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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 1 ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO 1. INTRODUÇÃO As estruturas, mesmo as mais simples, estão sempre sujeitas, além das ações gravitacionais, às ações laterais decorrentes, principalmente, dos efeitos de ventos. No caso de estruturas de grande altura ou que têm relação entre altura e maior dimensão em planta grande, estes efeitos se tornam mais importantes e podem, inclusive, desencadear situações de instabilidade do edifício (efeitos de segunda ordem). Desta forma, embora em algumas situações as estruturas tenham rigidez suficiente para que possam ser desprezados os efeitos de segunda ordem devidos à instabilidade global (definidos adiante), ainda assim é preciso ao menos avaliar se as ações laterais (horizontais) são significativas e necessitam ser consideradas no cálculo. A Figura 1 mostra o que ocorre com uma estrutura, no caso uma haste reta, vertical, engastada na base e solta no topo e sujeita inicialmente a uma carga vertical (no topo) excêntrica de um valor 0. Se não for considerada a deformação da haste, o diagrama de momento fletor, chamado de primeira ordem, apresenta, no trecho vertical, o mesmo valor para todas as seções e igual a 0PM (Figura 1b). Quando se considera a deformação da estrutura (Figura 1c) surgem momentos fletores chamados de segunda ordem, que podem ser observados na Figura 1d. Quando a haste é submetida também à ação lateral do vento, representada por um carregamento uniforme de intensidade v (Figura 1e), resultam os momentos fletores de segunda ordem conforme vistos na Figura 1f. (f)(e)(d)(c)(b)(a) 0P 0 Momento fletor de primeira ordem P estrutura sob ação de P sem deformar PP 2 1> Momento fletor de segunda ordemsegunda ordem Momento fletor de P 1 estrutura sob ação de P deformada P e v deformada > 121 v PP estrutura sob ação de Figura 1. Estrutura submetida à carga vertical e à ação lateral de vento (v) e os correspondentes efeitos de segunda ordem. Os efeitos de segunda ordem são, em geral, maiores quando existem ações laterais significativas atuando em uma estrutura. Se essa estrutura possuir uma grande rigidez os valores, tanto de 1 como de 2 (Figura 1) serão pequenos, resultando em momentos de segunda ordem desprezíveis para efeito de cálculo. Admite-se que os momentos de segunda ordem são pequenos quando inferiores a 10% dos momentos de primeira ordem. Ressalta-se que os esforços de primeira ordem devidos ao vento devem ser considerados em qualquer estrutura, exceto nas situações em que também forem de baixa intensidade. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 2 2. ELEMENTOS ESTRUTURAIS PARA RESISTIR A AÇÕES LATERAIS Como as ações laterais são devidas principalmente ao vento, é dessas que se tomará como atuantes, mas não se tratará especificamente do cálculo das mesmas. Vento, de forma simplificada, é o deslocamento de massas de ar decorrentes das diferenças de temperatura e, principalmente, pressão na atmosfera. A massa de ar ao adquirir uma certa velocidade, quando encontra a superfície de uma estrutura inerte, produz nela uma pressão, resultando em forças horizontais que solicitam a estrutura. Normalmente as estruturas de concreto armado são formadas de elementos prismáticos, ou seja, elementos com uma dimensão bem maior que as outras duas, e seção transversal constante. Um arranjo interessante para absorver as ações de ventos são os pórticos (neste caso, planos) constituídos por pilares (elementos geralmente verticais) e vigas (em geral horizontais), como o mostrado na Figura 2, inclusive com a deformação por ele sofrida. P6P5P4 P1 P2 P3F1 F2 P3P2P1 P4 P5 P6 1 Figura 2. Pórtico sob ações só verticais e verticais junto com horizontais de vento. Uma estrutura de concreto armado, por exemplo a da planta de formas dada na Figura 3 e corte da Figura 4, de pequena altura (dois pavimentos), pode ser admitida como composta, para efeito de resistência aos esforços laterais, de uma série de pórticos formados pelos pilares e vigas. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 3 V 5 (2 0X 60 ) V1 (12X30) V2 (12X30) V4 (12X30) V3 (12X30) V 6 (2 0X 60 ) V 7( 20 X 60 ) V 8 (1 2X 30 ) V 9 (1 2X 30 ) P1 (20X20) P2 (20X20) P3 (20X20) P5 (12X30) P6 (20X20)P4 (20X20) P7 (20X20) P10 (20X20) P11 (12X30) P12 (20X20) P8 (12X30) P9 (20X20) L1 L2 L5 L6 L3 L4 e=8 e=8 e=8 e=8 e=8 e=8 370 370 62 0 42 0 62 0 222 222 A 1 2 3 B C D Figura 3. Planta de uma estrutura compostas por pilares e vigas (cotas em cm). V3 (12X30) P8 (12X30) P9 (20X20)P7 (20X20) VB3 (12X30) VF3 (12X30) 321 31 0 31 0 TÉRREO TIPO FORRO Figura 4. Corte no sentido das menores dimensões da estrutura da Figura 3. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 4 O vento incidindo sobre a face que contêm os pilares P1, P4, P7 e P10 (face esquerda) é resistido por pórticos como os mostrados na Figura 5. Neste caso são quatro pórticos planos, constituídos respectivamente pelos pilares P1, P2, P3; P4, P5, P6; P7, P8, P9; e P10, P11, P12; e as vigas correspondentes que unem esses pilares (Figura 3). P1 ou P10 P2 ou P11 P3 ou P12 viga de piso 2 ou 3 viga de forro 2 ou 3 31 0 31 0 370 370 viga de piso 1 ou 4 viga de forro 1 ou 4 P4 ou P7 P5 ou P8 P6 ou P9 P6 ou P9P5 ou P8P4 ou P7 viga de forro 1 ou 4 viga de piso 1 ou 4 370370 viga de forro 2 ou 3 viga de piso 2 ou 3 P3 ou P12P2 ou P11P1 ou P10 Figura 5. Pórticos planos que resistem à ação do vento incidente na face esquerda da estrutura da Figura 3. Se essa estrutura fosse projetada sem vigas (lajes lisas), os esforços de vento seriam absorvidos exclusivamente pelos pilares, considerando-os então ligados apenas por tirantes (a função da laje) que são incapazes de transmitir momentos. Segundo a NBR 6118:2003, na composição estrutural muitas vezes é interessante arranjar os elementos estruturais de modo a proporcionarem aumento de rigidez em direções críticas a estes conjuntos. A norma define, em seu item 15.4.3, contraventamento, com a seguinte redação: “Por conveniência de análise, é possível identificar, dentro da estrutura, subestruturas que, devido à sua grande rigidez a ações horizontais, resistem à maior parte dos esforços decorrentes dessas ações. Essas subestruturas são chamadas subestruturas de contraventamento”. As caixas de elevadores e escadas, bem como os pilares-parede de concreto armado, constituem exemplos de subestruturas de contraventamento. Por outro lado, mesmo elementos de pequena rigidez podem, em seu conjunto, contribuir de maneira significativa na rigidez a ações horizontais, devendo então ser incluídos na subestrutura de contraventamento. Os elementos que não participam da subestrutura de contraventamento são chamados de “elementos contraventados”. É, portanto, usual em estruturas altas ou esbeltas empregar caixas de elevadores, de escadas, pilares paredes e, em algumas situações, até um sistema treliçado, na direção da ação crítica do vento, de modo a proporcionar uma maior rigidez a estrutura. Como determinar a rigidezda estrutura é tema dos próximos itens. 3. INÉRCIA EQUIVALENTE DE UM PILAR Como visto, normalmente considera-se que o conjunto de vigas e pilares têm comportamento de pórtico. Para isso, interessa definir para um determinado pórtico um pilar equivalente, ou seja, um pilar que tenha a mesma rigidez do pórtico. Isto é feito admitindo, por UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 5 exemplo, que atue no pórtico uma carga horizontal igual a F (Figura 6). Calculando o deslocamento do seu topo, chamando de pórtico, basta agora tomar um pilar engastado na base e livre na outra extremidade, com a mesma altura e submetido à mesma carga horizontal F do pórtico, e tendo o mesmo deslocamento (pilar = pórtico). pavimento forroF pórtico H pilar F Figura 6. Pórtico plano e pilar retangular com rigidez equivalente. O deslocamento horizontal do pilar no topo é dado por: pilar 3 pilar )IE(3 HF Igualando as duas deformações obtém-se a expressão da rigidez equivalente do pilar: pórtico 3 pilar 3 HF)IE( (1) EXEMPLO 1 Determinar as dimensões de um pilar que tenha rigidez equivalente à do pórtico formado pelos pilares P1, P2, P3 do sobrado dado nas Figuras 3, 4 e 5 e esquematizado na Figura 7. Admitir que a menor dimensão do pilar seja de 20 cm, que a força F valha 100 N e que o concreto tenha fck = 20 MPa. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 6 31 0 31 0 VF1(12x40) V1(12x40) 370370 P3 (20x20)P2 (20x20)P1 (20x20) Pequivalente(20xh) h Pórtico Pilar equivalente Figura 7. Pórtico plano e pilar retangular com rigidez equivalente. a) Características Geométricas Vigas: Área: 2m048,040,012,0A Inércia à flexão: 443 m1040,612/40,012,0I Pilares: Área: 2m040,020,020,0A Inércia à flexão: 443 m1033,112/20,020,0I b) Características do concreto: Módulo de elasticidade longitudinal: 27 ckc m/kN101287,2MPa2872120560085,0f560085,0E Módulo de elasticidade transversal: 27 cc m/kN108514,0MPa5148212874,0E4,0G c) Deslocamento horizontal do pórtico Com a força F = 100 N e usando algum programa que calcule pórticos [FTOOL (MARTA, 2006); PPLAN – Sistema LASER (CORREA et Alli, 1986)] obtém-se para o deslocamento horizontal do pórtico pórtico = 0,07495 m. d) Dimensões do pilar equivalente Com a expressão 1 é obtém-se o momento de inércia do pilar equivalente: pórtico 3 pilar 3 HF)IE( 437 3 pilar m1098,4 07495,0101287,23 2,6100I UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 7 Como uma das dimensões do pilar é b = 0,20 m obtém-se a outra: m67,0 20,0 1098,412h 3 3 Dessa maneira, um pilar de 20 cm × 67 cm é equivalente, em termos de rigidez, ao pórtico com a configuração dada na Figura 7. 4. ASSOCIAÇÃO DE PÓRTICOS Quando a estrutura é composta de diversos pórticos e está submetida à ação lateral devida ao vento, as ações nos elementos podem ser calculadas resolvendo um pórtico tridimensional. Em algumas situações é possível simplificar o problema e considerar o vento atuando em uma associação de pórticos em série. Por exemplo, seja a estrutura da Figura 8, formada pelos pórticos P1, P2, etc. e submetida à ação lateral de vento Fv. Ao se efetuar um corte vertical junto ao pórtico 2, vê-se que ele, ao se deformar, apresenta no último pavimento um deslocamento horizontal pórtico, que é o mesmo deslocamento em planta que teriam os demais pórticos se não houvesse a rotação horizontal () de toda a estrutura. Fv PÓRTICO 2 pórtico PÓRTICO 2 PÓRTICO 1 PLANTACORTE v v F h H pórtico F forro pavimento Figura 8. Distribuição da ação do vento entre pórticos admitindo a laje um septo rígido. Supondo que haja simetria de distribuição de pilares e vigas, das características geométricas e da ação do vento, é possível admitir que a rotação seja nula. Nesta situação, a ação do vento pode ser analisada considerando que os pórticos estejam alinhados em série (Figura 9), ligados por elementos de grande área mas que não têm capacidade de transmitir momentos fletores (fazem o papel das lajes), e sujeitos à ação total do vento. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 8 pavimento forroF F v v forro pavimento pavimento forro Pórtico 1 Pórtico 2 Pórtico 3 ligação (laje) elemento de Figura 9. Pórticos planos associados em série que resistem à ação total do vento. Resolvendo o sistema estrutural indicado na Figura 9 obtêm-se as ações do vento em cada pórtico. Ressalta-se que esse procedimento se baseia no fato que a laje tem uma área muito grande e assim é praticamente indeformável em seu plano e, portanto, tem movimento de corpo rígido e funciona como um septo. Havendo simetria os deslocamentos da parte superior de todos os pilares serão iguais, pois a laje sofre apenas translação, e os esforços em cada pórtico serão proporcionais à rigidez de cada um deles. 5. ESTABILIDADE ESTRUTURAL Segundo a NBR 6118:2003 as estruturas de concreto devem ser projetadas, construídas e utilizadas de modo que sob as condições ambientais previstas e respeitadas as condições de manutenção preventiva especificadas no projeto, conservem suas segurança, estabilidade, aptidão em serviço e aparência aceitável, durante um período pré-fixado de tempo, sem exigir medidas extras de manutenção e reparo. Os esforços calculados a partir da geometria inicial da estrutura, sem deformação, são chamados efeitos de primeira ordem. Aqueles advindos da deformação da estrutura são chamados de efeito de segunda ordem. A consideração dos efeitos de segunda ordem conduz a não linearidade entre a ações e deformações; esta não linearidade, devido sua origem, é chamada de não linearidade geométrica. A fissuração e fluência do concreto levam também a uma não linearidade (entre ações e deformações) chamada neste caso de não linearidade física. As deformações existentes nas estruturas permitem calcular os efeitos de segunda ordem que, de acordo com o item 15.4.1 da NBR 6118:2003, podem ser divididos em efeitos globais, locais e localizados de segunda ordem. Segundo esse item da norma, sob a ação das cargas verticais e horizontais, os nós da estrutura deslocam-se horizontalmente. Os esforços de segunda ordem decorrentes desses deslocamentos são chamados efeitos globais de 2ª ordem. Nas barras da estrutura, os respectivos eixos não se mantêm retilíneos, surgindo aí efeitos locais de 2ª ordem que, em princípio, afetam principalmente os esforços solicitantes ao longo delas próprias. Em pilares parede (simples ou compostos) pode-se ter uma região que apresenta não retilinidade maior do que a do pilar como um todo; nestas regiões surgem efeitos de 2ª ordem maiores, chamados de efeito de 2ª ordem localizados. O efeito de 2ª ordem localizado, além de aumentar nesta região a flexão longitudinal, aumenta também a flexão transversal, havendo a necessidade de aumentar os estribos nestas regiões. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho/ Jasson Figueiredo Filho 9 Na Figura 10 estão representadas as possibilidades de instabilidade que podem ser causadas por cada uma das duas primeiras situações. h b h b b h 1 2 3 4 Figura 10. Esquema estrutural de um edifício alto: 1) perspectiva esquemática; 2) estrutura verticalmente indeformada; 3) edificação sujeita a instabilidade global; 4) instabilidade local dos pilares centrais inferiores. Teoricamente todas as três situações descritas anteriormente devem ser verificadas e, preferencialmente, considerando a não linearidade geométrica e física do material e também o comportamento tridimensional da estrutura. É fácil perceber a dificuldade na realização de um cálculo deste, e assim é comum separar os problemas e verificar inicialmente a estabilidade global, a local e finalmente a localizada. Na seqüência será estudada apenas a estabilidade global, ficando a local para quando forem abordados os pilares de edifícios. 6. ESTABILIDADE GLOBAL Para criar condições mais simples de cálculo costuma-se definir estruturas de nós fixos e nós moveis. No item 15.4.2 da NBR 6118:2003 define-se estruturas de nós fixos como aquelas em que os deslocamentos horizontais dos nós são pequenos e, por decorrência, os efeitos globais de 2ª ordem são desprezíveis (inferiores a 10% dos respectivos esforços de 1ª ordem). Nessas estruturas, basta considerar os efeitos locais de 2ª ordem. Os efeitos de primeira ordem são aqueles obtidos com o cálculo feito com a estrutura considerada indeformada. Estruturas de nós móveis são definidas como aquelas em que os deslocamentos horizontais não são pequenos e, em decorrência, os efeitos globais de 2ª ordem são importantes (superiores a 10% dos respectivos esforços de 1ª ordem). Nessas estruturas devem ser obrigatoriamente considerados tanto os esforços de 2ª ordem globais como os locais. Quando uma estrutura é classificada como de nós móveis, surge a necessidade de considerar também a parcela dos efeitos de segunda ordem no dimensionamento dos elementos estruturais. Esta análise exige a adoção de métodos mais sofisticados que os da análise de primeira ordem. Diferentes tipos de abordagem já foram propostos. Observa-se, entretanto, que é o chamado processo P- o mais utilizado para a análise da estrutura deformada e conseqüente obtenção dos acréscimos sofridos pelos efeitos de primeira ordem, fornecendo resultados com aproximações muito boas para os casos de edifícios convencionais, como demonstram UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 10 MacGREGOR & HAGE (1977). Mas, apesar do P- ser um processo relativamente simples, o tempo despendido no cálculo é, muitas vezes, maior que o desejado. Assim, passou-se a trabalhar a idéia de se utilizar um coeficiente majorador dos esforços de primeira ordem, de forma a prever, a partir dos resultados de primeira ordem, o acréscimo percentual que eles sofreriam com a adição dos efeitos de segunda ordem. Esse tipo de abordagem, embora bastante simplificado, pode apresentar resultados satisfatórios na análise de estruturas convencionais. No item 15.5 a norma apresenta dois processos aproximados (apresentados em 15.5.2 e 15.5.3 respectivamente): o do parâmetro e o do coeficiente z , que definem as condições para a dispensa da consideração dos esforços globais de 2ª ordem, ou seja, se a estrutura pode ser classificada como de nós fixos, sem a necessidade de cálculo rigoroso. O parâmetro foi desenvolvido por BECK & KÖNIG (1966), com base em diversos procedimentos de normas internacionais, e o coeficiente z fruto dos estudos realizados por FRANCO & VASCONCELOS (1991). O princípio é que, após a determinação dos deslocamentos horizontais, verifica-se a porcentagem do aumento dos momentos de segunda ordem, que são então comparados com o parâmetro de instabilidade ou o coeficiente z , classificando assim a estrutura como de nós deslocáveis ou indeslocáveis. Por outro lado, há estruturas em que os deslocamentos horizontais são grandes e que, não obstante, dispensam a consideração dos efeitos de 2ª ordem por serem pequenos, ainda assim, os acréscimos dos deslocamentos produzidos pelas cargas verticais. Isso pode acontecer, por exemplo, em postes e em certos pilares de pontes e de galpões industriais. O conceito de nós fixos ou de nós moveis pode ser também aplicado às subestruturas de contraventamento. Define ainda a norma (item 15.4.4) como elementos isolados: as peças isostáticas; os elementos contraventados; os elementos das estruturas de contraventamento de nós fixos; os elementos das sub-estruturas de contraventamento de nós moveis desde que, aos esforços nas extremidades, obtidos numa análise de 1ª ordem, sejam acrescentados os determinados por análise global de 2ª ordem. Nos três itens seguintes são apresentados o parâmetro de instabilidade , o coeficiente z e os conceitos principais do processo P-. 6.1. Parâmetro de instabilidade Os primeiros estudos voltados para a avaliação dos efeitos de segunda ordem enfocavam apenas o comportamento de barras isoladas. BECK & KÖNIG (1966), com base na teoria de Eüler, desenvolveram os primeiros trabalhos de repercussão que envolveram estruturas como um todo, trabalhando em regime elástico-linear. Para isso, consideraram o edifício como equivalente a um pilar único, engastado na base e livre no topo, de seção constante, e sujeito a uma força vertical uniformemente distribuída ao longo do seu comprimento. Dessa forma, esse pilar possuía rigidez igual à soma das rigidezes dos UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 11 pilares isolados que participavam do contraventamento da estrutura. Resolvendo a equação diferencial que permitia a determinação da carga crítica, Beck e König observaram que a perda de estabilidade da estrutura se relacionava a um coeficiente, denominado , que dependia do carregamento e das características geométricas do pilar (comprimento e rigidez). Como conseqüência, uma estrutura reticulada pode ser considerada como sendo de nós fixos se seu parâmetro de instabilidade , dado pela expressão 2, for menor que 1 definido a seguir: )/(EN ccktot IH (2) n1,02,01 se 3n 6,01 se 4n Em que: n - número de níveis de barras horizontais (andares) acima da fundação ou de um nível pouco deslocável do subsolo; H tot - altura total da estrutura, medida a partir do topo da fundação ou de um nível pouco deslocável do subsolo; N k - somatória de todas as cargas verticais atuantes na estrutura (a partir do nível considerado para o cálculo de H tot ), com seu valor característico; E c I c - somatória das rigidezes de todos os pilares na direção considerada; no caso de estruturas de pórticos, de treliças ou mistas, ou com pilares de rigidez variável ao longo da altura, permite-se considerar produto de rigidez cc IE de um pilar equivalente de seção constante; o valor de E c (módulo de elasticidade ou módulo de deformação tangente inicial) é dado em 8.2.8 da NBR 6118:2003, e o valor de I c deve ser calculado considerando as seções brutas dos pilares. Para determinar a rigidez equivalente a que se refere o item 15.5.2., procede-se de maneira semelhante ao apresentado no item 3, da seguinte forma: calcula-se o deslocamento do topo da estrutura de contraventamento, sob a ação do carregamento horizontal característico; calcula-se a rigidez de um pilar equivalente de seção constante, engastado na base e livre no topo, de mesma alturaH tot , tal que, sob a ação do mesmo carregamento, sofra o mesmo deslocamento no topo. O valor limite 6,01 prescrito para 4n é, em geral, aplicável às estruturas usuais de edifícios. Vale para associações de pilares-parede, e para pórticos associados a pilares-parede. Ele pode ser aumentado para 0,7 no caso de contraventamento constituído exclusivamente por pilares-parede, e deve ser reduzido para 0,5 quando só houver pórticos. Enquanto a norma NBR 6118:1980 previa que as ações laterais (e provavelmente os efeitos globais de segunda ordem) só deviam ser calculadas quando uma edificação apresentasse altura superior a quatro vezes a menor dimensão em planta, ou quando os pórticos em uma direção tivessem menos que quatro pilares em linha, na nova versão o critério se baseia em valores de deformação da estrutura em si. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 12 EXEMPLO 2 Seja um edifício de um pavimento e cobertura (mesma planta de forma e corte dos exemplos anteriores, Figuras 11 e 12, idênticas às Figuras 3 e 4). Verificar, através do parâmetro de instabilidade se esse esquema estrutural pode ser admitido de nós fixos (na direção dos pilares P1, P2 e P3), admitindo os seguintes dados: Peso próprio das lajes (piso e forro) igual a 1,5 kN/m2. Revestimento no pavimento de 5 cm; carga acidental no piso igual a 1,5 kN/m2, e no forro de 0,5 kN/m2. Revestimento do forro de 2 cm; paredes de espessura igual a 20 cm quando em vigas de 20 cm e de 15 cm quando em vigas de 12 cm; Peso específico da alvenaria e revestimento igual a 18 kN/m3; Todos os pilares considerados com seção de 20 cm × 20 cm; concreto com fck = 30 MPa. V 5 (2 0X 60 ) V1 (12X30) V2 (12X30) V4 (12X30) V3 (12X30) V 6 (2 0X 60 ) V 7( 20 X 60 ) V 8 (1 2X 30 ) V 9 (1 2X 30 ) P1 (20X20) P2 (20X20) P3 (20X20) P5 (12X30) P6 (20X20)P4 (20X20) P7 (20X20) P10 (20X20) P11 (12X30) P12 (20X20) P8 (12X30) P9 (20X20) L1 L2 L5 L6 L3 L4 e=8 e=8 e=8 e=8 e=8 e=8 370 370 62 0 42 0 62 0 222 222 A 1 2 3 B C D Figura 11. Planta de uma estrutura compostas por pilares e vigas (cotas em cm). UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 13 V3 (12X30) P8 (12X30) P9 (20X20)P7 (20X20) VB3 (12X30) VF3 (12X30) 321 31 0 31 0 TÉRREO TIPO FORRO Figura 12. Corte no sentido das menores dimensões da estrutura da Figura 3. Inicialmente calculam-se as ações verticais existentes na edificação dados na Tabela 1. Tabela 1. Cargas verticais atuantes na edificação. Carga Tipo Valor Total parcial (kN) Acidental Laje pavimento 16,8∙7,6∙1,5 = 192 Acidental Laje de forro 16,8∙7,6∙0,5 = 64 Total parcial Acidental 256 (9,2%) Permanente Laje do pavimento 16,8∙7,6∙1,5 = 192 Permanente Laje do forro 16,8∙7,6∙1,5 = 192 Sobrecarga permanente Pavimento 0,05∙16,8∙7,6∙18 = 115 Sobrecarga permanente Forro 0,02∙16,8∙7,6∙18 = 46 Permanente Paredes de 20 cm ((6,20∙2+4,20)∙0,20∙2,8)∙18∙3∙2 = 1004 Permanente Paredes de 15 cm (4,20∙0,15∙2,8)∙18∙2∙2 = 128 Permanente Paredes de 15 cm (direção P1, P2, P3) ((3,70∙2)∙0,15∙2,80∙18∙4∙2 = 448 Permanente Vigas de 20 cm × 60 cm ((6,20∙2+4,2)∙0,20∙0,6∙25∙3∙2 = 299 Permanente Vigas de 12 cm 30 cm (3,7+3,7)∙0,12∙0,30∙25∙4∙2 = 53 Permanente Pilares de 20 cm × 20 cm 0,20∙0,20 (3,1-0,6)∙25∙12∙2 = 60 Total parcial Permanente 2537 (90,8%) Total final Acidental+permanente 2793 Notas: Não foram consideradas as ações das escadas; admitiu-se, por facilidade, que nesta região há uma laje normal. No cálculo do peso das paredes e vigas desconsiderou-se as sobreposições, empregando para seus comprimentos e alturas as dimensões indicadas na planta e corte das Figuras 3 e 4. No cálculo da carga permanente dos pilares, todos foram considerados com seção 20 cm × 20 cm UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 14 Cálculo do coeficiente : Módulo de elasticidade longitudinal do concreto: 27 ckc m/kN106,2MPa2607230560085,0f560085,0E Inércia equivalente dos pilares (valor obtido no exemplo 1 para um pórtico multiplicado pelo número de pórticos existentes na direção considerada, no caso quatro): 4343 pilar m1092,19m1098,44I (ver exemplo 1) m2,61,32H tot kN2793Nk 2n (dois pavimentos) 4,021,02,0n1,02,01 45,0073,02,6 1092,19106,2 27932,6IH 37 )/(EN ccktot > 4,01 Trata-se, portanto, de uma estrutura de nós móveis. Foi analisada a estabilidade da estrutura segundo a direção menor; para a verificação na outra direção basta considerar a inércia equivalente dos pórticos formados pelos pilares P1, P4, P7, P10; P2, P5, P8, P11; e P3, P6, P9, P12. Com os resultados do carregamento observa-se que em edifícios residenciais de pequeno ou médio porte a carga permanente é bem maior que a acidental. 6.2. Coeficiente z para avaliação dos efeitos de segunda ordem 6.2.1. Introdução O coeficiente z foi criado pelos engenheiros Mário Franco e Augusto Carlos de Vasconcelos, e citado pela primeira vez no trabalho "Franco, M. E Vasconcelos, A.C - Practical Assessment of Second Order Effects in Tall Buildings, Proceedings do Colloquium sobre o CEB- FIP MC90, Rio de Janeiro, 1991". O coeficiente z é utilizado para mensurar a sensibilidade da estrutura aos efeitos de 2ª ordem, ou seja, aos efeitos da não linearidade geométrica, estimando a importância dos esforços de 2a ordem em relação aos esforços de 1ª ordem. As principais características do coeficiente são: Indicar se uma edificação é de nós móveis ou fixos, e avaliar se a sua mobilidade é excessiva; Servir para estimar a amplificação dos momentos de primeira ordem para a consideração dos momentos de segunda ordem, sem que seja necessário o cálculo destes. De acordo com as indicações de LIMA (1998), o coeficiente de majoração dos efeitos de primeira ordem de uma estrutura convencional, simétrica e com ações verticais e horizontais uniformemente distribuídas, é exatamente o z . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 15 Teoricamente as deduções do z foram realizadas para edifícios regulares, ou seja, mesmo pavimento tipo, mesmo pé-direito, mesma inércia dos pilares, mesmas dimensões de vigas e mesmas condições de engastamento. Mesmo que na prática seja difícil encontrar essas condições, em diversos trabalhos acadêmicos, nos quais foram feitas comparações para estimar os efeitos de segunda ordem entre o coeficiente z e o processo P- (será comentado no próximo item), obtiveram-se excelentes resultados globais para o z , principalmente quando seu valor foi menor ou igual a 1,3 ( 3,1z ), ou seja, até esse valor ele pode ser empregado como coeficiente majorador dos efeitos de primeira ordem. Para 3,1z , geralmente outros requisitos da Norma impedem o prosseguimento do cálculo (por exemplo, deslocamentos horizontais acima do limite). Por essa razão é que o valor limite para a aplicação do z como majorador, de acordo com a nova NBR 6118, é 1,3. Assim sendo, tem-se: 1,1z : os efeitos de segunda ordem podem se desconsiderados; 3,11,1 z : o coeficiente pode ser adotado como majoradordos efeitos de primeira ordem na avaliação dos efeitos finais. 3,1z : deve ser empregado um método mais rigoroso que forneça os valores dos efeitos de segunda ordem, por exemplo, o processo P-. Conforme o item 17.7.2 da NBR 6118:2003, uma solução aproximada para a determinação dos esforços globais de 2ª ordem a serem considerados no dimensionamento das peças, consiste na avaliação dos esforços finais (1ª ordem + 2ª ordem) a partir da majoração adicional dos esforços horizontais da combinação de carregamento considerada (1ª ordem) por z95,0 , desde que 3,1z . Além de apresentar uma formulação mais apropriada, o coeficiente z possibilita a utilização de distribuições quaisquer de carregamento, justamente porque trabalha em termos dos acréscimos de momentos nas posições deslocadas. Com isso, as forças horizontais com as quais se calcula M1,tot,d podem ser as forças de arrasto devidas ao vento no nível de cada pavimento, o que não se utiliza com o coeficiente . Quanto à sua aplicação, o z pode ser usado para a classificação das estruturas quanto à deslocabilidade dos nós, de maneira análoga ao parâmetro . Seu valor é calculado e comparado com um valor limite, acima do qual a estrutura deve ser considerada de nós móveis. De acordo com o critério que dispensa a adição dos efeitos de segunda ordem se eles não ultrapassarem 10% dos de primeira ordem (item 15.4.2 da Norma), a estrutura pode ser considerada de nós fixos quando 1,1z para estruturas reticuladas de no mínimo quatro andares (de acordo com item 15.5.3 da Norma, que trata desse coeficiente). O z pode ser determinado a partir dos resultados de uma análise linear de primeira ordem, adotando-se os valores de rigidez dados em 15.7.3 da Norma. 6.2.2. Determinação do coeficiente z O coeficiente z é obtido a partir da aplicação do método geral (método não aproximado para análise não-linear de 2ª ordem de elementos isolados) em que se considera inicialmente a deformação devido às ações de primeira ordem. Após esta primeira deformação surgem esforços (de segunda ordem) que provocarão novas deformações e assim sucessivamente. Os momentos de segunda ordem (M2) são estimados como a somatória das forças verticais multiplicadas pelo UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 16 deslocamento dos nós da estrutura sob ação das forças horizontais. Seja a haste da Figura 13. Após a deformação da peça (em função do momento fletor 01 PM ) surge em seu topo um deslocamento 1. O momento provocado por este estado de deformação (que tem como momento máximo, no pé da haste, o valor 11 PM ) gera o estado de deformação da etapa 2, com o máximo deslocamento 2, gerando o momento 22 PM . Esse momento causa o deslocamento 3 resultando no momento 3M e assim sucessivamente. Se o valor de for diminuindo e convergir para zero tem-se uma estrutura estável; caso contrário a estrutura não é estável. Assim, pode-se calcular o valor do momento fletor 2M na base (máximo) com a seguinte expressão: deformada estrutura sob ação de P P 0 Detalhe 1 1 2 3 4 Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Detalhe 1 Figura 13. Deformação de segunda ordem de uma haste; em cada etapa a deformação é provocada pelo momento gerado na deformação da etapa anterior. n32112 M...MMMMM (3) com ....PM...;PM;PM nn2211 (4) Aplicando-se o processo P- em estruturas regulares submetidas a forças horizontais ao longo da altura e verticais uniformemente distribuídas ao longo do eixo vertical, observa-se que as razões entre os acréscimos de deslocamentos referentes a uma certa iteração e os acréscimos referentes à iteração anterior têm praticamente o mesmo valor, quaisquer que sejam essas iterações. Tomando como hipótese de que essa razão seja realmente igual para todas as iterações, pode-se aproximar o desenvolvimento progressivo dos deslocamentos horizontais por uma progressão geométrica decrescente. O mesmo ocorre para os momentos fletores [VASCONCELOS & FRANÇA (1997)], ou seja, existe proporcionalidade (geométrica) entre os momentos de duas etapas consecutivas do processo. Grande parte das estruturas reticulares, principalmente em regime linear físico (sem fissuração), tem esta propriedade. A razão desta progressão geométrica é dada por: 1n n 1 2 1 1 M M ... M M M M r (5) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 17 Dividindo-se os dois membros da equação 3 por 1M , obtém-se: 1 n 1 2 1 1 1 1 1 2 M M... M M M M M M M M (6) Considerando as relações apresentadas na equação 5, tem-se: rMMr M M 11 1 1 2 1 1 1 1 1 2 1 2 r M rM r rM rM rM M r M M 3 1 1 1 2 1 3 2 3 r M rrM M rM M M r M M n 1 1n 1 1 2n 1 1n 1 n 1n n r M rM M rrM M rM M M r M M (7) Desta forma, a partir da equação 6, com os resultados das equações 7, pode ser obtido o momento resultante dos efeitos de segunda ordem 2M , observando que o termo entre parênteses é uma progressão geométrica de razão r: 1n22n2 1 2 Mr...rr1Mr...rr1 M M (8) Como os incrementos dos momentos em uma etapa devem ser sempre menores que os da etapa anterior (caso contrário a estrutura não atinge a condição de equilíbrio), a razão r é sempre menor que a unidade. Nesse caso, quando n tende ao infinito, pode-se fazer a soma dos termos de uma progressão geométrica, de onde se obtém: 12 Mr1 1M (9) E, como 1 1 M M r , resulta: 1 1 1 2 M M M1 1M (10) Finalmente, a expressão 10 indica a amplificação do momento M1 para a obtenção de M2. O fator de amplificação é o coeficiente z , ou seja: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 18 1 1 z M M 1 1 (11) Esta expressão equivale à que a NBR 6118:2003 apresenta em seu texto para avaliação da importância dos esforços de segunda ordem globais em estruturas reticuladas, no item 15.5.3, a seguir transcrita: . M M 1 1 d,tot,1 d,tot z (12) O momento d,tot,1M é o momento de tombamento, ou seja, a soma dos momentos de todas as forças horizontais, com seus valores de cálculo (estado limite último), em relação à base da estrutura: fi n i id,tot,1 hHM (13) Em que: i – numero do andar considerado; n – número do total de andares do edifício; Hi – ação horizontal (geralmente vento) resultante no andar i; hi – distância do andar i até a base da estrutura; f – coeficiente de majoração das cargas no estado limite último. O momento d,totM é obtido pela soma dos produtos de todas as forças verticais atuantes na estrutura, na combinação considerada, com seus valores de cálculo (estado limite último), pelos deslocamentos horizontais de seus respectivos pontos de aplicação, obtidos da análise de 1ª ordem. hi n 1i i2qf0i1qfgifd,totPPPM (14) Sendo: i – numero do andar considerado; n – número do total de andares do edifício; Pgi – resultante vertical da carga permanente no andar i; f – coeficiente de majoração das cargas no estado limite último; 0 – fator de redução de combinação para ELU para ações variáveis secundárias; a favor da segurança, pode ser tomado igual à unidade; Pq1i – resultante vertical da ação acidental considerada principal no andar i; Pq2i – resultante vertical da ação acidental considerada secundária no andar i; hi – deslocamento horizontal na direção considerada do andar i., obtido da análise de 1ª ordem com as ações horizontais (geralmente vento) em serviço. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 19 6.3. Processo P- A utilização do z para majorar esforços horizontais é uma solução bem estudada e difundida. Mas a norma especifica e limita claramente esta utilização a estruturas reticulares com no mínimo quatro andares e z não maior que 1.3. Nos outros casos, é necessário usar um método mais refinado como, por exemplo, o P-. Como já visto, com a incidência das ações laterais, os nós de uma estrutura sofrem deslocamentos horizontais denominados de primeira ordem. Os esforços solicitantes (forças normais, momentos fletores e esforços cortantes) calculados com a estrutura indeformada produzem esforços de 1a ordem. As forças verticais aplicadas nesses nós, agora deslocados, provocam o aparecimento de novos esforços, que causam novos deslocamentos, e assim sucessivamente. Os esforços e deslocamentos adicionais podem ser obtidos pelo chamado processo P- (produto da força vertical P pelo deslocamento , Figuras 14 e 15), que realiza uma análise através de sucessivas iterações, nas quais buscam-se novas condições de equilíbrio para a estrutura (Figura 16). A idéia geral do processo clássico é descrita a seguir. Figura 14. Esquema do processo P-. Figura 15. Esquema simplificado do processo P- para uma barra única. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 20 Figura 16. Posições deslocadas em iterações sucessivas no processo P-. Inicialmente, faz-se a análise da estrutura indeformada (primeira ordem), submetida às ações horizontais (Figura 17). Com os deslocamentos resultantes desta primeira análise, determinam-se os deslocamentos relativos entre pavimentos. Figura 17. Estrutura indeformada (1ª ordem) submetida às ações horizontais. As forças verticais em cada pavimento geram momentos proporcionais aos deslocamentos relativos. Esses momentos podem ser substituídos por binários equivalentes constituídos de forças horizontais (Figura 18a), cujas resultantes, em cada pavimento, são as chamadas forças horizontais fictícias (Figura 18b), dadas por: 11 1i11 i ii i h dV h dV H (15) Sendo: Vi e Vi+1 – forças verticais acumuladas até os pavimentos i e i+1, respectivamente; hi e hi+1 – alturas dos pavimentos i e i+1, respectivamente; di e di+1 – deslocamentos horizontais relativos do pavimento i em relação ao pavimento i-1 e do pavimento i+1 em relação ao pavimento i, respectivamente. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 21 a) Estrutura deformada b) Forças verticais e horizontais fictícias Figura 18. Processo P- com as forças horizontais (iniciais e fictícias) e verticais atuantes Essas forças horizontais fictícias devem ser somadas às forças horizontais iniciais, resultando nas forças horizontais modificadas, com as quais é feita a análise seguinte. Novos deslocamentos são obtidos e novas forças horizontais fictícias e modificadas são calculadas, dando continuidade ao processo. Observe-se que as forças horizontais modificadas ao final de cada iteração devem ser determinadas pelo somatório das forças horizontais fictícias com as forças horizontais iniciais, e não com as forças horizontais modificadas da iteração anterior. Repetem-se as sucessivas análises até a convergência dos deslocamentos, ponto correspondente à posição de equilíbrio. Os esforços referentes a esta posição são os esforços finais procurados, que incluem os de segunda ordem. Segundo MacGREGOR (1988), o processo pode ser interrompido quando os deslocamentos de uma dada iteração não excederem em mais de 5% os da iteração anterior. Vale ressaltar que, para computar os deslocamentos laterais com mais precisão, a rigidez EI das barras deveria ser modificada após cada iteração, em função dos novos valores de momentos e considerando os diagramas momento-curvatura. Entretanto, como essa correção tende a ser bastante trabalhosa e exige o conhecimento prévio das armaduras, podem ser adotados processos simplificados, como o indicado na NBR 6118:2003, item 15.7.3 (aqui no item 6.5.2). 6.4. ANÁLISE DE ESTRUTURAS DE NÓS FIXOS Nas estruturas de nós fixos, de acordo com o item 15.6 da NBR 6118:2003, é permitido considerar cada elemento comprimido isoladamente, como barra vinculada nas extremidades aos demais elementos estruturais que ali concorrem, onde se aplicam os esforços obtidos pela análise da estrutura efetuada segundo a teoria de 1ª ordem. A análise dos efeitos locais de 2ª ordem deve ser feita de acordo com o que se prescreve no item 15.8 da norma, que trata da análise de elementos isolados, que será vista no estudo de pilares. Sob a ação de forças horizontais, a estrutura é sempre calculada como deslocável. O fato de a estrutura ser classificada como sendo de nós fixos dispensa apenas a consideração dos esforços globais de 2ª ordem, mas não sua análise como estrutura deslocável. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 22 6.5. ANÁLISE DE ESTRUTURAS DE NÓS MÓVEIS 6.5.1. Introdução Nas estruturas de nós moveis (item 15.7 da NBR 6118:2003), a análise deve levar obrigatoriamente em conta os efeitos da não-linearidade geométrica e da não-linearidade física. No dimensionamento, consideram-se obrigatoriamente os efeitos globais e locais de 2ª ordem. Essa análise pode ser feita de três maneiras: utilizando o coeficiente z como majorador, que é uma solução aproximada e válida apenas para estruturas regulares em que 3,1z . A avaliação dos esforços finais (1ª ordem + 2ª ordem) é feita com a multiplicação dos momentos de 1ª ordem por z95,0 ; utilizando o processo P-, para considerar a não linearidade geométrica, e os valores dos módulos de rigidez reduzidos do item 3.8.5 da norma (a seguir em 3.9.2), para considerar a não linearidade física; realizando uma análise não-linear de segunda ordem, considerando a não linearidade geométrica através de modificações na matriz de rigidez da estrutura, e a não linearidade física através dos diagramas momento-curvatura de cada seção. 6.5.2. Consideração aproximada da não-linearidade física A não-linearidade física é o fenômeno correspondente à perda de proporcionalidade entre tensão aplicada e deformação sofrida pelo material. No caso do concreto, isso começa a acontecer antes mesmo de se atingir o limite de proporcionalidade, principalmente devido a fatores como a formação e a abertura de fissuras nas seções transversais das peças. Para uma análise ideal de segunda ordem, o módulo de rigidez EI deveria refletir a distribuição das fissurasao longo dos elementos, a fluência, a retração e o próprio comportamento inelástico do concreto e do aço das armaduras. Mas essa análise, para estruturas de edifícios, acaba tomando muito tempo e não compensando, frente aos bons resultados que os métodos simplificados podem fornecer. A idéia atualmente mais aceita é a de considerar uma porcentagem de perda da rigidez que simule os diversos aspectos anteriormente citados. Dessa maneira, em estruturas reticuladas com pelo menos quatro andares, a NBR 6118:2003, segundo o item 15.7.2 permite, para a análise dos esforços globais de 2ª ordem, considerar a não-linearidade física de maneira aproximada, tomando-se como rigidez das peças estruturais os valores a seguir: lajes: ccsec IE3,0)IE( vigas: ccsec IE4,0)IE( para A's As ccsec IE5,0)IE( para A's = As pilares: ccsec IE8,0)IE( O módulo de elasticidade a ser adotado no cálculo de z , segundo o item 8.2.8 da NBR 6118:2003, é o módulo de deformação tangente inicial (Eci). Este módulo é 17.6% maior que o módulo de elasticidade secante utilizado em verificações de estados limites de serviço (correspondente ao coeficiente multiplicador de 0,85). UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 23 O momento de inércia IC é o referente à seção bruta de concreto, incluindo mesas colaborantes se for o caso. Alternativamente, permite-se, quando a estrutura de contraventamento for composta exclusivamente por vigas e pilares e z for menor que 1,3, considerar para ambos: ccsec IE7,0)IE( Os valores de rigidez adotados são aproximados e não podem ser usados para avaliar esforços locais de 2ª ordem, mesmo com uma discretização maior da modelagem. EXEMPLO 3 Verificar, através do coeficiente z , a estabilidade global da estrutura (se é de nós fixos ou móveis) de um edifício com quatro pavimentos cuja planta de formas do primeiro piso (admite-se que a do forro seja igual) e corte transversal (esquema do pórtico) estão nas Figuras 19 e 20. Dados: fck = 20MPa; lajes maciças com 8 cm de espessura; peso próprio das lajes (piso e forro) igual a 1,5 kN/m2; revestimento no pavimento de 5 cm; carga acidental no piso igual a 1,5 kN/m2, e no forro de 0,5 kN/m2; revestimento do forro de 2 cm; paredes de espessura igual a 20 cm quando em vigas de 20 cm e de 15 cm quando em vigas de 12 cm; peso específico da alvenaria e revestimento igual a 18 kN/m3; todos os pilares com seção de 20 cm × 20 cm. V 5 (2 0X 60 ) V1 (12X30) V2 (12X30) V4 (12X30) V13 (12X30) V 6 (2 0X 60 ) V 7( 20 X 60 ) V 8 (1 2X 30 ) V 9 (1 2X 30 ) P1 (20X60) P1 (20X60) P3 (20X60) P5 (20x60) P6 (20X60)P4 (20X60) P7 (20X60) P10 (20X60) P11 (20x60) P12 (20X60) P8 (20X60) P9 (20X60) L1 L2 L5 L6 L3 L4 e=8 e=8 e=8 e=8 e=8 e=8 370 370 62 0 42 0 62 0 222 222 A 1 2 3 B C D Figura 19. Planta do pavimento tipo (mesma para o forro) do exemplo 3. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 24 V301 (12X40) P8 (20X60) P9 (20X60)P7 (20X60) VB3 (12X30) V302 (12X40) 321 31 0 31 0 TÉRREO TIPO TIPO TIPO 31 0 31 0 VF304 (12X40) V303 (12X40) P8 (20X60) P9 (20X60)P7 (20X60) VF3 (12X40) 31 0 TIPO FORRO Figura 20. Esquema do pórtico do edifício do exemplo 3. Como o edifício tem quatro pisos é possível empregar o coeficiente z para avaliar a estabilidade global da estrutura. Para a análise são necessárias as ações horizontais (ações de vento) e as verticais atuantes na edificação. a) Ações horizontais e características geométricas As ações de vento atuantes em cada pórtico, cujo cálculo não será aqui apresentado, são 14,40 kN, 16,30 kN, 16,30 kN, 16,90 kN e 8,45 kN para cada altura, respectivamente. Como os pórticos são iguais, será resolvido apenas um pórtico. Por enquanto ainda não serão majoradas as cargas. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 25 As características geométricas dos elementos são dadas por: Pilar (20 cm × 40 cm): Área: 2m12,060,020,0A Inércia à flexão (estádio I): 43 3 m106,3 12 60,020,0I Viga (12 cm × 40 cm): Área: 2m048,040,012,0A Inércia à flexão (estádio I): 44 3 m104,6 12 40,012,0I Para considerar a não linearidade física de maneira simplificada pode-se, neste caso (ver seção 3.9.2), multiplicar as inércias do pilar e das vigas por 0,7. Assim, tem-se: Pilar (20 cm × 40 cm): Área: 2m12,060,020,0A Inércia à flexão (estádio II): 43 3 m1052,27,0 12 60,020,0I Viga (12 cm × 40 cm): Área: 2m048,040,012,0A Inércia à flexão (estádio II): 44 3 m1048,47,0 12 40,012,0I Na Figura 21 são mostrados as ações de vento atuando no pórtico do exemplo (todos os pórticos são iguais) e os deslocamentos horizontais obtidos através da resolução do mesmo com as inércias, tanto dos pilares quanto das vigas, reduzidas. Os deslocamentos na Figura 21 devem ser multiplicados por 1,4 se o vento for considerado como a carga acidental principal e 84,06,04,1 se for admitido como ação secundária (Tabela 11.2 do item 11.7.1 da NBR 6118:2003). Outros aspectos importantes a destacar são que todos os pontos de cada andar têm o mesmo deslocamento em razão da rigidez da laje em seu plano, e a não consideração da excentricidade do vento. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 26 P8 (20X60) P9 (20X60)P7 (20X60) 3 10 31 0 TIPO 31 0 31 0 P8 (20X60) P9 (20X60)P7 (20X60) 3 10 P7 (20X60) P8 (20X60) TIPO P7 (20X60) P8 (20X60) 8,45 16,9 16,3 16,3 14,4 1,86cm 1,48 cm 2,10 cm 0,94 cm 0,24cm Figura 21. Esquema estrutural do pórtico do edifício do exemplo 3 com as cargas (kN) de ação de vento (sem majoração) e deslocamento horizontal resultante em cada andar. b) Ações verticais As ações verticais são determinadas para os pavimentos tipo (Tabela 2) e para o forro (Tabela 3), e separadas por ações permanentes e acidentais. Tabela 2. Cargas verticais atuantes no pavimento tipo do edifício. Carga Tipo Valor Total parcial (kN) Acidental Laje pavimento 16,8∙7,6∙1,5 = 192 Total parcial Acidental 192 (12,8%) Permanente Laje do pavimento 16,8∙7,6∙1,5 = 192 Sobrecarga permanente Pavimento 0,05∙16,8∙7,6∙18 = 115 Permanente Paredes de 20 cm ((6,20∙2+4,20)∙0,20∙2,8)∙18∙3 = 502 Permanente Paredes de 15 cm (4,20∙0,15∙2,8)∙18∙2 = 64 Permanente Paredes de 15 cm (direção P1, P2, P3) ((3,70∙2)∙0,15∙2,80∙18∙4 = 224 Permanente Vigas de 20 cm × 60 cm ((6,20∙2+4,2)∙0,20∙0,6∙25∙3 = 150 Permanente Vigas de 12 cm 30 cm (7,4∙4+4,20∙2)∙0,12∙0,30∙25 = 34 Permanente Pilares de 20 cm × 20 cm 0,20∙0,20 (3,1-0,4)∙25∙12 = 32 Total parcial Permanente 1313 (87,2%) Total final Acidental+permanente 1505 Notas: Não foram consideradas as ações das escadas; admitiu-se, por facilidade, que nesta região há uma laje normal. No cálculo do peso das paredes e vigas desconsiderou-se as sobreposições, empregando para seus comprimentos e alturas as dimensões indicadas na planta e corte das Figuras 19 e 20. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIACIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 27 Tabela 3. Cargas verticais no forro. Carga Tipo Valor Total parcial (kN) Acidental Laje de forro 16,8∙7,6∙0,5 = 64 Total parcial Acidental 64 (13,2%) Permanente Laje do forro 16,8∙7,6∙1,5 = 192 Sobrecarga permanente Forro 0,02∙16,8∙7,6∙18 = 46 Permanente Vigas de 20 cm × 60 cm ((6,20∙2+4,2)∙0,20∙0,6∙25∙3 = 150 Permanente Vigas de 12 cm 30 cm (7,4∙4+4,20∙2)∙0,12∙0,30∙25 = 34 Total parcial Permanente 422 (86,8%) Total final Acidental+permanente 486 Assim o momento de segunda ordem (na primeira iteração) pode ser calculado pela expressão 14, destacando que não há carga acidental secundária, reduzindo-se a: hi n 1i i1qfgifd,tot PPM Sendo: i – numero do andar considerado; n – número do total de andares do edifício (no caso, quatro); Pgi – resultante vertical da carga permanente no andar i; f – coeficiente de majoração das cargas no estado limite último; Pq1i – resultante vertical da ação acidental considerada principal no andar i; hi – deslocamento horizontal na direção considerada do andar i. Os valores de P para os andares do pavimento e do forro para carga acidental e permanente estão dados nas Tabelas 2 e 3 respectivamente, e os valores de hi estão dados (sem coeficiente de ponderação) na Figura 20. Assim, considerando apenas uma combinação de ações com a carga vertical acidental como principal, o coeficiente de ponderação das cargas verticais é (tanto permanente como acidental) 1,4. A expressão, portanto, fica: hi n 1i i1qgid,tot P4,1P4,1M Os valores estão dados na Tabela 4. Tabela 4. Calculo do momento de segunda ordem (primeira situação). Andar P (g+q) (kN) Coeficiente hi (cm) d,totM (kNm) Forro 486 1,4 2,10 14,29 4 1505 1,4 1,86 39,19 3 1505 1,4 1,48 31,18 2 1505 1,4 0,94 19,81 1 1505 1,4 0,24 5,06 Total 109,53 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 28 O momento de tombamento devido ao vento é obtido multiplicando a força do vento em cada andar pela respectiva altura em relação ao nível da fundação (hi), lembrando que é necessário considerar toda a ação do vento (nos quatro pórticos), pois as cargas verticais foram tomadas como as resultantes de todo o pavimento: kNm30,2551)5,1545,84,1290,163,930,162,630,161,340,14(4hHM iviav,1 Para o coeficiente z resulta: 1,104,1 30,2551 53,1091 1 M M 1 1 av,1 d,tot z A estrutura pode ser considerada de nós fixos. 6.5.3. Imperfeições geométricas As estruturas reticulares sempre apresentam imperfeições geométricas (construtivas) do eixo dos seus elementos quando descarregadas (desaprumos). O desaprumo consiste em uma inclinação acidental, um deslocamento angular em relação à posição inicial, variável de edificação para edificação. Segundo a NBR 6118:2003 os desaprumos dos eixos dos elementos da estrutura são admitidos como ações horizontais permanentes indiretas e devem ser considerados na verificação do estado limite último das estruturas reticuladas descarregadas. Essas imperfeições podem ser divididas em globais e locais, e no caso interessam as globais que podem comprometer a estabilidade da edificação. O item 11.3.3.4.1 da Norma trata das imperfeições globais e estabelece que nas estruturas reticuladas, contraventadas ou não, deve ser considerado um desaprumo dos seus elementos verticais, conforme indicado na Figura 22. O deslocamento máximo (amáx) no topo do edifício é dado por: Ha amáx (3.16) Com: 2 (1/n)1 θ1a e H100 1 θ1 (3.17) Onde: H é a altura total da edificação, em metros; n é o número de prumadas de pilares do pórtico. Nas expressões anteriores devem ser obedecidos os seguintes limites para 1θ : 400/1θ min1, para estruturas de nós fixos; 300/1θ min1, para estruturas de nós móveis ou imperfeições locais; 200/1θ máx1, . UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 29 Figura 22. Imperfeições geométricas globais em estruturas reticuladas constituídas de pórticos (figura 11.1, NBR61118:2003). A norma indica ainda que este desaprumo não deve necessariamente ser superposto ao carregamento do vento. Entre os dois, vento e desaprumo, deve ser considerado apenas o mais desfavorável, ou seja, aquele que provoca o maior momento total na base da edificação. EXEMPLO 4 Verificar a estabilidade global da estrutura do edifício do exemplo 3 verificando a condição de imperfeição geométrica. Cálculo do desaprumo: 394 1 50,15100 1 H100 1 θ1 Como 400 1 394 1 1 200 1 394 1 1 com 482 1 2 )3/1(1 394 1 2 (1/n)1 θ1a cm22,31550 482 1Ha amáx Para cada pavimento o deslocamento é obtido multiplicando a pela altura correspondente, obtendo os valores indicados na Tabela 5. A condição de desaprumo neste caso é bem mais severa que a ação do vento quando o mesmo é considerado carga acidental secundária (sem o coeficiente 1,4) e menos severa para quando o vento é considerado como condição principal. Fazendo a verificação apenas para a primeira situação resulta: )84,0()PP(4,1)84,0(P4,11P4,1M hi n 1i iqighi n 1i iqigd,tot Os resultados estão organizados na Tabela 5, sendo os deslocamentos hi determinados para cada andar em função do ângulo de desaprumo a já calculado. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS – DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIDADE GLOBAL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO – Roberto Chust Carvalho / Jasson Figueiredo Filho 30 Tabela 5 Calculo do Momento de segunda ordem primeira situação Andar P (g+q) (kN) Coeficiente hi (cm) d,totM (kN.m) Forro 486 1,4 3,21 21,84 4 1505 1,4 2,57 54,15 3 1505 1,4 1,93 40,67 2 1505 1,4 1,29 27,18 1 1505 1,4 0,64 13,48 Total 157,32 O momento de primeira ordem, devido ao desaprumo, considerando o vento como ação secundária (os valores são os mesmos da Figura 21), como visto no exemplo 3, é dado por: iviav,1 hH0,84M kNm10,2143)5,1545,84,1290,163,930,162,630,161,340,14(484,0M av,1 Assim 1,108,1 10,2143 32,1571 1 M M 1 1 av,1 d,tot z Ainda a estrutura pode ser considerada de nós fixos. Cabe destacar que o momento de segunda ordem na base do edifício devido ao desaprumo é maior (157,32 kNm) que o causado pelo vento (109,53 kNm, calculado no exemplo 3), e só o primeiro deve ser considerado. 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