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Universidade Católica de Pernambuco Centro de Ciências Biológicas e Saúde Curso de Fisioterapia Disciplina de Fisioterapia Aplicada à Neurologia Fisioterapia na lesão medular Profa. Ana Karolina Pontes de Lima Recife, 2012 Medula Espinhal Medula = miolo; o que está dentro É uma massa cilindróide e longa (homem adulto ~ 45 cm ) de tecido nervoso situada dentro do canal vertebral sem entretanto ocupá-lo completamente. Limite superior: Abaixo do forame magno do osso occipital. Limite caudal: L2 (adulto). A medula termina afinando-se para formar um cone, o cone medular, que continua com um delgado filamento meníngeo, o filamento terminal. Lesão Medular (Definição) “Qualquer lesão da medula, do cone terminal ou da cauda equina acompanha-se obrigatoriamente por deficiências motoras, sensitivas e neurovegetativas refletindo em alguma região do corpo.”” (Pape In Becker, 2008) Lesão Medular (Etiologia) o 80% DOS CASOS • Fraturas-luxações: Acidentes automobilísticos Quedas de alturas Esportes Acidentes de trabalho • Ferimentos Armas de fogo Armas brancas o 20% DOS CASOS • Tumorais • Infecciosas • Vasculares (mal formação arteriovenosa, trombose, embolia ou hemorragia) • Degenerativas (Espondilose) • Malformações (Mielomeningocele) (Staas Jr, et al In DeLisa, 2002) TRAUMÁTICAS NÃO-TRAUMÁTICAS Lesão Medular Traumática (Epidemiologia) • Incidência anual com hospitalização é de 30 a 40 por milhão. • Ocorre principalmente em adultos jovens (16 a 30 anos). • O sexo masculino é responsável por cerca de 80% dos casos. • Mais comuns em julho e menos em fevereiro. • O dia mais comum da lesão e o sábado. (Staas Jr, et al In DeLisa, 2002) IBGE (CENSO 2000) 200.000 paraplégicos e 50.000 tetraplégicos no Brasil em uma população de 169.872. 856 pessoas. Lesão Medular Traumática (Classificação) A terminologia indica o nível geral da lesão de coluna vertebral e da perda de função: PARAPLEGIA Segmentos torácico, lombar ou sacral. TETRAPLEGIA Segmentos cervicais. * Alguns autores: Acima ou abaixo de T1 (Rowley, et al In Stokes, 2002) Quanto ao nível neurológico Lesão Medular Traumática (Classificação) • Indicar o segmento mais distal com função normal em que a raiz nervosa não foi afetada. • Indicar os achados neuromusculares: • Função normal: Teste de FM (Grau 3) • Lesões transversas: completa x incompleta. • Lesões oblíquas: lesão sensorial/motora assimétrica. (Staas Jr, et al In DeLisa, 2002) Designação do nível da lesão Lesão Medular Traumática (Classificação) • Não há função motora ou sensorial abaixo do nível da lesão. • Causas: • Transecção completa • Compressão grave • Comprometimento vascular extenso à medula • Prognóstico é mais reservado. • Preservação de alguma função motora ou sensorial abaixo do nível da lesão. • Causas: • Contusões (Pressão sobre a medula de osso ou tecido deslocado) • O retorno precoce da função é geralmente considerado um bom sinal de prognóstico. (Pape In Becker, 2008) Lesões transversas Completas Incompletas Lesão Medular Traumática (Classificação) • Predominam lesões das vias nervosas mais curtas. • Resulta deficiências mais acentuadas em MMSS. • Causas: típica em idosos com espondilose cervical. (Pape In Becker, 2008) Área da lesão Síndrome central da medula cervical Lesão Medular Traumática (Classificação) • Perda motora completa inferior a lesão. • Perda da sensibilidade superficial. • Preservação da sensibilidade profunda. • Causas: embolia da artéria espinhal anterior. (Pape In Becker, 2008) Área da lesão Síndrome medular anterior Lesão Medular Traumática (Classificação) • Paralisa motora ipsilateral. • Perda da sensibilidade superficial contra- lateral. • Causas: ferimentos com arma branca. (Pape In Becker, 2008) Área da lesão Síndrome de Brown-Séquard Lesão Medular Traumática (Classificação) • Perda da sensibilidade profunda. • Preservação da função motora e das vias da dor e temperatura. • Obs: o pcte pode apresentar ataxia devido a perda da propriocepção. Área da lesão Síndrome Medular Posterior (Rowley, et al In Stokes, 2002) Lesão Medular Traumática (Classificação) Cone medular: Borda inferior de L1 (afilamento distal da ME em forma de cone) • Disfunções de bexiga, intestino e MMII. Cauda eqüina: Abaixo do cone (raízes nervosas dos últimos nn espinhais – L2 a S4) • Paralisia Flácida. • Interrupção variável da raiz sacral. Área da lesão Lesão de cone e cauda eqüina (Rowley, et al In Stokes, 2002) Lesão Medular Traumática (Quadro clínico) • Fase de Choque Medular: - Cessação de toda a função do SN, abaixo do nível da lesão da ME. - Em geral dura em torno de 24 horas, mas pode levar semanas. - Reflexo bulbocavernoso positivo no final desta fase (exame retal realizado pelo médico). • Comprometimento motor e sensorial abaixo do nível da lesão: - Dependem do nível neurológico, se completa/incompleta, se a lesão foi transversa ou oblíqua (assimetria ou simetria)... - Dermátomos e miótomos (Escala ASIA) (Rowley, et al In Stokes, 2002) NÍVEL NEUROLÓGICO X NÍVEL MOTOR X NÍVEL SENSITIVO Cada nervo espinhal inerva um “campo segmentar” da pele, chamado de dermátomo Lesão Medular Traumática (Dermátomos) C 5 C 6 C 7 C 8 T 1 FLEXORES DO COTOVELO EXTENSORES DO PUNHO EXTENSORES DO COTOVELO FLEXORES DOS DEDOS ADUTOR DO DEDO MÍNIMO L 2 L 3 L 4 L 5 FLEXOR DO QUADRIL EXTENSOR DO JOELHO DORSIFLEXORES DO TORNOZELO EXTENSOR DO HÁLUX S 1 FLEXORES PLANTARES Lesão Medular Traumática (Miótomos) Lesão Medular Traumática (ASIA) Lesão Medular Traumática (ASIA) Lesão Medular Traumática (Quadro clínico) • Alterações da termorregulação: - Disfunção autonômica simpática. - Perde-se: habilidade de tremer, vasodilatação em resposta ao calor ou vasoconstricção em resposta ao frio. • Comprometimento respiratório: - Lesões em T1 e acima perdem 40-50% da função respiratória. - Lesões cervicais (capacidade vital 20% do esperado). • Espasticidade: - Após a fase de choque medular - SNMS (Pape In Becker, 2008) Lesão Medular Traumática (Quadro clínico) • Disfunções vesicais e intestinais: - Infecções no trato urinário. - Reabilitação especifíca. • Disfunção sexual: - Pode resultar em deficiência de ereção, ejaculação, orgasmo, lubrificação vaginal. - Fertilidade em mulheres preservada, gestação com supervisão. (Pape In Becker, 2008) Lesão Medular Traumática (Diagnóstico) • Exame clínico. • Exames complementares: - Raio X - Ressonância Nuclear Magnética - Tomografia Computadoriazada. (Rowley, et al In Stokes, 2002) Lesão Medular Traumática (Complicações) • Infecções, TVP. • Úlceras de pressão. • Disreflexia autonômica. • Hipotensão postural. • Contraturas e dor. • Perda da massa óssea. • Complicações emocionais. (Pape In Becker, 2008) Lesão Medular Traumática (Tratamento) • Agudo: -Imobilização, colar cervical, suporte cárdiorrespiratório, estabilização mecânica espinhal. -Cirúrgico (redução de fraturas e luxações, artrodese, descompressão medular). • Reabilitação: -Fisioterapia motora e respiratória.-Profilaxia de infecções e TVP. -Tratamento da espasticidade. -Relaxantes musculares e agentes espasmolíticos e agentes químicos injetáveis. -Social e psicológica. (Pape In Becker, 2008) EXPECTATIVAS FUNCIONAIS Traçar metas/objetivos funcionais de acordo com o nível da lesão de cada paciente FASE DE REABILITAÇÃO • Quadro clínico estável. • Limitações/incapacidades estabelecidas. • Treino das capacidades residuais. NÍVEIS C1-C3 • Necessidade de suporte ventilatório devido à perda da inervação do diafragma. • Dependência total nas AVDs. • Tecnologia assistiva: interruptores leves, viradores de página, botões de alarme. • Cadeira de rodas elétrica (encosto alto, reclinável,suporte de tronco, controles com interruptores de sopro ou com bastão). Tetraplegia alta Movimentos da face e do pescoço • Inervação do diafragma (ou quase toda) preservada. • Controle dos movimentos de cabeça e pescoço (podem encolher os ombros). • Necessita de suporte ventilatório para respirar, mas é possível respirar espontaneamente. • Alguma independência na alimentação (equipamentos especializados) ou na operação de cama ajustável (controle adaptado). NÍVEL C4 • Controle dos mov. de cabeça, pescoço e ombros. Fazem flexão de cotovelos e supinação de antebraço. • Possível independência alimentação e higiene (assistência especializada: órteses de punho p/segurar objetos). • Alívio de pressão (inclinação p/ frente/lados). • Cadeira de rodas manual (curtas distâncias sobre superfícies lisas). • Cadeira de rodas motorizada (controles de mão) usada para AVDs. NÍVEL C5 • Habilidades anteriores associadas ao ganho da extensão do punho e pronação. • Tarefas diárias de alimentação, banho, higiene pessoal e limpeza c/+ facilidade (equipamentos especializados). • Alívio de pressão, e virar na cama. • Transferências independentes (placa de deslizamento). • Cadeira de rodas p/ AVDs e motorizada para maior facilidade e independência. NÍVEL C6 • Capacidade adicional para estender os cotovelos. • Também podem se tornar independente para higiene, limpeza extremidade inferior, e cuidado intestinal (adaptaçoes). • Cadeira de rodas (alívio de pressão, transferências, mobilidade). • Independência na alimentação, em vestir a parte superior do corpo, tomar banho, mobilidade na cama, NÍVEL C7 • Controle para flexão dos dedos (preensão manual). • Tem mais força e precisão nos movimentos dos dedos. • Atividades diárias independente, sem necessidade de dispositivos de auxílio. NÍVEL C8 • Função de todos os músculos dos MMSS, inclusive para a função da mão. • Melhor controle de tronco • Alto nível de independência em quase todas as atividades. • Treinamento avançado de cadeira de rodas. NÍVEIS T1 – T12 • Flexão e adução do quadril, extensão (L2-L4) e flexão do joelho (L4-L5). • Dirigir de forma mais independente. • Deambulação comunitária possível. - Órteses de perna e tornozelo-pé; - Muletas ou bengalas NÍVEIS L1 – L5 • Dependendo do nível da lesão, existem vários graus de retorno voluntário da bexiga, intestino e das funções sexuais. • Maior capacidade de andar com poucos ou nenhum dispositivo de apoio. NÍVEIS S1 – S5 • Cuidados com a pele; • Mudanças de decúbito • Prevenção de TVP; • Prevenção da osteopenia (FES, ortostatismo, marcha); • Tratar a bexiga neurogênica. • Treino de transferências; • Atividades de solo: - Rolar - Decubito ventral apoiado nos cotovelos → sobre as mãos - Decúbito dorsal sobre os cotovelos - Sentado com joelhos estendidos - Quadrupedia - Ajoelhado - De pé Utilizar recursos e técnicas variadas nessas posturas: espelho, FNP, tapings, atividades de equilíbrio, push-up, treino de transferências, bola suiça… • Cinesioterapia - Alongamentos (ativos, ativo-assistidos, bola). - Fortalecimento muscular seletivo e funcional (FNP, FES…). - Treino de equilíbrio • Ortostatismo (dispositivos auxiliares: cama ortostática, tutor longo, tala extensora). • Fisioterapia aquática. • Orientações. Lesão Medular Traumática (Prognóstico) • Plasticidade da medula espinhal -Secção periférica → regeneração axonal → retorno significativo da função. -Alguns estudiosos acreditam que não existe regeneração espontânea do SNC. - Meta: máximo de autonomia nas AVD’s, AVP’s, lazer… (Pape In Becker, 2008) Referências • Stokes, M. Neurologia para fisioterapeutas Editorial Premier: São Paulo, p. 117-133. • Umphred, D. A. Reabilitação Neurológica. Manole: São Paulo, p. 506-560. • Hüter-becker, A.; Dölken, M. (Edt). Fisioterapia em neurologia. São Paulo: Santos, 2008. 409 p. • DeLisa, J.A., et al. Tratado de Medicina de Reabilitação. São Paulo: Manole, 2002. p. 1325-1360.
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