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Teoria geral do processo eletrônico Apresentação do processo eletrônico à luz da teoria geral do processo. Prof.ª Larissa Pochmann 1. Itens iniciais Propósito Compreender o processo eletrônico à luz da teoria do processo, com a identificação da sua contribuição para a realização do acesso à Justiça, da celeridade processual e da identificação do diálogo das fontes na relação entre o princípio da publicidade processual e a previsão da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Preparação Antes de iniciar seus estudos, leia as disposições da Lei nº 11.419/2006 e os artigos 193 a 199 do Código de Processo Civil. Objetivos Identificar a contribuição do processo eletrônico para o acesso à Justiça. Analisar a celeridade processual na prática de atos por meio eletrônico. Reconhecer os desafios do princípio da publicidade processual diante das disposições da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Introdução O desenvolvimento e a regulamentação do processo eletrônico no Brasil têm como perspectivas a facilitação do acesso à Justiça e a libertação dos entraves formais e burocráticos que consomem boa parte do tempo e da energia na tramitação de um processo (GRECO, 2001, p. 77). A prática dos atos por meio eletrônico é associada, em suas origens, à Lei nº 9.800/1999, que permitiu às partes a utilização de sistemas de transmissão de dados para prática de atos processuais, exigindo, porém, a protocolização dos originais. Houve, na sequência, leis que previram a prática de atos processuais por meio eletrônico, como, por exemplo, a Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/1991), a Lei dos Juizados Especiais Federais (Lei nº 10.259/2001), a Lei nº 11.280/2006, que inseriu o parágrafo único ao artigo 154 do Código de Processo Civil de 1973, tratando da prática e da comunicação dos atos processuais por meio eletrônico, e a Lei nº 11.382, de 6 de dezembro de 2006, que, entre outras alterações na execução, incluiu o artigo 655-A no Código de Processo Civil de 1973, possibilitando que o juiz promovesse a penhora on-line. Porém, foi a partir da Lei nº 11.419, de 19 de dezembro de 2006, conhecida como Lei de Informatização do Judiciário, que o tema teve nítido destaque. A referida legislação é dividida em quatro capítulos: I - Da informatização do processo judicial; II - Da comunicação eletrônica dos atos processuais; III - Do processo eletrônico; IV - Disposições gerais e finais. Entre as suas referências, merecem destaque: O artigo 1º, que admite a possibilidade de tramitação dos processos judiciais por meio eletrônico; O artigo 3º, que dispõe que o ato processual praticado por meio eletrônico será tempestivo se praticado dentro das 24 horas do dia; Os artigos 4º e 5º, que tratam da comunicação dos atos processuais por meio eletrônico; O artigo 11, que versa sobre os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos processos eletrônicos. No ano de 2013, a Resolução nº 185 do Conselho Nacional de Justiça instituiu o sistema processual judicial eletrônico (PJe) como sistema de informações e prática dos atos processuais, estabelecendo os parâmetros para a sua implementação e funcionamento. A relevância do processo eletrônico foi ainda consagrada no Código de Processo Civil de 2015, em vigor desde 18 de março de 2016. O diploma dedicou a Seção II do Capítulo I do Livro IV à prática eletrônica dos atos processuais - mais precisamente, os artigos 193 a 199, sendo que o artigo 194 destaca que os sistemas informatizados devem respeitar a publicidade dos atos e o acesso e participação das partes e procuradores. Já o artigo 195 trata do • • • • • • • registro do ato processual praticado por meio eletrônico, enquanto o 197 se preocupa com a transparência e a acessibilidade. 1. Acesso à Justiça Ligando os pontos O processo eletrônico proporciona uma grande contribuição para o acesso à Justiça ao permitir a supressão de algumas etapas meramente burocráticas do processo por meio da utilização de sistemas automaticamente capazes, por exemplo, de certificar o decurso do prazo processual, reduzindo a quantidade de recursos humanos necessária. Além disso, a tramitação eletrônica dos autos também reduz a quantidade de impressões realizadas pelo Poder Judiciário e a circulação de documentos em meio físico. Além do ingresso de processos já por meio eletrônico, os Tribunais estão concentrando seus esforços para a digitalização dos autos físicos a fim de que eles também possam tramitar eletronicamente. É certo que a tramitação eletrônica dos autos possui desafios, como o acesso a equipamentos de informática e uma boa conexão de internet, a instabilidade do sistema dos Tribunais e o risco de ataque de hackers. Essas questões se colocam como ponto de atenção, mas não reduzem a relevância da contribuição do processo eletrônico para o acesso à justiça. Dito isso, nos autos em que a empresa XYZ discute uma indenização em face da empresa ABC, devido à complexidade da questão tratada e da quantidade de recursos interpostos e incidentes suscitados, o processo tramita há mais de uma década no Judiciário: de início, fisicamente; em seguida, digitalizados. A digitalização foi considerada muito importante pelas partes e pelos advogados, sobretudo pelo tempo que o processo já tramita. A partir dela, seriam permitidas a supressão de algumas etapas cartorárias, reduzindo a quantidade de atos e o tempo do processo no cartório. Porém, em novembro de 2020, quando o processo já tramitava eletronicamente no Superior Tribunal de Justiça e estava para inclusão em pauta de julgamento, o Superior Tribunal de Justiça divulgou em seu site que, em razão de ataque cibernético, funcionaria em regime de plantão . O ataque cibernético deixou o site dos Tribunais fora do ar por dias para que o sistema e a segurança pudessem ser estabelecidos e para os advogados refletissem sobre a contribuição e, ao mesmo tempo, sobre os desafios do processo eletrônico para o acesso à Justiça. Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 Como visto no case supra, o processo eletrônico inegavelmente possui uma importante contribuição para o acesso à Justiça. Aponte uma dessas contribuições. A O processo eletrônico permite que sejam suprimidos os pronunciamentos decisórios. B O processo eletrônico permite a supressão de algumas etapas cartorárias, reduzindo a quantidade de atos e o tempo do processo no cartório. C O processo eletrônico torna desnecessária a assistência das partes por advogado, permitindo que elas mesmas possam praticar o ato processual. D O processo eletrônico possui os mesmos custos do processo físico, apenas sendo mais ágil. E O processo eletrônico possui prioridade legal de tramitação diante dos autos físicos. A alternativa B está correta. O processo eletrônico não suprime os atos decisórios nem torna desnecessária a assistência por advogado, apenas retirando as chamadas fases mortas do processo. Ele ainda possui um custo menor que o processo físico. Porém, apesar de mais célere, o processo eletrônico não possui prioridade legal de tramitação diante do processo físico. Questão 2 Os desafios do processo eletrônico acabam sendo superados diante da sua relevância para a promoção do acesso à Justiça. Como operador do direito, assinale a alternativa que retrata um dos desafios para o processo eletrônico. A A redução da quantidade de recursos materiais e humanos. B A otimização das fases processuais. C A conservação dos documentos e provas. D A exclusão digital, que afasta muitos cidadãos do acesso à prestação jurisdicional. E A celeridade processual. A alternativa D está correta. Todos os demais itens tratados se revelam, na verdade, como contribuições do processo eletrônico para o acesso à Justiça, sendo a exclusão digital o único desafio previsto na questão, pois a dificuldade de acesso a computadores e a equipamentos tecnológicos, além de um bom sinal de internet, pode alijar o cidadão da prestação jurisdicional. Questão 3 Oprocesso eletrônico revela-se fundamental para a manutenção da prestação jurisdicional e a realização do acesso à Justiça. No entanto, ainda é possível destacar que certos entraves precisam ser superados para que a tramitação dos autos pela forma eletrônica possa se realizar de forma mais adequada. A partir do case, você pode apontar e comentar esses desafios? Chave de resposta Dessume-se do case que um dos desafios a superar entraves do processo eletrônico é o risco de ataques cibernéticos, havendo o necessário reforço da atenção com a garantia da segurança da informação, do constante acompanhamento dos sistemas tecnológicos para evitar instabilidades e da realização de políticas públicas de combate à exclusão digital. A concepção de acesso à Justiça O acesso à Justiça não é uma preocupação recente ao longo da história (CARNEIRO, 2007, p. 3). Esse acesso significa tanto o sistema no qual os cidadãos buscam assegurar seus direitos como o lugar em que eles submetem seus conflitos ao Estado (CAPPELLETTI; GARTH, 2002, p. 6). Alguns estudos acabaram se destacando sobre o tema. Um deles é o Projeto Florença. O projeto de pesquisa resultou em um relatório comparativo sobre o acesso à Justiça com escala mundial; preparado em Florença, na Itália, a partir de 1973, ele envolveu 100 experts de 27 países. Coordenada por Mauro Cappelletti em colaboração com Bryant Garth e Nicolò Trocker, a pesquisa foi publicada em quatro volumes a partir de 1974/1975. Apenas o último volume, que apresenta as conclusões dela, foi traduzido para o português. As conclusões do projeto representaram uma importante transformação na compreensão do acesso à Justiça, sendo detectadas barreiras para sua efetividade. Cada uma dessas barreiras foi tratada como uma onda renovatória do acesso a ela. Primeira onda A primeira onda de acesso à Justiça envolveu os hipossuficientes. Foi constatado na pesquisa que, na maioria dos países, a representação por um advogado era essencial - em alguns casos, até indispensável. Entretanto, a assistência judiciária gratuita foi constada como insuficiente, porque os advogados mais experientes tenderiam a concentrar seu tempo e esforços em causas que receberiam honorários, sendo a advocacia pro bono, em geral, realizada por profissionais menos experientes (CAPPELLETTI; GARTH, 2002, p. 24). Segunda onda A segunda onda renovatória versou sobre o problema da representação dos interesses difusos. A concepção tradicional do processo civil não deixava espaço para a proteção dos direitos difusos e torna latente a preocupação com uma representatividade adequada, já que não haveria participação individual na demanda e a noção de coisa julgada necessitava ser redimensionada (CAPPELLETTI; GARTH, 2002, p. 50). A pesquisa constatou que, embora seja a principal forma de proteção dos direitos difusos e coletivos, a atuação governamental, especialmente nos países de common law, não tinha sido capaz de fazê-lo (CAPPELLETTI; GARTH, 2002, p. 51). Apesar de haver grupos tutelando o interesse coletivo por meio de advogados privados, eles não eram bem organizados em todos os setores, havendo uma razoável organização na área trabalhista, mas não em matéria consumerista ou para a defesa ambiental. As class actions reduziriam os custos estatais, embora exigissem especialização, experiência e recursos em áreas específicas que nem todos os grupos possuíam (CAPPELLETTI; GARTH, 2002, p. 61). Organizações de fins não lucrativos também se constituíam para essa defesa, porém a pesquisa atentou para a responsabilidade pelos interesses que representam e a viabilidade a longo prazo. Terceira onda A terceira onda renovatória incluiu o conjunto geral de instituições e mecanismos, pessoas e procedimentos utilizados para processar e prevenir disputas. Esse enfoque encorajou uma ampla variedade de reformas, como alterações no procedimento, mudanças na estrutura dos Tribunais, o uso de pessoas leigas ou profissionais, assim como as modificações no direito substantivo a fim de prevenir litígios e a utilização de mecanismos extrajudiciais de solução deles. Reconheceu-se ainda a necessidade de adequar o processo civil ao tipo de litígio. O estudo realizado teve tanta relevância que, no Brasil, nas décadas seguintes, outras obras se consagraram ao realizar uma releitura do acesso à Justiça. Um dos destaques é a obra do professor Paulo Cezar Pinheiro Carneiro (2007, p. 55), que trouxe quatro pilares fundamentais: Proporcionalidade A escolha a ser feita pelo julgador quando existem dois interesses em conflito. Operosidade Todos os envolvidos na atividade judicial devem atuar de forma que se atinja o efetivo acesso à Justiça. Acessibilidade A existência de sujeitos de direito capazes de estar em juízo, utilizando-se adequadamente o instrumental jurídico e possibilitando a efetivação de direitos individuais e coletivos. Utilidade Por utilidade, entende-se que o processo deve assegurar o resultado da demanda com o menor sacrifício para as partes. Na esfera da tutela coletiva, ele é concretizado pelo alcance subjetivo da coisa julgada, a qual, se julgada procedente, pode beneficiar toda a coletividade, não se restringindo ao panorama típico de demandas individuais de efeitos limitados a autor e réu. Outra contribuição que se destaca é a de Rodolfo de Camargo Mancuso (2009), que interpretou condicionantes legítimas e ilegítimas ao acesso à Justiça ao abordar a temática da crise numérica dos processos judiciais, com as consequentes medidas adotadas no ordenamento nacional para a redução desse número e sugestões para um Judiciário renovado. Também merece destaque a contribuição de Kazuo Watanabe (2019), cuja leitura do acesso à Justiça a vê como um acesso à ordem jurídica justa a partir das formas não mais consideradas alternativas, e sim adequadas à solução de conflitos. Além disso, o autor aborda temas pertinentes, como Juizados Especiais, assistência judiciária e processo coletivo. O tema “acesso à Justiça”, portanto, permanece atual, permitindo reflexões sobre sua concepção e modos de aprimoramento do atual estado da arte. O processo eletrônico é um dos temas que se soma a esses desdobramentos das concepções de acesso à Justiça, revelando-se a ela indissociável, como passaremos a demonstrar. O processo eletrônico e o acesso à Justiça Benefícios do processo eletrônico Neste vídeo, a professora trata do processo eletrônico e de como o acesso à Justiça pode ser beneficiado por esse tipo de processo. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Na atualidade, considerando o cenário globalizado, não se pode tratar de acesso à Justiça sem as novas tecnologias. A informatização do Poder Judiciário contribui para a realização da primeira e da terceira ondas renovatórias de acesso a ela. Em relação à primeira onde renovatória, nota-se a redução dos custos processuais. O processo eletrônico permite a diminuição da quantidade de impressões realizadas pelo Poder Judiciário e a circulação de documentos em meio físico, otimizando o uso de recursos materiais, além de suprimir etapas meramente burocráticas do processo graças à utilização de sistemas automaticamente capazes de, por exemplo, certificar o decurso do prazo processual, reduzindo a quantidade de recursos humanos necessária. A título de exemplo, pode-se constatar, pela previsão do artigo 1.007, §3º, do Código de Processo Civil, que os custos do processo eletrônico acabam sendo menores que os do processo físico. Além disso, no eletrônico, não há a necessidade de deslocamento até o fórum para consulta aos autos. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) lançou, em 2021, o projeto Justiça 4.0 com o objetivo de promover o acesso à Justiça por meio de ações e iniciativas desenvolvidas para o uso colaborativo de produtos que empregam novas tecnologias e inteligência artificial. Como medida, destaca- se a implantação do Juízo 100% Digital nos termos das Resoluções nº 345/2020 e 378/2021. Outra frente de trabalho é a implantação do Balcão Virtual, regulamentadopela Resolução nº 372/2021 do Conselho Nacional de Justiça, com a comunicação a distância. As sustentações orais aumentaram muito a partir das sessões telepresenciais, justamente porque se passou a poder sustentar de qualquer lugar, sem a necessidade do deslocamento. Um advogado que esteja no interior não precisa mais gastar horas de deslocamento para realizar uma sustentação oral presencial no Tribunal. Do mesmo modo, o contato e o atendimento, durante e depois do período de pandemia, poderiam ser estabelecidos remotamente, facilitando o acesso e propiciando economia para as partes e os profissionais envolvidos. Além disso, a informatização permite a desburocratização do processo com a racionalização de procedimentos, como a anexação de minutas em bloco, a movimentação simultânea de blocos de processo e a aposição de assinatura eletrônica. Os espaços eletrônicos possuem ainda alta capacidade de armazenamento, liberando o espaço físico dos fóruns e, ao mesmo tempo, conservando as informações e as provas. Destaca Humberto Dalla Bernardina de Pinho que: Há uma maior celeridade, na medida em que os atos de cartório deixam de tomar o tempo das varas; um menor valor de custas ou impostos, uma vez que o processo eletrônico é mais barato e, principalmente, celeridade na resolução dos conflitos. (PINHO, 2019, p. 415) Não se pode esquecer também que, não obstante sua inegável contribuição ao acesso à Justiça, o processo eletrônico é permeado de desafios. Um deles é o da instabilidade do sistema, que, como todo e qualquer programa informático, pode ter momentos de instabilidade. Esses momentos, em geral, não costumam durar muito: dependendo do tempo de duração, podem gerar a suspensão dos prazos processuais no dia em que houve a instabilidade, de forma a não prejudicar o jurisdicionado. Quando as instabilidades do sistema acabaram sendo muito frequentes, durante o primeiro semestre de 2022, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), a OABRJ anunciou que se dirigiria ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na tentativa de reverter as que ocorreram no sistema de peticionamento eletrônico a fim de assegurar a realização da prestação jurisdicional. Outro desafio refere-se à segurança dos atos praticados por meio eletrônico e à autenticidade dos documentos apresentados, apesar de esse tema ser acompanhado pelo Conselho Tribunal de Justiça e pelos próprios Tribunais. Exemplo Alguns Tribunais pátrios já sofreram ataques de hackers. O site do Superior Tribunal de Justiça (STJ) passou alguns dias fora do ar a partir de 4 de novembro de 2020. O Tribunal, porém, não deixou de realizar a prestação jurisdicional por meio do regime de plantão (STJ, 2020). O reforço da segurança de informações digitais precisa ser tratado como prioridade, pois há muitas informações disponíveis eletronicamente. O ataque cibernético, além de dificultar a realização da prestação jurisdicional, pode deixar muitas informações relevantes expostas. Por fim, mas não menos importante, não se pode esquecer da exclusão digital, já que muitos jurisdicionados não possuem um computador ou acesso à internet. Sobre o tema, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a Resolução nº 101, de 2021, prevendo algumas medidas para a garantia do acesso à Justiça aos excluídos digitais. Entre tais medidas, destaca-se a recomendação aos Tribunais brasileiros de disponibilizar em suas unidades físicas pelo menos um servidor em regime de trabalho presencial durante o horário de expediente regimental, ainda que acumulando funções, para o atendimento aos excluídos digitais a fim de garantir o amplo acesso à Justiça, efetuando o encaminhamento digital dos eventuais requerimentos formulados. Os desafios trazidos pelo processo eletrônico, em suma, apontam a necessidade de reflexão sobre o tema, mas não reduzem a sua grande relevância no acesso à Justiça. Vem que eu te explico! Ondas renovatórias do acesso à Justiça Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Condicionantes legítimas e ilegítimas ao acesso à Justiça Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 O acesso à Justiça é uma das mais antigas preocupações da humanidade, sendo objeto de constante e intenso debate no país. Uma de suas obras mais lembradas é a intitulada Acesso à Justiça, traduzido apenas em seu último volume, que apresenta a conclusão das pesquisas para o português. A partir dos estudos desenvolvidos no Brasil sobre o tema do acesso à Justiça, assinale a alternativa correta. A Os estudos sobre o acesso à Justiça no Brasil apenas começam a se refletir a partir do final da década de 1990, estando concentrados na insuficiência de um processo estritamente individual. B A gratuidade de justiça foi o único tema objeto de apreciação e acompanhamento para o acesso à Justiça. C O acesso à Justiça se mostrou como uma preocupação constante também na realidade brasileira, envolvendo a análise dos custos processuais e da gratuidade de justiça, a insuficiência de um processo estritamente individual e as formas de solução de conflitos. D O procedimento judicial é uma preocupação do acesso à Justiça, mas os métodos de solução de conflitos, por serem alternativos à jurisdição, acabaram alijados desse estudo. E O acesso à Justiça deve ser lido como sinônimo de acesso ao Judiciário, sendo as demais um conflito tratado à parte do estudo do direito processual. A alternativa C está correta. A alternativa A está equivocada, pois os estudos de acesso à Justiça já existiam antes no país, permanecendo aqui como uma preocupação constante. Já a B está incorreta, porque a gratuidade de justiça foi apenas uma das concepções, mas não a única. A D está equivocada, pois passou-se a tratar não apenas de acesso à Justiça como de acesso a uma ordem jurídica justa. Por fim, a E está incorreta, pois o acesso à Justiça e à ordem jurídica justa e os métodos adequados de solução de conflitos são objeto de estudo do direito processual. Questão 2 O processo eletrônico é um dos temas que se soma a esses desdobramentos das concepções de acesso à Justiça. Sua contribuição para o acesso a ela se revela mais latente sobretudo a partir da primeira e da terceira ondas renovatórias identificadas no Projeto Florença. Marque a alternativa que pode ser identificada como uma das contribuições do processo eletrônico para o acesso à Justiça. A A existência de custos específicos independentemente de seu valor, que pode ser até mesmo maior que o do processo físico. B O risco de instabilidade dos sistemas processuais. C A exigência de um bom sinal de internet e de equipamentos de informática modernos. D A necessidade de segurança nos sistemas eletrônicos para evitar o ataque de hackers. E A redução da quantidade de recursos materiais e humanos. A alternativa E está correta. Apenas a alternativa E reflete a contribuição do processo eletrônico para o acesso à Justiça. Na A, o equívoco está no fato de que o processo eletrônico representa uma redução dos custos. Já as alternativas B, C e D são desafios do processo eletrônico – e não uma contribuição. 2. Celeridade processual Ligando os pontos Em notícia vinculada no site do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, a desembargadora Célia Regina de Lima Pinheiro declarou o seguinte: “Tenho convicção de que a Justiça Digital permite um progressivo diálogo entre os ambientes real e virtual para a gestão da governança e dos processos, fortalecendo a transparência do Poder Judiciário e fomentando a aproximação para com o cidadão. Todas essas conquistas exigem o comprometimento ainda maior de cada um de nós para atingirmos o único objetivo: otimizar a prestação jurisdicional à sociedade”. Apresentação do trabalho realizado pelo Judiciário Estadual em relação ao programa do CNJ Justiça 4.0. O Tribunal de Justiça do Maranhão foi um dos primeiros do país a implementar o Juízo 100% Digital nos termos das resoluções nº 345/2020 e 378/2021, uma opção do jurisdicionadoque alia o processo eletrônico a todos os atos processuais praticados exclusivamente por meio eletrônico, inclusive as audiências. Com isso, a citação, a notificação e a intimação poderão ser feitas por qualquer meio eletrônico, enquanto as audiências e sessões de julgamento ocorrerão exclusivamente por videoconferência, bem como o atendimento a jurisdicionados e advogados, sem qualquer restrição de matéria. É importante ressaltar que a prática dos atos processuais já era contemplada em nosso ordenamento, sendo total ou parcialmente regulamentada primariamente pelo Conselho Nacional de Justiça e supletivamente pelos Tribunais, os quais ainda precisam manter gratuitamente à disposição dos interessados os equipamentos necessários tanto à prática de atos processuais quanto à consulta e ao acesso ao sistema e aos documentos dele constantes. O Juízo 100% Digital será um grande avanço para a tramitação dos processos e vai propiciar mais celeridade por meio do uso da tecnologia, evitando os atrasos decorrentes da prática de atos físicos ou que exijam a presença das partes nos fóruns. Diante disso, José, residente nos Estados Unidos, mas já com planos de retorno ao Brasil diante de uma nova oportunidade de emprego, ajuíza uma ação de guarda e visitação para que Maria, mãe que reside no Maranhão com o menor J., absolutamente incapaz, não mais impeça a visita dele ao incapaz após o retorno ao país. Apesar de José residir fora do Brasil e de a genitora trabalhar durante todo o dia, não tendo tempo de se deslocar ao fórum, as partes manifestaram desinteresse na tramitação dos autos em um Juízo 100% Digital do Tribunal de Justiça do Maranhão por desconhecerem do que se tratava. Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 Conquanto o processo 100% digital fosse ideal para as partes processuais do case, pois, entre os seus benefícios, destacam-se o acesso à Justiça e a celeridade processual, José e Maria recusaram a tramitação dos autos em um Juízo 100% Digital do Tribunal de Justiça do Maranhão. Diante disso, assinale a alternativa correta: A Onde estiver disponível o Juízo 100% Digital, sua utilização será obrigatória. B Direito de família, direito previdenciário e questões trabalhistas não podem tramitar em um Juízo 100% Digital. C No Juízo 100% Digital, todos os atos serão realizados de forma eletrônica e as audiências e sessões de julgamento, por videoconferência. D No juízo 100% Digital, o atendimento ao jurisdicionado será exclusivamente presencial. E A comunicação dos atos processuais se realizará presencialmente para assegurar a efetiva ciência. A alternativa C está correta. Na alternativa A, trata-se de utilização não obrigatória, e sim fruto da manifestação da vontade das partes. Na B, não há qualquer vedação à tramitação em Juízos 100% Digitais. Na D, o atendimento será feito também de forma eletrônica, assim como na alternativa E a comunicação dos atos processuais se realizará de forma eletrônica. Questão 2 Sobre o advento e a prática dos atos processuais no Juízo 100% Digital, assinale, a partir do case, a alternativa correta. A O Juízo 100% Digital é uma iniciativa da presidência de cada Tribunal, não sendo o tema tratado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). B O Juízo 100% Digital pode ter, quando necessário, a prática de atos integralmente presenciais. C O Juízo 100% Digital é previsto nas resoluções nº 345/2020 e 378/2021 como uma opção do jurisdicionado. D O Juízo 100% Digital foi a primeira disposição brasileira sobre a prática dos atos processuais por meio eletrônico. E O Juízo 100% Digital pode representar um retrocesso para a celeridade processual. A alternativa C está correta. A alternativa A está incorreta, porque o tema foi regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e está sendo implementado por cada Tribunal. A B está errada, pois a prática dos atos será por meio eletrônico. A D está incorreta por haver disposições anteriores sobre processo eletrônico. Já a alternativa E está equivocada, uma vez que a prática dos atos processuais integralmente de forma eletrônica reduzirá ou eliminará etapas meramente burocráticas do processo, contribuindo para a celeridade processual. Questão 3 A partir do caso envolvendo o direito de família no Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, reflita sobre o que é o Juízo 100% Digital e responda como ele poderia contribuir com a duração razoável do processo. Chave de resposta O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) lançou, em 2021, o projeto Justiça 4.0, cujo objetivo é promover o acesso à Justiça por meio de ações e iniciativas desenvolvidas para o uso colaborativo de produtos que empregam novas tecnologias e inteligência artificial, sem qualquer restrição de matéria. O propósito é que, como uma opção das partes, os autos possam tramitar integralmente e ter todos os atos processuais praticados por meio eletrônico. Deve ser, portanto, trazida a perspectiva de que as novas tecnologias reduzem o tempo de prática dos atos processuais, suprimindo etapas antes meramente cartorárias e proporcionando uma maior celeridade aos processos. A duração razoável do processo A garantia fundamental da duração razoável do processo, insculpida, a partir da Emenda nº 45/2004, no artigo 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal, se trata de um tema que não é recente nem peculiar ao cenário brasileiro. Na verdade, ela assume uma inegável relevância diante da vultosa atuação do Poder Judiciário para a tutela dos direitos fundamentais e implementação de políticas públicas. Para isso, primeiramente é preciso compreender o conteúdo da chamada duração razoável do processo. Em inúmeros julgamentos proferidos pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) sobre o tema, foram estabelecidos alguns critérios objetivos utilizados para a determinação da duração razoável do processo, mediante o cotejo com as particularidades do caso concreto, a fim de evitar dilações indevidas - notadamente, incidentes processuais totalmente impertinentes e irrelevantes. Isso ocorreu, por exemplo, nos seguintes casos: König, de 10/03/1980; Bucholz, de 06/05/1981; Eckle, de 15/07/1982; Corigliano, de 10/12/1982; Pretto, de 08/12/1983; Zimmermann-Steiner, de 13/07/1983; Lechner e Hess, de 23/04/1987; Capuano, de 25/06/1987; Baggetta, de 25/06/1987; Milasi, de 25/06/1987; Sanders, de 07/07/1990; Moreiras de Azevedo, de 23/10/1990; e Vernillo, de 20/02/1991 (TUCCI, 1997, p. 68). Os critérios estabelecidos pelo TEDH foram: A complexidade do litígio A complexidade da causa a justificar um eventual prolongamento do processo pode se dar nos casos de pluralidade das partes em razão da cumulação de pedidos, de litisconsórcios multitudinários, por ser decorrente da produção probatória (critério fático) ou em virtude da natureza da questão debatida (critério jurídico) (BERALDO, 2010, p. 39-40). Determinadas causas, a depender de sua complexidade, exigem uma análise mais detida do Poder Judiciário, isto é, um tempo maior para a tramitação dos processos do que outras. A conduta pessoal da parte lesada A conduta pessoal da parte lesada significa que as próprias partes, por meio de uma atuação protelatória, graças à provocação de incidentes dilatórios ou com a interposição de sucessivos recursos, bem como aquela que, por falta de diligência, não contribuiu para o seu andamento (GRECO, 2005, p. 242), podem comprometer a duração razoável do processo. A conduta das autoridades envolvidas no processo Quanto ao critério da conduta das autoridades competentes, cabe ao Estado organizar a estrutura judiciária de forma a permitir uma duração razoável dos processos. Verifica-se se as autoridades tomaram medidas apropriadas para gerenciar acúmulo temporário e imprevisível de processos. Em caso positivo, o maior tempo de processamento de alguns casos pode ser justificado. O interesse em jogo para o demandante da indenização Analisam-se também as peculiaridades do caso concreto, uma vez que algumas questõesnecessitam de uma prestação jurisdicional mais célere, tais como aquelas que envolvem réu preso, alimentos e saúde. O processo eletrônico e a duração razoável do processo A garantia da duração razoável Neste vídeo, a professora discorre sobre como a garantia da duração razoável do processo pode ser promovida pelo uso do processo eletrônico. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. O processo eletrônico já é uma realidade presente em todos os estados do país e deve tornar-se, dentro de poucos anos, a principal porta de acesso ao Poder Judiciário. Basta consultar que, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) disponibilizados em 2020 (com base no ano de 2019), neste último ano, 88% dos processos que ingressaram no Judiciário brasileiro foram por intermédio da via eletrônica (CNJ, 2020). O processo eletrônico, por sua vez, se enquadra na terceira onda. Demonstrando esse enquadramento, é possível observar que, em seus dispositivos, a Lei nº 11.419/2006 proporcionou ao processo, por meio do procedimento eletrônico e de suas peculiaridades, um grande avanço. Os processos eletrônicos eliminam inúmeras tarefas processuais que ainda são realizadas manualmente, diminuindo a morosidade e a demora. Eles permitem que os atos processuais sejam gerados e registrados automaticamente em ordem cronológica dos acontecimentos do processo. Os documentos que integram o processo, como a petição inicial, petições em geral, contestação, despachos, decisões interlocutórias, sentenças e acórdãos, também são produzidos eletronicamente e armazenados em um banco de dados desenvolvido para essa finalidade. As sessões por videoconferência permitem que a prestação jurisdicional não pare, mesmo com a impossibilidade de deslocamento até o local do julgamento. Assim, toda a tramitação do processo ocorre por meio virtual, desde a distribuição até o cumprimento da sentença. Ademais, o registro de ato processual eletrônico deverá ser feito em padrões abertos, ou seja, o sistema usado não pode ter custo ou forma de limitação ao uso. Essas possibilidades são reforçadas pela Lei nº 11.419/2006 (Lei do Processo Eletrônico). O art. 3º, parágrafo único, permite o protocolo das petições até as 24 horas do último dia do prazo. Segundo Humberto Dalla Bernardina de Pinho, “com a nova sistemática os advogados não ficam mais restritos ao horário de fechamento do setor de protocolo, podendo aproveitar ao máximo o último dia de prazo” (PINHO, 2019, p. 410). No mesmo sentido, o art. 10 dessa lei permite a distribuição e o protocolo automático nos autos do processo sem a intervenção do cartorário e da secretaria judicial. As citações, inclusive da Fazenda Pública, conforme artigo 6º da Lei nº 11.419, podem ocorrer de forma eletrônica, bem como as intimações, segundo artigo 5º da mesma lei, e as cartas como atos de cooperação entre juízos, de acordo com o artigo 7º. Não há a necessidade de repositório físico dos autos, podendo o processamento da ação judicial ter todo o seu processamento eletrônico, de forma mais célere, nos termos do artigo 8º da Lei nº 11.419. Às contribuições do processo eletrônico para a celeridade processual somam-se a utilização da inteligência artificial, que aumenta a produtividade dos Tribunais e reduz o tempo para que as decisões judiciais sejam proferidas, e a jurimetria. Em relação à inteligência artificial, merece especial destaque o Programa Justiça 4.0, que objetiva a promoção do acesso à Justiça por meio de ações e projetos desenvolvidos para o uso de inteligência artificial e novas tecnologias. O programa divulgado pelo Conselho Nacional de Justiça se calca nas seguintes ações e projetos: Implantação do Juízo 100% Digital. Projeto da Plataforma Digital do Poder Judiciário (PDPJ), com possibilidade de ampliar o grau de automação do processo judicial eletrônico e o uso de inteligência artificial (IA). Auxílio aos Tribunais no processo de aprimoramento dos registros processuais primários, consolidação, implantação, tutoria, treinamento, higienização e publicização da Base de Dados Processuais do Poder Judiciário (DataJud), visando a contribuir com o cumprimento da Resolução CNJ nº 331/2020. Colaboração para a implantação do sistema Codex, que tem duas funções principais: alimentar o DataJud de forma automatizada e transformar em texto puro decisões e petições para que possa ser utilizado como insumo de modelo de inteligência artificial. Desenvolvimento de ferramenta de pesquisa e recuperação de ativos (Sniper) para fornecer subsídios a magistrados e servidores que favoreçam a diminuição do acervo e do congestionamento processual na fase de execução, facilitando a compreensão de crimes que envolvem sistemas financeiros complexos, como corrupção e lavagem de dinheiro. Desenvolvimento de um novo Sistema Nacional de Bens Apreendidos (SNBA) que possibilite não apenas o cadastramento dos bens, mas também sua gestão e destinação pelo Poder Judiciário. O programa é de extrema relevância para o Poder Judiciário. Sua contribuição envolve: Inovação no Poder Judiciário Desenvolver e utilizar tecnologias disruptivas para aperfeiçoar os serviços prestados à sociedade. Eficiência Automatizar atividades dos órgãos de Justiça, aproveitando melhor os recursos humanos e materiais, fomentando a produtividade, reduzindo despesas e agilizando a prestação de serviços. Inteligência Extrair, gerenciar e armazenar dados de Tribunais de todo o país, apoiando a implementação de políticas judiciais efetivas com base em evidências. Colaboração Disponibilizar plataformas nacionais que os Tribunais podem usar para compartilhar soluções tecnológicas, adaptá-las a suas necessidades e evitar iniciativas duplicadas para as mesmas demandas. Integração Consolidar uma política nacional para a gestão do processo judicial eletrônico e viabilizar o compartilhamento de sistemas entre os Tribunais. • • • • • • Transparência Divulgar dados e informações em painéis completos, acessíveis e fáceis de usar tanto pelos órgãos de Justiça como pela sociedade como um todo. Já a jurimetria é a estatística aplicada ao direito e pode ser brevemente exposta a partir dos serviços de levantamento e processamento de dados, operando nos escritórios de aplicativos e softwares que medem a taxa de sucesso de uma demanda como suporte para as opções a serem tomadas diante de conflitos. Esse serviço poderá ser muito útil para promover o incremento de soluções consensuais, evitando a judicialização. Consequentemente, temas sem chance de êxito sequer ingressariam no Poder Judiciário, permitindo que a prestação jurisdicional pudesse se concentrar de forma mais adequada aos casos ali existentes. Sintetiza Humberto Dalla Bernardina de Pinho que o processo eletrônico: É o processo compatível com o princípio da celeridade a informatização processual, não só no ideal de acelerar as decisões feitas, respeitando-se a duração razoável do processo, mas também em proveito da solução de ações que se multiplicaram em razão de novas tecnologias que geram novas questões e novos direitos a serem enfrentados pela sociedade como um todo. (PINHO, 2019, p. 407) A implementação de novas tecnologias no Poder Judiciário pode trazer uma contribuição ainda maior para a redução do tempo gasto na prática dos atos processuais, além de retirar algumas fases cartorárias, que passam a ser realizadas diretamente pelo sistema de forma mais célere. Vem que eu te explico! Como definir a duração razoável de um processo? Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. O que é a jurimetria? Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 (Procuradoria Geral do Estado de Rondônia (PGE-RO) - procurador do Estado - 2022) Com relação ao processo judicial eletrônico e às normativas constantes na Lei nº 11.419/2006 e no Código de Processo Civil de 2015, assinale a opção correta. A No processo judicial eletrônico, todas as citações, intimaçõese notificações, exceto as da Fazenda Pública, deverão ser feitas por meio eletrônico, na forma da lei. B A regulamentação dos atos processuais eletrônicos fica a cargo do Conselho Nacional de Justiça, retirando- se, assim, a competência supletiva dos Tribunais para sua regulamentação. C A digitalização de documentos de grande volume torna-se inviável às vezes; por isso, eles poderão ser apresentados em cartório no prazo de 15 dias a contar de envio de petição que comunique o fato. D A publicação eletrônica, desde que feita na forma da lei, substitui outros meios de publicação oficial, exceto os casos em que a lei exige intimação pessoal. E Aos Tribunais é lícita a criação de um diário eletrônico para a publicação de comunicações em geral, sendo vedada a publicação de atos judiciais e administrativos. A alternativa D está correta. Na alternativa A, Fazenda Pública também pode ter a comunicação dos atos pelo meio eletrônico. Na B, não se retira a competência supletiva dos Tribunais; na C, não há inviabilidade. Na E, não ocorre a vedação aos atos judiciais e administrativos. Questão 2 (Prefeitura Municipal de Bauru - procurador jurídico - 2018) O ato processual pode assim ser definido como toda manifestação de vontade praticada no processo, seja lá por qual participante da relação jurídica processual (autor, réu, juiz, perito, escrevente etc.), necessariamente previsto ou permitido pelo procedimento, sob o qual corre determinada ação. O Código de Processo Civil de 2015 regulamenta a prática eletrônica dos atos processuais nos seguintes termos: A as unidades do Poder Judiciário deverão manter gratuitamente, à disposição dos interessados, equipamentos necessários à prática de atos processuais e à consulta e ao acesso ao sistema e aos documentos dele constantes. B Os atos processuais não podem ser realizados de forma parcialmente digital. C O registro de ato processual eletrônico deverá ser feito em padrões abertos ou fechados que atenderão aos requisitos de autenticidade, observada a infraestrutura de chaves públicas, estadual ou regional. D Compete aos Tribunais, de forma primária, regulamentar a prática e a comunicação oficial de atos processuais por meio eletrônico. E As unidades do Poder Judiciário assegurarão aos idosos acessibilidade à comunicação eletrônica dos atos processuais. A alternativa A está correta. A alternativa B está incorreta, porque os atos podem ser praticados total ou parcialmente de forma digital. A C está errada, pois os padrões devem ser abertos, ou seja, o sistema usado não pode ter custo ou forma de limitação ao uso. A D está incorreta, já que a regulamentação primária é do Conselho Nacional de Justiça e supletiva dos Tribunais. Já a alternativa E prevê apenas idosos quando a eles não se restringe. 3. Publicidade processual e proteção de dados Ligando os pontos Em seu artigo 93, inciso IX, a Constituição prevê como regra a publicidade dos atos processuais. O segredo de justiça é medida excepcional, sendo tratada, para os atos processuais civis, de acordo com as seguintes hipóteses do artigo 189 do Código de Processo Civil: que exigem o interesse público ou social; que versam sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; em que constam dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade e que versam sobre arbitragem, inclusive sobre o cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo. Porém, com o advento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), seria necessário dispor que dados que constam do processo judicial e que informações não devem ser expostas de forma desnecessária. Lembrou- se a necessidade de decidir a partir de dados que merecem proteção para preservação da intimidade de seu titular em um diálogo das fontes à luz das disposições da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), não deixando expostos dados que pudessem causar constrangimentos. Nesse contexto, o condomínio do Edifício Vale Feliz, devidamente representado por seu síndico, ajuizou ação em face de um de seus condôminos em virtude de débitos condominiais. Devido à grande quantidade de inadimplentes, o condomínio requereu a gratuidade de justiça, vindo o juiz a proferir despacho determinando a documentação comprobatória da hipossuficiência, já que ela não seria presumível no caso. A parte autora juntou extratos de conta corrente aos autos, além de balanços do condomínio e a relação de condôminos inadimplentes, com o valor das dívidas. Requereu ainda o segredo de justiça com base na LGPD e no direito à privacidade para que fosse apreciada a gratuidade de justiça. Fundamentou ela que, mesmo tratando-se de processo eletrônico, seria possível a obtenção de senha com acesso a informações que envolvem dados do condomínio e de terceiros. A parte contrária imediatamente se manifestou contrariamente ao segredo de justiça, vindo os autos para a conclusão do magistrado, que precisou examinar tanto as disposições sobre o princípio da publicidade e a excepcionalidade do segredo de justiça como as disposições da LGPD para poder decidir a questão. Em seu gabinete, o juiz precisa tomar uma decisão. Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos ligar esses pontos? Questão 1 Depois de ler o case, é legítimo o entretecer do caráter público dos atos processuais e o direito à privacidade das partes. Nessa senda, a Constituição prevê como regra a publicidade dos atos processuais, contemplando o artigo 189 do Código de Processo Civil hipóteses excepcionais em que os atos processuais serão praticados em segredo de justiça. Sobre o tema, assinale a alternativa correta. A Atos que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo. B Todos os atos que estiverem envolvidos no setor público. C Todos os processos em que o incapaz for autor. D Aqueles atos que versarem sobre execução fiscal. E Qualquer situação que envolva a arbitragem. A alternativa A está correta. Trata-se de previsão legal do artigo 189 do Código de Processo Civil, que prevê como regra a publicidade dos atos processuais e a exceção ser o segredo de justiça, sendo a alternativa A a única hipótese contemplada nesse dispositivo - mais precisamente, no artigo 189, inciso IV, do CPC. Os atos que envolvem o Poder Público, como previsto na alternativa B, não necessariamente tramitarão em segredo de justiça. A C é equivocada ao generalizar que todo processo que tem como parte autora um incapaz tramitará em segredo de justiça. A D também está errada, já que a execução fiscal não é, por isso, uma hipótese de segredo de justiça. A alternativa E está incorreta, porque não é qualquer situação que envolva arbitragem, e sim caso a confidencialidade esteja estipulada nela. Questão 2 Em relação às disposições da Lei de Proteção de Dados e diante do princípio da publicidade processual, você, como estudioso do Direito, pode afirmar que: A a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) trouxe o segredo de justiça como regra no direito processual. B a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) não se aplica aos processos judiciais. C o segredo de justiça deve ser considerado diante do diálogo das fontes, tendo-se a cautela de não expor informações desnecessárias e que possam comprometer/constranger a pessoa. D a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) trouxe a previsão de que os dados das partes não devem mais constar na petição inicial. E a partir da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), as hipóteses de segredo de justiça passarão a abranger todas as informações dos autos. A alternativa C está correta. A partir da previsão da LGPD, a publicidade continuou sendo a regra e o segredo de justiça, excepcional, devendo-se, em um diálogo das fontes, evitar a exposições de informações desnecessárias e que possam comprometer/constranger a pessoa.Questão 3 Como o juiz deve decidir a concessão do segredo de justiça a partir da juntada desses documentos diante das previsões da LGPD? Chave de resposta Nesse caso, a regra deve ser a publicidade e a excepcionalidade, o segredo de justiça, justamente a partir de dados que merecem proteção para a preservação da intimidade de seu titular em um diálogo das fontes à luz das disposições da LGPD. O princípio da publicidade processual O princípio da publicidade processual tem sua previsão no artigo 10 da Declaração Universal dos Direitos do Homem e no artigo 5º, inciso LX, da Constituição, sendo que a última disposição prevê que a regra é a publicidade e que a exceção ocorre nos casos em que o decoro, o zelo pela privacidade ou o interesse social aconselhe que eles não sejam divulgados, conforme dispõe o artigo 189, parágrafo único, do Código de Processo Civil, bem como os artigos 483 e 792, §1º, do Código de Processo Penal. Lembram Cândido Rangel Dinamarco, Gustavo Badaró e Bruno Lopes: O princípio da publicidade do processo constitui uma preciosa garantia do indivíduo no tocante ao exercício da jurisdição. A presença do público nas audiências e a possibilidade do exame dos autos por qualquer pessoa representam o mais seguro instrumento de fiscalização popular sobre a obra dos magistrados, promotores públicos e advogados. Em última análise, o povo é o juiz dos juízes. (DINAMARCO; BADARÓ; LOPES, 2020, p. 96) No processo eletrônico, o artigo 4º da lei nº 11.419/2006 permitiu que os tribunais criassem diários eletrônicos para a publicação de atos judiciais e administrativos a fim de garantir a publicidade dos atos. Porém, conforme previsão do parágrafo 1º, art. 12, da Lei 11.419/2006, o sistema processual eletrônico deveria estar protegido do modo mais eficaz, garantindo a sua integridade e a preservação da intimidade das partes e dos dados ali expostos, principalmente nos casos de segredo de justiça. Inicialmente, destaca-se que, em um processo eletrônico, há um aspecto importante: O risco de invasão do sistema eletrônico por hackers, possibilidade ainda mais presente quando já existe, sobretudo a partir da Lei nº 13.709/2018, uma preocupação com o estabelecimento de uma cultura de privacidade e proteção de dados. Nesse tema, é importante o reforço na segurança das informações digitais para evitar que as bases de dados dos Tribunais possam estar suscetíveis à atuação dos invasores e que, por consequência, os serviços prestados para advogados e cidadãos tornem-se inacessíveis por vários dias, atrasando e adiando a abordada celeridade do processo judicial eletrônico. Outro aspecto que merece destaque na publicidade processual no processo eletrônico é o artigo 11, §6º, da Lei nº 11.419/2006. Em sua redação original, o dispositivo previa que o acesso aos documentos juntados por meio eletrônico somente estaria disponível às partes e ao Ministério Público, respeitado o disposto em lei para as situações de sigilo e de segredo de justiça. Aqui surgiu o debate sobre a publicidade (PINHO, 2019, p. 423), já que, como regra, há o conhecimento público dos atos praticados pelo Poder Judiciário de forma mais ampla, sendo disponibilizadas todas as etapas do processo. No entanto, o acesso aos documentos ficaria restrito às partes, aos seus procuradores e ao Ministério Público, além, é claro, de juízes e serventuários. Atenção Em relação ao acesso do advogado, é importante destacar o que foi definido no Procedimento de Controle Administrativo nº 0000547-84.2011.2.00.0000 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a partir da análise do Provimento nº 89/2010 do Tribunal Regional Federal da Segunda Região: salvo em casos de sigilo ou segredo de justiça, os advogados já credenciados no Tribunal devem ter acesso a quaisquer autos que tramitem eletronicamente. Em 2019, a Lei nº 13.793 modificou o §6º do artigo 11 da Lei nº 11.419/2006, além de acrescentar o §13 ao artigo 7º da Lei nº 8.906/1994 e o §5º ao artigo 107 do Código de Processo Civil para permitir o acesso de qualquer advogado aos atos praticados em processo eletrônico, ressalvados os casos de segredo de justiça, que só podem ser consultados pelo advogado com procuração nos autos. Em relação aos terceiros, o acesso aos autos que tramitem eletronicamente é possível mediante requerimento. Isso é possível graças à criação de uma chave para acesso a terceiros, que passariam, caso seja criada essa chave, a visualizar o teor da documentação. Sobre a redação do artigo 11, §6º, da Lei nº 11.419/2006, Humberto Dalla Bernardina de Pinho defende que: O que deve ser público são os atos, as partes que compõem a lide, o tipo de ação, para que surtam os efeitos de fiscalização dos atos pela sociedade, além de resguardar os possíveis credores etc. Quando há publicidade irrestrita das peças que compõem os autos, viola-se o direito do indivíduo de resguarda documentos que digam respeito à sua intimidade e vida privada. Exemplificamos: o contracheque, os exames médicos, as ligações telefônicas numa discussão sobre valores cobrados excessivamente por determinada operadora, entre tantos outros documentos não muito difíceis de enumerar no nosso cotidiano. (PINHO, 2019, p. 423) Ainda sobre essa disposição, complementa Oscar Valente Cardoso que “buscava-se, com isso, evitar a exposição ampla de dados pessoais (número de CPF, endereço, e-mail, número de telefone, íntegra do contrato ou do processo administrativo, conteúdo do depoimento das partes e de testemunhas, valor de honorários periciais etc.) na rede mundial de computadores” (CARDOSO, 2021, p. 82). Porém, quando se trata de publicidade processual, desde o ano de 2018 mencionam-se também as repercussões da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) Publicidade do processo e proteção de dados Neste vídeo, a professora explica os impactos da proteção de dados pessoais sobre a garantia constitucional da publicidade do processo. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Na publicidade como regra, o sigilo integral dos autos, quando exigido para a proteção do interesse público, do interesse social ou da intimidade, excepcionalmente impõe a vedação inclusive da divulgação da existência do processo, da identificação das partes e de quaisquer atos nele praticados ou o sigilo parcial dos autos apenas para um ou alguns determinados atos do processo. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), Lei nº 13.709/2018, acrescenta o sigilo parcial do ato processual, ou seja, ainda que determinado ato seja público (por exemplo, a sessão de julgamento) ou que não exista a decretação de segredo de justiça total ou parcial, os dados pessoais sensíveis das partes não podem ser divulgados. Oscar Valente Cardoso exemplifica que: Em um processo previdenciário de auxílio-doença, a versão pública da sentença (na movimentação processual, no site do tribunal ou em outro mecanismo de pesquisa) deve ocultar qualquer menção às doenças alegadas pela parte autora, referência ou eventual citação da perícia judicial (e suas conclusões), entre outros dados relacionados à saúde da parte. (CARDOSO, 2021, p. 87) Dânton Zanetti (2021) inclusive relata que, desde a entrada em vigor da Lei de Proteção de Dados (LGPD), os requerimentos de segredo de justiça passaram a se amparar nessa legislação justamente a partir de dados que, com base no artigo 5º, inciso I, da LGPD, merecem proteção para a preservação da intimidade de seu titular sem que, para isso, eles sejam requeridos apenas com base nos mais íntimos (MENDES, 2020, p. 381). Sobre a proteção de dados, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a Recomendação nº 73/2020, que recomenda aos órgãos do Poder Judiciário brasileiro a adoção de medidas preparatórias e ações iniciais para uma adequação às disposições contidas na LGPD, e a Resolução nº 363/2021, que estabelece as medidas para o processo de adequação à LGPD a serem adotadas pelos Tribunais. Desse modo, “cada Tribunal deverá ter o cuidado de não expor informações desnecessáriase que possam comprometer/constranger a pessoa, mesmo que o processo não siga em segredo de justiça” (NERY; NERY, 2020, p. 19). Essas medidas já estão sendo debatidas pelos Tribunais. O ponto central é que "a legislação de proteção de dados não se destina, nem poderia, a interferir, limitar ou retardar a atividade jurisdicional" (CUEVA, 2020, p. 207), mas, em qualquer receio iminente ou a ocorrência de violação do direito à intimidade, deve ser apreciada a eventual lesão reparada. Destaca-se, por fim, mas não menos importante, que o Tema nº 1.141 da Repercussão Geral do Supremo Tribunal Federal (STF), oriundo da tese fixada no Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) nº 16 do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, discute a responsabilidade civil por disponibilização na internet de informações processuais publicadas nos órgãos oficiais do Poder Judiciário sem restrição de segredo de justiça ou obrigação jurídica de remoção. A matéria foi afetada no dia 7 de maio de 2021, cuja controvérsia compreende a divulgação de dados de um processo na internet que gerou prejuízo à parte. A tese firmada na origem é a seguinte: É lícita a divulgação por provedor de aplicações de internet de conteúdos de processos judiciais, em andamento ou findos, que não tramitem em segredo de justiça, e nem exista obrigação jurídica de removê-los da rede mundial de computadores, bem como a atividade realizada por provedor de buscas que remeta aquele. A análise da questão permitirá que, com eficácia vinculante para todo o país, seja enfrentada a responsabilização civil de terceiros pela divulgação de dados pessoais coletados em processos judiciais, havendo o possível enfrentamento do tema diante da publicidade dos atos processuais em um fundamental diálogo das fontes. Vem que eu te explico! Publicidade processual Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Acesso a autos eletrônicos Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 A partir da previsão da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), escolha a alternativa correta. A A LGPD trata do segredo total ou parcial que pode ser concedido a qualquer documento independentemente do seu teor, desde que requerido pelas partes. B Os documentos juntados nos autos não se submetem às disposições da LGPD. C O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ainda não possui a resolução da aplicação da LGPD nos Tribunais. D Discute-se nos Tribunais a responsabilidade civil por disponibilização na internet de informações processuais publicadas nos órgãos oficiais do Poder Judiciário. E A LGPD não tem sido utilizada para amparar os requerimentos de segredo de justiça. A alternativa D está correta. Trata-se do Tema nº 1.141, da Repercussão Geral do Supremo Tribunal Federal (STF), oriundo da tese fixada no Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) nº 16 do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. A alternativa A está equivocada, porque não se trata de qualquer documento que terá o segredo de justiça concedido, e sim apenas daqueles que possam expor informações capazes de causar constrangimento. A alternativa B tem seu equívoco ao desconsiderar o diálogo das fontes. A C é incorreta por não prever a Recomendação nº 73/2020, que recomenda aos órgãos do Poder Judiciário brasileiro a adoção de medidas preparatórias e ações iniciais para adequação às disposições contidas na LGPD, e a Resolução nº 363/2021, que estabelece medidas para o processo de adequação à LGPD a serem adotadas pelos Tribunais. A alternativa E, por fim, desconsidera a prática processual após a entrada em vigor da LGPD. Questão 2 A publicidade dos atos processuais é a regra; o segredo de justiça, a situação excepcional. Sobre a publicidade no processo eletrônico, assinale a alternativa correta. A A publicidade não se aplica ao processo eletrônico em virtude da dificuldade de acesso aos autos por terceiros. B A Lei de Proteção de Dados (LGPD) se aplica aos dados que constam em processos eletrônicos, mas não em processos físicos. C No processo eletrônico, somente as partes, seus advogados e o membro do Ministério Público podem ter acesso aos autos. D O acesso aos autos dos processos eletrônicos que não tramitam em segredo de justiça não está restrito ao advogado das partes, sendo possível a qualquer advogado. E O segredo de justiça não se aplica ao processo eletrônico, já que não é possível acessar sem senha. A alternativa D está correta. A redação do §6º do artigo 11 da Lei nº 11.419/2006 veio a ser modificada pela Lei nº 13.793 para permitir o acesso de qualquer advogado aos atos praticados em processo eletrônico, ressalvados os casos de segredo de justiça, que só podem ser consultados pelo advogado com procuração nos autos. A alternativa A está incorreta, porque o princípio da publicidade é aplicável ao processo eletrônico. Já a B está errada, pois a LGPD se aplica tanto aos processos físicos como aos eletrônicos. A C está incorreta, uma vez que não se restringe ao advogado das partes caso os autos não tramitem em segredo de justiça. Por fim, a alternativa E está errada, já que o segredo de justiça aplica-se ao processo eletrônico. 4. Conclusão Considerações finais Tratamos neste conteúdo dos processos eletrônicos, não limitando nossa análise apenas às disposições legais sobre o tema e as novas tecnologias processuais. Na verdade, realizamos principalmente uma leitura do tema à luz de institutos fundamentais. No primeiro momento, falamos do acesso à Justiça e de como o processo eletrônico pode contribuir para a realização desse acesso, sobretudo a partir da concepção da primeira e da terceira onda renovatória de Mauro Cappelletti e Bryant Garth, por meio da redução dos custos do processo e da otimização do uso de recursos materiais, além de suprimir etapas meramente burocráticas do processo graças à utilização de sistemas automaticamente capazes de, por exemplo, certificar o decurso do prazo processual, reduzindo a quantidade de recursos humanos necessária. Em seguida, analisamos o processo eletrônico sob a ótica da duração razoável do processo, buscando esclarecer o que seria uma duração razoável dele e como o processo eletrônico poderia contribuir para a promoção de uma maior celeridade processual, dispensando algumas etapas cartorárias, que passam a ser realizadas pelo próprio sistema eletrônico. Por fim, abordamos as disposições do processo eletrônico a partir da regra da publicidade processual, sobretudo diante da previsão do artigo 11, §6º, da Lei nº 11.419/2006, segundo a qual terceiros dependeriam de senha para ter acesso aos documentos dos autos que tramitam eletronicamente, acessando sem senha somente a movimentação processual. Ademais, com o advento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), demonstrou-se a importância do diálogo das fontes e a seguinte análise: se os dados disponíveis no processo deveriam ou não ser acobertados pelo segredo de justiça. Podcast Neste podcast, a professora discorre sobre a interação das garantias fundamentais do processo com o processo eletrônico. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ouvir o áudio. Explore + Para se aprofundar sobre o assunto tratado neste conteúdo, sugerimos que você: Assista ao vídeo Processo judicial eletrônico, da Justiça do Trabalho, disponível no Youtube. Leia a tese de doutorado intitulada Acesso à Justiça e processo civil eletrônico, de Cristiane Rodrigues Iwakura. Leia o artigo Processo judicial eletrônico e os excluídos digitais: perspectivas jurídicas a partir do ideal de acesso à Justiça, publicado na Revista Humanidades e Inovação. Leia o artigo Celeridade processual e a máxima da razoabilidade no novo CPC (aspectos positivos e negativos do art. 4.º do novo CPC), de Artur César de Souza. Referências CAPPELLETTI, M.; GARTH, B. Acesso à Justiça. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2002. CARDOSO, O. V. 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Proteção de dados pessoais e publicidade processual: um contrassenso?. Migalhas. Publicado em: 15 abr. 2021. Teoria geral do processo eletrônico 1. Itens iniciais Propósito Preparação Objetivos Introdução 1. Acesso à Justiça Ligando os pontos Questão 3 A concepção de acesso à Justiça Primeira onda Segunda onda Terceira onda Proporcionalidade Operosidade Acessibilidade Utilidade O processo eletrônico e o acesso à Justiça Benefícios do processo eletrônico Conteúdo interativo Exemplo Vem que eu te explico! Ondas renovatórias do acesso à Justiça Conteúdo interativo Condicionantes legítimas e ilegítimas ao acesso à Justiça Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 2. Celeridade processual Ligando os pontos Questão 3 A duração razoável do processo A complexidade do litígio A conduta pessoal da parte lesada A conduta das autoridades envolvidas no processo O interesse em jogo para o demandante da indenização O processo eletrônico e a duração razoável do processo A garantia da duração razoável Conteúdo interativo Inovação no Poder Judiciário Eficiência Inteligência Colaboração Integração Transparência Vem que eu te explico! Como definir a duração razoável de um processo? Conteúdo interativo O que é a jurimetria? Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 3. Publicidade processual e proteção de dados Ligando os pontos Questão 3 O princípio da publicidade processual Atenção A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) Publicidade do processo e proteção de dados Conteúdo interativo Vem que eu te explico! Publicidade processual Conteúdo interativo Acesso a autos eletrônicos Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 4. Conclusão Considerações finais Podcast Conteúdo interativo Explore + Referências