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TRIBUNAL DO JÚRI E EXECUÇÃO PENAL 
 
Módulo: Direito Penal 
 
 
Tema 01: Princípios Gerais 
 
 
Introdução 
 
Em busca do aprimoramento das técnicas pertinentes ao Tribunal do Júri e à 
Execução Penal, busca-se o aprimoramento por meio da incorporação de temas 
relevantes e de maior ressonância no âmbito estudado. Nesse sentido, relevante tratar 
dos pontos mais caros para aqueles da carreira, dentre os quais incluímos, assim, 
juízes, promotores de justiça, advogados, delegados de polícia e outras pessoas de 
diferentes áreas de atuação. Evidente, então, que a oportunidade se constrói em meio 
diversificado, plural, o que possibilita a articulação dos temas de forma ampla. 
Dois são os grupos de temas relevantes para o debate a ser desenvolvido no 
âmbito do Júri e da Execução Penal: o primeiro aborda os fundamentos do Direito Penal 
e Processo Penal, permitindo que os alunos se familiarizem com as bases dessas áreas 
antes do mergulho no segundo grupo, ou seja, nos assuntos específicos do Tribunal do 
Júri. 
Nesse processo, aprofundar-se-á no estudo dos princípios básicos do Direito 
Penal, uma etapa essencial para a compreensão dos conceitos e princípios que regem 
o sistema jurídico. 
 
 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Atualmente, para obter o máximo de aproveitamento e absorção do tema em 
debate, busca-se uma abordagem flexível, uma linguagem adequada e o contato direto 
com os temas discutidos, ou seja, a possibilidade de apropriação da matéria 
contemplada. 
A constância nos estudos é enfatizada como uma estratégia para o sucesso, 
seja em concursos públicos ou no desenvolvimento profissional contínuo e, para o 
profissional da área criminal, a matéria de princípios surge como um primeiro passo para 
a compreensão de todos os demais temas, uma vez que o campo dogmático a ser 
explorado deve sempre ser interpretado à luz desses. 
Os princípios básicos do Direito Penal são explorados cuidadosamente, pois 
constituem a base do sistema jurídico, proporcionando alicerces sólidos para o Tribunal 
do Júri e a execução penal. 
Ressalta-se a importância da revisão desses princípios ao longo de todo o 
estudo, o que se demanda até mesmo de profissionais experientes, pois a reciclagem 
do conhecimento é sempre valiosa para o aprimoramento de nossas habilidades 
jurídicas. 
Profícuo é o debate dos assuntos pertinentes ao Direito Penal e Processo 
Penal, nesse sentido, compartilhar experiências com demais profissionais da área é o 
que garantirá a cortante evolução do conhecimento. 
Destaca-se que o que se pretende é gerar alicerce para uma abordagem 
completa sobre os temas relacionados ao Tribunal do Júri e Execução Penal. 
Para além da exploração da letra fria da lei, devem ser adotadas estratégias de 
ensino e aprendizagem baseadas em experiências pessoais para garantir que o 
conhecimento seja transmitido e captado de forma clara e objetiva. 
Nesse sentido, importante que o aluno relacione o tema discutido à casos 
concretos, às notícias e acompanhe o debate municiado das informações 
disponibilizadas no material. 
Neste primeiro momento, destaca-se a importância de uma cadência contínua 
de estudos, algo essencial para uma preparação eficaz e um bom desempenho em 
avaliações e na prática profissional. A revisão periódica e a prática constante são 
recomendadas para a consolidação do conhecimento e o aprimoramento das nossas 
habilidades jurídicas. 
 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Ao fim do material, deve-se ter em mente que a sedimentação do conhecimento 
sobre os princípios gerais aplicáveis à matéria criminal deve permitir que o aluno os 
utilize como argumento na vida prática. 
 
 
Princípios 
 
Aprofundaremos a análise dos princípios básicos do Direito Penal. A relevância 
desses princípios é inquestionável, uma vez que eles norteiam toda a estrutura do 
sistema jurídico criminal e garantem a justiça e o respeito aos direitos fundamentais dos 
indivíduos. 
Os princípios do Direito Penal são as bases fundamentais que orientam a 
construção e aplicação das normas penais em um determinado ordenamento jurídico. 
Eles representam diretrizes e valores essenciais que buscam garantir a justiça, a 
segurança jurídica e a proteção dos direitos individuais e sociais. Os princípios são 
aplicáveis tanto na criação das leis penais pelo poder legislativo quanto na interpretação 
e aplicação dessas leis pelos órgãos do sistema de justiça. 
 
Alguns dos principais princípios do Direito Penal são: 
 
• Princípio da legalidade (ou reserva legal): Estabelece que não há crime 
nem pena sem prévia cominação legal. Ou seja, para que uma conduta 
seja considerada criminosa e para que alguém possa ser punido por ela, 
é indispensável que exista uma lei que defina essa conduta como crime 
e estabeleça a respectiva pena. 
 
• Princípio da anterioridade: Determina que a lei penal deve ser anterior ao 
ato delituoso. Isso implica que uma pessoa não pode ser 
responsabilizada por uma conduta que, no momento de sua prática, não 
era considerada crime pela legislação. 
 
 
 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
• Princípio da culpabilidade: Pressupõe que a responsabilização penal do 
indivíduo exige a comprovação de sua culpabilidade, ou seja, a 
demonstração de que ele agiu de forma voluntária e consciente, tendo 
conhecimento da ilicitude de sua conduta. 
 
• Princípio da intervenção mínima: Defende que o Direito Penal deve ser 
utilizado apenas em última instância, ou seja, somente quando outras 
formas de controle social e prevenção não forem suficientes para 
proteger bens jurídicos e garantir a ordem social. 
 
• Princípio da humanização das penas: Preconiza que as penas impostas 
aos infratores devem ser proporcionais ao delito cometido, evitando-se 
tratamentos cruéis, degradantes ou desumanos. 
 
• Princípio da individualização da pena: Determina que a pena aplicada ao 
infrator deve ser individualizada, levando em consideração suas 
circunstâncias pessoais, a gravidade do delito e as consequências do 
crime. 
 
• Princípio da proporcionalidade: Exige que as medidas punitivas sejam 
proporcionais ao dano causado pelo crime, evitando-se excessos ou 
penas desproporcionais. 
 
• Princípio da presunção de inocência: Estabelece que toda pessoa é 
considerada inocente até que sua culpabilidade seja comprovada de 
forma definitiva e em julgamento justo. 
 
• Princípio da legalidade da prova: Garante que as provas obtidas de forma 
ilícita ou ilegal não podem ser admitidas em um processo penal, 
protegendo o direito à privacidade e a integridade do devido processo 
legal. 
 
 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Esses são alguns dos princípios do Direito e do Processo Penal sobre os quais 
deve-se aprofundar o debate nos tópicos que seguem. A observância desses princípios 
é essencial para a construção de um sistema de justiça criminal justo, equilibrado e que 
respeite os direitos fundamentais dos indivíduos. 
Dando início ao tratamento aprofundado dos princípios temos o princípio da 
reserva legal, também conhecido como princípio da estrita legalidade, é o alicerce que 
fundamenta todo o ordenamento jurídico penal brasileiro. Sua essência reside no fato 
de que não pode haver crime ou pena sem prévia definição legal. Ou seja, somente 
aquilo que está expressamente previsto em lei como crime pode ser punido e apenas 
dentro dos limites estabelecidos pela legislação. 
 
Num primeiro momento, a limitação do poder punitivo estatal e a garantia de 
uma esfera intangível de liberdade do indivíduo, no âmbito do estado liberal, 
justificaram a necessidade da legalidade. Um fundamento sobre o qual o 
princípio da legalidade se baseia vem de postulado central do liberalismo 
político: a exigência de vinculação do Executivo e do Judiciário às leis 
formuladas de maneira abstrata.ou incentivado por outra norma jurídica. Um exemplo disso 
são as intervenções médico-cirúrgicas, que podem ser consideradas crimes de lesão 
corporal, mas são permitidas e respaldadas pelo Direito em certas circunstâncias. 
Portanto, o estudo da teoria do tipo penal é essencial para compreender a 
estrutura e os fundamentos do Direito Penal. A análise dos elementos objetivos, 
subjetivos e normativos nos possibilita uma interpretação mais precisa das normas 
jurídicas, garantindo a justa aplicação da lei e respeitando os direitos e garantias 
individuais dos cidadãos. É importante que profissionais do Direito, como advogados e 
juízes, tenham pleno domínio desses conceitos para assegurar uma justiça equitativa e 
imparcial em nossas sociedades. 
 
 
 
Tipicidade conglobante 
 
Abordar-se-á especificamente a tipicidade conglobante de Zaffaroni e a 
classificação dos tipos penais. Também discutirá a importância dos professores 
Zaffaroni e Pierangeli para o direito penal latino-americano, enfatizando a riqueza de 
suas obras. Além disso, explorará as diferentes classificações dos tipos penais, como 
tipo fechado, tipo aberto, tipo normal, tipo anormal, tipo objetivo, tipo subjetivo, tipo total 
e tipo congruente e incongruente. Vamos analisar cada um desses tópicos em detalhes: 
O direito penal é uma área fundamental da legislação, responsável por 
estabelecer os crimes, suas respectivas punições e as normas que regem o 
comportamento da sociedade. A tipicidade conglobante foi desenvolvida por Zaffaroni6, 
que é um dos grandes juristas do direito penal latino-americano. Nesse contexto, é 
relevante destacar a importância do professor José Henrique Pierangeli, figura ímpar do 
nosso direito penal atual, que teve a honra de prefaciar a obra de Zaffaroni, o que 
demonstra a grande relevância e respeito que esse autor possui no meio jurídico. 
 
 
6 ZAFFARONI, Eugenio Raúl.; PIERANGELLI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro, 
volume 1. Parte geral. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Zaffaroni é uma das principais fontes do direito penal latino-americano, com 
vasta experiência como juiz da Suprema Corte Argentina e inúmeras obras de destaque 
no campo do direito penal. Sua contribuição para o desenvolvimento da teoria e prática 
do direito penal é inegável, tornando-se uma referência para estudiosos e operadores 
do direito em toda a América Latina. É altamente recomendável a leitura de suas obras 
para aqueles que desejam aprofundar seus conhecimentos nessa área. 
A tipicidade conglobante é uma teoria proposta por Zaffaroni, que sustenta que 
o fato típico já contém em si os elementos da antijuridicidade e da culpabilidade. Em 
outras palavras, quando uma conduta é típica, ela já carrega consigo os elementos que 
a tornam ilícita e imputável ao agente. Essa teoria é relevante para entendermos a 
estrutura dos tipos penais e a relação entre seus elementos constitutivos. 
Um exemplo utilizado por Zaffaroni para ilustrar a tipicidade conglobante é o das 
intervenções médico-cirúrgicas. Quando um médico realiza uma cirurgia legítima, isto 
é, consentida, como uma cirurgia plástica ou uma intervenção cardíaca, ele está 
praticando uma lesão corporal no paciente, mas não é processado por isso, pois essa 
conduta está acobertada por uma excludente de ilicitude. Diferente o caso em que ão 
há consentimento por parte do agente, remanescendo o caráter injuto da conduta 
médica, inexistindo excludente de ilicitude aplicável ou outra figura que afaste a 
tipicidade da conduta. Assim, a tipicidade já engloba a antijuridicidade da conduta. 
Outra classificação relevante dos tipos penais é quanto à sua natureza, que 
pode ser fechado ou aberto. Os tipos penais fechados são aqueles que possuem a 
definição completa da conduta proibida, ou seja, contêm apenas elementos objetivos 
descritivos que não dependem de interpretação. Um exemplo disso é o crime de 
homicídio, que consiste em matar alguém, uma conduta objetivamente descrita. 
Por outro lado, temos os tipos penais abertos, que contêm elementos 
normativos ou subjetivos que dependem de interpretação. Um exemplo é o crime de 
exposição ou abandono de recém-nascido. Nesse caso, a expressão "ocultar desonra 
própria" é um elemento normativo que exige interpretação para determinar o que é 
considerado "desonra própria". Essa é uma classificação importante para entendermos 
a complexidade de certos tipos penais. 
 
 
 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Dentro da classificação dos tipos penais, ainda podemos fazer uma distinção 
entre tipo normal e tipo derivado. O tipo normal é o tipo básico que possui a descrição 
completa da conduta proibida, enquanto o tipo derivado é composto a partir do tipo 
básico e contém circunstâncias que podem aumentar ou diminuir a reprimenda. Por 
exemplo, o homicídio é um tipo normal, e suas qualificadoras, como homicídio 
qualificado por motivo fútil ou torpe, são tipos derivados. 
Também podemos dividir os tipos penais em tipo objetivo e tipo subjetivo. O tipo 
objetivo é a parte do tipo penal que contém apenas elementos objetivos, ou seja, não 
se relaciona com a vontade do agente. Por exemplo, no crime de furto, a parte objetiva 
é "subtrair coisa alheia móvel", que é a descrição do ato em si, independente da vontade 
do agente. 
Por sua vez, o tipo subjetivo é a parte do tipo penal relacionada à vontade do 
agente, como o dolo ou a culpa. O dolo é a vontade consciente de praticar o crime, 
enquanto a culpa refere-se à negligência, imprudência ou imperícia na conduta do 
agente. Essa classificação é importante para compreendermos a relação entre a ação 
praticada e a intenção do agente. 
Outra classificação interessante dos tipos penais é a distinção entre tipo total e 
tipo congruente. O tipo total engloba não apenas a descrição da conduta proibida, mas 
também a ilicitude da conduta. Isso significa que, para haver tipicidade, é preciso que 
não ocorra nenhuma excludente de ilicitude. Já o tipo congruente é aquele em que a 
parte subjetiva da ação corresponde exatamente à parte objetiva, não exigindo 
elementos objetivos especiais além do dolo simples. Ou seja, a própria conduta já é 
considerada ilícita por si só. 
Finalmente, temos o tipo formal, que é a descrição do tipo feita pelo legislador 
na lei penal. É a forma como o crime é narrado e criminalizado, sendo importante que a 
conduta se adeque à norma para ser considerada típica. Entretanto, é preciso levar em 
conta a adequação social da conduta, ou seja, se a sociedade a considera adequada 
ou não. 
Em conclusão, a tipicidade conglobante de Zaffaroni é uma teoria relevante para 
o entendimento da estrutura dos tipos penais. A classificação dos tipos penais em 
fechados e abertos, normais e derivados, objetivos e subjetivos, totais e congruentes ou 
incongruentes, permite uma melhor compreensão das nuances e complexidades dos 
tipos penais. 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
Bibliografia 
 
 
BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 
(vol. 1).São Paulo: Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível 
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 
ago. 2023. 
 
GRECO, Luís. Introdução à dogmática funcionalista do delito. Revista 
Brasileira de Ciências Criminais. RBCCrim, v. 32, 2000. 
 
OLIVÉ, Juan Carlos F.; BRITO, Alexis Couto de. Direito penal brasileiro, 2ª 
edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2017. E-book. ISBN 9788547215231. Disponível 
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547215231/. Acesso em: 03 
ago. 2023. 
 
ZAFFARONI, Eugenio Raúl.; PIERANGELLI, José Henrique. Manual de direito 
penal brasileiro, volume 1. Parte geral. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740TRIBUNAL DO JÚRI E EXECUÇÃO PENAL 
 
 
Módulo: Direito Penal 
 
 
Tema 04: Ilicitude e Excludentes 
 
 
Introdução 
 
O tema da ilicitude é um dos pilares fundamentais desse ramo do direito, uma 
vez que estabelece os limites entre o permitido e o proibido nas ações humanas. 
Ao adentrar no processo de estudo, o aluno se depara com um assunto 
complexo, mas essencial para a formação jurídica. A ilicitude, abrange as chamadas 
"excludentes de ilicitude", que são situações em que, apesar de o comportamento do 
agente se enquadrar na descrição do tipo penal, ele é considerado lícito e, portanto, não 
passível de punição. 
O primeiro grupo de excludentes mencionado é o das excludentes legais, 
aquelas previstas na própria legislação. Dentre elas, destacam-se a legítima defesa, o 
estado de necessidade e o estrito cumprimento do dever legal ou o exercício regular do 
direito. Essas situações específicas são amplamente abordadas no Código Penal, 
conferindo respaldo legal ao agente que age em conformidade com os requisitos 
estabelecidos. 
 
 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Exclusão de ilicitude 
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: 
I - em estado de necessidade; 
II - em legítima defesa; 
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. 
Excesso punível 
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, 
responderá pelo excesso doloso ou culposo. 
 
Estado de necessidade 
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para 
salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro 
modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era 
razoável exigir-se. 
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de 
enfrentar o perigo. 
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena 
poderá ser reduzida de um a dois terços. 
 
Legítima defesa 
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos 
meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou 
de outrem. 
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, 
considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que 
repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática 
de crimes. 
 
Além das excludentes legais, existem aquelas que não possuem previsão 
expressa na legislação, sendo chamadas de excludentes de antijuridicidade 
heterotópicas. Essas excludentes são construídas pela doutrina e pela jurisprudência, 
e, embora não estejam descritas no texto legal, podem ser aplicadas em casos 
específicos, desde que atendam aos princípios do ordenamento jurídico vigente. 
Um exemplo de excludente heterotópica é o consentimento do ofendido. Em 
situações em que o próprio ofendido consente voluntariamente com a prática do ato 
que, em outras circunstâncias, seria considerado ilícito, a conduta pode ser afastada da 
ilicitude, garantindo a proteção da autonomia da vontade do indivíduo envolvido. 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
A análise e reconhecimento das excludentes de ilicitude não são tarefas simples 
e demandam uma avaliação cuidadosa de cada caso concreto. Isso exige uma 
interpretação adequada da legislação e o conhecimento aprofundado dos princípios do 
Direito Penal, o que torna o papel dos profissionais da área jurídica essencial nesse 
processo. 
Em relação à legitima defesa, especificamente, é importante destacar os 
requisitos que devem ser preenchidos para que essa excludente seja aceita. 
Primeiramente, é necessário que o agente esteja sofrendo uma agressão injusta, ou 
seja, uma violência ilegal e não autorizada por lei. Além disso, a agressão deve ser atual 
ou iminente, ou seja, estar ocorrendo ou prestes a ocorrer. 
Outro requisito fundamental é o uso moderado dos meios necessários para 
repelir a agressão. Isso significa que o agente não pode exceder o necessário para se 
defender, evitando o uso de força desnecessária ou desproporcional ao ataque sofrido. 
 
A legítima defesa, um dos institutos jurídicos mais bem elaborados através dos 
tempos, representa uma forma abreviada de realização da justiça penal e da 
sua sumária execução. Afirma-se que a legítima defesa representa uma 
verdade imanente à consciência jurídica universal, que paira acima dos códigos, 
como con­quista da civilização. 
 
Referindo-se à legítima defesa, Bettiol afirmava que “ela na verdade 
correspon­de a uma exigência natural, a um instinto que leva o agredido a 
repelir a agressão a um seu bem tutelado, mediante a lesão de um bem do 
agressor. Como tal, foi sempre reconhecida por todas as legislações, por 
representar a forma primitiva da reação contra o injusto”. O reconhecimento do 
Estado da sua natural impossibilidade de imediata solução de todas as 
violações da ordem jurídica, e objetivando não constranger a natureza humana 
a violentar-se numa postura de covarde resignação, permite, 
excepcionalmente, a reação imediata a uma agressão injusta, desde que atual 
ou iminente, que a dogmática jurídica denominou legítima defesa. 
[...] 
Define-se a agressão como a conduta humana que lesa ou põe em perigo um 
bem ou interesse juridicamente tutelado. Mas a agressão, contudo, não pode 
confundir-se com a mera provocação do agente, que é, digamos, uma espécie 
de estágio anterior daquela, devendo-se considerar a sua 
gravidade/intensidade para valorá-la adequadamente. 
[...] 
Qualquer bem jurídico pode ser protegido pelo instituto da legítima defesa, para 
repelir agressão injusta, sendo irrelevante a distinção entre bens pessoais e 
im­pessoais, disponíveis e indisponíveis. Qualquer bem jurídico, relevante, 
importante, inclusive bens jurídicos pouco valiosos também podem ser 
protegidos pela legítima defesa, tais como ofensas à honra, lesões corporais 
leves etc. Considerando, porém, a titularidade do bem jurídico protegido por 
esse instituto, pode-se classificá-lo em: próprio ou de terceiro, que autorizam 
legítima defesa própria, quando o repelente da agressão é o próprio titular do 
bem jurídico ameaçado ou atacado, e legítima defesa de terceiro, quando 
objetiva proteger interesses de outrem. 
[...] 
 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Todos os bens jurídicos protegidos pelo ordenamento jurídico são, em tese, 
defensáveis pela legítima defesa, inclusive a honra, própria ou de terceiro. 
Importa, evidentemente, analisar, nesse caso, a necessidade, moderação e 
proporcionalidade dos meios utilizados na defesa desses bens. Na verdade, 
embora se reconheça a legitimidade da reação pessoal, nas circunstâncias 
definidas pela lei, o Estado exige que essa legitimação excepcional obedeça 
aos limites da necessidade e da moderação 
[...] 
Necessários são os meios suficientes e indispensáveis para o exercício eficaz 
da defesa. Se não houver outros meios, poderá ser considerado necessário o 
único meio disponível (ainda que superior aos meios do agressor), mas, nessa 
hipótese, a análise da moderação do uso deverá ser mais exigente, mais 
criteriosa, mais ajustada às circunstâncias. Aliás, além de o meio utilizado dever 
ser o neces­sário para a repulsa eficaz, exige-se que o seu uso seja moderado, 
especialmente quando se tratar do único meio disponível e apresentar-se 
visivelmente superior ao que seria necessário. Essa circunstância deve ser 
determinada pela intensidade real da agressão e pela forma do emprego e uso 
dos meios utilizados. Como afirmava Welzel, “a defesa pode chegar até onde 
seja requerida para a efetiva defesa imediata, porém, não deve ir além do 
estritamente necessário para o fim proposto”. Havendo disponibilidade de 
defesas, igualmente eficazes, deve-se escolher aquela que produza menor 
dano. 
Modernamente, defendemos a invocação do princípio da proporcionalidade na 
legítima defesa, na medidaem que os direitos absolutos devem circunscrever-
se a limites muito exíguos. Seria, no mínimo, paradoxal admitir o princípio da 
insignificância para afastar a tipicidade ou ilicitude de determinados fatos, e 
sustentar o direito de reação desproporcionada à agressão, como, por exemplo, 
matar alguém para defender quaisquer valores menores. Nessa linha de 
orientação manifesta-se Johannes Wessels, afirmando que “O direito à legítima 
defesa encontra seu limite na proibição geral do abuso de direito e nos 
elementos normativos da ‘imposição’: uma defesa, cujas consequências 
situam-se em crassa desproporção para com o dano iminente, é abusiva e, 
assim, inadmissível”1 
 
Toda essa análise sobre as excludentes de ilicitude é realizada por diversos 
atores do sistema de justiça, desde o delegado de polícia responsável pela condução 
do inquérito até o juiz que irá proferir a sentença no caso de um processo criminal. A 
correta aplicação dessas excludentes é fundamental para garantir a justiça e evitar a 
punição de pessoas que agiram em situações de real necessidade ou sob legítima 
defesa. 
Portanto, o estudo da ilicitude e das excludentes de ilicitude é uma das bases 
do Direito Penal e requer um aprofundamento contínuo dos profissionais e estudantes 
da área jurídica. A interpretação das normas, a compreensão dos princípios e a análise 
criteriosa dos casos concretos são essenciais para a correta aplicação da lei e a 
preservação dos direitos individuais no sistema de justiça. 
 
 
1 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1).São Paulo: 
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Estado de Necessidade 
 
O tema abordado é o "Estado de Necessidade", uma das excludentes de 
ilicitude previstas no Direito Penal. Nesse contexto, são discutidos os requisitos para a 
configuração do Estado de Necessidade e suas principais características. 
O Estado de Necessidade é caracterizado pela ação de um indivíduo que 
pratica uma conduta ilícita para evitar um mal maior. 
 
O estado de necessidade pode ser caracterizado pela colisão de bens jurídicos 
de distinto valor, devendo um deles ser sacrificado em prol da preservação 
daquele que é reputado como mais valioso. Como salientava Heleno Fragoso: 
“O que justifica a ação é a necessidade que impõe o sacrifício de um bem em 
situação de conflito ou colisão, diante da qual o ordenamento jurídico permite o 
sacrifício do bem de menor valor”, desde que imprescindível, acrescentamos, 
para a salvaguarda do bem preservado. 
 
Com essa configuração, a delimitação do estado de necessidade e da conduta 
de salvaguarda necessária é, normalmente, feita através do critério de 
ponderação de bens. Contudo, como veremos no estudo dos pressupostos e 
requisitos dessa causa de justificação, nem sempre é fácil determinar qual é o 
bem que deve ser preservado no caso concreto, pois a colisão de bens jurídicos 
pode acontecer não somente entre bens de distinto valor (sacrificar um bem 
móvel alheio para preservar a própria vida), mas também entre bens de iguais 
valores (deixar de salvar a um terceiro desconhecido para salvar um parente 
próximo). Quando, no exemplo clássico, dois náufragos disputam a mesma 
tábua, que não suporta mais de um, uma vida terá de ser sacrificada para salvar 
outra. Em tais hipóteses, o Direito, reconhecendo sua impotência para salvar os 
bens em perigo, admite que um deles seja sacrificado em benefício do outro, 
aguardando a solução natural, para proclamá-la legítima. Aliás, nem adiantaria 
dispor de forma diversa, uma vez que o instinto de sobrevivência e de 
preservação pessoal é muito mais forte do que qualquer “coação psicológica” 
que a sanção penal possa representar. Mas, nessas situações, ao contrário do 
que entendia o jusnaturalismo, segundo o qual haveria a derrogação da ordem 
jurídica, o Direito continua presente e vigente, apenas acomoda-se dentro dos 
limites das possibilidades humanas, para manter-se eficaz, sob pena de 
normativizar paradoxalmente, alheio à realidade social. Esse sentido 
humanitário do Direito, não exigindo renúncias heroicas, é, também, 
fundamento ético-social para excluir a ilicitude de comportamentos praticados 
em estado de necessidade. Sendo, por isso, indicativo de que a delimitação das 
con­dutas justificadas pelo estado de necessidade não está submetida a uma 
estrita ponderação de bens. 
 
O estado de necessidade não se confunde com a legítima defesa. Nesta, a 
reação realiza-se contra bem jurídico pertencente ao autor da agressão injusta, 
enquanto naquela a ação dirige-se, via de regra, contra um bem jurídico 
pertencente a terceiro inocente. No estado de necessidade há ação, na legítima 
defesa, reação; em ambas há a necessidade de salvar um bem ameaçado. 
Alguém atingido por uma ação realizada em estado de necessidade não pode 
reagir em legítima defesa, ante a legitimidade daquela ação, mas pode, 
igualmente, agir em estado de necessidade. 
 
 
 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Ao contrário de uma corrente doutrinária que vê no estado de necessidade o 
exercício de um direito, reconhecemos nela tanto a) uma faculdade, no sentido 
de direito facultativo do próprio indivíduo afetado pela situação de necessidade 
de escolher entre deixar perecer o seu interesse juridicamente protegido, ou 
sacrificar o interesse de outra pessoa, igualmente tutelado pela ordem jurídica; 
como também b) um dever, nos casos de estado de necessidade de terceiro, 
em que é obrigatória a ação de salvaguarda para aquele que está em condições 
de prestar assistência, sob pena de ver-se incurso nas penas do crime de 
omissão de socorro (art. 135).2 
 
Para que seja reconhecido, três requisitos devem ser observados. 
Primeiramente, o agente deve estar diante de um perigo atual, que não tenha sido 
provocado por sua vontade e que não possa ser evitado de outra forma. O perigo precisa 
ser real e presente para que a excludente seja válida. 
O segundo requisito diz respeito à ausência de provocação do perigo pelo 
agente. Isso significa que ele não pode ser o responsável pela situação de risco que o 
levou a agir de maneira ilícita. Além disso, o agente deve comprovar que não tinha outra 
alternativa razoável para evitar o perigo, justificando, assim, sua ação em prol de um 
bem maior. 
O terceiro requisito se refere ao sacrifício de um direito ou bem jurídico. Esse 
sacrifício deve ser razoável e proporcional à gravidade do perigo enfrentado. Ou seja, o 
agente deve agir de forma adequada e necessária para se defender ou proteger outro 
bem jurídico relevante. 
Existem duas modalidades do Estado de Necessidade: defensivo e agressivo. 
No Estado de Necessidade defensivo, o agente pratica o ato contra a coisa ou pessoa 
da qual advém o perigo. Por exemplo, em um naufrágio, dois náufragos disputam um 
objeto que pode salvá-los. Já no Estado de Necessidade agressivo, o agente atinge 
coisa ou pessoa diversa daquela que representa o perigo, sacrificando um bem de 
menor valor para proteger um bem de maior valor. 
A análise do Estado de Necessidade deve ser feita caso a caso, considerando 
as particularidades de cada situação. A correta aplicação dessa excludente é 
fundamental para evitar condenações injustas e garantir que a justiça seja feita, 
protegendo os direitos dos envolvidos no processo criminal. 
 
 
 
 
2 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1).São 
Paulo: Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
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Além disso, é importante ressaltar que, nos casos em que o agente age em 
Estado de Necessidade agressivo, sacrificandoum bem de maior valor para preservar 
um bem de menor valor, a pena pode ser reduzida como uma forma de reconhecer a 
necessidade da ação e a proporcionalidade da conduta diante do perigo enfrentado. 
Dessa forma, o estudo do Estado de Necessidade no âmbito do Direito Penal é 
de grande importância para assegurar a justiça, proteger os direitos dos indivíduos e 
promover uma sociedade mais segura e equânime. 
 
 
Exercício regular de direito 
 
No cenário jurídico, as questões relacionadas ao dever legal e ao exercício 
regular do direito são fundamentais para garantir o bom funcionamento da sociedade 
moderna. Esses conceitos são essenciais para entendermos a atuação de agentes 
públicos e particulares em situações que envolvem a aplicação da lei. 
O dever legal consiste na obrigação imposta por uma norma legal ou uma ordem 
superior, que demanda do indivíduo o cumprimento de determinada ação ou a adoção 
de uma conduta específica. É importante destacar que o dever legal pode ser pautado 
tanto por leis codificadas quanto por regras e regulamentos específicos, de acordo com 
cada área de atuação. 
Já o exercício regular do direito está relacionado à situação em que um indivíduo 
age de acordo com a lei, dentro dos limites impostos pelas normas, e em conformidade 
com as regras e protocolos estabelecidos para determinada atividade. Nesse contexto, 
é crucial entender que o exercício regular do direito constitui uma defesa contra a 
alegação de prática de atos ilícitos ou criminosos. 
Um exemplo prático desse conceito pode ser observado no âmbito do processo 
penal. Quando um agente público, como um policial, está cumprindo o dever legal de 
efetuar uma prisão em flagrante, ele possui a autorização legal para utilizar a força 
moderada, caso haja resistência por parte do detido. O exercício regular do direito, 
nesse caso, protege o agente de possíveis acusações de excesso ou abuso de poder. 
 
 
 
 
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No entanto, é essencial frisar que a análise do exercício regular do direito não 
é absoluta e pode variar de acordo com a circunstância de cada caso. O uso da força 
moderada, por exemplo, precisa ser avaliado conforme os princípios de 
proporcionalidade e necessidade, de modo a evitar abusos e garantir que a ação esteja 
de acordo com as normas estabelecidas. 
Em casos de ocorrências em que houve morte ou lesões corporais durante o 
cumprimento do dever legal, cabe uma investigação minuciosa para determinar se o 
agente agiu dentro dos limites impostos pela lei. É nessa análise que o conceito de 
exercício regular do direito se torna relevante, pois pode fornecer uma defesa jurídica 
para o agente, desde que sua ação tenha sido devidamente autorizada e dentro dos 
padrões estabelecidos. 
Ademais, o exercício regular do direito não se restringe apenas ao âmbito da 
atuação policial. O conceito se estende a outras áreas, como no campo médico, em que 
profissionais de saúde estão autorizados a realizar intervenções cirúrgicas e 
tratamentos médicos, desde que estejam seguindo os protocolos e normas 
estabelecidos pelo órgão de classe e pela legislação específica. 
Em algumas situações, atividades aparentemente ilícitas, como lesões 
corporais em esportes regulamentados, podem ser consideradas exercício regular do 
direito, desde que estejam dentro dos limites impostos pelas regras do esporte em 
questão. 
A análise do dever legal e do exercício regular do direito é uma tarefa complexa 
que envolve uma cuidadosa avaliação dos fatos e do contexto em que as ações 
ocorreram. É papel dos tribunais e do sistema judiciário garantir que as normas sejam 
aplicadas de forma justa e adequada, levando em consideração os princípios da 
legalidade e da proporcionalidade. 
Em conclusão, o entendimento do dever legal e do exercício regular do direito 
é de extrema importância para a garantia do equilíbrio e da harmonia na sociedade 
moderna. Esses conceitos permitem que agentes públicos e particulares ajam dentro 
dos limites impostos pela lei, protegendo-os de acusações infundadas e contribuindo 
para a manutenção da ordem e da justiça. É necessário, contudo, que essa análise seja 
realizada com cautela e imparcialidade, a fim de preservar a integridade do sistema 
jurídico e promover uma sociedade mais justa e segura para todos os seus membros. 
 
 
 
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Casos específicos de exclusão de ilicitude 
 
Abordemos os conceitos de excludente de ilicitude, especificamente o "aborto 
legal" previsto no artigo 128 do Código Penal, e o "consentimento do ofendido". Esses 
dois temas são fundamentais para entendermos como determinadas condutas podem 
ser consideradas não criminosas diante de circunstâncias específicas e do 
consentimento da vítima. 
 
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: 
Aborto necessário 
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro 
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento 
da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 
 
O Código Penal apresenta em seu artigo 128 uma hipótese de exclusão de 
ilicitude relacionada ao aborto. Nesse caso, o aborto não é considerado crime se 
realizado por um médico e se não há outro meio de salvar a vida da gestante. Essa é 
uma situação delicada e complexa, uma vez que envolve a preservação da vida da 
mulher. A discussão sobre o tema é extensa e requer a avaliação de diversos fatores, 
levando em conta a saúde da gestante e a necessidade de intervenção médica. 
Além do aborto legal, outro ponto relevante é o "consentimento do ofendido". 
Quando o titular de um bem ou interesse disponível concorda com uma ação que resulta 
em uma restrição ou perda desse bem ou interesse, tal ação pode ser considerada 
legalmente aceitável. No entanto, esse consentimento precisa ser claro e explícito, não 
pode ser resultado de pressão ou violência. O contexto em que o consentimento deve 
ser avaliado, levando em conta a capacidade do indivíduo para consentir, sua idade e 
maturidade. 
Na prática, a aplicação dessas defesas é complexa e demanda uma análise 
minuciosa dos fatos, levando em conta elementos como a proporcionalidade da ação, a 
moderação do agente e a existência de outras alternativas menos lesivas. Cada caso 
deve ser avaliado individualmente, considerando os aspectos jurídicos e sociológicos 
envolvidos. 
 
 
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A importância desses temas está no fato de que eles podem influenciar 
decisões judiciais e, em alguns casos, impedir que uma conduta seja considerada 
criminosa. Contudo, é essencial ressaltar que a aplicação dessas excludentes deve ser 
criteriosa e sempre levar em conta a preservação dos direitos fundamentais das 
pessoas envolvidas. Os debates jurídicos e as discussões doutrinárias sobre esses 
assuntos devem ser contínuos, visando aprimorar a compreensão e a aplicação 
adequada do Direito Penal. Portanto, a pesquisa e o aprofundamento nesses temas são 
fundamentais para os estudantes e profissionais do Direito, buscando uma atuação mais 
justa e ética no sistema jurídico. 
Em conclusão, o estudo das excludentes de ilicitude, como o aborto legal e o 
consentimento do ofendido, é de extrema relevância para a compreensão da aplicação 
do Direito Penal. Essas questões levam em consideração aspectos delicados e 
complexos da vida em sociedade, exigindo uma análise criteriosa e aprofundada dos 
casos concretos. A correta interpretação e aplicação dessas excludentes contribuem 
para uma justiça mais efetiva e para a proteção dos direitos individuais. Portanto, é 
fundamental que os estudantes e profissionais do Direito continuem a investigar e 
debater esses temas, visando uma atuação jurídica mais consciente e responsável. 
 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740Bibliografia 
 
 
BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 
(vol. 1).São Paulo: Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível 
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 
ago. 2023. 
 
OLIVÉ, Juan Carlos F.; BRITO, Alexis Couto de. Direito penal brasileiro, 2ª 
edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2017. E-book. ISBN 9788547215231. Disponível 
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547215231/. Acesso em: 03 
ago. 2023. 
 
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TRIBUNAL DO JÚRI E EXECUÇÃO PENAL 
 
 
Módulo: Direito Penal 
 
 
Tema 05: Culpabilidade e Excludentes 
 
 
Introdução 
 
Abordaremos a questão da culpabilidade e suas diferentes teorias, bem como 
as excludentes relacionadas a esse tema no ordenamento jurídico brasileiro. Antes de 
adentrarmos à culpabilidade em si e aos elementos das teorias adotadas em nosso 
sistema legal, é essencial compreender o conceito analítico do crime. Pontos muito 
relevantes para a compreensão da temática são: os conceitos de crime, autoria, teoria 
tripartida e teoria quatro partes de crime. 
Para que uma conduta seja considerada criminosa, é preciso que preencha os 
elementos típicos e a ilicitude, mas também deve ser aferida a culpabilidade do agente. 
Somente dessa forma é possível aplicar sanções penais, como a pena. Nesse contexto, 
é fundamental compreender que a responsabilização penal do agente está 
condicionada à sua culpabilidade, que é o foco do nosso estudo. 
A culpabilidade é o juízo de censura realizado pelo ordenamento jurídico em 
relação ao agente, verificando se ele, ao praticar a conduta criminosa, agiu de acordo 
com a expectativa devida. É um conceito complexo, que envolve tanto aspectos 
psicológicos como normativos. As diferentes teorias da culpabilidade buscam oferecer 
abordagens distintas sobre a forma de se analisar essa censura. 
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Atribui-se, em Direito Penal, um triplo sentido ao conceito de culpabilidade, que 
precisa ser liminarmente esclarecido. Em primeiro lugar, a culpabilidade — 
como fundamento da pena — refere-se ao fato de ser possível ou não a 
aplicação de uma pena ao autor de um fato típico e antijurídico, isto é, proibido 
pela lei penal. Para isso, exige-se a presença de uma série de requisitos — 
capacidade de culpabilidade, consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta 
conforme a norma — que constituem os elementos positivos específicos do 
conceito dogmático de culpabilidade. A ausência de qualquer desses elementos 
é suficiente para impedir a aplicação de uma sanção penal. Em segundo lugar, 
a culpabilidade — como elemento da determinação ou medição da pena. Nessa 
acepção, a culpabilidade funciona não como fundamento da pena, mas como 
limite desta, impedindo que a pena seja imposta além da medida prevista pela 
própria ideia de culpabilidade, aliada, é claro, a outros fatores, como importância 
do bem jurídico, fins preventivos etc. E, finalmente, em terceiro lugar, a 
culpabilidade — vista como conceito contrário à responsabilidade objetiva, ou 
seja, como identificador e delimitador da responsabilidade individual e subjetiva. 
Nessa acepção, o princípio de culpabilidade impede a atribuição da 
responsabilidade penal objetiva, assegurando que ninguém responderá por um 
resultado absolutamente imprevisível e se não houver agido, pelo menos, com 
dolo ou culpa.1 
 
Dentre as teorias, a psicológica enfatiza a relação psíquica do autor com o fato 
cometido, abrangendo aspectos como dolo e culpa. Nesse sentido, é considerado 
relevante o estado mental do agente no momento do delito, podendo ser influenciado 
por suas motivações e intenções. 
 
A teoria psicológica da culpabilidade tem estrita correspondência com o 
naturalismo-causalista, fundamentando-se ambos no positivismo do século XIX. 
Von Liszt, como demonstramos anteriormente, reduz a ação a um processo 
causal originado do impulso da vontade. Nesses termos, vinculada a essa 
concepção de Von Liszt, “culpabilidade é a responsabilidade do autor pelo ilícito 
que realizou”, ou, em outras palavras, culpabilidade é a relação subjetiva entre 
o autor e o fato. Em termos bem esquemáticos, culpabilidade é o vínculo 
psicológico que une o autor ao resultado produzido por sua ação. No mesmo 
sentido, Bellavista definiu a culpabilidade como a relação psicológica entre o 
agente e a ação que ocasiona um evento querido ou não querido, ainda que 
não previsto, mas previsível. Enfim, a culpabilidade era, para essa teoria, a 
relação psicológica, isto é, o vínculo subjetivo que existia entre a conduta e o 
resultado, assim como, no plano objetivo, a relação física era a causalidade. 
 
Dentro dessa concepção psicológica, o dolo e a culpa não só eram as duas 
únicas espécies de culpabilidade como também a sua totalidade, isto é, eram a 
culpabilidade, na medida em que esta não apresentava nenhum outro elemento 
constitutivo. Admitia, somente, como seu pressuposto, a imputabilidade, 
entendida como capacidade de ser culpável. Ora, essa concepção partia da 
distinção entre externo e interno, ou seja, de um lado, a parte exterior do fato 
punível — aspecto objetivo —, que era representada, primeiramente, pela 
antijuridicidade e, posteriormente, também pela tipicidade, e, de outro lado, sua 
parte interior, isto é, seus componentes psíquicos — aspecto subjetivo —, 
representada pela culpabilidade294. Segundo essa teoria, como já 
 
1 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1).São Paulo: 
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
 
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destacamos, “culpabilidade é uma ligação de natureza anímica, psíquica, entre 
o agente e o fato criminoso”, contendo somente elementos anímicos, puramente 
subjetivos. Assis Toledo295 advertia, no entanto, que se deveria ter cuidado 
para não imaginar que a teoria psicológica da culpabilidade, já devidamente 
elaborada, fosse histórica e cronologicamente a primeira construída a respeito 
da culpabilidade. A essa conclusão pode-se opor a afirmação de que o conceito 
de dolo entre os romanos não era puramente psicológico; ao contrário, já se 
apresentava mais complexo e enriquecido (vontade, pre­visão e consciência da 
ilicitude), distinguindo duas espécies de dolo: dolus malus e dolus bonus. 
 
Para a teoria psicológica, em sua concepção original, a culpabilidade somente 
poderia ser afastada diante de causas que eliminassem o vínculo psicológico 
tantas vezes referido. Essas causas seriam o “erro”, que eliminaria o elemento 
intelectual, ou a “coação”, que suprimiria o elemento volitivo do dolo, o qual, 
para essa teoria, repetindo, era puramente psicológico (vontade e previsão). A 
teoria psicológica foi a dominante durante parte do século XIX, e parte do século 
XX, quando foi superada pela teoria normativa ou, mais precisamente, 
psicológico-normativa, na terminologia que preferimos. A necessidade de 
sistematizar os elementos da construção estrutural do delito determinou o 
progressivo abandono daquela teoria, que teve destacada sua insuficiência 
conceitual-dogmática, basicamente, diante do crime culposo, da omissão e das 
causas de exculpação.2 
 
Por outro lado, a teoria normativa pura se concentra na imputabilidade do 
agente, ou seja, em sua capacidade de entender o caráter ilícito do ato e de agir de 
acordo com esse entendimento. Aqui, a questão psicológica perde espaço para a 
análise normativa das capacidades do agente. 
 
Em síntese, a culpabilidade neokantiana compunha-se dos seguintes 
elementos: imputabilidade, elemento psicológico-normativo (dolo ou culpa) e 
exigibilidade de conduta conforme ao Direito; ao passo que, na reestruturação 
proporcionada pelo finalismo, a culpabilidadenormativa pura resume-se a: 
imputabilidade, consciência (potencial) da ilicitude e exigibilidade de conduta 
conforme ao Direito. Enfim, as diferenças radicalizam-se na supressão do 
elemento psicológico-normativo (deslocado para o injusto pessoal), e na 
inclusão da potencial consciência da ilicitude, que, redefinida, fora extraída do 
dolo.3 
 
A teoria limitada da culpabilidade busca conciliar elementos psicológicos e 
normativos, admitindo que a culpabilidade é um juízo de valor que necessita de ambos 
os aspectos para sua correta análise. Essa teoria é mais adotada em nosso 
ordenamento, pois considera a realidade complexa das condutas humanas e evita 
extremos na análise do tema. 
 
 
 
 
2 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1).São Paulo: 
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
3 Id. 
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No âmbito da imputabilidade, é relevante lembrar as situações de 
inimputabilidade previstas no Código Penal, que incluem os doentes mentais, os 
menores de 18 anos e os que, por completa embriaguez, são incapazes de entender o 
caráter ilícito do ato. Esses indivíduos não podem ser responsabilizados criminalmente, 
pois lhes falta capacidade para compreender suas ações. 
Além disso, existem causas excludentes de culpabilidade, chamadas de 
exculpantes genéricas, que podem afastar a responsabilidade penal do agente. Essas 
causas estão distribuídas ao longo do Código Penal e são fundamentais para a 
aplicação das penas. Nesse contexto, destaca-se a relevância do erro de proibição, que 
pode afetar a culpabilidade do agente quando este desconhece a ilicitude de sua 
conduta. 
Em síntese, o estudo da culpabilidade e suas teorias é essencial para uma 
adequada aplicação do Direito Penal. As excludentes de culpabilidade e as diferentes 
abordagens teóricas possibilitam uma análise mais aprofundada dos casos concretos, 
garantindo maior justiça e adequação das sanções penais. Assim, ao compreendermos 
esses elementos, estaremos melhor preparados para enfrentar os desafios da prática 
jurídica e contribuir para uma sociedade mais justa e equitativa. 
 
 
A Imputabilidade Penal 
 
Prosseguiremos com a análise dos elementos que compõem a culpabilidade, 
começando com a imputabilidade. Para que um indivíduo seja passível de receber pena 
dentro do nosso ordenamento jurídico, é necessário que seja considerado imputável, ou 
seja, possua a capacidade de entender o caráter ilícito do ato e de agir de acordo com 
esse entendimento. 
A imputabilidade penal envolve um conjunto de condições que conferem ao 
agente a capacidade de ser responsabilizado criminalmente por suas ações. Embora o 
Código Penal não forneça uma definição precisa desse conceito, é possível entendê-lo 
através dos dispositivos que tratam da matéria. 
 
 
 
 
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Pode-se afirmar, de uma forma genérica, que estará presente a imputabilidade, 
sob a ótica do Direito Penal brasileiro, toda vez que o agente apresentar 
condições de normalidade e maturidade psíquicas mínimas para que possa ser 
considerado como um sujeito capaz de ser motivado pelos mandados e 
proibições normativos. A falta de sanidade mental ou a falta de maturidade 
mental podem levar ao reconhecimento da inimputabilidade, pela incapacidade 
de culpabilidade. Podem levar, dizemos, porque a ausência da sanidade mental 
ou da maturidade mental constitui um dos aspectos caracterizadores da 
inimputabilidade, que ainda necessita de sua consequência, isto é, do aspecto 
psicológico, qual seja, a capacidade de entender ou de autodeterminar-se de 
acordo com esse entendimento.4 
 
O sujeito é considerado imputável quando, no momento da prática da conduta 
criminosa, possui capacidade plena de entender o caráter ilícito do ato e de agir de 
acordo com esse entendimento. Vale ressaltar que a ação é considerada praticada no 
momento da conduta, independentemente do resultado, conforme estabelecido pelo 
Código Penal. 
Dentre as condições que conferem a imputabilidade ao agente, destacam-se a 
capacidade de entendimento do caráter ilícito do ato e a capacidade de determinar-se 
de acordo com esse entendimento. Assim, o indivíduo deve possuir um estado mental 
que lhe permita compreender o caráter ilícito da conduta no momento em que a pratica. 
Nesse contexto, é importante enfatizar as situações em que um indivíduo é 
considerado inimputável, ou seja, não possui a capacidade necessária para ser 
responsabilizado penalmente. Essas situações estão previstas no Código Penal e 
envolvem os doentes mentais, os menores de 18 anos e os que, por completa 
embriaguez, são incapazes de entender o caráter ilícito do ato. 
Dentro do sistema biológico e do sistema psicológico, encontramos as teorias 
que tratam da inimputabilidade. A teoria biológica considera que o sujeito é inteiramente 
incapaz de entender o caráter ilícito da ação e de se comportar de acordo com esse 
entendimento, em razão de uma anomalia psíquica grave. 
Já a teoria psicológica adota um enfoque diferenciado, pois leva em conta a 
capacidade do agente de entender o caráter ilícito da ação, mesmo que tenha alguma 
perturbação mental. Nesse caso, a pena pode ser reduzida, mas não excluída. 
 
 
 
 
4 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1). São Paulo: 
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
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Além disso, é importante esclarecer que, em casos de inimputabilidade parcial, 
o réu pode ser isento de pena, conforme estabelecido no artigo 26 do Código Penal. 
Essa situação ocorre quando o sujeito, no momento da conduta, é incapaz de entender 
completamente o caráter ilícito do ato. A depender do exame de sanidade mental, o réu 
pode ser considerado inimputável ou ter a pena reduzida, de acordo com as 
circunstâncias do caso. 
Em situações específicas, a inimputabilidade pode ser alegada como uma tese 
de defesa, buscando isentar o réu da responsabilidade penal ou reduzir a pena. É 
essencial considerar que a análise da imputabilidade e suas nuances são fundamentais 
na definição das penas aplicáveis, visto que a soma desses elementos é determinante 
para a decisão final do magistrado. 
Dessa forma, compreender os aspectos da imputabilidade é imprescindível para 
uma correta aplicação do Direito Penal e para garantir a justiça e a equidade no sistema 
jurídico. Aprofundar-se nessa temática nos permite compreender a complexidade da 
culpabilidade e suas implicações na tomada de decisões judiciais. Ao enfrentar esses 
desafios, estaremos contribuindo para uma sociedade mais justa e harmoniosa. 
 
 
Embriaguez 
 
Neste momento, iremos abordar a questão da embriaguez, um tema de 
relevância no âmbito do Direito Penal. Faremos uma análise cuidadosa dos elementos 
que se relacionam à imputabilidade do indivíduo em tais circunstâncias. 
No que se refere à embriaguez, trata-se de uma intoxicação transitória que 
ocorre após o consumo excessivo de álcool ou substâncias similares. Essa condição 
pode afetar significativamente a capacidade do indivíduo de discernir e agir de forma 
consciente, resultando em comportamentos imprudentes e delitivos. 
As diferentes fases da embriaguez, tais como excitação, depressão e sono, 
possuem características específicas que devem ser consideradas na avaliação da 
culpabilidade do agente. Cumpre ressaltar que a isenção de pena não se aplica a todas 
as situações de embriaguez, sendo necessário que esta seja completa, ou seja, que o 
indivíduo tenha perdido totalmente a capacidade de entender a ilicitude de suas ações. 
 
 
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É relevante também diferenciar a embriaguez voluntária da culposa. A primeira 
ocorre quando o indivíduo, de livre vontade, consome a substância que o leva ao estado 
de embriaguez. Já a embriaguez culposa ocorre de forma não intencional, decorrente 
de negligência ou imprudência. 
 
Há embriaguez voluntária não só quando o agente ingere bebida alcoólica com 
a intenção de embriagar-se (dolosa), como também quando ingere bebida 
alcoólica pelo simples prazer de beber, mesmo sem pensar em embriagar-se 
(embriaguez não intencional). Será culposa, nesta segunda hipótese, a 
embriaguez quando decorrer da ingestão imprudentemente excessiva de 
bebida alcoólica, sem que o agente queira embriagar-se (não intencional). Em 
outros termos, percebe-se que tanto na embriaguez dolosa quanto na culposa 
a ingestão alcoólica é, em princípio, voluntária. O aspecto doloso ou culposo da 
embriaguez, impropriamente falando, decorre não do fato praticado sob o 
estado etílico, mas da própria embriaguez, intencional ou derivada de 
imprudência, no uso de substância inebriante (álcool ou droga). O fato de o 
agente ter querido embriagar-se, ou ter querido simplesmente beber, não altera 
o grau de sua responsabilidade penal, segundo nosso superado diploma legal, 
e tampouco altera a definição legal da natureza da embriaguez, que é não 
acidental (voluntária ou culposa). Isso decorre, repetindo, em razão de que a 
natureza do crime, dolosa ou culposa, não está vinculada ao aspecto subjetivo 
(intencional ou não intencional) que orienta a ingestão alcoólica, propriamente, 
mas segundo o elemento subjetivo do momento em que o fato delituoso é 
praticado.5 
 
Outro aspecto importante é distinguir a embriaguez acidental da provocada. A 
embriaguez acidental acontece quando o agente desconhece os efeitos da substância, 
intoxicando-se involuntariamente, seja por caso fortuito ou força maior. Por sua vez, a 
embriaguez provocada ocorre quando o indivíduo é coagido ou forçado a ingerir a 
substância, podendo afetar sua imputabilidade. 
 
Embriaguez acidental é a proveniente de caso fortuito ou de força maior. Caso 
fortuito ocorre quando o agente ignora a natureza tóxica do que está ingerindo, 
ou não tem condições de prever que determinada substância, na quantidade 
ingerida, ou nas circunstâncias em que o faz, poderá provocar a embriaguez. 
Força maior é algo que independe do controle ou da vontade do agente. Ele 
sabe o que está acontecendo, mas não consegue evitar. Exemplo de força 
maior seria a coação, onde o sujeito é forçado a ingerir uma substância tóxica 
de qualquer natureza.6 
 
 
 
 
 
5 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1). São Paulo: 
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
6 Id. 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Um ponto crucial é a embriaguez patológica, resultante de doença mental. 
Nessa situação, a embriaguez pode ser considerada como causa de exclusão da 
culpabilidade, uma vez que o agente não possui a capacidade de entender a ilicitude de 
suas ações. Em certos casos, a embriaguez patológica pode ser considerada uma 
circunstância atenuante, resultando em uma redução da pena aplicada. 
A aplicação da pena em situações de embriaguez ou estados emocionais como 
a paixão deve ser conduzida com rigor e cautela, considerando cuidadosamente as 
particularidades de cada caso. O sistema penal deve almejar a justiça, levando em conta 
as condições mentais e emocionais do agente, sem abrir mão de sua responsabilização 
pelos atos cometidos. A compreensão adequada desses elementos é essencial para 
uma aplicação eficiente e imparcial do Direito Penal. 
 
 
Potencial consciência da ilicitude 
 
No decorrer desta explanação, mergulhamos em um tema fundamental para o 
entendimento da culpabilidade no contexto penal: a potencial consciência da ilicitude. 
Com base em reflexões teóricas e jurídicas, abordamos a importância de compreender 
a relação entre a consciência do ilícito e a culpabilidade do agente em suas ações. 
Inicialmente, abordamos a relevância da edilidade, enfatizando que, ao falarmos 
de potencialidade, precisamos considerar um elemento essencial da qualidade do 
indivíduo. Neste ponto, destacamos que a ignorância sobre a norma não é uma 
justificativa válida para eximir alguém de responsabilidade. O ordenamento jurídico 
brasileiro exige que todos os indivíduos conheçam e compreendam as normas a fim de 
interpretá-las corretamente. 
Por outro lado, é importante ressaltar que a potencial consciência da ilicitude 
não se limita apenas ao conhecimento da norma. A interpretação equivocada do caráter 
ilícito de uma conduta pode levar o agente a agir erroneamente, mesmo com intenção 
de fazer o correto. Esse cenário nos remete ao conceito de erro de proibição, um 
elemento relevante na análise da culpabilidade. 
 
 
 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
O erro de proibição pode ser classificado em dois tipos: o erro direto e o erro 
indireto. O primeiro ocorre quando o agente afirma desconhecer a norma, enquanto o 
segundo é caracterizado pela suposição equivocada sobre a licitude da conduta. Em 
ambos os casos, é necessário avaliar se o erro era evitável ou inevitável, o que 
determinará a isenção ou a diminuição da pena. 
 
No erro de proibição direto, o agente engana-se a respeito da norma proibitiva. 
Portanto, o crime que pratica é um crime de ação, comissivo, porque ou 
desconhece a norma proibitiva, ou a conhece mal. É indiferente, porque, afinal, 
tanto o erro como a ignorância da norma, para todos os efeitos, são “erro”. 
 
Cumpre destacar, finalmente, que o erro de proibição também pode ocorrer nos 
crimes culposos, e não somente nos dolosos, como pode parecer à primeira 
vista, inclusive quando o erro de proibição for evitável484. A regulamentação 
do erro de proibição, constante do art. 21 do nosso Código Penal, tem caráter 
geral, não admitindo qualquer restrição. Nada impede, por exemplo, que o 
agente realize uma conduta perigosa, com infração do dever de cuidado, 
pensando que a conduta está justificada, seja porque supõe a existência de 
uma causa de justificação que não existe, seja porque se equivoque sobre seu 
conteúdo, seu significado ou seus limites. A evitabilidade do erro de proibição 
tem o condão de reduzir a punibilidade da infração penal, sem, contudo, afetar 
a sua natureza dolosa ou culposa. 
[...] 
Essa modalidade de erro (erro de proibição indireto) é denominada por 
Jescheck erro de permissão485 não porque o autor não creia que o fato seja 
lícito simplesmente, mas porque desconhece a ilicitude, no caso concreto, em 
razão da suposição errônea da existência de uma proposição permissiva (causa 
de justificação).7 
 
O erro de tipo, por sua vez, está relacionado ao desconhecimento do sujeito 
sobre os elementos que constituem o tipo penal. Esse tipo de erro é geralmente 
dissociado da culpabilidade, pois não é atrelado ao dolo ou culpa do agente. No entanto, 
é importante lembrar que a potencial consciência da ilicitude pode influenciar a forma 
como o erro de tipo é interpretado. 
Um ponto crucial na análise da culpabilidade é a inexigibilidade de conduta 
diversa. Isso significa que o agente deve ter tido a possibilidade de agir de maneira 
diferente, antes de ser responsabilizado por suas ações. Essa exigência pressupõe que 
o sujeito possua liberdade de escolha e não esteja sob coação ou obediência a uma 
ordem manifestamente ilegal. 
 
 
7 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1). São Paulo: 
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740A coação irresistível é uma das excludentes de culpabilidade mais discutidas, 
pois afasta a responsabilidade penal do agente quando este é compelido a agir por meio 
de força física ou ameaça grave. No entanto, é importante diferenciar a coação 
irresistível da coação compulsiva, esta última não afastando a culpabilidade, pois o 
sujeito ainda possui capacidade de resistir. 
Outra excludente de culpabilidade é a obediência a ordem não manifestamente 
ilegal, que se aplica aos casos em que o agente, por sua função pública ou posição 
hierárquica, recebe uma ordem legal e age em conformidade com ela. Entretanto, se a 
ordem for manifestamente ilegal, apenas o superior hierárquico que a deu será 
responsabilizado. 
Finalmente, é necessário compreender que a potencial consciência da ilicitude 
não se resume ao desconhecimento da lei. Em alguns casos, mesmo que a pessoa seja 
maior de 18 anos, acredite que está agindo corretamente ou relacione-se com menores 
de idade, ela não estará isenta de responsabilidade. O conhecimento e a consciência 
das normas devem nortear todas as ações humanas, e a ignorância não pode ser usada 
como escudo para a impunidade. 
Em síntese, a potencial consciência da ilicitude é um conceito complexo e 
essencial no estudo da culpabilidade penal. Devemos reconhecer que a ignorância da 
lei não é desculpa para o cometimento de crimes, e a compreensão correta do caráter 
ilícito de uma conduta é fundamental para a justa aplicação do Direito. Ao analisar os 
aspectos relacionados ao erro de proibição, ao erro de tipo, à inexigibilidade de conduta 
diversa e às excludentes de culpabilidade, reforçamos a importância da 
responsabilização adequada dos agentes em suas ações, preservando os princípios 
fundamentais da Justiça e do Estado Democrático de Direito. 
 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Bibliografia 
 
 
BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 
(vol. 1).São Paulo: Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível 
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 
ago. 2023. 
 
OLIVÉ, Juan Carlos F.; BRITO, Alexis Couto de. Direito penal brasileiro, 2ª 
edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2017. E-book. ISBN 9788547215231. Disponível 
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547215231/. Acesso em: 03 
ago. 2023. 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
TRIBUNAL DO JÚRI E EXECUÇÃO PENAL 
 
 
Módulo: Direito Penal 
 
 
Tema 06: Concurso de Pessoas 
 
 
Introdução 
 
Vamos abordar esse tópico essencial para o entendimento das ações 
criminosas coordenadas por duas ou mais pessoas. 
 
Normalmente os tipos contidos na Parte Especial do Código Penal referem-se 
a fatos realizáveis por uma única pessoa. Contudo, o fato punível pode ser obra 
de um ou de vários agentes. Frequentemente a ação delituosa é produto da 
concorrência de várias condutas praticadas por sujeitos distintos. As razões que 
podem levar o indivíduo a consorciar-se para a realização de uma empresa 
criminosa podem ser as mais variadas: assegurar o êxito do empreendimento 
delituoso, garantir a impunidade, possibilitar o proveito coletivo do resultado do 
crime ou simplesmente satisfazer outros interesses pessoais. Essa reunião de 
pessoas no cometimento de uma infração penal dá origem ao chamado 
concursus delinquentium. A cooperação na realização do fato típico pode 
ocorrer desde a elaboração intelectual até a consumação do delito. Respondem 
“pelo ilícito o que ajudou a planejá-lo, o que forneceu os meios materiais para a 
execução, o que intervém na execução e mesmo os que colaboram na 
consumação do ilícito”1 
 
 
 
1 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1).São Paulo: 
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
 
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Ao falarmos em concurso de pessoas, referimo-nos a um grupo de indivíduos 
atuando em conjunto para a prática de um crime. O Código Penal traz as hipóteses em 
que duas ou mais pessoas se envolvem em uma infração penal. Cabe esclarecer que 
esse conceito difere de outras nomenclaturas, como concurso de agentes ou co-
delinquência, que são temas importantes e frequentemente confundidos. 
Na maioria dos casos previstos no ordenamento jurídico brasileiro, é possível 
que um crime seja cometido por uma única pessoa, denominados de crimes 
unissubjetivos. Por outro lado, existem crimes que, desde o início, demandam a 
participação de duas ou mais pessoas, sendo esses chamados de crimes 
plurissubjetivos. Um exemplo disso é o crime de rixa, em que a presença de dois 
agentes é essencial para sua configuração. 
A presença do concurso de pessoas pode ser entendida como concurso 
eventual, quando pessoas que normalmente cometeriam um crime sozinhas, por 
circunstâncias específicas, o praticam em conjunto. Por outro lado, nos crimes 
plurissubjetivos, o concurso é necessário, pois o crime em si requer a ação conjunta de 
várias pessoas, como no caso de uma associação criminosa. 
 
Para caracterizarmos o concurso de pessoas, é importante atentar-se aos 
quatro requisitos fundamentais. O primeiro é a pluralidade de agentes e condutas, ou 
seja, a presença de duas ou mais pessoas atuando em conjunto para a prática do crime. 
O segundo requisito é a relevância causal, que exige que cada conduta tenha relevância 
para a efetivação do crime em questão. 
Além disso, o liame subjetivo é outro requisito essencial, referindo-se ao vínculo 
psicológico entre os envolvidos, demonstrando o acordo de vontades na realização do 
delito. Por fim, a unidade de fato é o quarto requisito, que se refere à convergência das 
ações para a execução do crime em comum. 
 
a) Pluralidade de participantes e de condutas 
 
Esse é o requisito básico do concurso eventual de pessoas: a concorrência de 
mais de uma pessoa na execução de uma infração penal. Embora todos os 
participantes desejem contribuir com sua ação na realização de uma conduta 
punível, não o fazem, necessariamente, da mesma forma e nas mesmas 
condições. Enquanto alguns, segundo Esther Ferraz, praticam o fato material 
típico, representado pelo verbo núcleo do tipo, outros limitam-se a instigar, 
induzir, auxiliar moral ou materialmente o executor ou executores praticando 
atos que, em si mesmos, seriam atípicos. A participação de cada um e de todos 
contribui para o desdobramento causal do evento e respondem todos pelo fato 
típico em razão da norma de extensão do concurso530. 
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b) Relevância causal de cada conduta 
 
A conduta típica ou atípica de cada participante deve integrar-se à corrente 
causal determinante do resultado. Nem todo comportamento constitui 
“participação”, pois precisa ter “eficácia causal”, provocando, facilitando ou ao 
menos estimulando a realização da conduta principal. Assim, no exemplo 
daquele que, querendo participar de um homicídio, empresta uma arma de fogo 
ao executor, que não a utiliza e tampouco se sente estimulado ou encorajado 
com tal empréstimo a executar o delito. Aquele não pode ser tido como partícipe 
pela simples e singela razão de que o seu comportamento foi irrelevante, isto 
é, sem qualquer eficácia causal. 
 
c) Vínculo subjetivo entre os participantes 
 
Deve existir também, repetindo, um liame psicológico entre os vários 
participantes, ou seja, consciência de que participam de uma obra comum. A 
ausência desse elemento psicológico desnatura o concurso eventual de 
pessoas, transformando-o em condutas isoladas e autônomas. “Somente a 
adesão voluntária, objetiva (nexo causal) e subjetiva (nexo psicológico), à 
atividade criminosa de outrem, visando à realização do fim comum, cria o 
vínculo do concurso de pessoas e sujeitaos agentes à responsabilidade pelas 
consequências da ação”. 
 
O simples conhecimento da realização de uma infração penal ou mesmo a 
concordância psicológica caracterizam, no máximo, “conivência”, que não é 
punível, a título de participação, se não constituir, pelo menos, alguma forma de 
contribuição causal, ou, então, constituir, por si mesma, uma infração típica. 
Tampouco será responsabilizado como partícipe quem, tendo ciência da 
realização de um delito, não o denuncia às autoridades, salvo se tiver o dever 
jurídico de fazê-lo, como é o caso, por exemplo, da autoridade pública. 
 
d) Identidade de infração penal 
 
Para que o resultado da ação de vários participantes possa ser atribuído a 
todos, “tem que consistir em algo juridicamente unitário”. Como afirma Damásio, 
não é propriamente um requisito, mas consequência jurídica diante das outras 
condições. Alguém planeja a realização da conduta típica, ao executá-la, 
enquanto um desvia a atenção da vítima, outro lhe subtrai os pertences e ainda 
um terceiro encarrega-se de evadir-se do local com um produto do furto. É uma 
exemplar divisão de trabalho constituída de atividades díspares, convergentes, 
contudo, a um mesmo objetivo típico: subtração de coisa alheia móvel. 
Respondem todos por um único tipo penal ou não se reconhece a participação 
ou o pró­prio concurso na empresa criminosa.2 
 
É importante salientar que compreender esses requisitos evita confusões na 
prática jurídica. Nos crimes unissubjetivos, a atuação de duas ou mais pessoas 
configura apenas um concurso eventual. Já nos crimes plurissubjetivos, o concurso é 
necessário para a existência do delito. 
 
 
 
 
2 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1). São Paulo: 
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
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Nessa perspectiva, devemos ter em mente que o concurso de pessoas é um 
elemento-chave no direito penal e sua compreensão é essencial para uma atuação 
responsável e embasada na prática jurídica. A análise criteriosa desses requisitos nos 
permitirá entender de maneira mais clara os aspectos legais e a correta aplicação do 
direito em situações envolvendo mais de um agente em um crime. 
Portanto, o estudo do concurso de pessoas deve ser valorizado, pois, ao 
dominarmos esse tema, estaremos mais preparados para enfrentar os desafios da 
justiça e para obter sucesso. 
 
 
Causalidade das contribuições 
 
Compreendendo a relevância causal das condutas no concurso de pessoas, é 
necessário enfatizar que essa análise não se restringe apenas à conduta que 
efetivamente leva à prática do crime principal. Outras ações que possam contribuir para 
o resultado criminoso também são consideradas relevantes para caracterizar o 
concurso de pessoas. 
Por exemplo, suponha que três indivíduos planejem assaltar um banco. Durante 
o planejamento, um deles fornece informações cruciais sobre a segurança do banco, 
enquanto o outro é responsável por dirigir o veículo de fuga. Embora essas ações não 
envolvam diretamente o assalto em si, elas são fundamentais para a sua efetivação. 
Nesse caso, todos os envolvidos são considerados coautores do crime, uma vez que 
contribuíram para o seu êxito. 
 
Segundo a doutrina, a solução do intrincado problema do concurso de pessoas 
está intimamente relacionada com a teoria adotada em relação ao nexo causal. 
O Direito Penal brasileiro adota a teoria da equivalência das condições, que não 
distingue causa e condição na produção do resultado típico. 
 
A causalidade, porém, vinha desfrutando de exagerada influência na solução 
do problema da “codelinquência”, esquecendo-se de que ela, a causalidade, é 
apenas o elemento material, objetivo do concurso — a contribuição causal 
física —, importante, necessária, mas insuficiente para aperfeiçoar o instituto. 
É in­dispensável a presença, ao mesmo tempo, de um elemento subjetivo, a 
vontade e consciência de participar da obra comum. O concurso de pessoas 
compreende não só a contribuição causal, puramente objetiva, mas também a 
contribuição subjetiva, pois, como diz Soler, “participar não quer dizer só 
produzir, mas produzir típica, anti­jurídica e culpavelmente” um resultado 
proibido. É indispensável a consciência e vontade de participar, elemento que 
não necessita revestir-se da qualidade de “acordo prévio”, que, se existir, 
representará apenas a forma mais comum, ordinária, de adesão de vontades 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
na realização de uma figura típica. A consciência de colaborar na realização de 
uma conduta delituosa pode faltar no verdadeiro autor, que, aliás, pode até 
desconhecê-la, ou não desejá-la, bastando que o outro agente deseje aderir à 
empresa criminosa. Porém, ao partícipe é indispensável essa adesão 
consciente e voluntária, não só na ação comum, mas também no resul­tado 
pretendido pelo autor principal. 
 
A causalidade física é apenas um fragmento do complexo problema do 
concurso de pessoas, que exige também o liame subjetivo para completar-se. 
É necessária, na expressão de Soler, a integração de um “processo físico de 
causação e um processo humano de produção de um resultado”. Assim, 
inexistindo o nexo causal ou o liame subjetivo, qualquer dos dois, não se poderá 
falar em concurso de pessoas. Por exemplo, alguém, querendo contribuir com 
a prática de um homicídio, empresta a arma, que, afinal, não é utilizada na 
execução do crime e não influi de forma alguma no ânimo do autor, ou, então, 
o criado que, por imprudência ou negligência, deixa aberta a porta da casa 
durante a noite, favorecendo, inadvertidamente, a prática de um furto. No 
primeiro caso, não houve eficácia causal da participação, e, no segundo, faltou 
o elemento subjetivo, não sendo, consequentemente, em qualquer das 
hipóteses, puníveis as condutas dos pseudopartícipes.3 
 
Além disso, é fundamental destacar que o concurso de pessoas não se limita a 
crimes patrimoniais, podendo ocorrer também em delitos de outras naturezas, como 
homicídio, estelionato, tráfico de drogas, entre outros. Em todos esses casos, a 
relevância causal das condutas deve ser minuciosamente analisada para determinar se 
estamos diante de um concurso de pessoas ou de crimes independentes. 
No que diz respeito ao liame subjetivo, é imprescindível que todos os envolvidos 
tenham conhecimento de que estão contribuindo para um resultado comum, mesmo que 
não estejam praticando o crime diretamente. Esse aspecto pode ser exemplificado pela 
figura do mandante em um homicídio. Mesmo não realizando o ato violento, ele pode 
responder como coautor, desde que tenha aderido à conduta do executor com a 
intenção de ver o crime cometido. 
Outro ponto relevante é que, para a configuração do concurso de pessoas, não 
é necessário que todos os envolvidos realizem as mesmas condutas. Cada participante 
pode ter uma contribuição específica para o resultado final, desde que exista um liame 
subjetivo que os una na prática do crime. Essa diversidade de ações e participações 
torna o concurso de pessoas um fenômeno complexo, exigindo uma análise cuidadosa 
dos fatos e elementos subjetivos envolvidos. 
 
 
 
 
3 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1). São Paulo: 
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
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Além disso, é válido destacar que o concurso de pessoas pode ocorrer tanto na 
forma dolosa quanto na forma culposa. Em ambas as situações, a homogeneidade do 
elemento subjetivo é indispensável, ou seja, todos os envolvidos devem concorrer com 
o mesmo tipo de dolo ou culpa. Essa homogeneidade garante a conexão psicológica 
entreos agentes e demonstra que todos atuaram de forma consciente e voluntária para 
o cometimento do crime. 
De maneira concisa, a análise da relevância causal das condutas e do liame 
subjetivo é fundamental para a correta identificação do concurso de pessoas em casos 
concretos. Tais conceitos, embora complexos, são essenciais para a compreensão do 
Direito Penal e têm grande relevância tanto para profissionais da área quanto para 
estudantes e candidatos a concursos públicos. O estudo aprofundado desses temas 
contribui para uma aplicação justa e adequada da legislação, assegurando a proteção 
dos direitos e da sociedade como um todo. 
 
 
Autoria colateral: contornos 
 
Compreendendo a importância e complexidade do tema do concurso de 
pessoas, faz-se necessário aprofundar nossa análise sobre a autoria colateral e suas 
nuances. O concurso de pessoas é um assunto relevante no Direito Penal, envolvendo 
situações em que dois ou mais indivíduos atuam de forma conjunta na prática de um 
crime. Nesse contexto, a autoria colateral se destaca como uma das modalidades de 
participação criminal, merecendo uma atenção especial. 
A autoria colateral se caracteriza quando duas ou mais pessoas, sem 
conhecimento mútuo, atuam de forma simultânea na execução de um delito. 
Diferentemente do concurso de pessoas, que exige um liame subjetivo entre os 
envolvidos, a autoria colateral é marcada pela ausência de qualquer pacto prévio. Nesse 
sentido, podemos imaginar uma situação em que dois indivíduos decidem, 
independentemente um do outro, cometer um roubo contra a mesma vítima, sem que 
haja qualquer combinação ou acordo entre eles. 
Essa modalidade de participação criminosa pode gerar dúvidas e interpretações 
equivocadas, levando algumas pessoas a confundirem a autoria colateral com o próprio 
concurso de pessoas. É crucial, portanto, compreender a distinção entre os dois 
conceitos para evitar equívocos e garantir uma aplicação correta da lei. 
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No exemplo mencionado anteriormente, em que dois indivíduos cometem um 
roubo sem conhecimento mútuo, é importante salientar que não há a presença do liame 
subjetivo, que é a base do concurso de pessoas. Ainda que ambos tenham praticado 
condutas convergentes e tenham alcançado o mesmo resultado, como o roubo contra 
a mesma vítima, não há uma comunhão de vontades ou um ajuste prévio para a prática 
do crime. Portanto, não se pode caracterizar o concurso de pessoas nessa situação, 
mas sim a autoria colateral. 
A autoria colateral é um fenômeno complexo, que pode apresentar diferentes 
desdobramentos em relação ao resultado do crime. Em alguns casos, é possível 
identificar claramente qual agente causou o resultado danoso, tornando-se o autor 
principal, enquanto o outro pode ser considerado partícipe, respondendo por uma 
conduta acessória. 
Entretanto, há situações em que se torna impossível distinguir qual conduta foi 
determinante para o resultado, como quando ambos os agentes atiram 
simultaneamente contra a vítima e não é possível identificar qual disparo foi fatal. 
Nesses casos, a aplicação do princípio "in dubio pro reo" se faz necessária, resultando 
em uma situação peculiar em que ambos os autores colaterais são responsabilizados 
por tentativa de homicídio, visto que não é possível determinar qual deles efetivamente 
causou a morte. 
 
Há autoria colateral quando duas ou mais pessoas, ignorando uma a 
contribuição da outra, realizam condutas convergentes objetivando a execução 
da mesma infração penal. É o agir conjunto de vários agentes, sem 
reciprocidade consensual, no empreendimento criminoso que identifica a 
autoria colateral. A ausência do vínculo subjetivo entre os intervenientes é o 
elemento caracterizador da autoria colateral. Na autoria colateral, não é a 
adesão à resolução criminosa comum, que não existe, mas o dolo dos 
participantes, individualmente considerado, que estabelece os limites da 
responsabilidade jurídico-penal dos autores. 
 
Quando, por exemplo, dois indivíduos, sem saber um do outro, colocam-se de 
tocaia e quando a vítima passa desferem tiros, ao mesmo tempo, matando-a, 
cada um responderá, individualmente, pelo crime cometido. Se houvesse liame 
subjetivo, ambos responderiam como coautores de homicídio qualificado. 
Havendo coautoria será indiferente saber qual dos dois disparou o tiro fatal, pois 
ambos responderão igualmente pelo delito consumado. Já na autoria colateral 
é indispensável saber quem produziu o quê. Imagine-se que o tiro de um 
apenas foi o causador da morte da vítima, sendo que o do outro a atingiu 
superficialmente. O que matou responde pelo homicídio e o outro responderá 
por tentativa. Se houvesse o liame subjetivo, ambos responderiam pelo 
homicídio em coautoria. Imagine-se que no exemplo referido não se possa 
apurar qual dos dois agentes matou a vítima. Aí surge a chamada autoria 
incerta, que não se confunde com autoria desconhecida ou ignorada. Nesta, se 
desconhece quem praticou a ação; na autoria incerta sabe-se quem a executou, 
mas ignora-se quem produziu o resultado. O Código Penal de 1940 ao adotar 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
a teoria da equivalência das condições pensou ter resolvido a vexata quaestio 
da chamada autoria incerta, quando não houver ajuste entre os concorrentes 
(Exp. de Motivos n. 22). Foi um equívoco: a solução só ocorre para situações 
em que houver, pelo menos, a adesão à conduta alheia. A autoria incerta, que 
pode decorrer da autoria colateral, ficou sem solução. No exemplo supracitado, 
punir a ambos por homicídio é impossível, porque um deles ficou apenas na 
tentativa; absolvê-los também é inadmissível, porque ambos participaram de 
um crime de autoria conhecida. A solução será condená-los por tentativa de 
homicídio, abstraindo-se o resultado, cuja autoria é desconhecida4. 
 
Vale ressaltar que a teoria monista, adotada pelo ordenamento jurídico 
brasileiro, prevê que todos os envolvidos em um crime respondam pelo mesmo delito, 
ainda que tenham atuado com diferentes graus de participação. Contudo, a exceção 
prevista no artigo 29, parágrafo 2º, do Código Penal, estabelece a possibilidade de 
coautores e partícipes responderem por crimes diferentes em casos de cooperação 
dolosamente distinta ou desvio subjetivo de conduta. 
Nesse contexto, é essencial que juristas e profissionais do Direito estejam 
atentos aos detalhes e peculiaridades dos casos, a fim de aplicar corretamente a 
legislação e garantir a justiça diante de situações complexas envolvendo a autoria 
colateral. 
Deste modo, é notório que o estudo aprofundado sobre o concurso de pessoas 
e suas modalidades de autoria é fundamental para que se alcance a correta 
interpretação dos fatos e a adequada aplicação do Direito Penal. O conhecimento sobre 
a distinção entre a autoria colateral e o concurso de pessoas evita equívocos na 
tipificação dos crimes e garante a proteção dos direitos individuais e da sociedade como 
um todo. Além disso, a compreensão desses conceitos é fundamental para o 
aprimoramento da legislação e do sistema penal, buscando sempre a justiça e a 
equidade em cada caso concreto. 
 
 
Autoria e participação: aprofundamento 
 
Aprofundemos os estudos sobre o tema de "concurso de pessoas", com 
enfoque especial na autoria colateral e teorias de distinção entre autor e partícipe. 
 
 
4 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1). São Paulo: 
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Retomando nossa discussão sobre a autoria colateral, vale ressaltar que o 
âmbito de discussão envolve situações em que dois ou mais indivíduos atuam 
conjuntamente na prática de um crime. A autoria colateral, por sua vez, caracteriza-seA burguesia, em seu confronto com o 
absolutismo, havia alcançado a conquista de que governantes e juízes não 
exercessem o poder punitivo com livre-arbítrio – e arbitrariedade, portanto –, 
mas apenas na medida das previsões legais. 
 
Atualmente, a doutrina aponta que seu fundamento radica na proteção dos 
valores segurança jurídica, liberdade e igualdade, pois a vinculação à lei 
garante que seja o legislador a tomar as decisões básicas do que punir, 
excluindo a arbitrariedade do poder estatal e assegurando o tratamento 
igualitário de todos na aplicação da lei. Ademais, a não tipificação como delito 
de uma determinada conduta é garantia de liberdade do cidadão, de que não 
será punido, caso a pratique, sem os riscos da surpresa e da retroatividade. O 
Estado só pode castigar um comportamento que esteja descrito em norma 
penal incriminadora elaborada anteriormente ao fato praticado. Dessa forma, “a 
lei penal é garantia da liberdade para todos”, que anda irmanada com o princípio 
da segurança jurídica, pois com essa garantia os indivíduos conhecem de 
antemão o que é proibido ou não no âmbito penal, o que podem e o que não 
devem fazer. “Esse postulado apodítico”, aduz Luiz Regis Prado, 
 
[...] cumpre funções reciprocamente condicionadas: limitação das fontes 
formais do Direito Penal e garantia da liberdade pessoal do cidadão, haja vista 
que a norma penal incriminadora implica dúplice limitação da liberdade geral da 
pessoa, tanto do ponto de vista do preceito como do da pena. 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Também se indica como fundamento do princípio da legalidade o princípio 
democrático-representativo, baseado na divisão de poderes. Argumenta-se que 
a aplicação da pena constitui uma interferência tão severa na liberdade do 
cidadão, que a legitimidade para a determinação das hipóteses legais em que 
isso é possível só pode residir no Parlamento, como representante eleito do 
povo. Por força da divisão de poderes, expressa no princípio da legalidade, ao 
juiz não cabe criar a lei, mas aplicá-la, enquanto o executivo é excluído dessa 
prerrogativa, impedindo-se o abuso de poder.1 
 
Esse princípio tem suas raízes nas concepções mais básicas do Estado de 
Direito, garantindo que a atuação do Estado e do sistema penal sejam pautadas pela 
legalidade e pela certeza normativa. Dessa forma, a lei se torna a fonte primária e 
exclusiva do Direito Penal, e nenhum indivíduo pode ser responsabilizado por condutas 
que não estejam tipificadas em lei. 
O princípio da reserva legal não apenas estabelece os crimes e as penas, mas 
também possui desdobramentos importantes em outros princípios e garantias 
fundamentais. A partir dele, surgem o princípio da anterioridade e o princípio da 
taxatividade. O primeiro determina que uma lei penal deve ser anterior à prática do ato 
delituoso, evitando que mudanças legislativas retroativas prejudiquem o réu. 
 
Cuida-se de uma decorrência lógica do princípio da legalidade. Porém, é salutar 
expressá-la, para que não haja riscos ou dúvidas. Pois bem. Se não pode haver 
crime nem pena sem lei que regule determinada conduta ou sua consequência, 
prevalece a liberdade de realizá-la sem qualquer gravame, até que sobrevenha 
a criminalização ou a novatio legis in pejus. 
 
Caso contrário, a garantia de liberdade cairia por terra, junto com a segurança 
jurídica. Não adiantaria prever que nullum crimen nulla poena sine lege praevia 
scripta se, ao ser editada a novatio legis incriminadora, fosse possível punir 
fatos anteriores à sua vigência ou agravar a situação do réu.2 
 
 
1 PRADO, Luiz R. Direito Penal Constitucional - A (Des)construção do Sistema Penal. São Paulo: 
Grupo GEN, 2020. E-book. ISBN 9788530991586. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530991586/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
2 PRADO, Luiz R. Direito Penal Constitucional - A (Des)construção do Sistema Penal. São Paulo: 
Grupo GEN, 2020. E-book. ISBN 9788530991586. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530991586/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Já o princípio da taxatividade exige que as leis penais sejam claras, precisas e 
não deixem margem para interpretações duvidosas. Isso garante que os cidadãos 
tenham conhecimento prévio das condutas proibidas e das consequências de seus atos, 
evitando arbitrariedades e protegendo os direitos individuais. 
 
Este desdobramento diz respeito à técnica de elaboração e à redação da lei 
penal, que devem observar certos parâmetros para que o princípio da 
legalidade não fique esvaziado ou se torne letra morta. A forma da construção 
típica é essencial para que o princípio cumpra suas finalidades de limitação do 
poder punitivo estatal, de separação das funções estatais na elaboração e 
aplicação da lei penal e de garantia da segurança jurídica e de uma esfera 
confiável de liberdade em que o indivíduo possa se movimentar sem 
sobressaltos. 
 
O princípio da legalidade, na vertente da taxatividade-determinação, teria 
prejudicado a função de limitação do poder punitivo estatal, se houvesse uma 
amplitude indevida da proibição, que conferisse carta branca ao arbítrio judicial 
para complementá-la. O dogma garantístico de proteção à liberdade civil 
consistente em que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma 
coisa senão em virtude de lei” (CF, art. 5.º, II) seria comprometido.3 
 
Contudo, é necessário refletir sobre as exceções que podem surgir em relação 
à atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) na legislação criminal. Em algumas 
situações, o STF se viu diante de omissões legislativas que demandavam medidas 
urgentes e efetivas para proteger direitos fundamentais e combater injustiças. 
Um exemplo foi a decisão do STF que estendeu o combate à homofobia à lei 
de preconceito racial. Embora a atuação do STF nesses casos possa ser considerada 
necessária, ela suscita debates sobre o equilíbrio entre os poderes e a reserva de 
competências do Poder Legislativo para criar leis. 
Além disso, o princípio da reserva legal enfrenta desafios diante da dinâmica 
social e das mudanças na sociedade. Questões complexas como a evolução da 
tecnologia e o surgimento de novas condutas criminosas nem sempre encontram 
respaldo em leis existentes, demandando atualizações legislativas. 
 
3 PRADO, Luiz R. Direito Penal Constitucional - A (Des)construção do Sistema Penal. São Paulo: 
Grupo GEN, 2020. E-book. ISBN 9788530991586. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530991586/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Nesse contexto, a interpretação extensiva ou restritiva dos princípios também 
entra em jogo. A interpretação extensiva permite que o aplicador do direito, ao agir 
dentro dos limites da lei, possa adaptá-la a situações não previstas explicitamente. Já a 
interpretação restritiva impõe uma visão mais rigorosa, restringindo-se estritamente ao 
que está disposto na norma. 
Assim, o princípio da reserva legal não é apenas uma regra fria e imutável, mas 
sim uma balança delicada entre a necessidade de proteção dos direitos individuais e a 
flexibilidade para adaptar-se às mudanças sociais e tecnológicas. Ele deve ser 
entendido como um pilar fundamental para a justiça e o equilíbrio no sistema penal. 
Outro princípio relevante é o da anterioridade, que determina que a lei penal 
deve ser anterior ao ato delituoso. Isso significa que uma pessoa não pode ser 
responsabilizada por uma conduta que, no momento de sua prática, não era 
considerada crime pela legislação vigente. Esse princípio garante que o indivíduo tenha 
conhecimento prévio das consequências de seus atos, evitando surpresas e garantindo 
a estabilidade das normas penais. 
Um tema importante é o da responsabilidade subjetiva. Esse princípio 
estabelece que não pode haverquando dois ou mais indivíduos, sem conhecimento mútuo, atuam simultaneamente na 
execução de um delito, sem qualquer pacto prévio. 
Para compreender as nuances da autoria colateral e evitar confusões com o 
concurso de pessoas, é essencial entender a distinção entre os dois conceitos. No 
concurso de pessoas, há um liame subjetivo entre os envolvidos, enquanto na autoria 
colateral, esse liame não existe, e os agentes agem independentemente um do outro. 
A autoria colateral pode resultar em diferentes desdobramentos em relação ao 
resultado do crime. Em alguns casos, é possível identificar claramente qual agente 
causou o resultado danoso, tornando-se o autor principal, enquanto o outro pode ser 
considerado partícipe, respondendo por uma conduta acessória. 
No entanto, em situações em que é impossível distinguir qual conduta foi 
determinante para o resultado, ambos os autores colaterais podem ser 
responsabilizados por tentativa de homicídio, por exemplo, seguindo o princípio "in 
dubio pro reo". 
A legislação brasileira adota a teoria monista, onde todos os envolvidos em um 
crime respondem pelo mesmo delito, mesmo que tenham atuado com diferentes graus 
de participação. No entanto, há exceções, como previsto no artigo 29, parágrafo 
segundo, do Código Penal, que permite que coautores e partícipes respondam por 
crimes diferentes em casos de cooperação dolosamente distinta ou desvio subjetivo de 
conduta. 
Para aprofundarmos a análise sobre autoria colateral, é essencial entender as 
teorias da autoria e participação. No âmbito da autoria, existem a teoria objetivo formal 
e a teoria do domínio do fato. A teoria objetivo formal considera autor aquele que pratica 
o núcleo do tipo penal. Porém, ela não abrange situações em que um indivíduo arquiteta 
o crime, mas não o executa diretamente, como o autor intelectual. 
 
Teoria objetivo-formal 
 
Embora sem negar a importância do elemento causal, destaca as 
características exteriores do agir, isto é, a conformidade da ação com a 
descrição formal do tipo penal. Essa teoria atém-se à literalidade da descrição 
legal e define como autor aquele cujo comportamento se amolda ao círculo 
abrangido pela descrição típica e, como partícipe, aquele que produz qualquer 
outra contribuição causal ao fato. 
 
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Essa teoria teve uma grande aceitação até os anos 60 do século XX, mas foi 
amplamente criticada, tanto na Alemanha como na Espanha, pelo excessivo 
formalismo com que identificava a conduta do autor. Apesar de indicar que a 
autoria refere-se à realização dos elementos do tipo, não foi capaz de evidenciar 
que elemento material do tipo (especialmente nos delitos de resultado) identifica 
a conduta do autor, frente às contribuições causais constitutivas de mera 
participação. Além disso, criticava-se a versão clássica da teoria objetivo-
formal, porque partindo de suas premissas não era possível explicar de maneira 
satisfatória como a conduta do coautor e do autor mediato se amoldava na 
descrição típica549. Com efeito, estes não realizam, por si sós, todos os 
elementos do tipo: cada coautor realizaria somente parte da ação executiva, e 
o autor mediato é o instrumento de quem atua diretamente. Era necessário 
buscar outro critério que fosse capaz não só de identificar a conduta de autor, 
mas, também, de explicar as diferentes formas de autoria (direta, coautoria e 
autoria mediata).5 
 
Já a teoria do domínio do fato amplia o conceito de autor, incluindo aquele que 
detém o domínio da situação ou da vontade, mesmo sem praticar o núcleo do tipo. Isso 
abrange, por exemplo, casos de autoria mediata, em que um indivíduo utiliza outro como 
instrumento para cometer o crime. 
 
A teoria do domínio do fato reconhece a figura do autor mediato, desde que a 
realização da figura típica apresente-se como obra de sua vontade reitora, 
sendo reconhecido como o “homem de trás”, e controlador do executor. Essa 
teoria tem as seguintes consequências: 1ª) a realização pessoal e plenamente 
responsável de todos os elementos do tipo fundamentam sempre a autoria; 2ª) 
é autor quem executa o fato utilizando outrem como instrumento (autoria 
mediata); 3ª) é autor o coautor que realiza uma parte necessária do plano global 
(“domínio funcional do fato”), embora não seja um ato típico, desde que integre 
a resolução delitiva comum. Ou, dito de outros termos, numa linguagem 
roxiniana, o domínio do fato pode ser exercido das seguintes formas: (i) pelo 
domínio da ação, que ocorre quando o agente realiza pessoalmente o fato 
típico, agindo, por conseguinte, como autor e não como simples partícipe 
(instigador ou cúmplice); (ii) pelo domínio da vontade, que ocorre quando o 
executor, isto é, o autor imediato, age mediante coação ou incorrendo em erro, 
não tendo domínio de sua vontade, que é controlada ou dominada pelo “homem 
de trás”, que é o autor mediato, como veremos adiante. Assim, o “homem de 
trás” tem o domínio da vontade e o controle da ação, sendo o verdadeiro autor, 
ainda que mediato; (iii) pelo domínio funcional do fato, que ocorre na hipótese 
de coautoria, em que há, na dicção de Jescheck, uma exemplar divisão de 
trabalho, quando o agente realiza uma contribuição importante, ainda que não 
seja um ato típico, mas se revele necessária no plano global.6 
 
Quanto às teorias da participação, no Brasil, adotamos a teoria da 
acessoriedade média, que considera partícipe aquele que pratica o fato típico e ilícito, 
independentemente da culpabilidade. Assim, o partícipe responde de acordo com sua 
participação na infração, mesmo que não tenha praticado o núcleo do tipo. 
 
5 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1). São Paulo: 
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
6 Id. 
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É importante salientar que, no Código Penal, não existem normas específicas 
para a participação em crimes. A responsabilização do partícipe é fundamentada no 
artigo 29 do CP, que estabelece a forma de adequação típica entre autor e partícipe. 
Por fim, é necessário compreender que, no âmbito do concurso de pessoas e 
da autoria colateral, as circunstâncias pessoais não são comunicáveis entre os 
envolvidos, a menos que sejam elementares do crime. Dessa forma, cada participante 
é responsável pelas circunstâncias que lhe forem atribuídas. 
Com o conhecimento adequado sobre as teorias da autoria e participação, bem 
como a compreensão da distinção entre o concurso de pessoas e a autoria colateral, é 
possível aplicar corretamente a legislação e garantir a justiça em casos complexos que 
envolvam a cooperação criminosa. Assim, o Direito Penal cumpre seu papel na proteção 
dos direitos individuais e da sociedade como um todo. 
 
 
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Bibliografia 
 
 
BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 
(vol. 1).São Paulo: Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível 
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 
ago. 2023. 
OLIVÉ, Juan Carlos F.; BRITO, Alexis Couto de. Direito penal brasileiro, 2ª 
edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2017. E-book. ISBN 9788547215231. Disponível 
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547215231/. Acesso em: 03 
ago. 2023. 
 
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TRIBUNAL DO JÚRI E EXECUÇÃO PENAL 
 
 
Módulo: Direito Penal 
 
 
Tema 07: Extinção da Punibilidade 
 
 
Introdução 
 
A extinção da punibilidade é um tema relevante no âmbito do direito penal, que 
merece ser analisado com profundidade para compreendermos suas nuances e 
implicações. Neste texto, vamos percorrer passo a passo cada situação relacionada a 
essa questão, buscando entendercomo ocorre a eventual condenação e quando o 
apenado pode não receber a pena imposta. 
 
A pena não é elemento do crime, mas consequência deste. A punição é a 
consequência natural da realização da ação típica, antijurídica e culpável. 
Porém, após a prática do fato delituoso podem ocorrer causas que impeçam a 
aplicação ou execução da sanção respectiva. No entanto, não é a ação que se 
extingue, mas o ius puniendi do Estado, ou, em outros termos, como dizia o 
Min. Francisco Campos319: “O que se extingue, antes de tudo, nos casos 
enumerados, no art. 108 do projeto, é o próprio direito de punir por parte do 
Estado (a doutrina alemã fala em Wegfall des staatlichen Staatsanspruchs). Dá-
se, como diz Maggiore, uma renúncia, uma abdicação, uma derrelição do direito 
de punir do Estado. Deve dizer-se, portanto, com acerto, que o que cessa é a 
punibilidade do fato, em razão de certas contingências ou por motivos vários de 
conveniência ou oportunidade política”. De observar-se que o crime, como fato, 
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isto é, como ilícito penal, permanece gerando todos os demais efeitos civis e 
criminais, pois uma causa posterior não pode apagar o que já se realizou no 
tempo e no espaço.1 
 
Para começar, é fundamental entender que a configuração de um crime envolve 
a análise de diversos elementos, como a materialidade do delito, que consiste nos fatos 
que indicam a existência do crime, como o exame de corpo de delito em alguns casos. 
Em seguida, é analisada a autoria, que diz respeito à conduta do agente, seja por ação 
ou omissão, e a existência de um nexo de causalidade entre a ação/omissão e o 
resultado. 
Após examinar a autoria, é necessário verificar a tipicidade da conduta, ou seja, 
se ela se adequa ao tipo penal descrito na lei. Somente quando há materialidade, autoria 
e tipicidade é que se configura o crime, desde que não haja causas excludentes de 
ilicitude, que são situações em que a conduta é permitida, mesmo que se enquadre nos 
elementos do crime descritos na lei. 
Essas causas excludentes de ilicitude podem incluir o estado de necessidade, 
a legítima defesa, o estrito cumprimento do dever legal ou o exercício regular de direito. 
Quando presentes, essas circunstâncias permitem que a conduta não seja considerada 
criminosa, e o agente não será condenado, mantendo-se sua primariedade e não 
havendo anotação em sua folha de antecedentes. 
Após examinar a ilicitude, é importante analisar a culpabilidade, que se refere à 
reprovabilidade ou responsabilidade sobre a conduta típica e ilícita praticada. Nessa 
etapa, são consideradas as causas excludentes de culpabilidade, que incluem a 
imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa. 
A imputabilidade diz respeito à capacidade psíquica do agente de compreender 
o caráter ilícito da conduta, sendo imputáveis os maiores de 18 anos que estejam em 
gozo de suas faculdades mentais. Caso o agente não tenha total consciência da ilicitude 
da conduta, e esse desconhecimento for inevitável, ele será isento de pena. Ainda 
assim, é preciso verificar se era exigível do agente uma conduta diferente daquela 
praticada, considerando as circunstâncias fáticas e a possibilidade de agir de outro 
modo. 
 
1 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1). São Paulo: 
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
 
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As excludentes de culpabilidade incluem a coação moral irresistível e a 
obediência a ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico. Em tais 
situações, mesmo que o agente tenha praticado o fato típico e ilícito, ele não será 
apenado, e a responsabilidade recairá sobre o coator ou aquele que deu a ordem ilegal. 
Contudo, mesmo quando todas as etapas da análise apontam para a 
condenação, há circunstâncias em que o Estado perde o direito de aplicar a pena, ou 
seja, ocorre a extinção da punibilidade. Essas circunstâncias serão abordadas, 
permitindo-nos compreender a importância dessa questão no âmbito do direito penal e 
seus reflexos na justiça e na sociedade. O tema é complexo e exige uma abordagem 
detalhada para que se possa compreender as particularidades e implicações da 
extinção da punibilidade no contexto jurídico. 
 
 
A extinção da punibilidade 
 
O tema da extinção da punibilidade é um assunto de grande relevância no 
âmbito do Direito Penal. Abordamos sucintamente os conceitos analíticos do crime, a 
aplicação de pena e a condenação com base nos requisitos de materialidade delitiva, 
autoria, tipicidade, ilicitude e culpabilidade. Agora, aprofundemos nossa discussão 
sobre a extinção da punibilidade, um fenômeno que ocorre quando o Estado perde o 
poder de impor uma pena ao agente que cometeu o delito. 
É importante reiterar que, uma vez presentes a materialidade, autoria, tipicidade 
e ausentes as causas excludentes de ilicitude ou culpabilidade, o crime será punido de 
acordo com a legislação vigente. No entanto, existem situações em que, mesmo com a 
prática do delito comprovada, o Estado pode perder a capacidade de aplicar a pena ou 
executar a sentença penal condenatória. Essas situações são regulamentadas por meio 
das causas extintivas de punibilidade, que se encontram no artigo 107 do Código Penal 
brasileiro. 
 
Extinção da punibilidade 
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: 
I - pela morte do agente; 
II - pela anistia, graça ou indulto; 
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; 
IV - pela prescrição, decadência ou perempção; 
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V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação 
privada; 
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; 
VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) 
VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) 
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. 
 
Conceitualmente, a extinção da punibilidade é o surgimento de obstáculos 
específicos previstos em lei, de natureza política, que impedem a persecução punitiva 
ou a execução da pena pelo Estado. Estas causas são determinadas pelo poder 
legislativo, sendo fruto de vontade política para evitar a punição em determinadas 
circunstâncias. 
Dentre as causas exemplificativas previstas no artigo 107 do Código Penal, 
destacam-se: a extinção da punibilidade pela morte do agente; a anistia, graça ou 
indulto concedidos pelo Estado; a retroatividade de lei que não mais considera o fato 
como criminoso; a prescrição, decadência ou perempção; a renúncia do direito de 
queixa ou o perdão aceito nos crimes de ação privada; e o perdão judicial nos casos 
previstos em lei. 
Essas causas extintivas podem se comunicar ou não aos coautores e partícipes 
do crime. Por exemplo, o perdão, a decadência, a perempção, a renúncia do direito de 
queixa e a retratação no crime de Falso Testemunho são causas que se comunicam. 
Por outro lado, a morte do agente, o perdão judicial e a graça ou indulto são exemplos 
de causas que não se comunicam. 
A determinação do momento em que ocorre a extinção da punibilidade é de 
suma importância. Se a extinção ocorrer antes do trânsito em julgado da sentença penal 
condenatória, o Estado perde o direito de punir, e não haverá aplicação de pena. Caso 
a extinção ocorra após o trânsito em julgado, o Estado perde o direito de executar a 
sentença, no entanto remanescem os efeitos secundários da sentença condenatória, 
como a reincidência e o lançamento do nome do culpado. 
Além das causas extintivas exemplificadas no artigo 107 do Código Penal, há 
outras previstas em diversos pontos da legislação penal, como a suspensão condicional 
do processo nos casos da Leinº 9.099/95, o pagamento do tributo antes do 
oferecimento da denúncia nos crimes de ação fiscal e a falta de representação do 
ofendido. 
 
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Com a entrada em vigor da Lei nº 13.964/19, conhecida como "Pacote 
Anticrime", uma nova causa extintiva foi introduzida no ordenamento jurídico brasileiro: 
o cumprimento do acordo de não persecução penal, que torna extinta a punibilidade do 
agente que cumpre as condições estabelecidas no acordo. 
Concluímos, assim, essa primeira parte da análise das causas extintivas de 
punibilidade, apresentando um panorama geral sobre o tema. Aprofundaremos nossos 
estudos, abordando cada uma dessas causas específicas com seus respectivos 
comentários, buscando uma compreensão mais completa desse relevante aspecto do 
Direito Penal. 
 
 
Causas em espécie 
 
Exploremos a extinção da punibilidade, tema importante no contexto jurídico e 
que se refere à impossibilidade de o Estado punir o autor de um crime. Analisaremos as 
causas e possibilidades de extinção da punibilidade, como morte do agente, anistia, 
graça e o indulto. 
Para compreender melhor esse assunto, abordamos as causas extintivas da 
punibilidade, as quais estão descritas no artigo 107 do Código Penal e apresentam um 
rol exemplificativo. 
Uma das causas de extinção da punibilidade é a morte do agente. Se o autor 
do delito falece, sua punibilidade é automaticamente extinta. Esse princípio geral é 
consagrado no ordenamento jurídico, e a Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso 
XLV, reforça que a pena não deve ultrapassar a pessoa do condenado, embora a perda 
de bens possa recair sobre os sucessores nos casos previstos em lei. 
É relevante mencionar que a pena de multa, apesar de ser considerada uma 
obrigação de valor, segundo o artigo 51 do Código Penal, também é extinta com o 
falecimento do sentenciado antes de seu pagamento, não transmitindo a obrigação aos 
herdeiros, restando apenas os efeitos civis a cargo dos sucessores. 
Nesse contexto, é emitida uma certidão de óbito que atesta a morte e suas 
causas, tanto do ponto de vista médico quanto para fins jurídicos, como a determinação 
da causa jurídica do óbito, seja homicídio, suicídio, acidente ou morte natural. 
A partir da certidão de óbito, o juiz, após ouvir o Ministério Público, declara 
extinta a punibilidade do agente falecido, encerrando o processo penal em curso. 
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Cabe ressaltar que, durante o inquérito policial ou o processo, mesmo sem 
haver sentença penal condenatória, caso o réu venha a falecer, o magistrado deve julgar 
extinta a punibilidade, arquivando o feito, afastando a pretensão punitiva do Estado. 
Entretanto, a situação se torna mais complexa quando o réu já foi condenado 
e, após o trâmite do recurso, ocorre seu óbito. Nesse caso, representantes legais podem 
manifestar interesse no julgamento do recurso, visando a possibilidade de modificar a 
condenação, especialmente no âmbito cível. 
 
A morte do agente é a primeira causa de extinção da punibilidade. Com a morte 
do agente (indiciado, réu, condenado, reabilitando) cessa toda atividade 
destinada à punição do crime: com o processo penal em curso encerra-se ou 
im­pede-se que ele seja iniciado, e a pena cominada ou em execução deixa de 
existir. Essa causa é uma decorrência natural do princípio da personalidade da 
pena, hoje preceito constitucional (art. 5º, XLV, da CF), segundo o qual a pena 
criminal não pode passar da pessoa do criminoso: mors omnia solvit. Nem 
mesmo a pena de multa pode ser transmitida aos herdeiros. 
 
Evidentemente que nem sempre foi assim. A História é rica em exemplos de 
pessoas julgadas mesmo depois da morte, como as penas infamantes, que 
atingiam não só a memória do morto, mas inclusive os seus descendentes. O 
princípio da personalidade da pena é uma conquista do Direito Penal moderno. 
No entanto, a liberal Constituição brasileira de 1988 acena com a possibilidade 
de criação da odiosa e proscrita pena de confisco, além de possibilitar que a 
sua aplicação se estenda aos sucessores do condenado e contra eles seja 
executada, violando o princípio constitucional da personalidade da pena, que o 
mesmo dispositivo reconhece (art. 5º, XLV, da CF). Poucos penalistas deram-
se conta dessa monstruo­sa contradição. Assim, embora pareça supérflua essa 
previsão, objetiva plasmar o repúdio a práticas punitivas sobre o cadáver, a 
memória ou os descendentes do morto. Finalmente, cumpre destacar que o 
princípio da personalidade da pena vige tão somente para as sanções criminais, 
pecuniárias ou não, não tendo aplicabilidade às consequências civis do crime. 
O espólio do condenado responde pelos danos do crime, cuja obrigação 
transmite-se aos seus herdeiros, até os limites da herança.2 
 
Além da morte do agente, outras formas de extinção da punibilidade podem 
ocorrer por meio de anistia, graça e indulto. A anistia é a declaração do poder público 
que torna impuníveis determinados fatos por motivo de utilidade social, tratando de fatos 
e não de pessoas. 
A anistia pode ser condicionada ou incondicionada, e sua concessão pode ser 
recusada pelo beneficiário caso esteja vinculada a condições. Uma vez concedida, não 
pode ser revogada e tem efeito de apagar o crime e todos os efeitos da sentença, exceto 
os efeitos civis. 
 
2 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1). São Paulo: 
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
A graça e o indulto são medidas de clemência destinadas a uma pessoa 
determinada, diferentemente da anistia. A graça pode ser total ou parcial, extinguindo 
ou reduzindo a pena, enquanto o indulto pode ser coletivo, beneficiando um grupo de 
sentenciados, ou condicional, impondo requisitos de comportamento ao condenado 
para manter o perdão concedido. 
É importante destacar que o decreto presidencial que concede indulto não é 
auto-executável, dependendo da análise do juiz da execução penal para verificar se os 
objetivos subjetivos foram atendidos pelo beneficiário. 
Outra questão relevante é que o indulto coletivo não é concedido aos 
condenados por crimes hediondos e equiparados, conforme o disposto pelo artigo 2º, 
inciso I, da Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90). 
 
Anistia, graça e indulto constituem uma das formas mais antigas de extinção da 
punibilidade, conhecidas no passado como clemência soberana — indulgencia 
principis —, e justificavam-se pela necessidade, não raro, de atenuar os rigores 
exagerados das sanções penais, muitas vezes desproporcionais ao crime 
praticado. A anistia, já se disse, é o esquecimento jurídico do ilícito e tem por 
objeto fatos (não pessoas) definidos como crimes, de regra, políticos, militares 
ou eleitorais, excluindo-se, normalmente, os crimes comuns. A anistia pode ser 
concedida antes ou depois da condenação e, como o indulto, pode ser total ou 
parcial. A anistia extingue todos os efeitos penais, inclusive o pressuposto de 
reincidência, permanecendo, contudo, a obrigação de indenizar. 
 
A graça tem por objeto crimes comuns e dirige-se a um indivíduo determinado, 
condenado irrecorrivelmente. A atual Constituição Federal, no entanto, não 
mais consagra a graça como instituto autônomo, embora continue relacionado 
no Código Penal em vigor. Por isso, na prática, a graça tem sido tratada como 
indulto individual. A iniciativa do pedido de graça pode ser do próprio 
condenado, do Ministério Público, do Conselho Penitenciário ou da autoridade 
administrativa (art. 188 da LEP). 
 
O indulto coletivo, ou indulto propriamente dito, destina-se a um grupo 
indeterminado de condenados e é delimitado pela natureza do crime e 
quantidade da pena aplicada, além de outros requisitos que o diplomalegal 
pode estabelecer. Alguns doutrinadores chamam de indulto parcial a 
comutação de pena, que não extingue a punibilidade, diminuindo tão somente 
a quantidade de pena a cumprir. 
 
A nova ordem constitucional diz que são insuscetíveis de graça ou anistia a 
prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo 
e os crimes definidos como hediondos (art. 5º, XLIII, da CF e Lei n. 8.072). A 
concessão de anistia é de competência exclusiva do Congresso Nacional (art. 
48, VIII, da CF), independentemente da aceitação dos anistiados, e, uma vez 
concedida, não pode ser revogada. Já a concessão de graça e indulto é 
prerrogativa do Chefe do Executivo, que, no entanto, poderá delegá-la a seus 
Ministros (art. 84, XII e parágrafo único, da CF).3 
 
3 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1). São Paulo: 
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
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Em resumo, a extinção da punibilidade é um tema complexo, envolvendo 
diversas causas e possibilidades previstas em lei. É de suma importância que o juiz da 
execução penal analise criteriosamente os decretos de anistia, graça e indulto, 
garantindo que os princípios legais sejam respeitados e que a justiça seja aplicada de 
forma adequada e imparcial. 
 
 
Prescrição e decadência 
 
O sistema penal é um pilar fundamental em qualquer sociedade, pois visa 
garantir a ordem, a justiça e a proteção dos direitos dos cidadãos. Nesse contexto, 
diversos princípios e institutos do Direito Penal são aplicados para assegurar uma 
atuação equilibrada e justa do Estado frente aos delitos cometidos. 
Um dos pontos abordados no texto original é a retroatividade da lei penal, a qual 
implica que a nova legislação mais benéfica se aplica a fatos ocorridos antes de sua 
vigência. Esse princípio está presente no artigo 5º, XL, da Constituição Federal do Brasil 
de 1988, que dispõe que "a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu". Essa 
regra é essencial para evitar arbitrariedades e garantir que uma pessoa não seja punida 
por uma conduta que, no momento do ato, não era considerada crime. 
Outro ponto relevante é a prescrição, que ocorre quando o Estado não 
consegue punir o autor do delito dentro de um determinado prazo estabelecido em lei. 
No texto original, foi mencionado que a prescrição pode ocorrer de três formas: pela 
prescrição em abstrato, determinada pelo artigo 109 do Código Penal, que leva em 
conta a pena máxima prevista para o delito; pela prescrição em concreto, que considera 
a pena aplicada ao réu, nos casos em que não houve condenação; e pela prescrição da 
pretensão punitiva do Estado, que ocorre quando o Estado perde o direito de punir em 
decorrência do decurso do tempo. 
Em contrapartida, a decadência refere-se ao prazo em que o ofendido deve 
exercer o direito de representação ou de queixa, não podendo fazê-lo após esse 
período. O texto original menciona que o prazo de decadência é de 6 meses, contados 
a partir do conhecimento do fato ou do encerramento do prazo para oferecimento da 
denúncia. Essa medida protege o réu de ações tardias que poderiam prejudicar sua 
defesa. 
 
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A prescrição, por sua importância e complexidade, será analisada em capítulo 
próprio. 
 
Decadência é a perda do direito de ação privada ou do direito de representação, 
em razão de não ter sido exercido dentro do prazo legalmente previsto. A 
decadência fulmina o direito de agir, atinge diretamente o ius persequendi. A 
decadência foi mais bem examinada no capítulo da Ação Penal. 
 
Perempção é a perda do direito de prosseguir no exercício da ação penal 
privada, isto é, uma sanção jurídica aplicada ao querelante pela sua inércia, ou 
seja, pelo mau uso da faculdade que o Poder Público lhe concedeu de agir, 
privativamente, na persecução de determinados crimes. Na perempção, o 
querelante, que já iniciou a ação de exclusiva iniciativa privada, deixa de realizar 
atos necessários ao seu prosseguimento, deixando de movimentar o processo, 
levando à presunção de desistência (art. 60 do CPP). 
 
Enfim, a decadência atinge o direito de iniciar a ação penal; a perempção, o de 
nela prosseguir.4 
 
Por sua vez, o perdão judicial é uma prerrogativa do Estado para perdoar 
determinadas infrações, mesmo após a condenação, em situações previstas em lei. 
Essa é uma medida excepcional que visa, por exemplo, proteger a sociedade de 
punições excessivas ou desproporcionais. No entanto, é importante destacar que o 
perdão judicial não se confunde com o perdão concedido pela vítima, uma vez que o 
perdão judicial é uma decisão do Estado, enquanto o perdão da vítima é uma questão 
pessoal. 
A retratação do agente, por sua vez, ocorre quando ele reconhece seu erro e 
retira as acusações feitas anteriormente. Isso é comum em casos de calúnia ou 
difamação, por exemplo, e pode levar à extinção da punibilidade do acusado. É 
importante ressaltar que a retratação do agente só é válida em determinados crimes 
específicos e que, em alguns casos, mesmo com a retratação, o processo penal pode 
seguir adiante. 
 
 
 
 
 
4 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1). São Paulo: Editora 
Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
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Há hipóteses legais em que a retratação exime o réu de pena. Esses casos são 
os de calúnia, difamação, falso testemunho e falsa perícia. Pela retratação o 
agente reconsidera a afirmação anterior e, assim, procura impedir o dano que 
poderia resultar da sua falsidade. 
 
A injúria não admite retratação. Havia uma exceção para a injúria que fosse 
praticada por meio da imprensa (art. 26 da Lei n. 5.250/67, que foi afastada pela 
ADPF n. 130, julgada pelo STF). Na injúria, como afirmava Aníbal Bruno, “há só 
a ofensa da palavra ou do gesto, que ninguém pode retirar. Na calúnia e 
difamação o dano resulta da arguição falsa de fatos criminosos ou não 
criminosos. Se o acusador mesmo os nega, a vítima pode considerar-se 
desagravada e o seu crédito social livre de perigo, e com isso a punibilidade de 
ação típica se extingue. O Direito atende ao gesto do ofensor que procura 
reparar o dano desdizendo-se”. 
 
Também na falsa perícia ou no falso testemunho a retratação ou a declaração 
da verdade exclui a punibilidade. A declaração da verdade é o meio de corrigir 
o silêncio com que o agente a ocultou (art. 342, § 3º, do CP). Nessa hipótese, 
a retratação deve ser completa e ocorrer antes da publicação da sentença no 
processo em que ocorreu a falsidade. Ao contrário do que ocorre nos crimes 
contra a honra, nesse caso, a retratação comunica-se aos demais participantes5 
 
Além disso, é fundamental entender a conexão entre crimes, que pode ocorrer 
quando uma infração é pressuposto ou elemento constitutivo de outro delito. Nesses 
casos, a punibilidade do primeiro crime não se estende automaticamente ao segundo, 
sendo tratados de forma independente. Isso significa que mesmo que um crime conexo 
prescreva ou tenha outro instituto penal aplicado, o outro crime conexo pode ainda ser 
objeto de punição. 
Em resumo, o Direito Penal é um conjunto de normas e princípios que busca 
garantir a justiça e a segurança jurídica na sociedade. A retroatividade da lei penal, a 
prescrição, a decadência, o perdão judicial, a retratação do agente e a conexão entre 
crimes são importantes instrumentos para assegurar uma atuação justa do sistema 
penal. Esses institutos trabalham em conjunto para garantir que a aplicação da lei seja 
equilibrada e que os direitos de todos os envolvidos sejam respeitados.É essencial que 
o sistema penal esteja em constante evolução e adaptação para atender às 
necessidades e desafios da sociedade contemporânea. 
 
 
 
5 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1). São Paulo: 
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
Bibliografia 
 
 
BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 
(vol. 1).São Paulo: Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível 
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 
ago. 2023. 
 
 
OLIVÉ, Juan Carlos F.; BRITO, Alexis Couto de. Direito penal brasileiro, 2ª 
edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2017. E-book. ISBN 9788547215231. Disponível 
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547215231/. Acesso em: 03 
ago. 2023. 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740punição sem que haja responsabilidade subjetiva do 
agente. Ou seja, para que alguém seja responsabilizado criminalmente, é necessário 
comprovar sua culpa ou dolo na prática do delito. Isso significa que o indivíduo só pode 
ser punido se agiu de forma voluntária e consciente, tendo conhecimento da ilicitude de 
sua conduta. Esse princípio protege o indivíduo de responsabilizações injustas e 
arbitrárias. 
No entanto, existem exceções a esse princípio da responsabilidade subjetiva. 
Em alguns casos, a legislação prevê a responsabilidade objetiva, ou seja, o indivíduo 
pode ser responsabilizado independentemente de culpa ou dolo. 
O princípio da insignificância surge, também, como um dos pontos relevantes 
da discussão sobre os princípios do Direito Penal. Esse princípio é também conhecido 
como princípio da bagatela e estabelece que certas condutas de menor gravidade, que 
causem danos ou lesões insignificantes, não devem ser consideradas criminosas, uma 
vez que não representam uma ameaça relevante aos bens jurídicos tutelados pelo 
Direito Penal. 
 
 
 
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Em outras palavras, o princípio da insignificância preconiza que o sistema penal 
deve se ocupar apenas das condutas mais graves e socialmente reprováveis, evitando 
desperdiçar recursos e sobrecarregar o sistema judiciário com casos de pouca 
relevância ou que não geram impacto significativo à sociedade. 
No contexto do princípio da insignificância, são levados em consideração alguns 
critérios para avaliar a aplicação desse princípio. Entre eles, destaca-se o valor do bem 
ou objeto subtraído, o grau de lesão causado, a ausência de violência ou grave ameaça 
à vítima, a primariedade do agente, entre outros fatores. 
É importante ressaltar que a aplicação do princípio da insignificância exige 
cautela e análise cuidadosa do caso concreto, para garantir que o Direito Penal seja 
aplicado de forma justa e proporcional. Afinal, embora o princípio vise evitar a 
criminalização de condutas de pouca relevância social, ele não deve ser aplicado de 
forma a incentivar a impunidade ou a banalização de comportamentos delituosos. 
Em alguns países, como a Alemanha, o princípio da insignificância é aplicado 
de forma mais ampla, resultando na não responsabilização criminal de algumas 
condutas consideradas de mínima relevância. Já no Brasil, a aplicação desse princípio 
ainda é objeto de discussão e análise pelos tribunais, sendo necessário encontrar o 
equilíbrio entre a garantia da segurança jurídica e a proteção dos bens jurídicos 
tutelados pelo Direito Penal. 
Outro princípio importante é o da intervenção mínima, que preconiza que o 
Direito Penal deve ser utilizado apenas em última instância, ou seja, somente quando 
outras formas de controle social e prevenção não forem suficientes para proteger bens 
jurídicos e garantir a ordem social. Esse princípio busca evitar a criminalização 
excessiva e o encarceramento em massa, priorizando soluções mais brandas e eficazes 
para a resolução de conflitos. 
Um princípio que também merece destaque é o da humanidade das penas, que 
preconiza que as penas impostas aos infratores devem ser proporcionais ao delito 
cometido, evitando-se tratamentos cruéis, degradantes ou desumanos. Esse princípio 
busca garantir a dignidade e os direitos fundamentais dos indivíduos mesmo durante o 
cumprimento de suas penas. 
 
 
 
 
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Decorrente do movimento iluminista, notadamente a partir da obra de Beccaria, 
o princípio da humanidade consiste em tratar o condenado como pessoa 
humana e foi consagrado expressamente na Constituição da República, em 
vários preceitos, com especial destaque no art. 5.º, XLIX, que dispõe que é 
“assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. O inciso L do 
mesmo artigo realça a condição peculiar da condenada, estabelecendo que “às 
presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com 
seus filhos durante o período de amamentação”. 
 
O ápice da presença do referido princípio em nível constitucional está 
cristalizado no inciso XLVII do art. 5.º, ao estabelecer que não haverá penas: 
“a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) 
de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis”. 
 
O princípio da humanidade está estreitamente ligado ao princípio da dignidade 
da pessoa humana, que encontra nele seu fundamento substancial último. Tal 
princípio deve orientar toda ação estatal voltada ao condenado, não só na 
feitura da lei e no âmbito do cumprimento efetivo da pena, como também na 
aplicação da sanção administrativa e no resgate do condenado como pessoa 
humana. 
 
Com a concreção desse princípio, esculpido na Constituição da República, o 
condenado, que se encontra privado de sua liberdade, tem “[...] um status 
jurídico particular; é um sujeito titular de direitos fundamentais, ainda que com 
certas limitações derivadas de sua situação de reclusão”. 
 
Nessa perspectiva, merece ser sobrelevada, no princípio da humanidade, a 
menção aos fins preventivos da sanção penal, “[...] particularmente o fim de 
prevenção social que alguns sistemas elevam à dignidade constitucional ao 
proclamarem que a pena deve ter o senso de humanidade e tender à 
reeducação do condenado”. 
 
A Constituição da Espanha, por exemplo, traz como princípio reitor da execução 
penal, em seu art. 25.2, que as penas privativas de liberdade são direcionadas 
à reeducação e reinserção social do condenado. 
 
No mesmo sentido dispõe o art. 27 da Constituição italiana, assinalando que a 
pena não pode consistir em tratamento contrário à humanidade e deve se 
direcionar à reeducação do condenado. 
 
 
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Nessa linha, pondera-se ao Estado que faz uso do seu ius puniendi, “[...] um 
dever de ajuda e de solidariedade para com o condenado, proporcionando-lhe 
o máximo de condições para prevenir a reincidência e prosseguir a vida no 
futuro sem cometer crimes”. 
 
Não deve ser olvidado que a conquista histórica da humanização das penas 
propiciada pela recepção dos ideais aportados pela Ilustração, com 
especificidade no fomento à dignidade e à moral humana, teve o inegável efeito 
irradiante na internacionalização da proteção dos direitos humanos na busca 
efetiva da extirpação da opressão do Estado sobre os cidadãos. 
 
Merece ser destacada, nessa evolução protetiva dos direitos humanos, a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em Assembleia Geral 
da Organização das Nações Unidas (ONU), em 10 de dezembro de 1948, que, 
entre outros preceitos, estabeleceu, no seu art. 5.º: “Ninguém será submetido a 
tortura nem a punição ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes”. 
 
A despeito da importância histórica da referida declaração, é importante res-
saltarem-se documentos anteriores, como a Declaração dos Direitos do Homem 
da Virgínia, de 1776, que incorporou, em seu texto, a proibição da aplicação de 
penas cruéis ou inusitadas, cuja proibição foi repetida na própria Constituição 
dos Estados Unidos de 1787. 
 
Não se pode ignorar, ademais, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e 
Políticos, aprovado por unanimidade pela Assembleia Geral da ONU, realizada 
em 16.12.1966, com vigência a partir de 1976, merecendo destaque o seu art. 
6.º, que estabeleceu normas restritivas à pena de morte. 
 
Tampouco se pode olvidar a Convenção Americana de Direitos Humanos, 
proclamada em 22 de novembro de 1969, em San José da Costa Rica. A citada 
convenção sedimentou uma histórica conquista no sistema interamericano 
quanto à proteção regional dos direitos fundamentais do homem. 
 
É interessante assinalar que, em 8 de junho de 1990, a Organização dos 
Estados Americanos (OEA) aprovou, em assembleia geral, na reunião realizada 
em Assunção, Paraguai,o Protocolo à Convenção Americana de Direitos 
Humanos, referente à abolição da pena de morte. 
 
 
 
 
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Assinale-se que, antes do referido documento aprovado pela OEA, a ONU já 
havia aprovado dois Protocolos Facultativos ao Pacto Internacional sobre 
Direitos Civis e Políticos, com destaque para o segundo que focou a abolição 
da pena de morte. 
 
Verifica-se, assim, que o princípio da humanidade transcendeu, no decorrer das 
centúrias, os ordenamentos jurídicos locais e/ou regionais para buscar proteção 
no próprio direito internacional.4 
 
Além desses princípios, existem muitos outros que orientam a atuação do 
Direito Penal, como o princípio da individualização da pena, que determina que a pena 
aplicada ao infrator deve ser individualizada, levando em consideração suas 
circunstâncias pessoais, a gravidade do delito e as consequências do crime. Também 
temos o princípio da proporcionalidade, que exige que as medidas punitivas sejam 
proporcionais ao dano causado pelo crime, evitando-se excessos ou penas 
desproporcionais. 
Outro princípio relevante é o da subsidiariedade, que orienta que o Direito Penal 
deve atuar somente quando outras esferas do direito se mostrarem ineficientes na 
proteção dos bens jurídicos e na manutenção da ordem social. Assim, busca-se evitar 
a criminalização de condutas que poderiam ser solucionadas por outras áreas do direito. 
O princípio da intervenção mínima também merece destaque, pois indica que o 
Direito Penal deve intervir na vida das pessoas o mínimo possível, priorizando a 
proteção dos bens jurídicos mais relevantes para a sociedade. Isso significa que o 
legislador deve restringir a criminalização a condutas que efetivamente causem danos 
significativos. 
Além disso, o princípio da confiança pressupõe que os cidadãos seguirão as 
normas e regras estabelecidas pela sociedade, garantindo a manutenção da ordem e 
do respeito às leis. Esse princípio é essencial para o bom funcionamento do sistema 
jurídico como um todo. 
 
 
 
 
4 PRADO, Luiz R. Direito Penal Constitucional - A (Des)construção do Sistema Penal. São Paulo: 
Grupo GEN, 2020. E-book. ISBN 9788530991586. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530991586/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Resumidamente, compreender os princípios do Direito Penal é essencial para 
uma atuação justa, equilibrada e responsável do sistema penal. Essas diretrizes 
norteiam a criação das leis, a aplicação das penas e a proteção dos direitos individuais, 
contribuindo para uma sociedade mais justa e segura. O respeito a esses princípios 
assegura que o Direito Penal cumpra sua função de garantir a ordem social e a proteção 
dos cidadãos de forma eficiente e equânime. 
 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
Bibliografia 
 
PRADO, Luiz R. Direito Penal Constitucional - A (Des)construção do 
Sistema Penal. São Paulo: Grupo GEN, 2020. E-book. ISBN 9788530991586. 
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530991586/. 
Acesso em: 03 ago. 2023. 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
TRIBUNAL DO JÚRI E EXECUÇÃO PENAL 
 
 
Módulo: Direito Penal 
 
 
Tema 02: Iter Criminis 
 
 
Introdução 
 
Neste momento, o foco é dado ao estudo dos fundamentos do Direito Penal, 
com ênfase na análise do itinerário do crime, que compreende as diferentes fases que 
envolvem o processo criminoso. Essa compreensão é crucial para os profissionais que 
atuam na área jurídica, pois as nuances presentes em cada fase podem impactar 
diretamente na condução dos casos e nas decisões tomadas. 
Iter criminis, também conhecido como itinerário do crime, é um conceito jurídico 
que se refere ao caminho ou trajetória percorrida pelo autor de um crime desde o 
momento em que concebe a ideia de cometê-lo até a sua consumação. É uma teoria 
que descreve as diferentes etapas ou fases que envolvem a prática de um delito, 
levando em consideração os atos preparatórios, o início da execução, a consumação e, 
em alguns casos, o exaurimento. 
 
 
 
 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
As fases do iter criminis, aqui mencionadas e posteriormente aprofundadas, são 
as seguintes: 
 
• Cogitação: É a fase interna em que o agente concebe a ideia de cometer 
um crime, porém, ainda não exterioriza suas intenções. 
 
• Atos preparatórios: Nesta fase, o agente começa a planejar e executar 
ações que antecedem a prática do crime. São atos que indicam a 
intenção criminosa, mas ainda não caracterizam o delito em si. 
 
• Início da execução: É o momento em que o agente dá início à realização 
do crime, colocando em prática as ações que visam a sua consumação. 
 
• Consumação: É o ponto em que o crime é efetivamente cometido, ou 
seja, quando se verificam todos os elementos essenciais do tipo penal. 
 
• Exaurimento (ou consumação atípica): Em alguns crimes, após a 
consumação, podem ocorrer outros eventos que não se enquadram no 
tipo penal, mas que têm relação direta com o delito já cometido. Esses 
eventos são conhecidos como exaurimento. 
 
O iter criminis é um conceito relevante para a aplicação do Direito Penal, pois 
auxilia na diferenciação entre a cogitação e os atos preparatórios do crime propriamente 
dito, evitando que meros pensamentos sejam punidos, garantindo, assim, a segurança 
jurídica e a proteção dos direitos individuais. O conhecimento dessas fases também é 
importante para a devida apuração e investigação dos crimes, bem como para a 
adequada atuação das autoridades judiciais na aplicação da lei penal. 
Abordar-se-á minuciosamente cada fase, ressaltando sua importância e 
implicação nas leis. Deve-se desmistificar e esclarecer conceitos para obter uma 
formação sólida e fundamentada nas bases do Direito Penal. Ao longo da exploração, 
é ressaltada a necessidade de conhecer as particularidades de cada fase do crime, o 
que pode ser determinante para o desenrolar do processo. 
 
 
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A transição entre as fases dos atos preparatórios e o início da execução é uma 
linha tênue e muitas vezes difícil de ser identificada, exigindo apuração detalhada dos 
fatos e das circunstâncias que envolvem o caso. É nesse momento que a atuação do 
juiz, promotor e outros profissionais se torna crucial para determinar os limites e as 
implicações legais, evitando erros e garantindo uma justiça eficiente e justa. 
Vale ressaltar que o estudo dos crimes e suas fases não deve ser encarado 
como uma mera formalidade jurídica, mas sim como um conhecimento aprofundado que 
permite aos profissionais uma atuação mais segura e embasada, visando a proteção 
dos direitos individuais e coletivos. A aplicação dos princípios do Direito Penal, aliada à 
compreensão das particularidades de cada fase do crime, é essencial para o exercício 
de uma justiça mais equitativa e consciente. 
Nesse contexto, a formação sólida em Direito Penal e o entendimento das fases 
do crime são pilares fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa, 
onde os profissionais da área jurídica possam atuar de forma imparcial e comprometida 
com os princípios do Estado de Direito. O aprimoramento contínuo e a busca por 
conhecimento são essenciais para a excelência na atuação dos profissionais da justiça, 
contribuindo para a construção de um sistema penal mais justo e eficiente. 
 
 
O iter criminis e suas etapas 
 
O iter criminis, também conhecido como itinerário do crime, é um conceito 
essencial no Direito Penal, pois descreve o caminho percorrido pelo agente desde o 
momento em que concebe a ideia de cometer um delito até a sua consumação. É um 
tema de grande importância para os estudantes e profissionais do Direito, pois ajuda a 
compreender as diferentes fases que envolvem a práticade um crime e suas 
consequências jurídicas. 
Inicialmente, é fundamental destacar as várias etapas do iter criminis, que são 
a cogitação, os atos preparatórios, o início da execução, a consumação e, em alguns 
casos, o exaurimento. A cogitação refere-se à fase interna, em que o agente concebe a 
ideia do crime, mas ainda não exterioriza suas intenções. Já os atos preparatórios 
consistem nas ações que antecedem a execução do delito, indicando a intenção 
criminosa. 
 
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No momento em que o agente parte em direção ao seu objetivo, temos o início 
da execução, em que ele demonstra inequivocamente sua intenção de praticar o crime. 
Nesse ponto, o delito ainda pode ser evitado, pois a consumação não ocorreu. No 
entanto, ao consumar o crime, o agente alcança seu objetivo e realiza todas as condutas 
necessárias para a configuração do tipo penal. 
Vale ressaltar que nem todos os crimes passam por todas as fases do iter 
criminis. Alguns delitos podem ser consumados rapidamente, enquanto outros 
envolvem etapas mais complexas, como no caso de sequestros, extorsões, entre 
outros. Cada fase do iter criminis possui importância jurídica específica, e sua análise 
adequada é fundamental para a aplicação correta da lei penal. 
O início da execução é um momento delicado, pois marca a transição entre os 
atos preparatórios e a consumação. É o momento em que o agente dá início efetivo à 
prática criminosa, podendo ser punido por tentativa, caso não alcance a consumação 
por motivos alheios à sua vontade. É nessa fase que as autoridades judiciárias precisam 
ter cautela na análise dos elementos para evitar punir meras cogitações ou atos 
preparatórios. 
Além disso, o exaurimento é uma fase posterior à consumação, que pode 
aumentar as consequências do crime. Em algumas situações, o crime pode ter efeitos 
prolongados ou desdobramentos que ultrapassam a consumação do delito em si. 
Nesses casos, a pena pode ser agravada em razão das consequências mais graves 
causadas pelo crime. 
O conhecimento do iter criminis é fundamental para a adequada aplicação da 
lei penal e para garantir a justiça no sistema jurídico. A diferenciação entre as fases do 
crime evita punições indevidas e assegura a proteção dos direitos individuais. Portanto, 
é de extrema importância que estudantes e profissionais do Direito se aprofundem 
nesse tema e compreendam sua relevância na prática jurídica. 
De maneira resumida, o iter criminis é um conceito-chave no Direito Penal, que 
descreve o percurso do crime desde sua concepção até sua consumação. Compreender 
as diferentes fases do crime é essencial para a aplicação correta da lei e para garantir 
a justiça no sistema jurídico. A análise cuidadosa de cada etapa do iter criminis permite 
que as autoridades judiciárias ajam com precisão e evitem punições injustas. Portanto, 
aprofundar o estudo desse conceito é indispensável para todos os envolvidos na área 
do Direito. 
 
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Tentativa, Consumação e Crime impossível 
 
O iter criminis, conceito que descreve o caminho percorrido pelo crime desde 
sua concepção até sua consumação, é um tema de extrema relevância no âmbito do 
Direito Penal. Neste texto, vamos explorar mais a fundo as diferentes fases do crime, 
como a cogitação, os atos preparatórios, o início da execução, a consumação e o 
exaurimento, além de discutir os institutos da tentativa e do crime impossível. 
A cogitação representa a primeira etapa do iter criminis, caracterizada pelo 
planejamento interno do agente em cometer o delito. Nesse momento, as intenções 
criminosas ainda não foram manifestadas exteriormente. Os atos preparatórios, por sua 
vez, constituem as ações que antecedem a execução do crime e demonstram a vontade 
do agente em praticá-lo. É importante ressaltar que, em algumas situações, os atos 
preparatórios podem ser puníveis, caso a legislação assim determine. 
O início da execução é o momento em que o agente efetivamente inicia a prática 
do crime, demonstrando sua inequívoca intenção criminosa. É uma fase delicada, pois 
marca a transição entre os atos preparatórios e a consumação do delito. Se o agente 
não alcança a consumação por motivos alheios à sua vontade, ele pode ser punido por 
tentativa, de acordo com o artigo 14, inciso II do Código Penal. 
 
Art. 14 - Diz-se o crime: 
 I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua 
definição legal; 
 II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por 
circunstâncias alheias à vontade do agente. 
 Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a 
pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. 
 
A doutrina andou insistentemente em busca de regras gerais que distinguissem 
atos preparatórios e executórios com alguma precisão. Vários foram os critérios 
propostos para a diferenciação. Alguns autores consideraram os atos remotos 
ou distantes como meramente preparatórios, uma vez que não seriam 
perigosos em si, enquanto os atos mais próximos seriam executórios, pois 
colocariam em risco o bem jurídico. Os distantes seriam equívocos e os 
próximos (executórios) seriam inequívocos. E, à medida que os atos distantes 
se aproximam do momento executório, vão perdendo o seu caráter equívoco e 
tornando-se, cada vez mais, expres­são inequívoca de uma vontade criminosa 
dirigida a um fim determinado, merecedora da atenção da justiça penal. 
 
 
 
 
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A esses critérios sucederam-se muitos outros, todos insuficientes ou imprecisos 
demais para marcar a linha divisória entre a preparação e a execução. Os 
critérios mais aceitos são aqueles que partem do fundamento objetivo-material 
da punibilidade da tentativa, como conduta capaz de provocar a afetação de um 
bem jurídico protegido pelo Direito Penal. Estabelecido esse ponto de partida, 
o critério válido de delimitação entre atos preparatórios e atos executórios (início 
da execução) será aquele que permita identificar a tentativa como “início da 
execução da conduta típica”. 
 
Por outro lado, considerando que a Parte Especial é composta por uma 
multiplicidade de tipos de injusto, estruturalmente distintos (crimes de resultado, 
de mera conduta, comissivos, omissivos etc.), o critério de delimitação entre 
atos preparatórios e atos executórios (início da execução punível) deve ser 
capaz de abranger todas essas formas de manifestação do fenômeno 
criminoso. Nesses termos, o critério também deve ser objetivo-formal, que foi 
adotado pelo Código Penal brasileiro, de acordo com a redação do art. 14, II. 
Assim, a tentativa caracte­riza-se como o “início da realização do tipo”, isto é, 
com o início da execução da conduta descrita nos tipos da Parte Especial. 
O critério material vê o elemento diferencial no ataque direto ao objeto da 
proteção jurídica, ou seja, no momento em que o bem juridicamente protegido 
é posto realmente em perigo pelo atuar do agente. Assim, o crime define-se, 
materialmente, como lesão ou ameaça a um bem jurídico tutelado pela lei penal. 
O ato que não constitui ameaça ou ataque direto ao objeto da proteção legal é 
simples ato preparatório. No critério objetivo-formal, o começo da execução é 
marcado pelo início da realização do tipo, ou seja, quando se inicia a realização 
da conduta núcleo do tipo: matar, ofender, subtrair etc. É por demais conclusiva 
a lição do saudoso Aníbal Bruno, que pontificava: “Na realidade, o ataque ao 
bem jurídico para constituir movimento executivo de um crime tem de dirigir-se 
no sentido da realização de um tipo penal. O problema da determinação do 
início da fase executiva há de resolver-se em relação a cada tipo de crime, 
tomando-se em consideração sobretudo a expressão que a lei emprega para 
designar a ação típica. É em referência ao tipo penal considerado que se pode 
decidirse estamos diante da simples preparação ou já da execução iniciada. 
Para isso é preciso tomar em consideração o fim realmente visado pelo agente”. 
Há entendimento de que a teoria objetivo-formal necessita de complementação, 
pois, apesar de tê-la adotado e de o Código afirmar que o crime se diz tentado 
“quando, iniciada a execução, não se consuma...”, existem atos tão próximos e 
quase indissociáveis do início do tipo que merecem ser tipificados, como, por 
exemplo, alguém que é surpreendido dentro de um apartamento, mesmo antes 
de ter subtraído qualquer coisa; poder-se-á imputar-lhe a tentativa de 
subtração? Mas pode-se afirmar que ele teria iniciado a subtração de coisa 
alheia? Por isso, tem-se aceito a complementação proposta por Frank, que 
inclui na tentativa as ações que, por sua vinculação necessária com a ação 
típica, aparecem, como parte integrante dela, segundo uma concepção natural, 
como é o caso do exemplo supra referido. 
Por último, pode acontecer que em determinados casos (nas hipóteses de 
conflito aparente de normas, especialmente nos casos de crimes complexos de 
resultado) nos deparemos com a dificuldade de distinguir entre a prática de um 
crime consumado menos grave e o início da execução de um crime mais grave, 
que pode ser punido na sua forma tentada. Para uma adequada valoração dos 
fatos, é necessário analisar a tentativa sob uma perspectiva global, levando em 
consideração o plano do autor e o contexto em que ele se desenvolve. O plano 
do autor deverá ser entendido no sentido do dolo, como decisão de realizar 
deter­minada conduta típica, e demonstrado, na prática, através de indicadores 
externos, relacionados com o contexto em que a conduta se desenvolve, para 
que, finalmente, se defina como deve ser valorada a conduta realizada.1 
 
1 BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1).São Paulo: 
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
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A tentativa é uma das figuras mais relevantes relacionadas ao iter criminis. Ela 
ocorre quando o agente parte para a execução do crime, mas não consegue consumá-
lo por circunstâncias alheias à sua vontade. A pena para a tentativa é reduzida de 1/3 a 
2/3, conforme a proximidade da consumação. Além disso, a tentativa pode ser 
classificada como branca, quando a vítima não sofreu lesão alguma, ou cruenta, quando 
a vítima sofreu algum tipo de dano. 
Um ponto interessante a ser destacado é a diferença entre tentativa perfeita e 
tentativa imperfeita. Na tentativa perfeita, o agente esgota todos os atos de execução 
previstos no plano, mas o crime não se consuma. Na tentativa imperfeita, o agente não 
consegue realizar todos os atos de execução planejados, seja por sua vontade ou por 
fatores externos. Um exemplo de tentativa imperfeita seria o agente que dispara quatro 
tiros contra a vítima, acertando três, mas não alcançando seu objetivo de matá-la. 
Outro ponto importante é o crime impossível, previsto no artigo 17 do Código 
Penal. Ocorre quando o agente pratica todos os atos de execução, mas, por ineficácia 
absoluta do meio empregado ou por impropriedade do objeto, o crime não se consuma. 
 
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por 
absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. 
 
Nesse caso, o agente não responde pelo delito tentado, o que pode ser 
classificado como delito putativo, ou seja, quando o agente, equivocadamente, imagina 
que está cometendo um crime, mas, na verdade, ele não existe. 
Essas nuances do iter criminis têm extrema importância na aplicação da justiça, 
tanto na prática jurídica como nos concursos públicos na área do Direito. Compreender 
cada etapa do caminho percorrido pelo crime é fundamental para evitar punições 
indevidas e garantir a correta aplicação da lei penal. 
Vale salientar que nem todos os crimes permitem tentativa, sendo exclusiva de 
alguns delitos. Ademais, é relevante mencionar que a intenção do agente em praticar o 
delito é o elemento central na caracterização das diferentes fases do iter criminis. 
Sumamente, o estudo aprofundado do iter criminis é indispensável para todos os 
envolvidos no âmbito do Direito, sendo um dos pilares fundamentais na compreensão 
do sistema jurídico e na busca pela justiça. 
 
 
 
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Tentativa, a consumação e o crime impossível 
 
Tem-se por objetivo analisar e discorrer sobre os conceitos e nuances das fases 
do crime no Direito Penal, em os títulos a elas relacionados, em especial a tentativa, a 
consumação e o crime impossível. Trata-se de um tema fundamental para a 
compreensão do sistema jurídico e da aplicação da justiça na sociedade. 
Primeiramente, cabe ressaltar a importância do estudo das fases do Direito 
Penal, que constituem a base para determinar a responsabilidade do agente diante de 
uma infração penal. A tentativa, por exemplo, é caracterizada quando o indivíduo realiza 
atos de execução de um crime, mas não o concretiza por razões alheias à sua vontade. 
Nesse caso, a pena é reduzida, levando em consideração o grau de proximidade da 
consumação do delito. 
Por outro lado, temos a desistência voluntária, também conhecida como 
arrependimento eficaz, na qual o agente interrompe voluntariamente a execução do 
crime, evitando sua consumação. A legislação reconhece a intenção criminosa do 
agente, mas entende que a desistência é uma circunstância relevante para a redução 
da pena. 
 
Art. 15, CP- O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução 
ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. 
 
A desistência voluntária é uma causa de exclusão da tipicidade no âmbito do 
direito penal. Ela ocorre quando o agente, depois de iniciar a execução de um crime, 
desiste de prosseguir voluntariamente, evitando que o delito seja consumado. Ou seja, 
o sujeito ativo, por sua própria vontade, decide interromper a realização do ato 
criminoso, antes que este produza todos os resultados previstos na descrição típica do 
crime. 
Essa atitude demonstra que o agente, mesmo tendo dado início à execução, 
mudou de ideia e abandonou a conduta criminosa, evitando a consumação do delito. A 
desistência voluntária revela um recuo consciente e espontâneo do agente, o qual 
percebe que o crime não é a melhor alternativa e, portanto, decide não o levar até o fim. 
 
 
 
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É importante destacar que a desistência voluntária só é reconhecida quando 
ocorre antes de o crime se consumar completamente, ou seja, antes de todos os 
elementos descritos na figura típica estarem presentes. Se o delito já tiver se 
consumado, não há que se falar em desistência voluntária, pois o agente não pode 
"desfazer" o que já foi feito. 
Assim, a desistência voluntária é um elemento importante no sistema jurídico, 
pois incentiva a autodisciplina do agente e premia a mudança de comportamento antes 
que o dano ocorra, contribuindo para a prevenção de crimes e a promoção da justiça no 
âmbito penal. 
 
Todas as teorias clássicas que explicam o fundamento da impunidade da 
desistência são chamadas teorias jurídicas. MAX ERNST MAYER as qualificou 
de “curiosas antiguidades”, e hoje podem ser consideradas pratica- mente 
abandonadas. Consideram-se teorias jurídicas porque justificavam a não 
punição em razão da inexistência de algum requisito ou elemento do delito para 
poder ser qualificado como tentativa (serão objetivas se baseadas na falta de 
antijuridicidade ou subjetivas se baseadas na ausência de culpabilidade). Essas 
teorias partem de um ponto de vista retribucionista para justificar a pena. Mas 
quando se entende que a pena não é retribuição do delito cometido, sua 
afirmaçãoé insustentável. VON HIPPEL assumiu essa tese interpretando que 
a desistência era um elemento negativo do tipo. 
Mas não são as razões de lógica jurídica as que atualmente se aduz para 
justificar a impunidade da desistência, mas a discricionariedade legislativa: as 
chamadas teorias político-criminais veem o fundamento da não punição da 
desistência em razões utilitárias. Esse ponto de vista propagou-se na 
Alemanha, especialmente com o tratado de VON LISZT, que foi quem cunhou 
a famosa frase de ser a desistência uma “ponte de ouro” (ideia que remonta a 
FEUERBACH), e que vem ao encontro da expressão popular “ao inimigo que 
foge, ponte de prata” (diante do que se pressupõe a oportunidade de se resgatar 
a vítima), o que deveria indicar um “estímulo” para que o autor abandonasse a 
tentativa antes de chegar à consumação. Esse ponto de vista foi seguido, a 
princípio, na Alemanha, por uma boa parte da dou- trina e da jurisprudência do 
TS Imperial (RG). Ultimamente, todavia, pode- -se dizer que, tanto na Alemanha 
quanto em grande parte do nosso direito, foi praticamente abandonada (e 
continua sendo seguida minoritariamente por alguns autores como PUPPE), 
pois se demonstrou que a promessa de impunidade geralmente não influencia 
sobre a resolução do autor no momento de sua decisão. 
Uma teoria mais recente é chamada de teoria do prêmio ou da graça: quem 
voluntariamente desiste e evita a consumação do crime, ou ao menos se 
esforça seriamente para que a consumação não ocorra, apaga a má-impressão 
que seu fato causa na comunidade e merece, por isso, o perdão, segundo 
manifestam-se BOCKELMANN, WESSELS ou mais recentemente CH- 
RISTIAN JÄGER (Universidade de Bayreuth). 
Apesar de que atualmente possa ser considerada como a doutrina do- minante 
– particularmente na Alemanha – qualificou-se esta teoria como “fórmula vazia 
de conteúdo”. A teoria da graça – disse JAKOBS – limita-se a formular um 
pressuposto, ainda que não evidente, da impunidade, mas não contesta por que 
isso deve ser assim. 
 
 
 
 
 
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De outro ponto de vista, a chamada teoria do ressarcimento da culpabili- dade 
de HERZBERG (Schulderfüllungstheorie) afirma que a desistência indicaria 
uma diminuição da intensidade da vontade criminal, visão que mantém e 
fundamenta em boa parte a jurisprudência do Tribunal Supremo Alemão (BGH), 
abandonando a teoria da “ponte de ouro”, visão que pressupõe anu- lar o tipo 
subjetivo da tentativa (isto é, a voluntariedade). O que acontece, na verdade, é, 
como expressa WEIGEND, que a culpabilidade não desaparece, senão que se 
“compensa” com a desistência. 
A tese do fim da pena fundamenta a impunidade precisamente na desaparição 
do fim da pena, teoria que alguns autores compatibilizam com a tese do prêmio 
ou da graça. Afirma-se assim a inutilidade da punição do ponto de vista tanto 
da prevenção geral como da especial. A pena careceria de sentido quando o 
autor retorna à legalidade, retorno que se manifesta na desistência. Essa 
posição é defendida por um importante setor doutrinário (dentre os quais se 
destacam ROXIN, GÖSSEL e LAMPE, e com reservas MUÑOZ CONDE). 
É certo que se a pena não é útil nem necessária, não se deve impô-la, mas 
também se pode afirmar que, ainda que o castigo pudesse resultar útil no plano 
preventivo geral e especial, talvez – como manifesta MARGARITA MARTÍNEZ 
ESCAMILLA (Universidade Complutense de Madri) – sua aplicação não fosse 
necessária (dissemos que a necessidade preventiva é indemonstrável em 
certas ocasiões, mas não parece – como sustenta ROXIN –, que isto seja certo, 
particularmente com respeito à prevenção geral), como, por exemplo, no caso 
em que se afirmar a voluntariedade da desistência do médico que recomenda 
um tratamento facilitando os comprimidos necessários a uma mulher grávida 
para provocar-lhe o aborto, e diante do agravamento de saúde sofrido pela 
mulher, e a requerimento dos familiares, lhe proporciona um antídoto que evita 
a consumação.2 
 
Vale destacar que a desistência voluntária é distinta do arrependimento 
posterior, que ocorre quando o agente se arrepende após a consumação do crime e 
toma medidas para reparar o dano causado. Nesse caso, também é prevista a redução 
da pena, como forma de incentivo ao arrependimento e à reparação do dano. 
Além disso, é importante compreender que a tentativa e a desistência voluntária 
são diferentes do crime impossível. Este último ocorre quando o agente pratica atos de 
execução, acreditando que está cometendo um crime, mas, devido a circunstâncias 
externas ou a inidoneidade absoluta do objeto ou meio, o delito não pode ser 
consumado. Assim, o crime impossível é considerado atípico, ou seja, não há a 
configuração de crime e, portanto, não há aplicação de pena. 
Dessa forma, é fundamental que operadores do direito, como advogados, juízes 
e promotores, compreendam essas nuances do Direito Penal para aplicar corretamente 
a lei e garantir a justiça nas decisões judiciais. Além disso, o estudo dessas fases 
também é relevante para entender a dinâmica do crime e as motivações do agente, 
auxiliando na prevenção de condutas ilícitas. 
 
2 OLIVÉ, Juan Carlos F.; BRITO, Alexis Couto de. Direito penal brasileiro, 2ª edição. São Paulo: Editora 
Saraiva, 2017. E-book. ISBN 9788547215231. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547215231/. Acesso em: 03 ago. 2023. 
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Outro ponto a ser destacado é a importância do conhecimento jurídico na 
formação de cidadãos conscientes e comprometidos com a sociedade. O estudo do 
Direito Penal proporciona uma visão mais ampla dos direitos e deveres dos indivíduos, 
bem como das consequências de suas ações. 
É essencial, portanto, que o ensino jurídico seja valorizado e acessível a todos, 
contribuindo para uma sociedade mais justa e igualitária. A formação de profissionais 
do direito éticos e capacitados é imprescindível para o bom funcionamento do sistema 
jurídico e para a garantia dos direitos e liberdades dos cidadãos. 
Por fim, é relevante destacar a necessidade de uma constante atualização e 
aprofundamento no estudo do Direito Penal, uma vez que a legislação e as 
interpretações jurisprudenciais podem sofrer alterações ao longo do tempo. Assim, o 
comprometimento com a educação continuada é essencial para o aprimoramento da 
prática jurídica e para o cumprimento da missão de promover a justiça e a paz social. 
 
 
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Bibliografia 
 
 
BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 
(vol. 1).São Paulo: Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível 
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/. Acesso em: 03 
ago. 2023. 
 
OLIVÉ, Juan Carlos F.; BRITO, Alexis Couto de. Direito penal brasileiro, 2ª 
edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2017. E-book. ISBN 9788547215231. Disponível 
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547215231/. Acesso em: 03 
ago. 2023. 
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TRIBUNAL DO JÚRI E EXECUÇÃO PENAL 
 
 
Módulo: Direito Penal 
 
 
Tema 03: Tipo Penal 
 
 
Introdução 
 
O fato típico e a teoria do tipo penal são conceitos fundamentais no estudo do 
direito penal, e sua compreensão é essencial para a aplicação correta da legislação 
penal. O fato típico representa o ponto de partida de toda a análise criminal, pois é a 
partir dele que se inicia a análise dos demais elementos do crime, como a 
antijuridicidade e a culpabilidade. Sem o fato típico devidamente configurado, não há 
crime, o que torna esse conceito de extrema relevância no âmbito do direito. 
A teoria do tipo penal, por sua vez, é uma abordagem que busca sistematizar e 
interpretar as características dos tipos penais presentes nas normas, a fim de fornecer 
um guia para a adequadaaplicação das leis penais. Ela foi elaborada pelo jurista alemão 
Ernest Beling no início do século XX e influenciou o desenvolvimento do direito penal 
em diversos países. A teoria do tipo destaca a importância de entender o crime como 
uma figura delitiva, composta por elementos que se encaixam em um molde descrito na 
lei. 
 
 
 
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No contexto do fato típico, é importante destacar a relevância do nexo de 
causalidade na análise criminal. Esse elemento é responsável por estabelecer o vínculo 
entre a conduta do agente e o resultado do crime. Em algumas situações, pode ser 
desafiador determinar se a conduta do indivíduo foi a causa efetiva do resultado, ou se 
houve outras variáveis que contribuíram para o evento. Portanto, a investigação 
minuciosa e a análise criteriosa dos elementos do fato típico são fundamentais para que 
a justiça seja alcançada na aplicação da pena. 
Além disso, a teoria do tipo penal evoluiu ao longo dos anos, e novas 
perspectivas foram acrescentadas à sua compreensão. Dentre elas, destacam-se a 
teoria finalista e a teoria da imputação objetiva. A teoria finalista, desenvolvida por 
Welzel, considera não apenas o resultado do crime, mas também a finalidade desejada 
pelo agente no momento da conduta. Já a teoria da imputação objetiva, proposta por 
Roxin, leva em conta a criação de riscos proibidos pelo agente, independentemente de 
ter alcançado ou não o resultado almejado. 
Essas abordagens enriquecem a compreensão do fato típico e do tipo penal, 
proporcionando um olhar mais amplo e sofisticado sobre a responsabilização criminal. 
Compreender o fato típico e a teoria do tipo é essencial para garantir que as ações do 
Estado, representado pelo sistema de justiça criminal, sejam justas e efetivas na 
proteção dos valores fundamentais da sociedade. A aplicação correta e adequada das 
normas penais é um pilar essencial para a construção de um ambiente de convivência 
harmoniosa e de respeito aos direitos de todos os cidadãos. 
Resumindo, o estudo do fato típico e da teoria do tipo penal é de suma 
importância para o entendimento e aplicação adequada do direito penal. O fato típico, 
sendo o ponto inicial da análise criminal, representa a conduta humana que, 
devidamente configurada e associada aos demais elementos do tipo penal, constitui o 
crime. Essa compreensão é essencial para garantir a segurança jurídica e a justiça nas 
decisões criminais. 
A teoria do tipo penal, proporciona uma abordagem sistemática e interpretativa 
das normas penais, possibilitando uma análise criteriosa dos elementos que compõem 
o crime. A evolução dessa teoria ao longo dos anos, com perspectivas como a teoria 
finalista e a teoria da imputação objetiva, demonstra a importância de uma visão 
abrangente e atualizada do direito penal. 
 
 
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A correta aplicação do fato típico e da teoria do tipo assegura que a punição 
criminal seja direcionada aos responsáveis por comportamentos lesivos à sociedade, 
ao mesmo tempo em que protege os cidadãos de possíveis arbitrariedades estatais. Ao 
respeitar as garantias individuais e os princípios fundamentais do devido processo legal, 
a análise do fato típico e do tipo penal contribui para o fortalecimento da confiança na 
justiça e na efetivação dos direitos e deveres previstos na legislação. 
Portanto, o estudo aprofundado desses conceitos é essencial tanto para os 
profissionais do direito quanto para a sociedade como um todo, pois possibilita uma 
compreensão mais sólida dos fundamentos que norteiam a aplicação do direito penal. 
Ao promover uma análise cuidadosa dos fatos e das normas, a teoria do tipo penal atua 
como um verdadeiro filtro, garantindo que somente condutas verdadeiramente ilícitas 
sejam punidas e que os direitos dos cidadãos sejam devidamente protegidos. Dessa 
forma, o aprimoramento contínuo desses conceitos é essencial para a construção de 
um sistema de justiça criminal eficiente, justo e coerente com os valores fundamentais 
de uma sociedade democrática. 
 
 
A evolução do conceito da tipicidade 
 
O estudo da teoria do tipo penal é de extrema relevância para o entendimento 
e aplicação do direito penal. Ao longo do tempo, essa teoria passou por diversas fases, 
cada uma com suas perspectivas e abordagens específicas. A primeira fase, conhecida 
como "fase do tipo avalorado" ou "fase do tipo neutro", considerava o tipo penal como 
neutro e desprovido de conteúdo valorativo, sendo meramente uma descrição objetiva 
da conduta humana. 
 
O sistema naturalista, também chamado sistema clássico do delito, foi 
construído sob a influência do positivismo, para o qual ciência é somente aquilo 
que se pode apreender através dos sentidos, o mensurável. Valores são 
emoções, meramente subjetivos, inexistindo conhecimento científico de 
valores. Daí a preferência por conceitos avalorados, emprestados às ciências 
naturais, à psicologia, à física, à sociologia. 
O sistema apresenta um caráter eminentemente classificatório. Tem-se uma 
quantidade de elementares, que são distribuídas pelas diferentes categorias do 
delito do modo mais seguro e objetivo que se pode imaginar: através de critérios 
formais, sem atender minimamente ao conteúdo. 
Assim é que o conceito de ação surge como o genus proximum, sob o qual se 
subsumem todos os outros pressupostos do crime. É um conceito naturalista, 
pré-jurídico, que se esgota num movimento voluntário causador de modificação 
no mundo externo. 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Logo depois, assim que adentramos nas categorias jurídicas do delito, começa 
a distribuição classificatória das elementares. Existem elementares objetivas e 
subjetivas, descritivas ou valorativas. O positivista age de modo unívoco, 
classificando por critérios formais: tudo que for objetivo é posicionado no injusto; 
já o subjetivo vai para culpabilidade. E tudo que houver de valorativo, cai na 
antijuridicidade; o tipo e a culpabilidade são puramente descritivos.1 
 
Em seguida, surgiu a "fase do tipo indiciário", proposta por Max Ernst Mayer, 
em que a tipicidade passava a ser um indício de antijuridicidade, ou seja, a tipicidade 
indicava a possibilidade de haver também antijuridicidade no caso concreto. Essa 
concepção trouxe à tona importantes teorias, como a dos "elementos negativos do tipo", 
que considera que certas causas de justificação excluem não apenas a antijuridicidade, 
mas também a tipicidade, funcionando como elementos negativos do tipo. 
 
Substitui-se, portanto, a dogmática formalista-classificatória do naturalismo por 
um sistema teleológico, referido a valores. Ao invés de distribuir as elementares 
de acordo com critérios formais pelos diferentes pressupostos do delito, 
começou-se por buscar a fundamentação material das diferentes categorias 
sistemáticas, para que se pudesse, no passo seguinte, proceder à construção 
teleológica dos conceitos, de modo a permitir que eles atendessem à sua 
finalidade do modo mais perfeito possível. 
Em alguns autores, o conceito de ação perde sua importância, preferindo-se 
começar de pronto com o tipo, tendência essa, porém, que não parece ter sido 
majoritária. 
O tipo é compreendido materialmente, deixando de ser a descrição de uma 
modificação no mundo exterior, para tornar-se descrição de uma ação 
socialmente lesiva, portanto, antijurídica; isto é, o tipo objetivo e avalorado 
tornou-se tipo de injusto, antijuridicidade tipificada, em que também existem 
elementos subjetivos e normativos. A distinção entre tipo e antijuridicidade 
perde sua importância, florescendo em alguns autores a teoria dos elementos 
negativos do tipo, que vê na ausência de causas de justificação um pressuposto 
da própria tipicidade.2 
 
A seguir, a "fase da relação de subsunção" ou "fase do tipo de injusto", 
apresentada por Edmund Mezger, atribuiu ao tipo penal a funçãoconstrutiva da ilicitude 
ou antijuridicidade. Nessa perspectiva, havendo tipicidade, haveria também 
antijuridicidade, consolidando uma simbiose entre ambas. Essa concepção trouxe à luz 
a "teoria do tipo de injusto", que defende que a antijuridicidade está contida na tipicidade, 
sendo a tipicidade a base para a existência do injusto penal. 
 
 
 
 
1 GRECO, Luís. Introdução à dogmática funcionalista do delito. Revista Brasileira de Ciências 
Criminais. RBCCrim, v. 32, 2000. 
2 Id. 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Atualmente, podemos considerar o tipo penal como um conjunto de elementos 
descritivos contidos na lei penal, que define as formas possíveis de violação ao bem 
jurídico protegido e estabelece a matéria de proibição. Essa concepção resulta de uma 
evolução das teorias anteriores, incorporando seus elementos mais relevantes e 
adequando-se à realidade contemporânea. 
A doutrina penalista de Hans Welzel trouxe importantes características do tipo 
penal, destacando sua função objetiva e sua relevância para a concretização da 
antijuridicidade, além de limitar o iter criminis e ajustar a culpabilidade ao crime 
considerado. A adequação típica é fundamental para a concretização do crime, podendo 
ocorrer de forma imediata ou mediata, esta última quando o fato não se amolda 
imediatamente a uma norma penal incriminadora, sendo necessária a combinação de 
diferentes dispositivos legais. 
 
É sobre o conceito de ação que se edifica todo o sistema. “A teoria da ação 
agora desenvolvida é a própria teoria do ‘delito’”, diz WELZEL. Todas as 
categorias do delito são referidas a conceitos pré-jurídicos, obtidas por mera 
dedução, confiando-se na lógica intrínseca do objeto que se vai regular. 
O tipo torna-se a descrição de uma ação proibida – deixa de ser um tipo de 
injusto, tipificação de antijuridicidade, para tornar-se um tipo indiciário, no qual 
se enxerga a matéria de proibição (Verbotsmaterie). Como só se podem proibir 
ações finais, o dolo integra o tipo. Da mesma forma que os tipos são vistos 
formalmente, como meras normas proibitivas, também as causas de justificação 
não passam de tipos permissivos. E como têm por objeto ações finalistas, surge 
a exigência do elemento subjetivo de justificação.3 
 
Sobre o tipo no funcionalismo: 
 
o tipo é renormativizado, especialmente por considerações de prevenção geral. 
Entende-se que um direito penal preventivo só pode proibir ações que parecem, 
antes de sua prática, perigosas para um bem jurídico, do ponto de vista do 
observador objetivo. Ações que ex ante não sejam dotadas da mínima 
periculosidade não geram riscos juridicamente relevantes, sendo, portanto, 
atípicas.4 
 
 
 
 
 
 
3 GRECO, Luís. Introdução à dogmática funcionalista do delito. Revista Brasileira de Ciências 
Criminais. RBCCrim, v. 32, 2000. 
4 Id. 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Por fim, a teoria do tipo penal continua em constante evolução, pois o direito 
penal é uma área dinâmica que busca se adequar aos desafios e demandas da 
sociedade. O estudo aprofundado do tipo penal e sua relação com a antijuridicidade e 
a culpabilidade é fundamental para garantir a justiça e a segurança jurídica nas decisões 
criminais, bem como para proteger os direitos fundamentais dos cidadãos. A 
compreensão das diversas perspectivas e fases da teoria do tipo contribui para o 
aprimoramento do sistema de justiça criminal e para a construção de uma sociedade 
mais justa e equitativa. Portanto, é essencial que os profissionais do direito e estudantes 
se mantenham atualizados e comprometidos com a busca constante pela compreensão 
e aplicação adequada das normas penais. 
 
 
Conceito e elementos do tipo 
 
O estudo da teoria do tipo penal é de extrema importância para 
compreendermos os fundamentos do Direito Penal e a aplicação das normas jurídicas 
em relação à conduta humana. Discutiremos a fundo os conceitos apresentados 
anteriormente, buscando uma compreensão mais ampla e detalhada desses temas. 
A teoria do tipo penal tem como objetivo estabelecer critérios para a definição e 
identificação das condutas consideradas criminosas. O tipo penal é a descrição da 
conduta proibida pela lei, sendo composto por elementos objetivos, subjetivos e 
normativos. Ele define as características necessárias para que uma determinada 
conduta seja considerada criminosa, delimitando o direito de punir do Estado e os limites 
da liberdade individual dos cidadãos. 
No estudo dos elementos objetivos do tipo, analisamos a descrição da conduta, 
o objeto ou resultado do crime, bem como as circunstâncias externas que envolvem o 
fato. Por exemplo, no crime de furto, a subtração de coisa alheia móvel durante o 
repouso noturno é uma circunstância objetiva que pode agravar a pena. Esses 
elementos objetivos são fundamentais para caracterizar o crime e servem como base 
para a imputação ao acusado. 
 
 
 
 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Já os elementos subjetivos do tipo referem-se ao estado anímico do agente, ou 
seja, o seu estado mental e a intenção com que cometeu o ato. Os principais elementos 
subjetivos são o dolo e a culpa. O dolo representa a vontade consciente de praticar o 
crime, enquanto a culpa ocorre quando o agente não teve a intenção de cometer o delito, 
mas agiu com negligência, imprudência ou imperícia, causando um resultado lesivo. É 
importante lembrar que, na ausência de previsão legal, o crime é sempre considerado 
doloso. 
 
neste ponto, os funcionalistas em regra mantêm-se fiéis ao que propunha o 
finalismo: o dolo deve integrar o tipo, sendo um momento da conduta 
proibida[118]. Porém, está-se de acordo que essa consequência não decorre, 
de maneira alguma, de estruturas lógico-reais, mas isso sim de uma valoração 
jurídica. 
Ainda assim, não deixa de haver quem defenda o duplo posicionamento do dolo 
e da culpa, tanto no tipo, como na culpabilidade. Parte-se da consideração de 
que o sistema não é formado por compartimentos estanques, podendo um 
mesmo elemento ter relevância para mais de uma categoria sistemática. 
Outros autores, porém, dissecam o dolo, situando cada elemento num 
determinado estrato do sistema: SCHMIDHÄUSER, por ex., quer posicionar o 
momento volitivo do dolo no tipo, enquanto o momento cognitivo iria para a 
culpabilidade. O inverso parece defender SCHÜNEMANN, para quem o tipo 
compreenderia o elemento cognoscitivo do dolo, a culpabilidade o volitivo (que 
em seu sistema parece abranger mais que a vontade, sendo chamado de 
“componente emocial”).5 
 
Os elementos normativos do tipo são os mais complexos e exigem um juízo de 
valor, seja de natureza jurídica ou empírica-cultural. Eles podem ser jurídicos, quando a 
lei estabelece uma norma penal em branco ou uma expressão ambígua que exige 
complementação; ou extrajurídicos, que se referem a conceitos subjetivos como 
dignidade e decoro. Nesse caso, é necessário interpretar a norma à luz da cultura e dos 
valores da sociedade para entender a sua abrangência. 
A teoria dos elementos negativos do tipo também é relevante nesse contexto, 
pois destaca que a antijuridicidade faz parte do tipo penal. Isso significa que a conduta 
só será típica se não estiver amparada por uma causa de justificação, ou seja, uma 
excludente de ilicitude. Caso a conduta seja considerada ilícita, não haverá fato típico, 
uma vez que a antijuridicidade está intrinsecamente ligada à tipicidade. 
 
 
 
5 GRECO, Luís. Introdução à dogmática funcionalista do delito. Revista Brasileira de Ciências 
Criminais. RBCCrim, v. 32, 2000. 
Alexandre Silva de Aguiar - 08635335740
 
 
 
 
 
Ainda, a teoria da atividade conglobante, desenvolvida por Zaffaroni, argumenta 
que a mera adequação formal do fato à norma penal não é suficiente para afirmar a 
tipicidade. É necessário verificar se o fato, aparentemente violador de uma norma penal 
proibitiva, não é permitido

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