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PDF - Direito Constitucional - Prof. Flavio Martins - Delegado Civil Damasio 2015.2

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Intensivo - Delegado de Polícia Civil 
CARREIRAS JURÍDICAS 
Damásio Educacional 
MATERIAL DE APOIO 
 
 Disciplina: Direito Constitucional 
Professor: Flavio Martins 
Aulas: 17 a 20 | Data: 30/11/2015 
 
ANOTAÇÃO DE AULA 
SUMÁRIO 
 
1. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. 
 
 
1. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS: 
 
 
 DIREITOS FUNDAMENTAIS EM ESPÉCIE: 
 
 
DIREITO À INTIMIDADE E À VIDA PRIVADA (art. 5º, X da CRFB/88): 
 
Vida privada se refere a relações pessoais mais amplas, como relações profissionais, de amizade etc. 
 
Intimidade se refere às relações pessoais mais íntimas, por exemplo, as relações familiares, amorosas etc. 
 
A violação da intimidade e da vida privada terá consequências civis e poderá ter consequências penais (somente 
as violações mais graves configuram infração penal – princípio da fragmentariedade: os bens jurídicos são 
penalmente tutelados de forma fragmentada / fracionada). 
 
Decorre do art. 5º, X da CRFB/88 o sigilo bancário e fiscal (implicitamente). É possível a decretação da quebra do 
sigilo bancário e fiscal – podem decretá-la o Juiz, a CPI Federal e Estadual (art. 58, §3º da CRFB/88) – CPI 
Municipal não pode decretar a quebra do sigilo bancário e fiscal. 
 
 
INVIOLABILIDADE DOMICILIAR (art. 5º, XI da CRFB/88): 
 
Trata-se de um aspecto da intimidade – decorre desta. 
 
“A casa é asilo inviolável do indivíduo” – O que abrange o termo “casa”? Segundo jurisprudência do STF, a casa é 
a residência, local de trabalho reservado, quarto de hotel ou motel ocupado e até trailer se usado nesse sentido. 
 
A própria CRFB/88 prevê as exceções à inviolabilidade – são elas: 
 
1) Consentimento do morador – dia e noite (havendo dissentimento de um dos moradores a autoridade não 
poderá ingressar na casa). 
 
2) Flagrante delito – dia e noite (no crime permanente, a autoridade policial poderá ingressar na casa sem 
mandado, desde que haja indícios prévios da flagrância). 
 
3) Para prestar socorro / em caso de desastre – dia e noite. 
 
 
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4) Mandado judicial – dia (apenas juiz expede tal mandado [reserva de jurisdição] – CPI, Delegado, MP não 
podem). A expressão “dia” compreende o período entre 06h00 e 18h00 (horário para iniciar a medida – o término 
pode ultrapassar). 
 
 
INVIOLABILIDADE DAS COMUNICAÇÕES (Art. 5º, XII da CRFB/88). 
 
Trata-se de aspecto da intimidade / vida privada. 
 
Não é um direito absoluto, vez que, por exemplo, a correspondência dos presos é aberta. 
 
A CRFB/88 traz 04 espécies de comunicação: -Correspondência; 
 -Comunicação telegráfica; 
 -Comunicação de dados (sms, e-mail, fax); 
 -Comunicação telefônica. 
 
É possível a interceptação telefônica e de dados, por ordem judicial (reserva de jurisdição), durante o processo 
penal ou investigação criminal, na forma da lei (L 9.296/96). 
 
 
LIBERDADE DE ESCOLHA DA PROFISSÃO (Art. 5º, XIII da CRFB/88). 
 
Tal direito está presente desde a constituição de 1824 (Dom Pedro). 
 
“é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei 
estabelecer”. 
 
Restrição legal – L 8.906/94 (Estatuto da OAB). 
 
A lei infraconstitucional não pode restringir excessivamente esse direito, bem como deve ser razoável e 
proporcional (por exemplo, lei que iria regulamentar a profissão de designer foi vetado pela Presidente da 
República). 
 
 
DIREITO À INFORMAÇÃO E SIGILO DE FONTE (Art. 5º, XIV da CRFB/88). 
 
“é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício 
profissional”. 
 
O direito à informação é corolário (consequência) do Estado Democrático de Direito e da República. 
 
Com base em tal direito, é direito do povo saber a remuneração dos servidores (STF). 
 
Não é um direito absoluto. Nos termos da lei, algumas informações podem ser declaradas reservadas, secretas ou 
ultrassecretas (L 12.527/11). 
 
 
 
 
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Sigilo de fonte: 
 
É constitucional desde a CRFB/88. 
 
O jornalista não é obrigado a revelar as suas fontes. 
 
Tal sigilo poderá ser quebrado – nenhum direito é absoluto. Não obstante, até hoje o STF nunca relativizou o 
sigilo de fonte. 
 
 
LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO (Art. 5º, XV da CRFB/88). 
 
Liberdade de locomoção / Direito de ir, vir e ficar / Liberdade ambulatória. 
 
Trata-se de um dos direitos mais antigos (encontrado na antiguidade, idade média, magna carta etc). 
 
Não é um direito absoluto. 
 
“...em tempos de paz...” – Durante o estado de sítio, o Presidente pode determinar que todos permaneçam em 
determinados lugares (139 da CRFB/88). 
 
Habeas Corpus (art. 5º, LXVIII da CRFB/88): 
 
Remédio constitucional utilizado contra ofensa à liberdade de locomoção. 
 
Segundo o STF, só cabe em favor da pessoa humana. 
 
 
DIREITO DE REUNIÃO (Art. 5º, XVI da CRFB/88). 
 
Pessoas podem se reunir em lugares abertos ao público. 
 
Requisitos constitucionais do direito de reunião: -Fins pacíficos; 
 -Sem armas; 
-Não pode frustrar outra reunião marcada para o mesmo 
local; 
 -Não é necessária autorização estatal prévia; 
 -É necessário comunicar previamente a autoridade local. 
 
Tal direito tem sofrido restrições infraconstitucionais. 
 
a) Leis estaduais (SP, RJ, MG) vedam o uso de máscaras em manifestações. 
 
b) Medida Provisória alterou o CTB, vedando as manifestações com veículos que atrapalham o trânsito (MP 
699/2015). 
 
 
 
 
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ARTIGO 5º, INCISO XVII E SEGUINTES DA CRFB/88 – DIREITO DE ASSOCIAÇÃO: 
 
Associação x Reunião – A reunião é efêmera; já a associação tem longa duração. 
 
 
Associação: 
 
A CRFB/88 assegura a liberdade de associação (profissional, religiosa, esportiva, estudantil). 
 
Tal associação deve ter fins lícitos. 
 
A CRFB/88 veda a associação de caráter paramilitar (Ex: Farc - Colômbia). 
 
O Estado não interferirá na criação e no funcionamento da associação. Exceções: 
 
O ESTADO PODE 
Suspender associação Extinguir associação 
Necessária decisão judicial Necessária decisão judicial transitada em 
julgado 
 
Ninguém é obrigado a se associar ou a se manter associado. 
 
A associação pode representar seus associados judicial e extrajudicialmente. 
 
 
DIREITO DE PROPRIEDADE (Art. 5º, XXII a XXV da CRFB/88): 
 
Não é um direito absoluto – A CRFB/88 exige que a propriedade cumpra sua função social. 
 
Função social da propriedade: 
 
A CRFB/88 distingue a função social da propriedade urbana e da propriedade rural. 
 
Função social da propriedade urbana (art. 182 da CRFB/88): Trata-se do respeito ao plano diretor (é uma lei 
municipal obrigatória nos municípios com mais de 20 mil habitantes, e que regula a ocupação do solo urbano). 
 
Função social da propriedade rural (art. 186 da CRFB/88): Trata-se do uso adequado do solo + respeito ao meio 
ambiente + respeito ao direito dos trabalhadores rurais. 
 
PROPRIEDADE PRIVADA 
Desapropriação (art. 5º, XXIV) Requisição (art. 5º, XXV) 
É definitiva É temporária 
Cabe em caso de necessidade, utilidade pública e 
interesse social. 
Cabe em caso de iminente perigo público. 
Em regra, deve haver indenização prévia e justa em 
dinheiro. 
Haverá indenização se houver dano 
Exceções: 
-Desapropriação para fins de reforma agrária (art. 
 
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186 da CRFB/88) – indenização em títulos da dívida 
agrária; 
-Art. 243 da CRFB/88 – Terras destinadas ao cultivo 
de plantas psicotrópicas ou com trabalho escravo 
serão expropriadas sem indenização. 
 
 
DIREITO DE NACIONALIDADE (Art. 12 da CRFB/88). 
 
Nacionalidade é o vínculo jurídico e político de uma pessoa com um Estado. 
 
É um direito fundamental, previsto no art. 12 da CRFB/88 e em tratados internacionais sobre direitos humanos. 
 
Existem pessoas sem nacionalidade(apátridas / heimatlos). 
 
 
Espécies de nacionalidade: 
 
Há duas espécies de nacionalidade: 
 
 
 Nacionalidade Originária ou Primária: 
 
É aquela adquirida pelo nascimento. 
 
Há dois critérios que podem ser utilizados de forma pura ou de forma combinada quanto à aquisição da 
nacionalidade originária: -“Jus solis” – territorial (América - imigração). 
 -“Jus sanguinis” – ascendência (Europa - emigração). 
 
São brasileiros natos (Art. 12, I da CRFB/88 – Rol Taxativo): 
 
I) Nascido em território brasileiro (critério “jus solis” – como regra), salvo se de pais estrangeiros, a serviço de seu 
país. 
 
II) Nascido no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que esteja a serviço do Brasil (critério “jus 
sanguinis” + critério funcional [Ex: missão diplomática ou serviço do Estado brasileiro]). 
 
III) EC 54/2007 – Nascido no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe estrangeira, desde que seja registrado em 
repartição brasileira competente – consulado ou embaixada (critério “jus sanguinis” + registro). 
 
Por expressa previsão constitucional, a EC 54/2007 retroage aos nascidos entre 1993 e 2007. 
 
IV) Nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que venham a residir no Brasil e optem pela 
nacionalidade brasileira, depois de atingida a maioridade – trata-se de ato personalíssimo (critério “jus sanguinis” 
+ residência no Brasil + opção pela nacionalidade brasileira [ocorre na justiça federal – art. 109, X da CRFB/88]). 
 
 
 
 
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 Nacionalidade Secundária ou Adquirida: 
 
É aquela adquirida por um ato posterior de vontade, qual seja, a naturalização. 
 
Naturalização Tácita / Grande Naturalização (Constituição de 1891): Todos que estão no Brasil são brasileiros, 
salvo se houver manifestação em sentido contrário (não vigora mais). 
 
São as hipóteses de naturalização (Art. 12, II da CRFB/88): 
 
 
I) Naturalização Ordinária (Art. 12, II, ‘a’ da CRFB/88): 
 
Os seus requisitos estão na lei infraconstitucional (art. 112 da L 6.815/80) – são os principais: 
-Residência no Brasil por 04 anos; 
-Saber ler e escrever português; 
-Ter boa saúde; 
-Ter condições de se manter e outros. 
 
Aos estrangeiros oriundos dos países de língua portuguesa1 bastarão: 
-Residência no Brasil por 01 ano ininterrupto; E 
-Idoneidade moral. 
 
 
II) Naturalização Extraordinária / Quinzenária (Art. 12, II, ‘b’ da CRFB/88): 
 
Os estrangeiros de qualquer nacionalidade poderão se naturalizar brasileiros desde que residam no Brasil de 
forma ininterrupta por 15 anos, sem condenação penal e a requeiram. 
 
 
Diferenças entre o brasileiro nato e o naturalizado: 
 
Somente a Constituição Federal pode estabelecer diferenças. 
 
São as diferenças: 
 
a) Cargos privativos de brasileiros natos (art. 12, §3º - rol taxativo): 
 
-Presidente da República; 
-Vice-Presidente da República; 
-Presidente da Câmara; 
-Presidente do Senado; 
-Ministro do STF; 
-Oficial das forças armadas (tenente ou +); 
-Diplomata; 
-Ministro de Estado da Defesa. 
 
1
 Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. 
 
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b) Quanto à extradição: 
 
Extradição é o envio de uma pessoa para outro país, para que lá seja processada ou cumpra pena. 
 
O brasileiro nato nunca poderá ser extraditado do Brasil. 
 
O brasileiro naturalizado poderá ser extraditado em duas situações (art. 5º, LI da CRFB/88): 
-Crime comum anterior à naturalização; 
-Tráfico de drogas a qualquer tempo. 
 
c) Propriedade de empresas jornalísticas (art. 222 da CRFB/88): 
 
Brasileiro nato pode ser proprietário de empresa jornalística. 
 
Brasileiro naturalizado só poderá ser proprietário de empresa jornalística depois de 10 anos de sua naturalização. 
 
d) Art. 89, VII da CRFB/88: 
 
O brasileiro nato possui 06 assentos reservados no Conselho da República. 
 
O Conselho da República é um órgão de consulta do Presidente. 
 
 
Perda da nacionalidade: 
 
Ocorrerá em 02 hipóteses: 
 
1) Ação para cancelamento da naturalização. 
 
Tal hipótese só recai sobre brasileiros naturalizados. 
 
A ação tramitará perante a Justiça Federal (art. 109, X da CRFB/88). 
 
A ação de cancelamento será ajuizada pelo MP. 
 
A ação de cancelamento será cabível quando houver atividade nociva ao interesse nacional (Ex: prática de vários 
crimes). 
 
O momento da perda da nacionalidade é o do trânsito em julgado da sentença que determinou o cancelamento 
(decisão de natureza civil). 
 
*A nacionalidade brasileira somente poderá ser readquirida via ação rescisória – prazo de 02 anos. 
 
2) Aquisição voluntária de outra nacionalidade. 
 
Tal hipótese recai sobre brasileiros natos e naturalizados. 
 
 
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Exceções (dupla / múltipla nacionalidade): 
 
a) Aquisição de outra nacionalidade originária (aquela adquirida com o nascimento). 
 
b) Quando o país estrangeiro exige a naturalização como condição de permanência no país ou para exercer algum 
direito. 
 
 
DIREITOS POLÍTICOS (arts. 14 a 17 da CRFB/88): 
 
Direitos políticos são os direitos destinados a concretizar a soberania popular. 
 
São os direitos políticos mais importantes: 
-Plebiscito; 
-Referendo; 
-Iniciativa popular; 
-Ação popular; 
-Direito de sufrágio (direito de votar e ser votado). 
 
 
Plebiscito e Referendo: 
 
PLEBISCITO REFERENDO 
É forma de consulta popular sobre determinado 
assunto 
É forma de consulta popular sobre determinado 
assunto 
É convocado pelo Congresso Nacional É autorizado pelo Congresso Nacional 
Convoção por decreto-legislativo (art. 49, XV da 
CRFB/88) 
Autorização por decreto-legislativo (art. 49, XV da 
CRFB/88) 
Primeiro consulta o povo, para depois fazer a lei 
ou ato administrativo 
Primeiro faz a lei ou ato administrativo, e depois 
consulta o povo 
 
 
Iniciativa Popular: 
 
É a possibilidade de o Povo fazer projeto de lei. 
 
É possível para: 
 
Lei Federal (Art. 61, §2º da CRFB/88) - São os requisitos cumulativos: 
-Deve ter assinatura de 1% do eleitorado nacional; 
-Em pelo menos 05 Estados; 
-Pelo menos 0,3% dos eleitores desses Estados. 
 
Lei Estadual: Requisitos a cargo da Constituição de cada Estado. 
 
Lei Municipal (art. 28, XIII da CRFB/88): Pelo menos 05% do eleitorado municipal. 
 
 
 
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Ação Popular (art. 5º, LXXIII da CRFB/88): 
 
Somente o “cidadão” pode ajuizar a ação popular, ou seja, somente a pessoa no gozo de seus direitos políticos 
(basta o direito de votar – pode votar a partir de 16 anos e, portanto, com tal idade poderá ajuizar ação popular). 
 
 
Não podem ajuizar ação popular: -O menor de 16 anos 
 -Estrangeiro; 
 -Pessoa jurídica; 
 -Pessoa que perdeu ou teve suspensos seus direitos políticos 
 
 
A ação popular serve para evitar ou reparar lesão a: 
 
a) Patrimônio público; 
b) Meio ambiente; 
c) Patrimônio histórico e cultural; 
d) Moralidade administrativa. 
 
 
Direito de sufrágio (art. 14 da CRFB/88): 
 
Tal direito corresponde ao direito de votar e de ser votado. 
 
Direito de votar = alistabilidade ou capacidade eleitoral ativa. 
 
Direito de ser votado = elegibilidade ou capacidade eleitora passiva.

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