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Ponto 1 - Previdenciário

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Ponto 1 - Direito Previdenciário: Seguridade. Natureza, fontes e princípios. Eficácia e interpretação das normas de Seguridade.
Seguridade
A Constituição de 1988 (constituição dirigente, própria de um Estado social – welfare state), superando concepções liberais de viés individualista, conferiu estatura de dignidade e fundamentalidade aos direitos à saúde, à previdência e à assistência social (CF/88, art. 6º), enumerando-os como elementos do sistema da seguridade social (CF/88, art. 194), instituído com o objetivo de reduzir os riscos sociais.
O termo risco social designa os eventos que ocorrem na vida de todos os homens, com certeza ou probabilidade significativa, provocando um desajuste nas condições normais de vida, em especial na obtenção dos rendimentos do trabalho, gerando necessidades a serem atendidas, as quais, em momentos críticos, normalmente não podem ser satisfeitas pelo próprio indivíduo.
Wladimir Novaes Martinez lembra que o art. 194 da CF/88 não traz propriamente uma definição de seguridade social, limitando-se a enumerar os seus componentes. Fábio Zambite a conceitua como “a rede protetiva formada pelo Estado e por particulares, com contribuições de todos, incluindo parte dos beneficiários diretos, no sentido de estabelecer ações positivas no sustento de pessoas carentes, trabalhadores em geral e seus dependentes, providenciando a manutenção de um padrão mínimo de vida”.
A seguridade compreende, assim, um “conjunto de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinado a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social” (CF/88, art. 194; Lei n. 8.212/91, art. 1º). Logo, seguridade é gênero de que são espécies a saúde, a previdência e a assistência social.
A saúde vem garantida pela CF/88 como “direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (art. 197). O acesso aos programas de saúde pública segue, necessariamente, os princípios da igualdade e da universalidade de atendimento. Assim, nesse campo, o acesso deve ser garantido a todos, de forma igual, gratuita, sem qualquer tipo de contribuição.
Para o STF, o direito à saúde pode ser exigido judicialmente dos entes políticos, que são solidariamente responsáveis pela sua prestação. Não há se falar em violação ao princípio da separação dos poderes, pois o direito à saúde é dotado de essencial fundamentalidade, cabendo ao Poder Judiciário garantir a sua efetividade nas situações em que o Poder Público não adotar providências concretas à sua plena efetivação. Todavia, a intervenção do Judiciário, na implementação de políticas públicas de saúde, não pode ocorrer de forma desmedida, mas tão somente em situações excepcionais, quando isso se mostrar estritamente necessário (sobre o assunto, a decisão do Min. Gilmar Mendes na Suspensão de Tutela Antecipada – STA – n. 175).
Registre-se, no ponto, o seguinte precedente do TRF2, de relatoria do Des. Federal Guilherme Calmon Nogueira da Gama:
[...] 3. Não há como estabelecer um ente público específico em detrimento de outro para efetivamente cumprir a obrigação prevista no artigo 196 da CF/88, porquanto o sistema é todo articulado, com ações coordenadas, ainda que a execução das ações e serviços de saúde seja de forma regionalizada e hierarquizada. 4. A legitimidade passiva da União, Estado e Municípios confere a qualquer um deles, isoladamente ou não, a responsabilidade pela prestação do serviço de saúde, os quais, entre si, estabelecerão a melhor forma de atender ao comando previsto no art. 196 da CF/88, assim como ao art. 2º da Lei 8.080/90. 5. Registre-se que é verdade, por um lado, que, de fato, não cabe ao Poder Público atender ao interesse no fornecimento de medicamento específico em favor de uns poucos em detrimento de outras pessoas que apresentam doenças graves e que, desse modo, poderiam ser prejudicadas caso acolhida a pretensão autoral. Todavia, há que se ter em mente que determinados tipos de doenças, especialmente aquelas já reconhecidas cientificamente quanto à sua existência e tratamento, devem ser incluídas no rol daquelas que merecem a implementação de políticas públicas. [...] (APELRE 201251014904690, Desembargadora Federal CARMEN SILVIA LIMA DE ARRUDA, TRF2 - SEXTA TURMA ESPECIALIZADA, E-DJF2R - Data: 20/02/2014.)
A assistência social deve ser prestada “a quem dela necessitar, independentemente de contribuição, e tem por objetivos: I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II – o amparo às crianças e adolescentes carentes; III – a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal às pessoas portadoras de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei” (CF/88, art. 203).
Note-se que a diferença primordial entre as atividades de saúde e de assistência social refere-se à amplitude: na saúde, o caráter de universalidade é mais amplo (direito de todos); a assistência visa a garantir meios de subsistência às pessoas que não tenham condições de suprir o próprio sustento, em especial crianças, idosos e deficientes. A semelhança é que ambas (saúde e assistência social) independem de contribuição à seguridade social.
A mais autêntica forma de assistência social é aquela prevista no art. 203, V, da CF/88, que garante o benefício assistencial de um salário mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, assim definida pelo art. 20, § 1º, da Lei n. 8.742/93, como o grupo composto pelo requerente, o cônjuge/companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto.
A Lei n. 8.742/93 (LOAS, art. 20, § 3º), para fins de aferição da fragilidade econômica da família do beneficiário da assistência social, estabeleceu este requisito: a renda per capita do grupo familiar deve ser inferior a ¼ do salário mínimo. Em um primeiro momento, o STF considerou constitucional esse limite (ADI 1.232/DF, DJU de 9/9/98). Posteriormente, contudo, ao julgar a Reclamação n. 4.374/PE (Rel. Min. Gilmar Mendes, 18/4/2013), o Supremo modificou o seu entendimento anterior, passando a entender que o limite estabelecido pela LOAS passou por um “processo de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos patamares econômicos utilizados como critérios de concessão de outros benefícios sociais por parte do Estado brasileiro)”. Hoje, portanto, a miserabilidade há de ser aferida no caso concreto.
Ainda ao julgar a Rcl. 4.374/PE, o STF declarou inconstitucional, por omissão parcial, o art. 34, parágrafo único, da Lei n. 10.741/03 (Estatuto do Idoso), o qual dispõe que o benefício assistencial já concedido a qualquer membro (idoso) da família não será computado para fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a LOAS. Como se vê, o dispositivo não exclui do cálculo os benefícios assistenciais recebidos por deficientes e os benefícios previdenciários, no valor de até um salário mínimo, percebidos por idosos. Para o STF, não há justificativa plausível para discriminação dos portadores de deficiência em relação aos idosos, bem como dos idosos beneficiários da assistência social em relação aos idosos titulares de benefícios previdenciários no valor de até um salário mínimo. Assim, foi declarada a omissão inconstitucional parcial do art. 34, parágrafo único, da Lei n. 10.741/03.A previdência social, por sua vez, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, idade avançada, tempo de serviço, desemprego involuntário, encargos de família e reclusão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente.
O conceito de Previdência Social traz ínsito o caráter de contributividade, no sentido de que só aqueles que contribuírem terão acesso aos benefícios previdenciários. Essa é a diferença primordial entre os ramos da seguridade social, sendo claro que, enquanto a assistência social e a saúde independem de contribuição, a previdência pressupõe contribuição.
Em síntese:
	SEGURIDADE SOCIAL
	SAÚDE
	PREVIDÊNCIA SOCIAL
	ASSISTÊNCIA SOCIAL
	-arts. 196 a 200, CF
	-arts. 201 e 202, CF
	-arts. 203 a 204, CF
	-direito de todos e dever do Estado.
	-direito de quem contribui.
	-prestada para quem dela necessite.
	-sistema não contributivo.
	-sistema contributivo.
	-sistema não contributivo.
Natureza
O direito à seguridade social é direito fundamental social, de 2ª dimensão, de prestação positiva, de iniciativa do Poder Público e de toda a sociedade, com o fim de concretizar uma isonomia material.
Fontes
Constituição de 1988 (arts. 193 a 204); tratados internacionais (desde que internalizados); Leis Complementares ns. 108/01 e 109/01 (regime de previdência complementar); Lei n. 8.212/91 (lei de custeio da previdência social); Lei n. 8.213/91 (lei de benefícios da previdência social); Lei n. 8.080/90 (lei orgânica da saúde pública); Lei n. 8.742/93 (lei orgânica da assistência social); Decreto n. 3.048/99 (regulamento da previdência social).
De se notar que, nos termos do art. 22, XXIII, da CF/88, compete privativamente à União legislar sobre seguridade social. De outra parte, nos termos do art. 24, XII, XIV e XV, da Carta de 1988, à União, aos Estados e ao DF compete legislar concorrentemente sobre previdência social, proteção e defesa da saúde; proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência; proteção à infância e à juventude. 
Frederico Amado leciona que a aparente antinomia resolve-se assim: apenas a União poderá legislar sobre previdência social, exceto no que concerne ao regime de previdência dos servidores públicos efetivos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que poderão editar normas jurídicas para instituí-los e discipliná-los, observadas as normas gerais editadas pela União e as já postas pela CF/88. Além disso, os Estados, o DF e os Municípios poderão editar normas acerca da previdência complementar dos seus servidores públicos (CF/88, art. 40, § 14).
Somente a União possui competência para legislar sobre a previdência complementar privada (CF/88, art. 202), o que fez por meio das LC ns. 108 e 109, de 2001.
No campo da saúde e da assistência social, a competência acaba sendo concorrente, cabendo à União editar normas gerais a serem complementadas pelos demais entes políticos, conforme as peculiaridades regionais e locais, pois todas as pessoas políticas devem atuar para realizar os direitos fundamentais (Frederico Amado).
O costume não pode ser considerado como fonte do direito previdenciário, em razão do princípio da legalidade (Lazzari e Castro). Devem, porém, ser entendidas como fontes do direito previdenciário, no âmbito interno da Previdência Social, as decisões sumuladas do Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS), já que vinculam a Administração. Também são fontes do direito previdenciário as normas coletivas, como os regulamentos das empresas, que estabelecem complementação de benefícios previdenciários, mediante a contribuição da empresa e do empregado. 
Princípios
Princípios são proposições básicas, fundamentais (alicerces), que condicionam todas as estruturações subsequentes de uma ciência.
O art. 194 da CF/88, apesar de referir-se a “objetivos”, traz a maioria dos princípios da seguridade social.
Princípios da Seguridade Social:
a) Igualdade (art. 201, § 1º, da CF/88, com redação dada pela EC n. 20/98). Veda a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadorias aos beneficiários do RGPS, ressalvados os casos de atividades exercidas em regime especial.
b) Solidariedade ou solidarismo (CF/88, art. 3º, I). É obrigatória a contribuição da maioria em prol da minoria. É a solidariedade que permite e justifica estas situações, citadas exemplificativamente: aposentadoria por invalidez daquele que sofre um acidente no seu primeiro dia de trabalho, sem ter ainda vertido contribuições para o sistema; cobrança de contribuição do aposentado que volta a trabalhar. Pelo princípio da solidariedade, a contribuição de um não é exclusiva deste, mas serve à manutenção de toda a rede protetiva. Mesmo na previdência social, em que o sistema é contributivo, a solidariedade faz-se presente. Basta ver, por exemplo, o caso dos trabalhadores rurais, os quais, embora tenham um sistema diferenciado de custeio, fazem jus aos benefícios (Lei n. 8.213/91, art. 143).
c) Universalidade da cobertura e do atendimento. O constituinte previu a universalidade sob os aspectos objetivo (cobertura de todos os riscos sociais geradores de estado de necessidade) e subjetivo (atendimento a todas as pessoas que integram a população, inclusive os estrangeiros). O segundo aspecto é a regra em relação à saúde e à assistência social. Todavia, como a previdência social é, em princípio, restrita aos que exercem atividade remunerada, a universalidade, nesse campo, foi contemplada por meio da criação da figura do segurado facultativo.
d) Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais. Os benefícios e serviços oferecidos às populações urbana e rural devem ser os mesmos (uniformidade) e decorrentes dos mesmos eventos (equivalência). Todavia, esse princípio não implica na igualdade dos valores dos benefícios. A partir da CF/88, foi instituído o regime geral de previdência social, deixando de existir os regimes específicos para trabalhadores rurais e urbanos. Algumas distinções no custeio e nos benefícios entre urbanos e rurais são possíveis, desde que razoáveis e justificáveis perante a isonomia material, sem nenhuma espécie de privilégio para qualquer dos lados.
e) Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios. Diante da impossibilidade real de se cobrir todos os riscos sociais, assim como de atender a todos, o constituinte conferiu ao legislador a possibilidade de: i) escolher quais as contingências sociais a serem cobertas pelo sistema de proteção social, em face de suas possibilidades financeiras (seletividade, que condiciona a universalidade objetiva, ou seja, de cobertura); ii) escolher a que pessoas serão estendidos os benefícios e serviços (distributividade, que condiciona a universalidade subjetiva, ou seja, de atendimento). Exemplo: o salário-família e o auxílio-reclusão são pagos apenas aos segurados de baixa renda (alteração promovida pela EC n. 20/98).
f) Irredutibilidade do valor dos benefícios (CF/88, art. 194, IV, e 201, § 4º). Por esse princípio, não será possível a redução do valor nominal de benefício da seguridade social, vedando-se o retrocesso securitário (irredutibilidade pelo valor nominal). No que se refere especificamente aos benefícios previdenciários, a Constituição (art. 201, § 4º) vai além, garantindo o reajustamento para manutenção do valor real (irredutibilidade pelo valor real). O STJ, forte nesse princípio, não vinha admitindo a aplicação de índice negativo de correção monetária, nos períodos de deflação, para os benefícios previdenciários. Afirmava que, para os períodos de deflação, o índice negativo deveria ser substituído pelo fator de correção zero. Todavia, em 2012, o STJ se firmou no sentido da possibilidade de aplicação de índices negativos de inflação na atualização dos benefícios previdenciários, desde que respeitada a irredutibilidade do valor total pago. Ou seja, os índices negativosde inflação poderiam ser computados no cálculo, desde que, ao final, compensando-se os índices negativos e positivos, fosse preservado o valor nominal do benefício (EDcl no AgRg no REsp n. 1.142.014/RS).
g) Equidade na forma de participação no custeio. Norma dirigida ao legislador, importa na responsabilidade compartilhada entre o Estado e a sociedade civil pela manutenção financeira da seguridade social. A participação no custeio deverá levar em conta as condições contributivas do indivíduo (sua capacidade financeira): a contribuição de cada um deve ser proporcional ao seu poder aquisitivo. Nesse sentido, a classe empregadora tende a contribuir com parcela maior do que a dos empregados, e, dentre as empresas, aquelas cuja atividade traz maior risco social devem verter contribuições maiores. Não se trata, porém, do conceito clássico de capacidade contributiva do direito tributário, o qual, em certas situações, sequer exigiria o tributo. A capacidade, aqui, tem como limite o caráter contributivo no sistema. Logo, mesmo dotado de parcos recursos, o trabalhador é filiado compulsoriamente ao regime, sendo obrigado a contribuir, ainda que com uma contribuição reduzida, compensada com recursos dos mais abastados (princípio da solidariedade).
h) Diversidade da base de financiamento. Para não onerar demasiadamente uma classe social ou atividade econômica e, bem assim, para evitar que oscilações setoriais comprometam a arrecadação de contribuições, o financiamento da Seguridade Social (incluindo a Previdência) não pode se fazer com base em uma única fonte tributária. Assim, a diversidade faz com que a Seguridade Social seja financiada por um maior número de pessoas, garantindo uma constância de entradas, além de conferir maior efetividade ao princípio da solidariedade. A CF/88 prevê o financiamento da Seguridade Social com contribuições das empresas, dos trabalhadores, dos entes públicos e dos concursos de prognósticos, além de prever a possibilidade de serem instituídas, por lei complementar, novas fontes de custeio (art. 195, art. 4º). A EC n. 42/03 incluiu no texto constitucional mais uma fonte de custeio: a contribuição do importador de bens e serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar (CF/88, art. 195, IV). Com base no princípio aqui examinado, a proposta de unificação das contribuições sociais em uma única (como se tem defendido) é evidentemente inconstitucional! Fala-se em tríplice forma de custeio, pois o art. 195 da CF/88 prevê a contribuição das empresas, dos trabalhadores e do próprio governo.
i) Caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do governo nos órgãos colegiados. O sistema é único, mas deve ser gerido de forma descentralizada (maior efetividade) e com participação do povo (maior legitimidade às decisões). Como decorrência desse princípio, foram criados diversos órgãos, como o Conselho Nacional de Previdência Social – CNPS, o Conselho Nacional de Assistência Social e o Conselho de Gestão da Previdência Complementar. Outros órgãos colegiados, como os conselhos estaduais e municipais de previdência, além do Conselho Nacional de Seguridade Social, foram extintos pela MP nº 2.216-37 de 31.08.2001.
j) Orçamento diferenciado. A Seguridade Social deve ter orçamento próprio, separado daquele da União, com o objetivo de evitar que os recursos destinados às suas atividades sejam desviados para cobrir despesas desse último ente (CF/88, art. 165, § 5º, III).
l) Precedência da fonte de custeio. Nenhum benefício ou serviço da Seguridade Social pode ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total (art. 195, § 5º). Pretende-se, assim, proteger o equilíbrio financeiro e atuarial da Seguridade Social e, consequentemente, garantir a efetivação dos benefícios e serviços. Com base nesse princípio, o STF entendeu pela impossibilidade de majoração das pensões por morte efetivadas antes do advento da Lei n. 9.032/95 (RE 484.702/AL, Pleno, 9/2/2007). Por outro lado, valendo-se da técnica do distinguishing, o STF (Informativo n. 599) entendeu ser possível a aplicação imediata dos novos tetos previdenciários trazidos pelas EC ns. 20/98 e 41/03 aos benefícios pagos com base em teto anterior, de menor expressão econômica: trata-se de aplicação imediata do novo teto previdenciário, e não de sua incidência retroativa (RE 564.354/SE, 8/9/2010). Lembre-se, por fim, do enunciado n. 456 da súmula do STJ: “É incabível a correção monetária dos salários de contribuição considerados no cálculo do salário de benefício de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, pensão ou auxílio-reclusão concedidos antes da vigência da CF/1988”.
Princípios da Previdência Social:
a) Filiação obrigatória. São segurados da Previdência Social todos aqueles que exercem atividades vinculadas ao Regime Geral, nos termos da lei, e não estão vinculados a regime próprio. A exceção ao princípio fica por conta dos chamados segurados facultativos, aos quais a lei abre a possibilidade de aderirem ao Regime Geral, mediante o recolhimento de contribuições, e desde que não estejam filiados a outro regime próprio.
b) Caráter contributivo. O direito aos benefícios depende do recolhimento de contribuições. Contudo, se a responsabilidade pelo recolhimento das contribuições for de terceiros (como no caso do empregador, em relação ao empregado), o segurado fará jus às prestações da Previdência Social.
c) Equilíbrio financeiro e atuarial. A execução da política previdenciária deve respeitar a relação entre o custeio e o pagamento de benefícios. A introdução do fator previdenciário pela Lei n. 9.876/99 buscou concretizar esse princípio.
d) Da garantia do benefício mínimo. Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo (CF/88, art. 201, § 2o). Segundo o princípio do valor mínimo, garante-se ao indivíduo (trabalhador, aposentado, pensionista, assistido...) uma renda capaz de "atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e Previdência Social" (CF/88, art. 7o, IV). Importante ressaltar que a impossibilidade da concessão de benefícios em valor inferior a um salário-mínimo só pode se aplicar aos casos em que tais benesses substituem o salário-de-contribuição ou o rendimento do segurado, de modo que os benefícios não substitutivos da renda do trabalhador podem ser pagos em valor inferior ao mínimo, tal como ocorre na hipótese do auxílio-acidente.
e) Da correção monetária dos salários de contribuição. Todos os salários de contribuição considerados para o cálculo de benefício serão devidamente atualizados, na forma da lei (CF/88, art. 201, §3o). O princípio da recomposição monetária, assim, "é aquele que garante ao contribuinte ou aos seus dependentes, no momento em que passam à condição de beneficiários da Previdência Social, uma justa e integral recomposição de todos os valores considerados para o fim de cálculo da prestação previdenciária, seja ela de trato sucessivo ou instantânea".
f) Da preservação do valor real dos benefícios. É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei (CF/88 – art. 201, §4o).
g) Da previdência complementar facultativa. “Admite-se a participação da iniciativa privada na atividade securitária, em complemento ao regime oficial, e em caráter de facultatividade para os segurados”, devendo esta ser regulada por meio de lei complementar (LC n. 109/2001). Antes da EC n. 20/98, o seguro complementar deveria ser mantido pela própria Previdência Social.
h) Da indisponibilidade dos direitos dos beneficiários. “São indisponíveis os direitos previdenciários dos beneficiários do regime, não cabendo a renúncia, preservando-se, sempre, o direito adquirido daquele que,tendo implementado as condições previstas em lei para a obtenção do benefício, ainda não o tenha requerido”. Os benefícios não se sujeitam a arresto, seqüestro ou penhora, e só podem sofrer descontos determinados por lei ou por ordem judicial. Tal princípio, ressalte-se, segundo o STJ, não impede a desaposentação, apresentando-se, em verdade, como mecanismo de proteção do segurado para que ele não venha a ficar desamparado, nas situações de vulnerabilidade social previstas na Constituição e na legislação de regência. Assim, por se tratar de norma protetiva, não pode ser interpretada contrariamente ao segurado, com o desiderato de lhe obstar a desaposentação.
i) Comutatividade. Para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em que os diversos regimes de Previdência Social se compensarão financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei (CF/88 – art. 201, §9o).
Eficácia e interpretação das normas previdenciárias
Interpretação
Várias são as formas de interpretação da norma jurídica: gramatical ou literal; histórica; autêntica; sistemática; teleológica ou finalística. No Direito da Seguridade Social, fala-se na interpretação mais favorável ao segurado, que muitas vezes é determinada pela própria lei. Na legislação ordinária, principalmente quanto aos benefícios, costuma-se encontrar a expressão “o que for mais vantajoso” para o beneficiário.
Alguns doutrinadores afirmam que o in dubio pro misero carece de cuidado, já que induz a um raciocínio equivocado. Esse preceito determina que, em caso de dúvida, a decisão deve ser a mais favorável ao beneficiário. Logo, somente a dúvida justifica a aplicação dessa regra, pois não é lícito ao aplicador do Direito ignorar preceito expresso de lei, aplicando outro mais favorável.
O intérprete deve estar atento aos fundamentos e objetivos do Estado Democrático de Direito (arts. 1º e 3º da CF/88), notadamente a dignidade da pessoa humana e a redução das desigualdades sociais, além do trabalho, escolhido como alicerce da ordem social.
Integração
Integrar significa inteirar, completar, suprir lacunas existentes na norma jurídica. Citam-se, no ponto, as técnicas da analogia e da equidade.
A analogia – que é técnica de integração, e não meio de interpretação – consiste na aplicação, ao caso concreto em exame (situado em uma lacuna legal), de uma regra criada para um caso semelhante. Contudo, a analogia não pode resultar na criação de obrigações, pois “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (CF/88, art. 5º, II). Nesse sentido, aliás, o art. 108, § 1º, do CTN (“o emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei”).
A equidade consiste em suprir a imperfeição da lei ou torná-la mais branda, de modo a adaptá-la à realidade. Só pode ser adotada nas hipóteses autorizadas em lei (CPC, art. 127) e não pode resultar na dispensa do pagamento de tributo devido (CTN, art. 108, § 2º).
Eficácia
a) Eficácia da lei no tempo. Quanto às normas de custeio, o § 6º do art. 195 da CF/88 estabelece que as contribuições sociais destinadas ao custeio da Seguridade Social só podem ser exigidas depois de decorridos 90 dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o princípio da anterioridade (CF/88, art. 150, III, b). O dispositivo trata da eficácia material, ou seja, do momento em que, além de formalmente vigente (eficácia formal), a norma produz os efeitos que lhe são próprios. As demais normas de custeio e as relativas às prestações previdenciárias entram em vigor na data da publicação da lei. Vale lembrar, ainda, que as normas constitucionais pendentes de regulação por lei complementar ou ordinária não são exigíveis antes da edição desta.
b) Eficácia da lei no espaço. A eficácia no espaço diz respeito ao território em que vai ser aplicada a norma. As Leis ns. 8.212 e 8.213 se aplicam no Brasil, tanto para os nacionais como para os estrangeiros aqui residentes, de acordo com as regras determinadas pelo Plano de Custeio e Benefícios. Note-se, por exemplo, que o art. 11, I, da Lei n. 8.213/91 enumera como segurados obrigatórios da Previdência Social: “[...] c) o brasileiro ou o estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado em sucursal ou agência de empresa nacional no exterior; [...] e) o brasileiro civil que trabalha para a União, no exterior, em organismos oficiais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo se segurado na forma da legislação vigente do país do domicílio; f) o brasileiro ou estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado em empresa domiciliada no exterior, cuja maioria do capital votante pertença a empresa brasileira de capital nacional; [...]”. Por fim, o art. 85-A da Lei n. 8.212/91 estabelece que os tratados, convenções e outros acordos internacionais de que Estado estrangeiro ou organismo internacional e o Brasil sejam partes, e que versem sobre matéria previdenciária, serão interpretados como lei especial.

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