Prévia do material em texto
Exame do líquido cefalorraquidiano (LCR) Prof. Luís Fernando Pita Gondim Email: pita@ufba.br Sinonímia Liquor / fluido cerebroespinhal Definição Fluido claro e incolor que circunda o sistema nervoso central (http://4.bp.blogspot.com) Localização Ventrículos cerebrais Espaços subaracnóides do cérebro e medula espinhal http://www.psych.ndsu.nodak.edu Importância do exame Auxílio diagnóstico e prognóstico de doenças do SNC Algumas funções do LCR Sustentação do encéfalo e medula espinhal Proteção mecânica Proteção biológica – Ac e leucócitos Sistema tampão Nutrição Troca de anabólitos e catabólitos entre o sangue e SNC Transporte de neurotransmissores e substâncias neuroendócrinas Produção do liquor Ultrafiltrado do plasma sanguíneo Plexos coróides vasculares (ventrículos laterais, 3º e 4º ventríc.) Células ependimárias Vasos da pia-aracnóide Taxa de produção em algumas espécies Cão: 0,47 ml/min. Gato: 0,17 ml/min. Homem: 0,5 ml/min. Absorção Principal local: vilosidades aracnóides (conjunto: granulações aracnóides) Sistema valvular do endotélio venoso Veias e vasos linfáticos Barreira hemato-encefálica (BHE) Características Grande seletividade- vital para a função cerebral Problema: passagem de medicamentos em doenças do SNC Transporte ativo de Na+ e K+ Transporte passivo de H20, CO2, O2 , glicose, aa, sulfonamidas, anestésicos gerais e etc... Alterações na permeabilidade da BHE Processos inflamatórios, tóxicos, neoplásicos, traumáticos e etc... Indicações e contra-indicações para o exame do liquor Indicações para a colheita Evidência clínica de enfermidades do SNC Prognóstico Terapia Mielografia Contra-indicações Animais que não possam ser anestesiados ou bem contidos Infecções cutâneas localizadas Desidratação severa Distúrbios hemostáticos Colheita Cuidados gerais Contenção e posicionamento Tricotomia e antissepsia Acondicionamento em três frascos limpos e numerados Remessa imediata ao laboratório Locais de colheita Suboccipital ou cisterna magna Lombar Agulhas www.spcollege.edu http://www.spjc.edu www.tackandtalk.wordpress.com Colheita Exame do liquor Exame físico Exame químico Exame citológico Exame físico do liquor Aspecto Normal: límpido Alterado: turvo, levemente turvo Coloração Normal: incolor Alterada: Avermelhada – hemorragia recente ou contaminação durante a colheita Xantocrômica- bilirrubina = desintegração de hemácias no liquor (>12h) ou aumento significativo de proteína (>400mg/dl) Cinza, esverdeada- condições supurativas Densidade Normal: 1003 a 1006 Alterada: aumento de sólidos totais Exame químico do liquor pH Normal: 8,0 ± 1,0 Alterado: ácido – equilíbrio ácido-básico reflete pouco no liquor Proteína Cães: < 25mg/dl Gatos: < 20mg/dl Equinos: < 80mg/dl Bovinos: < 40mg/dl Ovinos: < 40mg/dl Suínos: < 40mg/dl Aumento de proteína Alterações de permeabilidade vascular, convulsões, uremia Processos inflamatórios: encefalites, abcessos cerebrais ou medulares, meningites, etc... Processos degeneraivos ou neoplásicos Contaminação de colheita Dosagem de proteína no liquor Kits para microproteína Tiras reagentes TCA a 10% - espectrofotômetro Globulinas Pandy (sol. de fenol) – turvação Nonne-Apelt (sol. Saturada de sulf. de amônio) anel branco-acinzentado Glicose Normal: 60 a 80% da glicose sérica Glicemia: reflete no liquor após cerca de 1 a 3h Concentração depende: permeabilidade da BHE e microrganismos glicolíticos Alterações da glicose Hipoglicorraquia: hipoglicemia, infecções piogênicas e hemorragias Hiperglicorraquia: relacionada a hiperglicemia Exame citológico Contagem global de células nucleadas e hemácias Realizar no máximo 30 min. após a colheita Câmera de Neubauer ou Fuchs-Rosenthal Normal: < 5 células nucleadas / µl Hemácias: 0 Aumento de células nucleadas (CN) = pleocitose Contaminação com sangue: cerca de 1 leucócito para 500 hemácias Contagem diferencial Centrifugação: citocentrífuga Corantes hematológicos + albumina ou NMB Células encontradas Normal: pequenos linfócitos e células mononucleares Hemácias: hemorragia/contaminação Neutrófilos: infecção bacteriana, neoplasias e pós mielografia Linfócitos: encefalites virais Eosinófilos: criptococose, infec. por protozoários Plasmócitos: produção de Ac Macrófagos Células neoplásicas Microrganismos: bact., fungos e protozoários Exames adicionais Pressão liquórica Decúbito lateral Manômetro – mm de H2O Pôr o aparelho após a saída da primeira gota Evitar compressão das veias jugulares Valores normais em mm de H2O Cães < 170 Gatos < 100 Equinos < 200 Bovinos < 270 Ovinos < 145 Suínos < 400 Acesso ao espaço subaracnóide Outros exames Mielografia Mielografia http://cal.vet.upenn.edu Sorologia do liquor Pesquisa de Ac contra agentes infecciosos Causa frequente de sorologia do liquor: mieloencefalite protozoária equina (MPE) Mieloencefalite protozoária equina (MPE) http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/13/Equine_Protozoal_Myeloencephalitis_life_cycle.jpg MEP – hospedeiro definitivo América do Sul – Didelphis albiventris (“sariguê”) MPE – diagnóstico ante-mortem Sintomatologia neurológica Sorologia positiva do liquor – IgG anti Sarcocystis neurona (Western blot ou IFI) http://www.ca.uky.edu Caso clínico (Morris et al., 2006) Equino, macho, 4 anos de idade Raça: Tennessee Walking Horse Problemas apresentados: cegueira observada cinco dias antes de ser atendido no Hospital Veterinário. Tratado com anti-inflamatório por veterinário particular. Exame físico: levemente febril, depressão, pupilas dos dois olhos dilatadas, cegueira bilateral, ataxia intermitente de membros posteriores Exames solicitados: hemograma, perfil bioquímico, análise do liquor e radiografia toráxica. Exame do liquor (Lombar) Parâmetro Resultado Referência Unidades Coloração Xantocrômica Incolor Aspecto Turvo Hemácias 14 0 /μL Células nucleadas 1315 0 - 5 /μL Proteína 616,5 < 80 mg/dL Exame citológico: 200 células contadas: 92% de neutrófilos, 7% de pequenos linfócitos e 1% de células mononucleares grandes (incluindo macrófagos em atividade fagocitária). Raros mastócitos estavam presentes. Número moderado de inclusões fúngicas com cápsulas finas ou espessas. Ausência de bactérias. Suspeita de Cryptococcus neoformans. Citologia do liquor Exames adicionais Lavado traqueobrônquico devido aos resultados do raio x: inflamação purulenta com infecção bacteriana e fúngica. Fungos não eram Cryptococcus sp. Culturas fúngicas e bacterianas foram recomendadas. Cultura fúngica : ausência de crescimento em 5 dias Cultura bacteriana : não realizada Teste de aglutinação em latex para Cryptococcus spp (soro e liquor): positivo Endoscopia de trato respiratório superior: sem alteração Tratamento Foi tratado com fluconazole. Tratamento suporte com DMSO, vitamina E e flunixin meglumine. Nos primeiros dois dias de tratamento apresentou ataxia moderada nos quatro membros, provavelmente resultado de inflamação no SNC devido a morte de Criptococcus sp. Revisão Após 14 dias o animal recuperou parte da função visual Nova amostra de liquor foi colhida. Houve moderada pleocitose neutrofílica,com raras inclusões de Criptococcus sp. O paciente foi encaminhado para casa, com a orientação de continuar o tratamento com fluconazole por quatro semanas adicionais.