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Trabalho DPGERJ


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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
OBSERVAÇÕES SOBRE A PROVA ORAL DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
(14-01-2016)
DISCIPLINA: CAJUFF IV
PROFESSORA: CRISTIANA
ALUNOS: BRENDA DE FARIAS SILVA
 
 
NITERÓI
2016
Rio de Janeiro, 14 de Janeiro de 2016.
Oratória de Direito Público. 
É apresentado o seguinte caso ao candidato:
Certo sujeito obteve conhecimento de que o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro procedia à investigação criminal sobre sua pessoa, mas, não conseguiu obter informações sobre o que se tratava a investigação, procurando assistência da Defensoria Pública deste Estado, que foi deferida.
Assim, o Defensor Público enviou ofício ao Ministério Público do Estado requisitando informações sobre possíveis investigações em face do assistido. O Ministério Público respondeu que em virtude de sua autonomia funcional, não estaria obrigado a prestar informações à Defensoria Pública, alegando ainda o caráter sigiloso do inquérito policial também se aplica as peças de informação reproduzidas.
Portanto: na qualidade de Defensor Público, revela-se correta a postura do Ministério Público¿ Há espaço para desenvolvimento da investigação defensiva promovida pela Defensoria Pública, com base na LC 80\93, perante entidades privadas e públicas mediante exercício do poder de requisição¿ Como no caso acima, se a requisição da Defensoria Pública não for atendida, há alguma sanção prevista¿
Resposta do Candidato: 
Posição do Candidato
O candidato afirmou que a atitude do Ministério Público foi incorreta tendo em vista que na qualidade de Defensor Público, representante do assistido, tem o direito de acesso amplo aos elementos de prova já documentados em procedimento investigatório, que digam respeito ao direito de defesa do assistido. 
Quanto ao desenvolvimento de investigação defensiva promovida pela Defensoria Pública do Estado, por meio do exercício de seu poder de requisição, o candidato afirmou que ela é possível, sendo o poder de requisição exercível tanto em face de entidades privadas quanto públicas, indiferentemente, com base no direito à ampla defesa do indiciado e no direito ao acesso amplo aos elementos de prova, coletados no inquérito, pelo Defensor.
Quanto à previsão de sanção: o candidato não soube responder à pergunta. 
Minhas observações
Na linguagem jurídica “requisitar” é sinônimo de exigir com autoridade. 
Previa antiga redação do Art. 181, IV, alínea a, da Constituição do Estado do Rio de Janeiro: 
“Art. 181. Lei complementar disporá sobre e organização e funcionamento da Defensoria Pública, bem como sobre os direitos, deveres, prerrogativas, atribuições e regime disciplinar dos seus membros, observadas, entre outras:
V - as seguintes prerrogativas:
requisitar, administrativamente, de autoridade pública e dos seus agentes ou de entidade particular: certidões, exames, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos, informações, esclarecimentos e providências, necessários ao exercício de suas atribuições”;
O entendimento proferido na ADI 230-9, em 2010, pelo Supremo Tribunal Federal, foi no sentido de declarar integralmente inconstitucional o dispositivo mencionado na Constituição do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade.
Esta decisão foi tomada no sentido de que não se transformar os Defensores Públicos em “superadvogados”, com superpoderes; o que resultaria em desigualdade perante a Advocacia Privada, que para acessar certos documentos e informações precisam recorrer ao Poder Judiciário, primeiramente. Ademais, o Poder de Requisitar informações e documentos só é concedido na Constituição Federal de 1988 ao Ministério Público, não havendo menção quanto à Defensoria Pública.
Quanto à possibilidade de se estender os efeitos do referido julgado, que teve efeitos vinculantes, a outros textos legais semelhantes, o Ministro Eros Grau, na Reclamação 4335-Acre, se posiciona acerca da possibilidade, uma vez que seria uma contradição à Constituição, já analisada pelo STF: 
RECLAMAÇÃO 4.335-5 ACRE (Eros Grau, com voto vista):
“A alusão ao texto de LOEWENSTEIN é porem, na hipótese, oportuna.  Diz ele: o Poder Legislativo pode exercer a faculdade de atuar como intérprete da Constituição, para discordar de decisão do Supremo Tribunal Federal, exclusivamente quando não se tratar de hipóteses nas quais esta Corte tenha decidido pela inconstitucionalidade de uma lei, seja porque o Congresso não tinha absolutamente competência para promulgá-la, seja porque há contradição entre a lei e um preceito constitucional. Neste caso, sim, o jogo termina com o último lance do Tribunal; nossos braços então alcançam o céu”.
Assim, para ele, lei nova que instituiria o Poder de Requisição à qualquer Defensoria Pública seria inconstitucional tendo em vista este entendimento disseminado pelo STF. Assim não poderia este entendimento ser suprimido por atividade legiferante futura, que viesse tentar legitimar o Poder de Requisição deste órgão.
Logo descumprir a requisição do Defensor no caso concreto não caracterizaria nem crime, nem ato de improbidade. Ou seja, não estaria sujeito à nenhuma sanção.
Contudo, O Poder de Requisição é ainda previsto na Lei Orgânica da Defensoria Pública (Lei Complementar nº 80 de 1994), e não foi alvo de ADI para declará-lo oficialmente inconstitucional: 
“Art. 128. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública do Estado, dentre outras que a lei local estabelecer: 
X - requisitar de autoridade pública ou de seus agentes exames, certidões, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos, informações, esclarecimentos e providências necessárias ao exercício de suas atribuições;”
Ao meu ver, como Leis Complementares tem seu fundamento direto de validade na própria Constituição Federal, elas podem regular aquilo que a Constituição foi omissa, desde que não contrarie o texto constitucional, seja implícito ou explícito – o que seria caso de inconstitucionalidade. 
Este parece ser o caso da Lei Orgânica da Defensoria Pública, que ao prever o Poder de Requisição em face de entidades pública, somente, não contraria em nenhum momento da Constituição Federal de 1988 – uma vez que a expressa menção quanto ao Ministério Pública não implica em restrição à Defensoria. 
Portanto, apesar da decisão do STF na ADI 230-9, ao meu ver, continua aplicável a LC 80\94, quanto ao Poder de Requisição da Defensoria Pública em âmbito nacional quanto à entidades públicas somente. Como o texto da referida Lei Complementar não menciona entidades privadas, não é possível interpretação extensiva, afinal, “ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer, senão em virtude de lei”.
Quanto à possibilidade de sanção caso seja descumprido o Poder de Requisição da Defensoria Pública, creio que por não haver determinação expressa neste sentido, não seja aplicável. Portanto, neste sentido, é necessária atividade legislativa futura.
Na prática, o pedido de informações continua sendo exercido pela Defensoria Pública, em especial na da União. Contudo, não há aplicações de sanções conhecidas desta estudante, em caso de instituições públicas que não tenham respondido às solicitações da entidade. Ou seja, a requisição passa de uma obrigação para uma faculdade das demais instituições públicas com a Defensoria Pública. 
De qualquer forma, havendo o atendimento à solicitação, abre-se espaço à investigação defensiva promovida pela Defensoria Pública em prol dos seus assistidos.
Conclui-se que para assegurar o Poder de Requisição, bem como a possibilidade de investigação defensiva praticada pela Defensoria Pública, é necessária Emenda Constitucional que preveja tais prerrogativas, caso, por fatores políticos, o STF se incline a considerar a LC 80\94 inconstitucional.