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Curso - Dívidas em Relações de Consumo 1 Dívidas em Relações de Consumo Direito do Consumidor Coordenado por: Lídia Salomão Descrição: A questão das dívidas nas relações de consumo constitui tema de extrema importância. Por isso, torna-se necessário conhecer duas práticas comerciais reguladas pelo Código de Defesa do Consumidor que traduzem a forma como elas operam nas relações de consumo. Este estudo temático tem como escopo apresentar a cobrança de dívidas e a manutenção de informações sobre a pessoa do consumidor em bancos de dados e cadastros, assim como mostrar que são práticas lícitas e permitidas pelo Código de Defesa do Consumidor. Entretanto, são temas bastante presentes em nosso dia-a-dia, uma vez que os titulares destes direitos muitas vezes transgridem o permitido pelo Código de Defesa do Consumidor e causam diversas lesões aos consumidores. Portanto, este curso visa esclarecer, orientar e informar sobre as questões relativas a estas práticas de consumo intimamente ligadas ao endividamento. Carga Horária Estimada: 18 horas Quantidade de módulos: 4 Prazo mínimo para conclusão: 5 dias após confirmação de pagamento da inscrição Tipo de Certificado Escolhido: Eletrônico (em PDF) Conteúdo Programático: 1 - Relação de consumo: conceito. 2 - Elementos da relação de consumo - consumidor, fornecedor, produto e serviço e nexo causal: posições na relação; conceitos; atributos. 3 - Os direitos básicos do consumidor: enumeração pelo Código de Defesa do Consumidor (art. 6º); aplicação e função de cada direito. 4 - Os bancos de dados e cadastros de consumo: conceitos; atribuições; funções; distinção, forma e conteúdo. 5 - Inscrição indevida: responsabilidade civil subjetiva e objetiva; elementos do ato ilícito; danos; ações judiciais: ações indenizatórias, medida cautelar. 6 - Direitos do consumidor: direito ao acesso às informações em seu nome, direito à comunicação; direito à retificação. 7 - Direito do fornecedor à negativação: prazo prescricional da inscrição. 8 - Consumidor inadimplente. 9 - Sanções civis, penais e administrativas por descumprimento à Seção VI do Capítulo V do CDC. 10 - Cobrança de dívidas: previsão legal; aplicação; requisitos; exercício regular do direito; limitação; ações permitidas e ações proibidas. 11 - Repetição do indébito: conceito; características; aplicação; requisitos objetivos; requisito subjetivo; meio de cobrança; juros e correção monetária. 12 - Direito à indenização por cobrança indevida. Curso - Dívidas em Relações de Consumo 2 1 - Os elementos da relação jurídica de consumo Lídia Salomão Advogada atuante em Belo Horizonte/MG, graduada em Direito pela PUC- MG, pós graduada em Direito Civil e Processual Civil pela UNIPAC. Tel: (31) 3227.3388 1.1 - Introdução Toda relação jurídica é composta por um sujeito ativo, que se beneficia da norma; um sujeito passivo, sobre o qual incidem os deveres impostos pela norma, um objeto, que corresponde ao bem sobre o qual recai o direito e um fato propulsor, que vincula o sujeito ativo ao sujeito passivo. A relação jurídica de consumo não foge a esta regra e tem como sujeito ativo o consumidor (a parte protegida pela Lei 8.078/90), como sujeito passivo o fornecedor (pessoa que desenvolve atividade voltada para o consumidor), como objeto o produto ou serviço e um fato propulsor (contratual ou extracontratual) que liga os sujeitos. Veremos a seguir um pouco mais sobre cada um dos componentes da relação jurídica de consumo. 1.2 - Consumidor O CDC conceitua consumidor de forma bastante ampla, mas objetiva, em seu art. 2º: Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Primeiramente mister se faz dizer que este é considerado um conceito "relacional", pois se não existir uma relação jurídica através da qual uma pessoa (que encontra-se em um pólo da relação) adquire ou utiliza produto ou serviço de outra (que encontra-se em outro pólo da relação), não há relação de consumo e portanto não há consumidor. A existência do consumidor é determinada pela existência do fornecedor e a relação entre ambos. Tanto as pessoas naturais como jurídicas que obtenham ou utilizem o produto ou serviço englobam-se neste conceito. Contudo, as pessoas jurídicas de cunho empresarial são incluídas como consumidoras, desde que sejam destinatárias finais. Assim, o CDC admite que a pessoa jurídica seja beneficiada por suas normas protetivas, desde que seja destinatária final do produto ou serviço. Observe que a norma consumerista determina que para ser consumidor, a pessoa física ou jurídica deve ser destinatário final. Curso - Dívidas em Relações de Consumo 3 Neste sentido, surgiram duas correntes doutrinárias que interpretam a expressão "destinatário final": a corrente finalista e a corrente maximalista. Corrente finalista: Para os que defendem esta corrente, o produto ou serviço deve cumprir todas as etapas da cadeia econômica até chegar ao seu destino final, que tem como titular o consumidor. Assim, o consumidor é aquele que adquire o produto para uso próprio e de sua família, não englobando no conceito de consumidor o profissional que adquire o bem para o uso em sua profissão. Corrente maximalista: Para os que defendem esta corrente, o consumidor também pode ser o profissional, desde que retire o produto do mercado e o use como destinatário final. O STJ adota a teoria finalista partindo-se sempre do exame da vulnerabilidade do consumidor, o que abre algumas exceções. Consumidores equiparados No decorrer do CDC, foram inseridos desdobramentos do conceito de consumidor conforme as necessidades de cada matéria abordada. A coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo na relação de consumo, também pode ser tratada como consumidora. Isto acontece para que haja tutela dos interesses meta individuais das categorias potenciais de consumo previstas no Título III - Da defesa do consumidor em juízo. (parágrafo único, art. 2º do CDC) O art. 17 equipara "aos consumidores todas as vítimas do evento". As pessoas contempladas pelo art. 17 são tratadas como consumidores, pois o dispositivo visa proteger aqueles que, não sendo consumidores, sofrem um dano em virtude de um acidente de consumo. Isso decorre da presença de tal dispositivo na Seção de responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço. Já o art. 29 equipara aos consumidores as pessoas, determináveis ou não, expostas às práticas comerciais, incluindo a oferta, publicidade, práticas abusivas, cobrança de dívidas, bancos de dados e cadastro de consumidores e a proteção comercial. Neste caso, toda pessoa exposta a estas práticas comerciais é considerada consumidor em potencial. 1.3 - Fornecedor No outro pólo da relação jurídica de consumo encontra-se o fornecedor. O CDC o classificou como todo e qualquer praticante de uma atividade econômica dirigida ao mercado de consumo. Abrange, desta forma, o Curso - Dívidas em Relações de Consumo 4 produtor, o fabricante, o importador, o exportador, o comerciante, o prestador de serviços, entre outros. Assume a posição de fornecedor todo aquele que desenvolve atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Observe que para conceituar o fornecedor a lei consumerista separa o fornecimento de produtos do fornecimento de serviços. Assim: a) É fornecedor quem desenvolve atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos. b) É de igual maneira fornecedor quem desenvolveatividade de prestação de serviço. Ou seja, todo aquele que desenvolve uma atividade tipicamente profissional é considerado fornecedor, e portanto, sujeito aos deveres impostos pela Lei 8.078/90. Mas, independentemente da separação entre o fornecimento de produtos e serviços, cediço é que todos os profissionais que participam da cadeia de fornecimento (de produção, fabricação, transporte e distribuição de produtos, bem como da criação e execução do serviço) são fornecedores. Ou seja, para ser fornecedor, o profissional não precisa ter relação direta com o consumidor, basta que tenha participado do fornecimento em algum momento. Enfim, todo aquele que aliena bem ao consumidor, cede-lhe o uso do bem a qualquer título ou presta-lhe serviços é fornecedor. A profissionalidade é que determina a incidência da norma jurídica consumerista. Outra característica que determina quem é fornecedor é a remuneração. Mais à frente veremos que o CDC conceitua o serviço como qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração. O conceito de serviço complementa o conceito de fornecedor, posto que para ser fornecedor de serviços, é indispensável a remuneração, direta ou indireta. A Lei 8.078/90 dispõe ainda no art. 3º: "Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados..." Desta forma o fornecedor pode ser: Curso - Dívidas em Relações de Consumo 5 - Pessoa física - qualquer um que, a título singular, mediante desempenho de atividade mercantil ou civil e de forma habitual coloque no mercado produtos ou serviços; - Pessoa jurídica pública ou privada, nacional ou estrangeira - qualquer pessoa jurídica que faça parte de uma associação mercantil ou civil e da mesma forma que a pessoa física, desenvolva a atividade de forma habitual. Lembre-se ainda que a lei confere esta titularidade também ao Poder Público e ao estrangeiro (aquela pessoa jurídica que presta serviços no território nacional). - Entes despersonalizados - embora não dotados de personalidade jurídica, estes exercem ou exerceram atividades produtivas de bens e serviços e não são excluídos pela Lei 8.078/90. Como exemplo destes entes podemos citar a massa falida. O art. 12, inserido na Seção II - Da responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço, preceitua o que vem a ser fornecedor distinguindo-o de acordo com a atividade econômica desenvolvida para, assim, responsabilizá-lo pelo evento danoso. Art. 12, caput, CDC. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. Neste ponto, cumpre mostrar que fornecedor é gênero do qual são espécies o fabricante, o comerciante, o importador, etc.. Por este motivo, quando a intenção do legislador é responsabilizar apenas uma(s) espécie(s) de fornecedor(es), ele aponta sua intenção ( como fez no art. 12), do contrário, apenas utiliza "fornecedor" para que todos sejam responsabilizados. Segue uma jurisprudência a respeito: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. FATO DO PRODUTO. CDC. CORPO ESTRANHO ENCONTRADO EM GARRAFA DE REFRIGERANTE. A empresa recorrente, por força do art. 12, caput, do CDC, responde objetivamente pela reparação de danos causados por defeitos do produto, advindos tanto da fabricação, quanto manipulação e/ou acondicionamento do mesmo. Prova testemunhal que comprova a tese apresentada na inicial. Caracterizado o dano moral diante do abalo psicológico sofrido pelo consumidor ao encontrar corpo estranho no interior de garrafa de refrigerante, após a ingestão do produto. RECURSO IMPROVIDO. (Recurso Curso - Dívidas em Relações de Consumo 6 Cível Nº 71000741769, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Maria José Schmitt Santanna, Julgado em 23/08/2005) Então, quais são estas figuras do art. 12? O fabricante é aquele que realiza atividade econômica de transformação de produtos, enquadra-se neste conceito o manufaturador final, o manufaturador de componentes, de matérias-primas e o montador. O produtor é quem desenvolve atividade econômica extrativa ou agropecuária, ou seja, no âmbito do CDC é o fornecedor de produtos não industrializados. O construtor coloca no mercado um produto imobiliário. Estes três são colocados pelo CDC como responsáveis reais pelo dano. O importador é responsável presumido e é aquele que introduz, de forma lícita ou ilícita, mercadorias de origem estrangeira no mercado nacional. Cabe lembrar, que se trata de importador tanto aquele que introduz no mercado nacional produto final como o de componente. O comerciante é aquele que realiza atividades de intermediação com o intuito lucrativo. Fornecedor equiparado A figura do fornecedor equiparado foi criada por Leonardo Roscoe Bessa. Cláudia Lima Marques, em sua obra Manual de direito do consumidor, ao expor esta nova visão de fornecedor escreve com argumentos do eminente autor: "... aquele terceiro na relação de consumo, um terceiro apenas intermediário ou ajudante da relação de consumo principal, mas que atua frente a um consumidor (aquele que tem seus dados cadastrados como mau pagador e não efetuou sequer uma compra) ou a um grupo de consumidores (por exemplo, um grupo formado por uma relação de consumo principal, como a de seguro de vida em grupo organizado pelo empregador e pago por este), como se fornecedor fosse (comunica registro no banco de dados, comunica que é estipulante nos seguro de vida em grupo, etc.)." (MARQUES, Cláudia Lima, BENJAMIM, Antônio H. V., BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pág. 83) ITEM EXTRA: O fornecedor “equiparado” Teoria interessante é a do fornecedor equiparado criada por Leonardo Roscoe Bessa. O autor ampliou o campo de incidência do Código de Defesa do Consumidor, por meio de uma visão mais abrangente do conceito de fornecedor. Curso - Dívidas em Relações de Consumo 7 Para Bessa, o “CDC ao lado do conceito genérico de fornecedor (caput, art. 3º), indica e detalha, em outras passagens, atividades que estão sujeitas ao CDC. Talvez, o melhor exemplo seja o relativo aos bancos de dados e cadastros de consumidores (art. 43, CDC)”.[104] A esse respeito, entende o doutrinador que, “até a edição da Lei n. 8.078/90, as atividades desenvolvidas pelos bancos de dados de proteção ao crédito (SPC, SERASA, CCF), não possuíam qualquer disciplina legal. A regulamentação integral de tais atividades surgiu justamente com o Código de Defesa do Consumidor, considerando sua vinculação direta com a crescente oferta e concessão de crédito no mercado. Portanto, não há como sustentar, ainda que se verifique que a entidade arquivista não atenda a todos os pressupostos do conceito de fornecedor do caput do art. 3º, que não se aplica o CDC”.[105] O Superior Tribunal de Justiça, ainda que de forma indireta, corroborou, neste tema, com a tese apresentada ao editar a Súmula 359, que prevê: “Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito a notificação do devedor antes de proceder à inscrição”. Constata-se, desta forma, que ao mantenedor do cadastro de inadimplentes foi imposta uma obrigação típica daquelas direcionadas ao fornecedor no mercado de consumo. Claudia Lima Marques bem resumiu a teoria do fornecedor equiparado, definindo-o como “aquele terceiro na relação de consumo, um terceiro apenas intermediário ou ajudanteda relação de consumo principal, mas que atua frente a um consumidor (aquele que tem seus dados cadastrados como mau pagador e não efetuou sequer uma compra) ou a um grupo de consumidores (por exemplo, um grupo formado por uma relação de consumo principal, como a de seguro de vida em grupo organizado pelo empregador e pago por este), como se fornecedor fosse (comunica o registro no banco de dados, comunica que é estipulante no seguro de vida em grupo etc.)”.[106] Leonardo Roscoe Bessa entende possível estender a teoria do fornecedor equiparado para outras situações relacionadas com a atividade de consumo, como ocorre com a publicidade, ou seja, todos que a promovem direta ou indiretamente seriam equiparados a fornecedor. “O anunciante no caso é um fornecedor equiparado e está sujeito, portanto, à disciplina do CDC.”[107] Entretanto, o STJ nesse ponto discorda sobre o tema. O veículo de comunicação que veicula publicidade enganosa ou abusiva e, nos termos da teoria em comento, seria um exemplo de fornecedor equiparado, não vem sendo responsabilizado, conforme entendimento expresso no REsp 1.157.228: “A responsabilidade pela qualidade do produto ou serviço Curso - Dívidas em Relações de Consumo 8 anunciado ao consumidor é do fornecedor respectivo, assim conceituado nos termos do art. 3º da Lei n. 8.078/1990, não se estendendo à empresa de comunicação que veicula a propaganda por meio de apresentador durante programa de televisão, denominada ‘publicidade de palco’” (REsp 1.157.228, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, 4ª T., DJe 27-4-2011). Sobre sua teoria, conclui Bessa que o “fornecedor é visto como quem exerce a atividade especificamente regulada e não mais de modo genérico como aquele que atua profissionalmente (mediante remuneração) no mercado de consumo. Daí fica fácil perceber que a ideia da relação de consumo, baseando-se nos conceitos dos arts. 2º e 3º do CDC, não é o melhor método para identificar todas as situações de aplicação do Código de Defesa do Consumidor”.[108] Para Lima Marques, a “figura do fornecedor equiparado, aquele que não é fornecedor do contrato principal de consumo, mas é intermediário, antigo terceiro, ou estipulante, hoje é o ‘dono’ da relação conexa (e principal) de consumo, por deter uma posição de poder na relação outra com o consumidor. É realmente uma interessante teoria, que será muito usada no futuro, ampliando — e com justiça — o campo de aplicação do CDC”.[109] (Item extra retirado do livro Direito do Consumidor Esquematizado, Fabrício Bolzan). 1.4 - Produto O produto tem o sentido de bem, seja este móvel ou imóvel, material ou imaterial, conforme define a Lei 8.078/90. Como esclarecem os autores do anteprojeto, seria melhor falar-se em bem e não produtos. Isto ocorre pelo seguinte motivo: o termo bem é mais abrangente e se haverá de cuidar de bens como efetivos objetos das relações de consumo. Com a devida clareza, o eminente professor Sílvio Rodrigues diz que bens "são coisas que, sendo úteis aos homens, provocam a sua cupidez e, por conseguinte, são objeto de apropriação privada." (RODRIGUES, Silvio. Direito civil. 1. ed. São Paulo: Max Limonad. 1964, p. 119). Desta maneira, para o CDC, qualquer objeto de interesse para a relação jurídica e destinado a satisfazer uma necessidade do consumidor, é entendido como bem. Já a diferenciação de produto móvel ou imóvel nos é dada pela lei civil, uma vez que o CDC determinou que produto é qualquer bem, assim: Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente. Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais: I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram; II - o direito à sucessão aberta. Curso - Dívidas em Relações de Consumo 9 Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis: I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local; II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem. Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social. Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais: I - as energias que tenham valor econômico; II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes; III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações. Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio. A utilização de produto material ou imaterial ocorreu como forma de abranger tudo o possível na intenção de proteger o consumidor. Para o eminente Desembargador Rizzatto Nunes, produtos imateriais "São produtos, claro, que sempre estão acompanhados de serviços." (NUNES, Rizzatto.Curso de Direito do Consumidor, 3 ed., São Paulo: Saraiva, 2008, pág. 92, rodapé). Contudo, o CDC não se limita apenas a classificar o produto como móvel, imóvel, material e imaterial. Mais à frente, nos incisos I e II do art. 26, o CDC dispõe sobre produtos duráveis e não duráveis. O produto durável é aquele que não extingue com o tempo e o produto não durável é aquele que extingue pelo uso. 1.5 - Serviço Conforme preceitua o parágrafo 20 do art. 30 do CDC: Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. O conceito de serviços fornecido pelo CDC gera algumas confusões quando dispõe que podem ser atividades de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária. A incidência do CDC nos contratos bancários é matéria já pacificada na doutrina e jurisprudência. O mesmo se dá com as atividades de natureza financeira: Curso - Dívidas em Relações de Consumo 10 EMBARGOS INFRINGENTES - SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO - REAJUSTE LEGAL - TAXA REFERÊNCIA DE JUROS - INCONSTITUCIONALIDADE - INPC - SUJEIÇÃO À PRINCIPIOLOGIA DO CDC (LEI N. 8.078/90) - MULTA DE 10% - EMBARGOS INACOLHIDOS. Segundo termos do artigo 3º, § 2º, da Lei 8.078/90, serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista, resultando, daí, a aplicabilidade desse Diploma Legal nas relações financeiras, por ser certo que tais entidades são prestadoras de serviços de que são consumidores finais os clientes com quem firmam os mais diversos pactos, concernentes aos negócios financeiros. (...) (TJMG, EMBARGOS INFRINGENTES N° 1.0024.00.074569- 5/002 NA APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.00.074569-5/001, Relator: Desembargador MAURO SOARES DE FREITAS, Data do julgamento: 13/03/2008) De igual forma as atividades de natureza securitária: seguros, planos de previdência privada, etc.. Em suma, trata-se de atividade prestada pelo fornecedor, inclusive serviços públicos e serviços prestados por concessionárias e permissionárias de órgãos públicos, sem o caráter trabalhista. Trata-se de uma atividade fornecida no mercado de consumo mediante remuneração do fornecedor. Sem a remuneração não há serviço para o CDC. De igual forma, se o serviço tiver caráter trabalhista, não está englobado no conceito de serviço da norma consumerista, com exceção das empreitadas de mão-de-obra ou empreitadas mistas. Vale lembrar que, os órgãos públicos, também são responsáveis pelos serviços prestados inadequadamente, cabendo-lhes a mesma responsabilidade das empresas privadas, mas isso veremos em outro estudo. 1 - Os direitosbásicos do consumidor Lídia Salomão Advogada atuante em Belo Horizonte/MG, graduada em Direito pela PUC- MG, pós graduada em Direito Civil e Processual Civil pela UNIPAC. Tel: (31) 3227.3388 1.1 - Introdução A CR/88 foi um marco para os direitos do consumidor, pois foi a primeira vez na história do nosso país que houve menção a estes direitos. Com a determinação no inc. XXXII do art. 5º que "O Estado promoverá, na Curso - Dívidas em Relações de Consumo 11 forma da lei, a defesa do consumidor", a Carta Magna garantiu a defesa e proteção do consumidor. O CDC, como lei ordinária, consolida esta determinação e elenca no capítulo III do Título I os direitos básicos do consumidor. Estes direitos são considerados os essenciais, principais, os efetivamente garantidos ao consumidor, apesar de não serem novidade. Obviamente deles provêem outros, cuja importância não é menor. O que importa é que o legislador dispôs os essenciais e estes estudaremos neste curso. 1.2 - A função dos direitos básicos A lista de direitos básicos do art. 6º do CDC visa proteger o consumidor, sujeito vulnerável da relação de consumo. Ou seja, como não há igualdade de posição entre consumidor e fornecedor, o estado interveio e dispôs tais direitos básicos visando o equilíbrio entre estes sujeitos. Vejamos um julgado que demonstra a ofensa a alguns dos direitos básicos do consumidor: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. RESCISÃO DE CONTRATO. DIREITO DO CONSUMIDOR. PRODUTO NOCIVO À SAÚDE E SEGURANÇA. INFORMAÇÃO INSUFICIENTE. CONDUTA CONTRATUAL ABUSIVA E ENGANOSA. - A prova dos autos não deixa dúvidas acerca da conduta enganosa e abusiva da empresa requerida na colocação e venda do seu produto no mercado. Ausência de insurgência da apelante quanto à inversão do ônus da prova no processo. Art. 6º, inc. VIII, CDC. - Conduta atentatória a diversos direitos do consumidor. Art. 6º, CDC. Direito à proteção da vida, saúde e segurança (inc. I). Direito à informação adequada e clara (inc. III). Direito à proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços (inc. IV). - Caso concreto. Prova suficiente a demonstrar que o produto vendido ao consumidor causou problemas à sua saúde. Importante notar, ainda, que a hipótese dos autos apresenta notável agravante, pois o produto em tela foi vendido sob a promessa de melhora à saúde do consumidor. E se o fornecedor se utiliza justamente de promessas de contribuição e melhora à saúde do consumidor para vender o seu produto e, posteriormente, esse mesmo produto se mostra, ao contrário, nocivo à sua saúde, fica configurada com evidência a sua conduta enganosa e abusiva. Nesse contexto, o consumidor é claramente induzido em erro pelo fornecedor, que desvirtua informações sobre o produto para conseguir a sua venda. Mantido o deferimento do pedido do consumidor de rescisão do contrato. Inaplicável o prazo do art. 49 do CDC, que trata da hipótese de arrependimento do consumidor. Apelo improvido. (Apelação Cível Nº 70020637252, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dálvio Leite Dias Teixeira, Julgado em 06/12/2007). Curso - Dívidas em Relações de Consumo 12 1.3 - Lista dos direitos básicos do consumidor O art. 6º do CDC lista os direitos básicos do consumidor. Art. 6º, CDC. São direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Vejamos cada um em separado. 1.4 - Direito de proteção da vida, saúde e segurança Ao consumidor é garantida a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos. Em uma sociedade de risco como a que vivemos, fica claro que este é um direito preliminar, atrelado ao princípio maior - dignidade da pessoa humana - art. 4º,caput, CDC, posto que muitos produtos, serviços e Curso - Dívidas em Relações de Consumo 13 práticas comerciais são perigosos e nocivos para a vida, saúde e segurança do consumidor. Estes são considerados bens jurídicos de alta relevância e por este motivo tem prioridade de proteção. Cláudia Lima Marques, em sua obra Manual de direito do consumidor, comenta que: "... o sistema do CDC, no mercado de consumo, impõe a todos os fornecedores um dever de qualidade dos produtos e serviços que presta e assegura a todos os consumidores (art. 2º, caput e parágrafo único, art. 29 e art. 17 do CDC) um direito de proteção, fruto do princípio de confiança e de segurança (art. 4º, V, do CDC)." (MARQUES, Cláudia Lima, BENJAMIM, Antônio H. V., BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pág. 56). 1.5 - Direito de liberdade de escolha e igualdade nas contratações O consumidor também tem direito à educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços para que possa fazer sua livre escolha. Esta, por sua vez, implica em uma posterior contratação, que realizada de forma clara gera igualdade entre seus sujeitos. A inclusão destes direitos mostra que o CDC é uma norma típica de dirigismo contratual, pois a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações devem se fazer presentes em todos os contratos de consumo. 1.6 - Direito à informação O consumidor tem direito à informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem. Uma informação clara e adequada demonstra a transparência que deve imperar na relação de consumo. Importa aqui registrar que esta transparência não deve ocorrer apenas no momento pré-contratual, quando o serviço é oferecido. Deve incidir também na conclusão do contrato e no pós-contrato. Importa mostrar que este direito aparece em outros momentos da lei consumerista, como por exemplo, nos arts. 12, 14, 30, 46, entre outros. Portanto, este direito visa propiciar ao consumidor a opção firme quanto à contratação do produto ou serviço oferecido. 1.7 - Direito à transparência e à boa-fé Os princípios da transparência e boa-fé(garantidos pelo art. 4º, caput, CDC) mostram-se à medida que o CDC garante a proteção do consumidor contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais e práticas e cláusulas abusivas ou impostas nos contratos. Curso - Dívidas em Relações de Consumo 14 Como anteriormente citado, o CDC objetiva basicamente a proteção do consumidor. Por este motivo, em seu rol de proteção, proibiu o abuso e impôs a transparência e a boa-fé nos métodos comerciais, na publicidade e nos contratos. Mais uma vez citamos a eminente Cláudia Lima Marques, em sua obra Manual de direito do consumidor, que atrela um princípio ao outro: "... No sistema do CDC, porém, a transparência, a informação correta, está diretamente ligada à lealdade, ao respeito no tratamento entre parceiros. É a exigência de boa-fé quando da aproximação (mesmo que extra ou pré- contratual) entre fornecedor e consumidor." (MARQUES, Cláudia Lima, BENJAMIM, Antônio H. V., BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pág. 57). Cumpre lembrar que a boa-fé atualmente não se limita apenas à boa-fé subjetiva (aquela que aponta que as partes/sujeitos devem agir com transparência), mas alcança a boa-fé objetiva (aquela que preconiza que uma parte deve zelar pela outra ao realizar um contrato e durante a execução deste - CC, art. 422). Sobre as práticas comerciais, a publicidade e os contratos de consumo, a Lei 8.078/90 dispõe separadamente em seu corpo. Contudo, as veremos separadamente em outros momentos, posto que não são objetos do presente estudo. 1.8 - Direito à proteção contratual O CDC também protege o consumidor nos contratos de consumo. Para isso garante: 1) a modificação das cláusulas contratuais que estabelecem prestações desproporcionais. 2) a revisão das cláusulas contratuais em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas. Nesta hipótese, a cláusula contratual era eqüitativa quando da celebração do contrato. Contudo, posteriormente alguns fatos tornaram o contrato excessivamente oneroso ao consumidor e por este motivo a Lei 8.078/90 permite que o Poder Judiciário reveja a esta cláusula que desequilibra o contrato e que por fato superveniente, onerou excessivamente o consumidor. EMENTA - Aplicam-se aos contratos de adesão as normas do Código de Defesa do Consumidor. - O art. 6º do CDC permite ao Poder Judiciário modificar as cláusulas referentes ao preço, ou qualquer outra prestação a cargo do consumidor se as obrigações assumidas se tornarem desproporcionais em razão de fato superveniente, ainda que este seja previsível, imaginável ou esperado. - É ilegal o uso da Tabela Price é ilegal, não somente porque por aquele método ou sistema são cobrados juros de Curso - Dívidas em Relações de Consumo 15 forma composta (juros sobre juros), mas, também, porque viola o princípio da transparência insculpido no CODECON.- A imposição da instituição financeira de que se faça o seguro em contrato do sistema financeiro da habitação, com pessoa integrante do mesmo grupo econômico seu, revela venda casada, prática abusiva e repudiada pelas leis consumeristas. (TJMG, Apelação nº 1.0024.06.002606-9/001(1), Relator: Desembargador EDIVALDO GEORGE DOS SANTOS, Data do julgamento: 11/03/2008). Cumpre ainda ressaltar que o comportamento das partes de acordo com a boa-fé (que norteia toda relação contratual de consumo) tem como conseqüência a possibilidade desta revisão do contrato celebrado entre elas. 1.9 - Direito à prevenção e reparação de danos morais e materiais Ao consumidor é garantida a prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos. A garantia da prevenção indica o direito que o consumidor possui de evitar que o dano ocorra. Já a garantia de reparação indica o direito que o consumidor tem de ser devidamente indenizado pelo dano (efetivo prejuízo suportado por ele). Lembrete: O dano patrimonial é aquele que afeta o patrimônio do ofendido. O dano moral é aquele que afeta a personalidade, nome, imagem, privacidade da vítima, bem como o ânimo psíquico, moral e intelectual desta. Assim, todo dano que cause um distúrbio anormal na vida do indivíduo, será moral. A definição de direitos individuais, coletivos e difusos encontra-se nos incisos do parágrafo único do art. 81 do CDC, in verbis: "I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum." 1.10 - Direito de acesso à justiça e aos órgãos administrativos em geral O legislador, para facilitar a efetivação dos demais direitos dispostos no art. 6º, entendeu por bem incluir como direito básico o acesso do consumidor aos órgãos judiciários e administrativos (como exemplo os Procons) com Curso - Dívidas em Relações de Consumo 16 vistas à prevenção ou reparação de danos materiais e morais, individuais, coletivos ou difusos. Este acesso, portanto, assegurada a proteção jurídica, administrativa e técnica aos consumidores. 1.11 - Direito de inversão do ônus da prova A possibilidade de inversão do ônus da prova é outro direito básico garantido ao consumidor. Para a facilitação da defesa do consumidor em um processo, o ônus da prova (que a ele incumbe) pode ser alterado e passar a incidir sobre o fornecedor. O CDC autoriza o juiz a inverter o ônus da prova em 02 casos: quando forem verossímeis as alegações ou quando o consumidor for hipossuficiente. Como bem pondera Rizzatto Nunes - em sua obra Curso de Direito do Consumidor, 3 ed., São Paulo: Saraiva, 2008, págs. 773 - apenas se presentes um destes casos é que ao juiz cabe inverter o ônus da prova, por isso a expressão "a critério do juiz" não designa discricionariedade ou subjetividade e sim aquilo que serve de base de comparação. Assim, o juiz pode inverter o ônus da prova em favor do consumidor quando segundo as regras ordinárias de experiência, for verossímil a alegação ou quando o consumidor for hipossuficiente. Verossimilhança das alegações A verossimilhança das alegações constitui o "juízo de probabilidade extraída de material probatório de feitio indiciário, do qual se consegue formar a opinião de ser provavelmente verdadeira a versão do consumidor" (THEODORO JR., Humberto. Direitos do consumidor. 4 ed., Rio de Janeiro: Forense, 2004, pág. 143) O juiz deve, então, analisar as alegações do consumidor e decidir segundo as suas regras de experiência se estas são verossímeis. Hipossuficiência do consumidor A hipossuficiência do consumidor "para fins de inversão do ônus da prova, tem sentido de desconhecimento técnico e informativo do produto e do serviço, de suas propriedades, de seu funcionamento vital e/ou intrínseco, de sua distribuição, dos modos especiais de controle, dos aspectos que podem ter gerado o acidente de consumo e o dano, das características do vício etc.." "(NUNES, Rizzatto, Curso de Direito do Consumidor, 3 ed., São Paulo: Saraiva, 2008, pág775). Destarte, a hipossuficiência do consumidor exigida pela lei não é a econômica e sim a técnica. Por isso o "pobre" no sentido econômico pode não ser considerado hipossuficiente se possui conhecimento técnico e informação sobre assunto sub judice. Curso - Dívidas em Relações deConsumo 17 1.12 - Direito à prestação adequada e eficaz de serviços públicos O consumidor, por fim, tem direito à adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. O CDC reafirma este direito quando preceitua em seu art. 22: Art. 22, CDC. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código. 1.13 - Conclusão Após a análise destes direitos, verifica-se que o art. 6º, ao estabelecer as garantias fundamentais de proteção ao consumidor, resumiu todo o CDC. 1 - Os bancos de dados e cadastros de consumo Lídia Salomão Advogada atuante em Belo Horizonte/MG, graduada em Direito pela PUC- MG, pós graduada em Direito Civil e Processual Civil pela UNIPAC. Tel: (31) 3227.3388 1.1 - Introdução Os bancos de dados e cadastros de consumidores estão regulamentados basicamente pelo art. 43 e seus parágrafos no CDC. A função dos cadastros de consumidores é melhorar o relacionamento entre consumidor e fornecedor, não se presta a transferir informações sobre o consumidor a terceiros. Já a função dos bancos de dados é coletar, armazenar e fornecer informações a empresas, bancos, comércios, enfim, fornecedores que pretendem fazer consultas sobre a situação do consumidor que os procura. Assim, são os bancos de dados de proteção ao crédito o SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), a Serasa, o CCF (Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundo), o CADIN (Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal), entre outros. 1.2 - Do direito ao acesso às informações O artigo 43, caput do CDC traduz o direito do consumidor em ter acesso às informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele e às suas fontes. Curso - Dívidas em Relações de Consumo 18 Trata-se de um dispositivo bastante amplo, uma vez que todo e qualquer banco de dados e cadastros de informações que arquivem cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo que se referem ao consumidor, se submetem à norma consumerista. No que diz respeito à possibilidade de cobrança de valor pecuniário para o exercício deste direito, o CDC é omisso. Mas a doutrina entende que tal direito deve ser exercido gratuitamente. 1.3 - Do direito à negativação O direito à negativação dos consumidores inadimplentes é legitimado pelo CDC através do §1º do art. 43, senão vejamos: § 1° Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a período superior a cinco anos. Antes de qualquer alegação, cumpre falar que termo negativação é usado em nosso ordenamento como sinônimo de registro ou inscrição em bancos de dados. Isso porque, as informações constantes nos cadastros e bancos de dados revelam sempre uma situação de inadimplência do consumidor, ou seja, revelam informações negativas. Bem, certo é que a inclusão de um consumidor em um destes bancos de dados é feita frente à sua inadimplência. Desta maneira, o fornecedor só pode inseri-lo nestes se o consumidor não cumprir com a sua obrigação de pagar a dívida. A negativação permitida pela lei traduz, portanto, a existência de uma dívida não paga, vencida e de valor líquido e certo. Apenas após configuradas estas condições, o direito de negativação constitui exercício regular do direito. Aqui vale abrir um parênteses para mostrar o conflito existente entre os direitos do fornecedor e os direitos do consumidor. O fornecedor tem o direito de negativar o nome do consumidor inadimplente, mas e o consumidor? Qual o direito que possui se, por exemplo, achar que a dívida a qual está sendo cobrada é abusiva? Isso é muito comum de acontecer, ou seja, o consumidor se tornar inadimplente por acreditar que o valor cobrado pela dívida é abusivo. Para tanto, a única alternativa que o consumidor possui é recorrer ao Poder Judiciário. Apenas através de uma ação pode o consumidor discutir a abusividade da cobrança e então obter o cancelamento da negativação. 1.4 - Conteúdo dos cadastros e bancos de dados A lei consumerista preceitua que "Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão,...” (primeira parte, §1º, art. 43). Curso - Dívidas em Relações de Consumo 19 Isso demonstra a maior intenção desta norma, que é proteger o consumidor (parte hipossuficiente da relação de consumo). Assim, todas as informações devem ser claras, objetivas, verdadeiras e compreensíveis de modo que o consumidor possa facilmente entendê-las. Informações claras - equivalem a informações precisas, fiéis e completas a respeito do consumidor. Informações objetivas - equivalem a informações diretas, sem que envolvam juízo de valor ou subjetividade. Informações verdadeiras - equivalem a informações atualizadas. Isso significa que se o consumidor inadimplente paga sua dívida, seu nome deve ser imediatamente retirado dos registros de inadimplência, sob pena de sobre o arquivista incidir as sanções penais e civis que mais à frente analisaremos. Informações compreensíveis - equivalem a informações que não contenham códigos, linguagem técnica, difícil e em outro idioma. 1.5 - O consumidor inadimplente Como visto, o fornecedor só pode inserir o nome do consumidor em bancos de dados se este for inadimplente. A inadimplência mostra-se pela ausência de pagamento de uma dívida e ela enseja apenas a inclusão do nome e dados do consumidor nos sistemas de proteção ao crédito, tudo que a isso extrapole é proibido pelo CDC. Neste sentido dispõe o curso "A cobrança das dívidas" que mostra que o CDC veda qualquer forma de cobrança abusiva, ou seja, aquela que expõe o consumidor ao ridículo, constrangimento ou ameaça. 1.6 - Prazo No que tange ao prazo de negativação, a inscrição nestes bancos de inadimplentes (SPC, Serasa, etc.) pode ser mantida no máximo por 05 (cinco) anos. O STJ já se manifestou a este respeito através da Súmula 323: Súmula 323 - A inscrição de inadimplente pode ser mantida nos serviços de proteção ao crédito por, no máximo, cinco anos. 1.7 - Direito à comunicação O artigo 43, do CDC, em seu § 2º, determina que "a abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá ser comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele". Com esta determinação, o legislador pretendeu mostrar que a inclusão do nome do consumidor nestes cadastros somente tem validade se o mesmo Curso - Dívidas em Relações de Consumo 20 tiver sido avisado de forma prévia e por escrito da inclusão. Esta é a chamada notificação premonitória. O eminente Desembargador Rizzato Nunes enumera em sua obra "Curso de Direito do Consumidor" três razões para a existência desta notificação: "a) respeitar direito constitucional da garantia da dignidade e imagem do consumidor; b) dar prazo para que o consumidor tome medidas (extrajudiciais ou judiciais) para se opor à negativação quando ilegal; ou c) ter chance de pagamento da dívida, impedindo a negativação (ou mesmo negociar a dívida)." (NUNES, Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor, 3 ed., São Paulo: Saraiva, 2008, pág. 578). Notificação prévia O CDC não dispõe sobre o prazo que o fornecedor tem para avisar previamente o consumidor de que irá negativá-lo. Assim, deve-se conceder ao consumidorum prazo razoável para que pratique uma das alternativas acima dispostas. Ausência da notificação e reparação de danos Caso o consumidor não seja notificado, só tomando conhecimento da inscrição de seu nome em um Órgão de Proteção ao Crédito quando for, por exemplo, impedido de efetuar compras no comércio (e, diga-se de passagem, algo infelizmente muito comum atualmente), tem direito a reparação de danos. Isso se dá ao fato de que o direito de comunicação do armazenamento de informações sobre consumidor é violado, caracterizando abuso de direito por parte do fornecedor. Como visto, o direito à negativação é garantido por lei, no entanto, deixar de comunicar o consumidor da inclusão de seu nome no banco de dados, extrapola o que diz a Lei 8.078/90. Abaixo relacionamos duas jurisprudências do Eg. Tribunal de Justiça de Minas Gerais sobre a legitimidade passiva nas ações que pleiteiam indenização por danos pela ausência de notificação prévia do consumidor. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - INSCRIÇÃO DO NOME DO DEVEDOR NO SERVIÇO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO - DEVER DE NOTIFICAÇÃO - ARTIGO 43, §2º CDC - COMPROVAÇÃO - DANOS MORAIS - NÃO OCORRÊNCIA - RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. I - A obrigação de comunicar previamente ao devedor a inscrição de seu nome em cadastro restritivo é do órgão arquivista que o inclui, e não do credor, que apenas informa a existência da dívida. II - Ante a comprovação do envio da comunicação aludida no artigo Curso - Dívidas em Relações de Consumo 21 43, §2°, do Código de Defesa do Consumidor, inexiste ato ilícito a amparar o pleito indenizatório. III - Recurso conhecido e não provido. (TJMG, APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0024.06.049896-1/001, Relator DES. BITENCOURT MARCONDES, Décima Quinta Câmara Cível, julgada em 14/02/2008). INDENIZAÇÃO - DANOS MORAIS - FALTA DE PRÉVIA COMUNICAÇÃO ESCRITA AO DEVEDOR - ARTIGO 43, § 2º DO CDC - DEVER DO ÓRGÃO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.A cientificação do devedor sobre a sua inscrição no Órgão de Proteção ao Crédito, prevista no artigo 43, § 2º do CDC, constitui obrigação exclusiva da entidade responsável pela manutenção do cadastro, pessoa jurídica distinta da do credor, que tão-só informa da existência da dívida, por isso não sendo o credor parte passiva legítima por ato decorrente da administração do cadastro, na forma do parágrafo 4º do artigo 43 do CDC. (TJMG, Apelação n 1.0236.03.001231-4/001, Relatora DESEMBARGADORA EULINA DO CARMO ALMEIDA, Décima Terceira Câmara Cível, julgada em 09/3/2006). 1.8 - Direito à retificação Caso o consumidor verifique que as informações sobre sua pessoa nos cadastros e bancos de dados encontram-se incorretas, pode exigir a correção (pela via judicial ou extrajudicial). O arquivista deve de imediato corrigir tais informações e dentro do prazo de 05 (cinco) dias informar aos terceiros que tenham recebido a informação incorreta a sua alteração. 1.9 - Entidades de caráter público Os bancos de dados e cadastros de consumidores, os serviços de proteção ao crédito e congêneres são, por força do CDC, considerados entidades de caráter público. A elevação dos bancos de dados e cadastros de consumidores, os serviços de proteção ao crédito e congêneres a entidades de caráter público implica em duas conseqüências: - estão sujeitos a habeas data (para o acesso do consumidor às informações e para a exigência de correção ou cancelamento dos dados incorretos a seu respeito); - prevalece o interesse público. Lembrete: O habeas data constitui um hábil e eficaz instrumento jurídico que assegura ao cidadão o acesso a informações constantes de registros ou bancos de dados públicos ou de entidades privadas, que administram informações de caráter público. Curso - Dívidas em Relações de Consumo 22 Devido ao local onde se encontra inserido na CR/88, (Título II - "Dos Direitos e Garantias Fundamentais") pode-se perceber sua relevância em nosso ordenamento jurídico, bem como suas implicações. Art. 5º, LXXII - conceder-se-á "habeas data": a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; 1.10 - Das sanções penais O CDC mais à frente, no Título "Das infrações penais" dispõe que constitui crime o desatendimento ao art. 43, caput e seu §3º: Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre ele constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros: Pena Detenção de seis meses a um ano ou multa. Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação sobre consumidor constante de cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria saber ser inexata: Pena Detenção de um a seis meses ou multa. Todos os dois dispositivos relacionam-se diretamente com a atividade de cadastros e bancos de dados de consumo de forma a: - proteger, o acesso do consumidor às informações que sobre ele constem nestes cadastros, bancos de dados, fichas e registros; - resguardar o direito do consumidor de exigir a imediata correção da informação sobre ele constante de cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria saber ser inexata. 1.11 - Das sanções administrativas e civis Como visto, a inobservância do que determina o CDC gera aos arquivistas sanções penais. Entretanto, de igual forma incidem sanções administrativas e civis sobre os cadastros e bancos de dados. No Capítulo "Das sanções administrativas", a Lei 8.078/90 dispõe que qualquer inobservância às disposições do seu texto geram sanções administrativas. Cumpre acrescentar que estas sanções são impostas pela autoridade administrativa, no âmbito de sua atribuição (Procon) e possuem o condão de educar e inibir as condutas consideradas abusivas. Curso - Dívidas em Relações de Consumo 23 As sanções civis, por sua vez, correspondem à reparação de danos. Sedimentado está em nosso ordenamento jurídico que a inscrição indevida é motivo suficiente para a condenação em indenização por danos morais e materiais. A obrigação de indenizar nasce da inscrição injusta, aleatória, inverídica e sem fundamento do nome do consumidor nestes cadastros de proteção ao crédito. Isso causa-lhe sérios prejuízos, quer seja de ordem moral, quer seja de ordem patrimonial. O dano moral pauta-se na ofensa à privacidade, honra e ao sentimento de dignidade da pessoa. Decorre da própria negativação injusta junto a órgãos de proteção ao crédito, não se exigindo prova de efetivo prejuízo sofrido ou a repercussão do fato. O dano decorre da própria inscrição. O lançamento indevido enseja angústia, constrangimento, vergonha, humilhação por algo que o consumidor não deve. Cumpre ainda lembrar que o STJ já garantiu por meio da Súmula 227 que: "a pessoa jurídica pode sofrer dano moral". Os danos materiais são devidos quando os valores econômicos (como redução da renda ou da sua perspectiva, repercutindo no padrão de vida da vítima ou na formação de seu patrimônio) são atingidos. Englobam, assim, o dano e emergente (o que efetivamente se perdeu) e os lucros cessantes (o que razoavelmente deixou de lucrar). Tem como principais características a certeza e atualidade. Basta que a vítima demonstre que a inscrição em banco de dados de restrição ao crédito lhe ocasionou danos materiais para ser ressarcido. Por fim, deve ser registrado que a responsabilidade pelos danos morais e materiais é objetiva, não se perquirindo se os cadastros ou bancos de dados de proteção ao crédito agiram ou não com dolo, negligência, imperícia ou imprudência. 1.12 - Prazo prescricional Diz o § 5º do art. 43 do CDC: § 5°, art.43, CDC. Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedores. Ao analisar tal dispositivo, Leonardo Roscoe Bessa dispõe: "A informação deve ser excluída do banco de dados no prazo de cinco anos se antes não restar caracterizada a prescrição da ação para cobrança da obrigação. Assim, se determinada ação, referente a obrigação registrada, possuir prazo prescricional de cobrança inferior a cinco anos, deve esse Curso - Dívidas em Relações de Consumo 24 prevalecer" (MARQUES, Cláudia Lima, BENJAMIM, Antônio H. V., BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pág. 271) A mesma posição tem Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin: "... mesmo que originada há menos de cinco anos, qualquer informação capaz de "impedir ou dificultar novo acesso ao crédito" deve ser descadastrada automaticamente, em momento coincidente com a prescrição da ação de cobrança. Aqui, a vida útil do assento fica na dependência da duração do instrumento processual posto nas mãos do credor para reaver o seu crédito."(GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Código brasileiro de defesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, pág. 395) 1 - A cobrança das dívidas Lídia Salomão Advogada atuante em Belo Horizonte/MG, graduada em Direito pela PUC- MG, pós graduada em Direito Civil e Processual Civil pela UNIPAC. Tel: (31) 3227.3388 1.1 - Introdução A cobrança de uma dívida deve cercar-se de alguns cuidados para não deixar de ser um direito legítimo do credor. Isso quer dizer que o credor deve se ater ao que dispõe a lei para a cobrança de dívida, para que não extrapole o direito de receber o que lhe é devido. Veremos neste curso as disposições do CDC que proíbem a cobrança indevida e abusiva de uma dívida. 1.2 - Previsão legal O Código de Defesa do Consumidor preceitua em seu art. 42, inserido no Capítulo "Das práticas comerciais": Art. 42, CDC. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável. Mais à frente, no Título "Das infrações penais" complementa o art. 42 ao dispor: Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, Curso - Dívidas em Relações de Consumo 25 injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer: Pena - Detenção de três meses a um ano e multa. 1.3 - A cobrança de dívidas e o exercício regular do direito Claro é que a cobrança de dívidas é permitida pela legislação, tanto no âmbito civil como no âmbito consumerista. Portanto, frente a esta garantia legal, pode-se dizer que o ato de cobrar dívidas equivale ao exercício regular de um direito reconhecido. Como veremos adiante, a vedação legal ocorre apenas se o credor exorbita o exercício regular deste direito de cobrança, ou seja, abusa de seu direito. O abuso de direito é o excesso no exercício regular deste direito. O CC explicitamente o repudia ao configurá-lo como ato ilícito no seu art. 187 (Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes). 1.4 - A limitação do exercício de cobrança de débitos O CDC, como forma de evitar o abuso ou o exercício irregular do direito de cobrança, resolveu limitá-lo dispondo que não pode haver exposição ao ridículo, nem constrangimento ou ameaça ao consumidor/devedor para que este adimpla com suas obrigações. 1.5 - Ações de cobrança permitidas Configuram exercício regular do direito de cobrança de dívidas: 1) ingressar em juízo com a ação correspondente; 2) fazer a cobrança via telefone ou por carta; 3) enviar notificação comunicando que caso o consumidor não pague em um determinado tempo, ingressará em juízo para a cobrança da dívida (forma permitida de ameaça, pois existe a ameaça do exercício regular do direito que é de ajuizar ação de cobrança); 4) protestar um cheque sem fundos; 5) incluir o nome do consumidor/devedor nos cadastros de proteção ao crédito; 1.6 - Ações de cobrança proibidas Ao fornecedor/credor, que sem justificativa, expõe o consumidor/devedor a ridículo ou interfere no seu trabalho, descanso ou lazer, utilizando-se para a cobrança de dívida de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, Curso - Dívidas em Relações de Consumo 26 afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, abusa de seu direito de cobrança, o que é expressamente proibido pela Lei 8.078/90. Vejamos os procedimentos de cobrança que são proibidos pela lei consumerista. Ameaça - qualquer tipo de ameaça é vedado, exceto a ameaça de exercer um direito garantido pela lei (por exemplo, credor ameaça devedor de que irá protestar o cheque se ele não pagar em 30 dias); Coação - o ato de coagir o consumidor inadimplente, obrigando-o ao pagamento da dívida também é vedado pelo CDC; Constrangimento físico ou moral - esta forma de cobrança não só afeta o consumidor como sua família e pode os expor a riscos à integridade física e moral, o que não é permitido; INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - COBRANÇA VEXATÓRIA - ILEGALIDADE - CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO DA QUANTIA - CARÁTER COMPENSATÓRIO, PUNITIVO E PEDAGÓGICO - RAZOABILIDADE. A cobrança pública, e vexatória, causando situação de constrangimento e intimidação para o devedor é suficiente para a configuração do dano moral. O valor da indenização por danos morais deve atender ao caráter compensatório para a vítima, punitivo para o causador do dano e compensatório para a sociedade. (TJMG, Apelação Cível Nº 1.0313.05.168056-6/001(1), Décima Câmara Cível, Relator: VALDEZ LEITE MACHADO, Julgado em 18/04/2007) Afirmações falsas, incorretas ou enganosas - as informações devem sempre ser verídicas e corretas, demonstrando sempre a transparência e a boa-fé de uma relação de consumo; Exposição ao ridículo - expor o consumidor/devedor a um vexame, humilhando-o perante outras pessoas também é uma prática de cobrança vedada pelo CDC; Interferência com trabalho, descanso ou lazer - exemplo desta cobrança indevida: não se pode em momento algum deixar um recado com um colega de trabalho para que este avise o consumidor sobre sua inadimplência. Mas pode sim enviar correspondência para estes locais: CIVIL- AÇÃO DE INDENIZAÇÃO- APELAÇÃO- COBRANÇA VEXATÓRIA- DANO MORAL CONFIGURADO- RESPONSABILIDADE CIVIL- CARACTERIZAÇÃO- INDENIZAÇÃO- CABIMENTO- VALOR- RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE- MAJORAÇÃO- IMPOSSIBILIDADE- BOLSA DE ESTUDOS DE CURSO EXTRACURRICULAR DESTINADA AOS ALUNOS DO SENAI- CONCESSÃO- TRANSFERÊNCIA PARA ESCOLA PÚBLICA- PERDA DO DIREITO- PAGAMENTO PELO CURSO- RESTITUIÇÃO- NÃO-CABIMENTO. Por Curso - Dívidas em Relações de Consumo 27 não ser vedado em lei, o credor poder valer-se de todos os meios que dispõe para a cobrança de seus créditos, ainda que na residência, no local de trabalho ou na escola do devedor. Ao cometer excesso na cobrança, expondo o devedor a vexame ou constrangimento anormal, o credor está obrigado a indenizá-lo, pelo dano moralsofrido. Ao receber bolsa de estudos para curso técnico extracurricular, e ao ser informado do requisito exigido de permanência no ensino médio da instituição de ensino, o aluno que se transfere para a escola pública, e celebra, voluntariamente, contrato para permanência no curso extracurricular, não tem direito à restituição em dobro de parcela paga em face de contrato de prestação de serviços escolares. (TJMG, Apelação Cível Nº .0000.00.503193-2/000(1), Décima Sétima Câmara Cível, Relatora: MÁRCIA DE PAOLI BALBINO, Julgado em 02/06/2005) 1.7 - Repetição do indébito O direito à repetição do indébito, abarcado pelo parágrafo único do art. 42 do CDC nasce da cobrança ao consumidor de quantia que este não deve. Desta forma, o consumidor tem direito ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável. Trata-se de uma forma de sanção civil imposta pela lei consumerista para coibir a cobrança de dívida de valor indevido. Observação: A jurisprudência já vem reconhecendo o direito à repetição do indébito quando o consumidor paga valor constante em cláusula contratual abusiva (assim considerada por lei ou decisão judicial). Neste sentido vide: Resp 453.782/RS, Resp 200.267/RS, Resp 328.338/MG. 1.8 - Requisitos objetivos para a repetição do indébito Para que haja o direito do consumidor à repetição do indébito em dobro deve existir: 1) a cobrança de dívida indevida pelo fornecedor; Ressalta-se que esta dívida deve, necessariamente, ser de consumo. 2) o pagamento pelo consumidor da quantia indevidamente cobrada. 1.9 - Engano justificável: requisito subjetivo Quando a parte final do parágrafo único do art. 42 diz "salvo hipótese de engano justificável" abre a possibilidade de o credor não ser obrigado a repetir o indébito em caso de engano justificável. Curso - Dívidas em Relações de Consumo 28 Antônio Herman V. Benjamin, na obra Manual de direito do consumidor, define de forma bastante clara o engano justificável: "O engano é justificável exatamente quando não decorre de dolo ou de culpa. É aquele que, não obstante todas as cautelas razoáveis exercidas pelo fornecedor- credor, manifesta-se." (MARQUES, Cláudia Lima, BENJAMIM, Antônio H. V., BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pág. 235) O "engano justificável" é bastante subjetivo e, cabe ao fornecedor provar sua existência para eximir-se da repetição do indébito. EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. ASSINATURA DE REVISTA MENSAL. RENOVAÇÃO AUTOMÁTICA PELA EDITORA SEM CONTRATAÇÃO OU AUTORIZAÇÃO DO CONSUMIDOR. DESCABIMENTO. LANÇAMENTO DE PARCELAS EM DÉBITO EM CONTA CORRENTE. SOLICITAÇÃO DE CANCELAMENTO NÃO ATENDIDA PELA EDITORA. PRÁTICA ABUSIVA. INFRINGÊNCIA AOS DIPOSITIVOS DO CODIGO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR (CDC). LEI 8.078/90, ARTIGO 39, III. 1. Grupo de comunicação que renova automaticamente, sem prévio pedido e/ou autorização do consumidor, assinatura de revistas de entrega mensal, debitando valor em conta corrente. Prática abusiva proibida pelo CDC, artigo 39, III. Solicitação de cancelamento da renovação indevida da assinatura não atendida pela editora. Transtornos e dissabores que colorem a figura do dano moral (...) 4. Não havendo prova no sentido de que a requerida tenha procedido à cobrança imbuída de dolo ou má-fé, descabe a repetição indébito em dobro, sendo cabível, entretanto, a repetição simples. Danos materiais fixados em sentença que vão mantidos. APELO IMPROVIDO. RECURSO ADESIVO PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Cível Nº 70022290662, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Antônio Kretzmann, Julgado em 28/02/2008) Cumpre salientar que caso a hipótese de "engano justificável" seja aceita, permanece o direito do consumidor de receber o valor pago indevidamente (mas não em dobro), acrescido de correção monetária e juros legais, como demonstrou a decisão acima. 1.10 - Os juros e correção monetária Sobre a restituição em dobro do valor pago indevidamente, ainda incidem atualização monetária e juros legais. 1.11 - O meio de cobrança Impera uma divergência doutrinária no que tange ao meio de cobrança para que haja o direito do consumidor à repetição do indébito. Curso - Dívidas em Relações de Consumo 29 Uma corrente defende que esta cobrança deve ser extrajudicial e outra que também pode ser judicial. Mas, antes de adentrarmos nos posicionamentos, relevante se faz transcrever o art. 940 do Código Civil: Art. 940, CC. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas, ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição. Entre os que defendem que esta cobrança deve ser extrajudicial está Antônio Herman V. Benjamin que na obra Manual de direito do consumidor, comenta: "... esta Seção V destina-se somente às cobranças extrajudiciais. Não interfere, em momento algum, com a atuação judicial de cobrança. Eventual excesso ou desvio nesta será sancionado nos termos do art. 940 do Código Civil. (...) No sistema do Código Civil, a sanção só tem lugar quando a cobrança é judicial, ou seja, pune-se aquele que movimenta a máquina do Judiciário injustificadamente. Não é esse o caso do Código de Defesa do Consumidor. Usa-se aqui o verbo cobrar, enquanto o Código Civil refere-se a demandar... " (MARQUES, Cláudia Lima, BENJAMIM, Antônio H. V., BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pág. 234) Já no entendimento do eminente Desembargador Rizzatto Nunes, tal raciocínio, ao basear-se nos verbos demandar e cobrar geram um considerável equívoco. Para ele: "... o fato da norma civil especificar demanda é algo que, em primeiro lugar, diz respeito à relação de direito privado e atende ao interesse daquele sistema, que é muito diferente do da Lei 8.078. (...) Mas o uso do verbo "cobrar" no sistema da legislação consumerista não elide de forma alguma o sentido de cobrança judicial. Seria pueril afirmar que na cobrança abusiva, só por ser judicial, o credor não responde pelas penas do parágrafo único do art. 42. ..." (NUNES, Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor, 3 ed., São Paulo: Saraiva, 2008, pág. 574). 1.12 - Indenização por danos materiais e morais De qualquer maneira, como visto em outros cursos, se o consumidor é cobrado indevidamente, tem direito à reparação por danos materiais e morais provenientes da cobrança indevida. Apesar do dispositivo em comento não ter falado expressamente sobre a indenização, segue-se a regra geral do art. 6º, VI do CDC. Art. 6º, CDC. São direitos básicos do consumidor: Curso - Dívidas em Relações de Consumo 30 (...) VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; (...) Assim, se o consumidor pagou a quantia cobrada indevidamente, tem direito à repetição do indébito e indenização por danos morais e/ou materiais que porventura tenha sofrido em função da cobrança indevida. Agora, caso o consumidor não tenha pagado a quantia cobrada indevidamente e esta cobrança lhe tenha gerado danos, pode apenas pleitear as indenizações correspondentes. 1 - Considerações sobre a responsabilidade civil por injusta inscrição de informações/ nomes em Órgãos de Proteção ao Crédito Lídia Salomão Advogada atuante em Belo Horizonte/MG, graduada em Direito pela PUC- MG, pós graduada em Direito Civil e Processual Civil pela UNIPAC. Tel: (31) 3227.3388 1.1 - Introdução Infelizmente o ajuizamentode ações de indenização por danos materiais e principalmente morais em face de empresas por inclusão indevida do nome de seus clientes em órgãos de proteção ao crédito vem crescendo a cada dia. A inserção injusta causa às pessoas / consumidores danos de ordem moral e em algumas vezes patrimonial, que, reconhecida gera o direito à reparação. 1.2 - Responsabilidade subjetiva A inclusão injusta na maioria dos casos é feita por culpa da empresa, loja, fábrica, etc., o que enseja a responsabilidade subjetiva desta(s), fundada na prática de ato ilícito. Pelo CC (art. 927, caput), toda vez que houver a prática de um ato ilícito, o prejuízo dele resultante deve ser reparado (o ato ilícito é fonte de obrigação e uma vez praticado gera para seu autor a obrigação de indenizar a vítima). Art. 927, CC. "Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187) causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo". Curso - Dívidas em Relações de Consumo 31 1.3 - Elementos do ato ilícito Art. 186, CC. "Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito." Este artigo traz o conceito de ato ilícito, bem como seus elementos essenciais. Como elementos do ato ilícito podem ser extraídos: a antijuridicidade, a culpabilidade, o dano e o nexo causal. Veremos a seguir cada um deles para melhor compreendermos a responsabilidade subjetiva. 1.3.1 - Elementos do ato ilícito - antijuridicidade Antijuridicidade: é a contrariedade aos objetivos do Direito (segurança, paz, justiça, etc.). O art. 186 diz: "Aquele que, por ação ou omissão...violar direito...". Assim, toda ação ou omissão humana que atente contra os objetivos do Direito são antijurídicos. Mas para que o ato seja ilícito não basta que ele seja antijurídico, o agente que o pratica deve saber que seu ato é ilícito para que então possa se provar a culpa. Por exemplo, avançar o sinal de trânsito é ato antijurídico, mas não acarreta conseqüências para o Direito, o ato ilícito sim, pois além de antijurídico, é voluntário e causa dano. 1.3.2 - Elementos do ato ilícito - culpabilidade Culpabilidade: a culpabilidade no Direito Civil, abrange dolo e culpa. O art. 186 do Código Civil referiu-se a culpa em sentido estrito, a distinguindo claramente do dolo (este sendo entendido como violação intencional do dever jurídico). Ambos não se confundem, mas tratando-se de indenização, geram conseqüências idênticas. "Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência..." Desta expressão retira-se a base da responsabilidade extracontratual por ato ilícito: O DEVER DE RESSARCIR PELA PRÁTICA DE ATO ILÍCITO DECORRE DA CULPA. A culpa significa a conduta censurada e reprovada do agente por falta de diligência, ou melhor, toda vez que houver uma ação ou omissão imperita, imprudente ou negligente, haverá a culpa. Destarte, a ação ou omissão voluntárias podem ser por: falta de cuidado, falta de atenção (negligência); assunção de risco desnecessário (imprudência) e falta técnica de quem, em tese, tem habilidade necessária (imperícia). Ressalta-se que apesar do art. 186 do Código Civil não falar em imperícia, ela encontra-se implícita no seu contexto. Curso - Dívidas em Relações de Consumo 32 1.3.3 - Elementos do ato ilícito - Dano Dano: o dano constitui o efetivo prejuízo suportado pela vítima. Ele pode ser moral ou patrimonial, mas deve ser atual, certo e lesar efetivamente um bem juridicamente tutelado. Dano patrimonial ou material é aquele que afeta o patrimônio do ofendido; Dano extrapatrimonial ou moral é aquele que afeta a personalidade, nome, imagem, privacidade da vítima, bem como o ânimo psíquico, moral e intelectual desta. Assim, todo dano que cause um distúrbio anormal na vida do indivíduo, será moral. Dano emergente é aquele que gera a diminuição do patrimônio da vítima. Lucro cessante traduz o que a vítima deixou de lucrar com o dano sofrido. 1.3.4 - Elementos do ato ilícito - Nexo causal Nexo causal entre o dano e a culpa: a causa do dano deve estar relacionada com o comportamento do agente para que haja a obrigação de indenizar. O nexo de causalidade é o liame ou relação direta de causa e efeito entre o fato gerador da responsabilidade e o dano. 1.4 - Responsabilidade objetiva Como visto anteriormente, o caput do art. 927 do CC delimita a responsabilidade apenas aos praticantes de ato ilícito. Ocorre que, em alguns casos, o nome das pessoas são incluídos nos órgãos de proteção ao crédito por uma empresa independentemente desta agir com culpa nesta inclusão. Assim, entendeu por bem o legislador em ampliar a responsabilidade civil por meio do parágrafo único do mesmo dispositivo. Art. 927, Parágrafo único, CC. "Haverá a obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem." O parágrafo único deste dispositivo diz que também haverá obrigação de reparar o dano, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Nestes casos a reparação independe da existência da culpa e é chamada de responsabilidade objetiva. Importa registrar que para o dano originado de uma relação de consumo aplica-se a regra do Código de Defesa do Consumidor: a responsabilidade civil objetiva, haja vista que este equivale a um caso especificado em lei. O CC de 2002 também inovou seguindo o contexto da sociedade atual e dispôs na segunda parte do parágrafo único do art. 927 a responsabilização objetiva, baseada na idéia central do risco. Curso - Dívidas em Relações de Consumo 33 O eminente doutrinador Sílvio de Salvo Venosa, em sua obra de Direito Civil: Responsabilidade Civil, Editora Atlas, 3ª ed. São Paulo. 2003, pág. 17 muito bem explica esta forma de responsabilidade objetiva: "... quem, com sua atividade, cria um risco deve suportar o prejuízo que sua conduta acarreta, ainda porque essa atividade de risco lhe proporciona um benefício...Qualquer que seja a qualificação do risco, o que importa é sua essência: em todas as situações socialmente relevantes, quando a prova da culpa é um fardo pesado ou intransponível para a vítima, a lei opta por dispensá-la". 1.5 - Sistemas de proteção ao crédito Os bancos de dados e cadastros de consumidores que constituem o sistema de proteção ao crédito estão regulamentados basicamente pelo art. 43 e seus parágrafos no CDC. "Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os serviços de proteção ao crédito e congêneres são considerados entidades de caráter público"(§4º do art. 43, CDC) e por isso estão submetidos ao controle de órgãos públicos. Estas entidades de proteção ao crédito reúnem informações a respeito de pessoas físicas e jurídicas com o objetivo de contribuir para a realização de negócios mais seguros entre consumidores e fornecedores de produtos ou serviços. "Devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a período superior a cinco anos." (§1º do art. 43, CDC). Podem ser citados como órgãos de proteção ao crédito o SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), a Serasa, o CCF (Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundo), o CADIN (Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal), entre outros. 1.6 - A inclusão de informações nos órgão de proteção ao crédito e a responsabilidade civil A inclusão do nome do devedor nos bancos de dados de inadimplentes é feita sempre pelo credor. Ocorre que, ultimamente estes credores estão
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