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1 LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL Disciplina: Processo Penal Prof.º: Levy Magno Aula: 02 Monitoria: Monique MATERIAL DE APOIO Índice I. Anotações de aula II. Jurisprudência I. ANOTAÇÕES DE AULA LEI DE DROGAS 4. Crimes em espécie Artigo 28 da Lei 11.343/06 a.3) Bem jurídico tutelado: o artigo 28 tutela a saúde pública. O artigo 28 traz consequências colaterais, atingindo o sistema nacional de saúde, e incentiva a prática de crimes patrimoniais de forma a viabilizar o consumo pessoal. Além disso, fomenta o tráfico. A defensoria pública de São Paulo ingressou com o RE 635.659, Rel. Min. Gilmar Mendes, com repercussão geral reconhecida, buscando a declaração de inconstitucionalidade – ofensa ao artigo 5º, X, da CF. Votaram favora- velmente GM, RB, e Fachin, tendo pedido vista o ministro TZ. a.4) Aplicação do Princípio da Insignificância ao artigo 28: a matéria é controversa. No STJ, não se admite (HC 35920/DF). No STF, há duas correntes: a) pelo reconhecimento (HC 110475); b) pelo não reconhecimento (Are. 728688). a.5) Análise do tipo – artigo 28: são 5 condutas – adquirir, guardar, ter em depósito, transpor- tar ou trazer consigo. Ressalvada a hipótese do verbo adquirir (crime instantâneo), todos os de- mais verbos configuram crime permanente. O artigo 28 é um tipo misto alternativo; ainda que o agente pratique mais de um verbo no mesmo contexto, haverá um só crime (crime único). Trata- se de crime doloso, em que se exige o dolo específico (pela doutrina italiana), ou elemento subjetivo do injusto (pela doutrina alemã). O dolo específico, que caracteriza o crime incongru- ente, ou incongruente assimétrico, é a vontade da droga para consumo pessoal (vontade espe- cial). O artigo 28, §2º fornece ao juiz os ingredientes para a avaliação da adequação típica (28 ou 33). Pena: advertência, psc, e medida educativa (palestras etc.). Prazo de 5 meses no máximo, salvo advertência que é instantânea. Na hipótese de reincidência (utilizado o termo tecnicamente), o juiz pode aplicar a pena até 10 meses (artigo 28, §3º e 4°). Na hipótese de descumprimento doloso, 2 o juiz admoestará verbalmente e, no insucesso, aplicará a multa. Prescrição: ao contrário do disposto no artigo 109, VI, do CP, o prazo prescricional do artigo 28 é de 2 anos (art. 30). Artigo 28, §1°: crime equiparado ao 28. Três condutas, sendo que apenas semear comporta a tentativa. O objeto material são plantas destinadas à preparação, logo, imprescindível a perícia. Trata-se de crime comum. Análise do artigo 33 da Lei 11.343/06 a.1) Crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa, ressalvada a conduta de prescrever (só médico prescreve). a.2) Trata-se de tipo misto alternativo, também denominado de ação múltipla, ou de conteúdo va- riado – havendo a prática de mais de uma conduta do artigo 33 no mesmo contexto, haverá um só crime. a.3) Objeto material do crime: DROGA – Portaria 344/98 (ANVISA) toda vez que for praticado o artigo 33 teremos droga apreendida. Havendo apreensão, é imprescindível a perícia. Na hipótese de prisão em flagrante, o DELPOL, para determinar a lavratura do APF, deverá obter um exame de constatação preliminar (feito na hora), servindo não só para lavratura, como para o ofereci- mento da denúncia. Além desse exame, o DELPOL deverá requisitar o exame toxicológico defi- nitivo (esse laudo é imprescindível para provar a materialidade do crime). a.4) Crime de perigo abstrato: a acusação não precisa demonstrar a ocorrência de situação de ris- co, bastando provar a conduta. a.5) Consumação e tentativa: a tentativa é difícil de ocorrer, pois a maioria dos crimes é perma- nente, não admitindo o “conatus”. O STJ traz um exemplar na modalidade do verbo remeter droga em que a substância foi interceptada pelos correios – tentativa reconhecida (REsp. 162009/SP). a.6) Flagrante preparado e Súmula 145 do STF: é comum a polícia provocar a venda e adotar todas as providências para prender imediatamente o autor. O STF entende que a provocação inva- lida qualquer providência. No entanto, o DELPOL, no momento da lavratura, dirá que o indiciado guardava e tinha em depósito droga, crime permanente, que antecedeu a venda – flagrante válido e condenação adequada. 3 II- JURISPRUDÊNCIA: EMENTA: RECURSO. Extraordinário. Inadmissibilidade. Princípio da insignificância. Atipicidade da conduta. Ofensa ao art. 5°, incs. XXXV, LV e LIV, da Constituição Federal. Inocorrência. Matéria infraconstitucional. Ausência de repercussão geral. Agravo de instrumento não conhecido. Não apresenta repercussão geral o recurso extraordinário que verse sobre a questão do reconhecimento de aplicação do princípio da insignifi- cância, porque se trata de matéria infraconstitucional. (AI 747522 RG, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, julgado em 27/08/2009, DJe-181 DIVULG 24- 09-2009 PUBLIC 25-09-2009 EMENT VOL-02375-09 PP-02343). STF – DROGA – POUCA QUANTIDADE – INSIGNIFICÂNCIA – IMPOSSIBILIDADE Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PENAL. POSSE DE EN- TORPECENTES. USO PRÓPRIO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. ATIPICIDADE. LEGISLAÇÃO INFRA- CONSTITUCIONAL. MATÉRIA COM REPERCUSSÃO GERAL REJEITADA PELO PLENÁRIO VIRTUAL NO JUL- GAMENTO DO AI N.º 747.522. HABEAS CORPUS DE OFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE. 1. A aplicação do princí- pio da insignificância, de modo a tornar a conduta atípica, exige sejam preenchidos requisitos estabeleci- dos na legislação infraconstitucional, posto controvérsia de natureza infraconstitucional, não revela reper- cussão geral apta a tornar o apelo extremo admissível, consoante decidido pelo Plenário do STF, na análi- se do AI n.º 747.522–RG, Relator Min. Cezar Peluso, DJe de 25/9/2009. 2. A aplicação do princípio da insignificância exige que a conduta seja minimamente ofensiva, que o grau de reprovabilidade seja ínfimo, que a lesão jurídica seja inexpressiva e, ainda, que esteja presente a ausência de periculosidade do agen- te. In casu, não há elementos suficientes a fim de se apreciar o preenchimento de todos os pressupostos hábeis à aplicação do aludido princípio, a fim de trancar a ação penal. 3. In casu, o acórdão recorrido as- sentou: “PENAL E PROCESSUAL PENAL. POSSE DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE PARA CONSUMO PRÓ- PRIO. CRIME TIPIFICADO NO ARTIGO 28 DA LEI N° 11.343/06. PEQUENA QUANTIDADE. NULA A DECI- SÃO DE REJEIÇÃO DA DENÚNCIA. DESCABIMENTO A INVOCAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. RISCO POTENCIAL DO DELITO PARA A SOCIEDADE. USUÁRIO QUE ALIMENTA O COMÉRCIO DA DROGA E PERMITE A CONTINUIDADE DA ATIVIDADE DO NARCOTRÁFICO. AUTORIA E MATERIALIDADE SOBEJA- MENTE COMPROVADAS. RECURSO PROVIDO. SENTENÇA NULA. 1. SUBMETE-SE ÀS PENAS DO ARTIGO 28 DA LEI N° 11.343/06 QUEM, POR VONTADE LIVRE E CONSCIENTE, GUARDA OU TRAZ CONSIGO, PARA USO PESSOAL, DROGAS SEM AUTORIZAÇÃO OU EM DESACORDO COM DETERMINAÇÃO LEGAL OU REGU- LAMENTAR.2. NÃO HÁ FALAR EM ATIPICIDADE DO DELITO, POR HAVER POUCA QUANTIDADE DA SUBS- TÂNCIA ENTORPECENTE, JÁ QUE O CRIME DESCRITO NO ARTIGO 28 DA LEI N° 11.343/06 É DE PERIGO ABSTRATO PARA A SAÚDE PÚBLICA - POR SER CAPAZ DE GERAR DEPENDÊNCIA FÍSICO-QUÍMICA -, DE MANEIRA QUE O LEGISLADOR ENTENDEU POR BEM MANTER A TIPICIDADE DA CONDUTA, AINDA QUE SEM APLICAÇÃO DE PENAS RESTRITIVAS DE LIBERDADE.3. ‘NUMA SOCIEDADE QUE CRIMINALIZA PSI- COATIVOS E ASSOCIA EXPERIÊNCIAS DE ALUCINÓGENOS À MARGINALIDADE, O CONSUMO 4 DE DROGAS PROVOCA UMA SÉRIA QUESTÃO ÉTICA: QUEM CONSOME É TÃO RESPONSÁVEL POR CRIMES QUANTO QUEM VENDE. AO CHEIRAR UMA CARREIRA DE COCAÍNA, O NARIZ DO CAFUNGADOR ESTÁ CHEIRANDO AUTOMATICAMENTE UMA CARREIRA DE MORTES, CONSCIENTE DA TRAJETÓRIA DO PÓ. PA-RA CHEGAR AO NARIZ, A DROGA PASSOU ANTES PELAS MÃOS DE CRIMINOSOS. FOI REGADA A SAN- GUE’.(...) É PROPOSITAL [NO FILME "O DONO DA NOITE", DE PAUL SCHRADER] A REPETIÇÃO RITUALÍS- TICA DE CENAS QUE MOSTRAM A ROTINA DO ENTREGADOR, ENCERRADO NUMA LIMUSINE PRETA E FÚ- NEBRE. NESSE CONTEXTO, A DROGA NÃO CUMPRE MAIS A FUNÇÃO SOCIAL DAS ANTIGAS CULTURAS. ELA É APENAS UM VEÍCULO DE ALIENAÇÃO E AUTODESTRUIÇÃO". (FILHO, ANTÔNIO GONÇALVES. A PA- LAVRA NÁUFRAGA - ENSAIOS SOBRE CINEMA. SÃO PAULO: COSAC SC NAIFY, 2001. P. 259-60 - NÃO GRIFADO NO ORIGINAL).4. PRECEDENTE: ‘ACÓRDÃO N. 560684, 20100110754213APJ, RELATOR JOSÉ GUILHERME DE SOUZA, 2A TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS DO DISTRITO FEDERAL, JUL- GADO EM 17/01/2012, DJ 25/01/2012 P. 173’. RECURSO PROVIDO PARA ANULAR A SENTENÇA COM VIS- TAS AO PROSSEGUIMENTO DO PROCESSO.” 4. Agravo regimental DESPROVIDO. (STF ARE 728688 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 17/09/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-197 DIVULG 04-10-2013 PUBLIC 07-10-2013) Art. 28 da Lei 11343/06 e insignificância STF EMENTA PENAL. HABEAS CORPUS. ARTIGO 28 DA LEI 11.343/2006. PORTE ILEGAL DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. ÍNFIMA QUANTIDADE. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. WRIT CON- CEDIDO. 1. A aplicação do princípio da insignificância, de modo a tornar a conduta atípica, exige sejam preenchidos, de forma concomitante, os seguintes requisitos: (i) mínima ofensividade da conduta do agente; (ii) nenhuma periculosidade social da ação; (iii) reduzido grau de reprovabilidade do comporta- mento; e (iv) relativa inexpressividade da lesão jurídica. 2. O sistema jurídico há de considerar a relevan- tíssima circunstância de que a privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se jus- tificam quando estritamente necessárias à própria proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou potencial, impregnado de significativa lesividade. O direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam resultado cujo desvalor - por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes - não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social. 3. Ordem concedida. (HC 110475, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 14/02/2012, PRO- CESSO ELETRÔNICO DJe-054 DIVULG 14-03-2012 PUBLIC 15-03-2012 RB v. 24, n. 580, 2012, p. 53-58). RECURSO EM HABEAS CORPUS. PORTE DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE PARA CONSUMO PRÓPRIO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. 5 CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. 1. Independentemente da quantidade de drogas apreendidas, não se aplica o princípio da insignificância aos delitos de porte de substância entorpecente para consumo próprio e de tráfico de drogas, sob pena de se ter a própria revogação, contra legem, da norma penal incriminadora. Precedentes. 2. O objeto jurídico tutelado pela norma do artigo 28 da Lei n. 11.343/2006 é a saúde pública, e não ape- nas a do usuário, visto que sua conduta atinge não somente a sua esfera pessoal, mas toda a coletivida- de, diante da potencialidade ofensiva do delito de porte de entorpecentes. 3. Para a caracterização do delito descrito no artigo 28 da Lei n. 11.343/2006, não se faz necessária a ocorrência de efetiva lesão ao bem jurídico protegido, bastando a realização da conduta proibida para que se presuma o perigo ao bem tutelado. Isso porque, ao adquirir droga para seu consumo, o usuário reali- menta o comércio nefasto, pondo em risco a saúde pública e sendo fator decisivo na difusão dos tóxicos. 4. A reduzida quantidade de drogas integra a própria essência do crime de porte de substância entorpe- cente para consumo próprio, visto que, do contrário, poder-se-ia estar diante da hipótese do delito de tráfico de drogas, previsto no artigo 33 da Lei n. 11.343/2006. 5. Recurso em habeas corpus não provido. (RHC 35.920/DF, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 20/05/2014, DJe 29/05/2014). Art. 33 da lei 11343/06 e possibilidade de tentativa STJ - Penal. Recurso especial. Tráfico de entorpecentes. Remessa da droga pelos correios não efetivada. Tentativa perfeita. - Em sede de crime de tráfico de entorpecentes, na modalidade de remeter a encomenda tóxica por via postal, não se consuma o delito se a droga é apreendida nos Correios, antes de ser enviada ao destina- tário, configurando-se na hipótese a tentativa perfeita. - Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (REsp 162.009/SP, Rel. Ministro VICENTE LEAL, SEXTA TURMA, julgado em 18/05/2000, DJ 05/06/2000, p. 220)
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