Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
SALGADO, Simone da Silva Exclusão à vista - vivências e experiências de alunos na formação de professores SANCOVSCHI, Beatriz Ressonâncias entre a abordagem enativa de F. Varela e a Psicologia histórico-cultural de L. S.Vygotski: algumas considerações SANTANA, Cátia Sirlene Cunha de Representações sobre o professor secundário na revista da CADES – MEC (1950-1960) SANTOS, Cleusa Organismos internacionais e acumulação de capital: conexões entre a seguridade social e ocomércio internacional de serviços Organismos internacionais e acumulação de capital: conexões entre a seguridade social e ocomércio internacional de serviços na Previdência Social Organismos internacionais e acumulação de capital: conexões entre a seguridade social e ocomércio internacional de serviços na assistência social Organismos internacionais e acumulação de capital: conexões entre a seguridade social e ocomércio internacional de serviços na Saúde SANTOS, Cristiane Candido Sou pobre, entrei na Universidade: e agora? SANTOS, Luna Organismos internacionais e acumulação de capital: conexões entre a seguridade social e ocomércio internacional de serviços na assistência social SANTOS, Marcello Complexidade e emergência nas redes SANTOS, Michelle de Oliveira A clericalização do cotidiano: um estudo sobre o discurso episcopal no reino visigodo durante aprimeira metade do século VII SANTOS, Mônica Pereira dos Ressignificando a formação de professores para uma Educação Inclusiva SANTOS, Monique Ferreira dos Centro de Testagem e Aconselhamento para DST/HIV/AIDS do HUGG - Estudo de Perfil dosUsuários Organismos internacionais e acumulação de capital: conexões entre a seguridade social e ocomércio internacional de serviços na Previdência Social SANTOS, Renata da Silva A importância dos aspectos pragmáticos e subjetivos de inclusão social do Programa Universidadepara Todos: PROUNI SANTOS, Rodrigo Salles Pereira dos Redes sócio-políticas e desenvolvimento regional: o caso da região sul fluminense SANTOS, Thales José Batalha dos A importância dos aspectos pragmáticos e subjetivos de inclusão social do Programa Universidadepara Todos: PROUNI SANTOS, Viviane Silva Pensar a formação do estudante universitário de origem popular a partir da extensão: umaperspectiva em construção SCARDUA, Anderson Representações sociais da liberdade e auto-apresentação individual - uma investigação psicossocial SCHELB, Letícia Alves Quem são os licenciados da UFRJ? A importância de se perguntar pelo outro na construção deuma educação inclusiva Ressignificando a formação de professores para uma Educação Inclusiva SETEMY, Adrianna Cristina Lopes A Ditadura Militar e a construção de suas memórias SETÚBAL, M. A pesquisa na Universidade: inserção dos alunos de Graduação e Pós-graduação SILVA JUNIOR, Jorge Ujá C. da Pensar a formação do estudante universitário de origem popular a partir da extensão: umaperspectiva em construção SILVA, André Januário da O projeto cinematográfico dos musicais SILVA, André Schimidt da A importância das redes sociais e das novas tecnologias da informação e comunicação para acompreensão do desenvolvimento SILVA, Andréia Cristina Lopes Frazão da A construção genderificada da santidade na hagiografia mediterrânica do século XIII SILVA, Daniela Zanotti da Parceiros(as) ideais e parceiros(as) reais e bem-estar subjetivo SILVA, Danielle Cardoso da Conhecimento & Práxis: Considerações sobre a relação entre teoria e prática no Serviço Social Trabalho e formação profissional: uma análise do perfil dos assistentes sociais fora do exercícioprofissional no Rio de Janeiro SILVA, Dayse de Paula Marques O impacto das relações de gênero e etnia no Serviço Social e na Medicina: o que afirmar? SILVA, Elaine Rangel da Pensar a formação do estudante universitário de origem popular a partir da extensão: umaperspectiva em construção SILVA, Gabriella Valle Dupim da Psicanálise e juventude: uma proposta de intervenção Semana de Integração Acadêmica do Centro de Filosofia e Ciências Humanas Desafios às Ciências Humanas e Sociais Seminário Internacional Desafios da Integração Sul-americana _______________________________ CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS - UFRJ menu Seminário Apresentação Minicursos Trabalhos Autores Fotos Sessão de Posters Sessões Coordenadas Atividades Culturais Ficha Técnica Localizar: A | B | C | D e E | F e G | H a K | L | M | N e O | P | R | S | T a ZArquivos em formato .pdf Untitled Document file:///F:/autoresS.html 1 de 3 20/7/2012 00:53 SILVA, Hilton P. Pensando a participação da sociedade na gestão do conselho de Unidade de Conservação: o casodo Conselho Gestor da Ilha do Mel SILVA, Ítala Byanca Morais da A Sociedade Capistrano de Abreu e os discípulos do “Mestre-amigo”: Paulo Prado e o "Caminho doMar" SILVA, Josélia de Castro A multidão no Estado Novo - um estudo acerca das manifestações populares ocorridas no Rio deJaneiro em julho-agosto de 1942 e sua relação com a entrada do Brasil na II Guerra Mundial Uma análise da política externa e interna de Brasil e Argentina no fim da Segunda Guerra Mundial einício da Guerra Fria (1945 e 1948) SILVA, Juliana Ferreira da A negociação de conflitos entre o inquérito e a disciplina SILVA, Kátia Regina Xavier da Criatividade e inclusão na formação de professores SILVA, Leila Rodrigues da Referências acerca da tomada do Reino Suevo pelos visigodos nas atas do III Concílio de Toledo enas Histórias Sueborum e História Gothorum de Isidoro de Sevilha Marginalidade e exclusão: aspectos da produção intelectual eclesiástica no Reino Suevo SILVA, M. S. A pesquisa na Universidade: inserção dos alunos de Graduação e Pós-graduação SILVA, Marenilse S. Projeto de Extensão:Exclusão social e poder local: o enfrentamento da exclusão social pelo poder público (PrefeiturasMunicipais) SILVA, Monique Stony da A importância das redes sociais e das novas tecnologias da informação e comunicação para acompreensão do desenvolvimento SILVA, Paulo Duarte Sermões Pascalinos de Cesário de Arles: atuação episcopal e ciclo pascalino na Gália no século VI SILVA, Robert Jefferson de M. e Interdisciplinaridade na formação de bolsistas de extensão: a experiência do perfil diagnóstico daVila Residencial da UFRJ SILVA, Rodrigo de Souza e As transformações no mundo do trabalho e seus rebatimentos na saúde SILVEIRA, Maria Lídia Souza da Processos de subjetivação instituintes: desamparo, atividade e produção de outros possíveis A importância dos processos de formação política no interior de práticas junto a movimentossociais SILVEIRA, Verônica da Costa Referências acerca da tomada do Reino Suevo pelos visigodos nas atas do III Concílio de Toledo enas Histórias Sueborum e História Gothorum de Isidoro de Sevilha SILY, Paulo Rogério Marques Professores de História em destaque entre alunos e colegas de ofício SOARES, André Eduardo da Silva O Império Romano e a Primeira Dinastia Imperial: estratégias e táticas através da historiografia eliteratura SOARES, Carlos Eduardo A cena cotemporânea e a pesquisa com Kinesis Núcleo de Artes Cênicas SOARES, Fernanda Caldas Organismos internacionais e acumulação de capital: conexões entre a seguridade social e ocomércio internacional de serviços na Saúde Oragnismos internacionais e acumulação de capital: conexões entre a seguridade social e ocomércio internacional de serviços na assistência social SOARES, Ilma Rezende Interdisciplinaridade na formação de bolsistas de extensão: a experiência do perfil diagnóstico daVila Residencial da UFRJ SOARES, Maria Raimunda Penha Universidade Pública e Movimentos Sociais: Reflexões sobre experiências de formação com o MST SOARES, Maria Valdiza Rogério A virgindade em Leandro de Sevilha, século VI, e Clara de Assis, século XIII: uma análisecomparativa SOARES, Maurício Caetano Matias Um quadro de moldura duvidosa: a saúde entre o público e o privado SONODA, Katerine da Cruz Pensando o desenvolvimento sustentável SOTO, Narda Idália Juarez Síntese de polipropileno e copolímeros SOUZA FILHO, Edson de Representações e retóricas de negociação segundo o grupo sociocultural - novos aristocratas eseus subordinados Identidades psicossociais, auto-apresentação e perspectivas históricas e culturais SOUZA, Adriana Conceição de Leovigildo e a revisão Código de Eurico SOUZA, Cecília de Mello Participação Social: As Contribuições de um agente externo em uma comunidade popular da zonaoeste do Rio de Janeiro Responsabilidade social empresarial: e projetos de desenvolvimento comunitário SOUZA, Cláudia Reis O impacto das relações de gênero e etnia no Serviço Social e na Medicina: o que afirmar? SOUZA, Isabela Gláucia Um olhar sobre a política de segurança norte-americana: a Doutrina Bush antes e após o 11 desetembro SOUZA, Jeneffer de Identidades psicossociais, auto-apresentação e perspectivas históricas e culturais SOUZA, Jorge José Barros de O Movimento de Cultura Popular de Recife e os homens de boa vontade: comunistas e católicosde esquerda de mãos dadas com a educação e cultura popular SOUZA, Kátia Edmundo Movimentos Populares e a causa da AIDS no Rio de Janeiro SOUZA, Maria Inês Galvão Um olhar etnográfico sobre as danças de salão: rede complexa de sentidos e significados SOUZA, Maria Lúcia Galvão A cena contemporânea e a pesquisa com Kinesis Núcleo de Artes Cênicas SOUZA, Valéria Fernandes de Educação à Distância: Participação, Cidadania e Internet SOUZA, Vanessa Bezerra de O gênero como categoria em disputa entre Modernidade e Pós-modernidade SPILLER, Lílian Káram Parente Cury Ensino de funções no Ensino Médio SZAPIRO, Ana Maria Escolha profissional em pré-vestibulares comunitários: jovens de classes populares e suas relaçõescom o trabalho Untitled Document file:///F:/autoresS.html 2 de 3 20/7/2012 00:53 De 22 a 26 de maio de 2006 * Local: Campus da Praia Vermelha * www.cfch.ufrj.br Realização Patrcínios: Untitled Document file:///F:/autoresS.html 3 de 3 20/7/2012 00:53 Semana de Integração Acadêmica do Centro de Filosofia e Ciências Humanas 1 MARGINALIDADE E EXCLUSÃO: ASPECTOS DA PRODUÇÃO INTELECTUAL ECLESIÁSTICA NO REINO SUEVO SILVA, Leila Rodrigues da (UFRJ) Introdução O processo de cristianização dos reinos germânicos constituídos nos séculos V e VI mobilizou esforços vultosos das elites clericais. Embora as especificidades que caracterizaram tais reinos tenham marcado significativamente os encaminhamentos adotados pelos eclesiásticos, em linhas gerais, identificamos um conjunto de iniciativas comuns. Entre essas iniciativas, podemos destacar o zelo com a redação de escritos dedicados aos fiéis laicos e clérigos. Estes materiais possuem, entre outros aspectos, indícios acerca da proposição de modelos de comportamento considerados adequados, bem como alusões a condutas incompatíveis com o padrão cristão. Assim, a partir da análise de algumas orientações presentes em tais escritos, podemos depreender não apenas a promoção de determinados procedimentos e valores morais, mas também a indicação de perfis transgressores e marginais. Tendo como referência tais questões, desenvolvemos no momento a pesquisa intitulada O processo de organização eclesiástica e a normatização da sociedade nos reinos suevo e visigodo: perspectivas analítica e comparativa, à qual hoje se encontram vinculadas dezesseis orientações, entre alunos de graduação, pós-graduação e recém egressos. De acordo com nossos pressupostos, a despeito da presença ou não de intencionalidade, constatamos, a existência de um amplo projeto de normatização da sociedade, formulado nas esferas clericais. Tal projeto, ainda que marcado por contradições e pouca sistematização, norteia-se por uma dada ideologia e pode ser apreendido do exame do rico material produzido pelo episcopado no âmbito dos reinos germânicos. Neste texto, objetivamos, em conformidade com a pesquisa indicada, refletir, com o foco no reino suevo na segunda metade do século VI, acerca de algumas das referências Semana de Integração Acadêmica do Centro de Filosofia e Ciências Humanas 2 presentes no corpus documental, compreendido pelos escritos morais do bispo de Dume e Braga, autoridade máxima da Igreja local na ocasião, e pelas atas dos concílios bracarenses, que podem ser associadas à concepção de marginalidade forjada pela elite episcopal. Aproximações ao objeto Ao aprofundamento de nossas reflexões relacionam-se de forma direta algumas conclusões prévias sobre ideologia e marginalidade. Da ideologia devemos notar que, quando é hegemônica, busca se manter como tal. Nesse sentido, favorece certas crenças e valores propagados como naturais e universalizantes, classificados, assim, como únicos e verdadeiros. Ao mesmo tempo, via de regra, desqualifica proposições que representem algum desafio e recusa formas rivais de pensamento, utilizando-se, eventualmente, de uma lógica que obscurece a realidade, que nem sempre é explícita ou sistemática (EAGLETON, 1997, p. 19). Acreditamos, como voltaremos a ressaltar adiante, que quanto maior a nossa capacidade de compreensão dessa lógica, melhor para a análise que dela faremos. Jean-Claude Schmitt (1993, p. 261-290) nos recorda que o interesse dos historiadores pelos marginais, mesmo que em consonância com um viés romântico, manifesta-se ainda no século XIX. Deste momento até a década de 70 do século seguinte, período em que o objeto se constituiu como tal, muito se percorreu. Nessa trajetória foi fundamental o movimento desencadeado pelos annales, responsável por uma renovada percepção do campo da história. Orientações teóricas e metodológicas marcadas por novas diretrizes estimularam a retomada de antigos materiais. Potencialmente desse reencontro poder-se-ia depreender o que até então não havia suscitado atenção. Outras perguntas foram realizadas, as entrelinhas, o não dito, ganharam tanta ou mais proeminência do que o explicitamente evidenciado. Desconfiar do documento, passou a ser o encaminhamento recomendável. Desse processo pôde derivar vários desdobramentos, com realce para uma maior deferência aos agentes sociais tradicionalmente esquecidos. A consideração destes vislumbra-se a partir de então, em pelo menos duas situações distintas. Primeira, por meio de uma abordagem que os remeta ao centro das atenções, com o enfoque da “história vista de baixo”. De acordo com esse viés, Jim Sharpe salienta, por exemplo, a relevância que uma Semana de Integração Acadêmica do Centro de Filosofia e Ciências Humanas 3 carta escrita por um soldado, ou seja, um militar de baixa patente, assumiu no estudo das Guerras Civis Inglesas (SHARPE, 1992, p. 39-41). Segundo. Pela possibilidade do pesquisador consciente e deliberadamente identificá-los como idealizações. Aqui, na revisitação às fontes, não há que necessariamente procurar o marginal ou o excluído real, até porque ele nem sempre é alcançável, mas à luz das novas orientações teóricas e metodológicas buscar compreender um pouco mais sobre a lógica do próprio processo de argumentação, que pode expressar valiosas nuanças do pensamento dos que escreveram e, portanto, da ideologia hegemônica. Tendo em vista nossos interesses pelo discurso eclesiástico e não pelas suas repercussões junto àqueles para os quais fora produzido, regozijamo-nos, pois, especialmente com a segunda das duas possibilidades. Em suma, mais do que caracterizar o marginal ou o excluído como o sujeito histórico real e ouvir sua própria voz; importa-nos identificá-lo como fora idealizado, o que certamente se vincula muito mais à realidade e à lógica do seu artífice. Os documentos O corpus documental utilizado foi produzido a partir de meados do século VI e pode ser agrupado em dois blocos de naturezas distintas: obras morais e atas conciliares. O primeiro conjunto é composto dos seguintes escritos: Item De Superbia; Pro Repellenda Jactantia; Exhortatio Humilitatis e De Ira (MARTINHO DE BRAGA,1990).1 Redigidos pelo bispo de Dume e Braga, Martinho, além de se caracterizarem por seu cunho moralizante, os referidos documentos contém menções explícitas a vícios e virtudes. O tom adotado pelo autor é conselheiro e as admoestações são aplicadas com fartura. Sabemos que tais materiais não chegavam às populações de forma direta, visto que esta, em sua maioria, sequer era alfabetizada. Contudo, conforme orientações recorrentes na literatura eclesiástica, cabia ao corpo clerical o repasse do conteúdo de tais escritos aos fiéis. Em algumas circunstâncias, recomendavam-se, inclusive, detalhes sobre a forma da preleção a ser adotada durante as missas e demais cerimônias religiosas. 1 De Formula Vitae Honestae, embora identificado com um dos escritos morais de Martinho de Braga, ao enfocar a vanglória, soberba, ira, adultério e mentira, não acrescenta comentários aos já anteriormente feitos nas obras destacadas. Semana de Integração Acadêmica do Centro de Filosofia e Ciências Humanas 4 Aqui devemos lembrar que, embora não estejamos mobilizados a avaliar aspectos da repercussão que tais documentos alcançaram junto ao público a que se destinou, interessa- nos observar que certos dados foram valorizados por seus autores estimulados pela possibilidade de êxito, ou seja, pela perspectiva de que seus discursos fossem apreendidos. Tal estímulo, sem dúvida, constituí-se como relevante na análise dos elementos presentes na concepção de marginalidade formulada pelo episcopado, ainda que tal proposição independa da materialidade das condições dos pretensos marginais. O segundo se trata das atas dos concílios I e II de Braga (CONCILIOS, 1963, p. 97- 132), realizados em 561 e 572, poucos anos, portanto, após a conversão dos suevos ao cristianismo niceno que ocorreu em 559. Além dos vários participantes das ordens menores e maiores da hierarquia eclesiástica que normalmente compareciam a tais eventos, registramos a presença de dezessete bispos, três dos quais estiveram nas duas atividades. Ainda que a redação do citado conjunto seja, assim como nos documentos anteriormente mencionados, de Martinho, as atas conciliares exibem deliberações acordadas pela hierarquia episcopal. Se tal dado, por um lado, justifica a ausência do tom pessoal, quase paterno, que marcou as obras morais, por outro, revela a afinidade de pensamento dos integrantes dos eventos conciliares, já que as práticas e condutas criticadas no primeiro conjunto são também qualificadas como marginais no segundo. Logo, embora os dois grupos sejam formados por tipos distintos de documentos e tenham sido redigidos atendendo a lógicas diferenciadas, optamos por tratá-los conjuntamente. Alguns elementos de uma conduta marginal nos escritos morais e conciliares São muitos os aspectos classificados como vícios e erros pelos autores dos escritos enfocados: vanglória; soberba; luxúria; adultério; mentira; ira; avareza; orgulho; inveja; blasfêmia; furto; homicídio; suicídio; bestialidade; gula; preguiça, entre outros. Tendo em vista as limitações impostas pela natureza desse texto, restringiremos nossos comentários aos seis primeiros elementos. Cabe ressaltar que, independentemente da ênfase adotada, as formulações estão voltadas para populações já convertidas ao cristianismo, ou seja, idealiza-se determinados Semana de Integração Acadêmica do Centro de Filosofia e Ciências Humanas 5 comportamentos a serem seguidos por cristãos, em tese, grupos já familiarizados com os preceitos que balizam a fé. Como conseqüência, fora reservado um tom particularmente ríspido aos que incorrem na soberba, visto que tal erro se caracterizaria pelo não reconhecimento da autoridade da própria divindade. Martinho lhes dirige as seguintes palavras: “Aos que usurpam o Supremo, a meu modo de ver, não lhes restará outra coisa que não o inferno” (MARTINHO, 1990, Como há de rechazarse la jactância?, p. 76). Soberba e vanglória são estreitamente vinculadas ao longo dos documentos analisados. De uma diz-se decorrer a outra. Enquanto a vanglória levaria à busca incansável por elogios e reconhecimento, a soberba não garantiria a humildade suficiente para atribuir o mérito a quem de direito haveria que ser glorificado: Deus. Os desejos de glória e admiração são rechaçados especialmente pela capacidade que possuem de subverter a ordem em seu sentido lato, não apenas a ordem divina, segundo a qual a Deus devem ser remetidos todos os feitos memoráveis, mas também a ordem social, já que constituída sob a supervisão divina. Evidentemente, não são estes os termos empregados por nosso autor, vejamos o que diz a respeito. [Desejando elogios] os meninos se pretendem adolescentes; os adolescentes simulam a força dos homens, estes desejam que se lhe atribua a prudência dos anciãos (...) as mulheres, dado que não podem ser varões pelo sexo, presumem ser pelo espírito. Os rústicos gostam de ser considerados cortesãos. Os cortesãos pretendem ser venerados como se fossem reis. E os reis sonham com o poder de Deus. (IDEM, p.76). O estilo nem sempre esteve marcado pela severidade. Na verdade, na maior parte das vezes, evidencia condescendência e tem em conta a “frágil condição humana” (IDEM, p.75). Apesar das repercussões do discurso produzido, como já mencionamos, não estarem em questão, há que se ponderar que não interessaria a construção de proposições, ainda que idealizadas, que provocassem o afastamento dos que não mantinham com a instituição relações estáveis, visto que recentemente convertidos. A imagem de uma religião benevolente deveria ser propagada. Nesse sentido, afirma Martinho: (...) até os mais santos caem muitas vezes. E se até os homens mais prudentes se equivocam, qual será então o equívoco que Semana de Integração Acadêmica do Centro de Filosofia e Ciências Humanas 6 não mereça ser perdoado? (MARTINHO, 1990, Sobre a Ira, p. 140-1). O adultério e a luxúria, como a vanglória e a soberba, aparecem freqüentemente associados. A instituição eclesiástica, ao sublinhar a monogamia como um dos fundamentos do casamento, forneceu à elite episcopal presente aos concílios bracarenses a base dos argumentos adotados. Os bispos, além do previsível à nossa percepção, ou seja, qualificarem como prática adúltera o fato de uma mulher ou de um homem compartilhar o seu leito com mais de um(a) companheiro(a), insistiram que a viuvez não minoraria a falta. Desse modo, a despeito da tradição patrística ter salientado que o casamento de viúvos(as) se constituía como algo legítimo (AGOSTINHO, 1954, L. 1; XXV, p. 386; L. 2 ; II, p. 394; L.2 ;V, p. 398), os cânones bracarenses conferiam aos clérigos que se casavam com viúvas o mesmo status concedido aos adúlteros, proibindo, inclusive, a ambos a permanência na vida eclesiástica. (CONCILIOS, 1963, CM. XXVI; XXVII, p. 94.) Forma de luxúria, o adultério foi caracterizado como “pecado mortal” e, em algumas circunstâncias, comparado ao homicídio (IDEM, II CB, I, p. 111). O perfil marginal atribuído aos que incorressem no adultério pode ser quantificado nos sete anos de penitência definidos no II Concílio de Braga. Também ali se deliberou como uma das obrigações do bispo, a visita anual às suas dioceses para, entre outros cuidados, instruir os fiéis sobre como deveriam evitar o “crime do adultério” (IDEM, II CB, I, p. 111). Raramente uma prática julgada pecaminosa fora mencionada sem qualquer articulação com outros atos estigmatizados. A luxúria não representou uma exceção. Os pecados são independentes e por si só causariam estragos, a associação, portanto, visa ressaltar o potencial de gravidade que dispõem. Na construção da ampla relação de condutas marginalizadas, buscou-se estabelecer hierarquias e inter-relações. Dessa forma, se à soberba associou-se a marca de mais grave pecado, à luxúria esteve vinculada a idéia de que se constituía como prenúncio de outros erros. Os que estão submetidos aos prazeres das paixões carnais, dominam as mentes humanas e começam a disseminar esse Semana de Integração Acadêmica do Centro de Filosofia e Ciências Humanas 7 campo multiforme dos vícios. (MARTINHO, 1990, Sobre la Soberbia, p. 84). A mentira, embora por si só tida como de pouca gravidade, pode se constituir como um traço marcante e deletério do marginal. Atentos à capacidade inerente à mentira de provocar desvios à reta condução, os bispos não descuidaram do tema. Assim, reconheceram como fundamental que nas visitas às dioceses essa fosse uma das lembranças: (...) visitando os bispos a cada uma de suas igrejas (...) reunidos os fiéis, instrua-lhes a fim de que fujam de diversos crimes, isto é, (...) do perjúrio, do falso testemunho (...). (CONCILIOS, 1963, II CB, I, p. 111). Entre as alusões feitas à mentira, duas se destacam. A primeira diz respeito às acusações contra os integrantes da hierarquia eclesiástica que teriam rompido o celibato. Embora, evidentemente, outros desvios pudessem ser cometidos pelos religiosos e a conseqüente delação eventualmente feita, vale observar que em toda a documentação apreciada as autoridades só expressam preocupação acerca das denúncias falaciosas quando associadas à luxúria do clero. Aos infratores, os mentirosos delatores, impõe-se, inclusive, penalidade exemplar. Se alguém acusa algum clérigo de fornicação (...) e não puder provar o que afirmou, sofrerá excomunhão. (CONCILIOS, 1963, II CB, VIII, p. 113). A segunda refere-se à sua contribuição para a manifestação de faltas como a soberba, a vanglória e a ira. No caso das duas primeiras, a relação se dá pelos falsos elogios. Aos que os proferem foram dedicadas menções especiais. Vejamos uma delas: “Com muita razão chamou-se o adulador com o nome de pecador, do qual a maior e pior falta, aos olhos de Deus, consiste em ter uma coisa no coração e manifestar outra com a boca”. (MARTINHO, 1990, Exhortation a la humildad, p. 88). A mentira, na forma de falso testemunho ou injúria, reconhecia-se como uma das principais motivações da ira. De acordo com o juízo dos nossos autores, ninguém estaria Semana de Integração Acadêmica do Centro de Filosofia e Ciências Humanas 8 absolutamente imune nem a uma, nem a outra, dos “poderosos” aos “inferiores” (MARTINHO, 1990, Sobre a Ira, p. 138). Cabe observar que, na primeira referência, a mentira aparece como elemento desestabilizador da própria instituição, já que seu praticante investe contra o corpo eclesiástico. Se recordarmos que a este corpo cabia a propagação de determinados valores e eventualmente a recusa de formas rivais de pensamento de maneira nem sempre explícita, compreenderemos o status de gravidade concedido àquele ato e, por conseguinte, a indicação de uma pena rigorosa. Na segunda, seu caráter danoso decorreria da possibilidade de estimular outras práticas indesejáveis, o que não obstante pudesse trazer problemas diversos, via de regra, constituía-se apenas como mais um traço, entre vários, a ser marginalizado. Ainda em relação ao acometido pela ira, provocado ou não por mentira, outras observações podem ser feitas. A começar pelo fato de que mereceu uma longa descrição da aparência física. Tal aparência, além de designar o furioso como o contaminado por “uma pequena loucura”, caracterizar-se-ia por um rosto enrubescido, lábios trêmulos, dentes cerrados, mãos inquietas e olhos ardentes (IDEM, p. 135). Segundo nossos autores, o sujeito raivoso possuía peculiaridades alarmantes, entre as quais, a sua capacidade de alastrar o erro. De acordo com a lógica adotada, diferentemente de outras práticas apontadas como marginais, a ira poderia atingir e prejudicar a muitos ao mesmo tempo. Vejamos tal perspectiva nos termos em que aparece em um dos documentos: Os demais vícios levantam a voz a um e a outro, a ira, pelo contrário, levanta a voz publicamente a muitos. Nunca um povo inteiro busca fornicar, (...) nem a ambição da honra se apodera de todos (...) a ira, entretanto, corre muitas vezes em tropel, como se fosse um corpo do exército (IDEM, p.136-137). O irado estaria ainda sujeito à modificação dos seus princípios, no limite à inversão dos seus valores mais arraigados, fossem eles de âmbito privado ou público. Nesse sentido, ressalta-se, por exemplo, que a mãe enraivecida transformar-se-ia em madrasta e o rei em tirano (IDEM, p. 136). Semana de Integração Acadêmica do Centro de Filosofia e Ciências Humanas 9 Conclusão O amplo projeto de normatização da sociedade formulado nas esferas clericais, embora não se apresente de forma sistematizada, perpassa grande parte da produção literária concebida nos reinos germânicos durante o processo de cristianização. O corpus documental eleito neste trabalho não foge à regra, ao contrário, da sua análise podemos depreender numerosos aspectos que se associam àquele projeto. Marcado pela ideologia cristã hegemônica, o referido corpus nos fornece elementos que podem ser identificados como marginais ao padrão de conduta recomendado aos fiéis, propagado como um modelo natural e universalizante. Tal identificação, independe da eficácia que a proposição do perfil adequado possa ter alcançado entre as populações, que de alguma forma tiveram acesso aos escritos em questão, ou da real constituição de agentes transgressores. À perspectiva idealizada de cristão e ao correspondente conjunto de comportamentos marginais vincularam-se, entre outras práticas, a vanglória; a soberba; a luxúria; o adultério; a mentira, e a ira. Considerando o contexto de cristianização, no qual a ampliação do número de fiéis e a manutenção dos convertidos no interior da fé são objetivos cobiçados, propalou- se uma condescendência divina compatível com o reconhecimento da “fragilidade humana” e, portanto, pródiga no exercício da complacência e na concessão do perdão. A exceção da soberba, assumida como usurpação dos direitos da divindade, e das falsas acusações proferidas contra a moral clerical, nitidamente mais marginalizadas do que outras transgressões aqui analisadas, não se criticou com veemência qualquer outra prática. Em suma, ainda que elementos marginalizados não encontrassem necessariamente correspondência na materialidade das populações, a preocupação com a expansão e consolidação da fé, ao que se associava o projeto de normatização da sociedade, orientou indelevelmente a produção intelectual eclesiástica compreendida pelos escritos morais martinianos e pelas atas dos concílios bracarenses. Semana de Integração Acadêmica do Centro de Filosofia e Ciências Humanas 10 Referências Bibliográficas Documentos medievais impressos AGOSTINHO. De Coniugiis Adulterinis. Versión e introducción por Lope Cilleruelo. Madrid: BAC, 1954. (Obras de San Agustin, T. XII.). Concilios Visigóticos e Hispano-Romanos. Edición Jose Vives. Madrid: CSIC. Instituto Enrique Florez, 1963. BRAGA, Martinho de. Obras Completas. Versión castellana, edición y notas por Ursicino Dominguez del Val. Madrid: Fundación Universitaria Española, 1990. Bibliografia específica Atas da XIV Semana Internacional de Direito Canônico. O Concílio de Braga e a Função da Legislação Particular da Igreja. Braga: 1975. CASAGRANDE, Carla e VECCHIO, Silvana. Pecado. In: LE GOFF, Jacques et SCHMITT, Jean-Claude. (Orgs). Dicionário Temático do Ocidente Medieval. Imprensa Oficial de São Paulo. Edusc, 2002. 2V. v.2. p. 337-351. DUBY, Georges. “O casamento na sociedade da Alta Idade Média”. In: IDEM, Idade Média, Idade dos Homens. São Paulo: Cia das Letras, 1989. EAGLETON, Terry. Ideologia: uma introdução. São Paulo: UNESP, 1997. FERREIRO, Alberto. The Missionary Labors of St. Martin of Braga in 6th Century Galicia. Studia Monastica, Barcelona, v. 23, n. 1, p. 11-26, 1981. GOMES, Manuel Jorge da Silva. S. Martinho de Dume: a sua ação litúrgico-pastoral. In: Actas do Congresso Internacional do IX Centenário de Dedicação da Sé de Braga. Braga, 1990. v. 3. p. 157-166. GUTIERREZ PARDINA, Jesús. La prohibición de las segundas nupcias de la viuda de clérigo en los concilios hispanos tardoantiguos. Hispania Sacra, 114, p. 423-444, 2004. JAVIER LOMAS, Francisco et DEVÍS, Federico (Ed.) De Constantino a Carlomagno. Disidentes, Heterodoxos, Marginados. Cadiz: Universidad de Cadiz, 1992. MANTEL, Maria Marcela. Delitos y pecados en la sociedad visigoda: entre lo civil y lo religioso, lo público y lo privado. Estudios de historia de Espana, Buenos Aires, 6, 13-24, 2004. Semana de Integração Acadêmica do Centro de Filosofia e Ciências Humanas 11 SCHMITT, Jean-Claude. A história dos marginais. In: LE GOFF, Jacques. A História Nova. São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 261-290. SHARPE, Jim. A História vista de Baixo. In: BURKE, Peter. (Org.) A Escrita da História. São Paulo: UNESP, 1992. p. 39-62. ZAREMSKA, Hanna. Marginais. In: LE GOFF, Jacques et SCHMITT, Jean-Claude. (Orgs). LE GOFF, Jacques et SCHMITT, Jean-Claude. (Orgs). Dicionário Temático do Ocidente Medieval. São Paulo: Imprensa Oficial de São Paulo. Edusc, 2002. 2V. v.2. p.121-136.
Compartilhar