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Conceitos básicos de epidemiologia e a organização da vigilância em saúde (ambiental, vigilância epidemiológica) Objetivos Apresentar os fundamentos da epidemiologia como ciência básica da saúde pública. Explicar os principais conceitos epidemiológicos usados em políticas de saúde. Compreender o funcionamento e a importância da vigilância em saúde (epidemiológica e ambiental). Relacionar a prática psicológica com ações integradas de vigilância e promoção da saúde. Epidemiologia A epidemiologia pode ser definida como o estudo da distribuição e determinantes de estados ou eventos relacionados à saúde em populações específicas. Ela ajuda a entender como as doenças se manifestam em diferentes grupos de pessoas e como podemos controlar ou prevenir essas condições. (ASSIS, 2025) Principais Objetivos da Epidemiologia Descrever a ocorrência de doenças e outros eventos de saúde. Identificar os determinantes da saúde, como fatores fisiológicos psicológicos, ambientais e sociais. Avaliar o impacto das intervenções e programas de saúde. Prever a evolução de surtos e epidemias. Controlar e prevenir doenças e agravos à saúde. Conceitos importantes em Epidemiologia Incidência: É o número de casos novos de uma doença que surgem em uma população durante um período de tempo específico. Ela mede o risco de uma pessoa desenvolver a doença. Prevalência: É o número total de casos de uma doença ou condição de saúde em uma população em um momento específico ou durante um período específico. Mortalidade: Número de mortes em uma população devido a uma doença ou causa específica. Fatores de Risco: Características ou comportamentos que aumentam a probabilidade de uma pessoa desenvolver uma doença. Vetores e Reservatórios: Organismos que transmitem doenças (como mosquitos) e locais onde os patógenos podem se multiplicar. (ASSIS, 2025) Tipos de Estudos Epidemiológicos Descritivos: analisam padrões (tempo, lugar, pessoa). Exemplo: mapa de surtos de dengue por bairro. Analíticos: comparam grupos expostos vs. não expostos a risco. Exemplo: estudo que relaciona pobreza com depressão. Experimentais: testam intervenções. Exemplo: avaliar o impacto de oficinas de saúde mental em escolas. 6 O que é Vigilância em Saúde? Conjunto de ações contínuas que coletam, analisam e interpretam dados de saúde para prevenir e controlar doenças. Abrangência da Vigilância em Saúde no Brasil (SUS): - Epidemiológica - Ambiental - Sanitária Saúde do Trabalhador Importância: Serve de base para decisões rápidas e eficazes no SUS. Vigilância Epidemiológica Objetivo: Identificar, monitorar, investigar e controlar doenças e agravos à saúde pública. Atribuições principais Coleta e análise de dados sobre doenças e agravos (ex.: dengue, COVID-19, tuberculose). Investigação de surtos e epidemias. Planejamento de ações de imunização e campanhas de prevenção. Exemplo Durante um surto de dengue, a vigilância epidemiológica coleta informações sobre os casos confirmados, identifica os bairros mais afetados, comunica os órgãos responsáveis e ativa medidas de bloqueio como aplicação de inseticidas e orientações à população. Vigilância Ambiental Objetivo: Identificar e controlar fatores ambientais que possam representar riscos à saúde. Atribuições principais Monitoramento da qualidade da água, do ar e do solo. Controle de vetores (como mosquitos, ratos e escorpiões). Fiscalização de áreas com risco de desastres naturais ou tecnológicos (ex.: enchentes, vazamentos químicos). Avaliação dos impactos de resíduos sólidos e esgoto. Exemplo Em áreas com enchentes frequentes, a vigilância ambiental avalia a contaminação da água, distribui hipoclorito de sódio para desinfecção e orienta sobre o manejo seguro de alimentos e resíduos. Vigilância Sanitária Objetivo: Controlar riscos sanitários relacionados a produtos e serviços que envolvem a saúde humana. Atribuições principais Fiscalização de estabelecimentos como farmácias, hospitais, restaurantes, supermercados e indústrias. Controle da qualidade de medicamentos, cosméticos, alimentos e saneantes. Liberação e fiscalização de produtos sujeitos à regulação sanitária. Acompanhamento de recall de produtos que oferecem risco. Exemplo Ao detectar um lote de leite contaminado com bactérias nocivas, a vigilância sanitária determina a retirada do produto das prateleiras, notifica a população e responsabiliza a empresa produtora. Vigilância em Saúde do Trabalhador Objetivo: Identificar, monitorar e prevenir agravos relacionados às condições de trabalho. Atribuições principais Notificação e investigação de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais (ex.: LER/DORT, intoxicações, perda auditiva). Inspeção em ambientes de trabalho para verificar riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais. Promoção de ações de saúde e segurança no trabalho. Exemplo Em uma fábrica onde há exposição contínua a ruído intenso, a vigilância do trabalhador realiza inspeção, orienta sobre o uso de EPIs (equipamentos de proteção individual), exige a adaptação do ambiente e monitora a audição dos trabalhadores. O Papel da Psicologia na Vigilância e Saúde Coletiva Contribuições do psicólogo Apoio às populações em vulnerabilidade (desastres, epidemias). Educação em saúde (grupos, oficinas, escolas). Mediação comunitária e fortalecimento de vínculos. Produção de escuta qualificada em UBSs, CAPS, escolas, abrigos. Exemplo Na pandemia de COVID-19, psicólogos atuaram com luto coletivo, estresse e desinformação. Estudo de caso Epidemia de Gripe H1N1 em Escola Pública No início de uma temporada de inverno, uma escola pública no centro urbano de uma grande cidade registrou um aumento inesperado no número de alunos ausentes devido a sintomas respiratórios, como febre alta, tosse intensa, e dor de cabeça. A direção da escola, em parceria com a Secretaria de Saúde local, acionou a vigilância epidemiológica. Após uma análise preliminar dos dados de absenteísmo, a vigilância detectou que 25% dos alunos estavam com sintomas semelhantes aos da gripe H1N1. O surto se espalhou rapidamente entre alunos e funcionários, com suspeitas de que a transmissão acontecia dentro da própria escola, devido à proximidade dos alunos nas salas de aula e na cantina. Ações da Vigilância Epidemiológica Isolamento de casos suspeitos: Os alunos com sintomas de gripe foram orientados a se isolar até que os testes confirmassem se tratava de H1N1. Notificação de surto: A vigilância em saúde foi acionada para investigar o surto e identificar o grau de propagação da infecção entre a comunidade escolar. Campanha de vacinação: A escola recebeu doses de vacina contra o H1N1 para alunos, funcionários e familiares das crianças. Uma campanha de conscientização foi feita sobre a importância da vacinação. Higienização e medidas de prevenção: As autoridades sanitárias orientaram sobre a importância da lavagem das mãos, uso de máscaras, e distanciamento social nas atividades escolares. Monitoramento contínuo: A vigilância em saúde fez visitas periódicas à escola para garantir que as medidas estavam sendo seguidas corretamente e para monitorar novos casos. Impactos na Saúde Ambiental e Coletiva Ambiente escolar: A superlotação das salas e a falta de ventilação adequada nas dependências da escola contribuíram para a rápida propagação do vírus. Saneamento e infraestrutura: A escola tinha instalações de banheiro e lavagem de mãos deficientes, o que dificultou o controle da propagação de doenças virais. Atenção aos funcionários: Alguns professores e funcionários da escola apresentaram sintomas mais graves e precisaram de atendimento médico. O impacto no corpo docente resultou em sobrecarga de trabalho para os demais. Aspectos Psicossociais Ansiedade e estresse: Muitos alunos, pais e professores desenvolveram níveis elevados de ansiedade e medo em relação à possibilidade de contaminação. Algumas crianças começaram a se recusar a frequentar a escola. Impacto no desempenho escolar: A constante preocupação com osurto afetou a concentração e o desempenho acadêmico de vários alunos, levando a uma queda no rendimento escolar. Apoio psicológico: A escola solicitou apoio psicológico para os alunos mais afetados, com acompanhamento para reduzir o medo e a ansiedade relacionados à doença. Estigma social: Houve um aumento na percepção de estigmatização de crianças ausentes ou com sintomas evidentes de gripe, como se estivessem "contagiando" os outros, o que resultou em afastamento social entre os estudantes. Responder as questões abaixo: Quais as ações mais eficazes que a vigilância epidemiológica poderia adotar em uma escola para conter surtos como o de H1N1? Como a saúde mental de alunos e funcionários foi impactada por esse surto? Quais intervenções psicossociais seriam úteis nesse contexto? Quais fatores ambientais contribuíram para a propagação do surto dentro da escola? Como a infraestrutura pode ser melhorada para prevenir surtos no futuro? Como a psicologia pode contribuir para a redução do estigma e da ansiedade gerados em comunidades escolares durante surtos de doenças contagiosas? Referências ASSIS, S.G. et al. Epidemiologia: Fundamentos e Práticas. Editora Fiocruz, 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. 2023. Lei 8.080/1990 – Organização do SUS. Teixeira, C. F. et al. Epidemiologia e Saúde. Fiocruz. Vasconcelos, E. M. Saúde Coletiva: abordagens e práticas. OPAS/OMS. Documentos técnicos sobre vigilância e saúde mental. Brasil, Ministério da Saúde. Vigilância Epidemiológica no Sistema Único de Saúde (SUS), 2009.