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Estratificação e Mobilidade social

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SEGUNDO TRIMESTRESEGUNDO TRIMESTRESEGUNDO TRIMESTRESEGUNDO TRIMESTRE 
 
 
1 CLASSES SOCIAIS E ESTRATIFICAÇÃO 
 
 
Todos sabem, pela própria experiência do dia-a-dia, que nossa sociedade apresenta 
contradições e desigualdades. Nas grandes cidades, por exemplo, ao lado de mansões 
luxuosas encontramos favelas e pessoas morando embaixo de viadutos. 
Vivemos, portanto, em uma sociedade profundamente desigual. Se quisermos fazer 
uma descrição desse tipo de sociedade, podemos trabalhar com o conceito de estratificação 
social. Mas se nosso objetivo for analisar historicamente os conflitos entre os diversos grupos 
que a compõem, devemos recorrer ao conceito de classes sociais. 
Seja qual for o método escolhido, é preciso levar em conta também que alguns 
indivíduos ou mesmo grupos de pessoas podem mudar de posição social. Para estudar esses 
casos utilizamos o conceito de mobilidade social. Estratificação, classes e mobilidade social. 
Esta unidade é dedicada ao estudo dos três conceitos. 
 
 
1.1 Estratificação social 
 
A expressão estratificação deriva de estrato, que quer dizer camada. Por estratificação 
social entendemos a distribuição de indivíduos e grupos em camadas hierarquicamente 
superpostas dentro de uma sociedade. Essa distribuição se dá pela posição social dos 
indivíduos, das atividades que eles exercem e dos papéis que desempenham na estrutura 
social. 
Assim, em determinadas sociedades podemos dizer que as pessoas estão distribuídas 
pelas camadas: alta (classe A), média (classe B) ou inferior (classe C), que correspondem a 
graus diferentes de poder, riqueza e prestígio. 
Na sociedade capitalista contemporânea, as posições sociais são determinadas 
basicamente pela situação dos indivíduos no desempenho de suas atividades produtivas. 
Dessa forma, os grandes empresários, donos de terras, banqueiros e grandes comerciantes 
estão no topo da sociedade por disporem de uma grande quantidade de capital ou de meios de 
produção. Em contrapartida, os trabalhadores estão na base inferior da sociedade por 
disporem unicamente de sua força de trabalho, e não de capital ou meios de produção. 
Entretanto, dentro dessa mesma sociedade os indivíduos podem desempenhar outros 
papéis e alcançar novas posições sociais, relacionadas com a religião que praticam o partido 
político em que militam, as funções sociais que desempenham a profissão que exercem e 
outras atividades. 
Esses diferentes papéis estão interligados. Entretanto, para efeitos didáticos, vamos 
começar por separá-Ios e classificá-Ios. 
 
1.1.1 Principais tipos de estratificação social 
 
Estratificação econômica. Definida pela posse de bens materiais, cuja distribuição 
pouco equitativa faz com que haja pessoas ricas, pobres e em situação intermediaria. 
Estratificação política. Estabelecida pela posição de mando na sociedade (grupos que 
tem poder e grupos que não têm). 
Estratificação profissional. Baseada nos diferentes graus de importância atribuídos a 
cada profissional pela sociedade. Por exemplo, em nossa sociedade a profissão de médico é 
muito mais valorizada do que a de pedreiro. Como já vimos os aspectos econômicos, político, 
social e cultural de uma sociedade estão interligados, bem como os vários tipos de 
estratificação. No entanto, ao longo da História, o aspecto econômico tem sido mais 
determinante do que os outros no processo de estratificação social e na caracterização da 
sociedade. 
 
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A estratificação econômica 
 
Para tornar mais clara a estratificação econômica numa sociedade vamos recorrer a 
duas simulações. 
1. Reunimos as pessoas em grupos conforme seu nível de renda. 
2. Dividimos os grupos em camadas hierarquizadas, isto é, uma superior, uma intermediaria e 
uma inferior. 
Obtemos assim o quadro geral de uma estratificação econômica baseada em faixas de 
renda. 
• Grupo ou camada A - pessoas de renda alta. 
• Grupo ou camada B - pessoas de renda média. 
• Grupo ou camada C - pessoas de renda baixa. 
 
Na figura a seguir, temos uma pirâmide social dividida em estratos, segundo o critério 
"nível de renda". Na camada de baixo, a mais ampla, estão representados os indivíduos de 
baixa renda, o grupo ou camada C. No topo, no estrato mais estreito, estão representadas as 
pessoas de maior renda, que pertencem ao grupo A. Na camada intermediaria estão incluídas 
as de renda média, que pertencem ao grupo B. 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.2 Tipos de sociedades estratificadas 
 
Vamos estudar agora as principais características dos três tipos de estratificação social 
mencionados. 
 
Castas sociais 
 
Existem sociedades em que os indivíduos nascem numa camada social mais baixa e 
podem alcançar, com o decorrer do tempo, uma posição social mais elevada. Esse fenômeno é 
conhecido como mobilidade social (veja mais adiante). 
Em contrapartida, existem sociedades em que, mesmo usando toda a sua capacidade e 
empregando todos os esforços, o indivíduo não consegue alcançar uma posição social mais 
elevada. Nesses casos, a posição social lhe é atribuída por ocasião do nascimento, 
independentemente de sua vontade. Ele carrega consigo, pelo resto da vida, a posição social 
herdada. 
A sociedade indiana é estratificada dessa maneira. Há séculos, a população da Índia 
esta distribuída em um sistema de estratificação social rígido e fechado, que não oferece a 
menor possibilidade de mobilidade social. É o sistema de castas. 
A pirâmide da ilustração mostra 
graficamente a estratificação social de uma 
sociedade, ou seja, como ela esta dividida 
em estratos ou camadas sociais. 
Dependendo do tipo de sociedade, 
esses estratos ou camadas podem ser 
organizados em: 
• castas (como ocorre na Índia); 
• estamentos ou estados (Europa durante o 
feudalismo); 
• classes sociais (sociedades capitalistas). 
Cada uma dessas formas de 
estratificação tem características próprias, 
como veremos a seguir. 
 
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Enquanto nas sociedades ocidentais pessoas de níveis sociais diferentes podem se 
casar – o que não raro possibilita a ascensão social de um dos cônjuges –, na Índia o 
casamento só é permitido entre pessoas da mesma casta. 
As castas são grupos sociais fechados, cujos membros seguem rigorosamente as 
tradições familiares. 
Um indivíduo nascido em determinada casta deve permanecer nela pelo resto da vida. 
Sua posição social é definida ao nascer. Além de direitos e deveres específicos, as pessoas 
não podem ascender socialmente mediante qualidades pessoais, mérito ou realizações 
profissionais. 
Pode-se esquematizar a estratificação social indiana por meio da seguinte pirâmide de 
castas: 
 
 
 
 
No topo da pirâmide estão os brâmanes, que são os sacerdotes e os mestres da 
erudição sacra. Segundo sua crença, a eles compete preservar a ordem social, estabelecida 
por orientação divina. 
A seguir, distribuidos pela segunda casta, vem os xátrias, guerreiros que formam a 
aristocracia militar. 
A terceira grande casta – a dos vaixás – é formada pelos comerciantes, artesãos e 
camponeses. Os sudras, por sua vez, executam os trabalhos manuais e diversas tarefas 
servis. São uma casta depreciada, tendo o dever de servir às três castas superiores. 
Na base da pirâmide social ficam os párias, grupo de miseráveis, desprovidos de 
direitos e sem profissão definida. Totalmente desprezados pelas demais castas, vivem da 
caridade alheia. Os párias não podem banhar-se nas águas sagradas do rio Ganges (o que é 
permitido às outras castas), nem ler os Vedas, que são os livros sagrados dos hindus. 
Embora o sistema de castas tenha sido abolido oficialmente em 1947, quando a Índia 
conquistou a independência sob a liderança de Mahatma Gandhi, basta percorrer o país para 
constatar que, na prática, o antigo regime sobrevive. Os indianos das castas superiores não 
aceitam perder seusprivilégios, e os membros das castas inferiores e os "sem castas" 
continuam sendo excluídos, rejeitados, privados de educação formal e de outras 
oportunidades. Cabem a eles as piores tarefas, como limpar fossas e lavar cadáveres. 
Na segunda metade do século XX, reformas sociais e mudanças na economia da Índia, 
impulsionadas pela industrialização, começaram a romper o sistema de divisão em castas. 
Assim, nos grandes centros urbanos do país, como Nova Délhi, Bombaim e Calcutá, a abolição 
do sistema vem ocorrendo gradativamente. Entretanto, ele ainda perdura na maior parte da 
Índia rural. 
 
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Estamentos ou estados 
 
Um exemplo típico de sociedade estratificada em estamentos pode ser encontrado na 
Europa ocidental durante a Idade Média (476-1453), sob a vigência do modo de produção 
feudal. 
Estamento ou estado é uma camada social semelhante à casta, porém um pouco mais 
aberta. Na sociedade estamental, a mobilidade social é difícil, mas não impossível, como na 
sociedade estratificada em castas. 
Na sociedade feudal, a ascensão era possível nos raros casos em que a Igreja 
recrutava seus membros entre os mais pobres; quando os servos eram emancipados por seus 
senhores; no caso de o rei conferir um título de nobreza a um homem do povo; ou, ainda, se a 
filha de um rico comerciante se casasse com um nobre, tornando-se, assim, membro da 
aristocracia. 
A pirâmide social da sociedade estamental durante o feudalismo europeu apresentava-
se da seguinte maneira: 
 
 
 
No vértice da pirâmide encontravam-se a nobreza e o alto clero. Eram os donos da 
terra, da qual obtinham renda explorando o trabalho dos servos. Os nobres dedicavam-se a 
guerra e a caça, cuidavam da administração do feudo e exerciam o poder judiciário em seus 
feudos. 
O alto clero (cardeais, arcebispos, bispos, abades) era uma elite eclesiástica e 
intelectual. Seus membros vinham da nobreza. Constituíam também a única camada letrada na 
primeira fase do período medieval, desempenhando importantes funções administrativas. 
Abaixo da camada dos nobres, encontravam-se os comerciantes. Embora ricos, muitas 
vezes eles não tinham os mesmos privilégios da nobreza. Além disso, suas atividades sofriam 
uma série de restrições legais. Tais restrições foram desaparecendo a medida que o 
feudalismo entrou em declínio. 
Mais abaixo estavam os artesãos, os camponeses livres e o baixo clero. Os artesãos 
viviam nas cidades, reunidos em associações profissionais, as corporações de ofício; os 
camponeses livres trabalhavam a terra e vendiam seus produtos agrícolas nas vilas e cidades; 
o baixo clero, originário da população pobre, convivia com o povo prestando-Ihe assistência 
religiosa. 
Abaixo de todos estavam os servos, que trabalhavam a terra para si e para seus 
senhores, vivendo em condições precárias: estavam ligados a terra, passando a ter novo 
senhor quando a terra mudava de dono. 
A divisão da estrutura social em estamentos – que representou um tipo intermediário 
entre a casta e a classe – o era encontrada na Europa ate fins do século XVIII. 
 
 
 
 
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Classe social 
 
Já vimos como é possível descrever a divisão da sociedade em estratos ou camadas. 
Agora, vamos conhecer outra abordagem da divisão social, baseada no conceito de classes 
sociais. 
Mas, atenção: estamos acostumados a ver, sobretudo na mídia e nas pesquisas de 
mercado, a palavra "classe" como sinônimo de camada ou estrato. Não é disso que se trata. O 
que estudaremos agora é o conceito de classe social tal como é abordado na literatura 
sociológica. Desenvolvido pelo pensador alemão Karl Marx, esse conceito parte de premissas 
próprias, segue critérios específicos e sua aplicação leva a conclusões totalmente diferentes 
das que podem ser encontradas nos estudos que analisam a sociedade segundo o modelo 
descritivo da estratificação social. 
Na unidade anterior aprendemos que, para Marx, a história da humanidade é "a história 
da luta de classes". Segundo esse autor, portanto, a classe social é acima de tudo uma 
categoria histórica. Quando Marx se refere às duas grandes classes do capitalismo – a 
burguesia e o proletariado –, esta designando duas forças motrizes e concretas do modo de 
produção capitalista, um sistema econômico historicamente determinado. 
O próprio Marx, no entanto, não reivindicava a descoberta das classes sociais nem da 
luta de classes, mas sim a "demonstração de que a existência das classes só se liga a 
determinadas fases históricas de desenvolvimento da produção". Marx atribuía uma 
importância particular aos conflitos entre as classes. Para ele, são esses conflitos que 
constituem o principal fator de mudança social. Seriam esses conflitos, portanto, que 
imprimiriam movimento e dinamismo à sociedade. 
 
 
 
 
Por outro lado, as classes sociais mudam ao longo do tempo, conforme as 
circunstâncias econômicas, políticas e sociais. As contradições que mantém entre si forjam e 
estruturam a própria sociedade. Quando os conflitos chegam a um ponto insuportável, ocorre 
uma revolução que transforma a sociedade, modificando o modo de produção. 
Foi o que aconteceu, como vimos, com o feudalismo: uma nova classe (a burguesia) 
derrubou um velho estamento (a nobreza), gerando a sociedade capitalista. A Revolução 
Francesa de 1789 foi uma das expressões dessa transforma. 
Mas a nova sociedade capitalista, na concepção de Marx, já começou dividida em duas 
grandes classes conflitantes: a burguesia (proprietária dos meios de produção) e do 
proletariado, ou classe operária, que só tem de seu, a fúria de trabalho. Vladimir Lenin (1874-
1924), líder da Revolução. Na Rússia de 1917 é um dos grandes pensadores marxistas, definiu 
Para Karl Marx, a classe 
capitalista (burguesia) 
precisa da classe operária 
(proletariado) para 
produzir, criar riquezas e 
faze-Ias circular. Existe, 
assim, uma relação de 
complementaridade entre 
as duas grandes classes 
do modo de produção 
capitalista. Entretanto, 
essa relação é também 
de antagonismo, pois o 
proletariado esta, 
segundo Marx, em 
confronto aberto e 
permanente com a 
burguesia. Na foto, 
operários da construção 
civil trabalham no alto de 
um edifício em São Paulo, 
em março de 2002. O 
setor da construção civil 
emprega cerca de 7% de 
toda a força de trabalho 
no Brasil. 
 
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o sistema de classes da seguinte forma: "As classes são grupos de homens relacionados de tal 
forma que uns podem apropriar-se do trabalho de outros por ocupar posições diferentes num 
regime determinado de economia social". 
Na definição de Lenin, esses homens e mulheres que formam as classes sociais se 
diferenciam entre si pelo lugar que ocupam na produção. Alguns desempenham cargos de 
direção e são proprietários de fábricas e empresas de todo tipo (meios de produção); outros 
apenas executam as tarefas determinadas pelos chefes em troca de um salário: São os 
trabalhadores. Dessa forma, é a propriedade privada dos meios de produção que constitui a 
base econômica da divisão de nossa sociedade em classes. 
Essa divisão baseada no regime de propriedade faz com que uma classe seja 
dominante, e a outra, dominada, numa relação sistemática de dominação e exploração. 
Assim, a teoria das classes não se limita a descrever as divisões da sociedade em 
camadas, como faz o modelo da estratificação social, mas procura explicar como e por que 
elas ocorrem historicamente. As classes sociais só existem a partir da relação que 
estabelecem entre si. Nesse sentido, as classes são, além de antagônicas, necessariamente 
complementares. A burguesia, por exemplo, não pode existir sem o proletariado. 
Complementares, porque são elas que fazem funcionar o sistema. Antagônicas, porque 
uma delas (a burguesia) se apropria do trabalho da outra (o proletariado), o que gera o conflito 
permanente.As classes médias 
 
Entre a burguesia e o proletariado existem outros grupos que se movem entre as duas 
classes fundamentais, oscilando de uma para a outra. Alguns desses grupos são denominados 
genericamente de classes médias, ou pequena burguesia. 
A pequena burguesia constitui um setor muito numeroso, que abrange desde o dono de 
um pequeno armazém até os pequenos e médios proprietários de terra, passando por todos os 
assalariados que trabalham em escritórios, funcionários públicos e profissionais liberais. 
Ao contrário da burguesia e do proletariado, que atuam diretamente na produção social, 
entre as classes médias (também chamadas de classe media, no singular, por muitos autores) 
misturam-se múltiplos papéis. Não se trata, portanto, de uma classe política e socialmente 
homogênea. 
Segundo Karl Marx, essa heterogeneidade das classes médias explica por que, nos 
conflitos sociais e políticos, elas oscilam tanto, ora apoiando os interesses da grande 
burguesia, ora apoiando os interesses dos trabalhadores. 
 
Marx e a luta de classes 
 
Uma classe oprimida é a condição 
vital de toda sociedade fundada no 
antagonismo entre classes. 
A grande indústria aglomera num 
mesmo local uma multidão de pessoas que 
não se conhecem. A concorrência divide 
seus interesses. Mas a manutenção do 
salário, esse interesse comum que têm 
contra seu patrão, reune-os num mesmo 
pensamento de resistência e coalizão (isto é, 
os trabalhadores se organizam em sindicatos 
e outras formas de associação para lutar 
pelos seus direitos). 
Portanto, a coalizão tem sempre um 
duplo objetivo: cessar a concorrência entre 
os trabalhadores e realizar uma concorrência 
geral contra o capitalista. 
O primeiro objetivo da resistência é 
apenas a manutenção do salário. Mas, na 
medida em que os capitalistas se unem para 
reprimir a resistência dos trabalhadores, as 
coalizões também se unificam. E a 
manutenção da resistência torna-se mais 
importante do que a manutenção do salário. 
Nessa luta – verdadeira guerra civil – 
concentram-se e se desenvolvem todos os 
elementos necessários a uma batalha futura. 
E, uma vez que se chega a esse ponto, a 
associação adquire um caráter político. 
 
 (Adaptado de: Karl Marx. Miséria da Filosofia. 
2ª ed. Rio de Janeiro: Leitura, 1965. p. 81, 83, 89.) 
 
 
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1.3 Mobilidade social 
 
Em maio de 1953, Lourenço Carvalho de Oliveira, nascido na pequena aldeia de Vigia, 
no norte de Portugal, desembarcou no porto de Santos, no litoral de São Paulo, depois de onze 
dias de viagem na terceira classe do transatlântico Vera Cruz. Em sua terra, deixara a mulher e 
três filhos pequenos vivendo graças à solidariedade de parentes e vizinhos. 
Foi morar de favor na casa de um primo e arrumou emprego como ajudante num bar. 
Economizou muito, mandou buscar a família e conseguiu, depois de anos de trabalho e 
privações, abrir uma pequena venda em sociedade com um amigo. O negócio foi crescendo: 
primeiro uma mercearia, depois um mercado, a seguir um supermercado. Em 1988, 35 anos 
depois de chegar ao Brasil, o Sr. Lourenço era dona de uma grande rede de supermercados, 
tendo se tornado um dos mais influentes membros da Associação Comercial de São Paulo. 
Seus filhos têm curso superior e um deles é professor na Universidade de São Paulo. 
Essa história de vida mostra que os indivíduos, numa sociedade capitalista, podem 
chegar a ocupar diferentes posições sociais – ou estratos – durante a vida. É possível que 
alguns deles, que integram o estrato de baixa renda (camada C), passem a integrar o de renda 
média (camada B) ou mesmo o de renda alta (camada A). 
Por outro lado, alguns indivíduos da camada A podem ter sua renda diminuída, 
passando a integrar as camadas B ou C. Do ponto de vista sociológico, os dois fenômenos são 
caracterizados como manifestações de mobilidade social. 
Mobilidade social é a mudança de posição social de uma pessoa (ou grupo de pessoas) 
num determinado sistema de estratificação social. 
 
 
 
 
Um árduo caminho rumo ao topo 
 
 
Mobilidade social é um termo neutro 
no universo das Ciências Sociais. Ele pode 
indicar algo positivo a respeito de um país, 
caso as pessoas estejam ascendendo na 
pirâmide que define as classes sociais. E 
também pode ser negativo se o movimento 
for inverso. 
No Brasil, mobilidade social, sob a 
forma de Ascensão, ainda esta entre as mais 
altas do mundo, apesar da crise econômica 
dos últimos anos. 
O sociólogo José Pastore, 
especialista no assunto, lembra que, do 
universo dos que se movem, 80% subiram 
Em uma sociedade aberta e democrática, é comum pessoas 
de um grupo social passarem para outro grupo, mais ou 
menos elevado na escala social. A esse fenômeno, que tanto 
pode ser ascendente como descendente, da-se o nome de 
mobilidade social. No Brasil, a chegada do ex-metalúrgico 
Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, em 
janeiro de 2003, é expressão dessa mobilidade. Com ele, 
passaram a integrar o governo diversas pessoas 
provenientes das camadas mais baixas da sociedade. É o 
caso, por exemplo, de Marina Silva, ministra do Meio 
Ambiente (na foto, com o pai em Brasília, em 2003), que foi 
seringueira no Acre e só pode estudar a partir dos 17 anos. 
 
 
1.3.1 Tipos de mobilidade social 
 
Quando as mudanças de posição social 
ocorrem no sentido ascendente ou descendente 
na hierarquia social, dizemos que a mobilidade 
social é vertical. Quando a mudança de uma 
posição social a outra se opera dentro da mesma 
camada social, diz-se que houve mobilidade 
social horizontal (veja mais adiante). 
 
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na escala social e 20% desceram em uma 
geração. “A maioria das famílias brasileiras 
esta em condições melhores do que a 
geração anterior” reforça Pastore. Segundo o 
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística), 40% das pessoas vivem melhor 
hoje do que ha vinte anos. 
De forma geral, pode-se afirmar que 
um país com tal mobilidade social deveria 
estar se transformando num modelo de 
sociedade homogênea e igualitária, algo 
como a Suécia, por exemplo. 
A classe que engloba os mais 
abastados, que era formada por 3,5% dos 
brasileiros no passado, hoje chega a 5%, 
segundo dados de Pastore. É um aumento 
significativo, mas outros aspectos ligados ao 
desenvolvimento da economia brasileira 
sugerem que os indicadores a respeito da 
distribuição de renda talvez não sejam tão 
animadores. A maioria dos brasileiros esta 
subindo apenas um pouco. E o avanço social 
de algumas famílias esta ligado ao fracasso 
de outras. 
Se o Brasil entrar numa nova fase de 
crescimento de sua economia! É possível 
que isso mude. A base de superação das 
desigualdades sociais já está sendo lançada: 
ampliou-se oferta de vagas nas 
universidades por exemplo. No Brasil, a 
número de matrículas no ensino superior 
treplicou em uma década, e o país esta 
superando a atraso histórico de sua 
educação em relação à Argentina. 
(Veja Especial, maio 2002) 
 
Mobilidade social vertical 
 
A mobilidade social vertical pode ser: 
 
� ascendente ou de ascensão social – quando a pessoa melhora sua posição no sistema de 
estratificação social, passando a integrar um grupo economicamente superior a seu grupo 
anterior; 
 
� descendente ou de queda social – quando a pessoa piora de posição no sistema de 
estratificação, passando a integrar um grupo economicamente inferior. 
O filho de um operário que, por meio do estudo, passa a fazer parte da classe média é 
um exemplo de ascensão social. A falência e o consequente empobrecimento de um 
comerciante, em contrapartida, é um exemplo de queda social. 
Assim, tanto a subida quanto a descida na hierarquia social são manifestações de 
mobilidade social vertical. 
 
 
Mobilidade social horizontal 
 
Uma pessoa semuda do interior para a capital. No interior, ela defendia ideias políticas 
conservadoras; agora, na capital, sob novas influências, passa a defender as ideias de um 
partido progressista. Seu nível de renda, porém, não se alterou substancialmente. A situação 
mostra uma pessoa que experimentou alguma mudança de posição social, mas que, apesar 
disso, permaneceu no mesmo estrato social. 
Assim, a mudança de uma posição social dentro da mesma camada social caracteriza-
se como mobilidade social horizontal. 
 
 
1.4 Democracia e mobilidade social 
 
O fenômeno da mobilidade social varia de uma sociedade para outra. Em algumas 
sociedades ela ocorre mais facilmente; em outras, praticamente inexiste no sentido vertical 
ascendente. É mais fácil ascender socialmente nos Estados Unidos, por exemplo, do que no 
interior da Índia, ainda dominado pela estratificação social em castas. 
A mobilidade social ascendente é mais frequente numa sociedade democrática aberta, 
que enaltece a escalada rumo ao topo de indivíduos de origem humilde – como nos Estados 
Unidos –, do que numa sociedade de tradição aristocrática, como a Inglaterra. 
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Entretanto, é bom esclarecer que, mesmo numa sociedade capitalista mais aberta, a 
mobilidade social vertical não se dá de maneira igual para todos os indivíduos. A ascensão 
social depende muito da origem de classe de cada indivíduo. 
Alguém que nasce e vive numa camada social elevada tem mais oportunidades e 
condições de se manter nesse nível, ascender ainda mais e se sair melhor do que os 
originários das classes inferiores. 
Isso pode ser facilmente verificado no caso dos jovens que pretendem fazer o curso 
superior. Aqueles que, desde o início de sua vida escolar, frequentaram boas escolas e, além 
disso, estudaram em cursinhos preparatórios de boa qualidade, tem mais possibilidades de 
aprovação nos vestibulares das universidades públicas e privadas do que os jovens 
provenientes das classes de baixa renda. 
 
 
 
 
FILMES SUGERIDOSFILMES SUGERIDOSFILMES SUGERIDOSFILMES SUGERIDOS 
 
 
∗ Ghandhi – Richard Attenborough 
∗ O grande Gatsby – Jack Clayton 
∗ Queimada – Gillo Pontecorvo 
∗ O leopardo – Luchino Visconti 
∗ O senhor da guerra – Franklin Schaffner 
∗ Agora ou nunca – Mike Leigh 
∗ Barry Lyndon – Stanley Kubrick 
∗ Ver-te-ei no inferno – Martin Ritt 
∗ Norma Rae – Martin Ritt 
∗ A classe operária vai ao paraíso – Elio 
Petri 
∗ Agora ou nunca – Mike Leigh 
 
 
QUESTÕES PARA ESTUDOQUESTÕES PARA ESTUDOQUESTÕES PARA ESTUDOQUESTÕES PARA ESTUDO 
 
 
1. Estabeleça a relação entre estratificação social e mobilidade social. 
 
2. Entre os tipos de estratificação social, um deles tem sido o determinante. Dê o nome desse 
tipo de estratificação social e explique sua importância na caracterização da sociedade. 
 
3. Compare a mobilidade social nas sociedades de castas, estamentos e classes sociais. Se 
preferir, faça um quadro ou um esquema. 
 
4. Em que estrato a mobilidade social ocorre com mais facilidade? 
 
5. O que você entende por classe social? 
 
6. Qual a contradição fundamental entre as duas principais classes da sociedade capitalista? 
 
7. Como você define as classes médias? 
 
8. Pesquise dados que possibilitem formar uma ideia sobre a estratificação social no Brasil de 
hoje.

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