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09 - UNIDADE VI - Eficácia do casamento

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UNIDADE VI - DA EFICÁCIA JURÍDICA DO CASAMENTO 
1. EFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO 
Os efeitos produzidos pelo casamento são numerosos e complexos. A união conjugal não é 
só relação jurídica, mas — e antes de tudo — relação moral. 
As relações que formam a teia da vida íntima pertencem ao domínio da moral. São 
consequências imediatas da afeição recíproca e o seu estudo não compete à técnica do 
direito. 
O Direito apenas intervém para normatizar os efeitos mais importantes do casamento, 
uns efeitos regulados como direitos e deveres decorrentes da convivência entre os 
cônjuges, cuja inobservância, contrariando o fim do casamento, pode ocasionar graves 
perturbações; outros efeitos resultantes das ligações entre os diversos integrantes da 
família; outros, ainda, decorrentes das relações destes com terceiros. 
O casamento irradia os seus múltiplos efeitos e consequências no ambiente social e 
especialmente nas relações pessoais e econômicas dos cônjuges, e entre estes e seus 
filhos, como atos de direito de família puros, gerando direitos e deveres que são 
disciplinados por normas jurídicas. 
Pode-se, em consequência, afirmar que as relações que se desenvolvem como corolário da 
constituição da família pertencem a três categorias: 
� as da primeira têm cunho social; 
� as da segunda têm caráter puramente pessoal; 
� e as da terceira são fundamentalmente patrimoniais. 
AS RELAÇÕES DE CARÁTER PESSOAL limitam-se, em regra, aos cônjuges e aos filhos e 
são essencialmente de natureza ética e social. 
Assumem, no entanto, caráter propriamente jurídico pela consideração especial que lhes 
dá a ordem legal. 
Referem-se aos direitos e deveres dos cônjuges e dos pais em face dos filhos. 
AS DE CUNHO PATRIMONIAL, que abrangem o regime de bens, a obrigação alimentar e 
os direitos sucessórios, podem eventualmente estender-se aos ascendentes e aos colaterais 
até o segundo grau (CC, art. 1.697), ou ainda até o quarto grau (art. 1.839). 
1.1. EFEITOS SOCIAIS DO CASAMENTO 
Os efeitos do casamento projetam-se no ambiente social e irradiam as suas consequências 
por toda a sociedade. 
O matrimônio legaliza as relações sexuais do casal, proibindo a sua prática com outrem e 
estabelecendo o “debitum conjugale”. 
O SEU PRINCIPAL EFEITO, no entanto, é a constituição da família legítima ou 
matrimonial. Ela é a base da sociedade e tem especial proteção do Estado, conforme estatui 
o art. 226 da Constituição Federal, que reconhece também a união estável e a família 
monoparental como entidades familiares (§§ 3º e 4º). 
OBSERVAÇÃO: A família constituída pelo casamento, e só por isto, pode continuar sendo 
chamada de legítima, para se distinguir das outras duas, não se confundindo com as 
expressões “filiação legítima” ou “ilegítima”, não mais permitidas pelo art. 227, § 6º, do 
diploma constitucional. Pode também ser denominada matrimonial. 
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Por sua significação social, o Estado não se limita a chancelar o casamento e atribuir 
responsabilidades aos cônjuges, mas disciplina a relação conjugal, impondo-lhe deveres e 
assegurando-lhe direitos e, muitas vezes, interferindo na vida íntima do casal. 
O Código Civil de 2002 procurou, todavia, estabelecer uma espécie de reserva familiar, ao 
proibir “a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída 
pela família” (art. 1.513), sem com isso afastar o Estado, em várias hipóteses, de sua função 
promocional e protetiva. 
A presunção de concepção dos filhos na constância do casamento tem como marco inicial o 
estabelecimento da convivência conjugal (CC, art. 1.597), e como termo final a dissolução da 
sociedade conjugal (art. 1.598). 
A sua realização antecipa a maioridade, emancipando o cônjuge menor (CC, art. 5º, 
parágrafo único, II), bem como estabelece vínculo de afinidade entre cada cônjuge e os 
parentes do outro (CC, art. 1.595, §§ 1º e 2º). 
Com relação à atuação do Estado para com o casamento, proclama o § 2º do art. 1.565 do 
Código Civil de 2002: “O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado 
propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de 
coerção por parte de instituições privadas ou públicas”. 
O planejamento familiar envolve aspectos éticos e morais. Assunto de tal magnitude para 
qualquer casal não pode prescindir da ética, da religião e de certa dose de maturidade. 
Por essa razão, a lei submete-o à livre decisão do casal, devendo, no entanto, ser orientado 
pelo princípio da paternidade responsável, que impõe ainda ao Estado o ônus de 
estabelecer programas educacionais e assistenciais nesse campo, propiciando os recursos 
financeiros necessários. 
A Lei n. 9.263, de 12 de janeiro de 1996, visando regulamentar o planejamento familiar 
prevê no art. 10, as situações em que é permitida a esterilização voluntária e pune com 
reclusão de dois a oito anos quem realizar esterilização cirúrgica em desacordo com o 
estabelecido no mencionado art. 106 da referida lei. 
1.2. EFEITOS PESSOAIS 
O principal efeito pessoal do casamento consiste no estabelecimento de uma “comunhão 
plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges” (CC, art. 1.511). 
O casamento, ao estabelecer “comunhão plena de vida”, como proclama o art. 1.511 do CC, 
com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges, IMPLICA 
NECESSARIAMENTE UNIÃO EXCLUSIVA, uma vez que o primeiro dever imposto a 
ambos os cônjuges no art. 1.566 do Código Civil é o de fidelidade recíproca. 
Com efeito, dispõe o art. 1.565 CC, que, por meio do casamento, “homem e mulher assumem 
mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família”. 
O legislador de 2002, ao destacar o estabelecimento da comunhão plena de vida priorizou 
as relações pessoais no casamento, considerando tal comunhão como o seu efeito por 
excelência. 
Salienta-se que do casamento advém uma situação jurídica relevante para os cônjuges, que 
adquirem um status especial, O ESTADO DE CASADOS, que se vem somar às qualificações 
pelas quais se identificam no seio da sociedade e do qual decorrem inúmeras 
consequências, que não se aferem em valores pecuniários, mas têm expressiva 
significação, especialmente no tocante às relações jurídicas com a prole e com terceiros. 
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Prevê o § 1º do art. 1.565 do CC que “qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o 
sobrenome do outro”. 
O cônjuge, ao se casar, pode permanecer com o seu nome de solteiro; mas, se quiser adotar 
os apelidos do consorte, não poderá suprimir o seu próprio sobrenome. Essa interpretação 
se mostra a mais apropriada em face do princípio da estabilidade do nome, que só deve 
ser alterado em casos excepcionais, princípio esse que é de ordem pública. 
Ao contrário do cód. 1916 que estabelecia deveres próprios do marido e da mulher, o Cód. 
de 2002, princípio da plena igualdade de direitos e deveres entre os cônjuges, de sorte que 
não há mais deveres próprios do marido e da mulher. Ambos assumem a condição de 
“consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família” (art. 1.565). Aos 
deveres de ambos os cônjuges acrescentou-se o de “respeito e consideração mútuos”. 
“A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela mulher, sempre no 
interesse do casal e dos filhos” (art. 1.567). “Havendo divergência”, aduz o parágrafo único, 
“qualquer dos cônjuges poderá recorrer ao juiz, que decidirá tendo em consideração aqueles 
interesses”. 
A direção da família caberá exclusivamente a um dos cônjuges, caso o outro esteja “em 
lugar remoto ou não sabido, encarcerado por mais de cento e oitenta dias, interditado judicialmente 
ou privado, episodicamente, de consciência, em virtude de enfermidade ou de acidente”(CC, art. 
1.570). 
1.3. EFEITOS PATRIMONIAIS 
O casamento gera, para os consortes, consequências e vínculos econômicos, 
consubstanciados no regime de bens, nas doações recíprocas, na obrigação de sustento de 
um ao outro e da prole, no usufruto dos bens dos filhos durante o poder familiar, no 
direito sucessório etc. 
O regime de bens tem por termo inicial a data da realização do casamento e pode ser 
alterado “mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a 
procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros”. 
O regime de bens é, EM PRINCÍPIO, irrevogável, só podendo ser alterado nas condições 
mencionadas. 
Antes da celebração, podem os nubentes modificar o pacto antenupcial, para alterar o 
regime de bens. 
Celebrado, porém, o casamento, ele torna-se imutável. 
Mesmo nos casos de reconciliação de casais separados judicialmente, o restabelecimento 
da sociedade conjugal dá-se no mesmo regime de bens em que havia sido estabelecida. 
No sistema do código de 1016, a imutabilidade do regime de bens era absoluta. A única 
exceção constava da Lei de Introdução ao Código Civil, que a instituiu em favor do 
estrangeiro casado, a quem ficou facultado, com a anuência do outro cônjuge, no ato de se 
naturalizar brasileiro, optar pelo regime da comunhão parcial, que é o regime legal entre 
nós, respeitados os direitos de terceiros. 
A jurisprudência tem admitido, também, tanto no regime da separação legal como no da 
separação convencional, a comunicação dos bens adquiridos na constância do casamento 
pelo esforço comum dos cônjuges, atuando como verdadeiros integrantes de uma 
sociedade de fato. 
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No Código Civil de 2002 foi afastada a imutabilidade absoluta do regime de bens, 
permitindo-se a sua alteração “mediante autorização judicial em pedido motivado de 
ambos os cônjuges” (art. 1.639, § 2º). 
A alteração não pode ser obtida unilateralmente, ou por iniciativa de um dos cônjuges em 
processo litigioso, pois o novel dispositivo citado exige pedido motivado de “ambos”. 
Visando ainda proteger o patrimônio comum e de cada cônjuge, especifica os atos que não 
podem ser praticados por um dos cônjuges sem a anuência do outro (art. 1.647). 
Com o intuito de aprimorar a redação do aludido art. 1.831 do Código Civil, o Projeto de Lei 
n. 6.960/2002, apresentado ao Congresso Nacional, propõe a inclusão da expressão 
“enquanto permanecer viúvo ou não constituir união estável”. 
2. DEVERES RECÍPROCOS DOS CÔNJUGES 
São deveres recíprocos do cônjuge (art. 1.566 CC): 
� “I - fidelidade recíproca; 
� II - vida em comum, no domicílio conjugal; 
� III mútua assistência; 
� IV - sustento, guarda e educação dos filhos; 
� V - respeito e consideração mútuos”. 
Embora o casamento estabeleça vários deveres recíprocos aos cônjuges, a lei ateve-se aos 
principais, considerados necessários para a estabilidade conjugal. 
A infração a cada um desses deveres constituía causa para a separação judicial, como o 
adultério, o abandono do lar conjugal, a injúria grave etc. (CC, art. 1.573). 
Com o advento da Emenda Constitucional n. 66/2010, ficam eles contidos em sua matriz 
ética, desprovidos de sanção jurídica, EXCETO no caso dos deveres de “sustento, guarda e 
educação dos filhos” e de “mútua assistência”, cuja VIOLAÇÃO PODE ACARRETAR, 
conforme a hipótese, a perda da guarda dos filhos ou ainda a suspensão ou destituição do 
poder familiar, e a condenação ao pagamento de pensão alimentícia. 
2.1. FIDELIDADE RECÍPROCA 
O dever de fidelidade recíproca é uma decorrência do caráter monogâmico do casamento. 
É dever de conteúdo negativo, pois exige uma abstenção de conduta, enquanto os demais 
deveres reclamam comportamentos positivos. 
A infração a esse dever, imposto a ambos os cônjuges, configura o adultério, indicando a 
falência da moral familiar, além de agravar a honra do outro cônjuge. Se extrapolar a 
normalidade genérica, pode ensejar indenização por dano moral. 
O dever em apreço inspira-se na ideia da comunhão plena de vida entre os cônjuges, que 
resume todo o conteúdo da relação patrimonial. 
Impõe a exclusividade das prestações sexuais, devendo cada consorte abster-se de praticá-
las com terceiro. 
Quando a conduta pessoal reflete uma variedade de situações desrespeitosas e ofensivas à 
honra do consorte, uma forma de agir inconveniente para pessoas casadas, inclusive a 
denominada “INFIDELIDADE VIRTUAL” cometida via Internet, pode também 
caracterizar-se a ofensa ao inciso V do aludido art. 1.566, que exige “respeito e consideração 
mútuos”. 
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Todavia, o diploma de 2002 admite, no art. 1.723, § 1º, a união estável entre pessoas que 
mantiveram seu estado civil de casadas, estando, porém, separadas de fato, como já vinham 
proclamando alguns julgados, que entendiam não haver mais o dever de fidelidade em 
caso de separação de fato e que o animus de pôr um fim na relação conjugal bastaria para 
fazer cessar a adulterinidade. 
Embora sob o prisma psicológico e social o adultério da mulher seja mais grave que o do 
marido, uma vez que ela pode engravidar de suas relações sexuais extramatrimoniais e, 
com isso, introduzir prole alheia dentro da vida familiar, a ser sustentada pelo marido 
enganado, não se justifica, DO PONTO DE VISTA JURÍDICO, qualquer distinção entre a 
infidelidade masculina e a feminina, por constituir fator de perturbação da estabilidade do 
lar e da família, além de séria injúria ao consorte. 
2.2. VIDA EM COMUM, NO DOMICÍLIO CONJUGAL 
A vida em comum, no domicílio conjugal, ou dever de coabitação, obriga os cônjuges a 
viver sob o mesmo teto e a ter uma comunhão de vidas. 
Essa obrigação não deve ser encarada como absoluta, pois uma impossibilidade física ou 
mesmo moral pode justificar o seu não cumprimento. 
Assim, um dos cônjuges pode ter necessidade de se ausentar do lar por longos períodos 
em razão de sua profissão, ou mesmo de doença, sem que isso signifique quebra do dever 
de vida em comum. 
O que caracteriza o abandono do lar é o animus, a intenção de não mais regressar à 
residência comum. 
Por essa razão, proclama o art. 1.569 do Código Civil que “o domicílio do casal será escolhido 
por ambos os cônjuges, mas um e outro podem ausentar-se do domicílio conjugal para atender a 
encargos públicos, ao exercício de sua profissão, ou a interesses particulares relevantes”. 
Só a ausência do lar conjugal durante um ano contínuo, sem essas finalidades, caracteriza o 
abandono voluntário, como dispõe o art. 1.573, IV, do Código Civil. 
Cessa, todavia, o dever de vida em comum, havendo justa causa para o afastamento do 
lar: 
O cumprimento do dever de coabitação pode variar, conforme as circunstâncias. Assim, 
admite-se até a residência em locais separados, como é comum modernamente. 
Porém, nele se inclui a obrigação de manter relações sexuais, sendo exigível o pagamento 
do “debitum conjugale”. 
Já se reconheceu que a recusa reiterada da mulher em manter relações sexuais com o 
marido caracteriza injúria grave, salvo se ela assim procedeu com justa causa. 
No entanto, a obrigação não envolve o atendimento a taras ou abusos sexuais. 
A “traditio corporum e o jus in corpus” não devem ser confundidos com a sujeição às 
aberrações sexuais, mas devem ser entendidas no interesse pessoal de cada um dos 
cônjuges, com o respeito à sua liberdade sexual, de forma que esse bem da personalidade 
deve ser respeitado pelo cônjuge no que se refere à escolha e prática de atividades 
sexuais normais”. 
A comunhão de vida sexual é, contudo, apenas um dos aspectos da comunhão de vida, 
sendo dominada pela ideia diretriz de dedicação exclusiva, mostrando íntima conexão com 
o dever de fidelidade recíproca. 
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A união de vida abrange, além dos aspectos materiais da comunidadede vida sexual e 
coabitação (comunhão de cama, mesa e casa), o aspecto espiritual. 
Com o casamento “não desaparece o comportamento social dos cônjuges, sendo cada um 
deles livre para empregar seu tempo como desejar e escolher suas atividades dentre as que 
lhes agradam... Assim, a liberdade de lazer deve ser respeitada pelos cônjuges, não 
podendo o esposo ou a esposa impedir que o seu consorte pratique o esporte favorito, ou 
leia o livro de sua predileção, ou seja, que tenha suas distrações favoritas, como, também, 
deve ser respeitada a liberdade de relacionamento de cada um dos cônjuges, que não pode 
ser impedido de manter amizade e certo convívio com seus familiares e amigos”. 
A vida em comum desenvolve-se no local do domicílio conjugal. 
A fixação do domicílio competia ao marido. 
Hoje diante da isonomia de direitos estabelecida na Constituição Federal e do mencionado 
art. 1.569 do Código Civil, a escolha do local deve ser feita pelo casal. 
Caberá ao juiz solucionar eventual desacordo no tocante a essa escolha, bem como à 
direção da sociedade conjugal (CC, art. 1.567, parágrafo único). 
2.3. MÚTUA ASSISTÊNCIA 
O dever de mútua assistência obriga os cônjuges a se auxiliarem reciprocamente, em todos 
os níveis. 
Assim, inclui a recíproca prestação de socorro material, como também a assistência moral e 
espiritual. Envolve o desvelo próprio do companheirismo e o auxílio mútuo em qualquer 
circunstância, especialmente nas situações adversas. 
Trata-se de dever que se cumpre, na maior parte das vezes, de modo imperceptível, uma 
vez que se trata de um conjunto de gestos, atenções, cuidados na saúde e na doença, 
serviços, suscitados pelos acontecimentos cotidianos. 
Não só o abandono material como também a falta de apoio moral configuram infração ao 
dever de mútua assistência. 
No primeiro caso, constitui fundamento legal para a ação de alimentos. Se qualquer dos 
cônjuges faltar ao dever de assistência, pode ser compelido compulsoriamente à prestação 
alimentar. 
A igualdade dos cônjuges no casamento, assegurada em nível constitucional, não mais 
permite qualquer distinção baseada na diversidade de sexos ou em concepção 
hierarquizada que impute à mulher dever de obediência e ao marido dever de proteção da 
mulher, como ocorria outrora. 
O modelo do marido-provedor e da mulher dona de casa, que correspondia ao quadro 
consagrado pela legislação das nações do Ocidente, não se coaduna com o estágio atual 
de nossa legislação. 
2.4. SUSTENTO, GUARDA E EDUCAÇÃO DOS FILHOS 
O sustento e a educação dos filhos constituem deveres de ambos os cônjuges. 
A guarda é, ao mesmo tempo, dever e direito dos pais. 
A infração ao dever em epígrafe sujeita o infrator à perda do poder familiar e constitui 
fundamento para ação de alimentos. 
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Subsiste a obrigação de sustentar os filhos menores e dar-lhes orientação moral e 
educacional mesmo após a dissolução da sociedade conjugal, até eles atingirem a 
maioridade. 
A jurisprudência, no entanto, tem estendido essa obrigação até a obtenção do diploma 
universitário, no caso de filhos estudantes que não dispõem de meios para pagar as 
mensalidades. 
O dever de sustento ou de prover à subsistência material dos filhos compreende o 
fornecimento de alimentação, vestuário, habitação, medicamentos e tudo mais que seja 
necessário à sua sobrevivência. 
O de fornecer educação abrange a instrução básica e complementar, na conformidade das 
condições sociais e econômicas dos pais. 
O de guarda obriga à assistência material, moral e espiritual, conferindo ao detentor o 
direito de opor-se a terceiros, inclusive pais. 
A cada um dos pais e a ambos simultaneamente incumbe zelar pelos filhos, provendo à sua 
subsistência material, guardando-os ao tê-los em sua companhia e educando-os moral, 
intelectual e fisicamente, de acordo com suas condições sociais e econômicas. 
Preceitua o art. 1.634, I a VII, do CC, que dispõe sobre o exercício do poder familiar, ao 
estatuir que compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores, “dirigir--lhes a criação e 
educação” e “tê-los em sua companhia e guarda”, bem como praticar outros atos que decorrem 
dos aludidos deveres. 
 
2.5. Respeito e consideração mútuos 
O respeito e a consideração mútuos constituem corolário do princípio esculpido no art. 
1.511 do Código Civil, segundo o qual o casamento estabelece comunhão plena de vida, 
com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. Tem relação com o aspecto 
espiritual do casamento e com o companheirismo que nele deve existir. Demonstra a 
intenção do legislador de torná-lo mais humano. 
Incluem-se no dever de respeito e consideração mútuos, “além da consideração social 
compatível com o ambiente e com a educação dos cônjuges, o dever, negativo, de não expor 
um ao outro a vexames e descrédito. 
É nesta alínea que se pode inscrever a ‘infidelidade moral’, que não chega ao adultério 
por falta da concretização das relações sexuais, mas que não deixa de ser injuriosa. 
O dever ora em estudo inspira-se na dignidade da pessoa humana, que não é um simples 
valor moral, mas um valor jurídico, tutelado no art. 1º, III, da Constituição Federal. 
O respeito à honra e à dignidade da pessoa impede que se atribuam fatos e qualificações 
ofensivas e humilhantes aos cônjuges, um ao outro, tendo em vista a condição de consortes 
e companheiros de uma comunhão plena de vida. 
A vida conjugal muitas vezes se torna desajustada, sem violação, todavia, dos deveres 
recíprocos mencionados. 
Em geral o fato decorre de intolerância de pensamentos e ideias, do fracasso no diálogo e da 
total ausência de “affectio maritalis”, que tornam inviável a relação conjugal e a convivência, 
acarretando a falência do casamento. 
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A jurisprudência criou ao lado dos deveres legais ou explícitos, outros tantos deveres 
conjugais, dentre os quais destacam-se: 
� o dever de sinceridade, 
� o de respeito pela honra e dignidade própria e da família, 
� o dever de não expor o outro cônjuge a companhias degradantes, 
� o de não conduzir a esposa a ambientes de baixa moral. 
O grau de educação, a sensibilidade dos cônjuges, a religiosidade de um ou de outro, são 
alguns dos aspectos a considerar, diante das circunstâncias objetivadas nos procedimentos 
judiciais em que se cogite de sopesar o relacionamento conjugal. 
Com o advento da Emenda Constitucional n. 66/2010 a infração ao dever de respeito e 
consideração mútuos só será considerada para fins de indenização se configurar dano 
moral ao outro cônjuge. 
3. DIREITOS E DEVERES DE CADA CÔNJUGE 
O Código Civil de 1916 regulava os direitos e deveres do marido e da mulher em capítulos 
distintos, porque havia algumas diferenças. 
Em virtude, porém, da isonomia estabelecida pelo art. 226, § 5º, da Constituição, o novo 
Código Civil disciplinou somente os direitos de ambos os cônjuges, afastando as 
referidas diferenças. 
O art. 233 do Código anterior estabelecia que o marido era o chefe da sociedade conjugal, 
competindo-lhe a administração dos bens comuns e particulares da mulher, o direito de 
fixar o domicílio da família e o dever de prover à manutenção da família. Todos esses 
direitos agora são exercidos pelo casal, em sistema de cogestão, devendo as divergências ser 
solucionadas pelo juiz. 
Não há mais que falar em poder marital. Não cabe ao marido interferir nos assuntos 
particulares da mulher, impor-lhe ou proibir-lhe leituras e estudos, nem abrir-lhe a 
correspondência. O mesmo se diga da mulher em relação ao marido. 
O dever de prover à manutenção da família deixou de ser apenas um encargo do marido, 
incumbindo também à mulher, de acordo com as possibilidades de cada qual. Preceitua, 
com efeito, o art. 1.568 do Código Civil: 
“Os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bense dos rendimentos do trabalho, 
para o sustento da família e a educação dos filhos, qualquer que seja o regime patrimonial”. 
No regime do Código Civil de 1916, como consequência do poder marital, cumpria ao 
marido prover à mantença da família, ressalvada a obrigação de a mulher contribuir para as 
despesas do casal, com os rendimentos de seus bens, salvo estipulação em contrário no 
contrato antenupcial (arts. 233, V, e 277). O Código de 2002, contudo, reafirmando o 
princípio constitucional da igualdade de direitos e deveres entre os cônjuges, seguindo a 
trilha das modernas tendências do direito de família, estabeleceu que marido e mulher são 
obrigados a contribuir para a manutenção da família e educação dos filhos, não apenas com 
os rendimentos de seus bens, como ainda com o produto de seu trabalho. 
4. O EXERCÍCIO DE ATIVIDADE EMPRESÁRIA PELOS CÔNJUGES 
A abertura do livro do “Direito da Empresa” no Código Civil de 2002 cria uma série de 
direitos e deveres que interessam diretamente às relações entre os cônjuges, sem 
correspondência no diploma de 1916. 
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O art. 977 do novo Código faculta aos cônjuges “contratar sociedade, entre si ou com terceiros, 
desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação 
obrigatória”. 
O dispositivo aplica-se, por analogia, à união estável, autorizando os companheiros a 
constituírem sociedade entre si, tendo em vista que o art. 1.725 do aludido diploma 
estabeleceu, quanto às relações patrimoniais, o regime da comunhão parcial, salvo contrato 
escrito. 
A proibição da contratação de sociedade no regime da comunhão universal é 
compreensível, uma vez que os bens de ambos os consortes já lhes pertencem em comum 
e, por tal razão, “a sociedade seria uma espécie de ficção, JÁ QUE A TITULARIDADE DAS 
QUOTAS DO CAPITAL DE CADA CÔNJUGE NA SOCIEDADE NÃO ESTARIA 
PATRIMONIALMENTE SEPARADA NO ÂMBITO DA SOCIEDADE CONJUGAL. 
No que tange ao regime da separação obrigatória, a vedação ocorre por disposição legal, 
nos casos em que sobre o casamento possam ser levantadas dúvidas ou questionamentos 
acerca do cumprimento das formalidades ou pela avançada idade de qualquer dos 
cônjuges”. 
Permite-se, desse modo, a sociedade empresária ou simples entre marido e mulher nos 
regimes de comunhão parcial e da separação total, pois em ambos os cônjuges podem 
fazer suas contribuições individuais para a formação do patrimônio social. 
O art. 978 do Código Civil autoriza o empresário casado a, “sem necessidade de outorga 
conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da 
empresa ou gravá-los de ônus real”. 
No caso das sociedades comerciais, a aplicação desse princípio decorre, diretamente, da 
separação patrimonial objetiva entre os bens da sociedade e os bens particulares dos 
sócios”. 
Anotem-se, ainda, as inovações introduzidas nos arts. 979 e 980 do Código Civil de 2002, 
concernentes, respectivamente, à obrigatoriedade da inscrição no Registro Público de 
Empresas Mercantis dos “pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de 
doação, herança ou legado, os bens clausulados de incomunicabilidade ou 
inalienabilidade”, e do arquivamento e averbação no Registro Público de Empresas 
Mercantis, para validade perante terceiros, da sentença que “decretar ou homologar a 
separação judicial do empresário e o ato de reconciliação”. 
É que a partilha, no regime da comunhão parcial, sempre acarreta redução do patrimônio 
do cônjuge que exerce atividade empresarial. 
O registro visa dar publicidade à disponibilidade dos bens do empresário, após a 
modificação de seu estado civil e da consequente partilha do patrimônio anteriormente 
pertencente ao casal.

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