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UNIDADE V - DA CORRETAGEM 5.1. CONCEITO Contrato de corretagem é aquele pelo qual uma pessoa, não vinculada a outra em virtude de mandato, de prestação de serviços ou por qualquer relação de dependência, obriga-se, mediante remuneração, a intermediar negócios para a segunda, conforme as instruções recebidas, fornecendo a esta todas as informações necessárias para que possam ser celebrados exitosamente. É o que se depreende do art. 722 do Código Civil. O corretor aproxima pessoas interessadas na realização de um determinado negócio, fazendo jus a uma retribuição se este se concretizar. A retribuição será devida quando a conclusão do negócio tenha decorrido exclusivamente dessa aproximação. Denomina-se comitente o que contrata a intermediação do corretor. A obrigação por este assumida é de resultado. Somente fará jus à comissão se houver resultado útil, ou seja, se a aproximação entre o comitente e o terceiro resultar na efetivação do negócio. A esse respeito, proclama o art. 725 do Código Civil: “A remuneração é devida ao corretor uma vez que tenha conseguido o resultado previsto no contrato de mediação, ou ainda que este não se efetive em virtude de arrependimento das partes”. O contrato de corretagem não se confunde com o mandato a prestação de serviços, a comissão ou qualquer outro contrato que estabeleça vínculo de subordinação. É também chamado de mediação, embora esta seja mais ampla, podendo verificar-se em outras modalidades de contrato. O mediador é pessoa neutra, sem vinculação com qualquer das partes, devendo ser imparcial. Procura aproximá-las, para que se conciliem. O corretor, no entanto, embora busque aproximar as partes, visa satisfazer os anseios daquela que lhe transmitiu as instruções e lhe pagará a remuneração. O art. 729 do novo diploma ressalva expressamente as normas da legislação especial, “Os preceitos sobre corretagem constantes deste Código não excluem a aplicação de outras normas da legislação especial”. A legislação especial é encarregada de tecer normas mais minudentes a respeito da matéria, ficando reservado ao Código Civil o estabelecimento de preceitos genéricos. Em face do regramento do mencionado contrato no novo Código como contrato típico, a legislação especial tem aplicação subsidiária ou complementar. 02 ESPÉCIES: Os corretores podem ser livres e oficiais. CORRETORES LIVRES: são pessoas que, sem nomeação oficial, exercem, com ou sem exclusividade, a atividade de intermediação de negócios, em caráter contínuo ou intermitente. CORRETORES OFICIAIS são os de valores públicos, de mercadorias, de navios, de seguros e de operações de câmbio, que têm a sua profissão legalmente disciplinada e são investidos em cargo público, cujos atos por esta razão gozam de fé pública, estando sujeitos a requisitos especiais para exercê-la, tais como idade, idoneidade e cidadania (Lei n. 6.530/78, regulamentada pelo Dec. n. 81.871/78). Os CORRETORES PÚBLICOS, investidos em seu cargo mediante nomeação governamental, devem ter matrícula na Junta Comercial ou em outro órgão público competente e possuir os livros necessários ao exercício da função, denominados cadernos manuais, para registro das operações em que atuaram como intermediários. São obrigados a prestar fiança, como garantia de seu bom desempenho. ►Para a validade do contrato de corretagem exigem-se os mesmos requisitos gerais, aplicáveis a todos os contratos: capacidade do agente e objeto lícito, possível, determinado ou determinável. Não há forma prescrita em lei para a sua celebração. 2. NATUREZA JURÍDICA A corretagem é contrato: A - BILATERAL ou SINALAGMÁTICO, porque gera obrigações para ambos os contratantes. O corretor se obriga a obter um ou mais negócios para o comitente e este, por sua vez, obriga-se a pagar a remuneração ajustada ou arbitrada (CC, arts. 722 e 725). B - É também contrato CONSENSUAL, visto que se aperfeiçoa com o acordo de vontades, não exigindo nenhum outro procedimento. C - Tem natureza ACESSÓRIA porque prepara a conclusão de outro negócio, que é realizado pelas partes, considerado principal. D - É contrato ONEROSO, uma vez que ambos os contratantes obtêm proveito, ao qual corresponde um sacrifício: para o comitente, pagamento da comissão e realização do negócio sem o desgaste de procurar interessados; para o corretor, eventual remuneração como contraprestação de seu trabalho e empenho. E - A corretagem é ainda considerada contrato ALEATÓRIO, porque o corretor assume o risco do insucesso da aproximação. F - O contrato de corretagem é, finalmente, NÃO SOLENE, pois não exige forma especial. Basta o acordo de vontades, que se prova por qualquer meio. Destarte, pode concretizar-se por meios diversos, como, por exemplo: entendimento verbal direto entre o comitente e corretor, telefone, correspondência escrita, computador, fax e outras formas de comunicação. Observação: Em princípio, todas as modalidades contratuais lícitas admitem a corretagem, inclusive a matrimonial. 3. DIREITOS E DEVERES DO CORRETOR A profissão de corretor de imóveis é disciplinada pela Lei n. 6.530/78, que é a Lei Orgânica da Profissão de Corretor de Imóveis, regulamentada pelo Decreto n. 81.871/78, que limita o seu exercício, no território nacional, ao possuidor de título técnico em transações imobiliárias, inscrito no Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI) da circunscrição. O fato de não ser corretor habilitado pode sujeitá-lo a sanções administrativas, mas não o inibe de receber a remuneração, sob pena de o comitente locupletar-se indevidamente à custa de seu trabalho se não pagá-la. DIREITOS: O principal direito do corretor é justamente o de perceber a comissão. “se não estiver fixada em lei, nem ajustada entre as partes, será arbitrada segundo a natureza do negócio e os usos locais” (CC, art. 724). DEVERES: Quanto aos deveres, destacam-se: o de executar a mediação “com a diligência e prudência que o negócio requer”, prestando ao cliente, espontaneamente, “todas as informações sobre o andamento dos negócios”; b) o de prestar esclarecimentos ao cliente, “sob pena de responder por perdas e danos”, todos os “esclarecimentos que estiverem ao seu alcance, acerca de segurança ou risco do negócio, das alterações de valores e de outros fatores que possam influir nos resultados da incumbência” (CC, art. 723, com a redação dada pela Lei n. 12.236, de 19-5-2010). C - O corretor tem, efetivamente, o dever de diligência e prudência no exercício de sua atividade. Cabe-lhe esforçar-se para obter o resultado esperado, aproximando as partes e acompanhando-as Quando se tratar de venda de imóvel e os terceiros desejarem conhecê-lo e vistoriá-lo, deve o corretor dar toda a assistência até que o negócio se considere ultimado. É importante, também, que o corretor informe o comitente sobre todos os aspectos que dizem respeito às negociações e que podem ter influência na decisão de celebração ou não do contrato em estudo, sob pena de responder por perdas e danos. 4. A REMUNERAÇÃO DO CORRETOR A principal obrigação do comitente é pagar a comissão, na forma convencionada pelas partes, ou segundo o que determina a lei ou os costumes locais (CC, art. 724). Em princípio, quem usualmente paga a comissão é quem procura os serviços do corretor, encarregando-o de procurar determinado negócio. Não determinando a lei quem deve pagar a corretagem, prevalecem os usos locais. ►Nos contratos de venda, a praxe é a comissão ficar a cargo do vendedor. A remuneração é denominada comissão ou corretagem e representa o pagamento do preço do serviço pelo resultado útil que o trabalho proporcionou, aproximando as partes e tornando possível a conclusão do negócio. ►A comissão ou corretagem não depende do recebimento integral do preço ou da execução do contrato. A comissão é devida desde que se considere concluído o negócio, representado o ajuste final pela assinatura de instrumento particular ou pela entrega do sinal ou arras. ►Embora o pagamento, em regra, se façaem dinheiro, não há empeço a que as partes o convencionem de modo diverso. A partir do momento em que o contrato é aperfeiçoado mediante o acordo de vontades, o corretor faz jus à comissão, ainda que posteriormente venham as partes a desistir do negócio. Dispõe, com efeito, o art. 725 do novo Código Civil que “a remuneração é devida ao corretor uma vez que tenha conseguido o resultado previsto no contrato de mediação, ou ainda que este não se efetive em virtude de arrependimento das partes”. A jurisprudência do STJ mostrava-se vacilante antes da entrada em vigor do Código Civil de 2002, ora considerando indevida a comissão se, após a aceitação da proposta, o vendedor, que concordara com a intermediação, se arrependesse e desistisse da venda, uma vez que o contrato de corretagem não impõe simples obrigação de meio, mas sim uma obrigação de resultado; ora, ao contrário, considerando devida a comissão se, após a aproximação, já com a venda acertada, o negócio não se perfizesse por desistência de uma das partes. ☼☼Desistência posterior. Resultado útil não configurado. Comissão indevida. Nos termos do entendimento do STJ, a comissão de corretagem só é devida se ocorre a conclusão efetiva do negócio e não há desistência por parte dos contratantes. É indevida a comissão de corretagem se, mesmo após a aceitação da proposta, o comprador se arrepende e desiste da compra. Não se pode confundir arrependimento com desistência. ARREPENDIMENTO pressupõe a celebração do negócio, com a retratação posterior, o que é uma situação excepcional. DESISTÊNCIA, por sua vez, se situa ainda na fase pré-contratual, motivo pelo qual, não havendo ainda o negócio jurídico principal, não há que se falar em direito à comissão. O corretor perde a comissão se nulo o negócio que ensejou o seu pagamento. A simples anulabilidade somente se lhe torna oponível, todavia, se conhecia a causa. Estatui a primeira parte do art. 726 do Código Civil que se o negócio, todavia, é efetuado diretamente entre as partes, “nenhuma remuneração será devida ao corretor”. Desse modo, se o dono do negócio anuncia diretamente a aceitação de oferta, por exemplo, não está obrigado a pagar comissão a quem quer que seja. A comissão só é devida a quem intermedeia o negócio de modo que a sua atividade tenha relação direta com a concretização deste. Se não houve nenhuma intervenção do corretor, não tendo este contribuído para a aproximação das partes e a obtenção do resultado por elas desejado, nenhuma remuneração é devida. Acrescenta ainda a segunda parte do aludido art. 726 que: se todavia “por escrito, for ajustada a corretagem com exclusividade, terá o corretor direito à remuneração integral, ainda que realizado o negócio sem a sua mediação, salvo se comprovada sua inércia ou ociosidade”. Ajustada a corretagem exclusiva, a solução é outra: a comissão se torna devida, ainda que o negócio seja concluído diretamente pelo comitente. Em geral a chamada opção de venda, que configura a exclusividade, é concedida por prazo determinado. No período estipulado, a atuação do corretor deve ser plena e produtiva, sob pena de descaracterizar-se, pela comprovada inércia ou ociosidade, o direito à remuneração, quando efetivada a venda pelo próprio comitente. Observe-se que o mencionado art. 726 exige que a exclusividade seja ajustada por escrito. Essa avença é denominada, OPÇÃO DE VENDA e se constitui no documento que traça as regras básicas do negócio, delimitando a atuação do corretor e o prazo de que dispõe para obter o resultado almejado. Já decidiu o Superior Tribunal de Justiça que “o corretor fará jus à sua remuneração se o negócio agenciado for concluído mesmo após o vencimento do lapso temporal previsto na autorização, “desde que com pessoa por ele indicada ainda quando em curso o prazo do credenciamento e nas mesmas bases e condições propostas”. Essa solução é prevista na segunda parte do art. 727 do novo Código Civil, que considera devida a corretagem “se o negócio se realizar após a decorrência do prazo contratual, mas por efeito dos trabalhos do corretor”. Igual solução se adotará se, NÃO HAVENDO PRAZO DETERMINADO, o dono do negócio “dispensar o corretor, e o negócio se realizar posteriormente, como fruto da sua mediação” (art. 727, primeira parte). ►►Justifica-se o pagamento da corretagem nesses casos em função do resultado útil obtido e para o qual contribuiu o trabalho do corretor. Prevê o art. 728 do Código Civil que: “se o negócio se concluir com a intermediação de mais de um corretor, a remuneração será paga a todos em partes iguais, salvo ajuste em contrário”. O dispositivo não distingue a atuação de cada um, afastando a possibilidade de se proporcionalizar a remuneração com base na maior ou menor participação de cada um na conclusão exitosa do negócio, salvo naturalmente ajuste em contrário. O critério não se afigura o mais justo, especialmente naqueles casos em que um corretor dedica todo o seu tempo na busca da efetivação do negócio, e outro tem uma discreta atuação, de poucos minutos. A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça decidiu que, se um corretor de imóveis faz a aproximação entre o comprador e o dono da propriedade, e o negócio se concretiza, ele faz jus à comissão, ainda que não tenha participado do processo de conclusão da compra e venda. Consta do acórdão que o recebimento da comissão está atrelado à aproximação das partes e à conclusão bem-sucedida do negócio jurídico: A participação efetiva do corretor na negociação do contrato é circunstância que não desempenha, via de regra, papel essencial no adimplemento de sua prestação. Portanto, esse auxílio, posterior à aproximação e até a celebração do contrato, não pode ser colocado como condição para o pagamento da comissão pelo comitente.