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PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
- Periclitar - perturbar a vida ou a saúde de outrem. 
- Os crimes de periclitação da vida e da saúde constituem infrações subsidiárias em face dos delitos de dano. Existe relação de primariedade e subsidiariedade entre dois delitos quando dois ou mais tipos descrevem graus de violação do mesmo bem jurídico. A subsidiariedade pode ser implícita ou explícita.
- Subsidiariedade: o crime de perigo é sempre subsidiário; ocorrendo dano, este prevalece, absorvendo o perigo.
- No primeiro caso, a norma penal incriminadora, que descreve a infração de menor gravidade, expressamente afirma sua não aplicação quando a conduta for delito de maior porte (ex: art. 132). Existe subsidiariedade implícita quando um tipo penal se encontra descrito em outro. Neste caso, o delito de menor gravidade funciona como elementar ou circunstância de outra figura típica (ex: art. 132 e 130).
- Elemento subjetivo: é, em regra, o dolo de perigo: o sujeito pretende produzir um perigo de dano. A diferença entre dolo de dano e dolo de perigo reside em que no primeiro o sujeito quer a produção do efetivo dano ao bem jurídico protegido, enquanto no de perigo sua vontade se dirige a expor o bem a um perigo de dano
Perigo comum e perigo individual. Perigo comum ocorre quando o agente coloca em risco simultaneamente um número indeterminado de pessoas ou bens (artigos 250 a 258, Título VIII, Capítulo I). O perigo individual se dá quando o perigo está direcionado a um indivíduo particularizado (artigos 130 a 137, Título I, Capítulo III).
Perigo de contágio venéreo
Artigo 130 - 	Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
- Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
- Expor - colocar em perigo ou deixar a descoberto.
- Objeto da conduta - contágio de moléstia venérea.
- Sujeito Ativo - qualquer pessoa contaminada por uma doença sexualmente transmissível (DST).
- Sujeito Passivo - pessoa com quem o agente pratica o ato sexual. 
- Objeto material - pessoa que mantém relação com o contaminado.
- Elemento Subjetivo do Caput – é a vontade de manter a relação sexual.
- Elemento Subjetivo do § 1º - a vontade de transmitir a doença. 
- Quanto ao conhecimento da doença: 
a) quando o agente sabe: há dolo direto;
					
b) quando o agente deve saber: dolo eventual.
- Consumação: no momento da prática do ato sexual, ainda que a vítima não seja contaminada.
- Dolo direto de perigo
Consta da primeira figura descrita no caput (“sabe que está contaminado”). Aqui, o agente tem pleno conhecimento de que é portador de doença venérea e mesmo assim pratica o ato sexual com a vítima, consciente de que com tal ação estará criando uma situação concreta de perigo de contágio de moléstia venérea. Não há a intenção de transmitir efetivamente a doença. Ele quer sim, consciente e voluntariamente, expor a vítima a situação de perigo.
- Dolo eventual de perigo ou culpa?
A segunda figura descrita no caput (“deve saber que está contaminado”) tem provocado divergências na doutrina. Há duas posições a respeito: a) os casos de culpa devem vir expressos (art. 18, II, parágrafo único), o que não ocorre, tratando-se, portanto, de dolo eventual; b) trata-se de uma anômala previsão de figura culposa, pois a expressão “deve saber” indica apenas que o agente desconhecia a circunstância de estar contaminado, quando devia saber. Infringiu, portanto, uma obrigação de cautela. Isso não é dolo; é culpa.
- Dolo direto de dano
Consta da figura descrita no § 1° (“se é intenção doa gente transmitir”). Trata-se, aqui, de um crime de perigo com dolo de dano. Como visto, no dolo de perigo direto o agente quer apenas criar a situação de perigo, mas não a efetiva transmissão da moléstia. Mais do que exposição a perigo, pretende o efetivo contágio, o que qualifica o crime com a conseqüente majoração da pena.
- Relação sexual - É qualquer tipo de relação envolvendo sexo, inclusive entre homossexuais. É uma expressão mais abrangente que a conjunção carnal (penetração do pênis na vagina), ou qualquer ato libidinoso.
- Conjunção carnal - É entre homem e mulher (penetração do pênis na vagina).
- Ato libidinoso - É qualquer ato que sirva para satisfazer a volúpia do agente. 
- Moléstia venérea - É a doença transmissível através do ato sexual. Ex,: Sífilis, gonorréia, cancro mole. A lei não define o que vem a ser moléstia venérea, tratando-se de elemento extra jurídico do tipo. Sendo norma penal em branco, deve ser completada por resolução do Ministério da Saúde. 
- Uso de preservativo: afasta a configuração do delito;
- ocorrendo o contágio, o agente responde pelo art. 130, caput, pois o dolo aqui é o de perigo;
- na hipótese do § 1º, caso ocorra o contágio, se a vítima sofrer lesões leves, responderá o agente por este parágrafo. Caso a vítima venha a sofrer lesões graves, responderá o agente por lesões corporais;
- A conduta exige contato corporal direto entre os sujeitos do delito. Ocorrendo contágio por meio diverso do constato sexual, incide o do art. 131.
- Tentativa: é possível quando o agente tenta manter a relação sexual e não consegue.
- Ação penal: pública condicionada a representação
- OBS: A questão do HIV: Embora possa ser transmitido por relação sexual, a AIDS não é moléstia venérea. Conforme a doutrina, o ato capaz de transmitir a AIDS poderá configurar, segundo o propósito, ou segundo o elemento subjetivo do agente, um dos delitos dos arts. 131, 129 e 121. Ocorre, que recentemente o STJ se manifestou sobre o assunto:
Perigo de contágio de moléstia grave
Artigo 131 - 	Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
- Ato capaz de produzir o contágio - É qualquer ato, desde que apto a efetuar a transmissão, até o simples ato de tossir diretamente no rosto da pessoa saudável. Crime de ação livre.
- Abrange moléstias venéreas, quando transmitidas por outro meio fora o contato sexual direto, e outras enfermidades graves e contagiosas, tais como tuberculose, tifo, dengue, hanseníase, sarampo, febre amarela, hepatite, entre outras. 
- A tipicidade configura outra hipótese de norma penal em branco, pois sua descrição exige a complementação por normas de saúde pública. O regulamento editado pelo Ministério da Saúde é que irá definir quais são as doenças venéreas, as doenças graves e ao doenças contagiosas, que exigem a notificação obrigatória do médico às secretarias estaduais de saúde.
- A transmissão pode ocorrer de forma direta (aperto de mão, beijo, aleitamento, etc.) ou indireta (por meio de utensílios, roupas, vasilhames, instrumentos, objetos, etc.). Nesse ponto, difere do art. 130, que só se configura com o contato direto.
- Objetividade jurídica: O legislador protege, nessa disposição, a saúde e a incolumidade física da pessoa humana. 
- Sujeito ativo: Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa, homem ou mulher, portadora de moléstia grave pode ser sujeito ativo.
- Sujeito passivo: Qualquer pessoa. 
- Elemento subjetivo: dolo direto ou eventual.
- Consumação: no momento da prática do ato, independente da transmissão da doença.
- Ação penal: Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada.
Perigo para a vida ou saúde de outrem
Artigo 132 - 	Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, se o fato não constitui crime mais grave.
- A pena é aumentada de 1/6 a um 1/3 se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. 
- Forma genérica dos delitos do Capítulo IV, do CódigoPenal, que inclui todas as formas de perigo para a vida ou a saúde não enquadráveis em algum dos tipos precedentes. 
- Subsidiariedade: Trata-se de crime eminentemente subsidiário de outras infrações de perigo e de dano. Cuida-se de caso de subsidiariedade expressa. Após descrever em seu preceito primário o crime de perigo para a vida ou a saúde de outrem, o legislador impõe, no preceito secundário, pena de detenção, de três meses a um ano, “se o fato não constitui crime mais grave”.
- Sujeitos do crime: Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo e passivo do delito de perigo para a vida ou saúde de outrem. É necessário que o perigo atinja pessoa certa e determinada. Atingindo número indeterminado de pessoas, o sujeito responderá por crime de perigo comum (art. 250 e seguintes).
- Elementos objetivos do tipo: O núcleo do tipo é o verbo expor, que significa colocar a vítima em perigo de dano. A exposição pode ser realizada por intermédio de conduta negativa ou positiva (omissão ou ação). O perigo deve ser direto e iminente. Perigo direto é o que ocorre com relação a pessoa certa e determinada. Perigo iminente é o presente, imediato. Trata-se de perigo concreto e não presumido, devendo assim ser demonstrado.
- Crime de ação livre.
- Elemento subjetivo. Dolo de perigo, direito ou eventual, que exigem seja consciência e vontade de expor alguém a perigo ou simplesmente assumindo o risco proveniente do evento perigoso.
- O eventual consentimento do ofendido em assumir o risco é indiferente, por serem a vida e a saúde bens indisponíveis.
- Causa de aumento de pena: A Lei 9.777/98 acrescentou um parágrafo único ao art. 132, determinando o aumento de pena de um sexto a um terço se a exposição à vida ou à saúde de outrem decorrer de transporte de pessoas para a prestação de serviços de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. Na verdade, criou-se uma figura típica relacionada com a segurança viária. A inspiração original do legislador era justamente conferir proteção aos retirantes da seca nordestina e aos bóias-frias, que eram costumeiramente contratados em suas regiões de origem e levados nos caminhões conhecidos como “pau-de-arara” para a “cidade grande” ou para realizarem a colheita em fazendas. Mais recentemente, com o problema crônico do transporte de trabalhadores realizado em condições precárias de segurança, que não raro provocam tragédias de grandes proporções, houve por bem o legislador revigorar a norma, introduzindo uma causa especial de aumento de pena quando se caracteriza o transporte perigoso de pessoas realizado em desacordo com as normas legais previstas no Código de Trânsito Brasileiro.
- Jurisprudência: Configura-se o crime: no dirigir em alta velocidade, fazendo “cavalo-de-pau” e embriagado; no “fechar” deliberadamente automotor, forçando-o subir sobre a calçada e causando a colisão contra poste e outro veículo; no transportar trabalhadores sentados nas laterais de carroceria de caminhão; no disparo contra policiais ou outras pessoas para amedrontá-las.
- Conflito aparente de normas.
- Consumação: no momento da prática do ato que resulta perigo concreto. Pode ocorrer por ação ou omissão.
Abandono de incapaz 
Artigo 133 - 	Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos.
- Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos.
- Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
Aumento de pena: As penas cominadas neste artigo aumentam-se de 1/3:
I - 	se o abandono ocorre em lugar ermo;
II - 	se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
- Tipo fundamental e derivado: O CP prevê duas figuras que se assemelham: o abandono de incapaz (art. 133) e a exposição ou abandono de recém-nascido (art. 134). Podemos dizer que o primeiro tipo é fundamental enquanto o segundo é privilegiado por motivo de honra. Entretanto, os dois crimes são previstos em figuras típicas autônomas.
> Abandonar – deixar só, sem a devida assistência. É no sentido físico. Geralmente, é conduta omissiva (deixar de prestar cuidados indispensáveis), mas admite forma comissiva, como ocorre se a vítima é levada para local determinado para então ser colocada em situação de risco. É crime de perigo concreto.
> Incapaz – não se trata de incapacidade jurídica, de idade. Qualquer um pode ser incapaz, porque o que é levado em conta é a vida ou a saúde colocada em risco.
Ex.: Na selva, um guia deixa o cliente inexperiente entregue à própria sorte. É crime de abandono de um incapaz. O perigo foi criado por quem tinha o dever de cuidar.
Ex.: Uma babá larga a criança à beira de uma piscina e sai. A criança morre. Nexo causal – abandonou a menor; resultado – a morte.
- Objeto Jurídico: a vida e a saúde da pessoa. Especial proteção aos menores, anciãos, incapazes e todas as pessoas com menores possibilidades de se defender sozinhas dos perigos inerentes à vida social.
- Sujeitos do delito (crime próprio): Não é qualquer pessoa que pode ser sujeito ativo do delito. Nos termos do tipo penal, só pode ser autor quem exerce guarda, cuidado, vigilância ou autoridade em relação ao sujeito passivo (pressupõe uma especial relação). É, pois, todo aquele que tem o dever de zelar pela vítima. É, portanto, crime próprio, porque exige essa qualidade especial do agente, que é a relação de dependência com a vitima e o garante ou garantidor.
Por sua vez, sujeito passivo é o incapaz de defender dos riscos do abandono, estando sob a guarda, cuidado, vigilância ou autoridade do sujeito ativo. A incapacidade a que faz referência o tipo não é a civil, pois pode incluir até a temporária, como no caso da embriaguez.
- Especial relação de assistência: Deve existir especial relação de custódia ou autoridade exercida pelo sujeito ativo em face do sujeito passivo. Essa relação jurídica pode advir de: a) preceito de lei (ECA ou Código Civil); b) de contrato (enfermeiros, médicos, diretores de colégio); c) de certas condutas que geram a responsabilidade (quem recolhe uma pessoa abandonada tem o dever de assisti-la, o caçador que leva uma criança não pode abandoná-la na mata).
- Não havendo a relação de obrigação de assistência entre as partes, o crime poderá eventualmente ser o de omissão de socorro do art. 135, do CP.
- Tipo subjetivo. Dolo, ou seja, a vontade livre e consciente de abandonar a vítima, ciente dos riscos desse abandono e de que é responsável pela segurança da vítima. Portanto, não há tipicidade se o agente ficar à distância, espreitando o abandonado e zelando para que o perigo não acarrete probabilidade de dano. Caso deseje a morte ou lesão, haverá homicídio tentado ou lesões corporais.
- Figuras típicas qualificadoras: Nos termos do art. 133, § 1°, a pena é de reclusão, de um a cinco anos, se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave. Cuida-se de tipo preterdoloso ou preterintencional: o fato principal do abandono é punido a título de dolo de perigo; o resultado qualificador, a título de culpa.
- De acordo com o § 2°, se resulta morte, a reclusão é quatro a doze anos. Aqui também temos um crime preterdoloso.
- O § 3° determina o aumento de pena de um terço se o abandono ocorre em lugar ermo ou se o sujeito é ascendente ou descendente, cônjuge, tutor ou curador da vítima. Lugar ermo é local solitário. Para a caracterização da qualificadora é necessário que o local seja habitualmente solitário, quer de dia, quer de noite. 
Exposição ou abandono de recém-nascido
Artigo 134 -	Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
- Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
- Se resulta a morte:
Pena - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
- Crime de perigo concreto: A existência do delito nãoé caracterizada pela presunção de perigo, exigindo-se que, em decorrência do comportamento do autor a vítima venha a sofrer efetivo perigo de dano à sua vida ou à sua integridade corporal.
> Expor - remover a vítima para local diverso daquele em que lhe é prestada a assistência.
> Abandonar - deixar sem assistência.
> Ocultar desonra própria - a honra que o agente deve visar preservar é a de natureza sexual, a boa fama, a reputação etc.; 
> A diferença para o Art. 133 está no motivo. No art. 134 o motivo é ocultar a desonra própria.
- Objeto Jurídico: a vida e a saúde do recém-nascido.
- Sujeitos do delito: Sujeito ativo do delito só pode ser a mãe que concebeu fora do matrimônio e o pai adulterino ou incestuoso. Trata-se de crime próprio. O sujeito passivo será o recém-nascido.
- Elementos objetivos do tipo: Os núcleos do tipo são os verbos expor e abandonar. 
- Elemento subjetivo: dolo de perigo.
- “Honoris causa”: A honra de que se cuida é de natureza sexual, a boa-fama e a reputação de que goza o autor ou autora pela sua conduta de decência e bons costumes. Se a pessoa é de desonra conhecida, ano cabe a alegação de preservação da honra. O que também acontece quando se trata de outro motivo, como, por exemplo, o de extrema miséria, excesso de prole, receio de filho, pois aí pode se tratar de abandono de incapaz. A força do privilégio é determinada na razão direta do grau de intolerância social.
- Figuras típicas qualificadas: Os §§ 1° e 2° do art. 134 do CP prevêem formas qualificadas do crime de exposição ou abandono de recém-nascido. As qualificadoras são a lesão corporal grave e a morte. O resultado qualificado é preterdoloso.
Omissão de socorro
Artigo 135 -	Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
- A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
>Análises dos núcleos do tipo:
- Deixar – abandonar, largar, soltar.
- Deixar de prestar assistência – não prestar socorro.
- Pedir – solicitar, exigir, necessitar; no caso do texto, é acionar a autoridade pública competente para que preste o devido socorro.
- Por que a lei impõe que prestemos socorro até a desconhecidos? Porque a lei diz que temos de ser solidários. É dever de cada um. Não se trata de solidariedade sociológica, e sim jurídica.
- A lei não impõe que corramos risco. É preciso que haja possibilidade de ação. Mas em caso de risco pessoal, se não for acionada a autoridade competente, há omissão de socorro também. Exemplo: Não temos o dever de entrar num prédio em chamas para salvar alguém, mas temos a obrigação de pedir ajuda, convocar o Corpo de Bombeiros.
- Criança abandonada – menor abandonado no sentido físico, que necessita de ajuda, havendo um dever geral de todos para com ela.
- Criança extraviada – perdida temporariamente, devendo ser levada para autoridade competente.
- Pessoa inválida – invalidez no caso é física, não jurídica; sem condição de se deslocar sem ter assistência; falta de condições de saúde para ir e vir.
- Pessoa ferida – não é qualquer ferimento; tem que gerar incapacidade própria; estar sem condição até mesmo de telefonar para pedir ajuda.
- Ao desamparo – pode ser material; não é só na situação física; precisa gerar situação de necessidade.
- Em grave e iminente perigo  -  está efetivamente para acontecer, de forma concreta. 
- Não pedir socorro à autoridade pública – Ex.: Numa rodovia privatizada, deixar de recorrer aos “anjos do asfalto”, que atuam como autoridade pública.
- Se várias pessoas se negam a prestar socorro à vítima: todas respondem.
- Se apenas uma presta socorro havendo várias pessoas: desobriga as demais.
- Sujeito ativo: Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo de omissão de socorro, uma vez que não se trata de delito próprio, que exige qualidade especial do autor. Não é necessário que haja especial vinculação jurídica entre os sujeitos desse delito, como ocorre no abandono de incapaz (art. 133). Tratando-se de omissão de socorro cometida no trânsito, aplica-se o art. 304 do CTB.
- Sujeito passivo: Sujeitos passivos são as pessoas mencionadas no caput do artigo.
- Elementos objetivos do tipo: 
- Deixar de prestar assistência: Cuida aqui a dispositivo do dever de assistência imediata. O agente, podendo diretamente prestar imediato socorro, desde que sem risco pessoal, não o faz. Ex: sujeito que assiste a atropelamento e nada faz para socorrer a vítima gravemente ferida. Se, entretanto, não houver possibilidade de prestar imediata assistência, em face do risco pessoal a que está sujeito, deverá pedir socorro à autoridade pública. Ex: vítima que cai num rio de forte correnteza.
- Não pedir socorro à autoridade pública: Cuida-se, no caso, do dever de assistência mediata. O sujeito, não podendo prestar imediato socorro, sem risco pessoal, deverá solicitá-lo à autoridade pública; se não o fizer a sua conduta será enquadrada na segunda figura do crime de omissão de socorro. A demora em pedir socorro importa em descumprimento do dever de assistência. Autoridade pública é aquela que tema a obrigação legal de remover o perigo.
- Jurisprudência: Comete o crime de omissão de socorro o médico que, embora solicitado, deixa de atender de imediato a paciente que, em tese, corre risco de vida, omitindo-se em seu dever.
- OMISSÃO QUALIFICADA: § 1º:
- Se resulta lesão corporal de natureza grave ou morte: a qualificação é preterdolosa pelo resultado culposo.
OMISSÃO DE SOCORRO NO TRÂNSITO
Art. 303, CTB (“Lesão corporal culposa na direção de veículo automotor”) - Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de 6 meses a 2 anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
§ único - Aumenta-se a pena de 1/3 à 1/2, se ocorrer qualquer das hipóteses do § único do artigo anterior (não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros).
- O condutor responde pelo crime de lesão corporal culposa com pena agravada pela omissão.
...................
Art. 304, CTB (“Omissão de socorro de trânsito”) - Deixar o condutor do veículo (que agem sem culpa, agindo com culpa aplica-se o artigo 303, § único), na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública:
Penas - detenção, de 6 meses a 1 ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime mais grave.
§ único - Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves.
- o art. 304 do CTB não poderá ser aplicado ao condutor do veículo que, agindo de forma culposa, tenha lesionado alguém, pois tal condutor responderá pelo crime especial do artigo 303 do CTB e se havendo omissão de socorro terá a pena agravada (§ único).
- quem não agiu culposamente na condução do veículo envolvido em acidente e não prestou auxílio à vítima, responderá pelo crime do artigo 304 do CTB (“omissão de socorro de trânsito”).
- qualquer outra pessoa que não preste socorro, responderá pelo crime do artigo 135 (“omissão de socorro”).
A Lei n.° 12.653/2012 inclui um novo tipo no Código Penal: o crime de condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial.
	Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial
Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimentoprévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.
	Posição topográfica
	O art. 135-A foi inserido no Capítulo III do Título I do Código Penal.
Esse capítulo trata dos crimes que envolvam “periclitação da vida e da saúde”.
Periclitar significa “correr perigo”.
Este Capítulo III, portanto, traz diversos crimes de perigo.
Desse modo, entendo que o art. 135-A, pelo menos em sua forma simples (caput), é um crime de perigo.
	Crime de perigo abstrato
	Para a consumação do delito basta a prática da conduta típica pelo agente, sem ser necessário demonstrar que houve, concretamente, a produção de uma situação de perigo.
Pela simples redação do tipo percebe-se que não se exige a demonstração de perigo, havendo uma presunção absoluta (juris et de jure) de que ocorreu perigo pela simples exigência indevida. 
Vale ressaltar que, apesar de haver polêmica na doutrina, o STF entende que:
“A criação de crimes de perigo abstrato não representa, por si só, comportamento inconstitucional por parte do legislador penal. A tipificação de condutas que geram perigo em abstrato, muitas vezes, acaba sendo a melhor alternativa ou a medida mais eficaz para a proteção de bens jurídico-penais supraindividuais ou de caráter coletivo, como, por exemplo, o meio ambiente, a saúde etc. Portanto, pode o legislador, dentro de suas amplas margens de avaliação e de decisão, definir quais as medidas mais adequadas e necessárias para a efetiva proteção de determinado bem jurídico, o que lhe permite escolher espécies de tipificação próprias de um direito penal preventivo. Apenas a atividade legislativa que, nessa hipótese, transborde os limites da proporcionalidade, poderá ser tachada de inconstitucional.” 
(HC 104410, Relator Min. Gilmar Mendes, 2ª Turma, julgado em 06/03/2012)
	Bem jurídico protegido
	Vida e saúde das pessoas humanas.
	Sujeito ativo
	Trata-se de crime próprio considerando que somente pode ser praticado pelos responsáveis (sócios, administradores etc.) ou prepostos (atendentes, seguranças, médicos, enfermeiras etc.) do serviço médico-hospitalar emergencial.
Imaginemos o seguinte exemplo:
O diretor geral do hospital edita uma norma interna determinando que todas as recepcionistas somente aceitem a internação, ainda que de emergência, de pessoas que apresentem cheque-caução.
Duas semanas depois, chega um paciente em situação de emergência e a recepcionista do hospital faz a exigência do cheque-caução como condição para que ele receba o atendimento médico-hospitalar emergencial.
Quem cometeu o crime, o diretor geral ou a recepcionista?
Os dois. Pela teoria do domínio do fato, o diretor-geral seria o autor intelectual e a recepcionista a autora executora.
A recepcionista poderia alegar obediência hierárquica?
NÃO. A obediência hierárquica é uma causa excludente da culpabilidade pela inexigibilidade de conduta diversa (art. 22 do CP).
Ocorre que um dos requisitos para que seja reconhecida a excludente pela obediência hierárquica é que deve haver uma relação de direito público. Não incide essa excludente se a relação for de direito privado, como no caso da relação empregatícia em um hospital privado.
	Sujeito passivo
	Pessoa destinatária do atendimento médico-hospitalar emergencial.
Atenção: se a exigência de caução foi feita a um parente da pessoa que seria internada, a vítima é apenas a pessoa que seria internada e não o seu parente. Isso porque o bem jurídico protegido é a vida e a saúde da pessoa em estado de emergência. Desse modo, não se trata de crime patrimonial, pouco importando de quem se exigiu a caução. 
	Tipo objetivo
	·         Exigir
·         cheque-caução
É um cheque normal (título de crédito) assinado pela pessoa a ser atendida ou por terceiro (familiar, amigo, etc.) com determinado valor ou mesmo com valor em branco e destinado a servir como garantia de futuro pagamento das despesas que forem realizadas com o tratamento. Se as despesas forem pagas, o cheque é devolvido; se não forem, o cheque é descontado. 
·         nota promissória
Consiste em um título de crédito (documento escrito) no qual uma pessoa (sacador) faz a promessa, por escrito, de pagar certa quantia em dinheiro em favor de outra (beneficiário).
A nota promissória, neste caso, também funcionaria como um instrumento de garantia de que as despesas médicas seriam pagas.
·         ou qualquer garantia
Exs: fiança prestada por um parente do paciente; uma joia dada em penhor; a exigência de que se passe o cartão de crédito para desconto futuro, como é feito na locação de veículos.
·         bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos
O preenchimento prévio de formulários administrativos é vedado porque muitas vezes eles escondem um contrato de adesão, com a previsão de cláusulas abusivas. O paciente ou seus familiares, no momento de desespero em virtude da enfermidade, é compelido psicologicamente a assinar sem ter o necessário discernimento quanto ao conteúdo do documento.
·         como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial.
Segundo o Conselho Federal de Medicina, emergência é a constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo portanto, tratamento médico imediato (art. 1º, parágrafo 2º, da Resolução CFM n.° 1451/95).
	Preenchimento prévio de formulários administrativos
	O tipo penal incrimina também a conduta de se exigir o preenchimento prévio de formulários administrativos como condição para que seja prestado o atendimento médico-hospitalar emergencial.
Deve-se alertar, contudo, que é possível imaginar que, em alguns casos, seja lícita a exigência de prévio preenchimento de formulários administrativos, nas hipóteses em que essa imposição for imprescindível para a saúde e a vida do paciente ou para resguardar a equipe médica que faz o atendimento. 
É o caso, por exemplo, do fornecimento de informações relacionadas com o tipo sanguíneo da pessoa a ser atendida, caso seja imediatamente constatada a necessidade de uma transfusão de sangue.
	Exigência de garantia após o atendimento médico-hospitalar de emergência
	Pessoa sofre acidente e é levada para hospital particular, onde é prontamente atendida, sem que seja feita qualquer exigência.
Após cessar o quadro de emergência do paciente, o responsável pelo hospital procura os familiares, apresenta a tabela de valores dos serviços do hospital e exige um cheque-caução para que o paciente continue internado. Esse responsável pelo hospital praticou o delito do art. 135-A?
NÃO, trata-se de conduta atípica. Somente é crime a exigência como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial. Não havendo mais situação de emergência, ainda que o paciente continue necessitando dos serviços médico-hospitalares, é lícita a exigência de garantias para que o paciente continue recebendo o atendimento.
	Formas de praticar o delito
	O crime somente pode ser praticado de forma comissiva (por ação), não sendo possível ser perpetrado por omissão.
No entanto, trata-se de crime de execução livre, podendo ser realizado de modo verbal, gestual ou escrito.
	Tipo subjetivo
	O crime somente é punido a título de dolo.
Não há previsão de modalidade culposa.
	Consumação
	O crime é formal. Logo, consuma-se com a simples exigência.
A consumação ocorre no exato instante em que é exigida a garantia ou o prévio preenchimento do formulário administrativo como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial.
	Tentativa
	É possível, em tese, a tentativa. Trata-se, contudo, de difícil ocorrência na prática.
	Caso hipotético
	“A” está sofrendo um ataque cardíaco e é levado por seu irmão “B”, ao hospital. “B” para o veículo na porta do hospital para que “A” desça e dê entrada o mais rápido possível na emergência,enquanto ele vai estacionar o veículo. 
Em um período de tempo curtíssimo (5 minutos, p. ex.), “B” consegue estacionar o automóvel e se dirigir à entrada de emergência do hospital. Quando lá chega, descobre que seu irmão ainda não foi internado porque a responsável pelo hospital está exigindo a apresentação de um cheque-caução. 
“B”, que é advogado, argumenta fortemente que esta prática é abusiva, ameaçando formular representação contra o hospital na Agência Nacional de Saúde Complementar, momento em que a responsável autoriza a internação mesmo sem a garantia anteriormente exigida.
Nesse exemplo hipotético, haverá o crime do art. 135-A (tentado ou consumado)? Haverá desistência voluntária? Haverá arrependimento eficaz?
Penso que nessa hipótese, haverá o crime do art. 135-A consumado.
Não terá havido desistência voluntária nem arrependimento eficaz.
As razões são as seguintes:
O delito do art. 135-A é formal, logo, consuma-se com a simples exigência.
O fato de logo depois a funcionária do hospital ter permitido a internação não importa para fins de consumação considerando que a exigência já foi feita, completando o tipo penal.
Na desistência voluntária (1ª parte do art. 15, CP), o agente inicia a execução do crime e, antes dele se consumar, desiste de continuar os atos executórios.
Não se trata de desistência voluntária no exemplo dado, considerando que a execução já tinha se encerrado e o crime se consumado com a simples exigência.
No arrependimento eficaz (2ª parte do art. 15, CP), o agente, após ter consumado o crime, resolve adotar providências para que o resultado não se consuma.
Ocorre que o resultado de que trata o art. 15 do CP é o resultado naturalístico. Desse modo, somente existe arrependimento eficaz no caso de crimes materiais, isto é, naqueles que exigem a produção de resultado naturalístico. O delito do art. 135-A é, como disse, formal, portanto, incompatível com o arrependimento eficaz.
O fato de o funcionário do hospital ter permitido a internação, após a exigência inicial da caução, não torna a conduta atípica, servindo apenas como circunstância favorável na primeira fase de dosimetria da pena.
	Ação penal
	Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada (art. 100, CP).
	Pena
	Na forma simples (caput do artigo), a pena é de detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa.
Consequências:
·         Trata-se de crime de menor potencial ofensivo, submetido, portanto, ao rito sumaríssimo (juizados especiais);
·         Não cabe prisão em flagrante (art. 69 da Lei n.° 9.099/95);
·         É possível o oferecimento de transação penal (art. 76 da Lei n.° 9.099/95);
·         Cabe a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei n.° 9.099/95);
·         Não cabe prisão preventiva (art. 313, I, do CPP);
·         Em caso de condenação, é possível, em tese, a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos (art. 44 do CP).
	Forma majorada
	O parágrafo único do art. 135-A prevê duas causas especiais de aumento de pena (obs: não se trata de qualificadora, mas sim de majorante):
Se da negativa de atendimento resultar...
Lesão corporal GRAVE
MORTE
A pena é aumentada até o DOBRO.
A pena é aumentada até o TRIPLO.
Este parágrafo único constitui-se em tipo preterdoloso, havendo: 
·         dolo no antecedente (na conduta de fazer a exigência indevida); e
·         culpa no consequente (na lesão corporal grave ou morte).
Esta forma majorada não é infração de menor potencial ofensivo.
	Dever de afixar aviso
	A Lei n.° 12.653/2012 previu ainda que o estabelecimento de saúde que realize atendimento médico-hospitalar emergencial fica obrigado a afixar, em local visível, cartaz ou equivalente, com a seguinte informação:
“Constitui crime a exigência de cheque-caução, de nota promissória ou de qualquer garantia, bem como do preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial, nos termos do art. 135-A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal.
	Punição desta conduta por outros ramos do direito
	A conduta punida por este novo tipo penal já era sancionada pelos demais ramos do direito.
O Código de Defesa do Consumidor (Lei n.° 8.078/90) prevê que é prática abusiva o fato do fornecedor de serviços se prevalecer da fraqueza do consumidor diante de um problema de saúde. Confira-se:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;
O Código Civil de 2002, por sua vez, prevê o estado de perigo como vício de consentimento, apto a gerar a anulabilidade do negócio jurídico. A doutrina civilista em peso classifica a exigência de cheque-caução para atendimentos emergenciais em hospitais como típico exemplo de estado de perigo.
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
Por fim, no âmbito do direito administrativo sancionador, a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde, possui a Resolução Normativa n.° 44, de 24 de julho de 2003, proibindo a prática nos seguintes termos:
Art. 1º Fica vedada, em qualquer situação, a exigência, por parte dos prestadores de serviços contratados, credenciados, cooperados ou referenciados das Operadoras de Planos de Assistência à Saúde e Seguradoras Especializadas em Saúde, de caução, depósito de qualquer natureza, nota promissória ou quaisquer outros títulos de crédito, no ato ou anteriormente à prestação do serviço.
Fonte: CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Comentários ao novo art. 135-A do Código Penal. Dizer o Direito. Disponível em: http://www.dizerodireito.com.br
Maus-tratos
Artigo 136 -	Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou multa.
- Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
- Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
- Aumenta-se a pena de 1/3, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. 
- Sujeitos do delito: Trata-se de delito próprio. O tipo exige especial vinculação jurídica entre os sujeitos. É preciso que a pessoa esteja sob a autoridade, guarda ou vigilância do sujeito ativo, para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia. Da mesma forma, não é qualquer um que pode ser vítima de maus-tratos, mas exclusivamente aquelas pessoas que se encontram sob a autoridade, guarda ou vigilância de outra, para os fins citados.
- Elementos objetivos do tipo: O crime pode ser executado de várias maneiras: a) privação de alimentos, que pode ser relativa ou absoluta, que neste último caso pode ser meio de execução do homicídio; b) privação de cuidados indispensáveis – ex: privar o débil mental de se agasalhar durante o frio; c) sujeição da vítima a trabalho excessivo ou inadequado – ex: sujeito submete empregado menor a trabalho insalubre; d) abuso dos meios de correção ou de disciplina, por violência física ou moral (ameaças, intimidações etc). 
- Elemento subjetivo do tipo: O crime só é punível a título de dolo de perigo, sendo inadmissível a forma culposa.
- Qualificação doutrinária: O delito de maus-tratos é próprio, de ação múltipla ou de conteúdo variado, simples, plurissubsistente, comissivo ou omissivo, permanente na hipótese de privação de alimentos, instantâneo nas outras hipóteses e de perigo concreto.
- Consumação ou tentativa: O crime atinge a consumação com aexposição do sujeito passivo ao perigo de dano, em conseqüência das condutas descritas no tipo. É admissível a tentativa nas modalidades comissivas.
- Jurisprudência: A mulher, por não estar sob a autoridade do marido, sendo deste companheira e auxiliar, não pode ser sujeito passivo do criem com relação àquele (RT 434/432).
Exercícios de Fixação:
1. Disserte sobre os sujeitos ativos do delito de exposição ou abandono de recém-nascido.
2. Qual o elemento normativo do tipo no crime do art. 134? Explique.
3. A omissão de socorro pressupõe que o sujeito ativo esteja presente na situação de perigo?
4. É admissível a tentativa no crime do art. 136? Por quê?
5. Quais as espécies de subsidiariedade? Explique e cite exemplos de delitos de periclitação da vida e da saúde.
6. Disserte sobre os meios de execução do crime de contágio venéreo.
7. Discorra sobre as correntes que teorizam sobre a ocorrência de dolo eventual ou de culpa no caput do art. 130.
8. Em que situação os crimes de perigo são absorvidos pelos de dano? 
9. Como se enquadra o dolo eventual de dano no art. 130? Por quê?
Perigo
concreto
Perigo
abstrato
CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO PENAL III
UNIDADE I – CRIMES CONTRA A PESSOA. 
1.3. Da periclitação da vida e da saúde 
 Data:____/08/2013.
 Texto 04
Transmissão proposital de HIV é classificada como lesão corporal grave
29/05/2012
A transmissão consciente do vírus HIV, causador da Aids, configura lesão corporal grave, delito previsto no artigo 129, parágrafo 2º, do Código Penal (CP). O entendimento é da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e foi adotado no julgamento de habeas corpus contra decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF). A Turma acompanhou integralmente o voto da relatora, ministra Laurita Vaz.
Entre abril de 2005 e outubro de 2006, um portador de HIV manteve relacionamento amoroso com a vítima. Inicialmente, nas relações sexuais, havia o uso de preservativo. Depois, essas relações passaram a ser consumadas sem proteção. Constatou-se mais tarde que a vítima adquiriu o vírus. O homem alegou que havia informado à parceira sobre sua condição de portador do HIV, mas ela negou. 
O TJDF entendeu que, ao praticar sexo sem segurança, o réu assumiu o risco de contaminar sua parceria. O tribunal também considerou que, mesmo que a vítima estivesse ciente da condição do seu parceiro, a ilicitude da conduta não poderia ser excluída, pois o bem jurídico protegido (a integridade física) é indisponível. 
O réu foi condenado a dois anos de reclusão com base no artigo 129 do CP. A defesa entrou com pedido de habeas corpus no STJ, alegando que não houve consumação do crime, pois a vítima seria portadora assintomática do vírus HIV e, portanto, não estaria demonstrado o efetivo dano à incolumidade física. 
Pediu sursis (suspensão condicional de penas menores de dois anos) humanitário e o enquadramento da conduta do réu nos delitos previstos no Título I, Capítulo III (contágio venéreo ou de moléstia grave e perigo para a vida ou saúde de outrem). 
�Enfermidade incurável
No seu voto, a ministra Laurita Vaz salientou que a instrução do processo indica não ter sido provado que a vítima tivesse conhecimento prévio da situação do réu, alegação que surgiu apenas em momento processual posterior. A relatora lembrou que o STJ não pode reavaliar matéria probatória no exame de habeas corpus.
A Aids, na visão da ministra Vaz, é perfeitamente enquadrada como enfermidade incurável na previsão do artigo 129 do CP, não sendo cabível a desclassificação da conduta para as sanções mais brandas no Capítulo III do mesmo código. “Em tal capítulo, não há menção a doenças incuráveis. E, na espécie, frise-se: há previsão clara no artigo 129 do mesmo estatuto de que, tratando-se de transmissão de doença incurável, a pena será de reclusão, de dois a oito anos, mais rigorosa”, destacou.
Laurita Vaz ressaltou o Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento do Habeas Corpus 98.712, entendeu que a transmissão da Aids não era delito doloso contra a vida e excluiu a atribuição do tribunal do júri para julgar a controvérsia. Contudo, manteve a competência do juízo singular para determinar a classificação do delito. 
A relatora apontou que, no voto do ministro Ayres Britto, naquele julgamento do STF, há diversas citações doutrinárias que enquadram o delito como lesão corporal grave. “Assim, após as instâncias ordinárias concluírem que o agente tinha a intenção de transmitir doença incurável na hipótese, tenho que a capitulação do delito por elas determinadas (artigo 29, parágrafo 2º, inciso II, do CP) é correta”, completou a ministra.
Sobre o fato de a vítima não apresentar os sintomas, Laurita Vaz ponderou que isso não tem influência no resultado do processo. Asseverou que, mesmo permanecendo assintomática, a pessoa contaminada pelo HIV necessita de acompanhamento médico e de remédios que aumentem sua expectativa de vida, pois ainda não há cura para a enfermidade. 
Quanto ao sursis humanitário, a relatora esclareceu que não poderia ser concedido, pois o pedido não foi feito nas instâncias anteriores e, além disso, não há informação sobre o estado de saúde do réu para ampará-lo. 
Processos: HC 160982
Prof(a). Msc. Shelley Primo |�� PAGE \* MERGEFORMAT �14���

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