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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE FISIOTERAPIA Tônus, Trofismo e Força Muscular Prof. Dr. George Alberto da Silva Dias Belém – Pará 2025 Tônus, Trofismo e Força Muscular A avaliação do tônus, trofismo e força muscular é essencial para compreender a funcionalidade do sistema neuromuscular e direcionar o tratamento fisioterapêutico. Tônus muscular refere-se ao estado de tensão ou resistência ao alongamento passivo do músculo em repouso. Pode estar alterado em condições neurológicas, resultando em hipotonia (redução do tônus, comum em síndromes cerebelares) ou hipertonia (aumento do tônus, como na espasticidade e rigidez). Trofismo muscular diz respeito ao volume e à nutrição do músculo. Pode ser classificado como preservado, hipotrófico (atrofia muscular), quando há redução do volume muscular devido ao desuso ou comprometimento neural, ou hipertrófico, quando ocorre aumento da massa muscular devido ao treinamento ou adaptação compensatória. Força muscular é a capacidade do músculo de gerar tensão e realizar contração contra uma resistência. É avaliada por meio de testes manuais, como a Escala de Força Muscular de Oxford, variando de 0 (ausência de contração) a 5 (força normal). Alterações na força podem indicar disfunções neurológicas ou musculoesqueléticas, afetando a mobilidade e a funcionalidade do paciente. A análise conjunta desses três fatores permite uma abordagem mais precisa no diagnóstico e na reabilitação fisioterapêutica. Perimetria Muscular A perimetria é um método de avaliação antropométrica utilizado para medir a circunferência dos segmentos corporais, permitindo analisar o trofismo muscular e identificar assimetrias ou alterações volumétricas. Esse exame é fundamental para acompanhar a evolução de pacientes em reabilitação fisioterapêutica, especialmente em casos de atrofia ou hipertrofia muscular. A medição é realizada com uma fita métrica flexível, posicionada em pontos anatômicos de referência para garantir precisão e reprodutibilidade dos resultados. Entre os segmentos mais avaliados estão coxa, panturrilha, braço e antebraço, comparando os lados direito e esquerdo para detectar possíveis diferenças. A perimetria é frequentemente utilizada no acompanhamento de condições neuromusculares, ortopédicas e pós-operatórias, auxiliando na prescrição de exercícios e na monitorização da resposta ao tratamento fisioterapêutico. TÔNUS MUSCULAR O tônus muscular refere-se ao estado de tensão ou resistência passiva ao alongamento que um músculo apresenta em repouso. É uma característica fundamental do sistema musculoesquelético, mantida por meio de mecanismos neurológicos complexos que envolvem tanto o sistema nervoso central (SNC) quanto o periférico (SNP). O tônus muscular não é uma contração ativa, mas sim uma leve contração involuntária que permite ao músculo estar preparado para responder a estímulos e movimentos. Regulação do Tônus Muscular O tônus é regulado principalmente por reflexos medulares, como o reflexo miotático (ou reflexo de estiramento), que é ativado quando um músculo é alongado rapidamente. Esse reflexo envolve os fusos musculares, receptores sensoriais localizados dentro do músculo, que detectam mudanças no comprimento muscular e enviam sinais para a medula espinhal. Em resposta, os motoneurônios são ativados, causando uma contração reflexa do músculo para evitar o sobrealongamento. Além disso, o tônus muscular é modulado por vias descendentes do SNC, como o sistema piramidal e extrapiramidal, que exercem influência inibitória ou excitatória sobre os reflexos medulares. O equilíbrio entre essas vias é essencial para manter um tônus muscular adequado. Tipos de Alterações no Tônus Muscular - Normotonia: Tônus muscular normal, com resistência adequada ao alongamento passivo. - Hipotonia: Redução do tônus muscular, resultando em músculos flácidos e com pouca resistência ao alongamento. Pode ocorrer em lesões do SNC, SNP ou doenças neuromusculares. - Hipertonia espástica: Aumento do tônus muscular, caracterizado por rigidez ou espasticidade. A espasticidade é comum em lesões do SNC, como AVE ou lesões medulares. - Hipertonia plástica (Rigidez): Resistência constante ao alongamento passivo, observada em condições como a doença de Parkinson. CARACTERÍSTICAS DA HIPERTONIA ESPÁSTICA RÍGIDA Piramidal Extra piramidal Eletiva: Determinados grupos musculares, flexores do MsMs e extensores do MiMi. Global: Acomete todos os grupos musculares indistintamente Elástica Plástica Sinal do canivete. Sinal da roda denteada. Associada a hiperreflexia, sinal de Babinsk, automatismo medular, clônus e sincinesias. Vem acompanhada do aumento dos reflexos posturais. ETAPAS DO EXAME DO TÔNUS MUSCULAR 1. Inspeção Posicionamento: Paciente em decúbito dorsal (deitado de costas). Objetivo: Observar o comportamento das massas musculares em contato com a superfície da cama. Achados: Achatamento das massas musculares: Sugere hipotonia ou atonia. Ressaltamento das massas musculares: Indica hipertonia. 2. Palpação Objetivo: Avaliar a consistência muscular por meio da palpação dos músculos envolvidos. Achados: - Flacidez à palpação: Pode sugerir hipotonia. - Rigidez ou aumento da consistência: Pode indicar hipertonia. Observação: Em alguns casos, pode haver flacidez à palpação, mas hipertonia durante a movimentação passiva. Portanto, essa etapa deve ser complementada com outras avaliações. 3. Balanço Passivo Objetivo: Avaliar a amplitude de movimento (ADM) articular e a resistência ao movimento. Posicionamento: Paciente em decúbito dorsal. Procedimento: - Realize movimentos de rolamento nos joelhos ou oscilação nos segmentos distais dos membros (ex.: mãos, pés). Achados: - Amplitude reduzida ou nula: Sugere hipertonia. - Amplitude aumentada ou facilidade excessiva de movimento: Indica hipotonia. 4. Movimentação Passiva Objetivo: Avaliar a resistência ao movimento passivo, que é a etapa mais relevante para a avaliação do tônus muscular. Posicionamento: Paciente em decúbito dorsal. Procedimento: - Peça ao paciente que relaxe completamente e não realize movimentos voluntários. - Execute movimentos passivos nos segmentos comprometidos (ex.: flexão e extensão de cotovelos, joelhos ou tornozelos). Achados: - Resistência aumentada ao movimento: Sugere hipertonia (espasticidade ou rigidez). - Resistência diminuída ou ausente: Indica hipotonia. Observação: Atenção a fatores limitantes, como dor, contraturas ou aderências, que podem interferir na avaliação. Escala Ashworth modificada A escala modificada de Ashworth é a ferramenta clínica mais universalmente aceita usada para medir o aumento do tônus muscular. FORÇA MUSCULAR A avaliação da força muscular em pacientes neurológicos é um componente essencial da prática clínica, permitindo identificar déficits motores, monitorar a progressão da condição e planejar intervenções terapêuticas adequadas. Entre os principais métodos utilizados, destaca-se o teste muscular manual (TMM), que classifica a força dos músculos em uma escala de 0 a 5, conforme a capacidade do paciente de contrair o músculo contra resistência. Além do TMM, dinamômetros manuais podem ser utilizados para quantificar a força com maior precisão, especialmente em casos sutis de fraqueza. A observação da qualidade do movimento, compensações e fadiga muscular também são aspectos fundamentais na avaliação. Em pacientes com condições como AVE, lesões medulares e doenças neuromusculares, a avaliação deve considerar a espasticidade, a presença de sinergias anormais e possíveis déficits proprioceptivos. A partir dos achadosda avaliação, estratégias terapêuticas podem ser direcionadas para o fortalecimento, controle motor e funcionalidade do paciente, visando melhorar sua independência nas atividades diárias e qualidade de vida. Exame motor rápido O exame motor rápido é uma avaliação clínica simplificada que permite identificar déficits motores de forma ágil (inervação segmentar – raiz nervosa), especialmente em contextos de triagem neurológica. Ele é frequentemente utilizado em emergências, unidades de terapia intensiva e consultas iniciais para avaliar a integridade do sistema motor e direcionar condutas diagnósticas e terapêuticas. Assim podemos avaliar: Membros Superiores: • Abdução do ombro – C5 (Músculo deltoide, nervo axilar) • Flexão do cotovelo – C5-C6 (Bíceps braquial, nervo musculocutâneo) • Extensão do cotovelo – C6-C7 (Tríceps braquial, nervo radial) • Extensão do punho – C6-C7 (Extensores do punho, nervo radial) • Flexão dos dedos – C8 (Flexores dos dedos, nervo mediano e ulnar) • Abdução dos dedos – T1 (Interósseos, nervo ulnar) Membros Inferiores: • Flexão do quadril – L2-L3 (Iliopsoas, nervo femoral) • Extensão do joelho – L3-L4 (Quadríceps, nervo femoral) • Dorsiflexão do pé – L4-L5 (Tibial anterior, nervo fibular profundo) • Extensão do hálux – L5 (Extensor longo do hálux, nervo fibular profundo) • Flexão plantar do pé – S1 (Gastrocnêmio e sóleo, nervo tibial) MANOBRAS DEFICITÁRIAS As manobras deficitárias são testes clínicos utilizados para detectar fraqueza muscular sutil, especialmente em pacientes com condições neurológicas. Essas manobras avaliam a capacidade do paciente de manter uma posição contra a ação da gravidade por um período de tempo, sendo úteis na detecção precoce de déficits motores decorrentes de lesões neurológicas centrais ou periféricas. Principais Manobras Deficitárias: 1 - Prova dos Braços Estendidos (Mingazzini para MMSS) O paciente mantém os braços estendidos e as palmas voltadas para cima, com os olhos fechados. Se houver fraqueza, um dos braços pode começar a cair lentamente ou sofrer pronação. 2 - Prova de Raimiste O paciente é posicionado em decúbito dorsal (deitado de costas). O cotovelo está a 90 graus de flexão. O membro afetado tende a cair para o tronco do paciente 3 - Prova de Mingazzini para Membros Inferiores O paciente, em decúbito dorsal, mantém as pernas elevadas e os joelhos fletidos a 90°. Fraqueza se manifesta pela queda progressiva de uma das pernas. 4 - Prova de Barré O paciente em decúbito ventral flexiona os joelhos a 90° e tenta mantê-los nessa posição. O membro afetado tende a cair lentamente. 5 - Manobra da queda do membro inferior em abdução O paciente é posicionado em decúbito dorsal e com os pés apoiados. Solicitar que o paciente mantenha a posição inicial. O membro afetado tende a cair em abdução.