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SILVA, Leila R. Marginalidade e exclusão aspectos da produção intelectual eclesiástica no reino suevo

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Semana de Integração Acadêmica do Centro de Filosofia e Ciências Humanas 
 
 1
MARGINALIDADE E EXCLUSÃO: ASPECTOS DA 
PRODUÇÃO INTELECTUAL ECLESIÁSTICA NO REINO SUEVO 
SILVA, Leila Rodrigues da (UFRJ) 
 
 
Introdução 
O processo de cristianização dos reinos germânicos constituídos nos séculos V e VI 
mobilizou esforços vultosos das elites clericais. Embora as especificidades que 
caracterizaram tais reinos tenham marcado significativamente os encaminhamentos adotados 
pelos eclesiásticos, em linhas gerais, identificamos um conjunto de iniciativas comuns. Entre 
essas iniciativas, podemos destacar o zelo com a redação de escritos dedicados aos fiéis 
laicos e clérigos. 
 
Estes materiais possuem, entre outros aspectos, indícios acerca da proposição de 
modelos de comportamento considerados adequados, bem como alusões a condutas 
incompatíveis com o padrão cristão. Assim, a partir da análise de algumas orientações 
presentes em tais escritos, podemos depreender não apenas a promoção de determinados 
procedimentos e valores morais, mas também a indicação de perfis transgressores e 
marginais. 
 
Tendo como referência tais questões, desenvolvemos no momento a pesquisa intitulada 
O processo de organização eclesiástica e a normatização da sociedade nos reinos suevo e 
visigodo: perspectivas analítica e comparativa, à qual hoje se encontram vinculadas 
dezesseis orientações, entre alunos de graduação, pós-graduação e recém egressos. De 
acordo com nossos pressupostos, a despeito da presença ou não de intencionalidade, 
constatamos, a existência de um amplo projeto de normatização da sociedade, formulado nas 
esferas clericais. Tal projeto, ainda que marcado por contradições e pouca sistematização, 
norteia-se por uma dada ideologia e pode ser apreendido do exame do rico material 
produzido pelo episcopado no âmbito dos reinos germânicos. 
 
Neste texto, objetivamos, em conformidade com a pesquisa indicada, refletir, com o 
foco no reino suevo na segunda metade do século VI, acerca de algumas das referências 
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presentes no corpus documental, compreendido pelos escritos morais do bispo de Dume e 
Braga, autoridade máxima da Igreja local na ocasião, e pelas atas dos concílios bracarenses, 
que podem ser associadas à concepção de marginalidade forjada pela elite episcopal. 
 
Aproximações ao objeto 
Ao aprofundamento de nossas reflexões relacionam-se de forma direta algumas 
conclusões prévias sobre ideologia e marginalidade. Da ideologia devemos notar que, 
quando é hegemônica, busca se manter como tal. Nesse sentido, favorece certas crenças e 
valores propagados como naturais e universalizantes, classificados, assim, como únicos e 
verdadeiros. Ao mesmo tempo, via de regra, desqualifica proposições que representem 
algum desafio e recusa formas rivais de pensamento, utilizando-se, eventualmente, de uma 
lógica que obscurece a realidade, que nem sempre é explícita ou sistemática (EAGLETON, 
1997, p. 19). Acreditamos, como voltaremos a ressaltar adiante, que quanto maior a nossa 
capacidade de compreensão dessa lógica, melhor para a análise que dela faremos. 
 
Jean-Claude Schmitt (1993, p. 261-290) nos recorda que o interesse dos historiadores 
pelos marginais, mesmo que em consonância com um viés romântico, manifesta-se ainda no 
século XIX. Deste momento até a década de 70 do século seguinte, período em que o objeto 
se constituiu como tal, muito se percorreu. Nessa trajetória foi fundamental o movimento 
desencadeado pelos annales, responsável por uma renovada percepção do campo da 
história. Orientações teóricas e metodológicas marcadas por novas diretrizes estimularam a 
retomada de antigos materiais. Potencialmente desse reencontro poder-se-ia depreender o 
que até então não havia suscitado atenção. Outras perguntas foram realizadas, as 
entrelinhas, o não dito, ganharam tanta ou mais proeminência do que o explicitamente 
evidenciado. Desconfiar do documento, passou a ser o encaminhamento recomendável. 
 
Desse processo pôde derivar vários desdobramentos, com realce para uma maior 
deferência aos agentes sociais tradicionalmente esquecidos. A consideração destes 
vislumbra-se a partir de então, em pelo menos duas situações distintas. Primeira, por meio de 
uma abordagem que os remeta ao centro das atenções, com o enfoque da “história vista de 
baixo”. De acordo com esse viés, Jim Sharpe salienta, por exemplo, a relevância que uma 
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carta escrita por um soldado, ou seja, um militar de baixa patente, assumiu no estudo das 
Guerras Civis Inglesas (SHARPE, 1992, p. 39-41). Segundo. Pela possibilidade do 
pesquisador consciente e deliberadamente identificá-los como idealizações. Aqui, na 
revisitação às fontes, não há que necessariamente procurar o marginal ou o excluído real, até 
porque ele nem sempre é alcançável, mas à luz das novas orientações teóricas e 
metodológicas buscar compreender um pouco mais sobre a lógica do próprio processo de 
argumentação, que pode expressar valiosas nuanças do pensamento dos que escreveram e, 
portanto, da ideologia hegemônica. Tendo em vista nossos interesses pelo discurso 
eclesiástico e não pelas suas repercussões junto àqueles para os quais fora produzido, 
regozijamo-nos, pois, especialmente com a segunda das duas possibilidades. Em suma, mais 
do que caracterizar o marginal ou o excluído como o sujeito histórico real e ouvir sua própria 
voz; importa-nos identificá-lo como fora idealizado, o que certamente se vincula muito mais à 
realidade e à lógica do seu artífice. 
 
Os documentos 
O corpus documental utilizado foi produzido a partir de meados do
século VI e pode ser 
agrupado em dois blocos de naturezas distintas: obras morais e atas conciliares. O primeiro 
conjunto é composto dos seguintes escritos: Item De Superbia; Pro Repellenda Jactantia; 
Exhortatio Humilitatis e De Ira (MARTINHO DE BRAGA,1990).1 Redigidos pelo bispo de 
Dume e Braga, Martinho, além de se caracterizarem por seu cunho moralizante, os referidos 
documentos contém menções explícitas a vícios e virtudes. O tom adotado pelo autor é 
conselheiro e as admoestações são aplicadas com fartura. Sabemos que tais materiais não 
chegavam às populações de forma direta, visto que esta, em sua maioria, sequer era 
alfabetizada. Contudo, conforme orientações recorrentes na literatura eclesiástica, cabia ao 
corpo clerical o repasse do conteúdo de tais escritos aos fiéis. Em algumas circunstâncias, 
recomendavam-se, inclusive, detalhes sobre a forma da preleção a ser adotada durante as 
missas e demais cerimônias religiosas. 
 
 
1 De Formula Vitae Honestae, embora identificado com um dos escritos morais de Martinho de Braga, ao enfocar a vanglória, 
soberba, ira, adultério e mentira, não acrescenta comentários aos já anteriormente feitos nas obras destacadas. 
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Aqui devemos lembrar que, embora não estejamos mobilizados a avaliar aspectos da 
repercussão que tais documentos alcançaram junto ao público a que se destinou, interessa-
nos observar que certos dados foram valorizados por seus autores estimulados pela 
possibilidade de êxito, ou seja, pela perspectiva de que seus discursos fossem apreendidos. 
Tal estímulo, sem dúvida, constituí-se como relevante na análise dos elementos presentes na 
concepção de marginalidade formulada pelo episcopado, ainda que tal proposição independa 
da materialidade das condições dos pretensos marginais. 
 
O segundo se trata das atas dos concílios I e II de Braga (CONCILIOS, 1963, p. 97-
132), realizados em 561 e 572, poucos anos, portanto, após a conversão dos suevos ao 
cristianismo niceno que ocorreu em 559. Além dos vários participantes das ordens menores e 
maiores da hierarquia eclesiástica que normalmente compareciam a tais eventos, registramos 
a presença de dezessete bispos, três dos quais estiveram nas duas atividades. Ainda que a 
redação do citado conjunto seja, assim como nos documentos anteriormente mencionados, 
de Martinho, as atas conciliares exibem deliberações acordadas pela hierarquia episcopal. Se 
tal dado, por um lado, justifica a ausência do tom pessoal, quase paterno, que marcou as 
obras morais, por outro, revela a afinidade de pensamento dos integrantes dos eventos 
conciliares, já que as práticas e condutas criticadas no primeiro conjunto são também 
qualificadas como marginais no segundo. Logo, embora os dois grupos sejam formados por 
tipos distintos de documentos e tenham sido redigidos atendendo a lógicas diferenciadas, 
optamos por tratá-los conjuntamente. 
 
Alguns elementos de uma conduta marginal nos escritos morais e conciliares 
 São muitos os aspectos classificados como vícios e erros pelos autores dos escritos 
enfocados: vanglória; soberba; luxúria; adultério; mentira; ira; avareza; orgulho; inveja; 
blasfêmia; furto; homicídio; suicídio; bestialidade; gula; preguiça, entre outros. Tendo em vista 
as limitações impostas pela natureza desse texto, restringiremos nossos comentários aos 
seis primeiros elementos. 
 
 Cabe ressaltar que, independentemente da ênfase adotada, as formulações estão 
voltadas para populações já convertidas ao cristianismo, ou seja, idealiza-se determinados 
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comportamentos a serem seguidos por cristãos, em tese, grupos já familiarizados com os 
preceitos que balizam a fé. Como conseqüência, fora reservado um tom particularmente 
ríspido aos que incorrem na soberba, visto que tal erro se caracterizaria pelo não 
reconhecimento da autoridade da própria divindade. Martinho lhes dirige as seguintes 
palavras: “Aos que usurpam o Supremo, a meu modo de ver, não lhes restará outra coisa que 
não o inferno” (MARTINHO, 1990, Como há de rechazarse la jactância?, p. 76). 
 
 Soberba e vanglória são estreitamente vinculadas ao longo dos documentos 
analisados. De uma diz-se decorrer a outra. Enquanto a vanglória levaria à busca incansável 
por elogios e reconhecimento, a soberba não garantiria a humildade suficiente para atribuir o 
mérito a quem de direito haveria que ser glorificado: Deus. Os desejos de glória e admiração 
são rechaçados especialmente pela capacidade que possuem de subverter a ordem em seu 
sentido lato, não apenas a ordem divina, segundo a qual a Deus devem ser remetidos todos 
os feitos memoráveis, mas também a ordem social, já que constituída sob a supervisão 
divina. Evidentemente, não são estes os termos empregados por nosso autor, vejamos o que 
diz a respeito. 
 
[Desejando elogios] os meninos se pretendem adolescentes; os 
adolescentes simulam a força dos homens, estes desejam que 
se lhe atribua a prudência dos anciãos (...) as mulheres, dado 
que não podem ser varões pelo sexo, presumem ser pelo 
espírito. Os rústicos gostam de ser considerados cortesãos. Os 
cortesãos pretendem ser venerados como se fossem reis. E os 
reis sonham com o poder de Deus. (IDEM, p.76). 
 
 O estilo nem sempre esteve marcado pela severidade. Na verdade, na maior parte 
das vezes, evidencia condescendência e tem em conta a “frágil condição humana” (IDEM, 
p.75). Apesar das repercussões do discurso produzido, como já mencionamos, não estarem 
em questão, há que se ponderar que não interessaria a construção de proposições, ainda 
que idealizadas, que provocassem o afastamento dos que não mantinham com a instituição 
relações estáveis, visto que recentemente convertidos. A imagem de uma religião 
benevolente deveria ser propagada. Nesse sentido, afirma Martinho: 
(...) até os mais santos caem muitas vezes. E se até os homens 
mais prudentes se equivocam, qual será então o equívoco que 
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não mereça ser perdoado? (MARTINHO, 1990, Sobre a Ira, p. 
140-1). 
 
 O adultério e a luxúria, como a vanglória e a soberba, aparecem freqüentemente 
associados. A instituição eclesiástica, ao sublinhar a monogamia como um dos fundamentos 
do casamento, forneceu à elite episcopal presente aos concílios bracarenses a base dos 
argumentos adotados. Os bispos, além do previsível à nossa percepção, ou seja, 
qualificarem como prática adúltera o fato de uma mulher ou de um homem compartilhar o seu 
leito com mais de um(a) companheiro(a), insistiram que a viuvez não minoraria a falta. Desse 
modo, a despeito da tradição patrística ter salientado que o casamento de viúvos(as) se 
constituía como algo legítimo (AGOSTINHO, 1954, L. 1; XXV, p. 386; L. 2 ; II, p. 394; L.2 ;V, 
p. 398), os cânones bracarenses conferiam aos clérigos que se casavam com viúvas o 
mesmo status concedido aos adúlteros, proibindo, inclusive, a ambos a permanência na vida 
eclesiástica. (CONCILIOS, 1963, CM. XXVI; XXVII, p. 94.) 
 
 Forma de luxúria, o adultério foi caracterizado como “pecado mortal” e, em algumas 
circunstâncias, comparado ao homicídio (IDEM, II CB, I, p. 111). O perfil marginal atribuído 
aos que incorressem no adultério pode ser quantificado nos sete anos de penitência definidos 
no II Concílio de Braga. Também ali se deliberou como uma das obrigações do bispo, a visita 
anual às suas dioceses para, entre outros cuidados, instruir os fiéis sobre como deveriam 
evitar o “crime do adultério” (IDEM, II CB, I, p. 111). 
 
 Raramente
uma prática julgada pecaminosa fora mencionada sem qualquer 
articulação com outros atos estigmatizados. A luxúria não representou uma exceção. Os 
pecados são independentes e por si só causariam estragos, a associação, portanto, visa 
ressaltar o potencial de gravidade que dispõem. Na construção da ampla relação de condutas 
marginalizadas, buscou-se estabelecer hierarquias e inter-relações. Dessa forma, se à 
soberba associou-se a marca de mais grave pecado, à luxúria esteve vinculada a idéia de 
que se constituía como prenúncio de outros erros. 
 
Os que estão submetidos aos prazeres das paixões carnais, 
dominam as mentes humanas e começam a disseminar esse 
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campo multiforme dos vícios. (MARTINHO, 1990, Sobre la 
Soberbia, p. 84). 
 
 A mentira, embora por si só tida como de pouca gravidade, pode se constituir como 
um traço marcante e deletério do marginal. Atentos à capacidade inerente à mentira de 
provocar desvios à reta condução, os bispos não descuidaram do tema. Assim, 
reconheceram como fundamental que nas visitas às dioceses essa fosse uma das 
lembranças: 
(...) visitando os bispos a cada uma de suas igrejas (...) reunidos 
os fiéis, instrua-lhes a fim de que fujam de diversos crimes, isto 
é, (...) do perjúrio, do falso testemunho (...). (CONCILIOS, 1963, 
II CB, I, p. 111). 
 
Entre as alusões feitas à mentira, duas se destacam. A primeira diz respeito às 
acusações contra os integrantes da hierarquia eclesiástica que teriam rompido o celibato. 
Embora, evidentemente, outros desvios pudessem ser cometidos pelos religiosos e a 
conseqüente delação eventualmente feita, vale observar que em toda a documentação 
apreciada as autoridades só expressam preocupação acerca das denúncias falaciosas 
quando associadas à luxúria do clero. Aos infratores, os mentirosos delatores, impõe-se, 
inclusive, penalidade exemplar. 
 
Se alguém acusa algum clérigo de fornicação (...) e não puder 
provar o que afirmou, sofrerá excomunhão. (CONCILIOS, 1963, 
II CB, VIII, p. 113). 
 
A segunda refere-se à sua contribuição para a manifestação de faltas como a soberba, 
a vanglória e a ira. No caso das duas primeiras, a relação se dá pelos falsos elogios. Aos que 
os proferem foram dedicadas menções especiais. Vejamos uma delas: 
“Com muita razão chamou-se o adulador com o nome de 
pecador, do qual a maior e pior falta, aos olhos de Deus, 
consiste em ter uma coisa no coração e manifestar outra com a 
boca”. (MARTINHO, 1990, Exhortation a la humildad, p. 88). 
 
 A mentira, na forma de falso testemunho ou injúria, reconhecia-se como uma das 
principais motivações da ira. De acordo com o juízo dos nossos autores, ninguém estaria 
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absolutamente imune nem a uma, nem a outra, dos “poderosos” aos “inferiores” (MARTINHO, 
1990, Sobre a Ira, p. 138). 
 
Cabe observar que, na primeira referência, a mentira aparece como elemento 
desestabilizador da própria instituição, já que seu praticante investe contra o corpo 
eclesiástico. Se recordarmos que a este corpo cabia a propagação de determinados valores e 
eventualmente a recusa de formas rivais de pensamento de maneira nem sempre explícita, 
compreenderemos o status de gravidade concedido àquele ato e, por conseguinte, a 
indicação de uma pena rigorosa. Na segunda, seu caráter danoso decorreria da possibilidade 
de estimular outras práticas indesejáveis, o que não obstante pudesse trazer problemas 
diversos, via de regra, constituía-se apenas como mais um traço, entre vários, a ser 
marginalizado. 
 
Ainda em relação ao acometido pela ira, provocado ou não por mentira, outras 
observações podem ser feitas. A começar pelo fato de que mereceu uma longa descrição da 
aparência física. Tal aparência, além de designar o furioso como o contaminado por “uma 
pequena loucura”, caracterizar-se-ia por um rosto enrubescido, lábios trêmulos, dentes 
cerrados, mãos inquietas e olhos ardentes (IDEM, p. 135). Segundo nossos autores, o 
sujeito raivoso possuía peculiaridades alarmantes, entre as quais, a sua capacidade de 
alastrar o erro. De acordo com a lógica adotada, diferentemente de outras práticas apontadas 
como marginais, a ira poderia atingir e prejudicar a muitos ao mesmo tempo. Vejamos tal 
perspectiva nos termos em que aparece em um dos documentos: 
Os demais vícios levantam a voz a um e a outro, a ira, pelo 
contrário, levanta a voz publicamente a muitos. Nunca um povo 
inteiro busca fornicar, (...) nem a ambição da honra se apodera 
de todos (...) a ira, entretanto, corre muitas vezes em tropel, 
como se fosse um corpo do exército (IDEM, p.136-137). 
 
O irado estaria ainda sujeito à modificação dos seus princípios, no limite à inversão dos 
seus valores mais arraigados, fossem eles de âmbito privado ou público. Nesse sentido, 
ressalta-se, por exemplo, que a mãe enraivecida transformar-se-ia em madrasta e o rei em 
tirano (IDEM, p. 136). 
 
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Conclusão 
O amplo projeto de normatização da sociedade formulado nas esferas clericais, embora 
não se apresente de forma sistematizada, perpassa grande parte da produção literária 
concebida nos reinos germânicos durante o processo de cristianização. O corpus documental 
eleito neste trabalho não foge à regra, ao contrário, da sua análise podemos depreender 
numerosos aspectos que se associam àquele projeto. 
Marcado pela ideologia cristã hegemônica, o referido corpus nos fornece elementos que 
podem ser identificados como marginais ao padrão de conduta recomendado aos fiéis, 
propagado como um modelo natural e universalizante. Tal identificação, independe da 
eficácia que a proposição do perfil adequado possa ter alcançado entre as populações, que 
de alguma forma tiveram acesso aos escritos em questão, ou da real constituição de agentes 
transgressores. 
 
À perspectiva idealizada de cristão e ao correspondente conjunto de comportamentos 
marginais vincularam-se, entre outras práticas, a vanglória; a soberba; a luxúria; o adultério; a 
mentira, e a ira. Considerando o contexto de cristianização, no qual a ampliação do número 
de fiéis e a manutenção dos convertidos no interior da fé são objetivos cobiçados, propalou-
se uma condescendência divina compatível com o reconhecimento da “fragilidade humana” e, 
portanto, pródiga no exercício da complacência e na concessão do perdão. A exceção da 
soberba, assumida como usurpação dos direitos da divindade, e das falsas acusações 
proferidas contra a moral clerical, nitidamente mais marginalizadas do que outras 
transgressões aqui analisadas, não se criticou com veemência qualquer outra prática. 
 
Em suma, ainda que elementos marginalizados não encontrassem necessariamente 
correspondência na materialidade das populações, a preocupação com a expansão e 
consolidação da fé, ao que se associava o projeto de normatização da sociedade, orientou 
indelevelmente a produção intelectual eclesiástica compreendida pelos escritos morais 
martinianos e pelas atas dos concílios bracarenses. 
 
 
 
 
Semana de Integração Acadêmica do Centro de Filosofia e Ciências Humanas 
 
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