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33 2. Introdução à física quântica Planck e a quantização da energia Lei de Stefan-Boltzmann 4ATeP σ= ( )44 TTAeP ′−= σ . Figura 3.1: Radiância espectral de um corpo negro em função do comprimento de onda para várias temperaturas. Assinalam-se as zonas do visível (faixa colorida), do ultra- violeta (UV) e do infra-vermelho (IV). Lei do Deslocamento de Wien: T B =maxλ com Km10898,2 3−×=B uma constante. catástrofe do ultravioleta 34 Figura 3.2: Radiância espectral de um corpo negro à temperatura de 2000 K (linha a cheio) e previsão da teoria electromagnética clássica (linha a tracejado). Até que em 1900 o físico alemão Max Planck (Figura 3.3) enfrentou o problema da radiação do corpo negro... Figura 3.3: Max Planck explicou a radiação do corpo negro introduzindo o conceito de quantum de energia (plural quanta). fhE =0 . constante de Planck: sJ1062,6 34−×=h . fhnE = , ,...3,2,1=n 35 Figura 3.4: Um átomo oscilante, porque contém cargas eléctricas, produz ondas electromagnéticas. Einstein e a teoria dos fotões Uma das consequências das equações do electromagnetismo era a propagação, como ondas, do campo eléctrico e do campo magnético à velocidade da luz. Este resultado confirmava o carácter ondulatório da luz, já antes revelado em várias experiências de interferência e de difracção realizadas no século XIX. Natureza da luz No século XVII, Newton defendeu que as fontes luminosas emitiam pequenos corpúsculos, em todas as direcções, a grandes velocidades. Esta teoria ficou conhecida por teoria corpuscular da luz. Um físico contemporâneo de Newton, o holandês Christian Huygens, defendeu, pelo contrário, que a luz era uma onda, estabelecendo assim a teoria ondulatória da luz. claro escuro alvo escuro escuro escuro claro claro 36 Figura 3.5: Experiência da dupla fenda feita numa tina de ondas (à esquerda) e sua interpretação com base na teoria ondulatória (à direita). efeito fotoeléctrico Figura 3.6: No efeito fotoeléctrico electrões são arrancados de um metal quando este é iluminado com certo tipo de luz (normalmente, luz ultravioleta). Figura 3.7: Mesmo com luz muito intensa pode não haver emissão de electrões, mas com uma luz menos intensa mas de maior frequência ( 12 ff > ) já pode haver. célula fotoeléctrica para estudar o efeito fotoeléctrico. Luz monocromática de frequência f passa através de uma janela transparente e incide numa placa metálica (fotocátodo) arrancando-lhe electrões. Estes são acelerados por uma diferença de potencial, U, entre o fotocátodo e um eléctrodo a potencial positivo (ânodo), estabelecendo-se no circuito uma corrente eléctrica. 37 Figura 3.8: Célula para o estudo experimental do efeito fotoeléctrico: o amperímetro mede a intensidade de corrente na célula e o voltímetro a tensão nos seus terminais. Quando a tensão aplicada é positiva ( 0>U ), os electrões são atraídos para o ânodo. Se essa tensão for suficientemente elevada, todos os electrões chegam ao ânodo e a intensidade de corrente atinge um valor limite ou patamar (é a chamada corrente de saturação). Mas invertendo o sinal da tensão aplicada ( 0<U ), os electrões são repelidos pelo ânodo e a intensidade da corrente eléctrica diminui até se anular para um valor de tensão igual a 0U− , sendo 0U designado por potencial de paragem. Neste caso, apenas os electrões mais energéticos chegam ao ânodo. Se a energia cinética de um electrão à saída do cátodo for superior a 0eU (diferença de energia potencial entre os eléctrodos), o electrão atingirá o ânodo e contribuirá para a corrente eléctrica (Figura 3.9, à esquerda). Caso contrário, o electrão não chegará a atingir o ânodo (Figura 3.9, à direita). Portanto, 0U mede a energia cinética máxima dos electrões. 38 Figura 3.9: Se os electrões tiverem energia cinética suficiente para vencer o potencial de paragem, atingem o ânodo (à esquerda); no caso contrário, não há corrente no circuito (à direita). As curvas da corrente em função da tensão aplicada, )(UI , obtidas experimentalmente (Figura 3.10) mostram que: � a intensidade de corrente aumenta com a tensão aplicada entre os eléctrodos até atingir um valor constante (corrente de saturação); � fazendo incidir luz da mesma frequência mas com intensidades diferentes, o potencial de paragem, 0U , é o mesmo mas, quanto mais intensa for a luz, maior será a intensidade da corrente de saturação (Figura 3.10, à esquerda); � fazendo incidir luz de frequência diferente, o potencial de paragem é maior para a luz de maior frequência (Figura 3.10, à direita). Figura 3.10: Curvas características de uma célula fotoeléctrica: luz incidente com frequência fixa mas intensidades luminosas diferentes (à esquerda) e luz incidente com a mesma intensidade mas frequências diferentes (à direita). Em 1916 o físico norte-americano Robert Millikan efectuou medidas cuidadosas do efeito fotoeléctrico e mostrou que o declive dessas rectas é igual para todos os metais! 39 Figura 3.11: Potencial de paragem em função da frequência da luz incidente para o sódio segundo os dados obtidos por Robert Millikan, que obteve o prémio Nobel da Física em 1923. Os estudos experimentais feitos sobre o efeito fotoeléctrico estavam em contradição com as previsões da teoria clássica: Previsões da teoria clássica Evidências experimentais A corrente fotoeléctrica é tanto maior quanto maior for a intensidade da luz. Desde que ocorra efeito fotoeléctrico, a corrente fotoeléctrica é tanto maior quanto maior a intensidade da luz. Aumentando a intensidade da luz, a energia transferida para os electrões aumentaria e portanto a energia cinética máxima dos electrões aumentaria também. O potencial de paragem e, portanto, a energia cinética máxima dos electrões não dependem da intensidade da luz incidente, mas apenas da sua frequência e do metal onde a luz incide. Luz de qualquer frequência deverá arrancar electrões da superfície do metal, desde que a intensidade seja elevada ou se espere tempo suficiente para que o electrão acumule energia. Se a frequência da luz incidente aumenta, o potencial de paragem aumenta linearmente. Há uma frequência mínima abaixo da qual não há emissão de electrões. Os electrões levam tempo a acumular energia para se libertarem do metal e esse tempo é maior para luz menos intensa. A emissão dos electrões é praticamente instantânea: a corrente estabelece-se mal se liga a fonte de luz. 40 Albert Einstein, em 1905, sugeriu que a luz era constituída por pequenos pacotes (quanta) de energia, fhE =0 , que mais tarde foram designados por fotões. WhfE −=c . A energia W designa-se por função trabalho. Aplicando a conservação da energia ao choque do fotão com o electrão, a energia cinética máxima do electrão é: Whfvme −=2max2 1 . Esta equação do efeito fotoeléctrico mostra que: � A energia cinética máxima só depende, para uma dada superfície metálica (mesmo W), da frequência da radiação incidente e não da intensidade da radiação. Há uma frequência mínima da radiação para arrancar electrões, pois tem de se verificar Whf ≥ para que ocorra efeito fotoeléctrico. A energia mínima do fotão que consegue arrancar um electrão é igual à função trabalho, Whf = . Por isso a frequência mínima é dada por h Wf =0 . Dualidade onda-corpúsculo para a luz A luz pode comportar-secomo onda ou como partículas, ou seja, tem um comportamento dual. 41 Figura 3.12: O registo do padrão de interferência na experiência de Young pode ser efectuado por um fotomultiplicador, que conta os fotões. Raios X Figura 3.13: O alemão Wilhelm Roentgen foi o primeiro físico distinguido com o prémio Nobel da Física, em 1901, pela sua descoberta dos raios X. Dualidade onda-corpúsculo para a matéria. Relação de De Broglie Se uma onda electromagnética pode ter características corpusculares, não poderá também uma partícula, como o electrão, ter comportamento ondulatório? Esta questão foi colocada pelo físico francês Louis de Broglie (Figura 3.14) que defendeu, em 1923, que todas as partículas deveriam possuir um comportamento 42 ondulatório. Segundo a relação de De Broglie o comprimento de onda de uma partícula era inversamente proporcional ao seu momento linear, tal como nos fotões (ver Questão 3.12): p h =λ Figura 3.14: Louis de Broglie, que afirmou que a natureza ondulatória era geral: aplicava-se a toda a matéria. Na altura esta hipótese não passava de uma arrojada especulação teórica. Mas logo veio a ter confirmação experimental. Em 1927, os físicos norte-americanos Davisson e Germer descobriram que um feixe de electrões de baixa energia produzia, ao incidir num cristal de níquel, um padrão de difracção semelhante ao de um feixe de raios X. Variando a energia do feixe e, consequentemente, o momento linear dos electrões, a relação de De Broglie pôde ser confirmada a partir da análise dos padrões de difracção. No ano seguinte G.P. Thomson, filho de J.J. Thomson, em Inglaterra, voltou a confirmá-los. Lançando um feixe de electrões de alta energia sobre folhas muito finas de alumínio, Thomson obteve padrões de difracção semelhantes aos que se obtinham por difracção de raios X dessas mesmas folhas (Figura 3.15). É irónico que, mais de trinta anos após J. J. Thomson ter ganho em 1906 o prémio Nobel pela medida da relação carga/massa do electrão, que o identificou como partícula, o seu filho tenha partilhado o prémio Nobel com Davisson e Germer por ter provado que o electrão se comporta, por vezes, como uma onda! 43 Figura 3.15: Padrões de difracção de electrões por uma folha de alumínio (à direita) e de raios X (à esquerda). A hipótese de De Broglie foi amplamente testada para muitos outros tipos de partículas como neutrões, protões e até átomos de hidrogénio e de hélio. Todas estas partículas produzem padrões de difracção semelhantes aos que Davisson, Germer e Thomson obtiveram para electrões, tendo sido verificada a relação entre o comprimento de onda e o momento linear para todas estas partículas. Caixa lateral Tal como a luz, a matéria tem uma natureza dual: ora se comporta como uma onda ora como uma partícula. Bohr e o átomo de hidrogénio Espectros riscas Figura 3.16: Espectro de emissão de vapor de mercúrio. Figura 3.17: Niels Bohr, físico dinamarquês que ganhou o prémio Nobel da Física em 1922 pela sua explicação da estrutura dos átomos. 44 Vejamos o átomo mais simples, o de hidrogénio, com um só electrão e um núcleo constituído por um único protão. Bohr supôs que este electrão só poderia girar em torno do protão em órbitas com certos raios e que, nestas órbitas, o electrão não perderia energia sob a forma de radiação (diz-se que o electrão está num estado estacionário). À órbita de menor raio corresponde o estado estacionário de menor energia, o estado fundamental. Normalmente, o electrão estará no estado fundamental. Porém, se o electrão receber energia suficiente (por exemplo, com uma fonte de luz), passa para uma órbita de maior raio, ficando num estado excitado. O electrão tende a voltar ao estado de menor energia, emitindo energia sob a forma de luz. Designando por E∆ a energia ganha ou perdida, vem, segundo Bohr, hfE =∆ , onde h é a constante de Planck. Os espectros mostravam que apenas luz de certas frequências era emitida pelos átomos excitados, o que levou Bohr a concluir que os níveis de energia dos electrões nos átomos estariam quantificados, ou seja, só podiam ter determinados valores. Isto corresponde a supor que o electrão só pode ter órbitas com determinados raios. Supondo que os raios das órbitas do electrão no átomo de hidrogénio só podiam tomar os valores (Figura 3.18) ,...3,2,1,20 == nnar onde m1053,0 100 −×=a é o raio da órbita do electrão no estado fundamental, Bohr conseguiu reproduzir com notável precisão todas as riscas observadas do espectro do hidrogénio. O número inteiro n é chamado número quântico principal. Isto foi um grande triunfo da teoria dos quanta! n=1 n=2 n=3 Figura 3.18: Primeiras três órbitas do electrão no modelo atómico de Bohr aplicável ao hidrogénio. 45 Princípio de Incerteza e Mecânica Quântica Quanto maior for a precisão com que se determina a posição de uma partícula, menor será a precisão com que se conhecerá a sua velocidade nesse instante. Figura 3.19: Werner Heisenberg, físico alemão que formulou o princípio da incerteza e que foi um dos fundadores da Mecânica Quântica. Heisenberg recebeu em 1932 com o prémio Nobel da Física.
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