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Concurso de Crimes no Código Penal

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Direito Penal II
Prof. Alexandre Leopoldo
Aula 1
O Código Penal antevendo a possibilidade de o agente praticar vários delitos, regulou o tema relativo a concurso de crimes, por intermédio de seus artigos 69,70 e 71 que prevêem, respectivamente, 
o concurso material (real), 
o concurso formal (ideal) e o 
crime continuado, cada qual com suas características e regras próprias, que servirão de norte ao julgador no momento crucial da aplicação da pena. 
 
É posição dominante aquela que assevera não estar o tema relativo ao concurso de crimes relegado a teoria da pena, muito embora estejam as suas modalidades previstas no cap. III(da aplicação da pena) do Titulo V(das Penas) do CP, uma vez que o próprio entendimento do tema em estudo faz-se mister seja ele tratado. 
CONCURSO DE CRIMES
CRITÉRIO PARA DEFINIÇÃO DE CONDUTA
Conduta: Finalismo de Weltzel. 
Se o indivíduo está em busca de uma finalidade pratica uma única conduta. Fator: Finalidade( Não basta)
Conduta do tipo: Fator Normativo. Exame de cada tipo penal( Juízo de valor do tipo)
Exame da finalidade + Exame da carga normativa do tipo penal
Artigo 69 do CP. O primeiro aspecto a ser observado diz respeito ao conceito de ação que pode ser concebido segundo uma concepção causal, final ou social. Resumidamente para os causalistas, que adotam um conceito naturalista, ação é a conduta humana voluntária que produz uma modificação no mundo exterior. O conceito final de criado por Welzel juntamente com sua teoria, diz ser ela o exercício de uma atividade final. O conceito social de ação que surgiu com a finalidade de ser uma ponte entre as duas teorias anteriores,traduz o conceito de ação como sendo a conduta socialmente relevante, dominada ou dominável pela vontade humana.
 
	Alem dos aspectos próprios de cada definição, é preciso salientar que a ação pode ser composta por um ou vários atos. Os atos são, portanto, os componentes de uma ação e delas fazem parte.Isso quer dizer que os atos que compõem uma ação não são ações me si mesmo, mas sim parte de um todo. Pode o agente efetuar diversos disparos com arma de fogo em direção a vitima com animus necandi. Cada disparo é um ato que pertence a uma única ação de matar alguém.
CONCURSO MATERIAL OU REAL DE CRIMES
REQUISITOS E CONSEQUENCIAS DO CONCURSO MATERIAL OU REAL
 
Requisitos: a) Mais de uma ação ou omissão
b) A pratica de dois ou mais crimes.
 
Conseqüências: Aplicação cumulativa das penas privativas de liberdade em que haja incorrido
	A questão do chamado concurso material cuida da hipótese de quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, poderá ser responsabilizado, em um mesmo processo, em virtude da pratica de dois ou mais crimes. Caso as infrações tenham sido cometidas em épocas diferentes, investigadas por meio de processos diferentes, que culminaram em varias condenações, não se fala, segundo a nossa posição em concurso material, mas sim em soma e unificação das penas aplicadas, nos termos do artigo 66 III a da LEP com a finalidade de ser iniciada a execução penal.
O concurso material surge quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes que tenham entre si relação de contexto, ou que ocorra a conexão ou a continência, cujos fatos criminosos poderão ser analisados em um mesmo processo, quando a final, se comprovados, farão com que o agente seja condenado pelos diversos delitos que cometeu, ocasião na qual, como veremos a seguir o juiz cumulara materialmente as penas de cada infração por ele levada a efeito.Essa posição que assumimos é minoritária não sendo adotada pela maioria esmagadora de nossos autores a exemplo de Flavio Augusto Barros: “Caracteriza-se o concurso material ainda quando alguns dos delitos venham a ser cometidos e julgados depois de os restantes o terem sido, porque não há necessidade de conexão entre eles, podendo os diversos delitos ser objeto de processos diferentes.”
Para Rogério Greco, o fato de determinada infração penal ter sido julgada e posteriormente a ela outra vier a ser praticada a soma das penas não deve ser tratada como hipótese de concurso material de crimes. Nesse caso, haverá tão somente a soma das penas pelo juízo de execução para fins de inicio de seu cumprimento.
 
	Contudo, uma vez afirmada existência do concurso material, a regra a ser adotada será a do cumulo material. Como dito linhas atrás, o juiz deverá encontrar, isoladamente a pena correspondente a cada infração penal praticada pelo agente. Após o calculo final de todas elas, haverá o cumulo material, ou seja, as penas somadas para que seja encontrada a pena total a ser aplicada ao sentenciado que, por sua vez, poderá somar-se a outras para efeitos de inicio de execução, sendo ainda possível a unificação.
 
	Estamos falando em soma e unificação como se fossem institutos distintos, e realmente o são. Se não fossem, a lei não teria a necessidade de mencionar as duas hipóteses, como faz na alínea a do inciso III do artigo 66 da LEP que diz competir ao Juiz da Execução penal decidir sobre a soma ou a unificação das penas
CONCURSO MATERIAL HOMOGENEO E HETEROGENEO
 
Concurso Homogêneo: Quando o agente comete dois ou mais crimes idênticos, não importando se a modalidade praticada é simples, privilegiada ou qualificada.
Concurso Heterogêneo: Quando o agente vier a praticar duas ou mais infrações penais diversas. Como a regra adotada pelo Código Penal é a do cumulo material, tal distinção não tem relevância pratica, ao contrario do que ocorre, por exemplo, com o concurso formal, cuja analise será feita adiante.
Concurso Material e penas restritivas de direitos.
 
	O §1º do artigo 69 do CP assevera: “Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que determina o artigo 44 do CP, sendo que o §2º do mesmo artigo aduz que quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais”.
 
	Alberto Silva Franco: “É perfeitamente possível a ocorrência de concurso material de infrações com aplicação de penas privativas de liberdade que comportem substituição por penas restritivas de direito, em regime também cumulativo. Se, no entanto, em relação a uma delas a pena privativa de liberdade não tiver sido suspensa a substituição das demais torna-se inviável. Obsta tal procedimento o artigo 69 §1º. Por outro lado no caso de aplicação cumulada de penas restritivas de direitos, a execução dessas penas poderá ser simultânea( suspensão de habilitação para dirigir veículos, por um fato e prestação de serviços a comunidade, por outro) se entre elas houver compatibilidade, ou sucessiva(duas penas de limitação de fim de semana se tal incompatibilidade inocorrer.
CONCURSO FORMAL OU IDEAL DE CRIMES
 
	Fundadas em razoes de política criminal, a regra do concurso formal foi criada a fim de que fosse aplicada em beneficio dos agentes que, com a pratica de uma conduta, viessem a produzir dois ou mais resultados também previstos como crime. Segundo a definição de Maggiore, “concurso formal é tipicamente, o realizado pela hipótese de um fato único(ação ou omissão) que viola diversas disposições legais.” 
Duas teorias: 
1º) Teoria da unidade: Não obstante a lesão de várias leis penais, existe um só delito. Na realidade, a expressão concurso ideal denota, por si mesma, a inexistência de uma verdadeira pluralidade de delitos, e indica, que ainda quando se tenham concretizado varias figuras, somente se há cometido um delito. 
 
2ª) Teoria da Pluralidade: A lesão de vários tipos penais significa a existência de vários delitos. O fato de que no concurso ideal exista tão somente uma ação, resulta sem o significado para essa doutrina” sendo que ao final de seu raciocínio o renomado autor aponta a teoria da unidade de delito como a de sua preferência. 
REQUISITOS PARA O CONCURSO FORMAL OU IDEAL
 
1ª) Uma só ação ou
omissão
2º) Pratica de dois ou mais crimes.
Conseqüências:
1º Aplicação da mais grave das penas, aumentadas de um sexto até a metade.
2º) Aplicação de somente uma das penas, se iguais, aumentadas de um sexto a metade
3º) Aplicação cumulativa das penas, se a ação ou omissão é dolosa, e os crimes resultam de desígnios autônomos.
 
Não raro acontecer que o agente, mediante uma só ação ou omissão, produza dois ou mais resultados incriminados pela lei penal. Suponhamos que alguém dirigindo de forma imprudente, em razão de velocidade excessiva, venha a capotar o seu veiculo causando a morte de 3 passageiros que com ele se encontravam. Houve três resultados tipificados pela lei penal, todos provenientes da conduta única do agente.
A conduta do agente se distingue em dolosa ou culposa. O concurso formal admite ambas as modalidades. Contudo as conseqüências serão diversas, dependendo do elemento subjetivo inicial do agente. Poderá ter agido com culpa e, devido ao fato de não ter observado o seu necessário dever de cuidado, todos os resultados lhe serão atribuídos a esse titulo como no exemplo acima fornecido no qual o agente na direção de veiculo causa 3 mortes. Pode acontecer, também que a conduta seja dirigida finalisticamente a causar a morte da vitima e por erro na execução o agente não só atinja a pessoa que pretendia atingir como também atinge pessoa diversa( A atira em B( dolosa) , acerta, mas também por erro acerta C (culposa)).
Outra possibilidade: A atira contra B e C querendo a morte dos dois, como a finalidade era matar os dois, será aplicada a ultima parte do artigo 70 do CP, pois que, in casu, teria agido com desígnios autônomos
 
	As conseqüências destacadas acima irão varias de acordo com a espécie de concurso formal se homogêneo ou heterogêneo, bem como se o agente atuou com desígnios autônomos, conforme veremos a seguir.
 
CONCURSO FORMAL HOMOGENEO E HETEROGENEO
 
1º) Concurso Formal Homogêneo: Quando pratica com uma ação dois ou mais crimes idênticos: 
Solução: Aplica-se uma das penas aumentadas de 1/6 a metade.
2º) Concurso Formal Heterogêneo: Quando pratica com uma ação ou omissão dois ou mais crimes diferentes:
Solução: Seleciona a pena mais grave e aumenta de 1/6 a metade.
CONCURSO FORMAL PROPRIO(PERFEITO OU IMPROPRIO( IMPERFEITO)
 
	A distinção varia de acordo coma existência do elemento subjetivo do agente ao iniciar a sua conduta
1º) Concurso Formal Perfeito: No caso de a conduta do agente for culposa na origem ou na hipótese em que a conduta era dolosa, mas o resultado aberrante lhe é atribuído a titulo de culpa será reconhecido como concurso formal próprio ou perfeito. A esse concurso aplica-se o percentual de aumento de 1/6 a metade de aumento da pena
2º Concurso Formal Imperfeito: É aquele contido na parte final do caput do artigo 70 do CP em que a lei fez prever a possibilidade de o agente atuar com desígnios autônomos, querendo dolosamente, a produção de ambos os resultados. Ex: A querendo matar A, B e C atira com uma arma potente matando os 3). Pelo fato de ter o agente atuado com desígnios autônomos, almejando dolosamente a produção de todos os resultados a regra será a do cumulo material, isto é embora praticado uma só conduta , promotora de dois ou mais resultados, se esses resultados tiverem sido queridos por ele inicialmente, ao invés da aplicação do percentual de aumento de 1/6 a metade as penas será cumuladas materialmente.
 3 hipóteses que ocorre o concurso formal imperfeito:
Visualiza vários resultados com comportamento único.
Erro na execução e resultado diverso do pretendido
Em que a lei mesma determina o somatório das penas . Ex : art 151 e 141 §3º.
CONCURSO MATERIAL BENEFICO
	 As regras do concurso formal foram criadas em beneficio do agente, que por intermédio de uma conduta única, produziram dois ou mais resultados incriminados pela lei penal.
	Caso a opção tivesse recaído sobre o cumulo material, tal como no artigo 69 do CP, as penas correspondentes a cada infração penal deveriam ser cumuladas materialmente.
 
	Em virtude desse raciocínio, o parágrafo único do artigo 70 do CP ressalvou que a pena não poderá exceder a que seria cabível pela regra do artigo 69. Isso quer dizer que, no caso concreto, deverá o julgador aferir se efetivamente a regra do concurso formal esta beneficiando o agente ou se esta prejudicando. Ex: Alguém querendo matar outra pessoa e matando e por erro na execução cause lesões leves em outra pessoa.
	Nesse caso a aplicação do cumulo matéria seria mais benéfico ao agente atendendo a regra do artigo 70 parágrafo único do CP.
 
Dosagem da Pena: Quanto mais o numero de infrações maior é o percentual de aumento.
CRIME CONTINUADO
 
	A figura do crime continuado não é recente. As suas origens políticas acham-se sem duvida no favor rei que impeliu os juristas da Idade Media a considerar como furto único a pluralidade de furtos para evitar as conseqüências draconianas que de modo diverso deveriam ter lugar :a pena de morte.
	Das 3 hipóteses de concurso de crimes é sem duvida o crime continuado que apresenta maiores discussões doutrinarias e jurisprudenciais. Devera ser aplicado somente quando vier a beneficiar o agente conforme determina a ultima parte do p.único do artigo 71.
 
NATUREZA JURIDICA DO CRIME CONTINUADO
1º)Teoria da Unidade: Entende o crime continuado como um crime único.
2ª) Teoria da ficção jurídica: São consideradas ficticiamente um único delito
3ª) Teoria mista reconhece o crime continuado como um terceiro crime, fruto do próprio concurso.
 
	Nossa lei adotou a teoria da ficção jurídica, entendendo que uma vez concluída pela continuidade delitiva, devera a pena do agente sofrer uma exasperação.
REQUISITOS E CONSEQUENCIAS
Requisitos:
1º) Mais de uma ação ou omissão
2º) pratica de dois ou mais crimes, da mesma espécie
3º) condições de tempo lugar, maneira de execução e outras semelhantes
4º) Os crimes subseqüentes devem ser havidos como continuação do primeiro
Conseqüências:
1º) Aplicação da pena de um só dos crimes, se idênticas, aumentadas de 1/6 a 2/3
2º) Aplicação da pena mais grave, se diversas, aumentadas de 1/6 a 2/3.
3º) nos crimes dolosos, contra vitimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça a pessoa aplicação da pena de um só dos crimes, se idênticas aumentadas ate o triplo.
CRIMES DA MESMA ESPÉCIE
 
 
1º) Crimes da mesma espécie são aqueles que possuem o mesmo bem juridico protegido. Posição mais liberal. Posição do Mayr e do Alcides.
 
2º) São aqueles que possuem a mesma tipificação, não importando se simples, tentado, privilegiado. Nelson Hungria. Dominante. STF . MP. O que leva a uma contradição porque se ofende o mesmo tipo penal como pode ser o qualificado o simples e o privilegiado. Essa posição esta defasada pelo menos uns 20 anos, porque tinha como fator de interpretação o Código Italiano. Código Rocco. Só que esse código Rocco já foi revogado. Antiga disposição que tratava da reincidência especifica (Crimes da mesma natureza). Com a mudança da parte geral acabou a reincidência especifica E hoje o próprio Código Penal nos leva a essa interpretação no artigo 69 e 70 (Crimes idênticos ou não). A única interpretação que esta vedada por lei é a que considera-se crime da mesma espécie aquele que atinge o mesmo tipo penal. Legislador de crime hediondo, ressuscitou o conceito de crime da mesma natureza, que é inaceitável equiparar Trafico de drogas com latrocínio.
STJ : Mesmo bem jurídico protegido.
STF: Mesmo tipo Penal.
 
3ª) Posição da doutrina alemã: Crimes que se parecem, porque a idéia do crime continuado é da parecença, da similitude. Ex: Furto e defraudação de penhor. Artigo 155 e 346.
Condições de Tempo, lugar, maneira de execução ou outras semelhantes.
 
Tempo: Não há como mensurar, deve haver uma relação de contexto com os fatos, para que o crime não se confunda com reiteração criminosa. STF: 30 dias.
 
Lugar: Da mesma forma deve existir uma relação de contexto. A doutrina e a Jurisprudência
vacila sobre a possibilidade de não se reconhecer se em caso de cidades diferentes, mas deve se levar em conta o contexto das condutas praticadas.
 
Maneira de Execução:(Modus Operandi) O agente pode ter um padrão de comportamento que nem sempre se repetira o que não poderá impedir o reconhecimento da continuidade delitiva, desde que, frisamos mais uma vez não exista uma relação de contexto de unicidade entre as diversas infrações penais.
	Permite o CP ainda o emprego da interpretação analógica, uma vez que após se referir as condições de tempo lugar e maneira de execução, apresenta outras semelhantes. Isso quer dizer que as condições objetivas indicadas pelo artigo devem servir de parâmetro a interpretação analógica por ele permitida existindo alguns julgados conforme noticia Alberto Silva Franco que tem entendido que o aproveitamento das mesmas oportunidades e das mesmas relações pode ser incluído no conceito de condições semelhantes.
 
Os crimes subseqüentes devem ser havidos como continuação do primeiro
 
	Exige o artigo 71 do CP “que os crimes subseqüentes devem ser havidos como continuação do primeiro”
 
Teorias que disputam o tratamento do crime continuado:
Teoria Objetiva : Preconiza que basta a presença dos requisitos objetivos que, pelo artigo 71 do CP, são as condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes. Na há necessidade de se aferir à unidade de desígnios, por nos denominada de relação de contexto, entre as diversas infrações penais.
Teoria Subjetiva: Independe dos requisitos objetivos, bastando à unidade de desígnio, ou seja, a relação de contexto entre as ações praticadas.
Teoria Mista ou Híbrida: Exige tanto as condições objetivas como indispensável o dado subjetivo. Devendo ser considerada também a relação de contexto.
 
Crimes Dolosos contra vitimas diferentes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa:
 
	O Parágrafo Único do artigo 71 do CP diz que “ os crimes dolosos contra vitimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça a pessoa poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstancias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do artigo 70 e 75 do CP.”
 
Permitindo expressamente, portanto a aplicação da ficção jurídica do crime continuado nas infrações penais praticadas contra vitimas diferentes cometidas com violência ou grave ameaça à pessoa.
 
	Com a redação trazida pela parte geral de 1984, cai por terra a Sumula 605 do STF, que dizia não se admitir a continuidade delitiva nos crimes contra a vida. Hoje portanto, será perfeitamente admissível a hipótese de aplicação das regras do crime continuado aquele que por vingança resolve exterminar com todos os homens pertencentes a uma família rival, a sua, ou na hipótese de roubo.
 
Crime continuado simples e Crime continuado qualificado
 
	A Possibilidade de haver a continuidade delitiva nas infrações penais em que o agente tenha atuado com emprego de violência ou grave ameaça a pessoa , contra vitimas diferentes, fez surgir a distinção entre o crime continuado simples e o crime continuado qualificados. Diz-se simples o crime continuado nas hipóteses do artigo 71 caput e qualificados na s hipóteses do parágrafo único do artigo 71.
Conseqüências do crime continuado
 
	Nas hipóteses de crime continuado simples, determina a lei que deve ser aplicada a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave se diferentes, aumentadas em qualquer caso de um sexto a dois terços.
	No chamado crime continuado qualificado, o juiz , após considerar a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstancias, poderá aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas ou a mais grave, se diversas até o triplo. O triplo será o teto Maximo. E qual seria o aumento mínimo? Fazendo uma interpretação sistêmica do Código Penal, chegamos a conclusão de que o aumento mínimo será de um sexto, o mesmo previsto no caput do artigo 71, uma vez que não seria razoável que o juiz procedesse a aumento inferior ao determinado na hipótese de crime continuado simples que, em teses, configura-se em situação menos grave do que a do parágrafo único.
Concurso Material Benéfico
 
	O parágrafo único do artigo 71 determina que seja observada a regra relativa ao concurso material benéfico, prevista no parágrafo único do artigo 70 do CP. O mesmo raciocínio que fizemos ao analisar o concurso formal pode ser transportado para o tema correspondente ao crime continuado. A ficção do crime continuado, por razoes de política criminal foi criada em beneficio do agente. Assim, não seria razoável que um instituto criado com essa finalidade, viesse, quando da sua aplicação prejudicá-lo. Se o Juiz, portanto, ao levar a efeito os cálculos do aumento correspondente ao crime continuado, verificar que tal instituto, se aplicado, será mais gravoso do que se houvesse o concurso material de crimes, deverá desprezar as regras daquele e proceder ao cumulo material.
 
Dosagem da pena no Crime Continuado
	O percentual de aumento varia de acordo com o numero de infrações cometidas.
 
Crime continuado e novatio legis in pejus
 
	 Pode acontecer que durante a cadeia de infrações penais praticadas pelo agente, parte dela seja cometida durante a vigência de uma lei nova, que agravou, por exemplo, a situação anterior. Ou seja, parte das infrações penais foi praticada durante a vigência da Lei A, e outra parte , durante a vigência da Lei B, sendo a posterior mais gravosa.
O STF vem decidindo reiteradamente no sentido de que a lei mais gravosa será aplicada a toda cadeia de infrações penais, pois se o agente praticou a serie de crimes sob o império da nova lei, presume-se que o criminoso já estava advertido da maior gravidade da sanção e persistiu na pratica da conduta.
 
	A reiteração de decisões nesse sentido levou a elaboração do enunciado numero 711 da Sumula do STF. “ A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior a cessação da continuidade ou da cessação.”
 
Aplicação da pena no concurso de crimes
 
	Em qualquer das modalidades de concurso de crimes devera o juiz aplicar isoladamente a pena correspondente a cada infração penal praticada.
 
	Tal raciocínio é necessário porque o CP determina no artigo 119 que no caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente, ou seja, o juiz não poderá levar a efeito o cálculo da prescrição sobre o total da pena aplicada, no caso de concurso de crimes, devendo se conhecer de antemão, as penas que por ele foram aplicadas em seu ato decisório e que correspondem a cada uma das infrações praticadas isoladamente.
Suponhamos que alguém tenha sido condenado pela praticas de um homicídio culposo e uma lesão corporal culposa. Se considerar isoladamente a pena mínima do homicídio a prescrição se daria em 2 anos. Se aplicar considerando o concurso de crimes a prescrição se daria somente em 4 anos.
Multa no Concurso de crimes
 
Artigo 72 : Em quaisquer das hipóteses de concurso de crimes as penas de multa deverão ser aplicadas isoladamente para cada infração penal
DOS CRIMES ABERRANTES
 
 
Aberratio ictus
Aberratio criminis
Aberratio causae
 
ERRO NA EXECUÇÃO( Aberratio ictus).
 
	A palavra erro aqui empregada não tem o sentido de falso conhecimento da realidade. Nesse caso, como veremos a seguir, o agente conhece exatamente aquilo que esta acontecendo. Contudo por desvio no golpe ou por uma aberração no ataque, o agente, ao invés de atingir tecnicamente, a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa. Não há, portanto, tecnicamente, qualquer pensamento dissociado da realidade.
 
	São vários os detalhes que merecem atenção no estudo do erro na execução.
 
o agente quer atingir uma pessoa;
contudo,
por acidente ou erro no uso dos meios de execução, vem a atingir uma pessoa diversa.
Trata-se de erro de pessoa para pessoa, ou seja o agente quer atingir determinada pessoa e acaba atingindo pessoa diversa.
Sendo um erro de pessoa para pessoa, o agente pode atingir somente aquela contra a qual não estava dirigindo a sua conduta ou mesmo produzir um duplo resultado. Por essa razão, a aberratio ictus pode ser dividida em:
 
aberratio ictus com unidade simples;
aberratio ictus com unidade complexa.
Na primeira hipótese, o agente ao invés de atingir pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, produzindo um único resultado( Morte ou lesão corporal). O artigo 73 do CP. determina, neste caso, seja aplicada a regra do erro sobre a pessoa, prevista no §3º do artigo 20 do Código Penal Assim, se houver a produção do resultado morte em pessoa diversa, o agente responderá por um único crime de homicídio doloso consumado, como se efetivamente tivesse atingido a pessoa a quem pretendia ofender. Se queria a morte de seu pai e por erro na execução matar estranho, responderá pelo crime de homicídio e ainda da agravante do artigo 61 II e. Se entretanto atingir terceira pessoa causando-lhe lesões corporais, responderá por tentativa de homicídio.
 
Na segunda hipótese de aberratio ictus, há um resultado duplo, razão pela qual a unidade é tida como complexa. Aplica-se nesse caso a regra do concurso formal de crimes, prevista no artigo 70. São quatro hipóteses de aberratio ictus com unidade complexa, partindo-se do pressuposto de quem em todos os casos o agente atua com dolo de matar: 1º) O agente atira em A, causando não só a morte como também a de B. Respondera pelo crime de homicídio consumado com a pena aumentada de 1/6 a metade.
2ª) O agente mata A e fere B, aplica-se também a regra do artigo 70
3º)O agente fere A e fere B, respondera por crime de homicídio tentado aumentado de 1/6 a metade.
4º) O agente fere A aquele que havia atuado com dolo de matar; contudo acaba produzindo o resultado morte contra B. Responderá pelo homicídio doloso com a pena aumentada de 1/6 a metade.
 
Aberratio ictus e dolo eventual
 
Se o erro na execução quer traduzir uma hipótese de desvio no golpe ou uma aberração no ataque, será ela compAatível com o dolo eventual bi que diz respeito a vitima que fora efetivamente atingida em virtude de erro na execução?
 
 
	Entendemos que se o caso é de erro na execução, aquele que atinge outra pessoa que não aquela que pretendia ofender, somente poderá cogitar em aberratio se o resultado for proveniente de culpa, afastando o erro na hipótese de dolo, seja ele indireto ou mesmo eventual, não há que se falar em erro na execução.
 
RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO- Aberratio criminis.
 
 
	Interpretando o artigo em estudo, podemos concluir que somente haverá interesse na sua aplicação quando o erro for de coisa para pessoa. 
Na hipótese de ser o erro de pessoa para coisa ficara mantido o dolo do agente, que responderá pela infração penal correspondente a sua finalidade criminosa. Assim, suponhamos que A arremese uma pedra contra uma vitrine com finalidade de destruí-la ; contudo erra o alvo e atinge pessoa que por ali passava. De acordo com a regra do artigo 74 do CÓDIGO Penal, se o erro for de coisa para pessoa, se houver um resultado único, devemos desprezar o dolo inicial do agente, que era de causar o dano, e o responsabilizar pelo resultado por ele produzido a titulo de culpa, devendo responder pelo homicidio ou pelas lesões corporais culposas.
 
Numa situação inversa, quando o erro do agente varia de pessoa pra coisa, embora tenha o agente errado a pessoa que pretendia ofender, vindo a atingir uma coisa, destruindo-a culposamente, para que não cheguemos a conclusões absurdas, devemos desprezar o resultado pois atípico, fazendo com que o agente responda pelo seu dolo. Se a sua conduta era finalisticamente dirigida a causar a morte da vitima, responderá por tentativa de homicídio; se era a de produzir-lhe lesões, será responsabilizado por tentativa de lesão corporal.
Tão raciocínio se faz necessário porque, caso contrário, o simples fato de o agente ter errado a pessoa contra quem dirigia sua conduta a fim de causar-lhe a morte, vindo, contudo a destruir culposamente uma coisa, não havendo possibilidade de ser punido pelo dano, cuja modalidade culposa não foi prevista pelo Código Penal, conduziria a uma situação de atipicidade.
 
	Pode ser que a conduta do agente produza dois resultados: um contra a pessoa contra quem o agente queria praticar o crime e o outro, o dano por ele produzido culposamente. Nesse caso, como não há dano culposo, não há que se falar em concurso formal, aplicando-se somente a pena do crime contra a pessoa. Se a finalidade era a de causar dano e se o agente alem de conseguir produzi-lo vier a atingir uma pessoa, a situação agora permitira a aplicação da regra do concurso formal de crimes, haja vista que o julgador deverá solucionar a mais grave das penas e sobre ela aplicar o aumento de um sexto ate a metade, previsto no artigo 70 do CP.
Concurso material benéfico na hipótese de erro na execução e resultado diverso do pretendido
 
	Com a produção de dois resultados devera ser observada a regra do concurso material benéfico. A regra do concurso formal cedera diante do caso concreto caso a regra do cumulo material seja mais benéfica ao agente. Ex: Mata uma pessoa que pretendia matar e ainda fere alguém culposamente. A exasperação será pior para o agente.
Aberratio causae
 
	O resultado pretendido inicialmente pelo agente pode ter advindo de uma causa por ele não havia sido cogitada. Assim suponha que o agente querendo causar a morte da vitima por afogamento arremesse da ponte rio Niterói sendo que antes de cair na Bahia de Guanabara choca-se com um dos pilares da aludida e morre m virtude de traumatismo craniano. Outro exemplo é o agente que supõe que sua vitima esta morta e o enterra que morre sufocado. Cuida-se no caso de dolo geral, quando o agente julgando obtido o resultado intencionado pratica segunda ação com diverso propósito e só então que efetivamente o dito resultado se produz.
 
	Em qualquer caso, havendo o resultado aberrante, o agente responderá pelo seu dolo. NO exemplo da ponte continuará a responder por homicídio doloso consumado, Dolo geral. NO segundo exemplo respondera por dolo de homicídio alem do crime de ocultação de cadáver

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