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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA DE QUÍMICA ANDREW DE CARVALHO LEITE GAMA AULA 11 – IDENTIFICAÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS INTEGRAÇÃO DOS DADOS, PONTO DE EBULIÇÃO E SOLUBILIDADE, INFRAVERMELHO E ESPECTROMETRIA DE MASSAS Rio de Janeiro – RJ 2025.1 Aula 11 – Identificação das substâncias: Integração dos dados, ponto de ebulição e solubilidade, infravermelho e espectrometria de massas. Disciplina: Química Orgânica Experimental I – IQO130 Docente: Débora de Almeida Azevedo Discente: Andrew de Carvalho Leite Gama 1- INTRODUÇÃO A análise orgânica qualitativa é uma parte essencial da prática laboratorial em química orgânica. Seu objetivo é identificar e caracterizar compostos desconhecidos, estabelecendo sua estrutura e composição molecular. Para isso, é fundamental o uso combinado de ensaios químicos clássicos e técnicas espectrais modernas. Dependendo do caso, o composto fornecido pode ser completamente desconhecido - exigindo a identificação da classe funcional - ou parcialmente conhecido, quando já se sabe, por exemplo, que se trata de uma cetona, álcool, amina, entre outros. A partir dessa base, o objetivo será identificar qual molécula específica se encaixa naquela classe. Nesse contexto, entram as técnicas espectroscópicas e espectrométricas, que se tornaram ferramentas indispensáveis. Figura 1: Relação entre energia, frequência, comprimento de onda e número de onda Figura 2: Comprimento de onda de Louis De Broglie Diferentes técnicas revelam diferentes aspectos da molécula: · A espectrometria de massas permite determinar com precisão a massa molecular e fornece pistas sobre a estrutura química de uma molécula por meio dos fragmentos gerados. · A espectroscopia no infravermelho permite identificar grupos funcionais específicos com base nas vibrações moleculares. Cada uma dessas técnicas contribui com informações complementares, tornando possível a elucidação estrutural completa de um composto orgânico desconhecido. 2- ESPECTROMETRIA DE MASSAS A espectrometria de massas é uma técnica instrumental utilizada para determinar a massa molecular de uma substância e a abundância isotópica dos analitos, identificar sua estrutura química e analisar os fragmentos gerados pela quebra de suas ligações. Ela baseia-se na produção de íons a partir das moléculas da amostra, seguida por sua separação com base na razão massa/carga (m/z) e detecção. Destaca-se por sua alta sensibilidade, seletividade e aplicabilidade em análises qualitativas e quantitativas de diferentes tipos de amostras. O espectrômetro de massas é o equipamento responsável por esse processo e é composto, basicamente, por quatro partes: · Fonte de íons – onde ocorre a ionização da amostra (por exemplo, por impacto de elétrons); · Analisador de massas – separa os íons de acordo com a razão m/z (ex.: setor magnético, tempo de voo, quadrupolo etc.); · Detector – registra os íons e converte o sinal em um espectro; · Sistema de manipulação de dados – interpreta os resultados e gera o espectro de massas. A ionização ocorre quando a molécula é bombardeada por elétrons de alta energia (tipicamente 70 eV), formando um cátion molecular (M⁺·), sendo que a energia excedente frequentemente causa fragmentações que revelam informações estruturais. Em seguida, os íons são acelerados por um campo elétrico e separados pelo analisador conforme sua razão massa/carga (m/z), utilizando métodos como setor magnético, que separa íons pela trajetória em campo magnético; tempo de voo (TOF), que mede o tempo que os íons levam até o detector; quadrupolo, que filtra íons pela estabilidade de suas trajetórias oscilatórias; e trapa iônica, que aprisiona íons temporariamente para ejetá-los em ordem de m/z. Finalmente, os íons colidem com um detector, como o multiplicador de elétrons, gerando sinais elétricos que são amplificados e convertidos em dados para análise. Figura 3: O que ocorre por trás de um espectrômetro de massas O resultado da análise é um espectro de massas, no qual cada pico representa um íon com determinada razão m/z. O pico mais intenso do espectro chama-se pico-base (intensidade = 100%). O pico do íon molecular (M⁺) revela a massa molecular da substância, enquanto picos menores indicam fragmentos estruturais, úteis para dedução da fórmula ou do esqueleto da molécula. É comum observar, ainda, picos secundários associados a isótopos naturais, como o carbono-13 (¹³C) ou deutério (²H). 3- ESPECTROSCOPIA NO INFRAVERMELHO A espectrofotometria no infravermelho é uma técnica instrumental baseada na absorção de radiação eletromagnética na região do infravermelho, sendo largamente utilizada na identificação de grupos funcionais em compostos orgânicos. A técnica é não destrutiva, rápida e fornece informações qualitativas e, em alguns casos, quantitativas sobre a amostra. Figura 4: Medição de determinada faixa do espectro A radiação infravermelha compreende comprimentos de onda entre aproximadamente 1000 µm e 780 nm. O infravermelho médio – muito usado no ramo da Química Orgânica - se encontra entre 50 µm e 2,5 µm (ou, de forma equivalente, 4000 cm⁻¹ a 200 cm⁻¹ em número de onda). Figura 5: Espectro eletromagnético As ligações químicas vibram de modo comparável a molas, com modos de estiramento (stretching) e deformação (bending). Quando a molécula absorve radiação, ocorrem transições entre estados rotacionais ou vibracionais. Para que a absorção ocorra, é necessário que haja uma variação no momento dipolar da molécula durante a vibração. Figura 6: Expressão mais precisa para a energia vibracional molecular Quando um átomo ou um íon recebe energia suficiente, seus elétrons podem ser promovidos a níveis de energia mais elevados, em um estado excitado. Contudo, esses estados são instáveis, e os elétrons logo retornam a níveis de energia mais baixos ou ao estado fundamental. Figura 7: Níveis de energia da matéria ao emitir uma onda eletromagnética Nesse processo de relaxamento, a energia extra é liberada na forma de luz, cuja frequência (ou cor) é característica do elemento químico. O conjunto dessas frequências emitidas forma o chamado espectro de emissão. Figura 8: Espectro de emissão de diversos elementos Figura 9: Espectro de emissão do Neônio Cada espécie molecular absorve frequências específicas da radiação eletromagnética porque suas ligações químicas vibram de forma única e seus elétrons ocupam níveis de energia distintos. Figura 10: Substância em estado excitado pelo fenômeno de absorção molecular Quando uma substância é irradiada com luz, ela absorve apenas as frequências que correspondem às suas transições vibracionais, rotacionais ou eletrônicas. Figura 11: Modos de vibração molecular Essas frequências absorvidas aparecem como bandas no espectro, que funcionam como uma "impressão digital molecular". Figura 12: Espectro de absorção do Neônio O espectro de absorção é gerado quando um feixe contínuo de radiação atravessa uma amostra, e parte dessa radiação é absorvida por frequências específicas que ressoam com as vibrações moleculares – o que permite detectar quais ligações estão presentes, tal como um “quebracabeça molecular” Por exemplo, um grupo carbonila (C=O) absorve fortemente em torno de 1700 cm⁻¹ no infravermelho, enquanto ligações O–H aparecem por volta de 3200–3600 cm⁻¹. Assim, ao analisar o espectro de absorção, é possível identificar quais grupos funcionais estão presentes e, combinando essas informações, muitas vezes determinar qual é a substância. Cada grupo funcional apresenta modos vibracionais característicos, produzindo bandas de absorção em regiões específicas do espectro. Figura 13: Principais bandas analíticas e posições de pico relativas para absorções proeminentes no infravermelho próximo Quando a radiação luminosa incide sobre uma substância, vários fenômenos podem ocorrer: reflexão, refração, espalhamento ou absorção. O comportamento dependerá da estrutura da substância e do comprimento de onda da luz incidente. Essa seletividade é a base para diversas técnicas espectrofotométricas.A relação entre a quantidade de luz absorvida e a concentração da substância é descrita pela Lei de Beer-Lambert Figura 14:Relações obtidas para a radiação monocromática – Lei de Beer-Lambert Nesta equação, “A” representa a absorbância (adimensional), “c” representa a concentração molar da espécie em solução (mol·L⁻¹), “b” a distância percorrida pela radiação através da solução (cm) e “ε” o coeficiente de absorção molar da espécie em estudo (L·mol⁻¹·cm⁻¹). Tanto A quanto ε dependem do comprimento de onda da luz. Quando a concentração é expressa em g·L⁻¹, ε assume unidades de L·g⁻¹·cm⁻¹, de forma a cancelar as unidades de b e c e manter a absorbância como uma grandeza sem unidade. A absorbância (A) de uma solução está relacionada de forma logarítmica à sua transmitância (T), ou seja, quando a absorbância aumenta, a transmitância diminui, e vice-versa. Exemplo: Se uma solução tem transmitância de 10%, significa que apenas 10% da luz passou, e 90% foi absorvida. Figura 15: Relação entre luz de energia radiante, transmitância e absorbância A lei não se aplica a soluções com concentrações elevadas (> 10-2 mol/L) 4- ABORDAGEM INTEGRADA PARA IDENTIFICAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS DESCONHECIDAS Embora testes de classificação ainda possam ser úteis, métodos espectroscópicos como IV e RMN tornaram-se os principais recursos na identificação de compostos orgânicos. Com o avanço tecnológico, é possível obter informações estruturais detalhadas de forma rápida e ambientalmente mais adequada. A identificação completa normalmente segue duas etapas complementares: · Análise clássica: Inclui observações físicas (estado, cor, odor), determinação de ponto de fusão/ebulição, testes de solubilidade e alguns ensaios simples. Essa triagem inicial ajuda a restringir o grupo funcional presente. · Análise Espectroscópica: Após reduzir as possibilidades, aplicam-se espectros de IV e RMN (¹H e ¹³C) para confirmar a estrutura molecular. Compostos podem apresentar funções orgânicas e estruturas distintas, o que altera radicalmente suas propriedades físico-químicas. Tabela 1: Comparação entre compostos com fórmula C₄H₈O₂ Função orgânica Nome do composto Estrutura Ponto de ebulição (ºC) Solubilidade em água Ácido Carboxílico Ácido butanoico ~164 Alta Éster Acetato de etila ~77 Moderada Aldeído + Álcool 2-hidroxibutanal ~142 Alta Mesmo com massa molecular idêntica (~88 g/mol), pode-se analisar fatores como a solubilidade e o ponto de ebulição em prol de estreitar possibilidades estruturais iniciais. Em seguida, a espectrometria de massas e a espectroscopia IV fornecem os dados definitivos para a elucidação estrutural. 5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMERICAN CHEMICAL SOCIETY. Common Chemistry. Disponível em: https://commonchemistry.cas.org. Acesso em: 14 jun. 2025 CHEMSRC. Chemical Source – ChemSrc. Disponível em: https://www.chemsrc.com/en/. Acesso em: 16 jun. 2025. KOOPMANS, Lambert H. The Spectral Analysis of Time Series: A volume in Probability and Mathematical Statistics. 1. ed. San Diego: Academic Press, 1995. ISBN 9780124192515. 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