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Mitos e suas regras JOSÉ J. QUEIROZ Introdução Mito é tema relevante no estudo das re- ficção, dando início a uma diuturna obra de pois sua presença acompanha os hu- manos desde os primórdios até hoje como "desmitificação". Nosso estudo procede na uma das mais profundas expressões da com- contramão dessa corrente e acolhe uma visão preensão de si e do Uma ideia nega- positiva do mito. No intuito de produzir um tiva de mito já vem desde Xenófanes (século trabalho abrangente à guisa de VI a.C.), o primeiro a criticar e rejeitar as apresentaremos, na primeira parte, uma ten- expressões mitológicas de Homero e Hesío- tativa de definição do mito; na segunda, uma do, embora não use o termo. Na aurora do breve história do mito; na terceira, algumas pensamento racional e das explicações filo- posições modernas que recuperam o valor do sóficas acerca do mundo e do ser humano, mito no século XX ante as posições negativas com Sócrates, Platão e Aristóteles, despon- do século XIX; na quarta, as regras princi- ta a visão de mito como fábula, invenção, pais que constituem a dinâmica dos mitos. O que é mito Um dos temas mais complexos abordados "lembrar". Ou a uma matriz do antigo na várias áreas do conhecimento, inclusive na idioma egípcio, mdwj, que significa "falar", Ciência da o mito está cercado de "conversar". A maioria dos autores recorre incertezas já partir do sentido etimológico da à raiz grega mythos, que se tornou comum palavra. Como indica Wim van Binsbergen, a partir de Homero, e expressa o sentido de cientista que se dedica a pesquisas empíricas "fala", "palavra falada", "história", "fábula", sobre a cultura africana, em sua conferência que mais se aproxima do sentido em geral Rupture and Fusion in the Approach to Myth, atribuído a publicada em 2007, há autores que atribuem O conceito. Ao buscar uma definição pro- a palavra mito a uma raiz indo-europeia visória, van Binsbergen diz que, embora te- mud, que significa "pensar", "imaginar", nha lido há mais de trinta anos a definição 499QUEIROZ proposta por Mircea Eliade em Mito e reali- suas obras. Em suma, os mitos dade (1963), ainda hoje se impressiona pela as diversas, e algumas vezes profundidade das suas intuições, embora rupções do sagrado (ou do "sobrenatural") no Mundo. É essa irrupção do sagrado se posicione criticamente sobre alguns dos realmente o Mundo e que seus aspectos. Por isso, vamos recorrer a ela, verte no que é hoje. E mais: é em razão cientes de que o próprio Eliade já advertia, intervenções dos Entes antes de formulá-la, da dificuldade de en- o homem é o que é um ser hoje, Sobrenaturais mortal, que das contrar uma definição de mito que pudesse sexuado e cultural.4 ser aceita por todos os eruditos e, ao mesmo tempo, fosse acessível aos não especialistas. E Embora a considere "esplêndida e também se questiona "se realmente é possí- te", apresentando muitos pontos essenciais vel encontrar uma única definição capaz de acerca dos mitos mais acolhidos, van Bins- cobrir todos os tipos e todas as funções dos bergen observa que nem todos os mitos são mitos, em todas as sociedades arcaicas e tra- de origem ou etiológicos e aponta nessa "fa- dicionais". Eis que "o mito é uma realidade mosa definição" vários atalhos que deixam cultural extremamente complexa, que pode de fora muitas realidades mitológicas que ser abordada e interpretada através de pers- escapam à sua generalidade e universalidade, pectivas múltiplas e complementares". Com e que somente pesquisas empíricas poderiam essas ressalvas, o autor apresenta a seguinte comprovar, caso a caso, a sua aplicação. Além definição, que lhe parece menos imperfeita, disso, a definição delimita o mito a determi- por ser a mais ampla: nados tempos e comunidades que conhecem a existência do sagrado, dos tempos primor- O mito conta uma história sagrada; ele re- diais, das origens, dos seres sobrenaturais, 0 lata um acontecimento ocorrido no tempo que supõe culturas que fazem distinção entre primordial, o tempo fabuloso do "princí- o natural e o sobrenatural e admitem a cria- pio". Em outros termos, o mito narra como, ção do mundo. O autor critica a suposição graças às dos Entes Sobrenaturais, de que seja válida para todos os contextos uma realidade passou a existir, seja uma em que os mitos podem ser encontrados. Se- realidade total, o cosmo, ou apenas um gundo van Binsbergen, a definição aplica-se, fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, com mais propriedade, aos mitos das antigas um comportamento humano, uma insti- civilizações do Oriente Médio, aos babilôni- tuição. É sempre, portanto, a narrativa de uma "criação": ele relata de que modo algo cos e bíblicos, mas apenas limitadamente po- deria condizer com a realidade das culturas foi produzido e começou a ser. O mito fala apenas do que realmente ocorreu, do que africanas que ele pesquisa. se manifestou plenamente. Os persona- Em que pesem estas certeiras observa- gens dos mitos são os Entes Sobrenaturais. ções, a definição de Eliade tem grande aco- Eles são conhecidos, sobretudo, pelo que lhida, em especial nos estudos do mito numa fizeram no tempo prestigioso dos "primór- perspectiva fenomenológica, como o faz José dios". Os mitos revelam, portanto, sua ati- Severino Croatto em As linguagens da expe- vidade criadora e desvendam a sacralidade riência religiosa; uma introdução à Fenomeno- (ou simplesmente a "sobrenaturalidade") de logia daE SUAS REGRAS Breve história do mito A complexidade do mito torna-se mais evidente quando se perscruta a sua história, que, em seus transes, voavam e en- pois ele acompanha a humanidade desde os travam em comunhão com os deuses para remotos primórdios até hoje. garantir o êxito da caçada. No Período Neolítico de 8 mil a 4 mil As descobertas arqueológicas das sepul- anos a.C. os humanos inventaram a agri- turas neandertalenses revelam um cuidado cultura, cujas técnicas se revestiam de caráter especial para como os mortos, colocando religioso. O cultivo é também uma epifania nelas armas, ferramentas rudimentares, os- ou revelação da energia e os rituais SOS de animais sacrificados, o que faz supor a destinavam-se a desenvolver esse poder para existência de crenças que se aproximam dos que não se exaurisse. A sexualidade e a ceifa mitos: a experiência da morte e o medo de eram consideradas forças divinas. Era co- extinção, a existência de sacrifícios e rituais. mum a prática do ato sexual ritual na semea- cadáver colocado na posição fetal parece dura.8 Armstrong acolhe a informação de E. evocar um renascimento, e a existência de U. James, em The Ancient Gods, sobre o mito outro plano de vida além do de Anat-Baal, segundo o qual os humanos No Período Paleolítico - de 20 mil a 8 primordiais penetravam no útero da Mãe- mil anos a.C. a mitologia não deixa ne- -Terra e faziam um retorno mítico à fonte nhum vestígio escrito, e os mitos só podem de todos os seres. A Mãe-Terra se transforma ser reconstruídos a partir de indícios arque- na Deusa-Mãe, que na Síria foi identificada como Asherah, ou como Inana, na ológicos e por dedução de narrativas ainda Os novos mitos neolíticos continuam a con- existentes, cujas características parecem re- ciliar os humanos com a ideia da morte, e a montar a esses primórdios. Nesse período, os humanos se reuniam em de caçadores. agricultura era considerada uma luta deses- Não havia agricultura. A partir de civili- perada contra os infortúnios: a infertilidade do solo, a seca, a fome, as forças violentas da zações atuais que ainda guardam vestígios natureza que também eram tidas como ma- considerados primordiais, conjectura-se que nifestações do poder no Paleolítico os humanos viviam "o tempo dos sonhos" habitado pelos antepassados Nas civilizações antigas de 4 mil a 800 seres arquetípicos poderosos que ensinavam anos a.C. surgem as cidades na Meso- as habilidades essenciais, a caça, a guerra, o potâmia, no Egito, na China, na Índia e na Grécia. No "Crescente Fértil" (atual Iraque), sexo, considerados como atividades sagra- das. Poderiam ter também o imaginário de o desafio da urbanização aparece nos mitos um paraíso perdido, ou a nostalgia de uma que celebravam a vida citadina. Inventou-se a "idade de ouro" e o desejo de voltar atrás a escrita, que possibilitou fixar os relatos orais esse mundo arquetípico. Talvez, nesse perío- em documentos históricos. Novas técnicas do, teriam surgido os xamás com poderes de propiciaram um domínio sobre o ambiente e os humanos começaram a ter a consciência abandonar o corpo e viajar até o mundo ce- de se distinguir do mundo natural. Cidades leste. Os santuários descobertos nas cavernas de Lascaux, na França, e de Altamira, na Es- cresceram e declinaram rapidamente. Surgi- panha, talvez remontem ao Paleolítico. Suas ram guerras sangrentas, massacres, deporta- pinturas descrevem a caça juntando animais ções massivas. Daí um misto de apreensão, e caçadores, homens usando máscaras em pavor e esperança que se refletiam nos mitos, forma de pássaros, sugerindo tratar-se de que passaram a frisar a ordem e o 501JOSÉ QUEIROZ cultural é visto como numinoso. ofícios. e justiça e da verdade dentro de progresso deuses patronos das artes e faz crítica diante dos antigos postura Surgem medo das enchentes na Mesopotâmia Ante os mitos, apareceram nascerem os mitos das inundações. As ações tis, enquanto outros os admitiam e humanas adquirem confiança, e os deuses se suas histórias e as interpretavam de tornam mais ou se transformam mais íntima. Mesmo nos sistemas em planejadores urbanos como no poema mais requintados, as pessoas achavam As pessoas, na Mesopotâmia, não podiam passar sem os A que do afastamento dos deuses, continu- autoimolação dos deuses na criação agora antiga apesar avam a cultuar seres transcendentais na vida lida como algo a ser praticado na vida era cotidiana. Cada cidade e cada cidadão vene- ria por todos que desejassem aperfeiçoar ravam seus deuses patronais. Nesse contexto, Surge nesse período a surge o antiquíssimo mito da criação Enuma de ouro" atribuída a Confúcio: regra Elish, que era cantado no quarto dia do festi- outrem o que não gostarias que te val do ano-novo. A Bíblia também conserva No Período Pós-Axial de 200 a.C os mitos de criação daquela época em seus 1500 d.C. não haveria mudanças substan- vários livros. Em algumas cosmologias, como na mitologia védica da Índia, a criação é um ciais com relação ao mito, pois as concepções e as atitudes do período anterior ato de autoimolação da divindade. Com a urbanização, cresce a confiança no engenho ceram basicamente as mesmas até 0 século humano e prevalecem os poemas épicos de XVI d.C. No Ocidente, as três mo- noteístas Judaísmo, Cristianismo e Isla heróis históricos, como Gilgamesh, que teria afirmam estar baseadas, pelo menos em vivido por volta de 2600 Esses relatos frisam o significado e os limites da cultura parte, mais na história do que nos humana, e os deuses ficam mais Mas todas encerram narrativas míticas, em- bora tentem periodicamente fazer com que No Período de 800 a 200 anos a sua religião se adapte às matrizes racionais a.C. as pessoas tomaram consciência de da Filosofia. Segundo Armstrong, devido à sua natureza, situação e limites e surgiram dimensão mística dessas elas con- novos sistemas filosóficos e religiosos: Con- tinuam a usar a mitologia para explicar suas fucionismo, Taoísmo, Budismo, Hinduísmo, Monoteísmo, por obra das grandes figuras: intuições ou reagir a uma nova os profetas hebreus, os mestres dos Upa- Na modernidade - de 1500 a nishades, Buda, Confúcio, o autor do Dao a vida nunca mais voltaria a ser a mesma, e Du Jing, conhecido pelo pseudônimo de talvez o resultado mais significativo, segun- Lao-Tse, Homero, enfim os filóso- do Armstrong, e potencialmente mais de- fos Sócrates, e Aristóteles. sastroso tenha sido a morte dos mitos. A Em que pesem as profundas diferenças modernidade é filha do logos, da racionalida- culturais, Armstrong aponta algumas carac- de, e se assentou no triunfo do espírito cientí- terísticas comuns desse período: consciência fico e pragmático. O novo herói é o cientista profunda do sofrimento, necessidade de uma e o inventor e não os gênios espirituais ins- religião mais espiritualizada que não de- pirados pelos mitos. Porque a maioria já não pendesse preponderantemente dos rituais e usa mais os mitos, grande parte deles perde- práticas exteriores, preocupação com a cons- ria Muito longo seria mostrar essa da ciência individual e a moralidade, repúdio à prevalência do logos em todos os passos violência, busca de uma ética de compaixão ciência e da Filosofia em seus vários sistemas.E SUAS REGRAS A supremacia do logos convive com a mais respeitosa para com a E extrema irracionalidade que acompanhou a ter presente que, por sermos criaturas feito- civilização ocidental e provocou as grandes ras de mitos, fomos criando, na civilização das guerras, massacres, violação mais avançada, mitos destruidores que ter- destruição da natureza, que leva Ar- e a afirmar que, depois do período minaram em massacres e genocídios porque axial, não espiritualmente, e até mstrong repudiaram os critérios do Período Axial: o regredimos, devido à supressão dos espírito de compreensão e respeito sagrado livrar da falácia de que o mito é falso ou que, segundo a autora, temos que nos por toda e qualquer A autora repõe sua esperança na arte, em especial, na litera- representa um pensamento inferior. Se não tura moderna e contemporânea, pois a arte podemos regressar a uma sensibilidade pré- carrega o aroma dos mitos e pode nos levar a "podemos adquirir uma atitude um reencontro com o dos enfoques sobre mito no pensamento ocidental moderno Tomo como ponto de referência desta em termos. Para Tylor, o mito é tão racional o minucioso estudo de Robert A. Se- quanto a ciência, pois os "primitivos"criavam parte gal, Myth, que constitui o capítulo 19 do mitos à maneira dos processos científicos: compêndio The Blackwell Companion to the observação, formulação de hipóteses, ana- Study of Religion, editado por Rober A. Se- logia com as ações humanas, generalizações. gal. Como seguirei alinhavando e resumin- Mito e ciência para Tylor são idênticos no do o texto em tradução livre, dispenso-me de que tange às suas funções. Ambos destinam- fazer referência a páginas, mesmo que à vezes -se a dar conta de todos os acontecimentos use as mesmas palavras do autor. no mundo físico, inclusive do nascer e do A análise de Segal começa no século XIX morrer. Mas a ciência moderna torna mito a partir de dois autores que, na dele, redundante e até mesmo impossível. Não se embora tenham sido rejeitados em muitos as- pode conciliar, por exemplo, a explicação mi- pectos no século XX, permaneceram centrais tológica da chuva e a explicação da mesma no estudo dos mitos, sendo que as posições conforme as leis da meteorologia. Aceitando subsequentes podem ser consideradas réplicas como demonstrado que os modernos têm a às suas teorias. Segal refere-se ao antropólogo ciência, Tylor obriga o pensamento moderno B. Tylor em Primitive Culture e a rejeitar o mito como falso, embora este con- ao cientista e antropólogo G. B. Frazer, em tenha também a sua racionalidade. Golden Bough (1890).27 Ambos se referem ao Já para Frazer, o mito não só é falso mas mito como explicação de um acontecimen- também irracional, pois abriga a magia que é to no mundo físico. A chuva cai porque um totalmente desprovida de distinções lógicas deus decidiu mandá-la. Para ambos, o mito básicas. O mito introduz a magia na prática é o contraponto de uma ciência "primiti- do ritual e se torna uma tentativa de ad- va" ante a ciência propriamente dita, que é quirir controle sobre o mundo físico. "moderna". Por ciência, entendiam a Ciência No século XX, porém, as teorias desses Natural, não as Ciências Sociais. Por isso, fa- lar em "mito moderno" é uma contradição dois autores foram rejeitadas por teóricos 503QUEIROZ do mito que se diferenciam, a depender das sim O sentido do mito para posições de cada um. A recusa mais abran- leitura literal são professor de de gente diz respeito à asserção de que o mito é um contraponto à ciência moderna e de que Novo Testamento Rudolf por isso deva desaparecer na modernidade. ticism, seu (1944), trabalho Existencialism, New Testament Jonas, and em e filósofo Hans Os teóricos do século XX não defenderam and mito desafiando reinado da ciência em explicar mundo físico. Não relativizaram texto que foi incluído na sua obra The (1952) a ciência, nem a socializaram; não a inte- de tic Religion (1958). Ambos foram graram no mito nem confundiram ciência leitura e apresentaram Martin Heidegger e mitologia. O mundo físico foi considerado especialidades. existencialista do mito a uma como campo da ciência, e o mito deixou de ser considerado explicação literal do mundo. Bultmann reconhece que Ambos, ciência e mito, são inegáveis e a ques- lido literalmente para explicar se tão não é se "primitivo" tem mito, pois isso sico, é incompatível com a ciência mundo é obvio, mas sim se os modernos, que por deveria ser rejeitado como fizeram e definição têm a ciência, também têm mitos. Por isso, propõe uma leitura Tylor Daí surgirem várias posições. lica, ou "demitologizada", que Segundo Segal, os dois mais importan- -ia descartaria sua referência ao mundo externo e tes cientistas que reinterpretaram a função a interpretar lugar do humano no do mito foram Bronislaw Malinowski, em do. O mito não explica, mas apenas descreve Myth and the Primitive Psychology (1926), e o mundo e a compreensão que os humanos Mircea Eliade em The Sacred and the Profane têm de si e do contexto em que E deve (1959). Esta obra de Eliade foi publicada no ser interpretado, não de modo Brasil com o título O sagrado e 0 profano; a mas antropológico, melhor ainda, existen- essência das Não está claro se para cialmente. Assim, deixa de ser primitivo Malinowski os modernos como também os torna universal. Deixa de ser falso e se torna "primitivos" têm ciência e mito. O que é verdadeiro, pois representa uma afirmação claro para ele é que ambos têm ciência, de da condição humana. modo que o mito não é um contraponto à Lido assim, o Novo Testamento ainda ciência. Os "primitivos" têm ciência, embo- faz referências a eventos físicos, mas 0 mun- ra rudimentar, e usam o mito para recon- do agora se apresenta regido por um Deus ciliar-se com as vicissitudes do mundo que singular e transcendente que não aparece não podem ser controladas, como as catás- como um ser humano nem intervém mira- trofes naturais, a doença, a velhice, a morte. culosamente no Satá nem existiria, O mito não anuncia o melhor dos mundos, mas apenas simboliza a inclinação humana mas, ante os acontecimentos inalteráveis, o para o mal. Não haveria nenhum inferno único mundo possível. Enfim, Malinowski O inferno simbolizaria o desespero não vê incompatibilidade entre a leitura mí- humano pela ausência de Deus. céu se re- tica e a científica. fere não a um lugar na abóbada celeste, mas Omitimos agora as referências a Mircea sim à alegria pela presença de Deus. Assim, Eliade porque as suas posições aparecem ao também, devem ser "demitologizados" e to- longo deste texto. mados simbolicamente o fim do mundo 0 Segundo Segal, os dois autores mais proe- Reino de Deus. Para um estudo mais com- minentes em reinterpretar não a função mas pleto da posição de Bultmann, é necessário 504E SUAS REGRAS compulsar o seu trabalho "O Novo Testa- mento e mitologia". Ele traduz os mitos em termos existencialistas para demonstrar apenas a Hans Jonas, como Bultmann, procura semelhança, não a identidade, entre a anti- mostrar que os mitos antigos ainda mantêm ga visão e a visão moderna secular sentido para os modernos, mas nega que os existencialista. Jonas procura reconciliar modernos tenham mitos próprios. Como mito com a ciência dando um novo caráter para Bultmann, também para Jonas o mito, ao conteúdo do mito. numa leitura simbólica, descreve a alienação Há também leituras modernas do mito dos humanos em relação ao mundo e a si mesmos quando não aceitam Deus. À dife- que se afastam radicalmente de Tylor e Fra- rença de Bultmann, que se esforça em esta- zer com relação à função explanatória e ao sentido literal do mito. Nesse aspecto, Segal belecer uma ponte entre o Cristianismo e a oferece uma meticulosa análise das posições modernidade, Jonas reconhece a ruptura da de Freud, de Jung e de outros psicólogos e leitura mítica gnóstica com a psicanalistas. As regras que constituem os mitos mito como narrativa também contenha linguagens de centro, quando, por exemplo, relata fatos históricos, Como narrativa, pertence ao grande es- recorre frequentemente ao falar nas frontei- pectro da linguagem, que pode ser escrita ras, ao usar metáforas, parábolas e frases que ou falada, com suas possibilidades, limites desafiam o senso comum, ambíguas e até e regras. Nos mitos ancestrais prevalece a Como expressões de vivências oralidade. religiosas, os mitos forçam até o extremo a Paul van Buren, abordando os limites da linguagem e, ao explicar a realidade, apelam linguagem, afirma que não devemos pensá-la para o misterioso e para a fé das pessoas e da como uma gaiola que aprisiona, mas como comunidade que acolhem esse relato. uma plataforma sobre a qual as pessoas po- Embora nos extremos limites da lingua- dem circular, caminhar, dançar ou dormir, gem, o mito, segundo Eliade, é "uma his- isto é, fazer tudo o que em geral fazemos com tória porque sempre se refere a as palavras. No centro dessa plataforma, si- realidades. O mito cosmogônico é 'verda- tua-se a linguagem exata, sem ambiguidades, deiro' porque a existência do mundo aí está que expressa o mundo físico, como também para prová-lo; o mito da origem da morte é o linguajar Afastando-se do cen- igualmente porque é provado tro e indo para as margens, adentramos na pela mortalidade do homem, e assim por linguagem figurada ou metafórica. Há dis- diante". A sua história comporta um antes cursos que vão até o limite extremo da plata- com o qual rompe e um agora, uma forma, além do qual as regras desaparecem e situação presente, que a narrativa, mesmo as palavras perdem sentido. Entre as formas falando nas bordas, pretende explicar ou de linguagem que vão aos extremos, mas ain- dar sentido. E o sentido é buscado nos pri- da se mantêm nos limites os jogos humo- mórdios, in illo Verdadeiro tam- rísticos, a linguagem do amor, a poesia e suas bém porque como tal é acolhido pelo sujeito metáforas, os discursos metafísicos o au- religioso e pela comunidade que o pratica e tor entra pelo campo da religião que, embora ritualiza. Esse teor da linguagem mitológica 505JOSÉ J. QUEIROZ que caminha pelos extremos é relevante para Universo, concebeu e gerou um entender as ambiguidades e até obscuridades luz. Essas palavras são utilizadas do mito, que fazem considerá-lo como in- por quem pretende a partir lentado; téril, triste mulher em de ritos: para a fecundação de uma em para alegrar um coração de uma linguagem de centro, como veremos nos revezes das guerras adiante. A palavra mitológica é carregada de po- outras circunstâncias que levam homem der e força que advém da sua própria origem e produz múltiplos efeitos na sua recitação Como texto literário, mito ritual. Ernst embora como cável, especialmente nos mitos emissor, ou um autor, nem sempre um neokantiano aponte as limitações do imagi- nário mítico em representar mundo empí- são transmitidos na oralidade arcaicos têm que rico admite um vínculo originário entre nas tradições das várias Nas a consciência linguística e a ligiões monoteístas, cujas doutrinas A expressão desse vínculo, segundo o autor, consignadas em livros sagrados, os mitos estão "está sobretudo no fato de que todas as for- como emissor principal a própria divindade têm mações verbais aparecem outrossim como fundadora, a qual, acredita-se, fala mediante entidades míticas providas de determinados seus hagiógrafos, cabendo ao historiadores poderes míticos e de que a Palavra se con- da aos exegetas, com o auxílio da verte numa espécie de Arquipotência, onde radica todo ser e todo E recorre Arqueologia, buscar a origem e a desses textos. Supõe também um destina- às teogonias para elucidar sua posição, afir- tário, que é sempre uma comunidade mando que "em todas, por mais longe que remontemos a sua história, sempre volve- acolhe mito e nele acredita e o que E mos a deparar com essa posição suprema da um conteúdo ou realidade que é Palavra". Seu estilo pode ser histórico, des- critivo, poético, em geral Como Se relermos o mito bíblico da criação, o Deus criador faz aparecer o universo pela narrativa, está sempre sujeito a força da sua palavra. Cassirer faz referência Os primeiros a interpretarem o texto mítico aos mais antigos documentos da teologia são os receptores, que o acolhem dando-lhe egípcia, em que "ao Deus criador Ptá é atri- um sentido religioso, espiritual, vivenciado, buído o poder primordial 'do coração e da no âmbito da própria cultura. Nas através do qual ele produz e dirige monoteístas (Judaísmo, todos os deuses, homens, animais e demais há os intérpretes oficiais da doutrina que seres vivos". desponta dos mitos e dos ensinamentos dos O poder da palavra mítica se dá também fundadores. O relato mítico também é obje- nos rituais. Segundo Eliade, a recitação do to de estudos e interpretações pelos eruditos mito é poderosa, que a comunidade e os que leem a narrativa sob o prisma da própria praticantes acreditam que mediante a sua ciência: Teologia, Filosofia, História, An- repetição o mundo é constantemente recria- tropologia, Sociologia, Ciência da do e os humanos são reconfortados. Como Arqueologia, Paleontologia etc. As leituras exemplo, cita as várias aplicações do rito do mito podem variar segundo estes vários cosmogônico polinésio, a partir do relato de enfoques e suas normas hermenêuticas, que E. S. C. Handy na sua obra Polynesian Re- dá margem a divergências e até a um conflito ligion. Pelas palavras, o deus modelou o de interpretações.E SUAS REGRAS A primordialidade como regra de "criação" (plantio, colheita), em situações A narrativa mitológica, por sua necessária delicadas ou relevantes para a vida humana: ligação com um evento primordial, adquire doença, nascimento, morte, núpcias e poder instaurador. O que os deuses ou um Em certas o ritual é secreto e re- deus fez na origem se reflete e se perpetua servado aos iniciados, podendo até excluir a nas coisas como são agora. O mito não pre- tende, como fazem os historiadores, oferecer presença de mulheres e uma explicação imanente das instituições, Permanência e das técnicas, dos O conhecimento dessas realidades pelo mito que as atribui a mutabilidade dos mitos uma intervenção divina não tem preocupa- ção científica, mas mostra uma percepção Por sua conexão com os primórdios origi- simbólica e imaginária que vê em tudo uma nais, o mito tem uma conotação de perma- presença e uma ação Daí a impor- nência. Entretanto, ele tem vinculação estrita tância do mito para o homem arcaico por- com as vivências ou experiências individuais quanto lhe ensina as "histórias" primordiais e comunitárias. O acontecimento primordial que o constituíram existencialmente, e tudo sempre tem em mira realidades que afetam a o que se relaciona com a sua existência e com comunidade religiosa que o acolhe. As comu- o seu próprio modo de existir no nidades geram a atividade criadora do mito e À pergunta "por que o mundo e tudo o este é uma resposta de sentido às vicissitudes que existe surgiu?", a resposta mítica reporta sociais que afetam o grupo. Por isso, embora à intervenção do deus ou de deuses: insti- não evolua na sua forma essencial, o mito se tuições, leis, costumes, figura, lugares, ins- presta a novas leituras e até a sofrer altera- trumentos, técnicas, elementos da natureza ções a depender da evolução da cultura e do (árvores, rios, sementes, animais), tudo o que saber, e assim, muitas vezes, suas expressões se relaciona com a comunidade, tudo o que é significativo para um povo, tem origem outrora tomadas como literais passam a ter numa instauração apenas um valor simbólico. Também pode acontecer que a comunidade à qual o mito A recitação do mito e suas regras se dirigia tenha deixado de existir, ou secu- Como o acontecimento criador dos mi- larizou-se. Nessas circunstâncias, os mitos tos se dá em um espaço e em um tempo sa- podem extinguir-se ou perder-se. Ou então grados, também a sua repetição requer que passam a ser considerados como contos, fá- seja feita em um espaço e em um momento bulas, ou a integrar os monumentos da litera- sagrados. Por isso, ela se cerca de regras. É tura mitológica, como é o caso da mitologia reservada a alguns personagens: anciãos, sa- grega e romana clássicas, que, sobretudo cerdotes, sacerdotisas ou pessoas que a comu- com o advento da racionalidade filosófica e, nidade reconhece como revestidas de poder mais tarde, com a ferrenha oposição do Cris- para conduzir a cerimônia ritual. O lugar é tianismo aos mitos pagãos, deixaram de ser sempre um lugar sagrado, ainda que não seja vivenciadas e cultuadas, e sobrevivem como em recinto limitado. Pode acontecer em um um dos mais brilhantes tesouros da literatu- campo plantado, à margem dos rios, no pé de uma montanha, ao lado de uma cachoeira. ra e da arte universal. Sobre essa temática, é Também o tempo da recitação é um tempo fundamental a leitura de Eliade, "Grandeza especial: à noite, ao alvorecer, em momentos e decadência dos 507JOSÉ QUEIROZ Irredutibilidade e comunicação entre os mitos mitos, instaurando circulação uma Uma das regras do mito é a sua impossi- Mitos na bilidade de migrar de uma cosmovisão para aproximações outra, devido à sua característica de não ser difuso, mas criado para responder a uma ilusão, ou afirmação gratuita e falsa Considerado mito como ideia realidade específica e às experiências de de- terminado grupo social. Croatto apresenta mento, pode-se dizer que a sem como exemplo o mito toba do noroeste da como todas as épocas está repleta Argentina, que relata como Metzgoshé, an- Mas a questão é saber se a de mitos tecessor mítico dos tobas, lhes ensina, e só a se declara secularizada e laica, ainda eles, os costumes da vida cultural deles. va os mitos religiosos de outrora Os Embora possa haver a importação de das comunidades ancestrais ainda mantêm-se vivos nas suas existente um mito de outra cosmovisão, ele é sempre reinterpretado de acordo com a cosmovisão jeto de estudo de várias ciências. não se como do grupo que o importou. O exemplo ofe- recido por Croatto é o mito bíblico do di- os arautos da ao lado do previam lúvio (Gn 6-9), que foi importado da visão que elas mantêm também próprios mitos que fundamentam e mesopotâmica, porque em não havia às suas crenças. experiência de inundação que pudesse gerar o mito. Mas ele é reinterpretado conforme a Outra questão é a presença dos mitos cosmovisão israelita, porque é e não formas modernas de cultura, em especial, Elil, o ator divino. E o sentido da catástrofe música, a literatura, o Com é moral e mística. Quer alertar para a malda- eles aí estão presentes. Na música. são de e a corrupção na terra e a necessidade de plos, entre outros, as óperas de Richard purificação.4 ner, que retoma a antiga mitologia germânica nórdica. Na literatura e no cinema, prolife Apesar dessa irredutibilidade, é possível ram mitos de várias culturas religiosas, cris- constatar uma circulação ou comunicação ou O retorno dos mitos cristãos entre os mitos. Isso acontece nos mitos das no cinema foi objeto de pesquisa de Laercia culturas americanas, indo-europeias e dos Torres de que analisa filmes produzi- povos semitas, nos quais uma semelhança dos até entre os mitos pode ser reconhecida em dife- Eliade, tido como um dos defensores da rentes áreas e em marcos cosmovisionais di- existência de mitos nessas formas modernas ferentes. Nos mitos que se intercomunicam, de cultura, indica o alcance deles e suas o religioso, mantendo as especificidades da racterísticas mitológicas. Esclarece que os sua experiência, pode ter participação nas modernos não cultuam, não praticam nem vivências humanas mais profundas e univer- ritualizam esses mitos, por isso, eles não sig sais. Isso se torna possível pela universalidade nificam "a sobrevivência de uma mentalida- de certos símbolos que estão presentes em vá- de O que se pode dizer, conforme rias e se adaptam ou são reinter- Eliade, é que eles carregam alguns aspectos pretados. Também pode ser levantada como e funções do pensamento mítico, que hipótese a existência de um mito primordial constituintes do ser Assim, ao original que instaura um sentido fundamen- um romance, ao ouvir ou assistir a uma tal paradigmático que é recebido por vários ópera ou a um filme que contam histórias 508E SUAS REGRAS uma circulação simbolica mitológicas, "o tempo que se vive não é Mbyá-Guarani do Paraguai, que contém que o membro de uma sociedade tra- vários elementos mitológicos a ori- na dicional tempo reintegra ao escutar mito. Sempre, gem divina da tribo, caráter sagrado da pa- mações porém, há uma saída do tempo histórico e lavra, hino como prolongamento do evento pessoal mergulho no tempo fabuloso e criador: derado o mito como ideia afirmação gratuita e sem Pode até despertar uma "revolta" contra tempo histórico, desejo O verdadeiro Pai Nhamandu, Primei- as estão secularizada saber dizer que a as épocas está repleta de de atingir outros ritmos temporais além da- ro, em virtude da sua sabedoria criadora, é se a quele em que somos obrigados a viver e a tra- engendrou a luz e uma tênue neblina. Ha- e laica, ainda que balhar, indo além "deste tempo que mata". vendo-se levantado, antes de se ter conhe- religiosos de outrora, Os E pergunta-se Eliade se esse desejo de trans- cender o próprio tempo "seja jamais extirpa- cimento das coisas, criou fundamento da idades ancestrais ainda existentes mitos vivos nas suas tradições e são do". Enquanto perdurar esse anseio, "pode-se linguagem como parte da sua divindade. de várias Como dizer que homem moderno conserva pelo Em virtude da sua sabedoria criadora, con- se extinguiram, como previam as menos alguns resíduos do comportamento cebeu a origem do amor. Criou na sua so- da secularização, ao lado do vigor lidão a origem de um hino sagrado. Tendo itos mantêm também Finalizamos este item apresentando um refletido profundamente, criou aqueles que que fundamentam e dão vida trecho de um lindo mito sul-americano dos seriam companheiros da sua divindade.4 ças. uestão é a presença dos mitos nas dernas de cultura, em especial, a teratura, Com Conclusão presentes. Na música, são exem- utros, as óperas de Richard Wag- Este breve ensaio teve na sua trajetória história do mito caminhou por atalhos e se ma a antiga mitologia germânica várias limitações. Assumiu uma definição de pautou em uma só obra, pelos motivos de es- literatura e no cinema, prolife- mito provisória e sujeita a críticas. Mas tra- paço e tempo e pela necessidade de síntese. e várias culturas religiosas, cris- balhou a partir dela para construir algumas A exposição das tendências dos estudos mais O retorno dos mitos cristãos objeto de pesquisa de Laercio regras que norteiam mito, enveredando por atuais dos mitos em confronto com as posi- bes, que analisa filmes produzi- uma leitura em que prepondera a visão fe- ções negativas de Frazer e Tylor limitou-se a 42 nomenológica de Croatto e Eliade. Estamos apenas alguns autores dentre os indicados no cientes dos limites desta abordagem, uma compêndio de Robert A. Segal, por serem os do como um dos defensores da vez que supõe uma noção de divindade e de nomes mais citados quando o assunto é mito, mitos nessas formas modernas dica o alcance deles e suas ca- transcendente que não são aplicáveis a reli- embora os que foram omitidos também te- mitológicas. Esclarece que os gióes e mitos de todas as culturas, em espe- nham posições relevantes. Mas a menção cultuam, não praticam nem cial que abraçam uma visão imanente dessas teorias, ainda que sucintamente, ex- les mitos, por isso, eles não sig- nas relações e vivências religiosas. Entretan- cederia de muito os limites de espaço. Para previvência de uma mentalida- to, uma leitura do mito a partir dessas reli- tentar suprir essas lacunas, acrescentaremos que se pode dizer, conforme nos levaria para um estudo comparado, à bibliografia referida no texto algumas obras eles carregam alguns aspectos e isso aumentaria ainda mais a complexidade que poderiam abrir horizontes para quem pensamento mítico, que são do trabalho, esbarraria nas limitações de es- deseja ir além de um compêndio e se dedicar lo ser Assim, ao ler paço e ultrapassaria a proposta de apresen- a uma leitura mais aprofundada do envolven- ao ouvir ou assistir a uma filme que contam histórias tar tema em forma de compêndio. A breve te tema que é o mito. 509QUEIROZ E SUAS REGRAS 24 Referências Seguiremos a cronologia apontada por Karen Armstrong, na obra Uma pequena do Ibid. p. 133. 25 ARMSTRONG, Karen. Uma pequena histo- Ed. CROATTO, José Severino, As linguagens mito. Uso a tradução portuguesa de Portugal, Ibid., p. 143. 26 ria do mito. Lisboa: Portugal, 2005. experiência religiosa; uma mas há também uma tradução e edição no título completo é Pimitive Researches Fenomenologia da Brasil. Optamos por este trabalho por ser su- into the Development of Mytology, Philosophy, bras: São Paulo: Companhia das Letras, Paulinas, 2001. cinto e ao mesmo tempo abrangente e bem fun- Religion and 27 2005. damentado. Publicado no Brasil sob título ramo de ELIADE, Mircea. Mito e realidade. BINSBERGEN, Win van. Rupture and Fu- Armstrong, Uma pequena do mito, p. 28 sion in the Approach to Myth, 2007. Dis- lo: Perspectiva, 1972. Buren, Alle frontiere del linguagio, pp. 92-93. 46. 29 mito do eterno ponível em: Lisboa: p. 47. Eliade, Mito e realidade, p. 12; aspas e grifos do ções 70, 2000. 8 9 Ibid., p. 49. 30 Ibid., pp. 16, 44 e passim; Croatto, As lingua- Origens. Lisboa: Edições 70, 1989. 10 Eliade, Mitos, sonhos e mistérios, citado por pdf; acesso em: 10 de agosto 2012. e Armstrong, Uma pequena história do mito, p. gens da experiência religiosa, pp. 218 e 219. sagrado profano; 31 BOLLE, W. Kees. Myth. An Overview. In: a essência Cassirer, Linguagem e mito São JONES, Lindsay (ed.). Encyclopedia of Paulo: das 49. 32 Martins Ibid. p. 64. 11 Armstrong, Uma pequena história do mito, 33 Religions. 2. ed. Farmington, Hills, USA: 1999. Ibid., p. 62. 34 FRAZER, James B. O ramo de ouro. Rio de Ibid., p. 65. Thompson Gale, 2005. 6359-6371. Ibid., 65. 35 12 Janeiro: LTC, 1982. Handy, citado por Eliade, Mito e realidade, p. Disponível em: www.lordspeak.com/en- 13 Ibid., 67-77. 33. cyclopedia/5.pdf; acesso em: 20 de agosto GIRARD, Renée. Coisas ocultas desde a fun- 14 Denominado axial por Karl Jaspers porque se 36 Eliade, Mito e realidade, p. 16; Croatto, As lin- dação do Rio de Janeiro: Paz apresenta como um ponto central de mutação guagens da experiência religiosa, p. 220. 2012. no desenvolvimento espiritual da humanidade, 37 BULTMANN, Rudolf. Novo Testamento e Terra, 2009. Livro II, capítulo IV Croatto, As linguagens da experiência religiosa, mitos. que marcou as civilizações até os dias de hoje Eliade, Mito e realidade, p. 16. mitologia. O elemento mitológico na men- e assinala o início da como a conhece- 38 GÓES, Laércio Torres de. O mito cristão Croatto, As linguagens da experiência religiosa, sagem do Novo Testamento e o problema no mos. pp. 231-232. de sua reinterpretação. In: BARTSH, Hans cinema. Salvador, Bahia: Edusc/UFBA, Ibid., pp. 81-83. 39 Eliade, Mito e 123-140. Werner (ed.). Kerygma and Myth. London: 2003. 16 Ibid., p. 84. Croatto, As linguagens da experiência religiosa, S.P.C.K., 1957. V. pp. 1-44. Disponível JONAS, Hans. The gnostic religion. Boston, 17 Ibid., p. 87. pp. 273-278. 18 Ibid., p. 105. 41 em: http://www.chaves.com.br//TEXTA- USA: Beacon Press, 1963. pp. 320-340. Ibid., pp. 278-280. 19 Ibid., p. 109. 42 LEAVITT, John. Presentation: le mythe au- Goes, mito cristão no cinema. 20 Este período corresponde à grande transfor- 43 jourd'hui. Anthropologie et Société, V. 29, Eliade, Mito e p. 156. BUREN, Paul van. Alle frontier del lingua- mação ocidental que fez surgir uma civilização 44 Ibid., p. 164. ggio. s.l.: Armando Editore, 1977. Ed. n. 2 (2005), 7-20. Disponível em: sem precedentes a se espalhar por todo mun- 45 Ibid., p. 165. original: The Edges of Language; an Essay do. 46 A deste mito encontra-se em Codogan, in the Logic of Religion. New York, NY: acesso em: 10 de agosto de 2012. 21 Ibid., p. 119. citado por Croatto, As linguagens LÉVI-STRAUSS, Claude. Mito e significado. 22 The Macmillan Company, 1972. p. 132. da experiência religiosa, 285-288. 23 CAMPBELL, Joseph. poder do mito; en- Lisboa: Edições 70, 1997. Ibid., p. 133. trevista a Bill Moyers. São Paulo: Palas SEGAL, Robert A. Myth. In: SEGALL, Ro- Athena, 1990. bert (ed.). The Blackwell Companion to the de mil faces. São Paulo: Cul- Study of Religion. Malden, USA: Blacwell trix/Pensamento, 1988. Publishing, 2006. 337-355. CASSIRER, Ernest. Linguagem e 4. ed. VERNANT, Pierre. Mito e pensamento entre São Paulo: Perspectiva, 2000. os gregos. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008. Notas Binsbergen, Rupture and Fusion in the Approach 4 to Myth, p. 3. Ibid., p. 11; aspas e grifos do autor. 5 2 Elide, Mito e realidade, p. 11; grifos do autor. Binsbergen, Rupture and Fusion in the Approach 3 Ibid., p. 11. to Myth, p. 17. 511