comparação com os policiais 
americanos. Além disso, o Brasil registrou mais vítimas de mortes violentas intencionais 
em 5 anos do que a guerra na Síria ocorrida no mesmo período. Enquanto a guerra na 
Síria, entre março de 2011 e novembro de 2015, contabilizou 256.124 vítimas mortas, 
no Brasil, foram contabilizadas 279.592 pessoas mortas. 
A violência policial também é uma ameaça aos direitos humanos, conforme 
indicado pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública (FÓRUM BRASILEIRO DE 
SEGURANÇA PÚBLICA, 2016). As mortes por consequência de intervenções policiais 
 
29 
 
totalizaram 3.345 em 2015, e entre 2009 e 2015, esse número chegou a 17.688. A 
militarização adotada pelas polícias estaduais corrobora uma cultura antidireitos 
humanos. 
Além disso, o Brasil enfrenta desafios relacionados à alta taxa de homicídios, 
abusos policiais, condições críticas do sistema prisional, vulnerabilidade dos 
defensores dos direitos humanos, violência contra a população indígena devido a falhas 
nas políticas de demarcação de terras e inúmeras formas de violência contra mulheres, 
populações LGBTQIA+ e outras minorias, que são enfrentadas diariamente. 
Conforme o balanço feito por estudiosos, as pessoas trans enfrentam violações 
de direitos humanos diariamente. Em relação aos avanços legais para a promoção dos 
direitos das pessoas trans, houve progresso limitado, destacando-se principalmente a 
política do nome social. No entanto, ainda persistem constrangimentos na prática e falta 
de preparo para acolhimento em serviços públicos (LOPES, 2018). 
Apesar da criação da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340, sancionada em 2006) 
como um salto importante na evidência da violência contra a mulher, essa realidade 
ainda persiste como um desafio a ser superado. De acordo com o Mapa da Violência 
de 2015, o Brasil registra 4,8 assassinatos a cada 100 mil mulheres, colocando-o como 
o 5º país com maior incidência desse tipo de crime. Em relação aos assassinatos de 
mulheres, dos 4.762 registrados em 2013, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo 
que em 33,2% dos casos, o crime foi praticado pelo ex-companheiro ou companheiro. 
Esses quase 5 mil óbitos representam uma média de 13 homicídios femininos diários 
em 2013. 
O sistema prisional brasileiro há muito tempo representa um aspecto negativo 
no que se refere aos direitos humanos. Dados de 2014 e 2015 indicam que os presídios 
brasileiros excederam seu limite de pessoas reclusas, ocorrendo superlotação 
prisional. 
Destarte, os direitos humanos não são um processo estático; eles surgem de 
uma constante tensão que não se encerra com a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos. No entanto, é na recorrência da luta e da resistência que os direitos humanos 
se fortalecem contra as formas de perpetuação da desigualdade, que violam o princípio 
dignidade da pessoa humana (LOPES, 2018). 
5 CONCEITO DE CIDADANIA E SUA RELEVÂNCIA NO ESTADO DEMOCRÁTICO 
 
30 
 
A cidadania habilita o indivíduo a participar ativamente na vida do Estado como 
membro da sociedade política, conforme Siqueira e Oliveria (2016). Ao ser reconhecido 
como cidadão, ele se torna parte integrante da estrutura estatal, legitimado a exercer 
seus direitos perante o Estado. É de grande importância aprimorar os meios e 
instrumentos para estabelecer uma relação justa e produtiva entre o Estado e o 
cidadão. A cidadania pode ser compreendida como o conjunto de normas que regem, 
por um lado, o respeito e a obediência que o cidadão deve ao Estado e, por outro, a 
proteção e os serviços que o Estado deve oferecer, na medida do possível, ao cidadão. 
Os direitos humanos, no Estado Democrático, são garantidos a todos os 
indivíduos. O cidadão é aquele que se envolve na dinâmica do Estado, buscando 
preservar, conquistar ou proteger seus direitos. A cidadania representa o exercício 
efetivo desse engajamento político. É o momento em que o ser humano se torna um 
agente político em sentido amplo, contribuindo significativamente a sociedade em que 
vive. De acordo com Garcia (1998), a cidadania é a essência da liberdade, o ponto mais 
alto das capacidades de ação individual, o aspecto fundamentalmente político da 
liberdade. Ela também argumenta que a ideia de uma liberdade puramente defensiva, 
entendida primordialmente como resistência a um poder arbitrário, não é mais 
adequada para o nosso tempo. 
A liberdade deve se tornar cada vez mais participativa, o cidadão deve estar 
envolvido na formulação das principais decisões políticas, deve participar de maneira 
mais ativa na administração de questões locais e também na gestão de serviços 
econômicos e sociais, como a Seguridade Social, e, principalmente, na implementação 
de medidas que protejam as liberdades,

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