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CURSO JURIS WAY - Dívidas em Relações de Consumo (10 2015)

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Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
1 
 
Dívidas em Relações de Consumo 
Direito do Consumidor 
 
Coordenado por: 
 
Lídia Salomão 
Descrição: 
A questão das dívidas nas relações de consumo constitui tema de extrema 
importância. Por isso, torna-se necessário conhecer duas práticas comerciais 
reguladas pelo Código de Defesa do Consumidor que traduzem a forma como elas 
operam nas relações de consumo. 
Este estudo temático tem como escopo apresentar a cobrança de dívidas e a 
manutenção de informações sobre a pessoa do consumidor em bancos de dados e 
cadastros, assim como mostrar que são práticas lícitas e permitidas pelo Código de 
Defesa do Consumidor. 
Entretanto, são temas bastante presentes em nosso dia-a-dia, uma vez que os 
titulares destes direitos muitas vezes transgridem o permitido pelo Código de 
Defesa do Consumidor e causam diversas lesões aos consumidores. 
Portanto, este curso visa esclarecer, orientar e informar sobre as questões relativas 
a estas práticas de consumo intimamente ligadas ao endividamento. 
 
Carga Horária Estimada: 18 horas 
Quantidade de módulos: 4 
Prazo mínimo para conclusão: 5 dias após confirmação de pagamento da 
inscrição 
 
Tipo de Certificado Escolhido: Eletrônico (em PDF) 
Conteúdo Programático: 
1 - Relação de consumo: conceito. 2 - Elementos da relação de consumo - 
consumidor, fornecedor, produto e serviço e nexo causal: posições na relação; 
conceitos; atributos. 3 - Os direitos básicos do consumidor: enumeração pelo 
Código de Defesa do Consumidor (art. 6º); aplicação e função de cada direito. 4 - 
Os bancos de dados e cadastros de consumo: conceitos; atribuições; funções; 
distinção, forma e conteúdo. 5 - Inscrição indevida: responsabilidade civil subjetiva 
e objetiva; elementos do ato ilícito; danos; ações judiciais: ações indenizatórias, 
medida cautelar. 6 - Direitos do consumidor: direito ao acesso às informações em 
seu nome, direito à comunicação; direito à retificação. 7 - Direito do fornecedor à 
negativação: prazo prescricional da inscrição. 8 - Consumidor inadimplente. 9 - 
Sanções civis, penais e administrativas por descumprimento à Seção VI do Capítulo 
V do CDC. 10 - Cobrança de dívidas: previsão legal; aplicação; requisitos; exercício 
regular do direito; limitação; ações permitidas e ações proibidas. 11 - Repetição do 
indébito: conceito; características; aplicação; requisitos objetivos; requisito 
subjetivo; meio de cobrança; juros e correção monetária. 12 - Direito à indenização 
por cobrança indevida. 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
2 
 
1 - Os elementos da relação jurídica de consumo 
Lídia Salomão 
Advogada atuante em Belo Horizonte/MG, graduada em Direito pela PUC-
MG, pós graduada em Direito Civil e Processual Civil pela UNIPAC. Tel: (31) 
3227.3388 
 
1.1 - Introdução 
Toda relação jurídica é composta por um sujeito ativo, que se beneficia da 
norma; um sujeito passivo, sobre o qual incidem os deveres impostos pela 
norma, um objeto, que corresponde ao bem sobre o qual recai o direito e 
um fato propulsor, que vincula o sujeito ativo ao sujeito passivo. 
 
A relação jurídica de consumo não foge a esta regra e tem como sujeito 
ativo o consumidor (a parte protegida pela Lei 8.078/90), como sujeito 
passivo o fornecedor (pessoa que desenvolve atividade voltada para o 
consumidor), como objeto o produto ou serviço e um fato propulsor 
(contratual ou extracontratual) que liga os sujeitos. 
 
Veremos a seguir um pouco mais sobre cada um dos componentes da 
relação jurídica de consumo. 
1.2 - Consumidor 
O CDC conceitua consumidor de forma bastante ampla, mas objetiva, em 
seu art. 2º: 
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza 
produto ou serviço como destinatário final. 
Primeiramente mister se faz dizer que este é considerado um conceito 
"relacional", pois se não existir uma relação jurídica através da qual uma 
pessoa (que encontra-se em um pólo da relação) adquire ou utiliza produto 
ou serviço de outra (que encontra-se em outro pólo da relação), não há 
relação de consumo e portanto não há consumidor. A existência do 
consumidor é determinada pela existência do fornecedor e a relação entre 
ambos. 
Tanto as pessoas naturais como jurídicas que obtenham ou utilizem o 
produto ou serviço englobam-se neste conceito. Contudo, as pessoas 
jurídicas de cunho empresarial são incluídas como consumidoras, desde que 
sejam destinatárias finais. 
Assim, o CDC admite que a pessoa jurídica seja beneficiada por suas 
normas protetivas, desde que seja destinatária final do produto ou serviço. 
 
Observe que a norma consumerista determina que para ser consumidor, a 
pessoa física ou jurídica deve ser destinatário final. 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
3 
 
Neste sentido, surgiram duas correntes doutrinárias que interpretam a 
expressão "destinatário final": a corrente finalista e a corrente maximalista. 
 
Corrente finalista: Para os que defendem esta corrente, o produto ou 
serviço deve cumprir todas as etapas da cadeia econômica até chegar ao 
seu destino final, que tem como titular o consumidor. Assim, o consumidor 
é aquele que adquire o produto para uso próprio e de sua família, não 
englobando no conceito de consumidor o profissional que adquire o bem 
para o uso em sua profissão. 
Corrente maximalista: Para os que defendem esta corrente, o consumidor 
também pode ser o profissional, desde que retire o produto do mercado e o 
use como destinatário final. 
O STJ adota a teoria finalista partindo-se sempre do exame da 
vulnerabilidade do consumidor, o que abre algumas exceções. 
 
Consumidores equiparados 
 
No decorrer do CDC, foram inseridos desdobramentos do conceito de 
consumidor conforme as necessidades de cada matéria abordada. 
 
A coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja 
intervindo na relação de consumo, também pode ser tratada como 
consumidora. Isto acontece para que haja tutela dos interesses meta 
individuais das categorias potenciais de consumo previstas no Título III - Da 
defesa do consumidor em juízo. (parágrafo único, art. 2º do CDC) 
O art. 17 equipara "aos consumidores todas as vítimas do evento". As 
pessoas contempladas pelo art. 17 são tratadas como consumidores, pois o 
dispositivo visa proteger aqueles que, não sendo consumidores, sofrem um 
dano em virtude de um acidente de consumo. Isso decorre da presença de 
tal dispositivo na Seção de responsabilidade pelo fato do produto ou do 
serviço. 
Já o art. 29 equipara aos consumidores as pessoas, determináveis ou 
não, expostas às práticas comerciais, incluindo a oferta, publicidade, 
práticas abusivas, cobrança de dívidas, bancos de dados e cadastro de 
consumidores e a proteção comercial. 
Neste caso, toda pessoa exposta a estas práticas comerciais é considerada 
consumidor em potencial. 
1.3 - Fornecedor 
No outro pólo da relação jurídica de consumo encontra-se o fornecedor. O 
CDC o classificou como todo e qualquer praticante de uma atividade 
econômica dirigida ao mercado de consumo. Abrange, desta forma, o 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
4 
 
produtor, o fabricante, o importador, o exportador, o comerciante, o 
prestador de serviços, entre outros. 
Assume a posição de fornecedor todo aquele que desenvolve atividade de 
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, 
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de 
serviços. 
Observe que para conceituar o fornecedor a lei consumerista separa 
o fornecimento de produtos do fornecimento de serviços. Assim: 
a) É fornecedor quem desenvolve atividade de produção, montagem, 
criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou 
comercialização de produtos. 
b) É de igual maneira fornecedor quem desenvolveatividade de prestação 
de serviço. 
Ou seja, todo aquele que desenvolve uma atividade tipicamente profissional 
é considerado fornecedor, e portanto, sujeito aos deveres impostos pela Lei 
8.078/90. 
Mas, independentemente da separação entre o fornecimento de produtos e 
serviços, cediço é que todos os profissionais que participam da cadeia de 
fornecimento (de produção, fabricação, transporte e distribuição de 
produtos, bem como da criação e execução do serviço) são fornecedores. 
Ou seja, para ser fornecedor, o profissional não precisa ter relação direta 
com o consumidor, basta que tenha participado do fornecimento em algum 
momento. 
 
Enfim, todo aquele que aliena bem ao consumidor, cede-lhe o uso do bem a 
qualquer título ou presta-lhe serviços é fornecedor. A profissionalidade é 
que determina a incidência da norma jurídica consumerista. 
Outra característica que determina quem é fornecedor é a remuneração. 
Mais à frente veremos que o CDC conceitua o serviço como qualquer 
atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração. O 
conceito de serviço complementa o conceito de fornecedor, posto que para 
ser fornecedor de serviços, é indispensável a remuneração, direta ou 
indireta. 
 
A Lei 8.078/90 dispõe ainda no art. 3º: "Fornecedor é toda pessoa física ou 
jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes 
despersonalizados..." 
Desta forma o fornecedor pode ser: 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
5 
 
- Pessoa física - qualquer um que, a título singular, mediante desempenho 
de atividade mercantil ou civil e de forma habitual coloque no mercado 
produtos ou serviços; 
- Pessoa jurídica pública ou privada, nacional ou estrangeira - qualquer 
pessoa jurídica que faça parte de uma associação mercantil ou civil e da 
mesma forma que a pessoa física, desenvolva a atividade de forma 
habitual. 
Lembre-se ainda que a lei confere esta titularidade também ao Poder 
Público e ao estrangeiro (aquela pessoa jurídica que presta serviços no 
território nacional). 
 
- Entes despersonalizados - embora não dotados de personalidade jurídica, 
estes exercem ou exerceram atividades produtivas de bens e serviços e não 
são excluídos pela Lei 8.078/90. Como exemplo destes entes podemos 
citar a massa falida. 
O art. 12, inserido na Seção II - Da responsabilidade pelo Fato do Produto e 
do Serviço, preceitua o que vem a ser fornecedor distinguindo-o de acordo 
com a atividade econômica desenvolvida para, assim, responsabilizá-lo pelo 
evento danoso. 
Art. 12, caput, CDC. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou 
estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência 
de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos 
decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, 
manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem 
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e 
riscos. 
Neste ponto, cumpre mostrar que fornecedor é gênero do qual são espécies 
o fabricante, o comerciante, o importador, etc.. Por este motivo, quando a 
intenção do legislador é responsabilizar apenas uma(s) espécie(s) de 
fornecedor(es), ele aponta sua intenção ( como fez no art. 12), do 
contrário, apenas utiliza "fornecedor" para que todos sejam 
responsabilizados. Segue uma jurisprudência a respeito: 
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. FATO DO PRODUTO. CDC. 
CORPO ESTRANHO ENCONTRADO EM GARRAFA DE REFRIGERANTE. A 
empresa recorrente, por força do art. 12, caput, do CDC, responde 
objetivamente pela reparação de danos causados por defeitos do produto, 
advindos tanto da fabricação, quanto manipulação e/ou acondicionamento 
do mesmo. Prova testemunhal que comprova a tese apresentada na inicial. 
Caracterizado o dano moral diante do abalo psicológico sofrido pelo 
consumidor ao encontrar corpo estranho no interior de garrafa de 
refrigerante, após a ingestão do produto. RECURSO IMPROVIDO. (Recurso 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
6 
 
Cível Nº 71000741769, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, 
Relator: Maria José Schmitt Santanna, Julgado em 23/08/2005) 
Então, quais são estas figuras do art. 12? 
O fabricante é aquele que realiza atividade econômica de transformação 
de produtos, enquadra-se neste conceito o manufaturador final, o 
manufaturador de componentes, de matérias-primas e o montador. 
O produtor é quem desenvolve atividade econômica extrativa ou 
agropecuária, ou seja, no âmbito do CDC é o fornecedor de produtos não 
industrializados. 
O construtor coloca no mercado um produto imobiliário. Estes três são 
colocados pelo CDC como responsáveis reais pelo dano. 
O importador é responsável presumido e é aquele que introduz, de forma 
lícita ou ilícita, mercadorias de origem estrangeira no mercado nacional. 
Cabe lembrar, que se trata de importador tanto aquele que introduz no 
mercado nacional produto final como o de componente. 
 
O comerciante é aquele que realiza atividades de intermediação com o 
intuito lucrativo. 
Fornecedor equiparado 
A figura do fornecedor equiparado foi criada por Leonardo Roscoe Bessa. 
Cláudia Lima Marques, em sua obra Manual de direito do consumidor, ao 
expor esta nova visão de fornecedor escreve com argumentos do eminente 
autor: 
"... aquele terceiro na relação de consumo, um terceiro apenas 
intermediário ou ajudante da relação de consumo principal, mas que atua 
frente a um consumidor (aquele que tem seus dados cadastrados como 
mau pagador e não efetuou sequer uma compra) ou a um grupo de 
consumidores (por exemplo, um grupo formado por uma relação de 
consumo principal, como a de seguro de vida em grupo organizado pelo 
empregador e pago por este), como se fornecedor fosse (comunica registro 
no banco de dados, comunica que é estipulante nos seguro de vida em 
grupo, etc.)." (MARQUES, Cláudia Lima, BENJAMIM, Antônio H. V., BESSA, 
Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2007, pág. 83) 
ITEM EXTRA: O fornecedor “equiparado” 
 
Teoria interessante é a do fornecedor equiparado criada por Leonardo 
Roscoe Bessa. O autor ampliou o campo de incidência do Código de Defesa 
do Consumidor, por meio de uma visão mais abrangente do conceito de 
fornecedor. 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
7 
 
Para Bessa, o “CDC ao lado do conceito genérico de fornecedor 
(caput, art. 3º), indica e detalha, em outras passagens, atividades que 
estão sujeitas ao CDC. Talvez, o melhor exemplo seja o relativo aos bancos 
de dados e cadastros de consumidores (art. 43, CDC)”.[104] A esse 
respeito, entende o doutrinador que, “até a edição da Lei n. 8.078/90, as 
atividades desenvolvidas pelos bancos de dados de proteção ao crédito 
(SPC, SERASA, CCF), não possuíam qualquer disciplina legal. A 
regulamentação integral de tais atividades surgiu justamente com o Código 
de Defesa do Consumidor, considerando sua vinculação direta com a 
crescente oferta e concessão de crédito no mercado. Portanto, não há como 
sustentar, ainda que se verifique que a entidade arquivista não atenda a 
todos os pressupostos do conceito de fornecedor do caput do art. 3º, que 
não se aplica o CDC”.[105] 
 
 
 
 
O Superior Tribunal de Justiça, ainda que de forma indireta, corroborou, 
neste tema, com a tese apresentada ao editar a Súmula 359, que prevê: 
“Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a 
notificação do devedor antes de proceder à inscrição”. Constata-se, desta 
forma, que ao mantenedor do cadastro de inadimplentes foi imposta uma 
obrigação típica daquelas direcionadas ao fornecedor no mercado de 
consumo. 
Claudia Lima Marques bem resumiu a teoria do fornecedor equiparado, 
definindo-o como “aquele terceiro na relação de consumo, um terceiro 
apenas intermediário ou ajudanteda relação de consumo principal, mas que 
atua frente a um consumidor (aquele que tem seus dados cadastrados 
como mau pagador e não efetuou sequer uma compra) ou a um grupo de 
consumidores (por exemplo, um grupo formado por uma relação de 
consumo principal, como a de seguro de vida em grupo organizado pelo 
empregador e pago por este), como se fornecedor fosse (comunica o 
registro no banco de dados, comunica que é estipulante no seguro de vida 
em grupo etc.)”.[106] 
Leonardo Roscoe Bessa entende possível estender a teoria do 
fornecedor equiparado para outras situações relacionadas com a atividade 
de consumo, como ocorre com a publicidade, ou seja, todos que a 
promovem direta ou indiretamente seriam equiparados a fornecedor. “O 
anunciante no caso é um fornecedor equiparado e está sujeito, portanto, à 
disciplina do CDC.”[107] 
Entretanto, o STJ nesse ponto discorda sobre o tema. O veículo de 
comunicação que veicula publicidade enganosa ou abusiva e, nos termos da 
teoria em comento, seria um exemplo de fornecedor equiparado, não vem 
sendo responsabilizado, conforme entendimento expresso no REsp 
1.157.228: “A responsabilidade pela qualidade do produto ou serviço 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
8 
 
anunciado ao consumidor é do fornecedor respectivo, assim conceituado 
nos termos do art. 3º da Lei n. 8.078/1990, não se estendendo à empresa 
de comunicação que veicula a propaganda por meio de apresentador 
durante programa de televisão, denominada ‘publicidade de palco’” (REsp 
1.157.228, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, 4ª T., DJe 27-4-2011). 
Sobre sua teoria, conclui Bessa que o “fornecedor é visto como quem 
exerce a atividade especificamente regulada e não mais de modo genérico 
como aquele que atua profissionalmente (mediante remuneração) no 
mercado de consumo. Daí fica fácil perceber que a ideia da relação de 
consumo, baseando-se nos conceitos dos arts. 2º e 3º do CDC, não é o 
melhor método para identificar todas as situações de aplicação do Código de 
Defesa do Consumidor”.[108] 
Para Lima Marques, a “figura do fornecedor equiparado, aquele que não 
é fornecedor do contrato principal de consumo, mas é intermediário, antigo 
terceiro, ou estipulante, hoje é o ‘dono’ da relação conexa (e principal) de 
consumo, por deter uma posição de poder na relação outra com o 
consumidor. É realmente uma interessante teoria, que será muito usada no 
futuro, ampliando — e com justiça — o campo de aplicação do CDC”.[109] 
 
(Item extra retirado do livro Direito do Consumidor Esquematizado, 
Fabrício Bolzan). 
 
1.4 - Produto 
O produto tem o sentido de bem, seja este móvel ou imóvel, material ou 
imaterial, conforme define a Lei 8.078/90. 
Como esclarecem os autores do anteprojeto, seria melhor falar-se em bem 
e não produtos. Isto ocorre pelo seguinte motivo: o termo bem é mais 
abrangente e se haverá de cuidar de bens como efetivos objetos das 
relações de consumo. 
Com a devida clareza, o eminente professor Sílvio Rodrigues diz que 
bens "são coisas que, sendo úteis aos homens, provocam a sua cupidez e, 
por conseguinte, são objeto de apropriação privada." (RODRIGUES, 
Silvio. Direito civil. 1. ed. São Paulo: Max Limonad. 1964, p. 119). 
Desta maneira, para o CDC, qualquer objeto de interesse para a relação 
jurídica e destinado a satisfazer uma necessidade do consumidor, é 
entendido como bem. 
Já a diferenciação de produto móvel ou imóvel nos é dada pela lei civil, uma 
vez que o CDC determinou que produto é qualquer bem, assim: 
Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural 
ou artificialmente. 
Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais: 
I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram; 
II - o direito à sucessão aberta. 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
9 
 
Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis: 
I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, 
forem removidas para outro local; 
II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se 
reempregarem. 
 
Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de 
remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação 
econômico-social. 
Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais: 
I - as energias que tenham valor econômico; 
II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes; 
III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações. 
 
Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem 
empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa 
qualidade os provenientes da demolição de algum prédio. 
 
A utilização de produto material ou imaterial ocorreu como forma de 
abranger tudo o possível na intenção de proteger o consumidor. Para o 
eminente Desembargador Rizzatto Nunes, produtos imateriais "São 
produtos, claro, que sempre estão acompanhados de serviços." (NUNES, 
Rizzatto.Curso de Direito do Consumidor, 3 ed., São Paulo: Saraiva, 2008, 
pág. 92, rodapé). 
Contudo, o CDC não se limita apenas a classificar o produto como móvel, 
imóvel, material e imaterial. Mais à frente, nos incisos I e II do art. 26, o 
CDC dispõe sobre produtos duráveis e não duráveis. 
O produto durável é aquele que não extingue com o tempo e o produto 
não durável é aquele que extingue pelo uso. 
1.5 - Serviço 
Conforme preceitua o parágrafo 20 do art. 30 do CDC: 
Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante 
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e 
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. 
O conceito de serviços fornecido pelo CDC gera algumas confusões quando 
dispõe que podem ser atividades de natureza bancária, financeira, de 
crédito e securitária. 
A incidência do CDC nos contratos bancários é matéria já pacificada na 
doutrina e jurisprudência. O mesmo se dá com as atividades de natureza 
financeira: 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
10 
 
EMBARGOS INFRINGENTES - SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO - 
REAJUSTE LEGAL - TAXA REFERÊNCIA DE JUROS - 
INCONSTITUCIONALIDADE - INPC - SUJEIÇÃO À PRINCIPIOLOGIA DO CDC 
(LEI N. 8.078/90) - MULTA DE 10% - EMBARGOS INACOLHIDOS. Segundo 
termos do artigo 3º, § 2º, da Lei 8.078/90, serviço é qualquer atividade 
fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de 
natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes 
das relações de caráter trabalhista, resultando, daí, a aplicabilidade desse 
Diploma Legal nas relações financeiras, por ser certo que tais entidades são 
prestadoras de serviços de que são consumidores finais os clientes com 
quem firmam os mais diversos pactos, concernentes aos negócios 
financeiros. (...) (TJMG, EMBARGOS INFRINGENTES N° 1.0024.00.074569-
5/002 NA APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.00.074569-5/001, Relator: 
Desembargador MAURO SOARES DE FREITAS, Data do julgamento: 
13/03/2008) 
De igual forma as atividades de natureza securitária: seguros, planos de 
previdência privada, etc.. 
Em suma, trata-se de atividade prestada pelo fornecedor, inclusive serviços 
públicos e serviços prestados por concessionárias e permissionárias de 
órgãos públicos, sem o caráter trabalhista. 
Trata-se de uma atividade fornecida no mercado de consumo mediante 
remuneração do fornecedor. Sem a remuneração não há serviço para o 
CDC. 
De igual forma, se o serviço tiver caráter trabalhista, não está englobado no 
conceito de serviço da norma consumerista, com exceção das empreitadas 
de mão-de-obra ou empreitadas mistas. 
Vale lembrar que, os órgãos públicos, também são responsáveis pelos 
serviços prestados inadequadamente, cabendo-lhes a mesma 
responsabilidade das empresas privadas, mas isso veremos em outro 
estudo. 
1 - Os direitosbásicos do consumidor 
Lídia Salomão 
Advogada atuante em Belo Horizonte/MG, graduada em Direito pela PUC-
MG, pós graduada em Direito Civil e Processual Civil pela UNIPAC. Tel: (31) 
3227.3388 
1.1 - Introdução 
A CR/88 foi um marco para os direitos do consumidor, pois foi a primeira 
vez na história do nosso país que houve menção a estes direitos. 
 
Com a determinação no inc. XXXII do art. 5º que "O Estado promoverá, na 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
11 
 
forma da lei, a defesa do consumidor", a Carta Magna garantiu a defesa e 
proteção do consumidor. 
O CDC, como lei ordinária, consolida esta determinação e elenca no capítulo 
III do Título I os direitos básicos do consumidor. Estes direitos são 
considerados os essenciais, principais, os efetivamente garantidos ao 
consumidor, apesar de não serem novidade. Obviamente deles provêem 
outros, cuja importância não é menor. O que importa é que o legislador 
dispôs os essenciais e estes estudaremos neste curso. 
1.2 - A função dos direitos básicos 
A lista de direitos básicos do art. 6º do CDC visa proteger o consumidor, 
sujeito vulnerável da relação de consumo. Ou seja, como não há igualdade 
de posição entre consumidor e fornecedor, o estado interveio e dispôs tais 
direitos básicos visando o equilíbrio entre estes sujeitos. Vejamos um 
julgado que demonstra a ofensa a alguns dos direitos básicos do 
consumidor: 
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. 
RESCISÃO DE CONTRATO. DIREITO DO CONSUMIDOR. PRODUTO NOCIVO 
À SAÚDE E SEGURANÇA. INFORMAÇÃO INSUFICIENTE. CONDUTA 
CONTRATUAL ABUSIVA E ENGANOSA. - A prova dos autos não deixa 
dúvidas acerca da conduta enganosa e abusiva da empresa requerida na 
colocação e venda do seu produto no mercado. Ausência de insurgência da 
apelante quanto à inversão do ônus da prova no processo. Art. 6º, inc. VIII, 
CDC. - Conduta atentatória a diversos direitos do consumidor. Art. 6º, CDC. 
Direito à proteção da vida, saúde e segurança (inc. I). Direito à informação 
adequada e clara (inc. III). Direito à proteção contra a publicidade 
enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como 
contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de 
produtos e serviços (inc. IV). - Caso concreto. Prova suficiente a 
demonstrar que o produto vendido ao consumidor causou problemas à sua 
saúde. Importante notar, ainda, que a hipótese dos autos apresenta notável 
agravante, pois o produto em tela foi vendido sob a promessa de melhora à 
saúde do consumidor. 
E se o fornecedor se utiliza justamente de promessas de contribuição e 
melhora à saúde do consumidor para vender o seu produto e, 
posteriormente, esse mesmo produto se mostra, ao contrário, nocivo à sua 
saúde, fica configurada com evidência a sua conduta enganosa e abusiva. 
Nesse contexto, o consumidor é claramente induzido em erro pelo 
fornecedor, que desvirtua informações sobre o produto para conseguir a sua 
venda. Mantido o deferimento do pedido do consumidor de rescisão do 
contrato. Inaplicável o prazo do art. 49 do CDC, que trata da hipótese de 
arrependimento do consumidor. Apelo improvido. (Apelação Cível Nº 
70020637252, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, 
Relator: Dálvio Leite Dias Teixeira, Julgado em 06/12/2007). 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
12 
 
1.3 - Lista dos direitos básicos do consumidor 
O art. 6º do CDC lista os direitos básicos do consumidor. 
Art. 6º, CDC. São direitos básicos do consumidor: 
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por 
práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou 
nocivos; 
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e 
serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas 
contratações; 
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, 
com especificação correta de quantidade, características, composição, 
qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; 
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos 
comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas 
abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; 
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações 
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as 
tornem excessivamente onerosas; 
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, 
individuais, coletivos e difusos; 
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à 
prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, 
coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e 
técnica aos necessitados; 
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do 
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for 
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras 
ordinárias de experiências; 
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. 
 
Vejamos cada um em separado. 
1.4 - Direito de proteção da vida, saúde e segurança 
Ao consumidor é garantida a proteção da vida, saúde e segurança contra os 
riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços 
considerados perigosos ou nocivos. 
Em uma sociedade de risco como a que vivemos, fica claro que este é um 
direito preliminar, atrelado ao princípio maior - dignidade da pessoa 
humana - art. 4º,caput, CDC, posto que muitos produtos, serviços e 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
13 
 
práticas comerciais são perigosos e nocivos para a vida, saúde e segurança 
do consumidor. 
Estes são considerados bens jurídicos de alta relevância e por este motivo 
tem prioridade de proteção. Cláudia Lima Marques, em sua obra Manual de 
direito do consumidor, comenta que: 
"... o sistema do CDC, no mercado de consumo, impõe a todos os 
fornecedores um dever de qualidade dos produtos e serviços que presta e 
assegura a todos os consumidores (art. 2º, caput e parágrafo único, art. 29 
e art. 17 do CDC) um direito de proteção, fruto do princípio de confiança e 
de segurança (art. 4º, V, do CDC)." (MARQUES, Cláudia Lima, BENJAMIM, 
Antônio H. V., BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pág. 56). 
1.5 - Direito de liberdade de escolha e igualdade nas contratações 
O consumidor também tem direito à educação e divulgação sobre o 
consumo adequado dos produtos e serviços para que possa fazer sua livre 
escolha. Esta, por sua vez, implica em uma posterior contratação, que 
realizada de forma clara gera igualdade entre seus sujeitos. 
A inclusão destes direitos mostra que o CDC é uma norma típica de 
dirigismo contratual, pois a liberdade de escolha e a igualdade nas 
contratações devem se fazer presentes em todos os contratos de consumo. 
1.6 - Direito à informação 
O consumidor tem direito à informação adequada e clara sobre os 
diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, 
características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos 
que apresentem. 
Uma informação clara e adequada demonstra a transparência que deve 
imperar na relação de consumo. Importa aqui registrar que esta 
transparência não deve ocorrer apenas no momento pré-contratual, quando 
o serviço é oferecido. Deve incidir também na conclusão do contrato e no 
pós-contrato. 
Importa mostrar que este direito aparece em outros momentos da lei 
consumerista, como por exemplo, nos arts. 12, 14, 30, 46, entre outros. 
 
Portanto, este direito visa propiciar ao consumidor a opção firme quanto à 
contratação do produto ou serviço oferecido. 
1.7 - Direito à transparência e à boa-fé 
Os princípios da transparência e boa-fé(garantidos pelo art. 4º, caput, 
CDC) mostram-se à medida que o CDC garante a proteção do consumidor 
contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou 
desleais e práticas e cláusulas abusivas ou impostas nos contratos. 
 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
14 
 
Como anteriormente citado, o CDC objetiva basicamente a proteção do 
consumidor. Por este motivo, em seu rol de proteção, proibiu o abuso e 
impôs a transparência e a boa-fé nos métodos comerciais, na publicidade e 
nos contratos. 
 
Mais uma vez citamos a eminente Cláudia Lima Marques, em sua obra 
Manual de direito do consumidor, que atrela um princípio ao outro: 
 
"... No sistema do CDC, porém, a transparência, a informação correta, está 
diretamente ligada à lealdade, ao respeito no tratamento entre parceiros. É 
a exigência de boa-fé quando da aproximação (mesmo que extra ou pré-
contratual) entre fornecedor e consumidor." (MARQUES, Cláudia Lima, 
BENJAMIM, Antônio H. V., BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do 
consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pág. 57). 
 
Cumpre lembrar que a boa-fé atualmente não se limita apenas à boa-fé 
subjetiva (aquela que aponta que as partes/sujeitos devem agir com 
transparência), mas alcança a boa-fé objetiva (aquela que preconiza que 
uma parte deve zelar pela outra ao realizar um contrato e durante a 
execução deste - CC, art. 422). 
 
Sobre as práticas comerciais, a publicidade e os contratos de consumo, a 
Lei 8.078/90 dispõe separadamente em seu corpo. Contudo, as veremos 
separadamente em outros momentos, posto que não são objetos do 
presente estudo. 
 
1.8 - Direito à proteção contratual 
 
O CDC também protege o consumidor nos contratos de consumo. Para isso 
garante: 
 
1) a modificação das cláusulas contratuais que estabelecem prestações 
desproporcionais. 
 
2) a revisão das cláusulas contratuais em razão de fatos supervenientes que 
as tornem excessivamente onerosas. 
 
Nesta hipótese, a cláusula contratual era eqüitativa quando da celebração 
do contrato. Contudo, posteriormente alguns fatos tornaram o contrato 
excessivamente oneroso ao consumidor e por este motivo a Lei 8.078/90 
permite que o Poder Judiciário reveja a esta cláusula que desequilibra o 
contrato e que por fato superveniente, onerou excessivamente o 
consumidor. 
 
EMENTA - Aplicam-se aos contratos de adesão as normas do Código de 
Defesa do Consumidor. - O art. 6º do CDC permite ao Poder Judiciário 
modificar as cláusulas referentes ao preço, ou qualquer outra prestação a 
cargo do consumidor se as obrigações assumidas se tornarem 
desproporcionais em razão de fato superveniente, ainda que este seja 
previsível, imaginável ou esperado. - É ilegal o uso da Tabela Price é ilegal, 
não somente porque por aquele método ou sistema são cobrados juros de 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
15 
 
forma composta (juros sobre juros), mas, também, porque viola o princípio 
da transparência insculpido no CODECON.- A imposição da instituição 
financeira de que se faça o seguro em contrato do sistema financeiro da 
habitação, com pessoa integrante do mesmo grupo econômico seu, revela 
venda casada, prática abusiva e repudiada pelas leis consumeristas. (TJMG, 
Apelação nº 1.0024.06.002606-9/001(1), Relator: Desembargador 
EDIVALDO GEORGE DOS SANTOS, Data do julgamento: 11/03/2008). 
Cumpre ainda ressaltar que o comportamento das partes de acordo com a 
boa-fé (que norteia toda relação contratual de consumo) tem como 
conseqüência a possibilidade desta revisão do contrato celebrado entre elas. 
1.9 - Direito à prevenção e reparação de danos morais e materiais 
Ao consumidor é garantida a prevenção e reparação de danos patrimoniais 
e morais, individuais, coletivos e difusos. 
A garantia da prevenção indica o direito que o consumidor possui de evitar 
que o dano ocorra. Já a garantia de reparação indica o direito que o 
consumidor tem de ser devidamente indenizado pelo dano (efetivo prejuízo 
suportado por ele). 
Lembrete: 
 
O dano patrimonial é aquele que afeta o patrimônio do ofendido. O dano 
moral é aquele que afeta a personalidade, nome, imagem, privacidade da 
vítima, bem como o ânimo psíquico, moral e intelectual desta. Assim, todo 
dano que cause um distúrbio anormal na vida do indivíduo, será moral. 
 
A definição de direitos individuais, coletivos e difusos encontra-se nos 
incisos do parágrafo único do art. 81 do CDC, in verbis: 
"I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste 
código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares 
pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; 
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste 
código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, 
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por 
uma relação jurídica base; 
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os 
decorrentes de origem comum." 
1.10 - Direito de acesso à justiça e aos órgãos administrativos em 
geral 
O legislador, para facilitar a efetivação dos demais direitos dispostos no art. 
6º, entendeu por bem incluir como direito básico o acesso do consumidor 
aos órgãos judiciários e administrativos (como exemplo os Procons) com 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
16 
 
vistas à prevenção ou reparação de danos materiais e morais, individuais, 
coletivos ou difusos. Este acesso, portanto, assegurada a proteção jurídica, 
administrativa e técnica aos consumidores. 
1.11 - Direito de inversão do ônus da prova 
A possibilidade de inversão do ônus da prova é outro direito básico 
garantido ao consumidor. Para a facilitação da defesa do consumidor em um 
processo, o ônus da prova (que a ele incumbe) pode ser alterado e passar a 
incidir sobre o fornecedor. 
O CDC autoriza o juiz a inverter o ônus da prova em 02 casos: quando 
forem verossímeis as alegações ou quando o consumidor for 
hipossuficiente. 
Como bem pondera Rizzatto Nunes - em sua obra Curso de Direito do 
Consumidor, 3 ed., São Paulo: Saraiva, 2008, págs. 773 - apenas se 
presentes um destes casos é que ao juiz cabe inverter o ônus da prova, por 
isso a expressão "a critério do juiz" não designa discricionariedade ou 
subjetividade e sim aquilo que serve de base de comparação. 
 
Assim, o juiz pode inverter o ônus da prova em favor do consumidor 
quando segundo as regras ordinárias de experiência, for verossímil a 
alegação ou quando o consumidor for hipossuficiente. 
Verossimilhança das alegações 
A verossimilhança das alegações constitui o "juízo de probabilidade extraída 
de material probatório de feitio indiciário, do qual se consegue formar a 
opinião de ser provavelmente verdadeira a versão do 
consumidor" (THEODORO JR., Humberto. Direitos do consumidor. 4 ed., Rio 
de Janeiro: Forense, 2004, pág. 143) 
O juiz deve, então, analisar as alegações do consumidor e decidir segundo 
as suas regras de experiência se estas são verossímeis. 
Hipossuficiência do consumidor 
A hipossuficiência do consumidor "para fins de inversão do ônus da prova, 
tem sentido de desconhecimento técnico e informativo do produto e do 
serviço, de suas propriedades, de seu funcionamento vital e/ou intrínseco, 
de sua distribuição, dos modos especiais de controle, dos aspectos que 
podem ter gerado o acidente de consumo e o dano, das características do 
vício etc.." "(NUNES, Rizzatto, Curso de Direito do Consumidor, 3 ed., São 
Paulo: Saraiva, 2008, pág775). 
Destarte, a hipossuficiência do consumidor exigida pela lei não é a 
econômica e sim a técnica. Por isso o "pobre" no sentido econômico pode 
não ser considerado hipossuficiente se possui conhecimento técnico e 
informação sobre assunto sub judice. 
Curso - Dívidas em Relações deConsumo 
17 
 
1.12 - Direito à prestação adequada e eficaz de serviços públicos 
O consumidor, por fim, tem direito à adequada e eficaz prestação dos 
serviços públicos em geral. O CDC reafirma este direito quando preceitua 
em seu art. 22: 
Art. 22, CDC. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, 
permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são 
obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos 
essenciais, contínuos. 
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das 
obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a 
cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código. 
1.13 - Conclusão 
Após a análise destes direitos, verifica-se que o art. 6º, ao estabelecer as 
garantias fundamentais de proteção ao consumidor, resumiu todo o CDC. 
 
1 - Os bancos de dados e cadastros de consumo 
Lídia Salomão 
Advogada atuante em Belo Horizonte/MG, graduada em Direito pela PUC-
MG, pós graduada em Direito Civil e Processual Civil pela UNIPAC. Tel: (31) 
3227.3388 
1.1 - Introdução 
Os bancos de dados e cadastros de consumidores estão regulamentados 
basicamente pelo art. 43 e seus parágrafos no CDC. 
A função dos cadastros de consumidores é melhorar o relacionamento entre 
consumidor e fornecedor, não se presta a transferir informações sobre o 
consumidor a terceiros. 
Já a função dos bancos de dados é coletar, armazenar e fornecer 
informações a empresas, bancos, comércios, enfim, fornecedores que 
pretendem fazer consultas sobre a situação do consumidor que os procura. 
Assim, são os bancos de dados de proteção ao crédito o SPC (Serviço de 
Proteção ao Crédito), a Serasa, o CCF (Cadastro de Emitentes de Cheques 
sem Fundo), o CADIN (Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do 
Setor Público Federal), entre outros. 
1.2 - Do direito ao acesso às informações 
O artigo 43, caput do CDC traduz o direito do consumidor em ter acesso às 
informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e 
de consumo arquivados sobre ele e às suas fontes. 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
18 
 
Trata-se de um dispositivo bastante amplo, uma vez que todo e qualquer 
banco de dados e cadastros de informações que arquivem cadastros, fichas, 
registros e dados pessoais e de consumo que se referem ao consumidor, se 
submetem à norma consumerista. 
No que diz respeito à possibilidade de cobrança de valor pecuniário para o 
exercício deste direito, o CDC é omisso. Mas a doutrina entende que tal 
direito deve ser exercido gratuitamente. 
1.3 - Do direito à negativação 
O direito à negativação dos consumidores inadimplentes é legitimado pelo 
CDC através do §1º do art. 43, senão vejamos: 
§ 1° Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, 
verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter 
informações negativas referentes a período superior a cinco anos. 
Antes de qualquer alegação, cumpre falar que termo negativação é usado 
em nosso ordenamento como sinônimo de registro ou inscrição em bancos 
de dados. Isso porque, as informações constantes nos cadastros e bancos 
de dados revelam sempre uma situação de inadimplência do consumidor, ou 
seja, revelam informações negativas. 
Bem, certo é que a inclusão de um consumidor em um destes bancos de 
dados é feita frente à sua inadimplência. Desta maneira, o fornecedor só 
pode inseri-lo nestes se o consumidor não cumprir com a sua obrigação de 
pagar a dívida. 
A negativação permitida pela lei traduz, portanto, a existência de uma 
dívida não paga, vencida e de valor líquido e certo. Apenas após 
configuradas estas condições, o direito de negativação constitui exercício 
regular do direito. 
Aqui vale abrir um parênteses para mostrar o conflito existente entre os 
direitos do fornecedor e os direitos do consumidor. O fornecedor tem o 
direito de negativar o nome do consumidor inadimplente, mas e o 
consumidor? Qual o direito que possui se, por exemplo, achar que a dívida a 
qual está sendo cobrada é abusiva? Isso é muito comum de acontecer, ou 
seja, o consumidor se tornar inadimplente por acreditar que o valor cobrado 
pela dívida é abusivo. 
Para tanto, a única alternativa que o consumidor possui é recorrer ao Poder 
Judiciário. Apenas através de uma ação pode o consumidor discutir a 
abusividade da cobrança e então obter o cancelamento da negativação. 
1.4 - Conteúdo dos cadastros e bancos de dados 
A lei consumerista preceitua que "Os cadastros e dados de consumidores 
devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil 
compreensão,...” (primeira parte, §1º, art. 43). 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
19 
 
Isso demonstra a maior intenção desta norma, que é proteger o consumidor 
(parte hipossuficiente da relação de consumo). Assim, todas as informações 
devem ser claras, objetivas, verdadeiras e compreensíveis de modo que o 
consumidor possa facilmente entendê-las. 
Informações claras - equivalem a informações precisas, fiéis e completas a 
respeito do consumidor. 
Informações objetivas - equivalem a informações diretas, sem que 
envolvam juízo de valor ou subjetividade. 
Informações verdadeiras - equivalem a informações atualizadas. Isso 
significa que se o consumidor inadimplente paga sua dívida, seu nome deve 
ser imediatamente retirado dos registros de inadimplência, sob pena de 
sobre o arquivista incidir as sanções penais e civis que mais à frente 
analisaremos. 
 
Informações compreensíveis - equivalem a informações que não contenham 
códigos, linguagem técnica, difícil e em outro idioma. 
1.5 - O consumidor inadimplente 
Como visto, o fornecedor só pode inserir o nome do consumidor em bancos 
de dados se este for inadimplente. A inadimplência mostra-se pela ausência 
de pagamento de uma dívida e ela enseja apenas a inclusão do nome e 
dados do consumidor nos sistemas de proteção ao crédito, tudo que a isso 
extrapole é proibido pelo CDC. 
Neste sentido dispõe o curso "A cobrança das dívidas" que mostra que o 
CDC veda qualquer forma de cobrança abusiva, ou seja, aquela que expõe o 
consumidor ao ridículo, constrangimento ou ameaça. 
1.6 - Prazo 
No que tange ao prazo de negativação, a inscrição nestes bancos de 
inadimplentes (SPC, Serasa, etc.) pode ser mantida no máximo por 05 
(cinco) anos. 
O STJ já se manifestou a este respeito através da Súmula 323: 
Súmula 323 - A inscrição de inadimplente pode ser mantida nos serviços de 
proteção ao crédito por, no máximo, cinco anos. 
1.7 - Direito à comunicação 
O artigo 43, do CDC, em seu § 2º, determina que "a abertura de cadastro, 
ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá ser comunicada por 
escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele". 
Com esta determinação, o legislador pretendeu mostrar que a inclusão do 
nome do consumidor nestes cadastros somente tem validade se o mesmo 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
20 
 
tiver sido avisado de forma prévia e por escrito da inclusão. Esta é a 
chamada notificação premonitória. 
O eminente Desembargador Rizzato Nunes enumera em sua obra "Curso de 
Direito do Consumidor" três razões para a existência desta notificação: 
 
"a) respeitar direito constitucional da garantia da dignidade e imagem do 
consumidor; 
b) dar prazo para que o consumidor tome medidas (extrajudiciais ou 
judiciais) para se opor à negativação quando ilegal; ou 
c) ter chance de pagamento da dívida, impedindo a negativação (ou mesmo 
negociar a dívida)." (NUNES, Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor, 3 
ed., São Paulo: Saraiva, 2008, pág. 578). 
Notificação prévia 
O CDC não dispõe sobre o prazo que o fornecedor tem para avisar 
previamente o consumidor de que irá negativá-lo. Assim, deve-se conceder 
ao consumidorum prazo razoável para que pratique uma das alternativas 
acima dispostas. 
Ausência da notificação e reparação de danos 
Caso o consumidor não seja notificado, só tomando conhecimento da 
inscrição de seu nome em um Órgão de Proteção ao Crédito quando for, por 
exemplo, impedido de efetuar compras no comércio (e, diga-se de 
passagem, algo infelizmente muito comum atualmente), tem direito a 
reparação de danos. 
Isso se dá ao fato de que o direito de comunicação do armazenamento de 
informações sobre consumidor é violado, caracterizando abuso de direito 
por parte do fornecedor. 
Como visto, o direito à negativação é garantido por lei, no entanto, deixar 
de comunicar o consumidor da inclusão de seu nome no banco de dados, 
extrapola o que diz a Lei 8.078/90. 
Abaixo relacionamos duas jurisprudências do Eg. Tribunal de Justiça de 
Minas Gerais sobre a legitimidade passiva nas ações que pleiteiam 
indenização por danos pela ausência de notificação prévia do consumidor. 
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - INSCRIÇÃO DO NOME DO DEVEDOR NO SERVIÇO 
DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO - DEVER DE NOTIFICAÇÃO - ARTIGO 43, §2º 
CDC - COMPROVAÇÃO - DANOS MORAIS - NÃO OCORRÊNCIA - RECURSO 
CONHECIDO E NÃO PROVIDO. I - A obrigação de comunicar previamente ao 
devedor a inscrição de seu nome em cadastro restritivo é do órgão 
arquivista que o inclui, e não do credor, que apenas informa a existência da 
dívida. II - Ante a comprovação do envio da comunicação aludida no artigo 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
21 
 
43, §2°, do Código de Defesa do Consumidor, inexiste ato ilícito a amparar 
o pleito indenizatório. III - Recurso conhecido e não 
provido. (TJMG, APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0024.06.049896-1/001, 
Relator DES. BITENCOURT MARCONDES, Décima Quinta Câmara Cível, 
julgada em 14/02/2008). 
INDENIZAÇÃO - DANOS MORAIS - FALTA DE PRÉVIA COMUNICAÇÃO 
ESCRITA AO DEVEDOR - ARTIGO 43, § 2º DO CDC - DEVER DO ÓRGÃO DE 
PROTEÇÃO AO CRÉDITO.A cientificação do devedor sobre a sua inscrição no 
Órgão de Proteção ao Crédito, prevista no artigo 43, § 2º do CDC, constitui 
obrigação exclusiva da entidade responsável pela manutenção do cadastro, 
pessoa jurídica distinta da do credor, que tão-só informa da existência da 
dívida, por isso não sendo o credor parte passiva legítima por ato 
decorrente da administração do cadastro, na forma do parágrafo 4º do 
artigo 43 do CDC. (TJMG, Apelação n 1.0236.03.001231-4/001, Relatora 
DESEMBARGADORA EULINA DO CARMO ALMEIDA, Décima Terceira Câmara 
Cível, julgada em 09/3/2006). 
1.8 - Direito à retificação 
Caso o consumidor verifique que as informações sobre sua pessoa nos 
cadastros e bancos de dados encontram-se incorretas, pode exigir a 
correção (pela via judicial ou extrajudicial). 
O arquivista deve de imediato corrigir tais informações e dentro do prazo de 
05 (cinco) dias informar aos terceiros que tenham recebido a informação 
incorreta a sua alteração. 
1.9 - Entidades de caráter público 
Os bancos de dados e cadastros de consumidores, os serviços de proteção 
ao crédito e congêneres são, por força do CDC, considerados entidades de 
caráter público. 
A elevação dos bancos de dados e cadastros de consumidores, os serviços 
de proteção ao crédito e congêneres a entidades de caráter público implica 
em duas conseqüências: 
- estão sujeitos a habeas data (para o acesso do consumidor às informações 
e para a exigência de correção ou cancelamento dos dados incorretos a seu 
respeito); 
- prevalece o interesse público. 
Lembrete: 
 
O habeas data constitui um hábil e eficaz instrumento jurídico que assegura 
ao cidadão o acesso a informações constantes de registros ou bancos de 
dados públicos ou de entidades privadas, que administram informações de 
caráter público. 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
22 
 
Devido ao local onde se encontra inserido na CR/88, (Título II - "Dos 
Direitos e Garantias Fundamentais") pode-se perceber sua relevância em 
nosso ordenamento jurídico, bem como suas implicações. 
Art. 5º, LXXII - conceder-se-á "habeas data": 
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do 
impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades 
governamentais ou de caráter público; 
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo 
sigiloso, judicial ou administrativo; 
1.10 - Das sanções penais 
O CDC mais à frente, no Título "Das infrações penais" dispõe que constitui 
crime o desatendimento ao art. 43, caput e seu §3º: 
Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que 
sobre ele constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros: 
Pena Detenção de seis meses a um ano ou multa. 
Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação sobre consumidor 
constante de cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou 
deveria saber ser inexata: 
Pena Detenção de um a seis meses ou multa. 
Todos os dois dispositivos relacionam-se diretamente com a atividade de 
cadastros e bancos de dados de consumo de forma a: 
- proteger, o acesso do consumidor às informações que sobre ele constem 
nestes cadastros, bancos de dados, fichas e registros; 
- resguardar o direito do consumidor de exigir a imediata correção da 
informação sobre ele constante de cadastro, banco de dados, fichas ou 
registros que sabe ou deveria saber ser inexata. 
1.11 - Das sanções administrativas e civis 
Como visto, a inobservância do que determina o CDC gera aos arquivistas 
sanções penais. 
Entretanto, de igual forma incidem sanções administrativas e civis sobre os 
cadastros e bancos de dados. 
No Capítulo "Das sanções administrativas", a Lei 8.078/90 dispõe que 
qualquer inobservância às disposições do seu texto geram sanções 
administrativas. Cumpre acrescentar que estas sanções são impostas pela 
autoridade administrativa, no âmbito de sua atribuição (Procon) e possuem 
o condão de educar e inibir as condutas consideradas abusivas. 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
23 
 
As sanções civis, por sua vez, correspondem à reparação de danos. 
Sedimentado está em nosso ordenamento jurídico que a inscrição indevida 
é motivo suficiente para a condenação em indenização por danos morais e 
materiais. 
 
A obrigação de indenizar nasce da inscrição injusta, aleatória, inverídica e 
sem fundamento do nome do consumidor nestes cadastros de proteção ao 
crédito. Isso causa-lhe sérios prejuízos, quer seja de ordem moral, quer 
seja de ordem patrimonial. 
O dano moral pauta-se na ofensa à privacidade, honra e ao sentimento de 
dignidade da pessoa. Decorre da própria negativação injusta junto a órgãos 
de proteção ao crédito, não se exigindo prova de efetivo prejuízo sofrido ou 
a repercussão do fato. O dano decorre da própria inscrição. O lançamento 
indevido enseja angústia, constrangimento, vergonha, humilhação por algo 
que o consumidor não deve. 
Cumpre ainda lembrar que o STJ já garantiu por meio da Súmula 227 
que: "a pessoa jurídica pode sofrer dano moral". 
Os danos materiais são devidos quando os valores econômicos (como 
redução da renda ou da sua perspectiva, repercutindo no padrão de vida da 
vítima ou na formação de seu patrimônio) são atingidos. Englobam, assim, 
o dano e emergente (o que efetivamente se perdeu) e os lucros cessantes 
(o que razoavelmente deixou de lucrar). 
Tem como principais características a certeza e atualidade. Basta que a 
vítima demonstre que a inscrição em banco de dados de restrição ao crédito 
lhe ocasionou danos materiais para ser ressarcido. 
Por fim, deve ser registrado que a responsabilidade pelos danos morais e 
materiais é objetiva, não se perquirindo se os cadastros ou bancos de dados 
de proteção ao crédito agiram ou não com dolo, negligência, imperícia ou 
imprudência. 
1.12 - Prazo prescricional 
Diz o § 5º do art. 43 do CDC: 
§ 5°, art.43, CDC. Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos 
do consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de 
Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou 
dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedores. 
Ao analisar tal dispositivo, Leonardo Roscoe Bessa dispõe: 
"A informação deve ser excluída do banco de dados no prazo de cinco anos 
se antes não restar caracterizada a prescrição da ação para cobrança da 
obrigação. Assim, se determinada ação, referente a obrigação registrada, 
possuir prazo prescricional de cobrança inferior a cinco anos, deve esse 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
24 
 
prevalecer" (MARQUES, Cláudia Lima, BENJAMIM, Antônio H. V., BESSA, 
Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2007, pág. 271) 
A mesma posição tem Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin: 
"... mesmo que originada há menos de cinco anos, qualquer informação 
capaz de "impedir ou dificultar novo acesso ao crédito" deve ser 
descadastrada automaticamente, em momento coincidente com a 
prescrição da ação de cobrança. Aqui, a vida útil do assento fica na 
dependência da duração do instrumento processual posto nas mãos do 
credor para reaver o seu crédito."(GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Código 
brasileiro de defesa do consumidor comentado pelos autores do 
anteprojeto. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, pág. 395) 
1 - A cobrança das dívidas 
Lídia Salomão 
Advogada atuante em Belo Horizonte/MG, graduada em Direito pela PUC-
MG, pós graduada em Direito Civil e Processual Civil pela UNIPAC. Tel: (31) 
3227.3388 
1.1 - Introdução 
A cobrança de uma dívida deve cercar-se de alguns cuidados para não 
deixar de ser um direito legítimo do credor. Isso quer dizer que o credor 
deve se ater ao que dispõe a lei para a cobrança de dívida, para que não 
extrapole o direito de receber o que lhe é devido. Veremos neste curso as 
disposições do CDC que proíbem a cobrança indevida e abusiva de uma 
dívida. 
1.2 - Previsão legal 
O Código de Defesa do Consumidor preceitua em seu art. 42, inserido no 
Capítulo "Das práticas comerciais": 
Art. 42, CDC. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será 
exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento 
ou ameaça. 
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à 
repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, 
acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano 
justificável. 
Mais à frente, no Título "Das infrações penais" complementa o art. 42 ao 
dispor: 
 
Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, 
constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas 
ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
25 
 
injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou 
lazer: 
 
Pena - Detenção de três meses a um ano e multa. 
1.3 - A cobrança de dívidas e o exercício regular do direito 
Claro é que a cobrança de dívidas é permitida pela legislação, tanto no 
âmbito civil como no âmbito consumerista. Portanto, frente a esta garantia 
legal, pode-se dizer que o ato de cobrar dívidas equivale ao exercício 
regular de um direito reconhecido. 
Como veremos adiante, a vedação legal ocorre apenas se o credor exorbita 
o exercício regular deste direito de cobrança, ou seja, abusa de seu direito. 
 
O abuso de direito é o excesso no exercício regular deste direito. O CC 
explicitamente o repudia ao configurá-lo como ato ilícito no seu art. 187 
(Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela 
boa-fé ou pelos bons costumes). 
1.4 - A limitação do exercício de cobrança de débitos 
O CDC, como forma de evitar o abuso ou o exercício irregular do direito de 
cobrança, resolveu limitá-lo dispondo que não pode haver exposição ao 
ridículo, nem constrangimento ou ameaça ao consumidor/devedor para que 
este adimpla com suas obrigações. 
1.5 - Ações de cobrança permitidas 
Configuram exercício regular do direito de cobrança de dívidas: 
1) ingressar em juízo com a ação correspondente; 
 
2) fazer a cobrança via telefone ou por carta; 
 
3) enviar notificação comunicando que caso o consumidor não pague em 
um determinado tempo, ingressará em juízo para a cobrança da 
dívida (forma permitida de ameaça, pois existe a ameaça do exercício 
regular do direito que é de ajuizar ação de cobrança); 
4) protestar um cheque sem fundos; 
5) incluir o nome do consumidor/devedor nos cadastros de proteção ao 
crédito; 
1.6 - Ações de cobrança proibidas 
Ao fornecedor/credor, que sem justificativa, expõe o consumidor/devedor a 
ridículo ou interfere no seu trabalho, descanso ou lazer, utilizando-se para a 
cobrança de dívida de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
26 
 
afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro 
procedimento que exponha o consumidor, abusa de seu direito de cobrança, 
o que é expressamente proibido pela Lei 8.078/90. 
Vejamos os procedimentos de cobrança que são proibidos pela lei 
consumerista. 
 
Ameaça - qualquer tipo de ameaça é vedado, exceto a ameaça de exercer 
um direito garantido pela lei (por exemplo, credor ameaça devedor de que 
irá protestar o cheque se ele não pagar em 30 dias); 
Coação - o ato de coagir o consumidor inadimplente, obrigando-o ao 
pagamento da dívida também é vedado pelo CDC; 
Constrangimento físico ou moral - esta forma de cobrança não só afeta o 
consumidor como sua família e pode os expor a riscos à integridade física e 
moral, o que não é permitido; 
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - COBRANÇA VEXATÓRIA - 
ILEGALIDADE - CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO DA QUANTIA - CARÁTER 
COMPENSATÓRIO, PUNITIVO E PEDAGÓGICO - RAZOABILIDADE. A 
cobrança pública, e vexatória, causando situação de constrangimento e 
intimidação para o devedor é suficiente para a configuração do dano moral. 
O valor da indenização por danos morais deve atender ao caráter 
compensatório para a vítima, punitivo para o causador do dano e 
compensatório para a sociedade. (TJMG, Apelação Cível Nº 
1.0313.05.168056-6/001(1), Décima Câmara Cível, Relator: VALDEZ LEITE 
MACHADO, Julgado em 18/04/2007) 
Afirmações falsas, incorretas ou enganosas - as informações devem sempre 
ser verídicas e corretas, demonstrando sempre a transparência e a boa-fé 
de uma relação de consumo; 
Exposição ao ridículo - expor o consumidor/devedor a um vexame, 
humilhando-o perante outras pessoas também é uma prática de cobrança 
vedada pelo CDC; 
Interferência com trabalho, descanso ou lazer - exemplo desta cobrança 
indevida: não se pode em momento algum deixar um recado com um 
colega de trabalho para que este avise o consumidor sobre sua 
inadimplência. Mas pode sim enviar correspondência para estes locais: 
CIVIL- AÇÃO DE INDENIZAÇÃO- APELAÇÃO- COBRANÇA VEXATÓRIA- DANO 
MORAL CONFIGURADO- RESPONSABILIDADE CIVIL- CARACTERIZAÇÃO- 
INDENIZAÇÃO- CABIMENTO- VALOR- RAZOABILIDADE E 
PROPORCIONALIDADE- MAJORAÇÃO- IMPOSSIBILIDADE- BOLSA DE 
ESTUDOS DE CURSO EXTRACURRICULAR DESTINADA AOS ALUNOS DO 
SENAI- CONCESSÃO- TRANSFERÊNCIA PARA ESCOLA PÚBLICA- PERDA DO 
DIREITO- PAGAMENTO PELO CURSO- RESTITUIÇÃO- NÃO-CABIMENTO. Por 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
27 
 
não ser vedado em lei, o credor poder valer-se de todos os meios que 
dispõe para a cobrança de seus créditos, ainda que na residência, no local 
de trabalho ou na escola do devedor. Ao cometer excesso na cobrança, 
expondo o devedor a vexame ou constrangimento anormal, o credor está 
obrigado a indenizá-lo, pelo dano moralsofrido. 
Ao receber bolsa de estudos para curso técnico extracurricular, e ao ser 
informado do requisito exigido de permanência no ensino médio da 
instituição de ensino, o aluno que se transfere para a escola pública, e 
celebra, voluntariamente, contrato para permanência no curso 
extracurricular, não tem direito à restituição em dobro de parcela paga em 
face de contrato de prestação de serviços escolares. (TJMG, Apelação Cível 
Nº .0000.00.503193-2/000(1), Décima Sétima Câmara Cível, Relatora: 
MÁRCIA DE PAOLI BALBINO, Julgado em 02/06/2005) 
1.7 - Repetição do indébito 
O direito à repetição do indébito, abarcado pelo parágrafo único do art. 42 
do CDC nasce da cobrança ao consumidor de quantia que este não deve. 
Desta forma, o consumidor tem direito ao dobro do que pagou em excesso, 
acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano 
justificável. 
 
Trata-se de uma forma de sanção civil imposta pela lei consumerista para 
coibir a cobrança de dívida de valor indevido. 
Observação: 
 
A jurisprudência já vem reconhecendo o direito à repetição do indébito 
quando o consumidor paga valor constante em cláusula contratual abusiva 
(assim considerada por lei ou decisão judicial). Neste sentido vide: Resp 
453.782/RS, Resp 200.267/RS, Resp 328.338/MG. 
1.8 - Requisitos objetivos para a repetição do indébito 
Para que haja o direito do consumidor à repetição do indébito em dobro 
deve existir: 
1) a cobrança de dívida indevida pelo fornecedor; 
Ressalta-se que esta dívida deve, necessariamente, ser de consumo. 
 
2) o pagamento pelo consumidor da quantia indevidamente cobrada. 
1.9 - Engano justificável: requisito subjetivo 
Quando a parte final do parágrafo único do art. 42 diz "salvo hipótese de 
engano justificável" abre a possibilidade de o credor não ser obrigado a 
repetir o indébito em caso de engano justificável. 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
28 
 
Antônio Herman V. Benjamin, na obra Manual de direito do consumidor, 
define de forma bastante clara o engano justificável: "O engano é 
justificável exatamente quando não decorre de dolo ou de culpa. É aquele 
que, não obstante todas as cautelas razoáveis exercidas pelo fornecedor-
credor, manifesta-se." (MARQUES, Cláudia Lima, BENJAMIM, Antônio H. V., 
BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2007, pág. 235) 
O "engano justificável" é bastante subjetivo e, cabe ao fornecedor provar 
sua existência para eximir-se da repetição do indébito. 
EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS 
MORAIS. ASSINATURA DE REVISTA MENSAL. RENOVAÇÃO AUTOMÁTICA 
PELA EDITORA SEM CONTRATAÇÃO OU AUTORIZAÇÃO DO CONSUMIDOR. 
DESCABIMENTO. LANÇAMENTO DE PARCELAS EM DÉBITO EM CONTA 
CORRENTE. SOLICITAÇÃO DE CANCELAMENTO NÃO ATENDIDA PELA 
EDITORA. PRÁTICA ABUSIVA. INFRINGÊNCIA AOS DIPOSITIVOS DO 
CODIGO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR (CDC). LEI 8.078/90, 
ARTIGO 39, III. 1. Grupo de comunicação que renova automaticamente, 
sem prévio pedido e/ou autorização do consumidor, assinatura de revistas 
de entrega mensal, debitando valor em conta corrente. Prática abusiva 
proibida pelo CDC, artigo 39, III. Solicitação de cancelamento da renovação 
indevida da assinatura não atendida pela editora. Transtornos e dissabores 
que colorem a figura do dano moral (...) 
4. Não havendo prova no sentido de que a requerida tenha procedido à 
cobrança imbuída de dolo ou má-fé, descabe a repetição indébito em dobro, 
sendo cabível, entretanto, a repetição simples. Danos materiais fixados em 
sentença que vão mantidos. APELO IMPROVIDO. RECURSO ADESIVO 
PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Cível Nº 70022290662, Décima 
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Antônio Kretzmann, 
Julgado em 28/02/2008) 
Cumpre salientar que caso a hipótese de "engano justificável" seja aceita, 
permanece o direito do consumidor de receber o valor pago indevidamente 
(mas não em dobro), acrescido de correção monetária e juros legais, como 
demonstrou a decisão acima. 
1.10 - Os juros e correção monetária 
Sobre a restituição em dobro do valor pago indevidamente, ainda incidem 
atualização monetária e juros legais. 
1.11 - O meio de cobrança 
Impera uma divergência doutrinária no que tange ao meio de cobrança para 
que haja o direito do consumidor à repetição do indébito. 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
29 
 
Uma corrente defende que esta cobrança deve ser extrajudicial e outra que 
também pode ser judicial. Mas, antes de adentrarmos nos posicionamentos, 
relevante se faz transcrever o art. 940 do Código Civil: 
Art. 940, CC. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em 
parte, sem ressalvar as quantias recebidas, ou pedir mais do que for 
devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do 
que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo 
se houver prescrição. 
Entre os que defendem que esta cobrança deve ser extrajudicial está 
Antônio Herman V. Benjamin que na obra Manual de direito do consumidor, 
comenta: 
 
"... esta Seção V destina-se somente às cobranças extrajudiciais. Não 
interfere, em momento algum, com a atuação judicial de cobrança. 
Eventual excesso ou desvio nesta será sancionado nos termos do art. 940 
do Código Civil. (...) No sistema do Código Civil, a sanção só tem lugar 
quando a cobrança é judicial, ou seja, pune-se aquele que movimenta a 
máquina do Judiciário injustificadamente. Não é esse o caso do Código de 
Defesa do Consumidor. Usa-se aqui o verbo cobrar, enquanto o Código Civil 
refere-se a demandar... " (MARQUES, Cláudia Lima, BENJAMIM, Antônio H. 
V., BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2007, pág. 234) 
Já no entendimento do eminente Desembargador Rizzatto Nunes, tal 
raciocínio, ao basear-se nos verbos demandar e cobrar geram um 
considerável equívoco. Para ele: 
"... o fato da norma civil especificar demanda é algo que, em primeiro lugar, 
diz respeito à relação de direito privado e atende ao interesse daquele 
sistema, que é muito diferente do da Lei 8.078. (...) Mas o uso do verbo 
"cobrar" no sistema da legislação consumerista não elide de forma alguma o 
sentido de cobrança judicial. Seria pueril afirmar que na cobrança abusiva, 
só por ser judicial, o credor não responde pelas penas do parágrafo único do 
art. 42. ..." (NUNES, Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor, 3 ed., São 
Paulo: Saraiva, 2008, pág. 574). 
1.12 - Indenização por danos materiais e morais 
De qualquer maneira, como visto em outros cursos, se o consumidor é 
cobrado indevidamente, tem direito à reparação por danos materiais e 
morais provenientes da cobrança indevida. 
Apesar do dispositivo em comento não ter falado expressamente sobre a 
indenização, segue-se a regra geral do art. 6º, VI do CDC. 
Art. 6º, CDC. São direitos básicos do consumidor: 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
30 
 
(...) 
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, 
individuais, coletivos e difusos; 
(...) 
Assim, se o consumidor pagou a quantia cobrada indevidamente, tem 
direito à repetição do indébito e indenização por danos morais e/ou 
materiais que porventura tenha sofrido em função da cobrança indevida. 
 
Agora, caso o consumidor não tenha pagado a quantia cobrada 
indevidamente e esta cobrança lhe tenha gerado danos, pode apenas 
pleitear as indenizações correspondentes. 
 
1 - Considerações sobre a responsabilidade civil por injusta 
inscrição de informações/ nomes em Órgãos de Proteção ao 
Crédito 
Lídia Salomão 
Advogada atuante em Belo Horizonte/MG, graduada em Direito pela PUC-
MG, pós graduada em Direito Civil e Processual Civil pela UNIPAC. Tel: (31) 
3227.3388 
1.1 - Introdução 
Infelizmente o ajuizamentode ações de indenização por danos materiais e 
principalmente morais em face de empresas por inclusão indevida do nome 
de seus clientes em órgãos de proteção ao crédito vem crescendo a cada 
dia. 
 
A inserção injusta causa às pessoas / consumidores danos de ordem moral 
e em algumas vezes patrimonial, que, reconhecida gera o direito à 
reparação. 
1.2 - Responsabilidade subjetiva 
A inclusão injusta na maioria dos casos é feita por culpa da empresa, loja, 
fábrica, etc., o que enseja a responsabilidade subjetiva desta(s), fundada 
na prática de ato ilícito. Pelo CC (art. 927, caput), toda vez que houver a 
prática de um ato ilícito, o prejuízo dele resultante deve ser reparado (o ato 
ilícito é fonte de obrigação e uma vez praticado gera para seu autor a 
obrigação de indenizar a vítima). 
Art. 927, CC. "Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187) causar dano a 
outrem, fica obrigado a repará-lo". 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
31 
 
1.3 - Elementos do ato ilícito 
Art. 186, CC. "Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que 
exclusivamente moral, comete ato ilícito." 
Este artigo traz o conceito de ato ilícito, bem como seus elementos 
essenciais. Como elementos do ato ilícito podem ser extraídos: a 
antijuridicidade, a culpabilidade, o dano e o nexo causal. 
Veremos a seguir cada um deles para melhor compreendermos a 
responsabilidade subjetiva. 
1.3.1 - Elementos do ato ilícito - antijuridicidade 
Antijuridicidade: é a contrariedade aos objetivos do Direito (segurança, 
paz, justiça, etc.). O art. 186 diz: "Aquele que, por ação ou 
omissão...violar direito...". Assim, toda ação ou omissão humana que 
atente contra os objetivos do Direito são antijurídicos. 
Mas para que o ato seja ilícito não basta que ele seja antijurídico, o agente 
que o pratica deve saber que seu ato é ilícito para que então possa se 
provar a culpa. Por exemplo, avançar o sinal de trânsito é ato antijurídico, 
mas não acarreta conseqüências para o Direito, o ato ilícito sim, pois além 
de antijurídico, é voluntário e causa dano. 
1.3.2 - Elementos do ato ilícito - culpabilidade 
Culpabilidade: a culpabilidade no Direito Civil, abrange dolo e culpa. O art. 
186 do Código Civil referiu-se a culpa em sentido estrito, a distinguindo 
claramente do dolo (este sendo entendido como violação intencional do 
dever jurídico). Ambos não se confundem, mas tratando-se de indenização, 
geram conseqüências idênticas. 
"Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência..." Desta expressão retira-se a base da responsabilidade 
extracontratual por ato ilícito: O DEVER DE RESSARCIR PELA PRÁTICA DE 
ATO ILÍCITO DECORRE DA CULPA. 
A culpa significa a conduta censurada e reprovada do agente por falta de 
diligência, ou melhor, toda vez que houver uma ação ou omissão imperita, 
imprudente ou negligente, haverá a culpa. Destarte, a ação ou omissão 
voluntárias podem ser por: falta de cuidado, falta de atenção (negligência); 
assunção de risco desnecessário (imprudência) e falta técnica de quem, em 
tese, tem habilidade necessária (imperícia). 
Ressalta-se que apesar do art. 186 do Código Civil não falar em imperícia, 
ela encontra-se implícita no seu contexto. 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
32 
 
1.3.3 - Elementos do ato ilícito - Dano 
Dano: o dano constitui o efetivo prejuízo suportado pela vítima. Ele pode 
ser moral ou patrimonial, mas deve ser atual, certo e lesar efetivamente um 
bem juridicamente tutelado. 
Dano patrimonial ou material é aquele que afeta o patrimônio do ofendido; 
Dano extrapatrimonial ou moral é aquele que afeta a personalidade, nome, 
imagem, privacidade da vítima, bem como o ânimo psíquico, moral e 
intelectual desta. Assim, todo dano que cause um distúrbio anormal na vida 
do indivíduo, será moral. 
Dano emergente é aquele que gera a diminuição do patrimônio da vítima. 
Lucro cessante traduz o que a vítima deixou de lucrar com o dano sofrido. 
1.3.4 - Elementos do ato ilícito - Nexo causal 
Nexo causal entre o dano e a culpa: a causa do dano deve estar 
relacionada com o comportamento do agente para que haja a obrigação de 
indenizar. O nexo de causalidade é o liame ou relação direta de causa e 
efeito entre o fato gerador da responsabilidade e o dano. 
1.4 - Responsabilidade objetiva 
Como visto anteriormente, o caput do art. 927 do CC delimita a 
responsabilidade apenas aos praticantes de ato ilícito. Ocorre que, em 
alguns casos, o nome das pessoas são incluídos nos órgãos de proteção ao 
crédito por uma empresa independentemente desta agir com culpa nesta 
inclusão. Assim, entendeu por bem o legislador em ampliar a 
responsabilidade civil por meio do parágrafo único do mesmo dispositivo. 
Art. 927, Parágrafo único, CC. "Haverá a obrigação de reparar o dano, 
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a 
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua 
natureza, risco para os direitos de outrem." 
O parágrafo único deste dispositivo diz que também haverá obrigação de 
reparar o dano, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade 
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, 
risco para os direitos de outrem. Nestes casos a reparação independe da 
existência da culpa e é chamada de responsabilidade objetiva. 
Importa registrar que para o dano originado de uma relação de consumo 
aplica-se a regra do Código de Defesa do Consumidor: a responsabilidade 
civil objetiva, haja vista que este equivale a um caso especificado em lei. 
 
O CC de 2002 também inovou seguindo o contexto da sociedade atual e 
dispôs na segunda parte do parágrafo único do art. 927 a responsabilização 
objetiva, baseada na idéia central do risco. 
Curso - Dívidas em Relações de Consumo 
33 
 
O eminente doutrinador Sílvio de Salvo Venosa, em sua obra de Direito 
Civil: Responsabilidade Civil, Editora Atlas, 3ª ed. São Paulo. 2003, pág. 17 
muito bem explica esta forma de responsabilidade objetiva: 
"... quem, com sua atividade, cria um risco deve suportar o prejuízo que 
sua conduta acarreta, ainda porque essa atividade de risco lhe proporciona 
um benefício...Qualquer que seja a qualificação do risco, o que importa é 
sua essência: em todas as situações socialmente relevantes, quando a 
prova da culpa é um fardo pesado ou intransponível para a vítima, a lei opta 
por dispensá-la". 
1.5 - Sistemas de proteção ao crédito 
Os bancos de dados e cadastros de consumidores que constituem o sistema 
de proteção ao crédito estão regulamentados basicamente pelo art. 43 e 
seus parágrafos no CDC. 
"Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os serviços de 
proteção ao crédito e congêneres são considerados entidades de caráter 
público"(§4º do art. 43, CDC) e por isso estão submetidos ao controle de 
órgãos públicos. 
Estas entidades de proteção ao crédito reúnem informações a respeito de 
pessoas físicas e jurídicas com o objetivo de contribuir para a realização de 
negócios mais seguros entre consumidores e fornecedores de produtos ou 
serviços. "Devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil 
compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a 
período superior a cinco anos." (§1º do art. 43, CDC). 
Podem ser citados como órgãos de proteção ao crédito o SPC (Serviço de 
Proteção ao Crédito), a Serasa, o CCF (Cadastro de Emitentes de Cheques 
sem Fundo), o CADIN (Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do 
Setor Público Federal), entre outros. 
1.6 - A inclusão de informações nos órgão de proteção ao crédito 
e a responsabilidade civil 
A inclusão do nome do devedor nos bancos de dados de inadimplentes é 
feita sempre pelo credor. Ocorre que, ultimamente estes credores estão

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