Buscar

Unidade VI - Concurso de Crimes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Direito Penal II
Professor Rafael De Luca
Unidade VI – Concurso de Crimes
1. CONCEITO 
Concurso de crimes é a expressão utilizada para designar as hipóteses em que o agente, mediante uma, duas ou mais condutas, comete duas ou mais infrações penais. 
Quando se fala em concurso de crimes, significa que o agente efetivamente cometeu e, por isso, responderá pelas diversas infrações, não se confundindo com as situações relacionadas ao princípio da consunção em que, embora as condutas se amoldem em mais de um tipo penal, o agente só responde por um delito, ficando os demais absorvidos, quer por se tratar de crime-meio, quer por ser considerado post factum impunível. 
Aplica-se, por exemplo, o princípio da consunção quando o agente falsifica um cheque para cometer estelionato, ficando a falsificação do documento absorvida pelo crime contra o patrimônio por se tratar de crime-meio (Súmula n. 17 do Superior Tribunal de Justiça), ou quando o agente, após furtar um quadro, nele ateia fogo, ficando o delito de dano absorvido por se tratar de post factum impunível. 
Em suma, para que se possa cogitar de concurso de crimes, é preciso que não se mostrem presentes os requisitos para a aplicação do princípio da consunção. 
Quando há dois delitos em apuração em uma mesma ação penal, porém, cada um deles sendo atribuído a réu diverso, não se está diante de concurso de crimes. Esta expressão somente é usada para se referir a dois ou mais crimes cometidos pela mesma ou pelas mesmas pessoas, mediante uma ou mais condutas. 
À primeira vista, se o agente cometeu dois ou mais delitos, deveria responder por todos, somando-se as penas. O legislador, contudo, percebendo que ocorreriam inúmeros exageros no montante da reprimenda, estabeleceu regras quanto à sua fixação nos casos de concurso de crimes, visando tornar mais justa a pena final. Suponha-se que o motorista de um ônibus, distraidamente, avance um sinal vermelho e colida com outro ônibus, provocando a morte de 60 pessoas. Caso sobrevivesse e as penas fossem somadas, estaria incurso em uma pena mínima de 160 anos de detenção (art. 302, parágrafo único, IV, do Código de Trânsito Brasileiro) — homicídio culposo na direção de veículo praticado por motorista profissional. Para tal situação, entretanto, o legislador previu o concurso formal de crimes, em que o piloto só recebe uma pena, aumentada de 1/6 até 1/2, de modo que, no exemplo acima, a pena máxima seria de 9 anos. 
2. ESPÉCIES 
As modalidades de concurso de crimes previstas no Código Penal são: 
a) concurso material (art. 69); 
b) concurso formal (art. 70); 
c) crime continuado (art. 71). 
3. CONCURSO MATERIAL 
Dá-se o concurso material, nos termos do art. 69 do Código Penal, quando o agente, mediante duas ou mais ações ou omissões, comete dois ou mais crimes, idênticos ou não. Nesses casos, as penas são somadas. 
O concurso material é também chamado de concurso real ou cúmulo material. 
Só se pode cogitar de soma de penas na sentença se ambos os delitos estiverem sendo apurados na mesma ação penal. Para tanto, é necessária a existência de alguma forma de conexão entre eles, pois só assim se justifica a apuração no mesmo feito. É o que acontece, por exemplo, se o agente mata o marido para estuprar a esposa, quando se mostra presente a conexão teleológica. Em tal caso, os crimes são apurados em conjunto e o juiz, ao sentenciar o acusado, deve somar as penas dos crimes de homicídio qualificado e de estupro. Por sua vez, se os delitos não são conexos, cada qual deve ser apurado em um processo distinto e receber pena isoladamente (uma sentença para cada crime). A soma só acontecerá posteriormente, no juízo das execuções criminais. Ex.: um criminoso que pratica crimes de estupro e homicídio contra vítimas diversas e em locais distintos, não havendo qualquer ligação entre os delitos. 
Importante salientar que, também no crime continuado, o sujeito comete dois ou mais crimes por meio de duas ou mais ações. Neste, entretanto, o juiz aplica uma só pena, aumentada de 1/6 a 2/3, porque os crimes são da mesma espécie e cometidos nas mesmas circunstâncias de tempo, local e modo de execução. Assim, a regra do concurso material só pode ser aplicada quando faltar algum dos requisitos do crime continuado. 
3.1. Espécies 
O concurso material pode ser: 
a) homogêneo: quando os crimes cometidos forem idênticos (dois roubos, dois estupros etc.). Para o reconhecimento desta modalidade de concurso material, em que as infrações penais são da mesma espécie, é preciso que sejam diversas as circunstâncias de tempo, local ou modo de execução, pois, caso contrário, a hipótese seria de crime continuado. Haverá, portanto, concurso material, se os dois roubos foram cometidos em datas distantes um do outro, ou em cidades diferentes, ou, ainda, se foram cometidos por modos de execução distintos; 
b) heterogêneo: quando os crimes praticados não forem idênticos (um furto e um estelionato; um estupro e um aborto etc.). Nestes casos, em que os delitos não são da mesma espécie, é fácil a distinção em relação ao crime continuado. 
3.2. A soma das penas 
A soma das penas propriamente dita só é possível quando os crimes cometidos forem apenados com a mesma espécie de sanção. Assim, se o réu for condenado por furto e estelionato (ambos apenados com reclusão) a 1 ano por cada um dos crimes, a pena final será de 2 anos de reclusão. O mesmo raciocínio se aplica se os delitos forem todos apenados com detenção. Se, entretanto, as penas privativas de liberdade previstas forem distintas, não haverá soma (no sentido aritmético). Em tais casos, estabelece a parte final do art. 69 que o juiz fixará as duas penas, sem somá-las, e o réu cumprirá primeiro a pena de reclusão e depois a de detenção. 
3.3. Concurso material e penas restritivas de direitos 
Estabelece o art. 69, § 1º, do Código Penal (já revogado tacitamente), que, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição por pena restritiva de direitos. A finalidade deste dispositivo era afirmar que, no caso de concurso material, se o condenado tivesse de cumprir pena privativa de liberdade por um dos delitos, em relação ao outro não caberia pena restritiva de direitos. Acontece que a Lei n. 9.714/98 alterou o capítulo das penas, criando algumas novas modalidades de penas restritivas de direitos, que podem ser cumpridas concomitantemente com a pena de prisão. Por isso, o art. 44, § 5º, do Código Penal estabelece que, quando o condenado já estiver cumprindo pena restritiva e sobrevier condenação a pena privativa de liberdade por outro crime, o juiz da execução deverá decidir a respeito da revogação da pena restritiva, podendo deixar de decretá-la, se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. Assim, atualmente é possível, ao contrário do que diz o art. 69, § 1º (que sofreu revogação tácita), que o juiz, em casos de concurso material, aplique para um dos delitos pena privativa de liberdade — a ser cumprida efetivamente em prisão — e, em relação ao outro, realize a substituição por pena restritiva de direitos compatível com o cumprimento da pena privativa de liberdade. Ex.: o juiz pode condenar o réu a 12 anos de reclusão, em regime inicial fechado, por um crime de homicídio, e, no que diz respeito ao crime de estelionato apurado nos mesmos autos, aplicar a pena restritiva consistente na perda de bens. 
Por sua vez, dispõe o art. 69, § 2º, do Código Penal que, quando forem aplicadas na sentença duas ou mais penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais. 
Após o advento da Lei n. 9.714/98, as penas restritivas de direitos nos crimes dolosos passaram a ser admitidas em condenações de até 4 anos, desde que não haja emprego de violência contra pessoa ou grave ameaça. Além disso, de acordo com a atual redação do art. 44, § 2º, do Código Penal, dada por aquela lei, na condenação superiora 1 ano (e inferior a 4), o juiz pode substituir a pena por uma restritiva e outra de multa, ou por duas restritivas de direitos. Suponha-se, então, que o réu seja condenado a 2 anos por um furto qualificado e mais 1 ano e 6 meses por uma apropriação indébita. A substituição por penas restritivas é cabível porque as penas somadas não superam 4 anos (se superassem, o juiz deveria fixar pena privativa de liberdade em regime inicial semiaberto). Discute-se, na prática, se o juiz somará as penas e ao final as substituirá por duas penas restritivas (ou por uma restritiva e outra de multa), ou se fará duas substituições (a primeira em relação ao furto e a segunda em relação à apropriação indébita), podendo aplicar, nesta hipótese, quatro penas restritivas ou duas restritivas e mais duas multas. Essa questão não seria relevante se todas as penas restritivas substituíssem as privativas de liberdade pelo mesmo tempo, pois seria irrelevante cumprir 3 anos e 6 meses de prestação de serviços à comunidade pela soma das penas, ou cumprir 2 anos pelo furto qualificado e depois mais 1 ano e 6 meses pela apropriação indébita (lembre-se de que o prazo prescricional é sempre individual em relação a cada crime, mas não corre durante o cumprimento da pena). Contudo, se adotada a última corrente, o juiz poderia fixar, por exemplo, penas de prestação de serviços à comunidade (uma pelo furto e outra pela apropriação) e mais duas prestações pecuniárias (uma para cada crime), hipótese em que o réu teria uma sanção a mais a cumprir (uma prestação pecuniária a mais). Parece-nos que esta é a orientação correta, pois é o que ocorreria se o sujeito sofresse duas condenações em processos distintos, não havendo razão para ser beneficiado pelo mero fato de os crimes, cometidos em concurso material, serem apurados nos mesmos autos. 
3.4. A soma das penas prevista em dispositivos da Parte Especial do Código Penal 
Em diversos crimes previstos no Código Penal, o legislador mencionou expressamente que a violência utilizada pelo agente como meio de execução não fica por ele absorvida, constituindo, assim, exceção ao princípio da consunção. Ademais, em tais casos, o legislador adotou redação que leva à conclusão de que as penas serão somadas, ainda que tenha havido uma única ação criminosa. Vejamos os seguintes exemplos: a) no crime de injúria real (ofensa à honra por meio de agressão), a pena é de detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa, além da pena correspondente à violência (art. 140, § 2º); b) no crime de constrangimento ilegal, o art. 146, § 2º, prevê que, além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência; c) no crime de resistência, o art. 329, § 2º, estabelece que as penas deste artigo são aplicadas sem prejuízo das correspondentes à violência. Note-se que a redação dos dispositivos dá a clara noção de que as penas devem ser somadas, pois dizem que uma pena será aplicada além da outra ou sem prejuízo da outra. Por isso, se alguém agride um policial para não ser preso e acaba lesionando-o, serão somadas as penas dos crimes de resistência e de lesão corporal, embora a agressão tenha sido única. 
Regras idênticas são encontradas, dentre outros crimes, nos de dano qualificado pelo emprego de violência (art. 163, parágrafo único, II), atentado contra a liberdade de trabalho (art. 197), coação no curso do processo (art. 344), exercício arbitrário das próprias razões (art. 345), evasão mediante violência contra pessoa (art. 352), arrebatamento de preso (art. 353), motim de presos (art. 354) etc. 
4. CONCURSO FORMAL 
Ocorre o concurso formal, nos termos do art. 70, caput, do Código Penal, quando o agente, mediante uma única ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não. É também chamado de concurso ideal. 
Se os delitos forem idênticos, o dispositivo determina que o juiz aplique uma só pena, aumentada de 1/6 até 1/2 (sistema da exasperação da pena). É o chamado concurso formal homogêneo. Ex.: agindo com imprudência, o agente provoca um acidente no qual morrem duas pessoas. Nesse caso, o juiz aplica a pena de um homicídio culposo, no patamar de 1 ano (supondo-se que tenha optado pela pena mínima) e, na sequência, aumenta-a de 1/6, chegando ao montante final de 1 ano e 2 meses de detenção.
Se os delitos, todavia, não forem idênticos, temos o concurso formal heterogêneo, em que a lei determina que seja aplicada a pena do crime mais grave, aumentada também de 1/6 até 1/2. É o que ocorre, por exemplo, quando alguém, agindo com imprudência, provoca a morte de uma pessoa e lesões corporais na outra. Note-se que, aplicando-se a pena do crime mais grave (homicídio culposo), aumentada de 1/6, chegaremos à mesma pena do caso anterior (1 ano e 2 meses), muito embora, na situação anterior, tivessem sido praticados dois homicídios culposos. 
4.1. Concurso material benéfico no concurso formal heterogêneo 
Na hipótese de concurso formal heterogêneo, é possível que ocorra uma distorção na aplicação da pena. Com efeito, imagine-se um crime de estupro de vulnerável (art. 217-A) em concurso formal com o de perigo de contágio de moléstia venérea (art. 130, caput), ou seja, um sujeito acometido de sífilis que estupra uma jovem de 12 anos de idade. Suponha-se, então, que o juiz fixe a pena mínima para os dois delitos. No estupro, o mínimo é de 8 anos, e, no crime de perigo, é de 3 meses. Se as penas fossem somadas, atingiríamos o total de 8 anos e 3 meses, mas, se aplicássemos a regra do concurso formal, chegaríamos a uma pena de 9 anos e 4 meses (8 anos mais 1/6). Nesse caso, a regra do concurso formal, criada para beneficiar o acusado e evitar penas desproporcionais, estaria a prejudicá-lo. Atento a esse detalhe, o art. 70 do Código Penal, em seu parágrafo único, estabeleceu que a pena resultante da aplicação do concurso formal não pode ser superior àquela cabível no caso de soma das penas. Por isso, sempre que o montante da pena decorrente da aplicação do aumento de 1/6 até 1/2 (referente ao concurso formal) resultar em quantum superior à soma das penas, deverá ser desconsiderado tal índice e aplicada a pena resultante da soma. A essa hipótese, dá-se o nome de concurso material benéfico. 
4.2. Critério para a exasperação da pena 
A jurisprudência pacificou entendimento no sentido de que é o número de crimes praticados o critério que deve ser levado em conta pelo juiz para aplicar o índice de exasperação da pena. Assim, quando o sujeito, mediante uma única imprudência, provoca a morte de duas pessoas, deve ser aplicado o aumento mínimo de 1/6, porém, se o número de vítimas for maior, o índice, igualmente, deve ser maior. Quando o número de vítimas for exorbitante, é evidente que o índice aplicado deve ser o máximo previsto em lei (1/2). Nesse sentido: “Crimes de roubo. Concurso formal. Critérios de fixação da pena. Número de crimes. CP, art. 70. I. — Não se justifica o aumento da pena em um terço, em razão do concurso formal, se foram praticados apenas 2 (dois) crimes de roubo. Redução do acréscimo para o mínimo de um sexto” (STF, HC 77.210/SP, 2ª Turma, Rel. Carlos Velloso, DJ 07.05.1999, p. 2). 
Há décadas, nossos tribunais fixaram os seguintes critérios para servir de parâmetro na aplicação da pena no concurso formal:
	Número de crimes
	Índice de aumento
	2
	1/6
	3
	1/5
	4
	¼
	5
	1/3 
	6 ou mais
	½ 
4.3. Concurso formal perfeito e imperfeito 
O instituto do concurso formal, com aplicação de uma só pena exasperada, poderia servir de estímulo a marginais inescrupulosos, que, visando benefícios na aplicação da pena, poderiam se utilizar de subterfúgios na execução do delito. Assim, se um desses bandidos quisesse cometer três homicídios poderia colocar fogo na casa onde estivessem as três vítimas ou prendê-las dentro de um carro e jogá-lo de um precipício. Teria, com isso, cometido três homicídios com uma só ação e poderia receber uma só pena com exasperação. Atento a essa possibilidade, o legislador criou, na 2ª parte do art. 70, caput, do Código Penal, o concurso formal imperfeito(ou impróprio), no qual as penas são somadas, como no concurso material, sempre que o agente, com uma só ação ou omissão dolosa, praticar dois ou mais crimes, cujos resultados ele efetivamente visava (autonomia de desígnios quanto aos resultados). No exemplo acima, portanto, o criminoso teria somadas as penas dos três homicídios cometidos com a ação única, já que os delitos são dolosos e o agente efetivamente queria matar as três vítimas. Assim, pode-se dizer que o concurso formal traz duas hipóteses de aplicação de pena: 
a) concurso formal próprio (ou perfeito), no qual o agente não tem autonomia de desígnios em relação aos resultados e cuja consequência é a aplicação de uma só pena aumentada de 1/6 até 1/2; 
b) concurso formal impróprio (ou imperfeito), no qual o agente atua com dolo direto em relação aos dois crimes, querendo provocar ambos os resultados, hipótese em que as penas são somadas. 
Saliente-se que o concurso formal perfeito não é instituto exclusivo dos crimes culposos. Ao contrário, é o concurso formal imperfeito que pressupõe a existência de dolo direto, ou seja, a intenção específica de cometer ambos os delitos. Por exclusão, portanto, aplica-se a regra do concurso formal perfeito, em todas as outras hipóteses em que, com uma só ação ou omissão, o agente tenha cometido dois ou mais crimes. Existe, pois, concurso formal próprio: a) se os dois (ou mais) delitos forem culposos; b) se um crime for culposo, e o outro, doloso (como nas hipóteses de aberratio ictus e aberratio criminis com duplo resultado); c) se ambos os delitos forem fruto de dolo eventual; d) se um dos crimes for resultado de dolo direto, e o outro, decorrente de dolo eventual. 
4.4. Aberratio ictus com duplo resultado 
A aberratio ictus, ou erro de execução, existe quando o agente, querendo atingir determinada pessoa, efetua o golpe, mas, por má pontaria ou outro motivo qualquer, acaba atingindo pessoa diversa da que pretendia, hipótese em que o art. 73 do Código Penal prevê que o agente responde como se tivesse atingido a pessoa visada. Pode acontecer, todavia, de o sujeito atingir quem pretendia e, por erro de execução, atingir também outra pessoa. Nesse caso, o agente responde por crime doloso em relação a quem pretendia matar e por delito culposo em relação ao outro. Em tal caso, a parte final do art. 73 diz que se aplica a regra do concurso formal. Como o agente queria apenas um dos resultados, aplica-se a regra da exasperação da pena (concurso formal perfeito). 
4.5. Aberratio criminis com duplo resultado 
Nesta modalidade, o sujeito quer cometer um crime e, por erro, comete outro. O exemplo sempre lembrado é o do agente que atira uma pedra querendo cometer crime de dano, mas, por erro, acerta uma pessoa que passava pelo local, causando-lhe lesões. Neste caso, o art. 74 do Código Penal estipula que o agente só responde pela lesão culposa, que absorve a tentativa de dano. Caso, porém, o agente atinja o bem que pretendia e, por erro, atinja também o outro, responde pelos dois crimes em concurso formal, conforme prevê a parte final do art. 74 do Código Penal. No exemplo acima, o agente responderia por crime de lesão culposa em concurso formal perfeito com o crime de dano. 
5. CRIME CONTINUADO
O conceito de crime continuado encontra-se no art. 71, caput, do Código Penal. De acordo com tal dispositivo, “quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro”. 
A finalidade do instituto é a de evitar a aplicação de penas exorbitantes, pois a consequência do reconhecimento da continuidade delitiva é a aplicação de uma só pena, aumentada de 1/6 a 2/3 (sistema da exasperação). Assim, quando um criminoso resolve, por exemplo, furtar estepes de veículos estacionados na rua e, em uma semana, consegue furtar 100 estepes de carros diferentes, ele, em tese, teria que receber uma pena mínima de 100 anos de reclusão, pois cometeu 100 crimes de furto simples que têm pena mínima de 1 ano cada. Ao se reconhecer o instituto do crime continuado em tal caso, a consequência será a aplicação de uma só pena aumentada de 1/6 a 2/3. Por isso, se aplicada a pena mínima ao furto (1 ano), aumentada no patamar máximo de 2/3, a pena final será de 1 ano e 8 meses. A diferença na pena, portanto, é enorme. 
5.1. Aplicação da pena 
No crime continuado, os delitos devem ser necessariamente da mesma espécie. Não há dúvida de que crimes cometidos em sua modalidade simples e também na qualificada, quando atingem exatamente os mesmos bens jurídicos, são tidos como da mesma espécie. É o que ocorre entre os crimes de furto simples e qualificado (o único bem jurídico atingido é o patrimônio). Por isso, o próprio art. 71, caput, do Código Penal, realça que, nas hipóteses de continuação criminosa, aplica-se a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de 1/6 a 2/3. 
Tal como ocorre no crime continuado, o juiz, na escolha do quantum de exasperação, deve levar em conta o número de infrações perpetradas. Quanto maior o número de delitos componentes da continuação, maior deverá ser o índice de aumento. Há muito tempo, nossos tribunais fixaram os seguintes critérios para servir de parâmetro na aplicação da pena no crime continuado:
	Número de crimes
	Índice de aumento
	2
	1/6
	3
	1/5
	4
	¼
	5
	1/3
	6
	½
	7 ou mais
	2/3 
5.2. Natureza jurídica 
Existem três teorias a respeito: 
a) Teoria da unidade real. Essa teoria, concebida por Bernardino Alimena, entende que as hipóteses de crime continuado constituem, em verdade, crime único. 
b) Teoria da ficção jurídica. O crime continuado é constituído por uma pluralidade de crimes, mas, por ficção legal, é tratado como delito único no momento da aplicação da pena. Trata-se de teoria desenvolvida por Francesco Carrara e nitidamente adotada pelo Código Penal Brasileiro que, ao definir crime continuado, menciona que o sujeito “pratica dois ou mais crimes”, mas devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro apenas para a fixação da pena. Tanto é verdadeira esta conclusão que o art. 119 do Código Penal prevê que, no caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um isoladamente. 
c) Teoria mista. Para esta teoria, o crime continuado não constitui crime único nem concurso de crimes, e sim outra categoria (autônoma). 
5.3. Requisitos 
O art. 71 do Código Penal expressamente exige os seguintes requisitos para o reconhecimento do crime continuado: 
a) Pluralidade de condutas. Tal como ocorre no concurso material, o crime continuado demanda a realização de duas ou mais ações ou omissões criminosas, opondo-se, portanto, ao instituto do concurso formal que exige conduta única. 
b) Que os crimes cometidos sejam da mesma espécie. São aqueles previstos no mesmo tipo penal, simples ou qualificados, tentados ou consumados. Desse modo, pode haver crime continuado entre furto simples e furto qualificado, mas não entre furto e apropriação indébita, entre furto e roubo ou entre roubo e extorsão etc. Nesse sentido: “o Plenário desta Corte, ao julgar em 12.4.84, os Embargos de Divergência n. 96.701, firmou o entendimento de que roubo e extorsão não são crimes da mesma espécie, não se admitindo, portanto, nexo de continuidade entre eles, mas sim concurso material” (STF, RE 104.063-7/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Moreira Alves, DJU 17.05.1985, p. 7.356); e “continuidade delitiva. Furto e roubo. Inocorrência. Reconhecendo que o furto e o roubo não são crimes da mesma espécie, embora de igual natureza, descabe admitir-se a continuidade delitiva” (STJ, REsp 4.733/PR, 6ª Turma, Rel. Min. Willian Patterson, DJU 22.10.1990, p. 11.675). 
É de se ressalvar, outrossim, que existe corrente que dá outra interpretação ao conceito de “crimes da mesma espécie”, argumentando que devem ser assim entendidos aqueles cometidosmediante os mesmos modos de execução e que atinjam o mesmo bem jurídico. Para essa corrente, é admissível o reconhecimento da continuidade delitiva entre o roubo e a extorsão, já que ambos são cometidos mediante violência ou grave ameaça e atingem o mesmo bem jurídico (patrimônio), e entre furto mediante fraude e estelionato. Saliente-se, porém, que a interpretação amplamente dominante em termos doutrinários e jurisprudenciais é aquela mencionada anteriormente, que interpreta que são da mesma espécie apenas aquelas condutas que integram o mesmo tipo penal — simples ou qualificados, consumados ou tentados. 
Observação: Antes do advento da Lei n. 12.015/2009, que unificou os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, o entendimento era de que, entre tais delitos, deveria ser aplicada a regra do concurso material por não serem da mesma espécie. Atualmente, entretanto, todo ato sexual violento constitui estupro, de modo que é possível a continuidade delitiva. 
c) Que os crimes tenham sido cometidos pelo mesmo modo de execução (conexão modal). Por esse requisito, não se pode aplicar a regra do crime continuado entre dois roubos quando, por exemplo, um deles tiver sido cometido mediante violência e o outro, mediante grave ameaça. 
d) Que os crimes tenham sido cometidos nas mesmas condições de tempo (conexão temporal). A jurisprudência vem admitindo o reconhecimento do crime continuado quando entre as infrações penais não houver decorrido período superior a 30 dias. A propósito: “quanto ao fator tempo previsto no art. 71 do Código Penal, a jurisprudência sedimentada no Supremo Tribunal Federal é no sentido de observar o limite de trinta dias que, uma vez extrapolado, afasta a possibilidade de se ter o segundo crime como continuação do primeiro” (STF, HC 69.896-4, Rel. Min. Marco Aurélio, DJU 02.04.1993, p. 5.620); e “não ocorre a continuidade delitiva se o intervalo entre um crime e outro é superior a trinta dias. Precedentes. HC 69.896, HC 62.451, HC 69.305” (STF, HC 70.174-4, Rel. Min. Carlos Velloso, DJU 06.08.1993, p. 14.904). É claro, entretanto, que não basta a ocorrência de fatos criminosos sem o interregno de 30 dias entre um e outro. Se ficar constatado tratar-se de criminoso profissional ou habitual, que comete crimes quase que diariamente como meio de vida, não tem direito ao benefício. Nesse sentido, vejam-se alguns julgados do Supremo Tribunal Federal no tópico seguinte — unidade de desígnios como requisito do crime continuado. 
e) Que os crimes tenham sido cometidos nas mesmas condições de local (conexão espacial). Admite-se a continuidade delitiva quando os crimes forem praticados no mesmo local, em locais próximos ou, ainda, em bairros distintos da mesma cidade e até em cidades contíguas (vizinhas). 
■ Unidade de desígnios como requisito do crime continuado 
Existe séria divergência em torno de a unidade de desígnios por parte do criminoso ser requisito do crime continuado. As teorias sobre o tema são as seguintes: 
a) teoria objetiva pura: o crime continuado exige somente os requisitos de ordem objetiva elencados no art. 71 do Código Penal — que os crimes sejam da mesma espécie e cometidos nas mesmas circunstâncias de tempo, local e modo de execução. A lei não exige qualquer requisito de ordem subjetiva, dispensando a verificação quanto à finalidade do agente ao reiterar a ação delituosa; 
b) teoria objetivo-subjetiva: a continuação delitiva pressupõe a coexistência dos requisitos objetivos e subjetivo (unidade de desígnios), ou seja, só pode ser reconhecida quando demonstrada a prévia intenção de cometer vários delitos em continuação. Esta teoria é também chamada de mista. De acordo com ela, existe crime continuado quando, por exemplo, o caixa de um estabelecimento subtrai diariamente certa quantia em dinheiro da empresa, não o configurando, entretanto, a hipótese de assaltante que rouba aleatoriamente casas diversas, sem que haja qualquer vínculo entre os fatos, de forma a demonstrar que se trata de criminoso contumaz, habitual, que não merece as benesses legais. 
O Código Penal, com a reforma da Parte Geral ocorrida em 1984, em decorrência da Lei n. 7.209/84, adotou a teoria puramente objetiva, já que isto consta expressamente do item n. 56 da Exposição de Motivos. Ademais, não há qualquer menção à unidade de desígnios como requisito do instituto no texto legal, não podendo o intérprete da lei exigir requisitos que esta não traz, ainda mais quando se trata de norma benéfica. Esta conclusão é pacífica na doutrina. Na jurisprudência, entretanto, nossos tribunais, principalmente os superiores, têm se mostrado reticentes em aplicar a teoria objetiva pura, exigindo a unidade de desígnios para o reconhecimento do crime continuado, a fim de limitar o benefício, excluindo-o em casos de criminoso habitual ou profissional. Nesse sentido: “Crime continuado. Necessidade de presença dos elementos objetivos e subjetivos. Reiteração habitual. Descaracterização. Ordem denegada. 1. Para a caracterização do crime continuado faz-se necessária a presença tanto dos elementos objetivos quanto dos subjetivos. 2. Constatada a reiteração habitual, em que as condutas criminosas são autônomas e isoladas, deve ser aplicada a regra do concurso material de crimes. 3. A continuidade delitiva, por implicar verdadeiro benefício àqueles delinquentes que, nas mesmas circunstâncias de tempo, modo e lugar de execução, praticam crimes da mesma espécie, deve ser aplicada somente aos acusados que realmente se mostrarem dignos de receber a benesse” (STF, HC 101.049/RS, 2ª Turma, Rel. Min. Ellen Gracie, DJe 21.05.2010, p. 968); e “reiterada jurisprudência desta Corte no sentido de que, para a conceituação da continuidade delitiva, adota-se a teoria mista, que conjuga elementos objetivos com o elemento subjetivo, sendo imprescindível perquirir a existência de unidade de desígnios e objetivos” (STJ, HC 34.290/SP, 5ª Turma, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ 11.10.2004, p. 358). 
■ Distinção entre crime habitual e continuado
No crime habitual, a tipificação pressupõe a reiteração de condutas. A prática de um ato isolado não constitui crime. Ex.: curandeirismo (art. 284 do CP). Na continuação delitiva, cada conduta isoladamente constitui crime, mas, em virtude de estarem presentes os requisitos legais, aplica-se uma só pena seguida de exasperação. 
5.4. Crime continuado qualificado ou específico 
A reforma da Parte Geral decorrente da Lei n. 7.209/84 fez cessar discussão até então existente em torno da possibilidade do reconhecimento da continuação entre crimes violentos contra vítimas diferentes, como em casos de homicídio, roubo, estupro etc. Com efeito, a atual redação do art. 71, parágrafo único, do Código Penal expressamente admite a continuação delitiva ainda que os crimes sejam dolosos, cometidos contra vítimas diferentes e com emprego de violência à pessoa ou grave ameaça. Ocorre que, nesses casos, o juiz poderá até triplicar a pena de um dos crimes (se idênticos) ou do mais grave (se diversas as penas), considerando, para tanto, os antecedentes do acusado, sua conduta social, sua personalidade, bem como os motivos e as circunstâncias dos crimes. É evidente, todavia, que a hipótese de triplicação da pena só existirá se forem cometidos três ou mais crimes, pois, caso contrário, o crime continuado poderia acabar implicando pena maior do que a obtida com a soma delas. Assim, se foram praticados dois crimes, o juiz, no caso concreto, poderá apenas somar as respectivas penas. O instituto do crime continuado qualificado tem sido aplicado, por exemplo, em situações de chacina, em que os assassinos matam várias vítimas, ou de crimes de estupro cometidos seguidamente contra vítimas diversas. A propósito: “ao paciente foi reconhecida a presença de continuidade específica nas tentativas de homicídio duplamente qualificado. O aumento da pena em razão do crime continuado se fundamentou na regra consoante a qual nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderáo juiz aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas até o triplo (CP, art. 71, parágrafo único), levando em consideração as circunstâncias judiciais do art. 59, do Código Penal, especialmente as de índole subjetiva. 8. Houve adequada e expressa fundamentação no acórdão do Tribunal de Justiça a respeito do fator de aumento da pena corporal em razão do crime continuado específico, havendo apenas o limite de a pena fixada pelo crime continuado não ultrapassar a pena do concurso material, o que foi rigorosamente observado no julgamento da apelação” (STF, HC 92.819/RJ, 2ª Turma, Rel. Min. Ellen Gracie, DJe 15.08.2008, p. 841). 
■ Concurso material benéfico 
Nos termos já explicitados no tópico anterior, deve-se ressaltar que o próprio parágrafo único do art. 71 do Código Penal ressalva, também em relação à continuidade delitiva, o cabimento do concurso material benéfico (para que as penas sejam somadas), quando a aplicação do triplo da pena (no crime continuado qualificado) puder resultar em pena superior à eventual soma. É que, de acordo com o dispositivo, o juiz pode triplicar a pena do crime mais grave. Suponha-se, assim, que haja continuidade entre dois homicídios simples e um qualificado pelo motivo torpe. Se o juiz triplicar a pena do crime qualificado, chegará a uma pena mínima de 36 anos. Todavia, se somar as penas dos dois homicídios simples com a do qualificado, a pena mínima será de 24 anos. Dessa forma, em tal situação as penas devem ser somadas como no concurso material. 
5.5. Denominações do crime continuado 
Existem, destarte, duas espécies de crime continuado: a modalidade simples ou comum, prevista no caput do art. 71, em que o juiz aplica o sistema da exasperação da pena ao crime mais grave, e a modalidade qualificada ou específica, em que o juiz pode somar as penas até o triplo da pena prevista, também para o crime mais grave.
5.6. Superveniência de lei nova mais gravosa no interregno entre as condutas que compõem o crime continuado 
Nos termos da Súmula n. 711 do Supremo Tribunal Federal, a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado, se a sua vigência for anterior à cessação da continuidade. Assim, se alguém cometeu três crimes de estelionato em dias diversos e, ao praticar o último dos crimes, já havia uma nova lei tornando mais alta a pena do estelionato, a pena será aplicada com base na nova lei. Não se trata de retroatividade de lei mais grave, mas sim de aplicação da nova lei a fato cometido já na sua vigência. 
5.7. Unificação das penas 
Se na sentença não tiver sido possível aplicar o sistema da exasperação da pena decorrente do concurso formal ou do crime continuado por terem sido instauradas ações penais distintas para cada um dos fatos criminosos, será possível que, no juízo das execuções, seja feita a unificação. Assim, no momento em que o juiz de referida vara verificar a presença dos requisitos do concurso formal ou do crime continuado, decorrentes de condenações lançadas em sentenças diversas (por crimes distintos), deverá, em vez de somar as penas, desprezar uma delas, mantendo apenas a mais grave, e, em seguida, aplicar o índice de exasperação de que tratam os arts. 70 e 71 do Código Penal. 
5.8. Prescrição dos crimes cometidos em continuação ou em concurso formal 
De acordo com o art. 119 do Código Penal, “no caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente”. 
Por sua vez, a Súmula n. 497 do Supremo Tribunal Federal estabelece que, “quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando o aumento decorrente da continuação”. Assim, quando um policial é acusado de receber propinas de diversos motoristas em momentos diversos, incorre em pena de 2 anos por cada um dos crimes de corrupção passiva (art. 317), porém, tendo em vista a continuidade delitiva, o juiz lhe aplica somente uma pena aumentada, por exemplo, em 1/3, totalizando 2 anos e 8 meses. Esta última pena, por ser superior a 2 anos, prescreveria em 8 (art. 109, IV), contudo, de acordo com o art. 119 do Código Penal e da Súmula n. 497, a prescrição deve levar em conta a pena de 2 anos, ocorrendo, assim, em 4 anos (art. 109, V). Em suma, o réu deve cumprir 2 anos e 8 meses de reclusão, mas a prescrição leva em conta a pena de cada um dos delitos (2 anos). 
6. CONCURSO DE CRIMES E SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO
A suspensão condicional do processo é benefício descrito no art. 89 da Lei n. 9.099/95, cuja premissa é a pena em abstrato do delito não superar 1 ano. A lei prevê ainda que o réu deve ser primário e que não pode estar sendo processado por outro crime, devendo, ainda, serem favoráveis as demais circunstâncias judiciais. 
Em relação ao montante da pena mínima, leva-se em conta o crime mais grave com a exasperação mínima do concurso formal ou do crime continuado, que é de 1/6, ou, no caso do concurso material, as penas mínimas devem ser somadas. Por isso, se alguém está sendo acusado por dois crimes de furto simples, em concurso formal ou em continuação delitiva, a pena mínima é de 1 ano e 2 meses (pena de 1 ano pelo furto simples acrescida de 1/6), não cabendo a suspensão condicional do processo. Da mesma maneira, se alguém está sendo processado por três crimes que possuem pena mínima de 6 meses, em concurso material, a conclusão é de que igualmente não cabe o benefício porque o mínimo de pena é de 1 ano e 6 meses. Nesse sentido, foram aprovadas duas súmulas: 
1) Súmula n. 723 do Supremo Tribunal Federal: “não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de 1/6 for superior a 1 ano”. 
2) Súmula n. 243 do Superior Tribunal de Justiça: “o benefício da suspensão condicional do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de 1 ano”. 
7. DIFERENÇA ENTRE PLURALIDADE DE AÇÕES E PLURALIDADE DE ATOS E SUA IMPORTÂNCIA NA CONFIGURAÇÃO DE CRIME ÚNICO, CONCURSO FORMAL OU CRIME CONTINUADO 
Atente-se ao fato de que o Código Penal, ao tratar do concurso formal, exige unidade de ação (ou omissão), enquanto ao regulamentar o concurso material e o crime continuado exige pluralidade de ações (ou omissões). Esta, todavia, não se confunde com unidade ou pluralidade de atos. Uma ação é sinônimo de contexto fático único, que pode ser cindido em vários atos. Além disso, na apreciação do concurso de crimes, deve-se levar em conta a existência ou não de lesão a mais de um bem jurídico. Vejamos os seguintes casos: 
a) Quando, em uma mesma ocasião, o agente penetra diversas vezes o pênis na vítima do crime de estupro, estamos diante de crime único (uma ação e vários atos contra a mesma vítima). Se, entretanto, o pai, valendo-se da convivência no lar, estupra a própria filha em dias diversos, temos crime continuado na modalidade simples (mais de uma ação contra a mesma vítima). Se o agente estupra mulheres diferentes em um mesmo contexto fático (uma de cada vez, evidentemente) ou em ocasiões próximas, temos pluralidade de ações, aplicando-se o crime continuado qualificado. 
b) Se o sujeito mata a vítima com várias facadas, há crime único de homicídio, pois apenas uma vida foi ceifada. Trata-se de ação única composta de diversos atos (facadas). Não se caracteriza o concurso formal por ter havido uma só morte (um só resultado). Por sua vez, se, por imprudência, ele provoca, na mesma colisão de veículos, a morte de duas pessoas, incorre em concurso formal (ação única com pluralidade de vítimas). Se o sujeito com uma única explosão mata, concomitante e dolosamente, os dois ocupantes de um carro, responde por dois crimes em concurso formal (impróprio). Houve uma ação (explosão) com duplo resultado morte. Se o sujeito, sucessivamente, atira e mata pessoas diversas (várias ações e vítimas),incorre no crime continuado qualificado. 
■ Infrações penais com tipo misto alternativo 
Existem inúmeros crimes na legislação penal que são formados por mais de um “verbo” (núcleo) separados pela conjunção alternativa “ou”. No art. 122 do Código Penal, por exemplo, pune-se quem induz, instiga ou auxilia outrem a cometer suicídio. Nos crimes dessa natureza, a realização de uma das condutas típicas já é suficiente para tipificar a infração penal, porém a realização de mais de uma delas, desde que em relação à mesma vítima, configura crime único e não continuado. Ex.: pessoa que convence a vítima a se matar (induzimento) e que, posteriormente, fornece-lhe veneno para que seja utilizado no ato suicida (auxílio) responde por um só delito. 
Esta espécie de infração penal composta por vários núcleos separados pela partícula “ou” encontra diversas denominações na doutrina — crime de ação múltipla, crime de conteúdo variado, delito com tipo misto alternativo etc. 
Interessante analisar tal questão em relação ao crime de tráfico de drogas, pois, em geral, os traficantes cometem esta forma de delito de modo reiterado. O tráfico, previsto no art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006, é composto por dezoito verbos separados pela conjunção “ou”. Assim, a pluralidade de ações envolvendo a mesma droga constitui crime único por se tratar de fases sucessivas do mesmo ilícito. Ex.: adquirir, transportar e depois vender o mesmo lote de droga. Por outro lado, não haverá crime único quando as condutas recaírem em cargas diversas de entorpecentes sem ligação fática entre elas. Assim, se uma pessoa compra e depois vende um quilo de cocaína e, na semana seguinte, compra e vende mais dois quilos, responde por dois delitos em continuação delitiva, já que a forma de execução foi a mesma (compra e posterior venda). Se, entretanto, o agente importa um carregamento de maconha do Paraguai e produz concomitantemente cocaína no Brasil, os meios executórios e as condutas são diversas, incorrendo o traficante em concurso material. 
■ Aborto de gêmeos 
O abortamento criminoso de gêmeos necessita de apreciação em torno do dolo do sujeito ativo. Com efeito, quando uma mulher anuncia a gestação, há uma presunção de que se trata de feto único, posto que a gravidez de gêmeos ocorre, aproximadamente, na proporção de uma para cada duzentas. É evidente, contudo, que, após a realização de ultrassom ou outro exame específico, torna-se conhecido o fato de a mulher estar esperando dois bebês. Assim, a solução é muito simples. Se o agente provoca o aborto em gêmeos, sem conhecer este aspecto, responde por crime único, pois puni-lo pelos dois delitos seria responsabilidade objetiva (não há dolo em relação a um dos resultados e não existe crime culposo de aborto). Se o agente, contudo, sabia que eram gêmeos e, ainda assim, realizou a manobra abortiva contra ambos, responde por dois delitos em concurso formal. Em tais casos, é possível dizer que houve dolo direto (autonomia de desígnios) em relação aos dois delitos, devendo o agente ter as penas somadas por se tratar de concurso formal imperfeito. 
■ Lesões corporais e concurso de crimes 
Se, em contexto fático único, o agente desfere inúmeros golpes contra a vítima, provocando diversas lesões em seu corpo (no rosto, nas pernas, no braço etc.), responde por crime único. Se, entretanto, uma dessas lesões for grave e as demais leves, o agente responderá somente pela modalidade mais grave. Às vezes, ocorre de o agente agredir a vítima em oportunidades diversas, hipótese que configura o crime continuado. Assim, se o marido agride a esposa em dias seguidos, provocando-lhe lesões, comete o crime de lesão corporal qualificado pela violência doméstica (art. 129, § 9º, do CP), em continuidade delitiva. Como se trata de uma só vítima, o juiz deve aplicar uma só pena, aumentada de 1/6 a 2/3 (crime continuado simples). 
■ Roubo e concurso de crimes 
Quando o roubador, com uma arma, ameaça duas pessoas na rua, mas subtrai objetos de apenas uma delas (sequer tentando levar pertences da outra), responde por crime único de roubo, na medida em que houve lesão patrimonial única. Se, entretanto, leva bens das duas (duplo resultado), responde por dois crimes de roubo em concurso formal. A jurisprudência entende tratar-se de ação única (grave ameaça concomitante contra ambas), composta de dois atos (subtrações). 
Se os assaltantes fazem uma espécie de “arrastão” em um prédio, adentrando sequencialmente nos diversos apartamentos que compõem o edifício e subtraindo pertences dos moradores, respondem por delitos de roubo em continuidade delitiva. A pluralidade de ações está clara, na medida em que os ladrões realizaram diversas abordagens e ingressaram sucessivamente nos apartamentos. 
Latrocínio e roubo simples não são crimes da mesma espécie porque, embora o latrocínio seja uma das modalidades de roubo qualificado, contém uma considerável diferença em relação à figura simples, qual seja, afeta a vida além do patrimônio. Os bens jurídicos atingidos, portanto, não são exatamente os mesmos, de modo que entre tais delitos há sempre concurso material. Ex.: agente que rouba um banco e mata o segurança e, na fuga, rouba também um carro que estava nas proximidades. 
■ Receptação e concurso de crimes 
Se o receptador compra vários bens furtados da mesma vítima, incorre em crime único. Se, todavia, compra, de uma só vez, objetos que foram furtados de vítimas diversas, ciente disso, responde pelos delitos em concurso formal. 
■ Associação criminosa e concurso de crimes 
É pacífico o entendimento doutrinário e jurisprudencial no sentido de que o delito de associação criminosa (art. 288 do CP) é formal, isto é, consuma-se no exato instante em que os seus componentes entram em acordo e se associam com a finalidade de cometer crimes. Caso eles, posteriormente, cometam efetivamente as infrações para as quais se uniram, responderão por todas elas em concurso material com o delito de associação criminosa. 
■ Coexistência de duas formas de concurso de crimes 
Não existe grande dificuldade quando se trata de coexistência de concurso material com uma das outras modalidades de concurso. Assim, se uma pessoa comete um estupro em concurso material com dois crimes de furto, estes em concurso formal entre si, o juiz deve aplicar a pena de um dos furtos, com o acréscimo de 1/6 a 1/2 (decorrente do concurso formal) e, em seguida, somar com a pena do estupro. O mesmo raciocínio vale quando o agente comete um crime em concurso material com outros em relação aos quais exista continuidade delitiva. 
Dificuldade maior se apresenta quando se trata de concomitância entre concurso formal e crime continuado. Suponha-se que alguém, mediante única ação, tenha cometido estelionato contra duas pessoas em determinada data e, no dia seguinte, praticado novo estelionato contra outra vítima. Nesse caso, existe concurso formal nos delitos cometidos na primeira ocasião em continuidade delitiva com o último crime. A conclusão é a de que o juiz deve aplicar dois acréscimos sucessivamente (primeiro o aumento de 1/6 do concurso formal e, em seguida, o aumento de 1/6 do crime continuado). Há, entretanto, quem entenda que este procedimento prejudica o réu porque a aplicação de um aumento sobre o outro gera pena maior. Em razão disso, existe outra corrente no sentido de que o juiz deve aplicar somente o acréscimo do crime continuado, mas com exasperação acima da mínima (por serem três crimes). 
No sentido de que ambos os acréscimos devem incidir: “Direito penal e processual penal. Crimes de estelionato. Concurso formal e continuidade delitiva (crime continuado). Artigos 70 e 71 do Código Penal. Habeas corpus. Alegação de bis in idem. Inocorrência. 1. Correto o Acórdão impugnado, ao admitir, sucessivamente, os acréscimos de pena, pelo concurso formal, e pela continuidade delitiva (artigos 70, caput, e 71 do Código Penal), pois o que houve, no caso, foi, primeiramente, um crime de estelionato consumado contra três pessoas e, dias após, um crime de estelionatotentado contra duas pessoas inteiramente distintas. Assim, sobre a pena-base deve incidir o acréscimo pelo concurso formal, de modo a ficar a pena do delito mais grave (estelionato consumado) acrescida de, pelo menos, um sexto até metade, pela coexistência do crime menos grave (art. 70). E como os delitos foram praticados em situação que configura a continuidade delitiva, também o acréscimo respectivo (art. 71) é de ser considerado. 2. Rejeita-se, pois, com base, inclusive, em precedentes do S.T.F., a alegação de que os acréscimos pelo concurso formal e pela continuidade delitiva são inacumuláveis, em face das circunstâncias referidas. 3. ‘H.C.’ indeferido” (STF, HC 73.821/RJ, 1ª Turma, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ 13.09.1996, p. 219); e “no concurso formal e crime continuado, incidem os aumentos correspondentes a essas duas causas, distintas e sucessivamente” (Tacrim/SP, Ap. 472.853, Rel. Juiz Haroldo Luz, 25.05.1987). 
Entendendo que deve incidir somente o acréscimo do crime continuado: “Crime de roubo qualificado. Coautores. Concurso formal. Continuidade delitiva. Non bis in idem (arts. 70 e 71 do CP). Em situação de aparente e simultânea incidência da norma de concurso formal e da de continuidade delitiva, é correto o entendimento de que a unificação das penas, com o acréscimo de fração a pena básica encontrada, se faça apenas pelo critério da continuidade delitiva, por mais abrangente. Recurso extraordinário não conhecido” (STF, RE 103.244/SP, 1ª Turma, Rel. Min. Rafael Mayer, DJ 22.11.1985, p. 25); e “crime continuado. Concurso formal. A regra do concurso formal foi concebida em favor do réu, e só há de ser aplicada quando efetivamente lhe trouxer proveito. Mesmo havendo, entre dois dos crimes integrantes do nexo de continuidade delitiva, concurso formal, apenas um aumento de pena — o do crime continuado — deve prevalecer” (STF, RE 101.925/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ 14.03.1986, p. 3.389). 
8. CONCURSO DE CRIMES E PENA DE MULTA 
Qualquer que seja a hipótese de concurso (material, formal ou crime continuado), a pena de multa será aplicada distinta e integralmente, não se submetendo, pois, a índices de aumento. É o que diz expressamente o art. 72 do Código Penal. Assim, considerando, por exemplo, que o furto simples possui penas de reclusão, de 1 a 4 anos, e multa, caso seja reconhecida a continuação delitiva entre dois furtos o juiz poderá aplicar a pena de 1 ano, por um dos crimes, e aumentá-la de 1/6, atingindo o patamar de 1 ano e 2 meses; entretanto, em relação às multas o juiz terá de fixar pelo menos 10 dias-multa para cada infração penal, atingindo o patamar mínimo de 20 dias-multa. 
9. LIMITE DAS PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE NOS CRIMES 
A fim de evitar punições de caráter perpétuo, conforme vedação do art. 5º, XLVII, b, da Constituição Federal, o art. 75, caput, do Código Penal estabelece que o cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 anos (art. 75). Ademais, quando o agente for condenado, em processos distintos, a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 30 anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo previsto no dispositivo (§ 1º). 
Essas regras não obstam a aplicação de penas superiores a 30 anos, hipótese razoavelmente comum quando o agente pratica vários crimes de intensa gravidade e as penas somadas atingem patamares muitas vezes superiores a 500 anos. A lei veda apenas que o condenado cumpra mais de 30 anos de prisão em face da pena imposta. Assim, sendo o réu condenado a 300 anos de reclusão, poderá permanecer no cárcere apenas por 30 anos. Veja-se, entretanto, que, para o condenado conseguir o livramento condicional, deve cumprir 1/3 da pena (em se tratando de crime comum e de pessoa primária). Essa terça parte, evidentemente, não pode ter por base de cálculo o limite de 30 anos, pois, se assim fosse, a pessoa condenada a 300 anos acabaria obtendo a liberdade com 10 anos de cumprimento da pena. Por isso, o índice de 1/3 para a obtenção do livramento condicional deve ser aplicado sobre a pena total (300 anos no exemplo acima). Dessa forma, o benefício só seria cabível após 100 anos, fator que torna incabível o livramento na hipótese concreta, uma vez que, após 30 anos, o sentenciado obterá sua liberdade em definitivo pela extinção da pena em razão da regra do art. 75. Nesse sentido, existe a Súmula n. 715 do Supremo Tribunal Federal, “a pena unificada para atender ao limite de 30 anos determinada pelo art. 75 do Código Penal não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução”. 
■ Limite das penas privativas de liberdade nas contravenções penais 
De acordo com o art. 10 da Lei das Contravenções Penais, a duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a 5 anos. 
■ Superveniência de nova condenação após o início do cumprimento da pena e o limite de 30 anos do art. 75 
O art. 75, § 2º, do Código Penal estabelece que, se o réu for condenado por novo fato criminoso, praticado após o início do cumprimento da pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido. Ex.: suponha-se uma pessoa condenada a 30 anos, que tenha cumprido 15 de sua pena. Resta-lhe, portanto, cumprir outros 15 anos. Imagine-se, em seguida, que o sentenciado sofra condenação a 20 anos de reclusão pela morte de um companheiro de cela. Nesse caso, os 15 anos restantes da primeira condenação deverão ser somados aos 20 anos aplicados na segunda sentença, chegando-se a um total de 35 anos. Desse modo, a partir da segunda condenação, terá o condenado de cumprir mais 30 anos de pena (para se respeitar o limite do art. 75). Essa regra é extremamente criticada pela doutrina, pois praticamente assegura a impunidade por crimes cometidos logo no início do cumprimento da execução, por pessoas que já tenham longa pena a cumprir.

Outros materiais