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06/08/2013 1 Produção de Cachaça DEFINIÇÃO Cachaça ou caninha é a bebida obtida através do mosto fermentado e destilado da cana-de-açúcar. Para que o produto receba a denominação de cachaça, deve obedecer os parâmetros estabelecidos pelo Decreto n° 2314, de 4 de setembro de 1997. HISTÓRICO • Descoberta pelos escravos dos engenhos de açúcar em meados do século XVI; • Considerada uma bebida de baixo status, pois era consumida por escravos e brancos pobres; • Engenhos de cachaça foram se espalhando, tornando-se a bebida alcoólica mais consumida no Brasil Colônia; • Corte Portuguesa proibiu sua produção, comercialização e consumo, pois seu consumo pelos escravos ameaçava a segurança da Colônia; • O principal motivo, segundo alguns historiadores, é que a cachaça produzida no Brasil começou a ganhar espaço junto à classe média, levando à diminuição do consumo da bagaceira, importada de Portugal; • Em meados do século XVIII a Corte Portuguesa decidiu taxar a venda da cachaça, a sonegação era muito elevada e a aguardente tornou-se um símbolo de resistência contra a dominação portuguesa; • Quando o produto nacional começou a ganhar força entre todas as classes sociais, alguns setores da elite do século XIX e início do XX iniciaram um movimento de preconceito contra a cachaça, uma vez que eles buscavam uma identidade mais próxima da européia; • Somente durante a Semana de Arte de 1922, quando se buscou as raízes brasileiras, é que a cachaça voltou a ser considerada um símbolo da cultura nacional e contra a adoção da cultura européia. E, desde então, é considerada a mais brasileira das bebidas e famosa em todo o mundo. REVOLTA DA CACHAÇA •1660, os produtores fluminenses se rebelaram contra os impostos e tomaram o poder no Rio de Janeiro por cinco meses, eliminando taxas e liberando o comércio da bebida; • O movimento, que ficou conhecido como a Revolta da Cachaça, abriu caminho para a sua legalização, que ocorreu em 13 de setembro de 1661. 06/08/2013 2 DIA NACIONAL DA CACHAÇA • A data é comemorada em 13 de setembro, em alusão à Revolta da Cachaça, que aconteceu no ano de 1660. O dia foi instituído pelo Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), em 05 de junho de 2009, durante a Expocachaça, feira realizada em Belo Horizonte; PODUÇÃO BRASILEIRA • 2012 – IBRAC: 1,4 bilhão de litros da bebida – 6,29 litros/brasileiro 40 mil produtores - 98% pequeno porte 4 mil marcas registradas (86% consumo de destilados) 3º destilado mais consumido no mundo Figura 1). Características • Cachaça Branca • Cachaça Envelhecida Teor alcoólico de 38 a 54% (v/v) a 20°C; Adição açúcar de no máximo 6g/L Por um período não inferior a um ano Pode ter adição de caramelo para correção da cor; Adição de açúcar > 6g/L – “adoçada”; Qualidade • Ingredientes Básicos Um dos ingredientes básicos de mais importância é a água empregada no processo, esta deve ter as seguintes características: Elemento Quantidade (mg/L) Teor máximo de ferro 0,3 Teor máximo de manganês 0,1 Dureza Total 100 Oxigênio 2 • Ingredientes opcionais O mais importante nesse quesito é o açúcar, que pode ser substituído total ou parcialmente por açúcar invertido na quantidade de no máximo (6g/L); Fluxograma de Fabricação 06/08/2013 3 MOAGEM A matéria-prima deve estar limpa, com menor teor de impurezas vegetais e minerais e ser moída com a maior brevidade possível após o corte/carregamento, num prazo de 24 horas no máximo. 24 horas (máx) A finalidade desta operação é destruir a resistência das partes duras dos colmos de cana, aumentando a capacidade de trabalho das moendas e, conseqüentemente, a extração; O preparo consiste na desintegração da cana, com o objetivo de romper o maior número de feixes fibrovasculares, onde estão as células de armazenamento, facilitando o trabalho das moendas. A cana é submetida a ação das moendas com o objetivo de se separar a fração líquida conhecida como caldo ou garapa do resíduo fibroso, que é o bagaço; Para se conseguir uma maior recuperação de caldo, é comum a passagem do mesmo bagaço várias vezes pela moenda. Entretanto, após certo limite, a extração do caldo a seco torna-se nula. Capacidade ideal de extração: 1.000L de caldo por tonelada de cana. PREPARO DA CANA Embebição; Coamento; Decantação do caldo. Embebição: • Etapa de lavagem feita com a cana que já passou várias vezes pela moenda, tendo como objetivo uma maior quantidade de caldo; • Pode ser dupla ou tripla, conforme o número de vezes da lavagem; • Pode ser composta quando o líquido da lavagem é uma mistura (água+caldo) ou simples quando só a água é utilizada; 06/08/2013 4 • Coamento e decantação do caldo: etapa responsável pela retirada das impurezas; • A separação pode ser realizada através de peneiras fixas, rotativas ou vibratórias. Em alguns estabelecimentos há também a utilização de coadores fixos, normalmente de náilon. • Após a passagem do caldo pelas peneiras, o mesmo vai para um decantador. Coamento e Decantação Preparo do Mosto • Mosto: é o caldo açucarado diluído que está apto a sofrer fermentação. • Baixa concentração inicial de MO: Asseio na fabricação: Equipamentos e MP • Adequada concentração de açucar fermentescíveis; • Mostos muito diluídos X mostos concentrados 06/08/2013 5 Assepsia A limpeza dos equipamentos utilizados no preparo dos colmos, extração do caldo, embebição do bagaço, coamento do caldo e condução do caldo extraído deve ser regular e bastante rigorosa, empregando-se água de boa qualidade, escovas e vapor, se possível; Sem esse manejo adequado dos equipamentos, pode-se observar a formação de focos de contaminações, indesejáveis à fermentação, que se desenvolvem por falta de assepsia, resultando em perda de açúcar e de rendimento do processo. Correção do Mosto • Decantação: Separação de impurezas • Diluição: Correção do teor de açucar (12 e 18°Brix) • Temperatura: Aquecimento ou refrigeração • Acidez: 4,5 a 5,0 • Adição de sais minerais: Difosfato de Amônio, Uréia, Sulfato de Amônio, Superfosfato Triplo) • Desinfetantes: Fluoreto de Na, Sulfato de Cu, Hexaclorofeno • Antibióticos: Cloranfenicol, penicilina • Vitaminas: B1, B6, ác.pantotênico Agentes da fermentação • Pé-de-fermentação ou levedo alcoólico, o fermento é a suspensão de células de leveduras, suficientemente concentradas (2-5 cel/mL), de modo a garantir a fermentação de um volume de mosto economicamente rentável; • 10 a 20g em massa por L de mosto • Alta velocidade de fermentação; • Tolerância ao álcool produzido; • Resistência a acidez e temperatura elevada. • Naturais – Leveduras que se encontram tanto nos colmos como no mosto. • Mistos – 10-20g de prensados para cada litro de mosto de fermento natural. • Secos – Dispensam refrigeração a sua concentração é 3 vezes maior que o fermento prensado. Fermentos naturais, prensados, mistos e secos • Prensados – Saccharomyces cerevisiae conservado em geladeira por até 1 semana. • Utiliza-se 10-20g de fermento para cada litro de mosto. • Deixar fermentar normalmente até que o °Brix seja igual a zero e assim o mosto estará pronto para ser destilado. • Lavagem do fermento com água potável (sem cloro) , ácido e ar, visa a desintoxicação do etanol, ácidos entre outros compostos formados. • Avalia-se há 90% de células vivas no mosto para inicial novo ciclo. Fermentos tratamento 06/08/2013 6 • Preliminar – Início: Contato lêvedo+ mosto – Propagação do microrganismo – Pequena elevação de temperatura – Pequeno desprendimento de CO2 – 4h • Principal – Intensa multiplicação microbiana (leveduras) – Conversão de açúcar em etanol – Intensa liberação de CO2 – Processo exotérmico – 12h Fases da Fermentação - Elevação do teor de ácool - Elevação do pH - Presença de espuma (Levedura e mosto) - Caldo-de-cana não clarificado é espessa e volumosa - Melaço: as espumas se desfazem facilmente com uso de antiespumantes – óleo vegetal + ácido mineral • Complementar – Redução no desprendimento de CO2 – Redução do teor de açúcar – Problemas com contaminação – 4h – Concentração de açúcar prox. de zero – Etanol 8% Controles do Processo Predominância de Leveduras Presença de Contaminantes (bactérias) Cheiro Agradável (frutas) Desagradável Vinagre (acética) Formação de espumas Leves Persistente Bolhas Pequenas Grandes Ruptura das bolhas Fácil Não se rompem Tempo de fermentação 12-24hs Maior • Concentração de açúcares – Avaliada através da medida do Brix do mosto, – Durante toda a fermentação, em intervalos regulares, do inicio ao final do processo, – Os valores obtidos devem indicar a queda continua dos mesmos, – A paralisação precoce ou queda lenta do Brix pode indicar que esta acontecendo algum desequilíbrio, favorecendo a ocorrência das contaminações. • Temperatura – Ideal: 26-32oC, – Prática: até 35-36°C • Exige refrigeração das dornas, – Quando a temperatura estiver muito baixa • Recomenda-se o aquecimento do mosto. • Tempo de fermentação – Regular: 12 a 24 horas, – Aumento exagerado: • Pode indicar irregularidades do processo. 06/08/2013 7 • Cheiro • Aspectos de espuma • Açúcares residuais – Final da fermentação: esperam-se valores inferiores a 0,5%. • Acidez e pH – Caldo de cana em estágio adequado de maturação: 5,0-5,5. – Leveduras são acidófilos • pH ótimo para a fermentação: 4,5, • multiplicação do fermento: 5,0 e 6,0. – Valor de acidez: 2,5 – 3,0 g H2SO4/L • Valores inferiores – Favorecem o estabelecimento das infecções, • Valores muito elevados – Promovem a debilidade e morte do fermento. Destilação • Na produção artesanal de cachaça a destilação é realizada em alambiques de cobre; já na produção industrial a destilação é feita em colunas de destilação. Alambique simples: pequenas e médias destilarias. Alambique de três corpos: bastante utilizado nas destiladoras Destilação sistemática: destilarias de grande e média capacidade Colunas de destilação FRAÇÕES DO DESTILADO • CABEÇA (15%) • Mais rico em substâncias voláteis que o etanol • Responsáveis pela “ressaca” • CORAÇÃO (60%) • Graduação de 45 – 50% • CAUDA (30%) • Presença na cachaça significa produto de qualidade inferior • Presença de álcoois superiores, aldeídos e outros voláteis 06/08/2013 8 Gasosas: CO2 Sólidas: Leveduras, bactérias, SM.... Líquidas: Água e etanol (7 a 12%) Ácool amílico; propílíco; Aldeídos; ésteres, glicerina.. FERMENTAÇÃO VINHOS DESTILAÇÃO VINHAÇA FLEGMA CAUDA (3) (+impuros – alcoóis superiores- butílico, propílico) Retificação FERMENTAÇÃO VINHOS DESTILAÇÃO CORAÇÃO (2) (> etanol,o brilho desejado à cachaça (filtro polidor) Brilho • A cor varia de acordo com a madeira em que foi envelhecida ou armazenada; • Pode provocar erro de avaliação, com uso de caramelo ou extratos de madeira; • Pode ser mais ou menos intensa, de acordo com o tempo de envelhecimento, a espécie da madeira, condições do tonel e do ambiente onde se desenvolveu o processo. Cor 06/08/2013 11 • Deve ser agradável, podendo ser levemente frutado ou amadeirado, sem agressão do olfato; • Compostos químicos, sobretudo ésteres, formados durante a fermentação e o envelhecimento são responsáveis pelos aromas da cachaça; • O aroma não deve provocar ardor na boca e nariz, ou lágrimas nos olhos; • Odor penetrante e enjoativo = furfural Aroma Gosto • Deve ter sabor agradável, de boa intensidade e compatível com o tipo da cachaça e madeira de armazenamento; • Em uma cachaça envelhecida pode encontrar sabor amargo ou doce, conforme a madeira ou vasilhame de armazenamento; • Estes sabores não podem ser encontrados em uma cachaça nova. Aldeídos – 300mg/100mL • O aldeído acético é o principal aldeído encontrado na cachaça; • São voláteis e produzem odor característico quando em altas concentrações; • Não é comum teor acima do limite, sendo bem controlado pela separação correta da cabeça. Estéres – 200mg/100mL • São formados em reações de esterificação entre alcoóis e ácidos carboxílicos durante o processo oxidativo; • Promovem o buquê; • O principal éster encontrado na cachaça é o acetato de etila que incorpora um aroma agradável de frutas; • Em grandes quantidades produz na cachaça um sabor indesejável e enjoativo. Alcóois superiores – 360mg/100mL • Álcool N-Propílico, Iso-Butílico e Iso-Amílico; • São provenientes, em grande parte, das transformações dos aminoácidos durante o processo de fermentação; • São responsáveis diretos pelo aroma da cachaça, juntamente com ésteres; • Colaboram na formação do buquê; • O excesso deprecia o valor comercial da cachaça; • Corte adequado da água-fraca minimiza. Furfuram– 5mg/100mL • Os teores estão bem abaixo do limite máximo; • Cachaça com cana queimada apresenta teores entre 0,6 à 1,5mg/100mL de álcool anidro; • Sem queima da cana, entre 0,3 à 0,8mg/100mL de álcool anidro. 06/08/2013 12 Metanol – 200mg/100mL • É originado da degradação da pectina, um polissacarídeo presente na cana-de-açúca; • Não é encontrado em teores acima de 10mg, em média encontra-se até 6mg/100mL; • Evitar a fermentação com presença de sucos e polpas de frutas