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@emanuellycardoso 1 Emergências Dano à medula espinal, raízes nervosas ou estruturas ósseo- ligamentares da coluna vertebral decorrentes do impacto direto, aceleração ou desaceleração rápidos, um objeto penetrante ou ondas de impacto de uma explosão. Problema social importante na sociedade moderna: • Adultos jovens • Incapacidade permanente • Alta morbidade associada EPIDEMIOLOGIA • 5% dos pacientes com TCE apresentam TRM • 25% dos pacientes com TRM apresentam TCE • Traumatismo Raquimedular: − 55% coluna cervical − 15% coluna torácica − 15% na transição toracolombar − 15% coluna lombossacra Aproximadamente 10% dos pacientes com fratura cervical apresentam pelo menos uma outra fratura da coluna vertebral, não contígua. • Incidência mundial anual: 15-40 casos/milhão de habitantes • BR: 40 casos novos/ano/milhão de habitante − 80% homens − 60% entre 10-30 anos de idade • Causas: acidentes automobilísticos + quedas + ferimento por projétil de arma de fogo ANATOMIA E FISIOLOGIA DA COLUNA VERTEBRAL MECANISMO DO TRAUMA • Compressão • Distração • Flexão • Extensão • Translação • Rotação APRESENTAÇÃO CLÍNICA Lesão completa Lesão incompleta • Síndrome medular central • Síndrome medular anterior • Síndrome de hemissecção medular (Brown-Séquard) • Síndrome medular posterior • Síndrome da cauda equina Traumatismo Raquimedular A N E X O @emanuellycardoso 2 Emergências Miótomos Reflexos C4: diafragma C5: deltoide + bíceps Bicipital C6: extensor radial do carpo Estilorradial C7: tríceps Tricipital C8: intrínsecos da mão (preensão) T1: intrínsecos da mão (abdução dos dedos) T2-9: intercostais T9-12: abdominais L2: iliopsoas Cutâneo-abdominal L3: quadríceps Cremastérico L4: tibial anterior Patelar L5: extensor longo do hálux S1: gastrocnêmico Aquileu S2-4: esfíncter anal e vesical Cutâneo-anal, bulbocavernoso ESCALA ASIA Classe Descrição A Completo: função sensitiva e motora ausentes B Incompleto: presença de sensibilidade + sem função motora (incluir níveis sacrais) C Incompleto: força grau < 3 abaixo do nível da lesão (mais da ½ dos grupos musculares) D Incompleto: força grau ≥ 3 abaixo do nível da lesão (mais da ½ dos grupos musculares) E Normal: função sensitiva + motora normais CHOQUE MEDULAR • Perda transitória inicial de toda função neurológica (incluindo funções motora, sensitiva e autonômica) abaixo do nível da lesão • Duração aproximada de 1-2 semanas • Pode ser seguida de espasticidade • Mecanismo proposto: disfunção do K + ↓ da transmissibilidade sináptica CHOQUE NEUROGÊNICO • Hipotensão secundária à lesão medular • Interrupção de fibras autonômicas acima de T1: − Perda do tônus vascular − Aumento do tônus parassimpático com bradicardia resultante • Perda do tônus muscular com resultante represamento de sangue venoso na musculatura Atentar para perda de sangue decorrente de outras lesões (choque hipovolêmico) ABORDAGEM INICIAL A B C D E Suspeita de TRM 1. Todas as vítimas de trauma significativo 2. Pacientes inconscientes 3. Pacientes com trauma menor, porém queixando-se de dor ou queixas neurológicas (alteração de força, sensibilidade) 4. Outros sintomas associados ao TRM: respiração abdominal + priapismo Imobilização com colar cervical + coxins laterais da cabeça + mobilização em bloco Sinais clínicos de estabilidade cervical 1. Paciente alerta e orientado (incluindo ausência de intoxicação por álcool ou outras substâncias) 2. Sem déficit neurológico 3. Sem dor cervical à mobilização ativa e passiva (sem outras dores que possam causar distração) “É importante sal ientar que a prancha rígida serve única e exclusivamente para transporte do paciente. Chegando ao hospital, e le deve ser movimentado em bloco na maca, ou seja, rodado lateralmente (decúbito lateral) , mantendo-se a cabeça e a região cervical apoiadas e protegidas, para o exame da coluna torácica e lombar. É mandatório neste momento a remoção da prancha r ígida, pelo grave r isco de formação de úlceras por pressão. Qualquer profissional médico, independentemente de sua especial idade, deve estar habili tado a indicar a realização deste procedimento. ” @emanuellycardoso 3 Emergências AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA • Presença de lesão às estruturas nervosas (compressão) • Presença de sinais de instabilidade • Estabilidade: a habilidade da coluna vertebral, em cargas fisiológicas, de limitar seu deslocamento de forma a prevenir dano ou irritação à medula ou raízes nervosas (incluindo a cauda equina) + deformidades incapacitantes ou dor devido a mudanças estruturais CANADIAN C-SPINE RULE PASSO 1: Presença de qualquer fator de alto risco? Sim = radiografia • Idade ≥ 65 anos • Mecanismo perigoso • Parestesias nas extremidades PASSO 2: Presença de qualquer fator de baixo risco? Não = radiografia • Acidente automobilístico simples (dianteira-traseira)? • Em posição sentada no serviço de emergência? • Deambulou em qualquer tempo? • Ausência de dor cervical na linha média? PASSO 3: Possibilidade de realizar rotação ativa do pescoço? Não = radiografia • 45º para esquerda e para a direita NEXUS • Ausência de dor cervical na linha média • Ausência de intoxicação • Nível de consciência normal • Ausência de déficit neurológico focal • Sem outras dores que possam causar distração RADIOGRAFIA SIMPLES • Deve ser evitada em favor da TC • Incidência em perfil: − Alinhamento − Presença de fraturas/deslocamentos − Visualizar de C1 a C7 → se normal → retirar o colar cervical + realizar as sequências adicionais (AP e transoral) • Linha marginal anterior • Linha marginal posterior • Linha espinolaminar anterior • Linha espinhosa posterior TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA • Exame de escolha • Cortes finos e janela óssea • Reconstruções nos 3 planos • Se TC normal, porém suspeita de TRM alta: RM − Contusões/ hematomas medulares − Edema ósseo − Lesões ligamentares − Compressão por tecidos moles (hérnia discal) CLASSIFICAÇÃO E MANEJO MEDIDAS GERAIS • Monitorização completa em ambiente de UTI: − Manutenção da VA + risco de insuficiência ventilatória + risco de hipóxia − Risco de bradiarritmias e hipotensão • Evitar hipotensão (PS < 90 mmHg) • Manter PAM 85-90 mmHg nos primeiros 7 dias após o TRM • Prevenção de TVP/embolia pulmonar − Iniciar dentro de 72h do trauma − Uso de estratégias combinadas (LMWH ou HNF + compressão pneumática) − Extensão do uso por 3 meses • Uso de SVD, se suspeita de comprometimento da função vesical O uso de metilpredinisolona no TRM usualmente não está indicado @emanuellycardoso 4 Emergências MANEJO CLÍNICO • Uso de órtese rígida • Analgesia • Reavaliações seriadas MANEJO CIRÚRGICO • Objetivos: − Estabilização mecânica − Descompressão neurológica • Descompressão • Instrumentação • Artrodese ANEXO Apresentações clínicas Síndrome da medula central • Ocorre principalmente na região cervical • Apresenta comprometimento MMSS >> MMII • Preservação da sensibilidade sacra Síndrome da medula anterior • Há preservação da propriocepção • Perda variável da função motora e da sensibilidade à dor Síndrome da medula posterior • Função motora + sensibilidade à dor + tato = preservados • Propriocepção está alterada Síndrome de transecção da medular • Abaixo do nível da lesão • Perda da motricidade + sensibilidade + reflexos autonômicos (inclusive os esfincterianos) @emanuellycardoso 5 Emergências Síndrome do cone medular • Lesão da medula espinhal no nível sacral (geralmente no nível ósseo de T12-L1) + das raízes dentro do canal = arreflexia da bexiga + intestino + MMII • Segmentos sacros podem (ocasionalmente) mostrar reflexos preservados = bulbocavernoso+ reflexos miccionais • Resulta em incontinência fecal + vesical + alteração da função sexual Síndrome de BROWN- SEQUARD • Lesão medular incompleta • Hemisecção da medula ocasiona perda da função motora e proprioceptiva do lado da lesão + perda da sensibilidade à dor e temperatura do lado oposto • Frequentemente encontrada em lesões da região cervical • Síndrome pura de Brown-Sequard pura não é muito frequente → é mais comum encontrarmos um quadro onde estão presentes fragmentos da síndrome ou sinais clínicos de uma hemisecção da medula associado a outros sinais e sintomas. Exame físico: • Interrupção do trato corticospinhal lateral • Paralisia espástica do mesmo lado e abaixo do nível da lesão • Sinal da Babinski do mesmo lado da lesão • Reflexos anormais e sinal de Babinski podem não estar presentes na fase aguda da lesão • Interrupção da coluna branca posterior • Perca do mesmo lado da lesão da percepção tátil, vibratória e da posição de sentido abaixo do nível da lesão • Interrupção do trato espinotalâmico lateral • Perca do lado contrário da lesão da sensação da dor e da temperatura, que normalmente ocorre 2-3 segmentos abaixo do nível da lesão Síndrome parcial de Brown-Sequard • Caracterizada por perca da sensibilidade assimétrica com diminuição mais acentuada da perca da sensibilidade para dor, do lado menos parético Síndrome da cauda equina • Lesão isolada dos nervos espinhais da cauda equina no interior do canal vertebral → geralmente ocorre nas fraturas distais a L1-L2 (na verdade não são lesões da medula espinhal) • Compressão das raízes nervosas lombares + sacrais + coccígeas distais ao término do cone medular • Decorrente de lesão às raízes nervosas lombossacras na cauda neural • QC = depende da raiz atingida → podem ser observados paresia do membro inferior + arreflexia + distúrbios da sensibilidade + incontinência fecal e vesical • Sinais clínicos característicos = dor lombar intensa frequentemente acompanhada de ciática + anestesia em sela + disfunção esfincteriana e sexual + fraqueza de membros inferiores → para o diagnóstico, não é obrigatória a presença de todos esses sinais simultaneamente • Diferença em relação à síndrome do cone medular = ausência de sinais do neurônio motor superior + ela se caracteriza habitualmente por uma fraqueza assimétrica das extremidades inferiores • Melhor prognóstico quanto à recuperação funcional que a lesão medular espinal, porque as raízes nervosas têm a capacidade de se regenerarem • Importantes fatores de predição de uma evolução final favorável da síndrome da cauda equina o diagnóstico precoce e a descompressão cirúrgica imediata Bexiga neurogênica • Disfunção da bexiga urinária → etiologias = doença + ferida + defeito de nascença que acomete o cérebro/ME/nervos ligados à bexiga e/ou esfíncter urinário • Pode ser de dois tipos: ↳ Hipoativa (hipotônica): esta é incapaz de se contrair, não havendo o esvaziamento adequado. ↳ Hiperativa (espástica): esta esvazia por reflexos incontroláveis. • Bexiga hipoativa = resulta da interrupção dos nervos que a estimulam ↳ Crianças = etiologia mais comum é um defeito de nascença na ME (espinha bífida) • Bexiga hiperativa = interferência no controle normal da bexiga pela medula + cérebro • Início = bexiga flácida e, posteriormente→ torne-se hiperativa = esvaziando-se sem um controle voluntário • Depois de uma lesão grave da ME a bexiga é inicialmente contraída • Pacientes não tratados = irão desenvolver retenção aguda • Diferentes padrões miccionais patológicos podem persistir na fase crônica (dependem do nível de lesão neurológica + grau de recuperação funcional) • Problemas relacionados: ↳ Incontinência ↳ Infecções ↳ Urolitíase ↳ Danos renais secundários • FR de mais importantes para o desenvolvimento de lesão renal = falta de coordenação entre os músculos da parede da bexiga (dissinergia detrusor-esfíncter) Hipotensão ortostática • Definida como diminuição ≥ 20mmHg nas TAs e/ou ≥ 10mmHg na TAd, 3 minutos após a mudança da posição de decúbito para a posição ortostática, independente de ser ou não sintomática Tratamento • Disfunções cardiovasculares = melhoram progressivamente com o tempo + a reorganização sináptica e a hipersensibilidade dos receptores periféricos 𝛼-adrenérgicos abaixo do NL podem desempenhar um papel importante • Hipersensibilidade surge como resposta compensatória aos baixos níveis de catecolaminas + condiciona uma resposta vasopressora aumentada nas disreflexias autonômicas + uma hipoperfusão periférica com risco acrescido de úlceras de pressão • Outro mecanismo compensatório de controlo da hipotensão ortostática nos lesionados medulares cervicais ou dorsais altos é o sistema renina-angiotensina-aldosterona Priaprismo • Paciente em choque medular = ausência total da sensibilidade + dos movimentos + do reflexo bulbocavernoso Síndrome piramidal de liberação • Decorre da interrupção anatômica ou funcional da via corticoespinhal • Quadro clínico de liberação: ↳ Sincinesias: a mãe do lado hemiplégico se contrai quando o paciente fecha fortemente a mão do lado normal @emanuellycardoso 6 Emergências ↳ Sinal de Babinski ↳ Hiper reflexia profunda ↳ Hipertonia espástica (hipertonia elástica) ↳ Exagero do reflexo de automatismo ou de defesa (tríplice flexão do membro inferior ao estímulo nociceptivo) Tetraplegia • ↓ ou perda da função motora e/ou sensitiva dos segmentos cervical devida à lesão dos elementos neurais dentro do canal medular • Resulta em ↓ da função dos membros superiores, tronco, membros inferiores e órgãos pélvicos • Não inclui lesões do plexo braquial ou dos nervos periféricos fora do canal vertebra Paraplegia • ↓ ou perda da função motora e/ou sensitiva dos segmentos torácicos, Iombares ou sacrais (porém não cervicais), secundários a danos dos elementos neurais dentro do canal vertebral • Deixa íntegros os membros superiores → dependendo do nível podem incluir tronco, membros inferiores e órgãos pélvicos • Termo é corretamente usado para descrever lesões da cauda equina e do cone medular, porém não Iesões do plexo lombossacral ou lesões de nervos periféricos fora do canal Tetraparesia ou paraparesia • O uso desses termos não é recomendado, já que descrevem lesões incompletas de maneira imprecisa
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