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PSICOMOTRICIDADE HISTÓRICO E CONCEITO Professora: Esp. Rafaéle Gomes Corrêa A HISTÓRIA DO CORPO Grécia Antiga: Homero poeta – exaltava o corpo físico Pré-socráticos – falavam da alma (visão metafísica, visão materialista...) Sócrates, Platão (discípulo) – imortalidade da alma. Corpo lugar transitório da alma imortal. Preocupava-se com a moral e com a ética. “A alma é claramente superior ao corpo e encontra-se nele como uma prisão... deve-se, por isso, cuidar da alma e não temer a morte.”(Mondin apud Beresford, 1999) “Conhece-te a ti mesmo” Aristóteles mais racionalista que Platão. Corpo é matéria moldado pela alma. A alma é que põe o corpo em movimento. A alma é a forma do corpo. O homem é matéria e forma, elementos inseparáveis do Ser. Cristianismo Idade Média (igreja e poder) Séc. XVII – Descartes acentua a dicotomia Corpo x Alma. - Corpo – uma coisa externa, - Alma = pensante por natureza. “É evidente que eu, minha alma, pela qual sou o que sou, é completa e verdadeiramente diferente do meu corpo, e pode ser ou existir sem ele.” (René Descartes, Meditaciones metafísicas, México, Porrúa,1979,p.84) “Penso, logo existo.” Dualismo cartesiano Corpo X Alma Final do séc. XVIII / séc. XIX Maine de Biran – psicólogo Identifica o movimento como um componente essencial do Eu. E difere de Descartes, com a idéia de que a alma precisa do corpo para assumir sua intencionalidade. PAVLOV (1849/1936) ESTUDO SOBRE O PAR: ESTÍMULO X RESPOSTAS Finalmente, através do que ficou conhecido como a "Teoria Pavloviana da Atividade Nervosa Superior", Pavlov e seus discípulos foram os primeiros pesquisadores a integrar os estudos da psicologia do aprendizado com a análise experimental da função cerebral. Eles mostraram que os reflexos condicionados se originam no córtex cerebral, o qual, segundo as palavras de Pavlov, "é o distribuidor primário e organizador de toda as atividades do organismo". Ao longo de vários anos, ele e seus discípulos chegaram às leis básicas que governam a operação do córtex cerebral no aprendizado condicionado. 1861 – PERÍODO LOCALIZACIONISTA Com os primeiros estudos de Broca e Wernick. “Método estático anátomo clínico” atribuía a cada sintoma uma lesão focal no cérebro correspondente.(relação direta e de causalidade entre a lesão e os sintomas). O corpo estaria representado no cérebro, de cabeça para baixo na parte superior e externa do cérebro, em ambos os lados, perto da fissura de Rolando, com representação motora na frente e sensitiva atrás. Corpo era visto como uma máquina. MAPEAMENTO CEREBRAL – HOMÚNCULO DE PEINFELD MAPEAMENTO CEREBRAL – HOMÚNCULO DE PEINFELD INÍCIO DO SÉC. XX- ESTUDOS DE SHERRINGTON E DUPRÉ Em 1906, Sherrington referiu a ação integradora do sistema nervoso, de seu papel na regulação das condutas de um organismo em interação com o meio. Todo movimento tem um significado biológico. A medula espinhal é reconhecida como capaz de analisar os estímulos e responder a eles de modo adaptado. INÍCIO DO SÉC. XX- ESTUDOS DE SHERRINGTON E DUPRÉ Em 1909, Dupré (neurologista francês) rompe com os pressupostos da correspondência entre localização neurológica e as perturbações motoras da infância. Esse momento torna-se um marco na história da psicomotricidade. SHERRINGTON 1906 - Descreve a ação integrada do Sistema Nervoso, isto é, seu papel na regulação das condutas de um organismo em interação com o meio. - Questiona o paradigma de Pavlov: estímulo x resposta. - O corpo é visto como uma máquina em funcionamento (preocupação em como a estrutura funciona) - A teoria do reflexo já não permitirá compreender o funcionamento do organismo O organismo isolado é diferente do organismo numa situação. ERNEST DUPRÉ (POR VOLTA DE 1907) Neurologista francês define a síndrome da “debilidade motora” composta por: sincinesias (movimentos involuntários que acompanham uma ação) paratonias (incapacidade para relaxar voluntariamente uma musculatura) inabilidades, sem que sejam atribuídos a eles danos ou lesão localizada. Dupré correlaciona motricidade e inteligência (paralelismo) As pesquisas situavam–se em um eixo essencialmente neurológico. Surgem práticas com propostas de trabalho para esses sintomas, sem lesão específica. Ginástica terapêutica Psicodinamia – Philippe Tissié (final séc. XIX) (pré- concepção da psicomotricidade) opõem-se a ed. Física militarizada e propõe uma educação pelo movimento, abordada por Le Camus meados do séc. XX) Propõe a aproximação entre o ponto de vista puramente mecânico e o ponto de vista psicológico. “Por Educação Física não se deve entender apenas o exercício muscular do corpo, mas também e principalmente o treinamento dos centros psicomotores pelas associações múltiplas e respeitadas entre movimento e pensamento e entre pensamento e movimento” (Tissé – 1901) A palavra psico-motricidade surge no final do séc. XIX, mais ainda relacionada com zonas do córtex cerebral situadas “mais além” das regiões motoras, sua definição é inicialmente muito baseada nos fundamentos neurológicos. "A Psicomotricidade é a ciência que tem por objeto o estudo do homem, através do seu corpo em movimento, nas relações com o mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgâicas". (Sociedade Brasileira de Psicomotricidade) A PARTIR DOS ESTUDOS DO INÍCIO DO SÉC. XX O “IMPERIALISMO NEUROLÓGICO” JÁ NÃO É TÃO FORTE. Início do séc. XX : (1889/1932) - Freud (1920/1934) - Wallon (1930/1940) - Piaget, Montessori, Decroli FREUD (1889/1932) As contribuições de Freud para a compreensão do inconsciente e conceitos como tranferência, pulsão vêm a somar para que o olhar psicomotor veja para além do corpo órgão. O conceito de alteridade, de subjetividade mostram o corpo como sendo único, singular, resultado de todas as experiências sensório- motoras no contexto da relação com o outro. WALLON (1920/1934) H. Wallon, 1925 estuda a relação entre motricidade e carácter, (movimento como construção do psiquismo). Correlaciona o movimento ao afecto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos das crianças. Para Wallon o desenvolvimento da personalidade não pode ocorrer de forma separada das emoções. Tônus = pano de fundo de todo ato motor, está diretamente correlacionado com as emoções e vice-versa. Wallon descreve a forma de comunicação entre a mãe e o bebê, através das manifestações e alternâncias tônicas- afetivas. Esta forma de comunicação foi nomeada por ele de “diálogo tónico”, caracterizada pela “hipertonia do desejo” (manifestação tônica, observada através do aumento de tônus do bebê e do choro, quando este sente necessidades, como fome, frio, necessidade de aconchego e etc) e pela “hipotonia da satisfação” (manifestação tônica, observada através de um estado de relaxamento global, após uma mamada, uma troca de fralda etc.) 1925/1930 – falava-se em Distúrbio motor (e não disturbio psicomotor) 1925 - criado o Serviço de Neuropsiquiatria dirigido por Heuyer. Heuyer falava mais dos disturbios da motricidade e indicava a reeducação motora para retardados e crianças inteligentes com disturbios motores isolados. Wallon – “o movimento é, antes de tudo, a única expressão e o primeiro instrumento do psiquismo” ( A criança Turbulenta – Wallon, 1925) PIAGET A motricidade na obra de Piaget tem papel de extrema importânciana construção da imagem mental, ou seja, na questão da representação. Para a formação dessa representação é preciso que tenha acontecido a experiência vivida com o objeto, a ação direta com ele, ou seja, o movimento que se pratica transformando esse objeto por meio de processos sensório-motores. É um período que Piaget denomina como “inteligência prática”, no qual a criança passa a imitar e representar as situações as quais vivencia e que são interiorizadas como imagens mentais [...] as atividades sensório-motoras passam, com a integração da experiência, a atividades perceptivo- motoras, tornando possível a interiorização das imagens mentais que, por sua vez, constituirão, como primeiras estruturas operacionais, o suporte da linguagem e da reflexão (DANTAS, 1992, apud FONSECA, 2008, p.81). PIAGET A REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA CORRENTE EM 1935 ANTECEDE À EDUCAÇÃO PSICOMOTORA E A TERAPIA PSICOMOTORA. Ajuriaguerra afasta definitivamente a Psico-motricidade da visão do dualismo cartesiano e do período localizacionista. Ele retira o hífen de psico-motricidade e dá à palavra PSICOMOTRICIDADE uma unidade. Descreve, através de seus estudos, uma abordagem terapêutica, composta de etiologia, sintomatologia, formas de avaliação e tratamento. Estabelece um exame psicomotor e uma técnica psicomotora específica. Ajuriaguerra une o desenvolvimento infantil ao neurológico, e alerta que, ao contrário do que dizia Descartes, o corpo não é ferramenta ou objeto mensurável, e diz: “ O HOMEM É O SEU CORPO”. Ajuriaguerra define a Psicomotricidade: “É uma técnica que por intermédio do corpo e do movimento dirige-se ao ser na sua totalidade. Ela não visa a readaptação funcional por sectores e muito menos, a supervalorização dos músculos, mas a fluidez do corpo no seu meio. Seu objetivo é permitir ao indivíduo sentir-se melhor e, através de um maior investimento da corporalidade situar-se no espaço, no tempo, no mundo dos objectos e chegar a uma modificação e uma harmonização com o outro.” Em 1947, Julian de Ajuriaguerra, psiquiatra, redefine o conceito de debilidade motora, considerando-a como uma síndrome com suas próprias particularidades. É ele quem delimita com clareza os transtornos psicomotores que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico. CONCEITOS DA PSICOMOTRICIDADE: Esteban Levin – “A psicomotricidade ocupa-se de um sujeito que fala através do seu corpo, suas posturas, seus movimentos, seus gestos, seu tonus muscular, seu eixo corporal.”... “não é o corpo que sofre ou que fala, mas sim um Sujeito que fala através de seu corpo, de seus movimentos, de suas relações tônicas, de seus gesto.” “Tornar-se psicomotricista é um trabalho que não tem fim, pois, a cada vez, com cada paciente, começa um trajecto cheio de particularidades que só culmina com um recomeçar de novo..” O compromisso e a responsabilidade do psicomotricista é “não retroceder frente ao sujeito que fala e sofre através do seu corpo.” ( A especificidade da prática Psicomotora- Anais VI Congresso Brasileiro de Psicomotricidade, 1995) B. Saboya – “Um meio que utiliza o corpo em movimento, visando a harmonização do indivíduo com o seu mundo interno e o seu mundo externo”. (Bases Psicomotoras – Saboya, 1995) CONCEITOS DA PSICOMOTRICIDADE: CONCEITOS DA PSICOMOTRICIDADE: J. Claude Coste – “É uma técnica em que se cruzam múltiplos pontos de vista e que utiliza as aquisições de numerosas ciências constituídas (biologia, psicologia, psicanálise, sociologia e linguística)”... “A reeducação psicomotora tem por objetivo desenvolver esse aspecto comunicativo do corpo, o que equivale a dar ao indivíduo a possibilidade de dominar seu corpo, de economizar sua energia, de aperfeiçoar o seu equilíbrio.”(A Psicomotricidade – Coste,1977) CONCEITOS DA PSICOMOTRICIDADE: Lapierre – A noção de psicomotricidade é muito vasta para se prestar a uma definição precisa e definitiva. O pensamento motor é todo movimento indissociável do psiquismo que o produz e implica desse fato a personalidade total e, inversamente, o psiquismo, nos seus diferentes aspectos (intelectual, afetivo, de relacionamento etc.), é indissociável dos movimentos que condicionaram ainda seu desenvolvimento.” (Simbologia do Movimento- Lapierre,1982). CONCEITOS DA PSICOMOTRICIDADE: Vayer – “cada criança busca no outro a sua própria identidade, sua própria necessidade de segurança.”( VAYER - Linguagem Corporal, 1985) Picq e Vayer – “A educação psicomotora é uma acção pedagógica e psicológica, utilizando meios da educação física, com o objetivo de normalizar ou melhorar o comportamento da criança”. (Picq e Vayer – Educação Psicomotora e Retardo Mental, 1984) CONCEITOS DA PSICOMOTRICIDADE: Le Boulch – “A educação psicomotora concerne uma formação de base indispensável a toda criança que seja normal ou com problemas. Responde a uma dupla finalidade: assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta a possibilidades da criança e ajudar sua afetividade a expandir-se e a equilibrar-se através do intercâmbio com o ambiente humano. A terapia psicomotora refere-se particularmente a todos os casos-problemas nos quais a dimensão afetiva ou relacional parece dominante na instalação inicial do transtorno. Pode estar associada à educação psicomotora ou se continuar sem ela... Ao contrário, a reeducação psicomotora impõe-se nos casos onde o déficit instrumental predomina, ou corre o risco de acarretar secundariamente problemas de relacionamento.” ( Le Boulch – O Desenvolvimento Psicomotor, 1981
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