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26 SEGUNDO TRIMESTRESEGUNDO TRIMESTRESEGUNDO TRIMESTRESEGUNDO TRIMESTRE 1 CLASSES SOCIAIS E ESTRATIFICAÇÃO Todos sabem, pela própria experiência do dia-a-dia, que nossa sociedade apresenta contradições e desigualdades. Nas grandes cidades, por exemplo, ao lado de mansões luxuosas encontramos favelas e pessoas morando embaixo de viadutos. Vivemos, portanto, em uma sociedade profundamente desigual. Se quisermos fazer uma descrição desse tipo de sociedade, podemos trabalhar com o conceito de estratificação social. Mas se nosso objetivo for analisar historicamente os conflitos entre os diversos grupos que a compõem, devemos recorrer ao conceito de classes sociais. Seja qual for o método escolhido, é preciso levar em conta também que alguns indivíduos ou mesmo grupos de pessoas podem mudar de posição social. Para estudar esses casos utilizamos o conceito de mobilidade social. Estratificação, classes e mobilidade social. Esta unidade é dedicada ao estudo dos três conceitos. 1.1 Estratificação social A expressão estratificação deriva de estrato, que quer dizer camada. Por estratificação social entendemos a distribuição de indivíduos e grupos em camadas hierarquicamente superpostas dentro de uma sociedade. Essa distribuição se dá pela posição social dos indivíduos, das atividades que eles exercem e dos papéis que desempenham na estrutura social. Assim, em determinadas sociedades podemos dizer que as pessoas estão distribuídas pelas camadas: alta (classe A), média (classe B) ou inferior (classe C), que correspondem a graus diferentes de poder, riqueza e prestígio. Na sociedade capitalista contemporânea, as posições sociais são determinadas basicamente pela situação dos indivíduos no desempenho de suas atividades produtivas. Dessa forma, os grandes empresários, donos de terras, banqueiros e grandes comerciantes estão no topo da sociedade por disporem de uma grande quantidade de capital ou de meios de produção. Em contrapartida, os trabalhadores estão na base inferior da sociedade por disporem unicamente de sua força de trabalho, e não de capital ou meios de produção. Entretanto, dentro dessa mesma sociedade os indivíduos podem desempenhar outros papéis e alcançar novas posições sociais, relacionadas com a religião que praticam o partido político em que militam, as funções sociais que desempenham a profissão que exercem e outras atividades. Esses diferentes papéis estão interligados. Entretanto, para efeitos didáticos, vamos começar por separá-Ios e classificá-Ios. 1.1.1 Principais tipos de estratificação social Estratificação econômica. Definida pela posse de bens materiais, cuja distribuição pouco equitativa faz com que haja pessoas ricas, pobres e em situação intermediaria. Estratificação política. Estabelecida pela posição de mando na sociedade (grupos que tem poder e grupos que não têm). Estratificação profissional. Baseada nos diferentes graus de importância atribuídos a cada profissional pela sociedade. Por exemplo, em nossa sociedade a profissão de médico é muito mais valorizada do que a de pedreiro. Como já vimos os aspectos econômicos, político, social e cultural de uma sociedade estão interligados, bem como os vários tipos de estratificação. No entanto, ao longo da História, o aspecto econômico tem sido mais determinante do que os outros no processo de estratificação social e na caracterização da sociedade. 27 A estratificação econômica Para tornar mais clara a estratificação econômica numa sociedade vamos recorrer a duas simulações. 1. Reunimos as pessoas em grupos conforme seu nível de renda. 2. Dividimos os grupos em camadas hierarquizadas, isto é, uma superior, uma intermediaria e uma inferior. Obtemos assim o quadro geral de uma estratificação econômica baseada em faixas de renda. • Grupo ou camada A - pessoas de renda alta. • Grupo ou camada B - pessoas de renda média. • Grupo ou camada C - pessoas de renda baixa. Na figura a seguir, temos uma pirâmide social dividida em estratos, segundo o critério "nível de renda". Na camada de baixo, a mais ampla, estão representados os indivíduos de baixa renda, o grupo ou camada C. No topo, no estrato mais estreito, estão representadas as pessoas de maior renda, que pertencem ao grupo A. Na camada intermediaria estão incluídas as de renda média, que pertencem ao grupo B. 1.2 Tipos de sociedades estratificadas Vamos estudar agora as principais características dos três tipos de estratificação social mencionados. Castas sociais Existem sociedades em que os indivíduos nascem numa camada social mais baixa e podem alcançar, com o decorrer do tempo, uma posição social mais elevada. Esse fenômeno é conhecido como mobilidade social (veja mais adiante). Em contrapartida, existem sociedades em que, mesmo usando toda a sua capacidade e empregando todos os esforços, o indivíduo não consegue alcançar uma posição social mais elevada. Nesses casos, a posição social lhe é atribuída por ocasião do nascimento, independentemente de sua vontade. Ele carrega consigo, pelo resto da vida, a posição social herdada. A sociedade indiana é estratificada dessa maneira. Há séculos, a população da Índia esta distribuída em um sistema de estratificação social rígido e fechado, que não oferece a menor possibilidade de mobilidade social. É o sistema de castas. A pirâmide da ilustração mostra graficamente a estratificação social de uma sociedade, ou seja, como ela esta dividida em estratos ou camadas sociais. Dependendo do tipo de sociedade, esses estratos ou camadas podem ser organizados em: • castas (como ocorre na Índia); • estamentos ou estados (Europa durante o feudalismo); • classes sociais (sociedades capitalistas). Cada uma dessas formas de estratificação tem características próprias, como veremos a seguir. 28 Enquanto nas sociedades ocidentais pessoas de níveis sociais diferentes podem se casar – o que não raro possibilita a ascensão social de um dos cônjuges –, na Índia o casamento só é permitido entre pessoas da mesma casta. As castas são grupos sociais fechados, cujos membros seguem rigorosamente as tradições familiares. Um indivíduo nascido em determinada casta deve permanecer nela pelo resto da vida. Sua posição social é definida ao nascer. Além de direitos e deveres específicos, as pessoas não podem ascender socialmente mediante qualidades pessoais, mérito ou realizações profissionais. Pode-se esquematizar a estratificação social indiana por meio da seguinte pirâmide de castas: No topo da pirâmide estão os brâmanes, que são os sacerdotes e os mestres da erudição sacra. Segundo sua crença, a eles compete preservar a ordem social, estabelecida por orientação divina. A seguir, distribuidos pela segunda casta, vem os xátrias, guerreiros que formam a aristocracia militar. A terceira grande casta – a dos vaixás – é formada pelos comerciantes, artesãos e camponeses. Os sudras, por sua vez, executam os trabalhos manuais e diversas tarefas servis. São uma casta depreciada, tendo o dever de servir às três castas superiores. Na base da pirâmide social ficam os párias, grupo de miseráveis, desprovidos de direitos e sem profissão definida. Totalmente desprezados pelas demais castas, vivem da caridade alheia. Os párias não podem banhar-se nas águas sagradas do rio Ganges (o que é permitido às outras castas), nem ler os Vedas, que são os livros sagrados dos hindus. Embora o sistema de castas tenha sido abolido oficialmente em 1947, quando a Índia conquistou a independência sob a liderança de Mahatma Gandhi, basta percorrer o país para constatar que, na prática, o antigo regime sobrevive. Os indianos das castas superiores não aceitam perder seusprivilégios, e os membros das castas inferiores e os "sem castas" continuam sendo excluídos, rejeitados, privados de educação formal e de outras oportunidades. Cabem a eles as piores tarefas, como limpar fossas e lavar cadáveres. Na segunda metade do século XX, reformas sociais e mudanças na economia da Índia, impulsionadas pela industrialização, começaram a romper o sistema de divisão em castas. Assim, nos grandes centros urbanos do país, como Nova Délhi, Bombaim e Calcutá, a abolição do sistema vem ocorrendo gradativamente. Entretanto, ele ainda perdura na maior parte da Índia rural. 29 Estamentos ou estados Um exemplo típico de sociedade estratificada em estamentos pode ser encontrado na Europa ocidental durante a Idade Média (476-1453), sob a vigência do modo de produção feudal. Estamento ou estado é uma camada social semelhante à casta, porém um pouco mais aberta. Na sociedade estamental, a mobilidade social é difícil, mas não impossível, como na sociedade estratificada em castas. Na sociedade feudal, a ascensão era possível nos raros casos em que a Igreja recrutava seus membros entre os mais pobres; quando os servos eram emancipados por seus senhores; no caso de o rei conferir um título de nobreza a um homem do povo; ou, ainda, se a filha de um rico comerciante se casasse com um nobre, tornando-se, assim, membro da aristocracia. A pirâmide social da sociedade estamental durante o feudalismo europeu apresentava- se da seguinte maneira: No vértice da pirâmide encontravam-se a nobreza e o alto clero. Eram os donos da terra, da qual obtinham renda explorando o trabalho dos servos. Os nobres dedicavam-se a guerra e a caça, cuidavam da administração do feudo e exerciam o poder judiciário em seus feudos. O alto clero (cardeais, arcebispos, bispos, abades) era uma elite eclesiástica e intelectual. Seus membros vinham da nobreza. Constituíam também a única camada letrada na primeira fase do período medieval, desempenhando importantes funções administrativas. Abaixo da camada dos nobres, encontravam-se os comerciantes. Embora ricos, muitas vezes eles não tinham os mesmos privilégios da nobreza. Além disso, suas atividades sofriam uma série de restrições legais. Tais restrições foram desaparecendo a medida que o feudalismo entrou em declínio. Mais abaixo estavam os artesãos, os camponeses livres e o baixo clero. Os artesãos viviam nas cidades, reunidos em associações profissionais, as corporações de ofício; os camponeses livres trabalhavam a terra e vendiam seus produtos agrícolas nas vilas e cidades; o baixo clero, originário da população pobre, convivia com o povo prestando-Ihe assistência religiosa. Abaixo de todos estavam os servos, que trabalhavam a terra para si e para seus senhores, vivendo em condições precárias: estavam ligados a terra, passando a ter novo senhor quando a terra mudava de dono. A divisão da estrutura social em estamentos – que representou um tipo intermediário entre a casta e a classe – o era encontrada na Europa ate fins do século XVIII. 30 Classe social Já vimos como é possível descrever a divisão da sociedade em estratos ou camadas. Agora, vamos conhecer outra abordagem da divisão social, baseada no conceito de classes sociais. Mas, atenção: estamos acostumados a ver, sobretudo na mídia e nas pesquisas de mercado, a palavra "classe" como sinônimo de camada ou estrato. Não é disso que se trata. O que estudaremos agora é o conceito de classe social tal como é abordado na literatura sociológica. Desenvolvido pelo pensador alemão Karl Marx, esse conceito parte de premissas próprias, segue critérios específicos e sua aplicação leva a conclusões totalmente diferentes das que podem ser encontradas nos estudos que analisam a sociedade segundo o modelo descritivo da estratificação social. Na unidade anterior aprendemos que, para Marx, a história da humanidade é "a história da luta de classes". Segundo esse autor, portanto, a classe social é acima de tudo uma categoria histórica. Quando Marx se refere às duas grandes classes do capitalismo – a burguesia e o proletariado –, esta designando duas forças motrizes e concretas do modo de produção capitalista, um sistema econômico historicamente determinado. O próprio Marx, no entanto, não reivindicava a descoberta das classes sociais nem da luta de classes, mas sim a "demonstração de que a existência das classes só se liga a determinadas fases históricas de desenvolvimento da produção". Marx atribuía uma importância particular aos conflitos entre as classes. Para ele, são esses conflitos que constituem o principal fator de mudança social. Seriam esses conflitos, portanto, que imprimiriam movimento e dinamismo à sociedade. Por outro lado, as classes sociais mudam ao longo do tempo, conforme as circunstâncias econômicas, políticas e sociais. As contradições que mantém entre si forjam e estruturam a própria sociedade. Quando os conflitos chegam a um ponto insuportável, ocorre uma revolução que transforma a sociedade, modificando o modo de produção. Foi o que aconteceu, como vimos, com o feudalismo: uma nova classe (a burguesia) derrubou um velho estamento (a nobreza), gerando a sociedade capitalista. A Revolução Francesa de 1789 foi uma das expressões dessa transforma. Mas a nova sociedade capitalista, na concepção de Marx, já começou dividida em duas grandes classes conflitantes: a burguesia (proprietária dos meios de produção) e do proletariado, ou classe operária, que só tem de seu, a fúria de trabalho. Vladimir Lenin (1874- 1924), líder da Revolução. Na Rússia de 1917 é um dos grandes pensadores marxistas, definiu Para Karl Marx, a classe capitalista (burguesia) precisa da classe operária (proletariado) para produzir, criar riquezas e faze-Ias circular. Existe, assim, uma relação de complementaridade entre as duas grandes classes do modo de produção capitalista. Entretanto, essa relação é também de antagonismo, pois o proletariado esta, segundo Marx, em confronto aberto e permanente com a burguesia. Na foto, operários da construção civil trabalham no alto de um edifício em São Paulo, em março de 2002. O setor da construção civil emprega cerca de 7% de toda a força de trabalho no Brasil. 31 o sistema de classes da seguinte forma: "As classes são grupos de homens relacionados de tal forma que uns podem apropriar-se do trabalho de outros por ocupar posições diferentes num regime determinado de economia social". Na definição de Lenin, esses homens e mulheres que formam as classes sociais se diferenciam entre si pelo lugar que ocupam na produção. Alguns desempenham cargos de direção e são proprietários de fábricas e empresas de todo tipo (meios de produção); outros apenas executam as tarefas determinadas pelos chefes em troca de um salário: São os trabalhadores. Dessa forma, é a propriedade privada dos meios de produção que constitui a base econômica da divisão de nossa sociedade em classes. Essa divisão baseada no regime de propriedade faz com que uma classe seja dominante, e a outra, dominada, numa relação sistemática de dominação e exploração. Assim, a teoria das classes não se limita a descrever as divisões da sociedade em camadas, como faz o modelo da estratificação social, mas procura explicar como e por que elas ocorrem historicamente. As classes sociais só existem a partir da relação que estabelecem entre si. Nesse sentido, as classes são, além de antagônicas, necessariamente complementares. A burguesia, por exemplo, não pode existir sem o proletariado. Complementares, porque são elas que fazem funcionar o sistema. Antagônicas, porque uma delas (a burguesia) se apropria do trabalho da outra (o proletariado), o que gera o conflito permanente.As classes médias Entre a burguesia e o proletariado existem outros grupos que se movem entre as duas classes fundamentais, oscilando de uma para a outra. Alguns desses grupos são denominados genericamente de classes médias, ou pequena burguesia. A pequena burguesia constitui um setor muito numeroso, que abrange desde o dono de um pequeno armazém até os pequenos e médios proprietários de terra, passando por todos os assalariados que trabalham em escritórios, funcionários públicos e profissionais liberais. Ao contrário da burguesia e do proletariado, que atuam diretamente na produção social, entre as classes médias (também chamadas de classe media, no singular, por muitos autores) misturam-se múltiplos papéis. Não se trata, portanto, de uma classe política e socialmente homogênea. Segundo Karl Marx, essa heterogeneidade das classes médias explica por que, nos conflitos sociais e políticos, elas oscilam tanto, ora apoiando os interesses da grande burguesia, ora apoiando os interesses dos trabalhadores. Marx e a luta de classes Uma classe oprimida é a condição vital de toda sociedade fundada no antagonismo entre classes. A grande indústria aglomera num mesmo local uma multidão de pessoas que não se conhecem. A concorrência divide seus interesses. Mas a manutenção do salário, esse interesse comum que têm contra seu patrão, reune-os num mesmo pensamento de resistência e coalizão (isto é, os trabalhadores se organizam em sindicatos e outras formas de associação para lutar pelos seus direitos). Portanto, a coalizão tem sempre um duplo objetivo: cessar a concorrência entre os trabalhadores e realizar uma concorrência geral contra o capitalista. O primeiro objetivo da resistência é apenas a manutenção do salário. Mas, na medida em que os capitalistas se unem para reprimir a resistência dos trabalhadores, as coalizões também se unificam. E a manutenção da resistência torna-se mais importante do que a manutenção do salário. Nessa luta – verdadeira guerra civil – concentram-se e se desenvolvem todos os elementos necessários a uma batalha futura. E, uma vez que se chega a esse ponto, a associação adquire um caráter político. (Adaptado de: Karl Marx. Miséria da Filosofia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Leitura, 1965. p. 81, 83, 89.) 32 1.3 Mobilidade social Em maio de 1953, Lourenço Carvalho de Oliveira, nascido na pequena aldeia de Vigia, no norte de Portugal, desembarcou no porto de Santos, no litoral de São Paulo, depois de onze dias de viagem na terceira classe do transatlântico Vera Cruz. Em sua terra, deixara a mulher e três filhos pequenos vivendo graças à solidariedade de parentes e vizinhos. Foi morar de favor na casa de um primo e arrumou emprego como ajudante num bar. Economizou muito, mandou buscar a família e conseguiu, depois de anos de trabalho e privações, abrir uma pequena venda em sociedade com um amigo. O negócio foi crescendo: primeiro uma mercearia, depois um mercado, a seguir um supermercado. Em 1988, 35 anos depois de chegar ao Brasil, o Sr. Lourenço era dona de uma grande rede de supermercados, tendo se tornado um dos mais influentes membros da Associação Comercial de São Paulo. Seus filhos têm curso superior e um deles é professor na Universidade de São Paulo. Essa história de vida mostra que os indivíduos, numa sociedade capitalista, podem chegar a ocupar diferentes posições sociais – ou estratos – durante a vida. É possível que alguns deles, que integram o estrato de baixa renda (camada C), passem a integrar o de renda média (camada B) ou mesmo o de renda alta (camada A). Por outro lado, alguns indivíduos da camada A podem ter sua renda diminuída, passando a integrar as camadas B ou C. Do ponto de vista sociológico, os dois fenômenos são caracterizados como manifestações de mobilidade social. Mobilidade social é a mudança de posição social de uma pessoa (ou grupo de pessoas) num determinado sistema de estratificação social. Um árduo caminho rumo ao topo Mobilidade social é um termo neutro no universo das Ciências Sociais. Ele pode indicar algo positivo a respeito de um país, caso as pessoas estejam ascendendo na pirâmide que define as classes sociais. E também pode ser negativo se o movimento for inverso. No Brasil, mobilidade social, sob a forma de Ascensão, ainda esta entre as mais altas do mundo, apesar da crise econômica dos últimos anos. O sociólogo José Pastore, especialista no assunto, lembra que, do universo dos que se movem, 80% subiram Em uma sociedade aberta e democrática, é comum pessoas de um grupo social passarem para outro grupo, mais ou menos elevado na escala social. A esse fenômeno, que tanto pode ser ascendente como descendente, da-se o nome de mobilidade social. No Brasil, a chegada do ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, em janeiro de 2003, é expressão dessa mobilidade. Com ele, passaram a integrar o governo diversas pessoas provenientes das camadas mais baixas da sociedade. É o caso, por exemplo, de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente (na foto, com o pai em Brasília, em 2003), que foi seringueira no Acre e só pode estudar a partir dos 17 anos. 1.3.1 Tipos de mobilidade social Quando as mudanças de posição social ocorrem no sentido ascendente ou descendente na hierarquia social, dizemos que a mobilidade social é vertical. Quando a mudança de uma posição social a outra se opera dentro da mesma camada social, diz-se que houve mobilidade social horizontal (veja mais adiante). 33 na escala social e 20% desceram em uma geração. “A maioria das famílias brasileiras esta em condições melhores do que a geração anterior” reforça Pastore. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 40% das pessoas vivem melhor hoje do que ha vinte anos. De forma geral, pode-se afirmar que um país com tal mobilidade social deveria estar se transformando num modelo de sociedade homogênea e igualitária, algo como a Suécia, por exemplo. A classe que engloba os mais abastados, que era formada por 3,5% dos brasileiros no passado, hoje chega a 5%, segundo dados de Pastore. É um aumento significativo, mas outros aspectos ligados ao desenvolvimento da economia brasileira sugerem que os indicadores a respeito da distribuição de renda talvez não sejam tão animadores. A maioria dos brasileiros esta subindo apenas um pouco. E o avanço social de algumas famílias esta ligado ao fracasso de outras. Se o Brasil entrar numa nova fase de crescimento de sua economia! É possível que isso mude. A base de superação das desigualdades sociais já está sendo lançada: ampliou-se oferta de vagas nas universidades por exemplo. No Brasil, a número de matrículas no ensino superior treplicou em uma década, e o país esta superando a atraso histórico de sua educação em relação à Argentina. (Veja Especial, maio 2002) Mobilidade social vertical A mobilidade social vertical pode ser: � ascendente ou de ascensão social – quando a pessoa melhora sua posição no sistema de estratificação social, passando a integrar um grupo economicamente superior a seu grupo anterior; � descendente ou de queda social – quando a pessoa piora de posição no sistema de estratificação, passando a integrar um grupo economicamente inferior. O filho de um operário que, por meio do estudo, passa a fazer parte da classe média é um exemplo de ascensão social. A falência e o consequente empobrecimento de um comerciante, em contrapartida, é um exemplo de queda social. Assim, tanto a subida quanto a descida na hierarquia social são manifestações de mobilidade social vertical. Mobilidade social horizontal Uma pessoa semuda do interior para a capital. No interior, ela defendia ideias políticas conservadoras; agora, na capital, sob novas influências, passa a defender as ideias de um partido progressista. Seu nível de renda, porém, não se alterou substancialmente. A situação mostra uma pessoa que experimentou alguma mudança de posição social, mas que, apesar disso, permaneceu no mesmo estrato social. Assim, a mudança de uma posição social dentro da mesma camada social caracteriza- se como mobilidade social horizontal. 1.4 Democracia e mobilidade social O fenômeno da mobilidade social varia de uma sociedade para outra. Em algumas sociedades ela ocorre mais facilmente; em outras, praticamente inexiste no sentido vertical ascendente. É mais fácil ascender socialmente nos Estados Unidos, por exemplo, do que no interior da Índia, ainda dominado pela estratificação social em castas. A mobilidade social ascendente é mais frequente numa sociedade democrática aberta, que enaltece a escalada rumo ao topo de indivíduos de origem humilde – como nos Estados Unidos –, do que numa sociedade de tradição aristocrática, como a Inglaterra. 34 Entretanto, é bom esclarecer que, mesmo numa sociedade capitalista mais aberta, a mobilidade social vertical não se dá de maneira igual para todos os indivíduos. A ascensão social depende muito da origem de classe de cada indivíduo. Alguém que nasce e vive numa camada social elevada tem mais oportunidades e condições de se manter nesse nível, ascender ainda mais e se sair melhor do que os originários das classes inferiores. Isso pode ser facilmente verificado no caso dos jovens que pretendem fazer o curso superior. Aqueles que, desde o início de sua vida escolar, frequentaram boas escolas e, além disso, estudaram em cursinhos preparatórios de boa qualidade, tem mais possibilidades de aprovação nos vestibulares das universidades públicas e privadas do que os jovens provenientes das classes de baixa renda. FILMES SUGERIDOSFILMES SUGERIDOSFILMES SUGERIDOSFILMES SUGERIDOS ∗ Ghandhi – Richard Attenborough ∗ O grande Gatsby – Jack Clayton ∗ Queimada – Gillo Pontecorvo ∗ O leopardo – Luchino Visconti ∗ O senhor da guerra – Franklin Schaffner ∗ Agora ou nunca – Mike Leigh ∗ Barry Lyndon – Stanley Kubrick ∗ Ver-te-ei no inferno – Martin Ritt ∗ Norma Rae – Martin Ritt ∗ A classe operária vai ao paraíso – Elio Petri ∗ Agora ou nunca – Mike Leigh QUESTÕES PARA ESTUDOQUESTÕES PARA ESTUDOQUESTÕES PARA ESTUDOQUESTÕES PARA ESTUDO 1. Estabeleça a relação entre estratificação social e mobilidade social. 2. Entre os tipos de estratificação social, um deles tem sido o determinante. Dê o nome desse tipo de estratificação social e explique sua importância na caracterização da sociedade. 3. Compare a mobilidade social nas sociedades de castas, estamentos e classes sociais. Se preferir, faça um quadro ou um esquema. 4. Em que estrato a mobilidade social ocorre com mais facilidade? 5. O que você entende por classe social? 6. Qual a contradição fundamental entre as duas principais classes da sociedade capitalista? 7. Como você define as classes médias? 8. Pesquise dados que possibilitem formar uma ideia sobre a estratificação social no Brasil de hoje.
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