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INTRODUÇÃO Levantamentos sobre a saúde dos cidadãos são, tradicionalmente, feitos com grandes amostras nos Estados Unidos desde 1956, na Finlândia, desde 1964, e na Inglaterra, desde 1971. Eles investigam incidência de doenças, necessidades de atendimento mé- dico e restrições de atividades diárias decor- rentes de enfermidades, bem como ausên- 21 PROMOÇÃO DE SAÚDE E BEM-ESTAR EM ORGANIZAÇÕES Mirlene Maria Matias Siqueira Maria do Carmo Fernandes Martins Introdução ....................................................................................................................................619 Saúde social .................................................................................................................................620 Comboio social ..........................................................................................................................621 Integração social ......................................................................................................................621 Suporte social ...........................................................................................................................621 Saúde positiva ..............................................................................................................................623 Saúde positiva: duas propostas teóricas para aplicação em organizações ...............................624 Bem-estar .....................................................................................................................................628 Bem-estar subjetivo ..................................................................................................................629 Bem-estar psicológico ..............................................................................................................630 Bem-estar social .......................................................................................................................630 Bem-estar no trabalho ..............................................................................................................632 Comportamento organizacional e saúde em organizações ........................................................635 Organizações positivas .............................................................................................................636 Comportamento organizacional positivo ...................................................................................637 Capital psicológico ...................................................................................................................639 Considerações fi nais ....................................................................................................................640 Questões para discussão .............................................................................................................641 620620 Borges & Mourão (orgs.) cias no trabalho e na escola, entre outros indicadores. Os primeiros estudos concen- travam-se em dados de mortalidade, refl e- tindo um modelo de doenças. As pesquisas mais recentes também incluem esse mode- lo, mas, contêm uma abordagem compor- tamental, investigando-se, por exemplo, o uso de álcool e tabaco (Bowling, 1997). O monitoramento da saúde da socie- dade, desde os anos de 1970, passou de um modelo focado em indicadores de doença para um modelo mais amplo com inclusão de fatores psicossociais. Entre eles estão in- cluídos estratégias de enfretamento, adesão ao tratamento, padrão socioeconômico, acesso ao atendimento médico, redes de su- porte social, crenças individuais/culturais e comportamentos relativos à saúde. Todos esses fatores não biológicos compreendem uma nova abordagem, em que se destacam os sistemas de valores (Becker, 1974). A busca por identifi car fatores sociais que aumentam a expectativa de vida, que reduzem a mortalidade, acrescentam quali- dade à vida e contribuem para o bem-estar dos povos tornou-se um anseio de gover- nos, organismos internacionais e pesqui- sadores. Participando dessa empreitada, a Organização Mundial de Saúde (OMS), por intermédio da WHO Regional Offi ce for Europe, um de seus seis escritórios regio- nais, elaborou um documento editado por Wilkinson e Marmot (2003). Nele, os dois autores abordam os determinantes sociais da saúde por meio dos quais são tratados recursos de políticas públicas, integração de planos para sustentação e desenvolvimento, planejamento urbano, além de suportes go- vernamentais e sociais. Dado o reconhecimento do trabalho como um dos contextos sociais relevantes para compreensão e promoção da saúde, tratamos, neste capítulo, dos conceitos de saúde social, saúde positiva, bem-estar e comportamento organizacional e saúde a fi m de que se possa compreender a promo- ção de vida saudável no contexto organiza- cional, sustentada pelos princípios da Psi- cologia Positiva. SAÚDE SOCIAL Surge, na década de 1970, a noção de saúde social, tendo como eixo central o indivíduo e defi nida como [...] aquela dimensão do bem-estar do indivíduo que representa o quan- to ele convive com outras pessoas, como os outros reagem a ele e como ele interage com instituições sociais. (Russell, 1973, p. 75) Nessa mesma linha de raciocínio, indivíduos socialmente saudáveis seriam mais hábeis e teriam mais sucesso para lidar com os desafi os que surgem diariamente no convívio social; viveriam em famílias mais estáveis, integradas e coesas; participariam mais de atividades na comunidade e iriam conformar-se com mais facilidade às nor- mas soc iais (Lerner, 1973). Mais tarde, Do- nald e colaboradores (1978) conceberam saúde social como uma variável dependente e focada no indivíduo, cuja avaliação estava relacionada a indicadores como interações sociais (visitar os amigos) e participação so- cial (frequentar clubes). Na análise de McDowell e Newell (1996), a expressão “saúde social” é pouco familiar e menos frequentemente estudada do que “saúde física e mental”. Para esses autores, como o termo “social” não se refe- re a um indivíduo, mas a uma coletividade, para se aludir aos elementos que dizem res- peito à saúde social, são abordados temas dirigidos à sociedade, e não ao indivíduo. A saúde social seria tratada como um tópi- co de abrangência macro e que se refere à saúde da sociedade, mas não como um con- O trabalho e as organizações 621621 ceito micro que diz respeito ao indivíduo. Nesse sentido, saúde social seria a existên- cia de uma “[...] sociedade saudável em que todos os indivíduos teriam oportunidades iguais e acesso a todos os bens e serviços es- senciais a seu pleno funcionamento como cidadão.” (Russell, 1973, p. 67). Esse ponto de vista, portanto, contrapõe-se àquele de Donald e colaboradores (1978). Estudos no campo da epidemiologia social têm investigado as relações entre re- des sociais, mortalidade e morbidade com o objetivo de explicar como a fragmenta- ção social pode ter efeitos sobre a saúde e o bem-estar dos indivíduos (Berkman et al., 2004). Pesquisas epidemiológicas realizadas nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia mostraram que, geralmente, as relações so- ciais produzem efeitos positivos sobre a so- brevivência de adultos. Essas investigações, no entanto, ainda posicionaram indicado- res físicos, tais como mortalidade e morbi- dade, mas não os de natureza psicossocial, para desenhar os efeitos do contexto social sobre a saúde de amostras da comunida- de. A partir dessa compreensão, diversos conceitos (Fig. 21.1) foram utilizados para representar as condições responsáveis por saúde social, destacando-se comboio social* (Antonucci; Akiyama, 1994), integração social (Berkman et al., 2001; Brissette; Co- hen; Seeman, 2000) e suporte social (Cobb, 1976; Cohen, 1988, 2004). Comboio social O conceito de comboio social aparece para delimitar o conjunto de pessoas próximas ao indivíduo e que exercem infl uência emthe health per- spective. New York: Pergamon, 1991. p. 285-305. STAJKOVIC, A. D.; LUTHANS, F. Self-effi cacy and work-related performance: a meta-analysis. Psychological Bulletin, v. 124, p. 240-261, 1998. WATERMAN, A. S. Two conceptions of happiness: contrasts of personal expressiveness (eudaimonia) and hedonic enjoyment. Journal of Personality and Social Psychology, v. 64, n. 4, p. 678-691, 1993. WILKINSON, R.; MARMOT, M. Social determi- nants of health: the solid facts. Geneva: WHO, 2003. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Preamble of the constitution of the World Health Organi- zation. In: OFFICIAL records of the world health organization. Geneva: WHO, 1948. WRIGHT, T. A. Positive organizational behavior: an idea whose time has truly come. Journal of Or- ganizational Behavior, v. 24, p. 437-442, 2003. INTRODUÇÃO A orientação, a preparação ou o planeja- mento para aposentadoria é uma tendência que vem sendo acentuada nas organizações de trabalho, no Brasil, a partir da década de 1980. Contudo, são práticas incipientes, pois muito ainda precisa ser feito. Tais prá- ticas, onde ocorrem, com frequência, estão alocadas e sob a responsabilidade direta da unidade gestora de pessoas. Conhecer os propósitos, as linhas gerais e os procedi- mentos básicos da orientação para aposen- tadoria, sobretudo quando a organização tem critérios e ações de responsabilidade social, constitui aprendizagem relevante para os gestores e demais trabalhadores na educação gerencial e executiva. Composta por um conjunto de atividades, trata do processo que tem início na admissão do empregado e culmina com seu desligamen- to proporcionado pelo pós-carreira e suas implicações. Visa a proporcionar perspec- tivas de amadurecimento aos trabalhadores que passam por novas etapas da existência e ajudá-los a lidar com as mudanças que podem ocorrer em suas vidas. No que con- cerne aos dirigentes, é fundamental a com- preensão de que o esclarecimento sobre a função de responsabilidade social e a neces- 22 ORIENTAÇÃO PARA APOSENTADORIA E GESTÃO DE PESSOAS NAS ORGANIZAÇÕES José Carlos Zanelli Narbal Silva Núria Tordera Introdução ....................................................................................................................................644 Aposentadoria como última etapa no processo de carreira ......................................................647 Aposentadoria e gestão da idade em organizações ...................................................................651 Construção de projetos pessoais e bem-estar nos espaços de vida do pós-carreira ................ 654 Possibilidades de intervenção .....................................................................................................659 Considerações fi nais ....................................................................................................................664 Questões para discussão .............................................................................................................665 O trabalho e as organizações 645645 sidade do uso dos meios de comunicação formal e informal para apoio ao programa de orientação, bem como a qualifi cação dos ocupantes dos níveis decisórios para o aprendizado das implicações do processo de aposentadoria, fazem parte das ativida- des dos orientadores. Quanto aos trabalha- dores, no geral, as atividades estão voltadas para minimizar estigmas, educar as novas gerações para o fenômeno do envelhecimen- to e informar sobre os ganhos da maturida- de, sobretudo no que diz respeito ao acúmu- lo de competências técnicas e humanas, de interesse para as pessoas e a organização. Além da análise que, como ocorre para muitos, fi ca restrita ao plano econômico, tanto no nível pessoal como no societário e político-institucional, a aposentadoria tem consequências que atingem a dimensão psi- cossocial, incluindo cônjuges e demais fami- liares, relações com amigos e com a comu- nidade e tantos outros aspectos. Em face do crescente aumento da população de idosos no planeta, o problema assume importante dimensão e passa, além da preocupação in- dividual ou da organização de trabalho, para o âmbito nacional e internacional (Nogueira et al., 2008). A construção de programas de orientação para aposentadoria nas organiza- ções é, sem dúvida, uma conquista e um di- reito do trabalhador (ver quadro “Costrução de programas de orientação para aposenta- doria”, a seguir). Está atrelada às transfor- mações do mundo do trabalho, no contexto das mudanças ocorridas nos últimos séculos e, sobremodo, nas últimas décadas. É um fe- nômeno complexo que extrapola o nível do indivíduo e da gestão organizacional. É parte da governabilidade em âmbito mundial. Embora o número de profi ssionais de diversos campos de atuação que têm ingres- sado nas atividades de orientação para apo- sentadoria tenha aumentado, muito se tem por fazer no que se refere à qualifi cação dos orientadores que compõem os programas nas organizações. É preciso desenvolver a consciência do signifi cado do programa de orientação e a prática das etapas necessá- rias para um programa contínuo, coeren- te e efi caz, que pressupõe a aprendizagem das competências requeridas no trato do comportamento humano, a compreensão da cultura e das dimensões organizacionais (estrutura, estratégias e outras), além das consequências amplas decorrentes da com- plexidade do fenômeno. A aposentadoria é vivenciada como um momento de transição por aqueles que são por ela afetados – tanto os que estão prestes a desligar-se como os que se desli- garam há pouco tempo – embora o grau de consciência do processo não seja claro para muitos. Diversas características do processo de aposentadoria, tais como o grau de desejo ou propósito, ou as condições nas quais ele foi produzido também têm mostrado afetar de modo diferencial o bem-estar psicoló- gico dos aposentados (Potocnik; Tordera; Peiró, 2009). Inclui-se no rol dos que são afetados também os familiares, os amigos e a própria organização, como menciona- mos. Conteúdos de cunho emocional e res- Construção de programas de orientação para aposentadoria “[...] as gerações anteriores eram programadas para trabalhar até, literalmente, não poder mais. Depois disso, viviam apenas uns poucos anos, mantidas pelo Estado. Com os avanços da medicina, os estilos de vida mais saudáveis e a falência da previdência social, essa lógica virou de pernas para o ar. Nos próximos anos, a prepa- ração para a aposentadoria e mais ainda para a vida depois dela, o pós-carreira, vai se tornar um dos tópicos mais ricos de discussão no mundo empresarial” (Teixeira, 2011). 646646 Borges & Mourão (orgs.) signifi cações permeiam o processo. Seme- lhantes a outros momentos de transição na vida humana – por exemplo, o casamento e as separações conjugais – ganhos e perdas estão associados. Em suma, a compreensão das políticas econômicas, o mundo do tra- balho, em seu desenvolvimento histórico e atual, a qualidade de vida, o desenvolvi- mento humano, as diferenças individuais, grupais e organizacionais, a carreira, os projetos de vida e diversos outros temas es- tão na pauta daquilo que é necessário com- preender e vivenciar (Zanelli; Silva; Soares, 2010). No planejamento da carreira, deve- -se considerar seu término e facilitar, passo a passo, a transição. A responsabilidade por essa construção deve ser compartilhada. Episódios de infelicidade ou infortúnios vão além do indivíduo, embora ele esteja profundamente implicado. Em que pese às mudanças no concei- to de carreira – pelas profundas inovações do mercado de trabalho, gestão organiza- cional, formações profi ssionais e trajetó- rias individuais de trabalho – as pessoas, os grupos, as organizações e as instituições têm clara responsabilidade no processo de construção da carreira e da aposentadoria. Um programa de orientação para aposenta- doria, seguramente, não deve fi car circuns- crito ao períodofi nal da carreira. De fato, pela maneira como é gerenciado o proces- so, pode ser visto como parte e refl exo do modelo geral de gestão de carreira em uma organização. Posto que o indivíduo não é o único responsável por mudanças que, em última análise, contribui ou não para sua saúde. E, na perspectiva de atenção à saúde e promoção da qualidade de vida, o proces- so que visa à construção da aposentadoria saudável deve ter início no princípio da car- reira. Contudo, sabemos que fi car circuns- crito ao período fi nal da carreira tem sido a prática corriqueira e mais comumente identifi cada. No início da carreira, por ig- norância ou motivos que estão endereçados para propósitos mais atrativos, o cenário da aposentadoria tende a caracterizar-se como de pouco ou nenhum foco. Um estilo de vida saudável, portanto, pode ser construído ao longo dos anos, ten- do em vista a promoção da saúde. Assim, a aproximação do término de uma carreira, idealmente, será consolidada em um progra- ma, entre outros que o antecederam, pelos quais o trabalhador passou em um encade- amento coerente de aprendizagens e ações saudáveis. Em outras palavras, o alcance progressivo de um envelhecimento bem- -sucedido, no qual ocorra a manutenção da saúde e autonomia, o engajamento em ativi- dades sócio-ocupacionais e a construção de uma rede de apoio social (Fontaine, 2000). O programa de ori entação, como uma relação de ajuda na fase fi nal de uma carrei- ra (ver quadro “Signifi cado do termo ‘car- reira’”, a seguir), facilita o enfrentamento das mudanças dessa fase de transição (Za- nelli; Silva; Soares, 2010). Expectativas e limitações individuais são consideradas à luz da história de vida de cada um, no con- texto de adaptações contínuas e construção do projeto de vida, que se abre para novas possibilidades, inclusive o reinício da mes- Signifi cado do termo “carreira” “Percebemos, no entanto, que nos encontramos perante um caso de fronteira, pois o signifi cado original da palavra carreira aponta para a ideia de caminho, estrada por onde passavam os carros, valor este que ainda se observa nos casos como carreira profi ssional, carreira diplomática, carreira militar, o topo da carreira, carreira da virtude, em que está implícito o sentido de percurso profi ssional ou de vida” (Marta, 2010). O trabalho e as organizações 647647 ma carreira, o prosseguimento em outra ou a prorrogação das atividades formais de trabalho em outros âmbitos. Nesse sentido, existem novas modalidades de transição para o pós-carreira, tais como o “emprego ponte” ou a aposentadoria progressiva (que são esclarecidos adiante neste capítulo). A percepção e o uso de competências acu- muladas até o momento do desligamento, compatíveis com tal estágio de vida, como suporte e incentivo para a continuidade la- boral ou em atividades de lazer, colaborati- vas ou solidárias, constituem fortes recur- sos motivacionais e de sentido existencial. Considerando os argumentos até aqui encadeados, temos como objetivo, neste ca- pítulo, que o leitor possa identifi car aspectos relevantes da carreira, do desenvolvimento humano e das condições organizacionais e de gestão que propiciam a transição e o gozo de uma aposentadoria saudável. Além disso, também queremos proporcionar a identifi cação de procedimentos e estraté- gias que promovam aprendizagens indi- viduais e grupais, bem como a construção cultural voltada para a produção da apo- sentadoria com qualidade de vida. APOSENTADORIA COMO ÚLTIMA ETAPA NO PROCESSO DE CARREIRA A evolução de uma carreira está vinculada à trajetória de vida de quem a desenvolve. Uma trajetória de vida, por sua vez, inclui o percurso profi ssional. Tal processo faz par- te de uma construção dinâmica, que inclui elementos individuais, sociais, econômicos e culturais. Elementos individuais estão associados à construção da subjetividade, inter-relacionada aos eventos objetivos da realidade de inserção da pessoa, em uma sequência de diversas vivências peculiares à sua história de vida (Berger; Luckmann, 1978). A construção da carreira, portanto, tem um caráter histórico individual conju- gado aos elementos da construção histórica institucional. Esta última é constituída por linearidades e descompassos, encontros e desencontros, avanços e retrocessos, carac- terísticos das interações entre o desenvolvi- mento pessoal ou maturacional e os acon- tecimentos políticos, sociais e econômicos, enquanto a socialização profi ssional depen- de do contexto, também contraditório, da organização de trabalho, da organização da profi ssão e de suas subculturas. Assim, compreender uma carreira profi ssional en- volve estudar as infl uências dessas determi- nações múltiplas e complexas. Uma carreira, de diversos modos, está relacionada aos postos e aos ambien- tes de realizações ou ocupações (ver quadro “Perspectivas da carreira para o indivíduo e organização”, a seguir). Envolve ciclos, eta- pas ou fases que dependem de motivações e aprendizagens, autoconhecimento, maturi- dade e consciência, tanto das próprias pos- Perspectivas da carreira para o indivíduo e a organização “Carreira são as sequências de posições ocupadas e de trabalhos realizados durante a vida de uma pessoa. A carreira envolve uma série de estágios e a ocorrência de transições que refl etem necessidades, motivos e aspi- rações individuais e expectativas e imposições da organização e da sociedade. Sob a expectativa do indivíduo, engloba o entendimento e a avaliação de sua experiência profi ssional, enquanto sob a perspectiva da orga- nização, envolve políticas, procedimentos e decisões ligadas a espaços ocupacionais, níveis organizacionais, compensação e movimento de pessoas. Essas perspectivas são conciliadas pela carreira dentro de um contexto de ajuste constante, desenvolvimento e mudança” (London; Stumpf, 1982, p. 17). 648648 Borges & Mourão (orgs.) sibilidades, potencialidades e defi ciências quanto das exigências e oportunidades da organização (contexto imediato de traba- lho), do ambiente externo imediato (como a família e amigos) e do ambiente externo mediato (condições políticas, sociais e ou- tras). Pressupõe um conjunto de fatores dinâmicos e complexos, tanto no âmbito subjetivo quanto no âmbito externo ao in- divíduo, que, ultimamente, congrega rápi- das transformações tecnológicas, mudanças de hábitos de vida e valores, ampliação do setor de serviços, descrédito dos agentes políticos e institucionais, novas técnicas de trabalho, diversifi cação cultural inten- sifi cada, valorização do capital intelectual e do controle emocional e outros fatores de infl uência. Tudo isso está entrelaçado nas transformações socioculturais referentes, apenas citando poucos aspectos, às expecta- tivas de maior autonomia e participação, à competitividade profi ssional e às exigências de desenvolvimento, que foram acentuadas a partir dos anos de 1990. Neste início de milênio, presenciamos uma disponibilida- de e volatilidade das informações jamais vistas na história da humanidade, em con- junção com tendências a comportamen- tos dos jovens da geração Y ou da internet (nascidos nos anos de 1980) e da geração Z (nascidos nos anos de 1990), que fazem os gestores revisarem padrões e normas da organização de trabalho, tais como o anseio por rápida ascensão hierárquica e o encon- tro de sentido no que fazem e na informali- dade de suas condutas. Como decorrência, as tradicionais etapas da evolução das carreiras, no sentido de aplicabilidade a um conjunto amplo de profi ssionais e organizações, devem passar por uma revisão. Entende-se por tradicio- nais etapas baseadas em ciclos ou décadas de vida, nas quais o desenvolvimento das competências e a ocupação dos cargos má- ximos eram alocados por volta dos 50 anos de idade do profi ssional. Embora as difi cul- dades encontradas em alguns segmentos do mercado de trabalho, relativas à obtenção de trabalhadores qualifi cados,um contin- gente expressivo de pessoas na atualidade continua desempregado ou entra tardia- mente no mercado formal (em comparação com as gerações anteriores). Para os que in- gressam tardiamente ou não, são acentua- das a impaciência e as expectativas de curto prazo para ascensão e obtenção de vanta- gens fi nanceiras, vinculadas à urgência de aquisição de bens e valorização social. Com o signifi cado de percurso ou tra- jetória, as fases ou etapas da carreira, cer- tamente, continuam a ter um início, uma preparação e um término, por contingên- cias impostas pela organização, pelo gover- no ou por debilidades inerentes ao indiví- duo que trabalha. É assim que entendemos a aposentadoria: a última etapa de uma carreira. Como nova etapa ou pós-carreira, vista como um processo de transição, a aposentadoria requer atenção para a conti- nuidade. Tal cuidado é, ou deveria ser, ma- nifesto nas práticas de gestão de pessoas no ambiente de trabalho. Expresso de forma mais apropriada, deve integrar o conjunto de políticas das corporações (Bernhoeft, 2009). Trata-se, portanto, de um assunto pertinente ao planejamento geral da orga- nização, específi co para a gestão de pessoas e, para cada trabalhador, integrar o plane- jamento de carreira. Assim, é assunto que está na intersecção entre as expectativas e os deveres do trabalhador e da organização, portanto, constituinte do que denomina- mos de contrato psicológico (Muchinsky, 2004). Envolve a carreira, a vida do traba- lhador, o planejamento e as ações de res- ponsabilidade social da organização. É evidente a responsabilidade que a pessoa deve ter sobre o próprio desenvolvi- mento e a tentativa de controle dos eventos de sua vida. Para a organização, as ativida- O trabalho e as organizações 649649 des de orientação adequadas à trajetória de cada um – é claro, incluindo todas as etapas – devem começar ao receber o trabalhador, logo na admissão. Contudo, explícita e di- retamente, a preocupação com a aposenta- doria, quando faz parte das rotinas de ges- tão de pessoas, quase sempre se restringe, no máximo, a um programa nos meses pró- ximos ao desligamento. Quando nenhuma atenção é dada à aposentadoria, tanto pela organização quanto pelo indivíduo, é fácil prever os danos que advirão (ver quadro “Orientação para aposentadoria como um ideal”, a seguir). Seja nos dias atuais, seja nas décadas passadas, a dimensão do trabalho, como vemos adiante, tem relevância constituinte para toda pessoa socializada com base nos pressupostos da cultura das sociedades em que vive. A inserção no mundo do traba- lho é um objetivo prioritário das práticas e dos processos educativos, exercidos pe- los diversos agentes formadores como, por exemplo, a escola. Em qualquer das hipó- teses relativas à preparação para o mundo do trabalho, com base no pressuposto da equivalência de oportunidades ou dos me- canismos de reprodução para manutenção das diferenças sociais, a constituição dos in- divíduos e dos grupos é estabelecida, se não fundamentalmente no trabalho, sem dúvi- da, em grande parte por ele. Na sociedade em que vivemos, a identidade ocupacional ocupa largos espaços daquilo que denomi- namos identidade pessoal (Schein, 1982). Em qualquer alternativa, os processos de sociali zação contribuem na produção dos esquemas perceptivos para a interpretação individual e também para a interpretação coletiva da realidade. Maneiras próprias são desenvolvidas para interpretar como o mundo funciona, tanto pelo indivíduo quanto pelos grupos. Durante as décadas de atividades de traba- lho que caracterizam uma carreira, o tra- balhador percebe as pessoas aposentadas como um grupo externo e a elas tende a as- sociar os estereótipos correntes na socieda- de e, muitas vezes, bastante acentuados em seu grupo imediato. Assim, [...] as crenças conscientes de que as pessoas aposentadas não são produ- tivas e que, por isso, representam um fardo para suas famílias, constituem estereótipos que podem ser encon- trados com relativa frequência na so- ciedade atual. (Zanelli; Silva; Soares, 2010, p. 24) Contudo, contrariando tais estereó- tipos, são muitas as possibilidades de ações abertas com a efetivação do pós-carreira. Cada vez mais, pelo aumento da longevidade humana, aposentados reiniciam ou recons- troem carreiras, em negócios próprios ou de outros empresários. Além disso, podem de- senvolver atividades autônomas, prestar ser- viços remunerados ou não. Sem mencionar, é claro, centenas de possibilidades de lazer ou ócio, como Zelinski (2003) descreve. É inegável que se trata de um processo de transição, como já argumentamos, que Orientação para aposentadoria como um ideal “São raros, para não dizer inexistentes, os espaços de orientação para aposentadoria nas organizações dentro de uma perspectiva longitudinal. O discurso de que a aposentadoria deve ser pensada desde os primeiros dias dos trabalhadores nas organizações ainda é caracterizado muito mais como um ideal a ser conquistado por gestores e geridos do que efetivamente expresso em políticas e práticas organizacionais direcionadas à gestão de pessoas” (Zanelli; Silva; Soares, 2010, p. 29). 650650 Borges & Mourão (orgs.) pode ser vivenciado de modos distintos. Para alguns, como aqueles que dão sequên- cia às atividades de trabalho em outros con- textos, as mudanças podem ser reduzidas. Para outros, a autoimagem e a autoestima podem ser afetadas. Dada a importância da dimensão do trabalho na constituição da pessoa, o período pode ser traumático, com decorrências negativas para a saúde, como alerta Schein (1996), e até chega a ter corre- lações nos determinantes de morte precoce. Contudo, são muitos os momentos de tran- sição na vida (Savishinsky, 2002; Sheehy, 1988), desde o primeiro afastamento de casa para o início da vida escolar até a readapta- ção pela perda de entes queridos na idade avançada. O que pode estar em questão é a aprendizagem de processos efi cazes de alter- nativas de enfrentamentos e resiliência. Entender e praticar a resiliência ou os modos de enfrentamento como um pro- cesso de aprendizagem associado às expe- riências psicossociais de risco é animador para os profi ssionais que trabalham em gestão de pessoas (ver quadro “Conceito de resiliência organizacional”, a seguir). Isso porque abre nítidas possibilidades de ajuda aos trabalhadores que passam pela transição ao pós-carreira, como aborda- mos neste capítulo. Ainda mais, permite planejar intervenções ao longo do desen- volvimento da carreira, e não apenas no período de proximidade efetiva do des- ligamento. Assim, constituem aspectos relevantes para o processo de orientação: autoconhecimento, desenvolvimento cog- nitivo e habilidade na resolução de proble- mas, capacidade para planejar, senso de efi cácia, ampliação das matrizes percepti- vas por meio da educação, consciência in- terpessoal, empatia, autonomia e controle interno, rede de relacionamentos, suporte social, senso de humor e assim por diante. Enfi m, enfrentamos a necessidade de implementar programas no âmbito da ges- tão de pessoas, de caráter preventivo, para desenvolver os trabalhadores na utilização de seus recursos cognitivos e afetivos. Isso pode, claramente, promover uma vida, no pós-carreira, mais sadia e com qualidade. Trata-se de focar não só o indivíduo, mas também os grupos, as organizações e a co- munidade na superação dos efeitos danosos que rondam o fenômeno da aposentadoria nas organizações e no nível macrossocie- tário. No âmbito individual, a pessoa con- segue entender a dimensão do desafi o e as possibilidades de enfrentamento e de ela- boração de um projeto de vida; no âmbito familiar, auxiliar cônjuges, fi lhos e outros parentes próximos para a nova etapa de vida do aposentado; no âmbito organiza- cional e macrossocietário, reduzir estereó- tipos e compreender a construção da apo- sentadoria saudável como parte das ações de responsabilidade social.Na seção que segue, discorremos so- bre um aspecto peculiar do fenômeno da aposentadoria nas organizações da atuali- dade: o desligamento que ocorre de modo precoce ou antecipado e as decorrências disso nas práticas de gestão de pessoas. Conceito de resiliência organizacional “[...] a resiliência não deve ser apenas um atributo individual, mas pode estar presente nas instituições/organi- zações, gerando uma sociedade mais resiliente. [...] Uma organização resiliente é uma organização inteligente, refl exiva, na qual todas as pessoas são inteligentes, livres, responsáveis, competentes, e funcionam em uma relação de confi ança, empatia e solidariedade” (Pinheiro, 2004). O trabalho e as organizações 651651 APOSENTADORIA E GESTÃO DA IDADE EM ORGANIZAÇÕES A aposentadoria ante cipada tornou-se uma prática comum de gestão de pessoas e está afetando as economias mais desenvolvidas e as emergentes (Potocnik; Tordera; Peiró, 2009; Queiroz, 2006). Não existe uma única situação de aposentadoria antecipada, as- sim como tampouco há apenas uma situa- ção de aposentadoria ou desemprego. É um fenômeno complexo e diversifi cado que inclui aposentadorias prematuras por inca- pacidade física ou psíquica, por expedientes de regulamentação do emprego nas empre- sas ou por decisão individual de redução do tempo de trabalho, ao aceitar uma diminui- ção de salário. Em termos gerais, fala-se em saída prematura ou em aposentadoria ante- cipada quando os desligamentos do sistema laboral ocorrem antes da idade obrigatória ou socialmente aceita para a aposentadoria. Em contrapartida, o processo gradual de envelhecimento da população dos países de economias mais desenvolvidas e de econo- mias emergentes está conduzindo a altera- ções na composição da força de trabalho, que impõe novos desafi os para os diversos agentes sociais, as empresas, a administra- ção pública e os próprios trabalhadores. O contraste entre os dois tipos de tendências tem dado lugar a mudanças na forma pela qual as sociedades planejam suas políticas e práticas laborais e de emprego. No Brasil, a aposentadoria antecipada pode ocorrer de dois modos: aposentadoria por incapacidade física ou psíquica e apo- sentadoria proporcional. É claro que tais antecipações apresentam aspectos de natu- reza psicossocial, por exemplo, o trabalha- dor que se expõe intencionalmente a riscos físicos ou psíquicos com o objetivo de ante- cipar sua saída do mundo do trabalho, com o intuito de abreviar sofrimentos ou obter algum tipo de vantagem. Contudo, são evi- dentes os casos dos que adoecem por mo- tivos psicológicos ou psicossociais (depres- são grave, síndrome do pânico, burnout, entre outras) e abreviam a sua existência no mundo do trabalho em razão disso. Do ponto de vista legal, no Brasil, a aposenta- doria para os homens ocorre aos 35 anos de trabalho, podendo sair proporcionalmente aos 30 anos e as mulheres, 30 anos, poden- do se aposentar aos 25. A proporcionali- dade, em ambos os casos, reduz 20% dos salários. Variações ou aspectos específi cos da legislação que rege o evento podem ser verifi cados na Emenda Constitucional no 41/2003 (Brasil, 2003). Ao longo das últimas décadas, é possí- vel observar duas tendências contraditórias na maioria dos países industrializados, que também tiveram seu paralelo em alguns países em desenvolvimento. Por um lado, há um processo progressivo de envelheci- mento da população, que está levando a mudanças na composição demográfi ca da força de trabalho disponível; por outro, em resposta a certas contingências econômicas, os estados e as organizações têm utilizado estratégias como a aposentadoria antecipa- da, que, por sua vez, têm levado à redução generalizada da idade de aposentadoria. Em comparação a outras economias emergen- tes, Queiroz (2006, 2007) encontrou, no Brasil, a ascensão de ambas as tendências. A primeira delas pode ser observada nas várias estatísticas existentes sobre o cresci- mento da população; por exemplo, um le- vantamento europeu sobre as condições de trabalho contabilizou que as pessoas com mais de 65 anos na Europa de 2025 repre- sentarão 17% da população total (Eurostat, 2007). As previsões indicam que, durante as três próximas décadas, esse aumento será maior, chegando a superar 30% da popu- lação em 2050. No Brasil, é possível que a percentagem de pessoas com mais de 65 652652 Borges & Mourão (orgs.) anos em 2050 seja de 18%, em face dos 3% que tinha em 1970 (United Nations, 2004). A respeito da segunda tendência, a aposentadoria antecipada, vários são os relatos que alertam para uma redução gra- dual da idade de aposentadoria na maioria dos países industrializados (Deval, 2003; Eurostat, 2008). A idade média de retira- da das atividades formais de trabalho, por exemplo, tem diminuído, na União Euro- peia, de 65 anos, desde 1950, para 61 anos, recentemente (Eurostat, 2008). No Brasil dos anos de 1950, cerca de 90% da popula- ção entre 60 e 64 anos estava ativa; no ano 2000, apenas 65% da população seguia tra- balhando (Queiroz, 2007). Essa situação é ainda mais acentuada no Brasil, agravada no caso de funcionários públicos, cuja ida- de média de aposentadoria, em 2002, foi de 54 anos (Queiroz, 2007). A contradição entre os dois tipos de tendências (aumento da longevidade das pessoas aliado ao desligamento preco- ce nas organizações) e as novas condições sociais e econômicas dos fi nais do século XX e início do século XXI têm dado lugar a alterações na forma como as sociedades atuais têm planejado suas políticas e práti- cas laborais. Nas organizações, fi ca evidente a necessidade de atender às características demográfi cas de envelhecimento dos tra- balhadores no futuro. Nos países em que há maior bem-estar social, as pessoas se aposentam mais tarde (Deval, 2003; Esser, 2005). A isso, deve ser adicionado que, em- bora a mudança na política do governo te- nha sido sufi ciente para atrasar a idade da aposentadoria, manter na força de traba- lho as pessoas que não desejam continuar trabalhando é negativo não só para saúde física e psíquica, mas também para efi ciên- cia das organizações (Gaillard, Desmette, 2010). Assim, tal situação tem despertado um grande interesse em tentar entender o processo de aposentadoria e os fatores que o infl uenciam, bem como em desenvolver estratégias para manter os trabalhadores em organizações até idades mais avançadas. A maioria dessas pesquisas é produzida nos países industrializados, no entanto, pouco se conhece sobre o fenômeno da aposenta- doria nas economias emergentes. Em geral, a aposentadoria tem sido vista como um processo de tomada de decisões individual que é infl uenciada por fatores distintos, os quais afastam ou atraem pessoas para as ati- vidades laborais. Uma situação econômica positiva e uma saúde precária são dois dos fatores mais claramente associados à aposentado- ria precoce, entre outros (Kim; Feldman, 1998). Outros fatores que também têm sido relacionados à saída precoce das atividades de trabalho são baixos níveis educacionais, atitudes negativas em relação ao trabalho e à orientação e interesses por tempo livre (Esser, 2005). Considerando as variáveis de caráter individual, cada vez é maior o número de pesquisadores que salientam a necessidade de levar em conta os diver- sos aspectos do contexto social e organi- zacional, no qual a decisão de término é tomada (Crego; Alcover, 2008; Potocnik; Tordera; Peiró, 2009; Potocnik; Tordera; Peiró, 2010). Considerar o contexto social, o apoio social ou a existência de normas fa- voráveis de aposentadoria no círculo social do trabalhador (marido ou esposa, amigos ou colegas de trabalho) tem revelado uma relação positiva com a decisão de aposen- tadoria antecipada (Greller; Richtermeyer, 2006; Henkens; Tazelaar, 1997; Potocnik; Tordera; Peiró, 2009; 2010; Queiroz, 2006). Quanto ao contexto organizacional, diver- sas características relacionadas à cultura organizacionalinfl uenciam o resultado do afastamento prematuro, como as práticas de recursos humanos orientadas para a aposentadoria antecipada, a existência de pressões organizacionais ou a manutenção O trabalho e as organizações 653653 de estereótipos negativos fundamentados na idade (Crego; Alcover, 2008; Gaillard; Desmette, 2010; Potocnik; Tordera; Peiró, 2009; 2010). Essas últimas investigações de- monstraram o papel central das organiza- ções e de suas políticas de gestão de pessoas na redução da idade de aposentadoria. As tendências sociais anteriormente discutidas junto às investigações realizadas no âmbito organizacional revelam a neces- sidade de mudanças na gestão de pessoas a respeito da forma como lidam com a idade. Tal mudança deve conduzir a uma gestão da idade fundamentalmente centrada no pro- cesso de afastamento ou aposentadoria para uma série de políticas e práticas destinadas à retenção dos trabalhadores mais antigos nas organizações (e, portanto, postergar a idade da retirada) e à adaptação de tais políticas e práticas às características e às necessidades dos trabalhadores mais velhos. Pode tratar- -se, portanto, de uma mudança a partir da tendência à aposentadoria antecipada para o desenvolvimento de organizações mais cen- tradas nos trabalhadores mais velhos. No entanto, há ainda muito caminho para percorrer. Em que pese às diferenças entre os países, o processo de envelheci- mento da população nas sociedades oci- dentais está orientado para a juventude como um ideal. Ainda é forte a crença so- cial de que ser jovem signifi ca ser bonito, produtivo e desejável. Em virtude disso, ainda que seja possível observar uma preo- cupação real pela análise das necessidades dos mais velhos em aspectos como saúde, ou as alternativas de lazer disponíveis, sua integração e seu desenvolvimento em am- bientes de trabalho pouco interesse têm despertado até o momento. Na maioria das organizações, os trabalhadores mais velhos são vistos mais como um problema do que um potencial, consideradas as competên- cias que desenvolveram. Tal aspecto está sustentado na existência de estereótipos e preconceitos negativos sobre o envelhe- cimento e as pessoas mais velhas. Embora muitos desses estereótipos tenham sido questionados por pesquisas realizadas so- bre processos de envelhecimento, os idosos ainda continuam sendo percebidos como [...] menos efi cientes, criativos e me- recedores de promoções, mais resis- tentes a mudar, mais lentos, menos interessados em aprender ou reedu- carem-se, incapazes de se adaptarem à mudança, mais rígidos e mais pro- pensos a sofrer doenças e acidentes. (Forteza; Prieto, 1994, p. 451) Um dos mitos referentes ao apren- dizado é o de que o cérebro torna-se mais lento com a idade. Ao contrário, o cérebro não só não se torna mais lento com a idade, como pode de fato aprimorar seu funcio- namento à medida que mais e mais cone- xões cerebrais são efetuadas. Isso signifi ca que as nossas capacidades de aprendizado evoluem com o uso. Conforme amadure- cemos, criamos novos conjuntos de estra- tégias de aprendizado autocorretivas que permitem expandir nossas capacidades de julgamento crítico (Fritz, 1997). No quadro “Signifi cado de modelo de gestão”, é possível ver o que signifi ca mode- lo de gestão. A respeito das distorções exis- tentes na gestão de pessoas em fase de en- velhecimento, Yeatts, Folts e Knapp (2000) distinguem dois modelos de fi losofi as para práticas de gestão dos trabalhadores e de seu processo de envelhecimento: o modelo de depreciação e o modelo de conservação. Esses modelos estão sustentados na visão que as organizações mantêm sobre a idade e os processos de envelhecimento. Para esses autores, as organizações que mantêm um modelo de depreciação outorgam o maior valor de um indivíduo para a organização no início de sua carreira. Indivíduo que passa por um descenso na metade da carrei- 654654 Borges & Mourão (orgs.) ra e, fi nalmente, entra em declínio até seu desligamento. De modo contrário, o mode- lo de conservação considera os empregados de todas as idades como ativos valiosos da organização, que podem aportar grandes benefícios para a organização, desde que sejam bem educados, treinados e geridos. É no contexto do segundo modelo que são desenvolvidas práticas de gestão de pessoas orientadas para uma cultura de sustentação das pessoas idosas. Adiante, na seção sobre possibilidades de intervenção, são discuti- das algumas práticas orientadas pelo mode- lo de conservação. Na seção que segue, demonstramos as interfaces existentes entre projetos pessoais, espaços de vida e obtenção de bem-estar no pós-carreira. CONSTRUÇÃO DE PROJETOS PESSOAIS E BEM-ESTAR NOS ESPAÇOS DE VIDA DO PÓS-CARREIRA Já está claro que requerer a aposentadoria e encerrar uma carreira formal têm implicações biológicas, psicossociais, econômicas, entre outras. Por exemplo, o afastamento das ativi- dades realizadas em uma organização, às ve- zes durante muitos anos ou décadas, pode au- mentar a probabilidade de inserção em gru- pos sociais além daqueles restritos às pessoas do convívio no trabalho ou, na pior hipótese, de recolhimento e solidão. Como sabemos, pela infl uência social (ver quadro “O que é infl uência social?”, a seguir) na construção da identidade pessoal e do autoconceito, esses processos tendem a passar por um período de revisão. Não signifi ca, necessariamente, que ocorrerão mudanças profundas. Signifi ca, conforme Deps (1994, p. 5), [...] afastamento e redimensiona- mento da natureza interpessoal, bem como novas formas de ocupação do tempo, e consequentemente, novos comportamentos e novas autoper- cepções. Se a aposentadoria pode ocasionar mal-estar, doenças e infortúnios, certa- mente, também é propícia aos prazeres, às descobertas e ao desenvolvimento de po- tencialidades. É certo que fatores objetivos, como perdas econômicas, são ameaças que, muitas vezes, ultrapassam as possibilidades de controle da pessoa. Contudo, além das condições reais de restrição, é possível de- senvolver atitudes positivas, esforços pes- soais e grupais, utilização das competências adquiridas e contraposição aos elementos que facilitam a desagregação e a desespe- rança – dependem das disposições cogniti- vas e afetivas para esse período da vida. Em face das condições objetivas, conta-se com as experiências e a motivação para uso das competências que são acumu- ladas em uma vida de trabalho. A autoes- tima e a autoimagem são favorecidas pela percepção dos êxitos, da construção de re- lações de suporte social, dos cuidados com a saúde integral e, de algum modo, da utili- Signifi cado de modelo de gestão “Entende-se por modelo de gestão de pessoas a maneira pela qual uma empresa se organiza para gerenciar e orientar o comportamento humano no trabalho. Para isso, a empresa se estrutura defi nindo princípios, estraté- gias, políticas e práticas ou processos de gestão. Por meio desses mecanismos, implementa diretrizes e orienta os estilos de atuação dos gestores em sua relação com aqueles que nela trabalham” (Fischer, 2002, p. 12). O trabalho e as organizações 655655 zação do que foi aprendido em um processo de aprimoramento contínuo. Em síntese, o aposentado depende das aprendizagens que facilitam a qualidade na transição para o pós-carreira, dentro da concepção de apo- sentadoria ativa e saudável. A natureza das atividades desenvol- vidas em uma carreira e o poder do posto ocupado em uma organização nem sempre condizem com o grau de maturidade e do poder pessoal – aquele que proporciona uma vida rumo à plenitude e ao bem-estar subjetivo – que alguém desenvolve ao lon- go de sua vida (Bíscaro, 1996). São muitas as organizações que constroem culturas e modelos de gestão de pessoas, que, em vez de proporcionarem autonomia e afi rma- ção pessoal, favorecem o desenvolvimento de seres humanos dependentes e instáveis, apreensivos em relação ao futuroe quase incapazes de perceber as competências fi r- madas durante a trajetória de trabalho e as aprendizagens nas interações interpessoais e profi ssionais. Se as práticas de gestão de pessoas e as experiências e buscas indivi- duais não foram propícias ao desenvolvi- mento autônomo e resiliente, torna-se vital reconstruir cognições e afetos na transição para o pós-carreira. Em geral, quando o momento da retirada passa a tomar conta da consciên- cia do trabalhador, além de sentimentos e pensamentos pertinentes a essa etapa da vida, processam-se também retrospectivas referentes aos signifi cados e importâncias das experiências adquiridas no mundo do trabalho. O sentimento é o de que “passa um fi lme”, expressão corriqueiramente verbalizada nos grupos de orientação para a aposentadoria que tivemos a oportunidade de coordenar. O resgate do que foi viven- ciado por meio do trabalho feito em uma ou mais organizações ao longo dos anos, quando percebido e sentido com predomi- nância de positividade, em geral, repercute favoravelmente na autoestima do trabalha- dor. Isso porque, quando a avaliação pro- cessada no plano mental é nessa direção, as experiên cias agregadas são revestidas de sentido pleno (Morin, 2001). Quando a situação vivenciada é essa, a tendência é a de que os aposentandos tenham suas tran- sições para o pós-carreira experienciadas de modos minimamente traumáticos. As pessoas realizadas com o que fazem e onde fazem lidam melhor com a transição para a aposentadoria do que aquelas que se au- topercebem como não realizadas (Soares et al., 2007; Zanelli; Silva, 1996). Ao contrário, ao interpretar o passado carregado por sen- timentos negativos, a transição para o pós- -carreira tende a ser acompanhada de maior difi culdade emocional para o aposentando (Zanelli; Silva, 1996). Por exemplo, um trabalho visto como destituído de sentido, baixa identidade com missão e visão da or- ganização, ausência de qualidade de vida e constrangimento em associar parte da vida com determinada organização pode levar à tomada de consciência de que o “balanço” da vida no trabalho é desfavorável. O desa- fi o nesse caso é reelaborar sentimentos de vazio existencial construídos pela ausência de sentido da vida no trabalho. A impor- O que é infl uência social? “[...] a infl uência (social) é um conjunto de processos que modifi ca as percepções, os juízos, as atitudes ou comportamentos de um indivíduo a partir do conhecimento das percepções, dos juízos e das atitudes dos outros” (Doise 1982, p. 51). 656656 Borges & Mourão (orgs.) tância de enfrentar tal obstáculo se deve ao desejo inerente de todo ser humano saudá- vel de estar comprometido com a atividade, sempre incompleta, de conferir sentido à sua existência (Teixeira, 2006). Quando sa- tisfazemos uma necessidade razoavelmente, outra predomina, dominando a consciên- cia e atuando como o epicentro da organi- zação do comportamento. Isso signifi ca que o ser humano vive em estado permanente de busca (Maslow, 2003). De qualquer modo, percebido como signifi cativo ou não, quando da ruptura com o mundo do trabalho, pode ocorrer a ten- dência de gerar sentimentos ambíguos: por um lado, a sensação de se libertar da buro- cracia, das chefi as e dos horários; por outro, as pessoas também são afetadas pela ansie- dade de ter que pensar no futuro associado ao medo do desconhecido (Witczac, 2005). Questões como as que seguem tendem a in- tensifi car-se na consciência do aposentado à medida que o momento do término da car- reira se aproxima: E agora? Quem serei da- qui para a frente? Como serei visto pelos ou- tros, em especial, por aqueles considerados signifi cativos? Como serei lembrado? Qual o legado que deixo? Como será o meu futuro? O que mudará em minha existência? O desligamento do mundo do traba- lho ou término da carreira signifi ca, entre múltiplos sentidos, a desconstrução de uma realidade psicossocial historicamente construída e norteadora de “jeitos típicos de pensar, sentir e agir”. Tal condição é ge- radora e pode estimular a busca de “zonas de conforto”. O receio do novo produzido por possíveis mudanças pode endereçar à inércia, o que signifi ca não fazer nada que possa ser percebido e sentido como ameaça ao status quo. O que prevalece, nesse caso, é o apego aos velhos e conhecidos hábitos, porém, não mais efi cazes, oriundos de uma realidade psicossocial que não existe mais. O contexto psicossocial emergente impõe, por meio de projetos de vida na aposentado- ria, reelaborar, atualizar, redefi nir ou com- plementar conceitos, pressupostos e propó- sitos de vida para o pós-carreira. Trata-se de um momento caracterizado por mudanças no espaço de vida pessoal, que variam desde as mais superfi ciais até as mais profundas (Senge et al., 1999). O que é e no que deve constituir-se um projeto de vida para o pós-carreira? É o processo de construção e de elaboração de ideias que deve ser continuamente refi - nado, de modo a transformá-las em estra- tégias de ação, sempre levando em conta aspectos referentes à viabilidade e ao valor que será agregado, tendo-se em vista a con- dição futura de aposentado (Zanelli; Silva; Soares, 2010). O projeto de vida pressupõe a realização de algo no tempo que há de vir. Caracteriza-se como possibilidade de realizar ou resgatar atividades que propor- cionem a satisfação de necessidades e de ex- pectativas que se encontram adormecidas ou que no momento da retirada foram de algum modo descobertas ou criadas. O desejo e a construção de projetos de vida caracterizam-se como manifestações essencialmente humanas, que pressupõem a intenção de fazer algo no futuro e viver a vida por meio de vários projetos (França; Soares, 2009). É uma peculiaridade humana viver mirando o futuro (Frankl, 1984). Em razão disso, os projetos de vida pressupõem uma dimensão temporal – o futuro, sob for- ma de antecipação, e a noção de incomple- tude, como algo ainda não determinado e terminado, um porvir. O projeto de futuro está em constante transformação, simboli- zando, assim, sua contínua construção, des- construção e reconstrução (Soares; Sestren, 2007). Porém, são muitas as pessoas que não têm ideias sobre o que fazer para tornar seus sonhos reais. Em geral, têm noções vag as so- bre o que desejariam fazer ou o tipo de ser humano que gostariam de tornar-se. Em O trabalho e as organizações 657657 decorrência, não sabem como transitar do sonho para a realidade, tendo como ponto de partida o presente e as experiências que adquiriram no passado (Maxwell, 2009). Quando não sabemos para onde queremos ir e onde nos encontramos, qualquer cami- nho serve. O signifi cado disso é o de que nos encontramos à deriva, desgarrados ou sem rumo (Zanelli; Silva; Soares, 2010). Ao contrário, a construção de projetos de vida para o pós-carreira pressupõe exa- minar as relações e as lacunas entre o que desejamos ser e as competências técnicas, interpessoais e espirituais de que dispomos para tal empreitada. Também deve ser con- siderada a relação entre o contexto físico, o contexto psicossocial e o suporte social de que dispomos e o que necessitamos ter. Essa concepção remete ao conceito de ten- são criativa (Fritz, 1997; Senge, 1990). Tal conceito está assentado em três princípios fundamentais: 1. a tensão é formada por uma discrepân- cia entre dois estados, o real e o ideal; 2. a tensão gerada cria uma tendência para o movimento; e 3. a tensão encontra solução quando é minimizada. Ao identifi carmos o que desejamos (o estado desejável) e o que somos em relação ao que desejamos ser (estado real) criamos um estado de tensão consciente. Contudo, isso não é sufi ciente para gerar as mudanças necessárias para que possamos nos tornar o que desejamos ser. É necessário cons- truir um “caminho” por meio de sucessi- vas ações, sempre seguidas de avaliações que possibilitem identifi car se a trajetória até então percorrida estácorreta, tendo- -se como referência o quadro do futuro. Cabe lembrar que, ao ser reduzida a tensão, torna-se necessário estabelecer outros pro- jetos de vida (Zanelli; Silva; Soares, 2010). Algumas questões são consideradas funda- mentais e motivadoras para construir pro- pósitos de vida renovados no pós-carreira: 1. Que competências desenvolvi ao longo da carreira que me dão orgulho? 2. Que novas competências necessito de- senvolver, mas ainda não tive tempo? 3. Que legados gostaria de deixar para a família, amigos e comunidade? 4. Do que sinto arrependimento por não ter feito até agora? 5. O que, de fato, me realiza como ser humano? 6. Que tipo de desafi o me motiva? (Tei- xeira, 2011). Como possibilidade de complementa- ção, algumas outras questões podem servir de ajuda à consciência do que se tornar no pós-carreira (Maxwell, 2009): 1. A pergunta da propriedade: meu sonho é realmente meu? 2. A pergunta da clareza: consigo ver cla- ramente o meu sonho? 3. A pergunta da realidade: dependo de fatores que posso controlar para realizar o meu sonho? 4. A pergunta da paixão: o meu sonho me incita a realizá-lo? 5. A pergunta do caminho: tenho uma estratégia para realizar o meu sonho? 6. A pergunta das pessoas: incluí as pessoas de quem preciso para realizar o meu sonho? 7. A pergunta do custo: estou disposto a pagar o preço de meu sonho? 8. A pergunta da perseverança: estou me aproximando de meu sonho? 9. A pergunta da realização: trabalhar pela realização de meu sonho gera satisfação para mim? 10. A pergunta da importância: meu sonho benefi cia outras pessoas? 658658 Borges & Mourão (orgs.) Portanto, os projetos de vida no pós- -carreira podem ser compreendidos como alternativas viáveis na existência de um ser humano. O que signifi ca a construção de uma identidade futura endereçada às múl- tiplas possibilidades do ser humano face às condições físicas e psíquicas existentes. Logo, ao construirmos projetos de vida, é necessá- rio zelar pela unidade entre subjetividade (necessidades e expectativas) e objetividade (contexto físico e psicossocial). Tal atenção serve de alicerce para que as motivações e os propósitos existentes nessa etapa da vida tornem-se realizáveis (Frankl, 1984). A preocupação com a aposentadoria, quando canalizada por meio da refl exão, to- mada de consciência e redefi nição de prio- ridades nos espaços de vida pessoal, pode caracterizar-se como propícia à construção de contextos caracterizados pelo conceito de ócio criativo. Supõe, portanto, direcio- nar energia física e psíquica para atividades concebidas como prazerosas, orientadas à construção e à aplicação de ideias motiva- doras. Tal realidade pressupõe confl uir três elementos fundamentais: o trabalho (es- forço laborativo revestido de sentido para quem o realiza), o estudo (posicionar-se de modo “aberto” para aprender continua- mente ao longo da vida) e o jogo (entreme- ar espaços lúdicos de lazer, brincadeira e convivência saudável). Ao conectarem esses três elementos, as pessoas, por meio de suas ações nos contextos em que vivem, passam a exercitar o ócio criativo, balanceando o trabalho exercido com alegria e produtivi- dade e o respeito à individualidade do ser humano, levando em conta suas necessida- des e expectativas pessoais (Masi, 2000). A condição de aposentado ou estar vivenciando o momento da retirada possi- bilita ao ser humano refl etir sobre as rela- ções até então estabelecidas entre espaços de vida no trabalho e as demais instâncias de sua vida pessoal. O que não foi possível reconfi gurar até então, principalmente, em razão da exacerbação das atividades labora- tivas no cotidiano das pessoas, nessa etapa da vida, passa a agregar potencial de viabi- lidade. Por exemplo, a reconfi guração das relações com a família e os amigos, os nos- sos hobbies e interesses além do trabalho, o voluntariado na comunidade e o cultivo da espiritualidade, entre outras possibilidades. As atividades que podem ser consideradas essenciais, como o passeio de bicicleta com os fi lhos ou o cônjuge, o fi lme ou o futebol com os amigos, adquirem possibilidades concretas nessa importante etapa da vida. Contudo, quando postergamos tais possi- bilidades, apesar de ampliado o tempo cro- nológico, deixamos de satisfazer necessida- des vitais, sacrifi camos relações relevantes e nossa felicidade. Em uma perspectiva em- basada no otimismo, o pós-carreira repre- senta maior disponibilidade de tempo físico e psíquico para desfrutar de lazer ou realizar atividades que durante longo tempo foram adiadas ou estiveram adormecidas (Veras; Ramos; Kalache, 1987). A superação dessa situação supõe refl etir sobre o que de fato é importante para nós e dedicar tempo e dis- posição no que consideramos importante (Zanelli; Silva; Soares, 2010). No quadro a seguir, é apresentada uma visão de aposen- tadoria bem-sucedida. Aposentadoria bem-sucedida “Três coisas são essenciais para uma aposen- tadoria de sucesso: poupança para fi nanciar o segundo tempo, saúde e atividades que gerem prazer tanto quanto o obtido na vida corporativa” (Teixeira, 2011, p. 71). Como possibilidades de ocupação de espaços de vida revestidas de signifi cado no pós-carreira, encontra-se a inserção do O trabalho e as organizações 659659 aposentado em ações de responsabilida- de social, cujo propósito é contribuir para a redução de injustiças sociais. Também, propósito não menos relevante, é cooperar com ações de preservação do meio ambien- te. As ações de responsabilidade social e ambiental pressupõem que, de modo vo- luntário e espontâneo, as pessoas nas orga- nizações possam decidir contribuir efetiva- mente para tornar a sociedade mais justa e o meio ambiente mais saudável (Vergara; Branco, 2001). Tais atividades, considera- das emergentes e necessárias (as injustiças sociais ainda são muitas e a sobrevivência do planeta está em risco), contribuem para a ampliação da consciência social dos apo- sentados e de sua espiritualidade (consciên- cia do propósito de vida e signifi cado da existência). Compreendido por meio dessa pers- pectiva, o pós-carreira não se reduz à perda da identidade ocupacional (Schein, 1996). Pelo contrário, dependendo da interpre- tação que se dá e da representação social consequente, pode implicar a redefi nição cognitiva e afetiva do conceito “de o que seja estar aposentado”. Nessa concepção, o preenchimento do tempo livre pode se dar por meio de convívios gratifi cantes com a fa- mília e outras instâncias do convívio social. Contudo, um fator importante fundamental é que, em todo o processo de redefi nição e reinserção do aposentado em seus contextos signifi cativos de vida, os hábitos estabeleci- dos, e concebidos como saudáveis para a sua qualidade de vida, não passem por mudan- ças ou rupturas drásticas (Vitola, 2004). Conforme preconizam Senge e cola- boradores (2007), a competência essencial para que possamos obter, a partir do tem- po livre que dispomos, o quadro de futuro que desejamos, tem o nome de presença, signifi cando nos tornarmos conscientes e alertas aos nossos momentos de vida. De- vemos também considerar tal competência como expressão dos comportamentos de ouvir por meio de escuta ativa e de rejeitar preconceitos e modos históricos de confe- rir sentidos distorcidos à realidade que é socialmente construí da. Com base nisso, criamos as condições necessárias para reco- nhecer a importância de desistir de concei- tos ou símbolos com a função de expressar status, mas que, no entanto, são considera- dos ultrapassados ou obsoletos para exercer ou demonstrar poder. Ao contrário, a pos- sibilidade que se abre no pós-carreira é a de fazer escolhas que verdadeiramente sirvam para incentivar a evolução pessoal (Zanelli; Silva; Soares, 2010). No caso da aposentadoria, aos aposen- tandos, urge recuperar, sem preconceitos, o signifi cado genuíno desse momento em suas vidas. Comoresposta a esse desafi o, propo- mos programas de orientação de base refl e- xiva e outras possibilidades de intervenção, cujo intuito é promover relações genuínas de ajuda, a fi m de que os participantes sejam auxiliados a fazer as escolhas que de fato lhes interessam e motivam. É isso que passamos a discutir na seção seguinte. POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO Sabemos que a preparação, a refl exão ou a orientação para aposentadoria são um conjunto de atividades integrado ao pla- nejamento de vida da pessoa, que pode ser materializado por meio de um plano estra- tégico, que se constitui de metas e ações vi- sando a planejar o pós-carreira. No quadro “Plano estratégico de vida”, a seguir, estão sintetizadas tais metas e ações. Como a responsabilidade da organiza- ção está associada ao processo de carreira e, como vimos, constitui aprendizagem para ser desenvolvida durante todo o período 660660 Borges & Mourão (orgs.) funcional, partimos do princípio de que, ainda que varie de pessoa para pessoa, [...] o rompimento brusco das roti- nas que se alongaram durante quase toda existência parece potencializar o início de desajustes nos vários es- paços da vida pessoal. (Zanelli; Silva; Soares, 2010, p. 57) Portanto, as atividades de orientação, desde o ingresso do trabalhador na organi- zação, podem ser promovidas em torno de temáticas pertinentes e encadeadas visando a descortinar novas possibilidades de ação em cada etapa do desenvolvimento humano, bem como a estabelecer antecipadamente condições fi nanceiras e adaptação saudável às mudanças. A relação entre dedicação ao trabalho e demais espaços da vida pessoal tem muita relevância na transição para o período de pós-carreira. Diversas escolhas são feitas ao longo da carreira. A aposentadoria tam- bém é escolha, sem dúvida, cerceada pelos limites das imposições externas ao âmbito individual. É salutar diminuir progressiva- mente o tempo dedicado às atividades de trabalho, quando possível, de modo a ate- nuar efeitos do rompimento e encontrar os signifi cados que outras atividades podem proporcionar. Espera-se, é claro, que a pes- soa possa perceber e assumir atividades que lhe sejam motivadoras e signifi cativas para continuar vivendo prazerosamente. As ações de intervenção devem ser norteadas pela construção de indivíduos com capacidade decisória nas diversas eta- pas da vida. A otimização nos acertos ou nos ajustes de tais decisões, em um con- texto sistêmico de planejamento de vida, deve considerar as múltiplas oportunida- des e riscos de cada situação. Pessoas in- seguras na tomada de decisão podem ter difi culdades para perceber alternativas ou perspectivas de futuro relevantes e, prova- velmente, durante suas vidas, não apren- deram práticas antecipatórias de planeja- mento pessoal. Estabelecer o aprendizado de tais comportamentos está entre os ob- jetivos centrais do processo de orientação para aposentadoria. O processo de orientação para apo- sentadoria, considerando o que está larga- mente disseminado entre os profi ssionais de gestão de pessoas, quase sempre é com- preendido como um programa realizado no período fi nal das atividades formais de trabalho em uma carreira. Entretanto, en- tendemos que tal programa pode ser con- siderado uma intervenção emergencial. Busca-se desenvolver as aprendizagens ou as habilidades cognitivas e afetivas em um período curto, na tentativa de compensar o que deveria ter sido feito durante todo o Plano estratégico de vida Metas e ações para planejar o pós-carreira: Dos 20 aos 30 anos. Cuidado com a carreira, formação educacional básica e início de atividades voluntárias e prática de atividades físicas. Dos 31 aos 40 anos. Continuidade ao investimento na formação profi ssional, desenvolvimento de uma rede de relacionamentos pessoal e profi ssional, visita anual ao médico. Dos 41 aos 50 anos. Consolidação da carreira e obtenção de reserva fi nanceira e saúde física e psíquica preservada. Dos 51 aos 60 anos. Prioridade máxima aos projetos de vida no pós-carreira (Teixeira, 2011, p. 70). O trabalho e as organizações 661661 período de desenvolvimento da carreira ou de atividades funcionais. Procedimentos alternativos a um pro- grama concentrado ao fi nal da carreira, desde que planejados na composição de ati- vidades integradas da gestão de pessoas, po- dem fazer parte das práticas de treinamento comportamental ou de desenvolvimento pessoal. Um exemplo é o treinamento de assertividade (ver quadro “Signifi cado de assertividade”, a seguir) e de construção de resiliência, que tanto serve aos propósitos da gestão, naquilo que diz respeito ao ali- nhamento estratégico geral e específi co de cada segmento da organização, como é útil para o planejamento de vida em qualquer estágio da carreira. Assim, o coaching pes- soal, também difundido nas organizações como um processo de aconselhamento, en- volve aspectos dos espaços de vida do tra- balhador e, como tal, é um procedimento de vinculação importante ao preparo para o período pós-carreira, uma vez que trata de defi nir objetivos de longo, médio e curto prazos, identifi car aspectos a melhorar e fa- zer a pessoa avançar como profi ssional, mas também aprimorar a vida integralmente. De modo semelhante, a tutorização (men- toring), como um processo no qual alguém com senioridade e desenvoltura profi ssio- nal (o mentor) acompanha outro trabalha- dor como um orientador de carreira, deve incluir a orientação para o período pós- -carreira. São procedimentos de ajuda para estabelecimento de metas nítidas e alcançá- veis e de desenvolvimento da habilidade na tomada de decisão evidentemente compatí- veis com a orientação para aposentadoria. Tais intervenções, ressalte-se, são relevantes em qualquer estágio da vida. Entendemos a aposentadoria como um conjunto de adaptações no transcur- so do tempo, contraposta à noção de um evento de curta duração ou, como é co- mum, restrita àquilo que tem sido deno- minado de pós-carreira; algo que deve ser pensado desde o início da carreira até a vida no pós-carreira. É constituída de fases com se quências variáveis, em que cronologias e durações, dependendo de aspectos con- textuais e pessoais, são alteradas (Schaie, 1996). Com esse sentido, o período que antecede ao pedido formal de desligamen- to é um momento propício para a refl exão e análise de questões pertinentes à própria identidade, às expectativas e às prioridades para o futuro, na forma de um programa es- truturado nas práticas da gestão de pessoas ou pelo encaminhamento a prestadores do serviço, externos à organização. Os procedimentos e as técnicas utiliza- dos em programas de preparação ou orien- tação para aposentadoria, embora possam ser focados em uma pessoa, em geral, são planejados para serem conduzidos em gru- pos. Nessa forma, pelo compartilhamento, são favorecidas as trocas e as aprendizagens entre indivíduos. A construção desse tipo de ambiente psicossocial de suporte tem vantagens evidentes. O apoio recebido e a expressão de dúvidas e sentimentos em um ambiente receptivo favorecem o estabeleci- mento de relações de confi ança, de ajuda e de vínculos entre pares, ou seja, outros em condições similares (ver quadro “Conse- quências do programa”, a seguir). Os profi ssionais que atuam direta- mente no programa são chamados de orien- tadores. São internos ao programa aqueles que têm responsabilidade direta pelo pla- nejamento, pela execução, pela condução Signifi cado de assertividade Assertividade: “[...] afi rmação dos próprios direi- tos e expressão de pensamentos, sentimentos e crenças, de maneira direta, honesta e apropria- da, de modo que não viole o direito de outras pes- soas” (Lange; Jakubowski, 1976, p. 7). 662662 Borges & Mourão (orgs.) e pela avaliação do programa. Outros pro- fi ssionais atuam como orientadores exter- nos, aqueles que eventualmente proferem palestras e coordenam atividade de grupos. Recomendamosque todos sejam treinados, com o objetivo principal de manter a co- erência do programa, integrando as pales- tras com as vivências e o foco nos projetos de vida. Pela natureza interprofi ssional, as trocas, a integração e a cooperação entre os profi ssionais em torno da especifi cidade do programa têm caráter imprescindível e, por isso, requerem constante atenção dos orientadores internos. Contudo, as sequên- cias que são estabelecidas para cada grupo, ao longo dos encontros, não são invariá- veis, no sentido de conteúdos e discussões que se repetem para todos os grupos. As ati- vidades desenvolvidas devem estar alinha- das às necessidades e às expectativas especí- fi cas de pessoas e grupos nas organizações. Os procedimentos gerais são repetidos no processo que inicia com a divulgação, a realização dos encontros e a avaliação. Os profi ssionais ou orientadores recebem, no treinamento ou na qualifi cação, informa- ções de natureza conceitual – cognitiva e emocional – sobre o fenômeno da aposen- tadoria. Enfatiza-se o programa como uma oportunidade de refl exão e discussão apro- fundadas sobre o trabalho, sua contextuali- zação e o indivíduo participante, com foco no futuro da vida pessoal e profi ssional. Ainda com relação à orientação para aposentadoria, ao considerarmos o aumen- to da permanência das pessoas no mercado de trabalho, duas ações têm sido cada vez mais discutidas e reconhecidas em suas im- portâncias: o desenvolvimento de políticas e práticas de gestão humana voltadas para os trabalhadores mais velhos e o planeja- mento de processos de aposentaria fl exí- veis. Comentamos, na continuação, cada um desses aspectos. A investigação sobre a gestão de pes- soas tornou claro que as práticas que geram investimento nos trabalhadores e reconhe- cem as contribuições deles estão associa- das aos altos níveis de comprometimento e maior retenção de trabalhadores (Paré; Tremblay, 2007). No entanto, há poucas pesquisas voltadas especifi camente para a análise de seu impacto sobre os trabalhado- res mais velhos (Armstrong-Stassen, 2008). De fato, parece que, em geral, nas organi- zações, as práticas destinadas a estimular o desempenho dos trabalhadores com idade avançada são reduzidas ao mínimo (Potoc- nik; Tordera; Peiró, 2009). Essas práticas podem ser expressas por meio de ações organizacionais, tais como limitação das responsabilidades do trabalhador mais ve- lho no âmbito da organização, avaliações negativas de seu desempenho, incentivos para sua aposentadoria antecipada, im- plementação de políticas e práticas pouco sensíveis à sua situação, limitações ao aces- so à educação e ao desenvolvimento de carreira, esquiva na contratação ou pro- moção do trabalhador com mais idade e Consequências do programa “As verbalizações dos participantes repetem-se nas afi rmações de que os conteúdos do programa são efi cazes para auxiliar a decidir qual o melhor momento de se aposentar. A maioria relata o afastamento de indecisões e a opção defi nitiva pela aposentadoria. Alguns decidem postergar o momento, mas geralmente fi xam prazos. Em qualquer caso, demonstram consci- ência da necessidade de construir projetos futuros, com tempos defi nidos” (Zanelli; Silva; Soares, 2010, p. 61). O trabalho e as organizações 663663 outros aspectos (Hedge; Borman; Lamm- lein, 2006). Em decorrência dos poucos estudos existentes, a maioria das sugestões sobre as práticas de gestão destinadas a pessoas mais velhas torna-se prescritiva e orien- tanda a duas frentes: construir uma cultura que valoriza as pessoas mais velhas e suas experiências (consideração, reconhecimen- to e formação) e promover fl exibilidade no planejamento de postos de trabalho para adaptá-los às necessidades desses traba- lhadores (Dychtwald; Erickson; Morison, 2004). Trata-se não tanto de inventar novas práticas de recursos humanos, mas orientá- -las para valores relacionados com a idade e que evitem preconceitos e a subsequente discriminação que elas produzem. Em rela- ção à maior fl exibilidade no trabalho, uma alternativa é propor projetos que permitam ao trabalhador mais velho possibilidades de adaptação às suas próprias necessidades (horários fl exíveis, trabalho em tempo par- cial, teletrabalho, etc.). Uma das poucas pesquisas empíricas que analisa a infl uência das práticas de ges- tão de pessoas sobre a decisão de perma- necer nas atividades laborais (Armstrong- -Stassen, 2008) evidencia que são as práticas destinadas ao reconhecimento e ao respeito aos trabalhadores mais velhos as que apre- sentam mais infl uência, seguidas pela exis- tência de incentivos e opções de trabalho fl exível. As práticas de treinamento e desen- volvimento profi ssional parecem ter pouca importância. No entanto, ainda são poucas organizações que usam tais ações. As razões pelas quais tais práticas não são utilizadas parecem estar relacionadas a três fatores: a existência de estereótipos não fundamen- tados sobre os trabalhadores mais velhos, ausência de investigações mais focadas nos motivos pelos quais trabalhadores mais ve- lhos saem das organizações e as razões por que fi cam e a falta de conhecimento sobre como implementar essas práticas de gestão de pessoas (Armstrong-Stassen, 2008). O segundo conjunto de práticas está direcionado à fl exibilização do processo de transição para o pós-carreira mediante diversas estratégias para evitar ter que es- colher entre uma situação de tudo ou nada (ativo ou aposentado). Uma das que rece- beu mais atenção nas últimas décadas foi o trabalho-ponte (bridge employement). O trabalho-ponte faz referência ao posto de trabalho no qual se encontra um trabalha- dor, uma vez que tenha deixado a principal carreira ao longo de sua vida, até que ele fi nalmente se desliga. Os trabalhos-ponte, em geral, são considerados como postos com status e salário mais baixos em relação aos que a pessoa teve anteriormente (Feld- man, 1994). No en tanto, esse conceito pode ser alterado. Os trabalhos-ponte podem re- presentar uma alternativa para as pessoas que ainda podem e desejam continuar tra- balhando, dando uma contribuição valiosa, mas que preferem fornecê-la por meio de atividades distintas de sua carreira profi s- sional. Uma alternativa que se caracteri- za como fl exível é a aposentadoria parcial (partial retirement). O que supõe trabalho em tempo parcial, com o recebimento de uma pensão reduzida (Kantarci; Van Soest, 2007). Um tipo específi co de aposentado- ria parcial é a aposentadoria progressiva (fl exible retirement). O Thesaurus da OIT (Organización Internacional del Trabajo, 2011) defi ne a aposentadoria progressiva como a limitação gradual das horas de tra- balho para os trabalhadores mais velhos. Nesse sistema, o emprego em tempo parcial é utilizado como uma transição gradual da vida laboral ativa para a aposentadoria in- tegral. Na Holanda, o trabalho em tempo parcial para os trabalhadores mais velhos 664664 Borges & Mourão (orgs.) tem demonstrado um efeito preventivo sobre a possibilidade de que os trabalha- dores apresentem sobrecarga, permitindo que eles mantenham seus postos de traba- lho. Além disso, também previne algum tipo de acidente ou de doença profi ssional e, por conseguinte, as aposentadorias an- tecipadas por incapacidade de trabalho, o que produz um aumento na participação de trabalhadores em atividade laboral e na proporção de pessoas ativas em relação às inativas (Buck; Dworsak 2003). Contudo, também apresentaram aumento nas vozes críticas sobre essa forma de transição para o pós-carreira. Efetivamente, tem sido ob- servado que o uso do tempo parcial para trabalhadores que não possuem qualquer impedimento para trabalhar em tempo in- tegral, na realidade, pode estar acelerando a aposentadoria (Srensen; Buhl, 2007). Tivemos a intenção, no que foi pos- sível apresentar neste capítulo, de revelar pontos que vêm se destacando na produ- ção de conhecimento acumulada sobreo assunto. Muito há por ser feito, tanto na pesquisa como na atuação profi ssional dos gestores de pessoas. Na sequência, vamos encerrar o capítulo recuperando algumas ideias de destaque. CONSIDERAÇÕES FINAIS É relevante questionar até que ponto os gestores e os dirigentes responsáveis pela formulação de estratégias organizacionais e, especifi camente, pelas políticas de gestão de pessoas estão preocupados com o desen- volvimento humano, a carreira, a aposen- tadoria e o envelhecimento. Ainda mais: até que ponto compreendem o processo de aposentadoria e suas implicações psicológi- cas, sociais, econômicas e, no que concerne às organizações em que trabalham, as de- corrências para a responsabilidade social interna e externa, a imagem para a comu- nidade, o comprometimento dos trabalha- dores e a sucessão no quadro de carreiras? A incorporação de valores sociais, éticos e de preservação ambiental nas estratégias de negócio e no planejamento da organização tornou-se, no discurso de muitos gestores dirigentes, parte intrínseca das propostas de gestão. Resta saber em que medida os conceitos de sustentabilidade, responsabi- lidade corporativa, desenvolvimento dos negócios, humanização dos relacionamen- tos estão integrados ou tornaram-se atitu- des que respaldam os comportamentos dos gestores. A atenção ou os cuidados com a apo- sentadoria remontam, na literatura, a mea- dos do século XX. Desde essa época, a preo- cupação já recaía no emprego mais efetivo dos trabalhadores mais velhos e em como ajudá-los na preparação adequada para o desligamento (Breckinridge, 1953; Mack, 1954). Contudo, podemos dizer que ainda pouco é investido na formação e na quali- fi cação dos profi ssionais nas organizações para intervenções no fenômeno da aposen- tadoria, em especial, dos profi ssionais de recursos humanos. Planejar e executar um programa de orientação para aposentadoria requer qualifi cação específi ca para intervir em um momento especial do desenvolvi- mento humano. Propostas emergenciais e intervenções em bases teóricas precárias, bem como a desarticulação com o planeja- mento e a fi losofi a da organização, podem trazer resultados inesperados (ver quadro “Qualifi cações de planejadores e executores do programa”, a seguir). Os modelos e os procedimentos de orientação podem ser diversos, embora predomine a prática difundida de atenção O trabalho e as organizações 665665 focada nos meses próximos à retirada ou ao término da carreira; um padrão, como vimos, que foi estabelecido há pouco mais de 50 anos nos Estados Unidos. Seguindo tal padrão ou não, podemos afi rmar que, em qualquer alt ernativa de orientação, há a tendência clara em centralizar as ativida- des nas elaborações de cunho cognitivo. Palestras ou preleções são realizadas com o objetivo de informar, enquanto pouca ou nenhuma atenção é dada aos aspectos emocionais inerentes ao fenômeno. Assim, consideramos que a orientação para apo- sentadoria não é realizada na perspectiva de ajuda no âmbito do desenvolvimento emocional. Informar sobre saúde física, fi nanças, mercado de trabalho e outros assuntos, sem dúvida, é parte relevante do processo, mas não é sufi ciente para o cres- cimento psicossocial saudável. Isso pode ser constatado em casos que podem ser avaliados como de estabilidade fi nanceira, disponibilidade de opções de lazer ou ocu- pação, boa saúde física e que, no entanto, episódios de estresse e depressão podem até culminar em suicídio. Está claro que a dimensão do trabalho, no geral, passou a ocupar lugar de centrali- dade na vida humana particular e coletiva e, portanto, merece cuidados educativos, seja no âmbito escolar ou das organizações de produção de bens e serviços, em qualquer setor. Programas de orientação que têm como fi nalidade o desenvolvimento inte- gral cumprem tanto a responsabilidade so- cial como são ferramentas gerenciais. Como vimos, tais programas devem compor um sistema integrado e sistêmico. Repercutem no desempenho individual e organizacional e revelam, pelo modo como são gerencia- dos, os pressupostos estratégicos e políticos que perpassam o modelo de gestão. Qualifi cação de planejadores e executores do programa “O período de encerrar uma carreira, de deixar uma organização, os colegas e os amigos, para buscar um novo projeto de vida, uma nova carreira ou simplesmente usufruir o tempo livre e ‘curtir a vida’ pode ser um momento difícil para um grande número de pessoas. Exige cuidados e uma qualifi cação teórica e técnica (prática) por parte dos planejadores e executores” (Zanelli; Silva; Soares, 2010, p. 75). QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. Que posição o planejamento da aposentadoria tem na vida das pessoas? Que posição deveria ter? Por quê? 2. “Não há um modo único de gerir projetos para a vida pós-carreira”. Comente a frase relacionando-a ao que foi discutido ao longo do capítulo. 3. Que implicações éticas e de responsabilidade social os programas de preparação para a aposentadoria podem representar para as organizações? 4. A população aposentada tende a crescer, e os aposentados têm apresentado difi culdades de se adaptar à nova situação de vida. Tal realidade representa espaço de atuação do psicólogo? Por quê? Que possibi- lidades de atuação podem ser consideradas? 666666 Borges & Mourão (orgs.) REFERÊNCIAS ARMSTRONG-STASSEN, M. Human resource practices for mature workers: and why aren’t em- ployers using them? Asia Pacifi c Journal of Human Resources, v. 46, p. 334-352, 2008. BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimen- to. Rio de Janeiro: Vozes, 1978. BERNHOEFT, R. Origens e perspectivas do “pós- -carreira” no Brasil. Revista P@rtes, 2009. Disponí- vel em: . Acesso em: 27 fev. 2011. BÍSCARO, W. Maturidade e poder pessoal: caminhos do autodesenvolvimento. São Paulo: Brasiliense, 1996. BRASIL. 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Nesse percurso de interação so- cial, o indivíduo cresce em determinado grupo e estabelece uma rede de relações sociais, interagindo com as pessoas, sendo capaz de infl uenciar como também ser in- fl uenciado por aqueles que compõem essa rede. Ele estabelece contatos próximos com alguns de seus integrantes e contatos mais distantes com outros. As pessoas que pos- suem um vínculo mais forte com esse in- divíduo exercem maior infl uência em sua vida, constituindo-se no “comboio social” (Antonucci; Akiyama, 1994). Integração social A noção de integração social foi apresenta- da pela primeira vez por Durkheim em seu trabalho seminal de 1957 sobre condições sociais e suicídio, cuja proposta era uma estrutura social estável e normas que ser- vissem para proteger e regular o comporta- mento das pessoas. Por meio desse estu do, foi demonstrado que existe maior possibi- lidade de suicídio entre indivíduos social- mente isolados em comparação àqueles que integram-se socialmente, ou seja, possuem uma rede social ampla, acessível e integrada (Cohen, 2004; Sluzki, 2003). A integração social foi defi nida como a participação ativa de um indivíduo em relacionamentos so- ciais, sendo um conceito multidimensional, formado por um elemento comportamental, que signifi ca engajamento em atividades ou relacionamentos sociais, e um componente cognitivo, representado por senso de comu- nidade e identifi cação com as regras sociais (Brissette; Cohen; Seeman, 2000). Suporte social Em 1976, Cobb sugeriu quais seriam as in- formações obtidas do convívio social (redes sociais) que permitem ao indivíduo proces- * Segundo Antonucci e Akiyama (1994), a expressão comboio social (social convoy) foi cunhada para repre- sentar a ideia de que indivíduos são rodeados por uma comunidade de outros indivíduos que os acompanha ao longo de sua vida. 622622 Borges & Mourão (orgs.) sar mentalmente sua percepção de suporte social. Para o autor, cada indivíduo organi- za mentalmente três conjuntos de crenças: sou amado e existem pessoas preocupadas comigo; sou valorizado por outras pessoas; pertenço a uma rede social. Para Siqueira (2008), percepção de suporte social consti- tui-se em um conceito psicológico de natu- reza cognitiva, visto que engloba uma arti- culação de três classes de crenças (Fig. 21.2). Posteriormente Rodrigues e Cohen (1998) apresentaram três tipos de suporte que podem ser percebidos pelo indivíduo como disponíveis em seu convívio social (redes sociais): suporte emocional, suporte instrumental (ou estrutural) e suporte de informação (Fig. 21.3). Os recursos disponibilizados pela rede social e categorizados em três tipos por Ro- drigues e Cohen (1998) constituem, na rea- lidade, duas categorias de suporte: uma de cunho eminentemente afetivo, o suporte emocional, porque se origina de ações que demonstram afabilidade, afeição e carinho Figura 21.1 Conceitos que representam condições responsáveis por saúde social. Fonte: As autoras. Comboio social Pessoas que possuem um vínculo forte com o indivíduo exercem maior infl uência em sua vida. Integração social Participação ativa de um indivíduo em relacionamentos sociais. Suporte social Crença individual de que é amado, valorizado e pertence a uma rede social. Figura 21.2 Três crenças que integram a percepção de suporte social segundo Cobb (1976). Fonte: As autores. Sou amado e existem pessoas preocupadas comigo Percepção de suporte social Sou valorizado por outras pessoas Pertenço a uma rede social O trabalho e as organizações 623623 por parte de alguém a outrem durante re- lações sociais, enquanto as outras duas di- mensões, instrumental e informacional, reúnem doações de caráter utilitário, obje- tivo e claramente delimitado. Assim sendo, existem apenas duas dimensões de suporte social: uma, de natureza emocional, que leva o indivíduo a acreditar que é possível encontrar, entre as pessoas de sua rede so- cial, alento para reagir e superar os possí- veis transtornos no âmbito afetivo ou para dividir e compartilhar as alegrias advindas de suas realizações, conquistas e sucessos pessoais; outra, que representa segurança e tranquilidade para o indivíduo por acredi- tar que existam, entre os integrantes de sua rede social, pessoas com disposição para su- prir alguma necessidade de ordem prática (Siqueira, 2008). O interesse por propor e avaliar polí- ticas sociais, mapear fatores e elaborar pro- gramas que promovam a saúde da socieda- de em diversos contextos sociais, como o de trabalho, está largamente registrado na literatura. Observamos a existência de estu- dos e debates acerca dos efeitos gerados por fatores sociais sobre a saúde (Nunes, 1994; Paim; Almeida Filho, 1998), mas poucas discussões dirigidas à concepção de saúde social e ao contexto de trabalho. Portanto, quando há interesse por promoção de saú- de e bem-estar no contexto de trabalho em organizações, torna-se relevante alinhar os avanços que ocorreram no campo concei- tual de saúde, especialmente os desdobra- mentos provocados pelas proposições de Seligman e Csikszentmihalyi (2000), que originaram o movimento da Ps icologia Po- sitiva, sobre as concepções de saúde positi- va, bem-estar em organizações e comporta- mento organizacional positivo. SAÚDE POSITIVA Há uma década, foi iniciado, nos domínios da Psicologia, um movimento denominado Psicologia Positiva, o qual foi desencadeado pela publicação de um artigo de Seligman e Csikszentmihalyi (2000). Imediatamente, ocorreram respostas acolhedoras às propo- sições desse movimento, observando-se o aparecimento de novos conceitos que re- fl etiam seus pressupostos de forma clara. Ao apresentar as ideias centrais acerca da Psicologia Positiva, os dois autores a defi - nem como um campo relativo ao nível de experiências subjetivas positivas vivencia- das no passado (bem-estar, contentamento e satisfação), no presente (fl uxo e felicida- de) e no futuro (esperança e otimismo). Nes se nível de subjetividade, são apontados Figura 21.3 Três tipos de suporte propostos por Rodrigues e Cohen (1998). Fonte: As autoras. Percepção de suporte social Suporte emocional Suporte informacional Suporte instrumental 624624 Borges & Mourão (orgs.) traços positivos dos indivíduos, como a ca- pacidade de amar, a vocação, a coragem, as habilidades interpessoais, a sensibilidade estética, a perseverança, a originalidade e a espiritua lidade, entre outros. Ao referirem- -se ao grupo social, os autores apontam as virtudes cívicas (responsabilidade, altruís- mo e civilidade, entre outros) e as institui- ções que ajudam pessoas a serem melhores cidadãos. Os dois autores (Seligman; Csikszent- mihalyi, 2000, p. 5) revelaram sua crença de que um dia assistirão ao fortalecimento de uma “[...] ciência e profi ssão que irão compreender e construir os fatores que au- xiliarão pessoas, comunidades e sociedades a fl orescer.”. Assumem que os psicólogos devem envidar maiores esforços em pes- quisas acerca de forças e virtudes humanas; mudar o ponto de vista central em que os indiví duos são tidos como seres passivos para uma visão em que as pessoas são to- madoras de decisão, com capacidade de fazerem escolhas, terem preferências e de serem efi cazes, ou, diante de infortúnios, tornarem-se desamparadas. Como resulta- do, eles pressupõem que a ciência e a práti- ca profi ssional em Psicologia retornariam a seus dois eixos missionários negligenciados até então: tornar pessoas normais mais for- talecidas e produtivas e melhorar o poten- cial existente em cada uma delas. Reconhe- cem que o estudo acerca de pessoas é muito mais do que se concentrar no que há de er- rado com elas, mas, especialmente, identifi - car suas principais qualidades e ajudá-las a descobrir em quais ambientes podem viver e ter essas qualidades fortalecidas. Outra perspectiva defi nidora dos con- tornos da Psicologia Positiva, ressaltada por seus dois idealizadoresof Manage- ment Review, v. 19, n. 2, p. 285-311, 1994. FISCHER, A. L. Um resgate conceitual e histórico dos modelos de gestão de pessoas. In: FLEURY, M. T. L. (Org.). As pessoas na organização. São Paulo: Gente, 2002. FONTAINE, R. Psicologia do envelhecimento. Lis- boa: CLIMEPSI, 2000. FORTEZA, J. A.; PRIETO, J. M. Aging and work behavior. In: TRIANDIS, H. 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Porto Alegre: Artmed, 2010. ZELINSKI, E. J. 1001 formas de disfrutar de su jubi- lación. Barcelona: Amat, 2003.(Seligman; Csi- kszentmihalyi, 2000), é o foco nos aspectos positivos, e não nos negativos, como ainda são priorizados no campo da Psicologia em geral: enquanto os psicólogos clínicos dedi- cam sua total atenção ao diagnóstico e ao tratamento de psicopatologias, psicólogos sociais preocupam-se com vieses, defi ciên- cias e transtornos do comportamento. Como resultado, existe uma literatura ex- tensa em Psicologia em que foram encon- trados, aproximadamente, [...] 200 mil artigos sobre tratamento de doença mental, 80 mil sobre de- pressão, 65 mil sobre ansiedade, 20 mil sobre medo, 10 mil sobre raiva e apenas mil sobre conceitos positi- vos e capacidades pessoais. (Luthans, 2002a, p. 697) Como c onsequências a essas noções que demarcaram o campo da Psicologia Positiva, surgiram diferentes conceitos ne- las inspirados e ancorados em proposições particulares, abarcando, entre outros, saúde positiva (Bowling, 1997; Seligman, 2008). O conceito parece revelar o quão promisso- res seriam os estudos e as intervenções em organizações que tivessem como objetivos a análise e a promoção do papel exercido por indicadores de saúde positiva durante a construção e a escolha de estratégias para lidar com os desafi os no ambiente de traba- lho. Ademais, podemos apontar a relevân- cia de se considerar como conceito de saúde positiva os aspectos biológicos, os estados psicológicos subjetivos e os indicadores de caráter funcional do indivíduo que sejam relevantes para uma vida saudável no con- texto organizacional de trabalho, como são apresentados a seguir. Saúde positiva: duas propostas teóricas para aplicação em organizações Saúde positiva, segundo Bowling (1997), origina-se do amplo entendimento entre estudiosos de ser a saúde algo mais do que a O trabalho e as organizações 625625 ausência de doenças, conforme já afi rmava a OMS (World Health Organization, 1948), que, posteriormente, recomendou, em 1984, o desenvolvimento de medidas para seus indicadores. Para essa autora, pode- -se defi nir esse conceito conforme mostra a Figura 21.4 e operacionalizá-lo a partir de um conjunto de indicadores (Fig. 21.5) que descrevem as condições de funcionamento do indivíduo, tais como: As propo sições de Bowling (1997) permitem entender que, no ambiente or- ganizacional de trabalho, é importante que o profi ssional de Psicologia, interessado na promoção de saúde positiva do trabalha- dor, atente para alguns aspectos, tais como: a) O fortalecimento de habilidades pessoais que permitam ao trabalhador lidar com condições de trabalho e demandas que ultrapassam limites pessoais e possam levar ao estresse. b) A manutenção de uma rede social no contexto organizacional e fora dele com capacidade de suscitar no trabalhador a percepção de suporte social no ambiente de trabalho e na vida social. c) A elaboração de políticas de gestão de pessoas que possam ser reconhecidas pelo trabalhador como fontes de suporte or- ganizacional, capazes de promover níveis elevados de moral, satisfação no trabalho e bem-estar. d) A manutenção, na empresa, de atividades de desenvolvimento pessoal do trabalha- dor que permitam a ele reconhecer nelas seu papel como promotor de bem-estar. e) A inclusão de atividades físicas durante o período de trabalho e o incentivo da prática delas fora do trabalho. Recentemente, Seligman (2008, p. 3) ofereceu nova defi nição para a expressão “saúde positiva” inspirado, certamente, nas proposições do movimento da Psicologia Positiva (Fig. 21.6). Observa-se uma nítida diferença en- tre a concepção de Bowling (1997) e a de Seligman (2008) publicada 11 anos de- pois: enquanto a primeira destaca carac- terísticas psicosssociais descritoras de um indivíduo portador de saúde positiva, a segunda atenta para incluir na defi nição três aspectos que se agrupam em classes distintas: biológicos, subjetivos e funcio- nais (Fig. 21.7). Sob a ótica de Seligman (2008), saú- de positiva compreende um estado que não inclui fatores patológicos em sua composi- ção e deve ser concebido operacionalmente Figura 21.4 Conceito de saúde positiva segundo Bowling (1997, p.5). Fonte: As autoras. SAÚDE POSITIVA “[...] habilidades para enfrentar situações de estresse, manutenção de um forte sistema de suporte social, integração com a comunidade, alta moral e satisfação, bem-estar psicológico e bons indicadores de condicio- namento físico e saúde física.” (Bowling, 1997, p. 5). 626626 Borges & Mourão (orgs.) por indicadores positivos (excelentes ní- veis) que descrevam aspectos biológicos, subjetivos e funcionais. O autor chama a atenção para a importância de que esses fatores sejam passíveis de serem defi nidos e mensurados, ressaltando que, na atuali- dade, instituiu-se no campo científi co pela necessidade de defi nição e mensuração de vários indicadores de qualquer conceito sugerido na literatura. Enfatizamos que o autor não aponta quais fatores (Fig. 21.8) devem ser incluídos, mas enuncia quatro critérios para a escolha deles na concepção de saúde positiva. Como exemplo, podemos considerar um trabalhador com sinais de saúde po- Figura 21.5 Indicadores de saúde positiva segundo Bowling (1997). Fonte: As autoras. Habilidades para enfrentar situações de estresse Moral, satisfação e bem-estar Suporte social e integração na comunidade Condicionamento físico e saúde física SAÚDE POSITIVA Figura 21.6 Conceito de Psicologia Positiva segundo Seligman (2008, p. 3). Fonte: As autoras. PSICOLOGIA POSITIVA “[...] um novo campo que descreve um estado para além da ausência de doenças que pode ser defi nido e medido, operacionalizado pela combinação de ex- celentes níveis obtidos de medidas acerca de aspec- tos biológicos, subjetivos e funcionais.” (Seligman, 2008, p. 3). O trabalho e as organizações 627627 sitiva, caso fossem obtidos os resultados descritos a seguir, a partir da análise de três indicadores positivos relativos aos aspectos biológicos, subjetivos e funcionais, os quais são apresentados na Figura 21.9. A amplitude da investigação do esta- do de saúde positiva do trabalhador em or- ganizações, tendo como eixo a proposta de Seligman (2008), varia em conformidade com o interesse por determinados aspectos (biológicos, subjetivos e funcionais). Tam- bém pode receber modifi cações conforme a defi nição e as medidas existentes na lite- ratura de cada um dos aspectos escolhidos pelo profi ssional para realizar seu diagnós- tico e planejar intervenção para promoção de saúde positiva. A fi m de que seja mais viável a reali- zação do diagnóstico e do planejamento de intervenção em organizações para promo- ver a saúde positiva de trabalhadores, ne- cessitamos trabalhar com equipe multipro- fi ssional, composta por especialistas com competência para avaliar aspectos bioló- gicos, subjetivos e funcionais. O psicólogo assenta-se em suas competências para ava- liar, interpretar e propor ações que dizem respeito à promoção de aspectos subjetivos (cognitivos, emocionais e comportamen- tais) da saúde do trabalhador. Será tam- Aspectos s ubjetivos positivos Aspectos biológicos positivos Aspectos funcionais positivos SAÚDE POSITIVA Figura 21.7 Saúde positiva segundo Seligman (2008). Fonte: As autoras. Figura 21.8 Critérios apontados por Seligman (2008) para concepção de saúde positiva. Fonte: As autoras. 1. Fatores descritores de aspectos positivos 2. Fatores que se agrupam em três aspectos: biológicos, subjetivos e funcionais 3. Fatores que possam ser defi nidos 4. Fatores que possam ser medidos 628628 Borges & Mourão (orgs.) bém competente para colaborar em equipe multiprofi ssional, quando for necessário, propor ações que tratam de aspectos fun- cionais, desde que eles sejam reconhecidos pela equipe como algum indicador com- portamental em que o psicólogo se sinta preparado para atuar. Na Figura 21.9, indicamos como fator subjetivo de saúde positiva o conceito de bem-estar,tema abordado com mais desta- que a seguir. BEM-ESTAR O debate acerca do bem-estar tem levado pesquisadores a divergirem quanto às pers- pectivas em que se organizam os estudos sobre o tema dentro dos domínios da Psi- cologia. A proposta apresentada por Water- man (1993) de distinguir a concepção he- dônica da eudamônica de felicidade trouxe novos horizontes para futuros pesquisado- res vislumbrarem alternativas de sistemati- zação do conhecimento na área. Mais tarde, Kahneman (1999) defendeu a ideia de ser a Psicologia Hedônica um novo campo, defi nido como estudos sobre o que torna a vida feliz ou infeliz. Ryan e Deci (2001) propuseram uma organização para o cam- po de estudos psicológicos sobre bem-estar, apontando duas perspectivas sob as quais, tradicionalmente, o tema tem sido estuda- do: uma abordagem foi denominada hedô- nica, pois focaliza a felicidade e defi ne bem- -estar como busca do prazer e afastamento do sofrimento, e outra nomeada pelos dois autores eudamônica, a qual ressalta o po- tencial humano e concebe bem-estar como a extensão em que uma pessoa consegue funcionar de forma completa. Na visão desses autores, a perspectiva hedônica de felicidade aproxima-se do modelo teórico de bem-estar subjetivo (BES), proposto por Diener (1984), enquanto a perspec- tiva euda mônica refl ete o modelo teórico de bem-estar psicológico (BEP), elabora- do por Ryff (1989), e, posteriormente, re- visado por Ryff e Keyes (1995). Em 2000, Keyes, Hyson e Lupo divulgaram a noção de bem-estar social (BESo) e, em 2008, Si- queira e Padovam revelaram sua concepção de um modelo teórico para bem-estar no trabalho (BET), confi gurando-se no total quatro concepções teóricas sobre o tema bem-estar. Os quatro modelos elencados podem ser úteis em programas organizacionais que têm como meta a promoção de saúde po- sitiva de trabalhadores tanto no contexto organizacional quanto na vida pessoal. Os três primeiros tratam de modalidades de bem-estar fora do ambiente organizacional, condizente com a vida pessoal do trabalha- Figura 21.9 Exemplos de três indicadores de saúde positiva do trabalhador. Fonte: As autoras. FATOR BIOLÓGICO: Nível adequado de glicose no sangue, revelado por exames laboratoriais. FATOR SUBJETIVO: Altos níveis de bem-estar, revelado por escalas de medida do conceito. FATOR FUNCIONAL: Hábito de realizar atividades físicas periodicamente, revelado por resposta a um questionário sobre hábitos de vida saudáveis. O trabalho e as organizações 629629 dor. O quarto ou último modelo permite compreender e avaliar o nível de bem-estar do trabalhador no contexto de trabalho em organizações. Bem-estar subjetivo Os julgamentos acerca de eventos ocorridos na vida pessoal – reconhecidos por pesqui- sadores como “satisfação geral com a vida” – constituem o componente cognitivo que, ao lado da indicação de experiências posi- tivas e negativas – expressados como afetos positivos e negativos vivenciados no passa- do – integram o modelo de três dimensões de BES proposto por Diener em 1984 (Fig. 21.10). Para além desses três componentes integrantes do modelo de BES na Figura 21.10, existe o conceito de balanço emo- cional originalmente sugerido por Brad- burn (1968) como a diferença entre afetos positivos e negativos. Segundo esse autor, pode-se calcular se um indivíduo possui saúde psíquica quando ele mesmo relata ter vivenciado mais afetos positivos do que ne- gativos. Daí, podemos apreender que, por um lado, o balanço emocional positivo re- presenta uma vida em que ocorreram mais experiências emocionais positivas do que negativas; por outro, um balanço emocio- nal negativo revela uma vida permeada por mais experiências negativas do que posi- tivas. Análises do BES são importantes, pois estudos com trabalhadores brasileiros têm revelado que o componente emocional de BES (afetos positivo, afetos negativos e balanço emocional) apresenta correlações signifi cativas de maior valor com víncu- los afetivos com o trabalho e com a orga- nização do que o componente cognitivo do conceito denominado satisfação geral com a vida (Chiuzi, 2006; Freitas; Siqueira, 2010). Portanto, há indícios de que o bem- -estar no âmbito da vida pessoal guarda re- lações estreitas com o bem-estar vivenciado Figura 21.10 Modelo de BES segundo concepção de Diener (1984) e o conceito de balanço emocional elaborado por Bradburn (1968). Fonte: As autoras. Satisfação geral com a vida Afetos positivos Afetos negativos Balanço emocional BEM-ESTAR SUBJETIVO 630630 Borges & Mourão (orgs.) no ambiente de trabalho. Assim sendo, a investigação e o diagnóstico de BES pare- ce uma perspectiva importante na prática psicológica dentro de organizações, pos- to que os afetos presentes na vida pessoal associam-se aos vínculos com o trabalho e à organização para confi gurar um estado psi- cológico amplo de saúde positiva do traba- lhador. Já é possível realizar a avaliação de BES de trabalhadores no Brasil por meio de instrumentos válidos e precisos, elaborados por pesquisadores brasileiros, como a Esca- la de Afetos Positivos e Negativos (EAPN) (Siqueira; Martins; Moura, 1999) e a Escala de Bem-estar Subjetivo (EBES) (Albuquer- que; Tróccoli, 2004). Bem-estar psicológic o Conforme uma síntese apresentada por Ryff (1989), após análise e revisão da lite- ratura, a estrutura de uma abordagem acer- ca do funcionamento psicológico positivo apoia-se em diversas teorias clássicas exis- tentes em Psicologia que se assentam em uma abordagem clínica, ressaltando-se, en- tre outras, as que tratam em particular dos fenômenos da individuação (Jung, 1933), autorrealização (Maslow, 1968), maturida- de (Allport, 1961) e pleno funcionamento (Rogers, 1961). Também foram utilizadas com o mesmo intento teorias sobre o de- senvolvimento humano (Erickson, 1959; Neugarten, 1973), incluindo-se nesse do- mínio o uso das formulações sobre estágios de desenvolvimento, bem como as descri- ções de mudanças na personalidade na fase adulta e na terceira idade. Ao lado de todas essas vertentes, também foram emprega- das as proposições relativas à saúde mental (Jahoda, 1958) para justifi car o conceito de bem-estar como ausência de doença e fortalecer o signifi cado de saúde psicológi- ca. Tomando como referencial todas essas concepções que permitiam abstrair visões distintas do funcionamento psicológico po- sitivo, Ryff (1989) elaborou uma proposta integradora ao formular um modelo de seis componentes de BEP, reorganizado e re- formulado posteriormente por Ryff e Keyes (1995), cujas defi nições são apresentadas a seguir (Fig. 21.11). A análise de BEP permite ao psicólogo desvendar em quais dos seis domínios cog- nitivos estão presentes as forças psíquicas dos trabalhadores que os ajudam a mante- rem-se fortes e saudáveis. Ademais, ao se- rem identifi cados, tais forças ou potencial cognitivo, como o domínio do ambiente, podem ser fortalecidos por ações de gestão de pessoas que visam a estimular o traba- lhador a reconhecer no trabalho situações desconfortáveis e comprometedoras de seu bem-estar e realizar ajustes sobre elas, tor- nando-as mais adequadas às suas caracte- rísticas físicas, psicológicas e sociais. Reco- nhecemos que esse procedimento existe nas organizações e que recebeu a denominação de job crafting. Bem-estar social Segundo Keyes, Hysom e Lupo (2000), o bem-estar psicológico consiste em cinco dimensões que, juntas, indicam o grau de bom funcionamento da vida social do indi- víduo com seu círculo de vizinhos, família, colegas de trabalho e outros cidadãos. Esses autores entendem que os indivíduos social- mente saudáveis concebem o mundo em torno deles como previsível e signifi cativo, com potencial a ser desenvolvido. Eles acre- ditam que pertencem a um grupo maior do qual deriva o conforto, aceitam os outros e sentem que suas contribuições ao grupo são valorizadas. As cinco dimensões são defi ni- das pelos autores conformeapresentado na Figura 21.12. O trabalho e as organizações 631631 Autoaceitação. Defi nida como o aspecto central da saúde mental. Trata-se de uma característica que revela nível elevado de autoconhecimento e maturidade. Crenças positivas sobre si mesmo emergem como uma das principais características do funcionamento psicológico positivo. Autonomia. São seus indicadores o locus interno de avaliação e o uso de padrões internos de auto- avaliação, resistência à aculturação e independência acerca de aprovações externas. Propósito de vida. Manutenção de objetivos, intenções e senso de direção perante a vida, com forte crença de que a vida tem um signifi cado. Relacionamento positivo com outras pessoas. Descrito como sentimentos de empatia e afeição, manutenção de amizade e identifi cação com o outro. Domínio do ambiente. Capacidade do indivíduo para escolher ou criar ambientes adequados às suas características psíquicas, participação acentuada em seu meio e manipulação e controle de ambientes complexos. Crescimento pessoal. Necessidade de crescimento constante e aprimoramento pessoais, abertura a novas experiências, vencendo desafi os que se apresentam em diferentes fases da vida. Figura 21.11 Seis dimensões do modelo de BEP segundo concepção de Ryff (1989). Fonte: As autoras. Integração social. Consiste na avaliação que uma pessoa faz da qualidade de seus relacionamen- tos com a sociedade e com a comunidade; integração é a extensão em que as pessoas sentem que elas têm alguma coisa em comum, de forma coerente, consistente e conectada a outras que constituem sua realidade social. Aceitação social. Equivale à concepção da sociedade como uma categoria generalizada, a qual resulta da análise de caráter e qualidades de outras pessoas. Indivíduos que detêm aceitação social reconhecem a confi ança e a bondade como características das outras pessoas; têm visões favoráveis da natureza humana e sentem-se confortáveis com ela; sentem-se bem sobre sua pró- pria personalidade e aceitam tanto os aspectos bons quanto os ruins de sua vida. Contribuição social. É a avaliação do próprio valor social. Inclui crenças de que é um membro vital para a sociedade, com algo de valor para oferecer ao mundo. Representa os conceitos de autoe- fi cácia, responsabilidade e de responsabilidade social. Refl ete se, e em que medida, as pessoas sentem que alguma coisa que fazem no mundo é valorizada pela sociedade e contribuem para o bem comum. Atualização social. É a avaliação do potencial e da trajetória da sociedade. É a crença na evolução da sociedade e o senso de que a sociedade tem potencialidades que estão sendo realizadas por meio de instituições e cidadãos. Pessoas socialmente saudáveis são esperançosas sobre as con- dições e o futuro da sociedade, e reconhecem os potenciais desta. Acreditam também que elas e pessoas como elas são potencialmente promotoras de crescimento social. Figura 21.12 Cinco dimensões integrantes do modelo de bem-estar social (BESo) segundo Keyes, Hysom e Lupo, 2000. Fonte: As autoras. 632632 Borges & Mourão (orgs.) Um estudo que realizamos (Siqueira; Martins, 2011) permitiu a construção e va- lidação do Inventário de Bem-estar Social (IBES) para o contexto brasileiro consoante o modelo de Keyes, Hysom e Lupo (2000) expresso na Figura 21.12. A versão fi nal do IBES, resultante desse estudo, contém 28 itens com precisão de 0,87 distribuída em quatro fatores concisos e exatos que permi- tem avaliar a importância que a pessoa atri- bui a si mesma na sociedade (contribuição social, oito itens de 0,83); a sua concep- ção acerca das pessoas (aceitação social, sete itens, de 0,87); a manutenção de crenças positivas acerca da trajetória da socieda- de rumo ao futuro (atualização social, seis itens, de 0,76) e a avaliação positiva de suas relações com as pessoas na sociedade (integração social, sete itens, de 0,78). Uma versão reduzida com 12 itens do IBES e de 0,74 mantém correlação signifi cativa de 0,95 com a versão completa de 28 itens. Um indivíduo trabalhador, ao res- ponder ao IBES, pode revelar seu bem-estar social e permitir ao psicólogo avaliar se ele apresenta um nível ótimo desse indicador de saúde positiva cultivado em seu ambien- te social fora da organização (Fig. 21.13). Bem-estar no trabalho Diante das ideias que apresentamos, torna- -se evidente que um dos conceitos que pode representar saúde positiva no contexto or- ganizacional é o de BET. Em 2008, Siqueira e Padovam apresentaram uma proposta te- órica para BET, sugerindo que o construto seria composto por três vínculos afetivos, sendo dois deles dirigidos ao trabalho (sa- tisfação no trabalho e ao envolvimento com o trabalho) e um à organização emprega- dora (comprometimento organizacional afetivo) (Fig. 21.14). Figur a 21.13 Descrição sumária do perfi l de um trabalhador que apresenta altos níveis de bem-estar social men- surado pelo IBES. Fonte: Siqueira e Martins (2011). INTEGRAÇÃO SOCIAL Acreditar fi rmemente que mantém forte conexão com as pessoas na sociedade. ATUALIZAÇÃO SOCIAL Manter crenças positivas sobre a trajetória da sociedade rumo ao futuro. ACEITAÇÃO SOCIAL Manter dentro de si visões favoráveis acerca das pessoas em geral e da sociedade. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL A importância que o indivíduo reconhece em si mesmo para a sociedade. BEM-ESTAR SOCIAL O trabalho e as organizações 633633 As hipóteses que sustentam o mode- lo de BET alinham-se aos pressupostos de Fredrickson (1998, 2000, 2001) acerca do papel exercido por emoções positivas na promoção da saúde e do bem-estar. Nessa senda de entendimento, as autoras do mo- delo de BET pressupõem que, sob adequa- das condições de trabalho, quando o indi- víduo sente-se bem no trabalho, revelando altos índices de satisfação, de envolvimento e de comprometimento afetivo, ele estaria predisposto a: Ter seus mecanismos internos ativados para organizar seus pensamentos e apli- cá-los na escolha de um curso de ações adequado ao trabalho. Usar recursos pessoais de natureza física, psicológica e social para enfrentar de forma saudável os desafi os apresentados pelo ambiente de trabalho. Manter mais aguçados os estados psi- cológicos positivos e a não apresentar problemas como depressão, ansiedade e estresse. Manter, fortalecer e atualizar as potencia- lidades com as quais executa seu trabalho e produz os resultados desejados pela organização. A estrutura tridimensional proposta por Siqueira e Padovam (2008) para BET reúne três conceitos clássicos e reconhe- cidos na literatura, todos com conotações de afetividade positiva, na medida em que abarca sensações agradáveis. A satisfação no trabalho, primeira di- mensão de BET, é um vínculo afetivo posi- tivo que se estrutura a partir de três gran- des categorias de fontes de satisfação: do relacionamento com as pessoas, das retri- buições organizacionais e das tarefas reali- zadas. Essas três fontes, por sua vez, opera- cionalizam-se quando o empregado se sen- te satisfeito com os relacionamentos entre ele e as pessoas com as quais mais convive no ambiente de trabalho (colegas e che- fi as); as satisfações advindas de retribuições oferecidas pela organização empregadora por meio de políticas de gestão de pessoas (salários e oportunidades de promoção); e, fi nalmente, as satisfações obtidas quando executa atividades que condizem ao cargo ocupado (tarefas). Portanto, o conceito de Figura 21.14 Modelo teórico de bem-estar no trabalho (BET). Fonte: Siqueira (2009, p. 250). COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL AFETIVO SATISFAÇÃO NO TRABALHO ENVOLVIMENTO COM O TRABALHO BEM-ESTAR NO TRABALHO 634634 Borges & Mourão (orgs.) satisfação contempla uma concepção mul- tidimensional que envolve avaliações po- sitivas do empregado sobre cinco compo- nentes específi cos do ambiente de trabalho: chefi as, colegas de trabalho, salários, pro- moções e tarefas (Siqueira, 2008). O envolvimentocom o trabalho, após mais de quatro décadas de sua concep- ção original proposta por Lodhal e Kejner (1965), é compreendido mais contempo- raneamente como um estado de fl uxo (Csikszentmihalyi, 1999), sobretudo quan- do as atividades de trabalho incluem de- safi os que exigem habilidades especiais do indivíduo para executá-las; as metas a se- rem alcançadas são percebidas como claras e ocorre feedback imediato, proporcionado pela própria atividade. Nessas condições, as tarefas de trabalho assemelham-se às atividades que produzem fl uxo, desenca- deando no indivíduo maior envolvimento e transformando as tarefas de trabalho em experiências positivas. Portanto, envolvi- mento com o trabalho constitui um estado de fl uxo no contexto organizacional de tra- balho, vivenciado quando o indivíduo ex- perimenta sensações agradáveis resultantes do elevado engajamento que mantém com as tarefas que realiza. O terceiro componente do conceito de BET é comprometimento organizacio- nal afetivo, defi nido como uma ligação afe- tuosa com uma organização. Esse vínculo inclui sentimentos positivos como entusias- mo, orgulho, contentamento, confi ança, apego e dedicação à empresa empregadora, entre outros (Siqueira, 1995, 2008). Com essa concepção, comprometimento afetivo traz para o conceito de BET uma visão de que as relações estabelecidas pelo indivíduo com a organização que o emprega estão as- sentadas em uma interação que lhe permite nutrir sentimentos positivos por ela. Caso essa situação não se confi rme, entende-se que podem ser experimentadas sensações negativas ou de desprazer por trabalhar para determinada organização. Nesse caso, são observados a ausência do compromis- so afetivo e o possível desencadeamento de sentimentos negativos no dia a dia do tra- balhador (Siqueira; Padovam, 2008). O modelo de três componentes para BET não se constitui em um arcabouço conceitual composto por emoções posi- tivas. Ele contém três vínculos positivos que são componentes psicológicos cogni- tivos e não emocionais. Tais vínculos, re- presentados por diversos sentimentos, são construídos cognitivamente (ou mental- mente) quando o indivíduo organiza seus pensamentos acerca de relações, experiên- cias e vivências no contexto organizacional de trabalho. Adota-se o sentido do termo “sentimento”, dado por Damásio (1996), como a representação mental de experiên- cias com conteúdo emocional, ou seja, aquelas que ocorreram com alguma inten- sidade de emoção. Embora o modelo de três compo- nentes para BET não esteja assentado em emoções positivas, pressupõe que os três vínculos positivos que o constituem (sa- tisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho e comprometimento organizacio- nal afetivo) possam ampliar o espectro do estado psicológico positivo e saudável do trabalhador. Já existem algumas evidências para essa hipótese providas pelo estudo de Siqueira, Padovam e Chiuzi (2007), que testaram o impacto dos três componentes de BES (satisfação geral com a vida, afetos positivos e afetos negativos) sobre as três dimensões de BET. Resultados das análises de regressão linear múltipla pelo método stepwise apontaram índices (R² parciais) mais elevados de explicações providas por afetos positivos (feliz, alegre, animado, bem, satisfeito e contente) sobre satisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho e comprometimento organizacional afetivo O trabalho e as organizações 635635 do que por afetos negativos (irritado, des- motivado, angustiado, chateado, nervoso, triste e desanimado) e satisfações com a vida. Portanto, parece existir uma interfa- ce das emoções positivas vivenciadas no dia a dia e os três componentes de BET. Tais achados parecem indicar a possibilidade de que um estado psicológico saudável de trabalhadores pode ter como componen- tes não somente as emoções positivas, mas também os vínculos com o trabalho e a or- ganização. No Brasil, os primeiros estudos acerca do modelo tridimensional de BET começa- ram a ser divulgados em 2005, tendo como principais centros de investigação o Mes- trado em Psicologia da Saúde da Universi- dade Metodista de São Paulo e o Mestrado em Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia. Nos dois centros, o modelo de BET já foi objeto de investigação por mais de duas dezenas de estudos, incluindo-se dissertações de mestrado e monografi as nos cursos de graduação. Professores desses dois centros de investigação criaram o Grupo de Pesquisa Interinstitucional sobre Bem-estar, Suporte Social e Trabalho (GIBEST), regis- trado no Conselho Nacional de Pesquisa e Tecnologia (CNPq), visando a dar mais des- taque à produção do grupo. Outra perspectiva de compreensão de saúde positiva e de BET em organizações, com forte sustentação dos princípios da Psicologia Positiva, pode ser reconhecida no campo do comportamento organizacio- nal como é abordado a seguir. COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL E SAÚDE EM ORGANIZAÇÕES Nos domínios da Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT), já existem argumen- tos a favor do ambiente social como fator promotor da saúde no trabalho em orga- nizações. Ilgen (1990) reconhece que os modelos sobre saúde no trabalho começa- ram por concentrar atenção em segurança, seguiram-se os que focavam a manutenção da saúde e a prevenção da doença e, pos- teriormente, evoluíram para outros em que se enfatizavam a promoção da saúde ocupacional, destacando os modelos que incluem variáveis do ambiente. Estas são reconhecidas como integrantes dos progra- mas de proteção à saúde; as variáveis que dizem respeito ao próprio indivíduo (satis- fação no trabalho) ou a seu ambiente social (percepção de suporte organizacional e de suporte social), como pertencentes à pers- pectiva da promoção da saúde ocupacional. Embora o autor relate evidências empíricas para o papel de suporte social como um fator com capacidade de minimizar crises pessoais frente ao desemprego, reduzir o estresse no trabalho e proteger de modo geral a saúde física dos trabalhadores, não são feitas referências aos estudos que de- monstraram relações entre suporte social e indicadores positivos de saúde dos traba- lhadores. Provavelmente, a ausência desses resultados na literatura advém da inexistên- cia de uma proposta conceitual que articule os possíveis indicadores de saúde positiva no contexto organizacional de trabalho. Ta nto nos domínios da POT quanto em seu campo de estudos correlatos deno- minado comportamento organizacional – área multidisciplinar de conhecimento acerca do comportamento de indivíduos, equipes/grupos e organizações – incluem, desde os primórdios de sua história, di- mensões psicológicas positivas de nível individual, tais como satisfação, compro- metimento, percepções de justiça, percep- ções de suporte, confi ança na organização e comportamentos de cidadania, entre ou- tras. Entretanto, elas raramente são articu- ladas para compor a compreensão da saúde positiva no contexto organizacional de tra- 636636 Borges & Mourão (orgs.) balho. Uma variável de caráter positivo que aparece com mais destaque como indicador de saúde no trabalho é satisfação (Martinez; Paraguay; Latorre, 2004). Existem também tentativas de trans- por-se para o campo do comportamento organizacional suposições que sustentam a Psicologia Positiva. Keyes, Hysom e Lupo (2000) cunharam a expressão “organização positiva”, para referirem-se às organizações como entidades sociais em que a liderança legitimada promove bem-estar dos traba- lhadores e resulta em ganhos para os acio- nistas. Luthans (2002a) elaborou uma pro- posta renovadora para ações de gestão de pessoas com base no conceito de comporta- mento organizacional positivo. Finalmente, retornando às origens da Psicologia Positi- va e com derivação direta das proposições acerca do comportamento organizacional positivo, surge a noção de capital psicoló- gico (PsyCap) (Avey et al., 2010), conforme ilustrado na Figura 21.15.Organizações positivas Em 2000, Keyes, Hysom e Lupo argumenta- ram que, para alcançar o sucesso desejado, as organizações devem cultivar orientações positivas nos negócios. Para alçar tal inten- to, enfatizam os autores, é necessário que elas caracterizem-se como organizações positivas defi nidas como aquelas que abdi- cam da preocupação exclusiva com lucros em favor da preocupação com o bem-estar dos empregados e da adoção de políticas de liderança legitimada. Figura 21.15 Conceitos do comportamento organizacional com conotação positiva. Fonte: As autoras. ORGANIZAÇÕES POSITIVAS COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL POSITIVO CAPITAL PSICOLÓGICO Aquelas que abdicam da preocupação exclusiva com lucros em favor da pro- moção do bem-estar dos empregados e da adoção de políticas de liderança legitimada (Keyes; Hysom; Lupo, 2000). O estudo e a aplicação dos recursos humanos positivamente orientados e das capacidades psicológicas que podem ser medidas, desenvolvidas e administra- das para aumentar o desempenho no trabalho (Luthans, 2003). Ligação interativa de quatro dimensões psicológicas positivas (efi cácia, otimis- mo, esperança e resiliência) dirigidas para a consecução bem-sucedida de metas (Luthans; Luthans; Luthans, 2004). O trabalho e as organizações 637637 Os três autores citados anteriormen- te acrescentam que, em organizações po- sitivas, há efi ciência e garantia de lucros advindos da liderança legitimada, que, ao mesmo tempo, exerce autoridade de forma a resultar na promoção do bem-estar de seus colaboradores. Como resultados para a organização, ainda é possível obter leal- dade e satisfação dos clientes e altos níveis de permanência e de produtividade dos co- laboradores. Para avaliar os níveis de bem- -estar dos colaboradores, os autores sugerem a medição dos níveis de bem-estar psicológi- co, conceito multidimensional proposto por Ryff (1989), integrado por seis dimensões relativas ao pleno funcionamento individual e de bem-estar social que, segundo a concep- ção de Keyes (1998), aborda o funcionamen- to social e a integração dos indivíduos na sociedade por meio de cinco esferas. Segun- d o essa proposição, bem-estar psicológico e bem-estar social podem ser reconhecidos como dois indicadores de saúde positiva. Em 2012, Chiuzi, Siqueira e Martins investigaram o impacto de três caracterís- ticas por eles selecionadas para representar uma organização positiva – organização percebida pelo empregado como justa, confi ável e oferecedora de suporte – sobre o bem-estar na vida pessoal (BES composto por satisfação geral com a vida, afetos posi- tivos e afetos negativos) e no ambiente or- ganizacional (BET composto por satisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho e comprometimento organizacional afeti- vo) de trabalhadores brasileiros. Os resul- tados apontaram correlações signifi cativas entre as três dimensões de bem-estar na vida pessoal e as três dimensões de BET. Modelos de regressão informaram a capaci- dade de impactos das três características da organização positiva sobre o bem-estar na vida pessoal e no ambiente organizacional. Segundo os autores, organizações percebi- das como justas, confi áveis e oferecedoras de suporte a seus colaboradores podem ser consideradas positivas porque conseguem promover o BES e o BET. Como pode ser constatado pelas pro- postas teóricas acerca de organizações po- sitivas e por resultados de estudos sobre o tema, parece que a confi guração do am- biente social como um local em que se res- pira justiça, confi ança e suporte apresenta grandes possibilidades de promover o bem- -estar dos trabalhadores, seja no âmbito de vida pessoal (BES), seja no contexto organi- zacional (BET). Nas próximas duas seções, ilustramos duas concepções interdependentes que po- dem auxiliar os profi ssionais de Psicologia a compreender melhor os fatores individuais que realmente podem auxiliar o indivíduo trabalhador a fl orescer como pessoa e tam- bém a contribuir com os resultados organi- zacionais. Comportamento organizacional positivo Outra perspectiva surgida no campo de es- tudos organizacionais foi apresentada por Luthans em 2003 e denominada compor- tamento organizacional positivo (COP), o qual foi defi nido por ele como apresentado na Figura 21.16. Luthans (2002a) assevera que as ideias centrais de COP surgiram sob for- te infl uên cia do movimento da Psicolo- gia Positiva e como uma reação à ampla aceitação pelas organizações de textos sem aporte teórico e sem sustentação em- pírica que proliferaram no fi nal do sécu- lo XX. Segundo seu idea lizador (Luthans, 2002a, 2002b), o campo do COP situa-se no nível de microanálise, foca o estudo e a aplicação positivamente orientados dos recursos humanos, bem como das capa- cidades psicológicas que podem ser medi- 638638 Borges & Mourão (orgs.) das, desenvolvidas e gerenciadas de modo efetivo para o aumento do desempenho no trabalho. Assim, as capacidades em COP são os estados abertos à aprendizagem, ao desenvolvimento, à mudança e à gestão no ambiente de trabalho. Além da necessidade de atender a esses critérios, os estados que compõem o COP devem, obrigatoriamen- te, estar associados ao aumento do desem- penho no trabalho. Os seis conceitos apresentados por Luthans e colaboradores (Luthans, 2002a, 2002b; Luthans; Youssef, 2007) para inte- grar a lista das referidas capacidades psi- cológicas associadas ao aumento do de- sempenho no trabalho são: autoefi cácia, esperança, otimismo, BES (ou felicidade), inteligência emocional e resiliência (Fig. 21.17). Wright (2003) retoma a chamada feita por Luthans (2003) e propõe que os estudos em COP podem basear-se nas proposições de Fredrickson (1998) sobre emoções posi- tivas. Essas incluiriam interesse, contenta- mento e felicidade que ajudariam o indiví- duo a fortalecer recursos pessoais, desde os Figura 21.16 Conceito de comportamento organizacional positivo segundo Luthans (2003, p. 179). Fonte: As autoras. “[...] o estudo e a aplicação dos recursos humanos positivamente orientados e das capacidades psicológicas que podem ser medidas, desenvolvidas e administradas para aumentar o desempenho no ambiente de trabalho.” (Luthans, 2003, p. 179). COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL POSITIVO Figura 21.17 Modelo de gestão sobre estados psicológicos integrantes do COP para promover desempenho no trabalho. Fonte: As autoras. AÇÕES GER ENCIAIS DEFINIR MEDIR DESENVOLVER GERENCIAR Efi cácia Esperança Otimismo Resiliência Inteligência emocional Bem-estar subjetivo DESEMPENHO NO TRABALHO ESTADOS PSICOLÓGICOS O trabalho e as organizações 639639 de natureza física, psicológica, intelectual e social. A capacidade de vivenciar emoções positivas seria o eixo central que sustenta- ria as habilidades individuais de fl orescer, prosperar mentalmente e crescer psicologi- camente, sendo apontada por Fredrickson (2001) como força humana central. As proposições que se sustentam em estudos recentes de COP dão conta da im- portância que as noções sobre vida saudável têm para o ambiente de trabalho em orga- nizações. Ademais, salientam como indica- dores de saúde positiva nesse contexto con- ceitos como os de bem-estar, suporte so- cial, suporte organizacional e suporte social no trabalho. Para ampliar a contribuição acerca da promoção de saúde, bem-estar e produtividade dos indivíduos em organiza- ções, surgiu um conceito que buscou reunir quatro categorias de forças pessoais positi- vas que ajudariam o trabalhador a alcançar com sucesso suas metas de trabalho: o capi- tal psicológico. Capital psicológico São precedentes diretos do PsyCap os pres- supostos acerca do COP. Luthans e colabo- radores (Luthans; Luthans; Luthans, 2004; Luthans; Youssef, 2004; Luthans, Youssef; Avolio, 2007) reuniram quatro dos seis construtos positivos integrantes do COP para conceber a composição do PsyCap. O Quadro 21.1 apresenta as defi nições es- colhidas por Luthans e colaboradorespara descrever os recursos psicológicos positivos que integram o PsyCap. Ao reunir os quatro recursos psico- lógicos positivos para integrar o PsyCap, Luthans e colaboradores (Avey et al., 2010; Luthans; Luthans; Luthans, 2004; Luthans; Youssef, 2004; Luthans; Youssef; Avolio, 2007) reconheceram que compuseram um construto de alta ordem que, segundo eles, sintetizaria um estado positivo, o qual é de- fi nido na Figura 21.18. O grupo de pesquisadores liderado por Luthans (Luthans; Youssef; Avolio, 2007) desenvolveu e validou uma medida para PsyCap denominada Psychological Ca- pital Questionnaire (PCQ-24) com seis itens para cada uma das subescalas, com índices de precisão satisfatórios para os 24 itens da PCQ-24 ( = 0,93), para as subescalas de esperança ( = 0,87), efi cácia ( = 0,87), oti- mismo ( = 0,78) e resiliência ( = 0,72). No Brasil, Siqueira e colaboradores (2011), QUADRO 21.1 Defi nições dos recursos que compõem o capital psicológico Recursos Defi nição Efi cácia “[...] são convicções acerca de habilidades para mobilizar recursos cognitivos ou cursos de ação necessários para executar com sucesso uma tarefa específi ca em determinado contexto.” (Stajkovic; Luthans, 1998, p. 66). Esperança “[...] estado motivacional positivo fundamentado em um senso de sucesso (agency) e em um plano para atingir metas (pathways).” (Snyder; Irving; Andersong, 1991, p. 287). Otimismo “[...] otimistas são pessoas que esperam ocorrer coisas boas com elas; pessimistas são pessoas que esperam ocorrer coisas ruins com elas.” (Carver; Sheier, 2002, p. 231.) Resiliência “[...] é reconhecida como uma habilidade psicológica positiva quando alguém, diante de uma adversidade, reage e consegue vencer um baque ou malogro.” (Bock; Kremen, 1996; Masten, 2001). 640640 Borges & Mourão (orgs.) após obterem autorização dos autores, traduziram e validaram a versão reduzida com 12 itens, sendo três para cada uma das quatro subescalas referidas e que se cons- titui em uma medida unifatorial – Escala de Capital Psicológico Reduzida (ECPR- 12) – que resultou de um estudo com uma amostra de 157 trabalhadores, cujo índice de precisão ( de Cronbach) foi de 0,82. O PsyCap torna-se mais um compo- nente positivo de vida saudável em orga- nizações, podendo ser considerado um as- pecto subjetivo de saúde positiva conforme proposição de Seligman, visto que o con- ceito apresenta defi nição e medida já vali- dadas no âmbito internacional e nacional. Consideramos que esse conceito pode ser uma contribuição importante para se avan- çar na compreensão de fatores psicossociais que funcionariam como recursos pessoais e podem ser utilizados pelo indivíduo para alcançar níveis adequados de saúde e bem- -estar no trabalho e, ao mesmo tempo, se- rem aplicados na realização de tarefas que concorrem para auxiliar as organizações a alcançar seus objetivos. CONSIDERAÇÕES FINAIS O obj etivo deste capítulo foi oferecer uma visão sobre os conceitos de saúde positiva, bem-estar e contribuições que o campo do comportamento organizacional vem for- necendo, possibilitando aos psicólogos e a outros profi ssionais de áreas relacionadas orientarem suas ações para promover saúde positiva e bem-estar dos trabalhadores, ao lado do alcance de metas organizacionais. Para tanto, cabe ao psicólogo a responsabi- lidade de demonstrar à organização os be- nefícios decorrentes da adoção de políticas de gestão justas, confi áveis e de suporte que respeitem e desenvolvam as características biológicas, psicológicas e funcionais dos trabalhadores apontadas anteriormente neste texto. É ainda da alçada do psicólo- go indicar a necessidade de monitorar os níveis de bem-estar do trabalhador (BES, BEP, BESo e BET), de modo que a organi- zação supra os suportes de sua competência quando os outros forem percebidos como defi citários. Ainda é recomendável e adequada a identifi cação de estados psicológicos po- sitivos e passíveis de desenvolvimento que podem capacitar os trabalhadores a lida- rem melhor com as adversidades no con- texto de trabalho, se elas não puderem ser evitadas. À organização, cabe prover con- dições para seu desenvolvimento. Essas são ações necessárias à promoção de for- ças psicológicas dos trabalhadores que os auxiliam a manterem-se fortes e saudáveis “(1) [...] tendo confi ança (autoefi cácia) de que investirá o esforço necessário para ser bem-sucedido em tarefas desafi antes; (2) fazendo uma atribuição posi- tiva (otimismo) acerca do que acontece no presente e do que acontecerá no fu- turo; (3) persistindo na busca de metas e, quando necessário, redimensionando metas (esperança) com vista a obter sucesso; (4) encontrando forças para resistir quando barrado por problemas ou adversidades e para superá-los (resiliência), persistindo na busca do sucesso.” (Luthans; Youssef; Avolio, 2007, p. 3). CAPITAL PSICOLÓGICO Figura 21.18 Conceito de capital psicológico segundo Luthans, Youssef e Avolio (2007, p. 3). Fonte: As autoras. O trabalho e as organizações 641641 e a sustentarem estados psicológicos posi- tivos, o que resulta em maior bem-estar, mais saúde positiva e melhor desempenho no trabalho, equilibrando as necessidades dos trabalhadores e a competitividade das organizações. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO 1. Diferencie BES, BEP, BET e BESo e discuta a importância desses conceitos para a composição de uma vida saudável para o trabalhador. 2. Como a organização pode colaborar para a promoção de bem-estar aos trabalhadores no ambiente de trabalho e fora dele? 3. Por que a preocupação com a saúde positiva e o bem-estar dos trabalhadores deve interessar às organi- zações? 4. Quais ações gerenciais podem promover aspectos psicológicos positivos que resultam em desempenho desejado pelas organizações? REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, A. S.; TRÓCCOLI, B. T. Desen- volvimento de uma escala de bem-estar subjetivo. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 20, p. 153-164, 2004. ALLPORT, G. W. Pattern and growth in personal- ity. 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