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3 - Dicionario de Politica - Vol 2 - Norberto Bobbio

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'
DE
POLÍTICA
VOL. 2
NORBERTO BOBBIO, NlCOLA MATTEUCCI
B
GlANFRANCO PASQUINO
l ]uedição
Tradução
Caimcn C. Varriale, Gaclano Lo Mônaco, João Ferreira,
Luís Guerreira Pinto CüCfllS e Renzo Dini
Coordenação da tradução
João Ferreira
Revisão geral
João Ferreira c Luís Guerreiro Pinto Cacais f' /V
L-0
RELAÇÕES INTERNACIONAIS 1089
RcIbçõcs intcrnncionnis.
I. A DIÇOTOMIA "SODERANIA ESTATAL-ANAfl.
QUIA INTERNACIONAL" COMD FUNDAMENTO DA
DISTINÇÃO ENTRE IIKLAÇÕES INTERNAS E RELA
ÇÕES internacionais. _ A expressão Relações
internacionais indica, nos lermos mais Genéricos,
n complexo das reluções que inlcrmedeiam entre
\ os Estados, entendidos quer comouparelhus quer
ij como comunidades; implica a distinção da esfera
v específien das Relações Internacionais da esfera
yf^fidas relações Internas dos Estados. Tal distinção
V cstrl, com efeito, associada, mesmo n nível do
^•Ç sentir comum, n itlcin de que existem importantes
O^j elementos de diferença entre as relações internas
rv_j c as Relações internacionais. Isto nos põe, por-
^3 ^ tnnlo, diante da necessidade preliminar de csclo-
y^ Q recer rigorosamente lais diferenças, isto ê, de
[ restabelecer um crilério qualitativo de dislinção
/,^±C\ dos duos esferas de relações. liste crilério não
*y- poderá fundar-se na divcisidadc dos atores, ou
, \Osejn,~n6r essencialmente a diferença no fato de
q ^ que, no.'contexto das Relações internacionais, os
!// ** atores seriam os Esladns, cnqunnlo, no das rc-
^ loções Internos, os ntores seriam os indivíduos c
os sujeitos coletivos não estatais, como os par
tidos, os sindiculos,ns enipresus, cie, Coiii efeilo,junto com os Estados, possuem lambem um papel
importnntc nas Relações Iniernacionnls organis
mos de índole Inlcrnocloual (ONU. NATO e
outros sistemas de alianças Internacionais, CO-
MECON, 01'F.C, etc), organismos integralivos
como ns comunidades européias, grupos de pres
são como as empresas multinacionais e ns inter
nacionais partidárias e sindicatos, orgnnizaçõcs
como n OLP c por nf afora. Esse crilério tombem
não pude basear-se csscncialmcnle na diferença
relativo ao' conteúdo,.porque, no contesta inter
nacional como no interno, existem lelnçücs de
conlcúdu político, econômico, social, cultural,
etc., de caráter cooperativo ou confliluosn e, nlen-
dendo sõ a esle aspecto, não se revelam diferen
ças tão claras e evidentes que possam servir cie
liasc a um clarificador critério de dislinção. Na
realidade, tul critério não pode senão referir-se
essencialmente no modo diverso como ns relações
internas c Internacionais se regulam, ou seja,
ao fato de que, enquanto ns primeiras se desen
volvem normalmente sem o recurso à violência,
que é monopólio da autoridade soberana, ns se
gundas se desenvolvam "íi somhro da guerra"'
(R. Aron), isto é, envolvem a possibilidade per
manente da guerra ou da sua ameaça, quando
nãa suo experiência frcqílenle.
O conceito fundamental de onde se há de
partir é que, se n Soiikoania (v.), ou monopólio
\yj^
<f
<?
:?
í:
I
.• J...
internacional da força, é o puder de garantir, cm
última instância, a eficácia de um ordenamento
jurídico, sendo por isso o garantia da manutenção
de relações pacíficas dentro do Iislodo. ela é
também, por outro lodo, a cousn do guerra nos
.reluções entre us Estadas (Knnt). No contexto
internacional, a saberaniu do Estudo significo na
realidade que ele não está sujeita n leis que lhe
sejam impostas por uniu autoridade supraestu-
bclccida, doludu do monopólio dn lorça; signi
fica, por outras palavras, o existência de uma
situação anárquica. Não podendo, pois, us con
trastes que surgem nas Relações internacionais ser
resolvidos mediante decisão de um poder sobe
rano capaz de impar um ordenamento jurídico
eficaz, os Estados recorrem, em úllimo análise,
à prova de forço, vendo-se obrigados, cm visla
da constante possibilidade de tal situação, o ar-
marem-sc uns contra os outros ou, se não puderem
conffcuvsri em snusnrmos, a npoiarcm-se nas ar-
niasNrliicias. Esld aqoi», portanto, a rai?. profunda
dn( política de potencial da guerra, do imperia-
j, entendido estepe seu contexto maisgeral,
quer awm_c*p«ms!10(los Eslndos mais fortes cm
detrimento dos Estados ou povos mais débeis,.
quer como imposição da vontade e dos interesses
daqueles n esles. Este conceito das Relações inter
nacionais c do sua diferença qunnio üs relações
internas não é desmentido pelo existência de um
dircilo internacional, que muitos juristas consi
deram um ordenamento originário, plenamente
vinculndor porá quantos lhe estão sujeitos. Nn
realidade, se se analisam ns normas do dircilo
internacional sob o aspecto, não dn sua volidade,
mas da sua eficácia, fica fora de dúvida que esta
repousa, cm última instância, na vontade que
tivetem os destinatárias de us acatar, o fato de
que o dclci minados organismos internacionais,
como a ONU, seja icconhccida pelos seus mem
bros a faculdade de cunhecer das contendas en-
lic ns nações e de coillinnr simções, nõu modifica
os termos dn qucstfto. se se considera que, salvo
cnsns tntnlmcnlc secundários, a execução de san
ções desse gênero levn o guerra, que é o contrária
do dircilo. Tudo istosignlflcn que, enquanto tem
sentido afirmar serem ns relações dos homens den
tro do Estado reguladas pelo direito, uma afir
mação desse tipo não tem qualquer fundamento,
se referida às Relações inicrnoclonois, onde o
direito internacional, conquanto desempenhe ní
um papel preciso, pelos raíões que mais adiante
serão melhor esclarecidas, possui essencialmente
a função de servir de instrumento das políticas
externas dos Estados, detcinilnadas pelo jogo dos
interesses c dos relações de força.
Sc é claro que a diferença realmente essencial
que cxislc entre as Relações internacionais e as
OH
1Ü9D RELAÇÕES .INTERNACIONAIS
9
intenins diz respeita uo modo como elas se re
gulam, será"possível compreender como tal dife
rença estrutural influi também cm seu conteúdo.
Eu] substância, se excetuarmos os situações de
profunda Crise institucionalou uié de guerra civil,
existe dentro do Estado um grau de cetteza e
de previsibilidade nas relações entre os homens
que, 'mesmo sendo rclutlvo, visto haver sempre
Uimbém dentro do Estada timii esfera nua climi-
nável de relações untijurídicas. ó, de qualquer
modo, qualitativamente diverso da natureza es-
Iruiurnlineule aleatória que caracteriza as Rela
ções intcrnucioiiaic. Estos, com efeito, além de
estarem subordinadas uu Cxilo das guerras, tor
nam-se mais difíceis mesma nos momentos de
paz (ou melhor, de tiéguu), estando'sempre de
nlgum modo sujeitas b. necessidade da segurança
militar, que, coma esclarece a teoria'da Razão
de Estado (v.), possui um valor prioritário em
relação aos princípios jurídicos, morais, políticos
e^ econômicos, considerados, no entanto, impera
tivas, quando nãoesli em jogo n segurança.
A sltuuçãn estrutural de anarquia que carac
terizo us Relações internacionais é, por outro Iodo,
igualmente relevonle quanto aos atores que ope
ram nesse contexto.. Sc é verdude, coma vimos,
que aqui, ao lado dus Estados, desempenham tum-
bém um papel inipoituniu atures não estatais,
se è verdade que tais atores tem um papel deci
sivo e a iniciativa num grande uúmero de crises
e de eunfllios internacionais (pense-se nas cm-
•presnG multinacionais), Inmbém 6 verdade, por
outro lado, que, quando se chega us provas de
força, não são eles que us levam a efeito, mas
os Esiudus, que monopolizam a força, c os resul
tados dessus provas são afinal avaliados segundo
a influência que eles têm no vida dos Estados
envolvidos. O que indica que os Estadas são, se
nãu os únicos, certamente os atores decisivos no
contexto das Relações internacionais.
O raciocínio baseado mi dicolatuiu "soberania
eslntnl-anurquiu internacional", i necessário ainda
precisar, não 6 absolutamente valido; o á em
relação ao contexto histórico especifico u deter
minado, conquanto de grandes dinicusõcs c im
portância, caracterizudo pela existenein dos mo
dernos Estados soberanos (ou de enlidudes n eles
ossçmelhadps). Na realidade,sõ onde existe o
fenômeno de uma pluralidade- de Estadas sobe
ranos ê que se pode distinguir, cm sentido estrito,
uma esfera de relações internas, ou seja, subor
dinadas à soberania, de uma esfera de Relações
internacionais, isto c, desenvolvidas entre enti
dades soberanas, não siihnnliniidiis. n uma autori
dade superior. Em concreto, o contexto histórico
que corresponde de modo paradigmático a estes
requisitos i5 o du Europa moderou (depois também
•o do mundo iniclro, conr o afirmação no século
XX de um sistema mundial de Estados e a genc-
,ra|izoçãD em lodo o mundo das formas do Estado
piodemp). A Europa moderna começou a formar-
•se em conseqüência das transformações operadas
.entre o fim .da Idade Média e u paz de Weslfáliu
.(1648), que representa, ao mesmo tempo, um mo-
mcnio decisivo rio processo de realização c con
solidação da monopólio da força dentro do Es
tado, o momento em que se reconhece formal
mente, de modo geral, a soberania absoluta do
Estada no plano Internacional, c também aquele
cm que se definem oficialmente as bases do di
reito internacional, ou seja, do direito destinado
ii regular us relações entre os Estudos soberanos.
'Çam esta situação contrastam, de formo paradig
mática, por razões apostas, tanta a condição me
dieval de dispersão da soberania, onde, não exis
tindo nenhumu autoridade efetivamente soberana,Í uxtrçmumenli; problemático, se não impossível,
distinguir as relações internas dus biiernucionals.
quanto u época cm que o império romano doml-
nnu de forma quase completa a árcu da civili
zação clássica mediterrânea, depois de nela haver
eliminudu todo u Estado ou povo independente.
Mas existe, ao contrario, uma certa analogia entre
a Europa moderno e n siluoçdo dos cldades-Es-
lados da antiga Grécia, no período, do seu ninior
florescimento e da sua independência. A mesma
semelhança se encontra também nus prhicipudos
italianos do século XV. Em geral, us coutexlos
históricos caracterizados pela existência durável
de unia pluralidade de Estudos soberanos cons
tituem os modelos de referência indispensáveis
na analise de situações embrionárias ou interme
diárias que emergem em diversos contextos his
tóricos u culturais. Deve-se, enfim, observar, pa
ra concluir csic ponto, que us conseqüências vin
culadas â aluai existência de unia pluralidade de
Estados soberanos estão fadados a desaparecer,
caso £C chegue ü criação de um único Estado
mundial.
II. O sistema uos Estados e o governo do
mundo. — Sc com o conceito de anarquia inter
nacional se põe cm evidência o dado estrutural
constituído pelo uusGuciu de um ordenamento
jurídico eíicuz c pelo cunseqüenU: predomínio da
lei da força tias Relações internacionais, Lsso niia
significa em absoluto julgar que a realidade inter
nacional seja uma situação totalmente caótica,
dominada pelo chuque contínuo, irracional e
imprevisível entre os Estudos, uma situação, por
tanto, destituída de toda o ardem. Na realidade,
os teóricos du ruzão du Estudo começaramu per
ceber desde o início que existem no contexto
internacional outros elementos estruturais, ul-iui
RELAÇÕES INTERNACIONAIS 1091
do mais geral da anarquia, que tornam menos
caóiicu, e, conseqüentemente, relativamente muis
compreensível e previsível cm seu desenvolvi
mento concreto,'tu! contexto. O pensamento que
foram progressivamente elaborando c aperfei
çoando (c que sobretudo nestes dois últimos sé
culos atingiu um notável rigor teórico), na tenta
tivo de esclarecer os demais elementos estrutu
rais que atuam na realidade Internacional e de
o controlar de mudo mais apropriado, centraliza-
se no conceito de "sistema dos Estados", que
trataremos ogora de explicar cm seus aspectos
fundamentais,
O ponto de partida desta teoria c u consta
tação de que as relaçõesde força existentesentre
os Estados levaram a formação de uma férrea
hierarquia entre eles, uma hierarquia que dlscrl-
minu us "grandes potências", ou se.jn, os Estudos
realmenle capazes de defender de modo autôno
mo, ou com u-própria força, us seus Interesses,
dus médias e pequenas polências, que ptccisum,
em vez disso, de buscar u proteção de uma das
grandes potências, a menos que eslas lhe reco
nheçam concordemente u ncutiolldude. Uma tal
situação implica automaticamente que as decisões
fundamentais de que depende a evolução dus Ra
lações internacionais sejam tomadas pelas gran
des polências c, conseqüentemente, par um núme
ro muito reduzido de Estados soberanos em re
lação ao seu total. No sistema dos Estados euro
peus, ns grandes potências, que não foram sempre
os mesmas, nunca excederam o número de seis,
no passo que. no atual sistema mundial, foram
duas nté há pouco tempo c hoje, com o emergir
An Chino, tendem a ser três ou oié incsino quatro,
com u progressivo consolidação dn Comunidade
Européia.
Sc a existência das grandes potências constitui
um primeira c decisiva elemento estrutural no
quadro da anarquin internacional, nele introdu
zindo indubitavelmente um fator de ordem muito
genérico, qúu preside particularmente ás relações
entre os grandes e os pequenos Estados, o segun-
du elemento estrutural básico é o cqullibriu, que
regulo, ao invés, as relações entre as grandes
polêncius, introduzindo também ele um novo
fator de ordem. Au ver no equilihrio o dado
estrutural fundamental que condiciona as reluções
entre as grandes potências, quer-se ressaltar antes
de tudo uma situação de fato, ou seja, que entre
as grandes potências dominantes no sistema euro
peu e mundial (bem como na das cidadcs-Esludos
da Grécia e no italiano do século XV) se criou
uma situação duradoura de não excessiva dife
rença no plano du força, capaz de impedir que
qualquer delas se sobrepusesse a todas as demais
e, par conseguinte, de conter toda a tentativa
hegemônica, quer pela coalizão das restantes po
tências contra o Estado mais forle e seus aliados,
quer simplesmente devido â capacidade de resis
tência de umu só das polências. no caso de o
sislemu ser furniadu apenus por duas grandes
polêncius. Esle mecanismo pôde funcionar, en
quanto se manteve, giuçus a que as grandes po
tências aifoluram como regra de cumporlauienlo
no plauu internacional a palílica do equilíbrio.
Isso não quer dizer que a manutenção du equi
líbrio entre as grandes potências lenha consti-
luídu sempre o objetivo primário e conslnnle da
política externa de cada uma dessas polêncius^-
quer upenus dizer que cada uniu delas, nãu lendo
possibilidade objetiva de aspirar a hegemonia,
agiu regularmente de tal forma que pudesse im
pedir que um Estado ou coalizão de Estados
acumulassem forças superiores às dus seus rivais
coligados. Fizeram-no pela simples mas decisiva
razão de que a ruptura radical do equilíbrio traria
consigo a hegemonia de um Esindo sobre tudus
os outros c. par conseguinte, a perda da própria
soberania c independência. Esle mecanismo do
equilíbrio não trouxe consiga, como é evidente,
a superação da anarquia internacional com suus
mnnifcstoçães violentas e belicosas. A própria
política de equilíbrio torna indispensável, uliás,
que lodn a grande poiência aumente sem cessar
a sua força num inunda caracterizada por um
conllnun progresso econômico, demográfico e
tecnológico, e esteja, enfim, também dispostu a
fazer a guerra para manter precisamente o equi
líbrio. Por outro lado, o equilíbrio é o mecanismo
que tornou possível, no sistema europeu e mun
dial, a manutenção da uutonumin das graiídes
polências e, em conseqüência, de um sislemu
pluralista de Estados soberanos, que permitiu,
entre nutras coisas, garantir um mínimo de auto
nomia às médios a pequenas potências.
A hicrarquiu entre os Estadas e o equilíbrio
entre us grandes polências constituem, pois, no
quadro da anarquia internacional, as dois ele
mentos estruturais básicos que a transformam,
de simples pluralidade caótica de Estados, num
sistema ds Estadas, ou seja, numa realidade ca
racterizada por uma relativa ordem e. por isso,
relativamente mais compreensível e previsível em
seu desenvolvimento concreto. O equilíbrioentre
as grandes polêncius consumi, em purticulnr, a
condição concreta que induziu os Estudos n se
reconhecerem reciprocamente, ale de mndu for
mal, comu Estadas soberanos c que, no caso da
Europa moderna, loruou lealmente possível a
afirmução e progressiva difusão do dircilo inter-
nucionul, gurautindo-lhe a eficácia em medida
mais ou menos umplo, conforme us casos, apesar
de cie não derivar de um poder soberano. Com
1032 RELAÇÕES INTERNACIONAIS
efeito, segundo o pontode visto dn doutrina da
razão do Estado .(Hlnlze), ns normas do direito
Internacional que são efetivamente observadas
pelos Estudos, vfio buscar sua validade falua).
não tanto ao principio pacto sutil servanda, que
6 csscacialmeate um juíza de-valor, quanto so
bretudo ao falo de que. dado o equilíbrio, Isto
6, o impossibilidade rcol de eliminar n soberania
dos outros Estados, os atores- principais do :sis-
tema Internacional tiveram de .reconhecer n nn-
cessldado de conviverde algummodo.mesmosem
renunciar o política de. potência-e5 guerra como
extrema ratla, c, consequentemente, de regular
de alguma forma essa convivência de caráter
anárquico, fazendo nascerum dircilo sirigenerís,
na medida cm que legitima o uso normal da
violfinclo. Era substancie, se não existeum poder
soberano que garanta o respeitopelodireitointer
nacional, existe em-lodo caso uma situação de
poder, embora instável como o equilíbrio entre
as potências, que oblém de .alguma maneira o/
mesma efeito. Jr
A hierarquiaentre os Estados c o papel domi
nante dos grandes potências configuram, por ou
tro lodo, a presença de uma espécie de Governo
no quadro do sistema dos Estados, definido como
"Governo da mondo" com referência b fase em
qua o sistema europeu conseguiu dominar o
mundo inteiro, mas, com mais razão, cm relação
ò fase do atual sistema mundial. Troto se eviden
temente de um Governo de tipo quolitotivomenle
diverso tio existente no quadro da um Estado,
pois lhe folio o requisito da soberania, sendo cons
tituído por um conjunto de potências soberanas
que praticama políticade potênciaentre si o em
relação aos demais Estados. A soberania implica,
com efeito, que as dedsõcx da Estado relativas
aos cidadSos, mesmo sendo produto de discussões
a(6 muita ásperas (mas não violentas) entro os
vários partidos e grupos ecomSmico-scciaii, uma
vez traduzidas em normas que passarão a fazer
parte do ordenamento-jurídico, sejam impostas
pelo poder Irresistível:do Estado, mediante o
ação conjunta dos seus órgãos; Pelo contrário,
os decisões de valor internacional dos grandes
potências, tomados com base nas relações de
força entre grupos armados, ou mesmo na guerra,
e traduzidas em normas de direito internadonol,
tratados de vario gênero, alianças, distribuição
de zonas de influencia,regrasformaise informais,
etc, possuem sempre uma eficácia cstcururBlmcn-
te inferior em comparecia com si decisões In
ternas dos Estados e criam bIIudcocs estrutural-
mente mais precárias e aleatórias, NSn obstante
tais diferençasde qualidade,nSo é Injustoafirmar
qua os grandes potênciasexercem o Governo do
jnuzuio (ou do cisterna dos Estados), uma vez
que aos encontramos diante de uma aituaçSo em
qüii as dedsdes de um-número relativamentepe
queno.de sujeitos internacionais traçam as lindas
ÍQrtdamctitalsi do desenvolvimento- dni relações
entre os noçOes e delimitam em especial, de forma
decisivo, com uma Intensidade e rigor diversos
conformo os circunstancias, o campo de bçRo
dpj» médias e-pequenas polênciai. Panamos, além
djiso, observar que, cm certos períodos, tais de
cisões conseguem controlar a cvoluçSa da situa
ção internacional com tal eficácia que garantem
uina notável estabilidade (caracterizado parti
cularmente pela ausência de guerras gerais, ou
guerras qus envolvem as grandes -polências, c
pela ausência ou fraco- presença: de guerras limi
tadas ou locais) e estabelecem, por Isso, uma
verdadeira c autêntica "ordem internacional", isto
i, uma situação que, conquanto sempre qualita
tivamente diversa da situação Interna de um Es
tado, tende o assemelhar-se a.eln.Estnj fases,
mais.oi)-menos duradouras, seo.,em todo caso
regularmente interrompidas por. fases de crise
onuda na ordem internacional, ou seja, o mais
dás vezes, por guerras gerais,(ornados inevitáveis
pelo fato de que, quando surgem contrastes pro
fundosentreos grandes potências ou as potências
emergentes, tendem a modificar o ordem Inter
nacional para a ajustar fis suas crescentes neces
sidades, o único modo de resolver raies contrastes
d o guerra, de cujo desfecho dependerá depois
o nova configuração dn ordem internacional. Além
deste Incapacidade estrutural de gerir pacifica
mente os contrastes graves e e necessidade de
mudanças profundos, o Governo do mundo, é
preciso observar ainda,,apresenta Um carátermar-,
cadamènte antidemocrático. Mesmo quo existam
procedimentos democráticos eficazes no seio das
grandes como das. médias e pequenas potências,
n sua eficácia se delem na fronteiro dos Estados,
Íá: que. as decisões do Governo do mundo são
ruto de relações do puro forco entre na grandes
polências e não de um debateou de procedimen
tos democráticos, sendo impostas aos demais Es
tados sem que eles tenham, podido sequer con
tribuir para a sua elaboração.
-III. Sistemas multipolares e sistemas bi-
polares. —;Os modelos:mais: tfpicos de- confi
guração das relações do-força são:o multipalar
o o bipolnr: ou os atores principais, cujas forças
nüo são tatcesslvamenla desiguais, são relativa
mente numerosos, ou então,so 4a\s nlores domi
nam de tal modo seus rivais ous se transformam
em centros de coalizões, sendo os atores secun
dáriosobrigados a tomar posição em relação eos
dois "blocos", aderindo a um ou n outro, a ratnoi
que tenham o possibilidade, graças em parte a
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
sua posição gcopuHtlca, mas, sobretudo, ao acor
do formal ou incito das superpotências, de se
manterem ncutrals. São possíveis modelos Inter
médios, deacordo com o número dos atores prin
cipaise da maiorou menordistancia, mormente
naconfiguração blpolar, entre os maiores potên
cias e as potências médias. Mas vejamos agora
ns característica» principal* das modelos típicos
que servem lambem de paradigma no análisedas
situações -intermediárias e na compreensão das
vorioções que nelas ocorrem.
O exemplo, fundamental do equilíbrio raulti-
polor (dele se aproxima, com algumas reserves
relativas aa processo ainda incompleto dn for
mação du Estado moderno, o sistema dos prln-
cipados italianos do século XV, cm cujo âmbito
se Impôs, entra outrus, o uso das embaixadas es
táveis, cujo escopo original era Justamente o da
acompanhar de perto a evolução da potência dos
outros Estados, para se poderem tomar medidas
adequadas è manutenção do equilíbrio) está no
sistema dos Estados europeus, que pode manter
essaconfiguraçSa até se dissolverno atual sistema
mundial, principalmente por causa do constante
popcl de equilíbrio nele desempenhado pela po
tência Insular Inglesa.
A característica mais evidente do equilíbrio
mtiltipolar e, h primeira visto, umn rclollvo elas
ticidade sob dois aspectos. Antes de mais nada,
sob o nspeoto dos alianças, que tendem n nSo
enrijecer masa mudar segundo as exigências da
manutenção doequiiibrio, exigências queImpelem
os Estados e coligarem-se contra o mais forte
dentro eles ou, em gemi, n formarem contra-
alianças diante de alianças que se afiguram amea
çadoras para a equilíbrio, sem se deixarem geral
mente guiar, naescolha dos aliados c namudança
de alinhamento, por considerações referentes o
solidariedade Ideológica, ou seja, a homogenei
dade ou não das regimes internos dos Estados.
Em segundo lugar, as médias e pequenas potên
cias possuem, aqui. cm confronto com o configu
ração blpolar, possibilidades relativamente maio
res de escolha e uma maior autonomia, e isso
já porque sfio mais numerosos os atores princi
pais onda as pode encontrar opoio, já porque a
passagem do campo de uma grande potência ao
de outra podemais facilmente ser tolerada, dados
as possibilidades de recquilfbrio que oferece a
existência da"terceirnspessoas", em que poderão
apoiar-se osatores que viram diminuir seu poder.
A estas indicações 6 precisa acrescentar algu
mas particularidades de importãncin. Quando ns
diferenças entra as.forças dos atores principais
se tornam muito pequenas e nenhum deles, por
conseguinte, pode ler em mira fins hegemônicos
ou aspirar de qualquer modo a mudanças de
relevo nasituação do poder cm beneffeio próprio,
o sistema torna-se muito estável, no sentido do
2UC garantelongosperíodosde paz ou de guerras
mltodas quanto aos meios e moderados quanta
aos objetivos. Nestas condições (pensemos espe
cialmente cm grande parte do período que vai
dos tratados de Uirecht e Rastatt ao Inicio das
guerras desencadeadas pela Revolução Francesa
e, mais ainda, no que vai do Congresso da Viena
ao começo da era guilhermina), particularmente
nos momentos de maiorestabilidade e equilíbrio,
tendem n afirmar-se, de modo vinculatlvo, algu
mas regras semtformois de comportamento das
Estados, que visem moderar a política de potên
cia, islo é. o subordiná-la deliberada c conscien
temente, para além do vínculo objetivo do equi
líbrio das forças, às exigências gerais du preser
vação do equilíbrio. E toma-se até possível a
formação de estruturas quasc-formnis, como o
entendimento europeu daépoca da Santa Aliança,
tendentesa resolver pacificamente, do modo mais
amplo possível, as disputas entre os Estados e
o preservar coletivamente a ordem internacional.
Pelocontrario, quando as diferenças de potência
se tornam multo relevantes pelo feto de um dos
atores principais ocumular tal força que se sobre
põe aos outros, usando-o para modificar radi-.
calmenle a seu favoro quadro existente das Re
lações internacionais, e quando, em conseqüência,
surge um Impulso hegemônico que provoca a
coalizão das outros atores principais (que seman
terá estável, enquanto durar o perigo hegemô
nico), e configuração multipolar tende efetiva
mente a aproximar-se da blpolar, com os' carac
terísticas de rigidez das alianças, instabilidade
do sistema, tensão constante e dimensão total das
guerras que veremos ogora serem típicas de tal
configuração.
O modelo de equilíbrio blpolar encontra a sua
realização mais completo no sistema mundial que
se formou após- o termo da Segunda Guerra
Mundial. Desta modelo se aproximam tanta ns
fases de guerras begemânteas do sistema europeu
(mas neste casose poderio dizer que e configu
ração blpolarpossui um caráter mais conjuntural
que estrutural), quanto o sistema dos cidodes-
EsladcM da Grécia, fundado na primazia de Ate
nas e de Esperta. A sua característica mais clara
está nn rigidezda políticode equilíbrio postacm
prática pelos dois atores principais, ou seja, no
falo da eles terem extremo dificuldade ou impos
sibilidade cm renunciar a posições de poder mes
mo mínimas c, consequentemente, cm eceitur o
passagem de um nliodo parao bloco oposto. Isso
dependo fundamentalmente de que, nin havendo
"terceiras pessoas" capazes de contrabalançar as
diferenças de equilíbrio,qualquer diminuição do
1094 RELAÇÕES INTERNACIONAIS
força de um dos dois pólos, por relativamente | contribuições que o abordagem teórica na dou-
pequena quis-saja- deixa automático e unilateraJ- farinada razão de Estado Iraz à teoria das Reta
mente cm vanlagem-o oulro pólo, Implicando, por |cões- internacionais, é precisa ainda examinar o
isso, imediatamente um perigoso desequilfortoj ^problema da. relação enlre política externa èpo-
Com efeito, na"configuração blpolar.' a~ corrida HÍtica Interna. Esta abordagem tem como carec-
aos armamentos ó sempre mola acentuadaque na s,terfstica mais evidente, neste contexto, a rejeição
multipolar, os crises ligadas àsmudanças ou ten- ida tesedo "primado da política Interna" (v- Ra-
tnlivasde mudança'-dé posição assoz mais peri- -.zâo DE Estado), segundo a qual a política, ex-
gosas paraa manutenção da paz, e, enfim, quan- : lenut dependeria cssenclulmcnlc das estruturas
do irrompe a guerra entre os atores principais, :internas dos Estudos. Mas não contrapõe a essa
tende fatalmente a adquirir um caráter total, quer •• tese,'sic et simplicilar, a tesa do "primado da
no:sentida do envolver toda o sistema, quer no : políticaexterna", segundo a qual a evolução io
de comprometertodasos energias disponíveis das terna dos Estados seria essencialmente determi-
maiores potências. nada pelas exigências da política de potência no
Pelo que respeita aos ateres menores, a far- plano internacional, uma leseque surgiu na dou-
maçHo de blocos fortemente hegemanizadoa por 'riiui alemã do EsUtdo-poiência, mas que foi su-
uma pntência-gula — inevitável, dadii a limita- ieita' a revisão crítica pelos maiores-expoentes
dissima liberdade de escolha de que gozam na dcjm tradição de pensamento. Na realidade, o
configuração bipolor as médias a pequenas potên- raciocínio que desenvolvem a tnl respeito os mais
cias — implica necessariamente, sobretudo nas agudos teóricos da razão do Estado 6 multomuis
zonas de. grande importância estratégica, a Itmi- complexo, lendo como ponto de partida'o"re
lação de forma considerável do próprio autonomia conhecimento da autonomia da políUca externo
dedecisIolnternadosEstadassubordInBdos.com «" JKla^So is esimluras Internas dos Estados,
isso se pretende poder' impor aos "satélites" ep- p0"1 is,° ac °nm,B cra «»"»k> q"C se por um
ções ideológicas e. emdecorrência disso, a ado- k**0 "" conieildos políticos, econômicos, sacieis
ção oumanutenção deestrutures políticas e eco- « culturais das Relações internarionais e, conse-
nfimico-sociais homogêneos, ou. de quolquer ma- 1?""**™*. ««<« conluios que nelas surgem, va-
netra, vantajosas quanto as necessidades do sls- rüun «ianforalc MÍB0CBS c u diversos estruturas
tema político oeconómlcc-soclal dapotência bege- poUttcaa e económlco-sociaU internas dosEstados
mornea, que 6, por outro Iodo, obrigada a pro- (eanHuros que. era parte, refletem as condições
curar Impedir profundos transformações internas BW"* « o nível de dvltoaçto de uma época, e
nos Estados pertencentes Asua zona de Influên- cm parte dlvergcm.de Estado para Estado no
cia. Justoraente para evitar a sua passagem ao ""f010 P«*»*»>. « instrumentos com queos Es-bloco oposto -lados regulam, por oulro lado, laia relações, ou
Estas característicos fundamentais do equlll- Na- a poUtlca.de potência, a política de equilí
brio blpolar tendem o ntenuar-se &medida que brio e «» Buerra (instrumentos que, como seviu.
a diferença de potência entre os atores principais
e secundários diminui, pondo assim em crise a
posição de superioridade das superpotências.
Alem disso, um fator decisivo que se bi de ter
cm conta para compreender o funcionamento do
sistema mundial pós-bélico e para lhe captar a
originalidade cm relação a qualqueroutro sistema
de EstàdoS anterior i a existência das armas' de
destruição total, que, tornando totalmente ab
surda e inconcebível a guerra geral e direta entre
as superpotências (o que fez'surgir o chamado
"equilíbrio do terror"), impediram, da fato. que
ela se deflagrasse, não obsumlo a elcvadlisíina
intensidade da competição doa armamentos e, em
geral, a-rigidez e tensão peculiares de uma con-
figuração -bipolor, c-abriram-por Isso caminho
a possibilidade de controle e nlé mesmo de limi
tação dns armamentos.
IV. Política externa, e política interna.
— Para completar a explicação das principais
deixara-umacerto.margemde eficácia ps normas
de direito internacional), mantêm-se substancial
mente; os mesmas, excetuados os condicionamen
tos que a evolução tecnológica-exerce sobre os
armamentos c sabre a condução da guerra, en
quanto subsistir a anarquia internacional, isto é,
a pluralidade dos Estados soberanos. Com efeito,
as mudanças mais radicais de regimes, ocorridas
na história moderna'desde a Revolução France
sa & soviética, mudaram' decerto profundamente
as:coadIçoes Internas dos Estados e as condições
do sistema internacional cm fleuconjunto, e. por
tanto, cs conteúdos das Relações internacionais,
dos respectivos conflitos e dós próprios alinha
mentos, mas afio fizeramcessar as leis funda
mentais das relacões<de potência e de equilíbrio.
Identificados os termos mais gerais da auto
nomia da política externaem relação es estruturas
Internas, c possível depois enquadrar de modo
teoricamente válido tanto as' formos em que s*e
manifesta mais claramente a influência da siiua-
RUI.AÇÕES INTERNACIONAIS IU9S
ção Internacional sabre a evoluçãu interna dos
Estados, como aquelas cm que se verifica u fenô
meno contrário.
Sobre o primeiro puniu se pude constatar como
a anarquia internacional, ao obrigar us Estudos
a criar e a reforçar constantemente, c a usar caiu
freqüência, as aparelhas milharei destinados a
defesa externa, exerce em geral influência sobre
a evolução interna dos Estados, favorecendo us
tendências autoritárias, e exacerba em particular,
nos Estadas cuja segurança é mais precária par
causa da-sua posição geupolflica, a tendência à
centralização do poder c o preponderância do
executivo sohre us demais poderes do Estado.
Este ponto de vista é indispensável pnrnexplicar
de modo satisfatória um problema fundamcmal
da história do Europa moderna, o da profunda
diferença entre as experiências históricas dos Es
tados de tipo insulur (como a Gra-Brctaniui c
os Estados Unidas da América — estes até se
tomarem, cm 1445, um dos dois pólos da equl-
líbriu mundial), constantemente caracterizadas
por uma política exiemn propensumente mais
pacífica e por uma evolução Intenta tendente n
estruturas pulítico-íociais liberais, elásticas c des
centralizadas, e os experiências dos Esludus de
tipo coqtinental (como a Piússia-Alcmanhn, a
França, a Itália, etc.) camcterlzudus ao contrário
par uma político externa indubitavelmente mais
agressiva e belicosac. carrelativãmente, pela ten
dência interna no ccnlralisnto auiuriiário. O dado
centrei que d preciso ter presente para se com
preender estu diferença é, no realidade, o exis
tência de. fronteiras terrestres o a necessidade de
us defender contra o perigo sempre presente de
uma invasão por via terrestre. Nestas condições,
a necessidade de segurançaimpôs uma orientaçüu
tendentemente ofensiva que procura não raio
anteceder, o adversário com ataquesde surpresa;
determinou,por isso, a formação de enormeapa
relho militar, utilizável com a máxima rapidez
passível;' (ornou, enfim, necessárias estruturas
políticas centralizadas u autoritárias, capuzes de
realizar, com fins defensivos,a rápidac completa
mobilizaçãode todos os energias disponíveis. To
das estos sujeições pesaram, ao contrario, infini
tamente menos sobre os países insulares, dada
a sua favorabilfssima posição estratégica, pois não
havia fronteiras terrestres a defender. Com efeito,
nesses países, o defesa pôde até há bem pouco
tempo ser essencialmente garantida nela frota
de guerra, evitando-se assima custosacriação, um
lermoseconômicos,mus sobretudopolítico-sociais,
dos enormes exércitos de terra dos Estados con
tinentais c dos aparelhos burocráticas centrali
zados a eles conexos.
Passandoao segundo ponto, o fenômeno mais
relevante que ha de se tomar cm cuasideração
6 a tendência dos Estados com fortes tensões
político-sociais internas a tentar dominá-las e re
primi-las, pondo cm prática ali uma política de
expansão extema ou, cm lodo caso, de exacer
bação da tensão Internacional. Esta política acar
reta geralmente a consolidação do Governo ou
do regime que a tevam a efeito, a menos que
conduza â derrotaou ruína dú Esladoem questão;
nesse casa, as tensões internas que se procurara
desviar paro fora desembocam quase irremedia
velmente em fenômenos de Irunsfúrmuçãu revo-
lucionâriu du regime. Esta leiidí-iieiu (também
chamada llmuipartisma) se traduz indubitavel
mente numa influência notável da evolução in
tenta de um Estado cm sua política externa e,
pur conseguinte, nu situação internacional. Con
tudo, não se deve cair nn erra de ver no hona-
parllsmo a causa central e dominante dos pro
cessos Imcrnaciunuis de que, no eninnlo, cons
titui um importante futar. Na realidade, a ma
nobra banapurtisln pressupõe,nfio é elo que criu
a anarquia internacional com a conjunta autono
mia dn política externa. Paroutro lado, na his
tória du sistema dos Estadas europeus, os exem
plos mais relevantes de política bonapartisia (a
política externa da Alemanhanazista c o último
e mais clamoroso exemplo) concernem exclusi
vamente às potências continentais, ande a ten
dência n desviar para u exterior as tensões inter
nas se insere tanto no caráterjá de per si belicoso
e cxpnnsinnlsta da política externa, objeUvaincntc
dependente da posição continental, cama na in
fluência de sentido centralizador, autoritário c
conservador (tudo fatores de acentuação das ten
sões Internas), exercida pcln posição continental
sabre n evolução interna.
Pelo contrário, se o fenômeno da dificuldade
objetiva que os Estadas fortemente descentrali
zados ou federais e com uma efetiva separação
das poderesenfrentem parapâr em prática uma
política externa belicosa e exponsiunislu (pois o
equilíbrio entre os poderesdo Estadoé um obs
táculo u rapidez de decisão c intervenção no
plana internacional), põe em evidência um mo
mento importante da influência, cm sentida cla
ramente oposto ao da casa precedente, das estru
turas internas sobre a pnlfticn externo, deve.-pur
oulro lado, ser enquadrado no contexto mais
amplo da influencia que a posição no sistema dos
Estados tem sobre a política externa e, pur cun-
seguinte, sabre a evolução interna de certas Es
tados. £ cloro que nas referimos aqui à proble
mática da Estado insular,
1036 RELAÇÕES INTERNACIONAIS
V. CttínCAS AO MODELO DICOTÔMICO SOBE1U- j
NIA ESTATAL-ANAROUtA IHTERNACtONAL. — En-|
quanto n teoria dos Relações internacionais, de'
que expusemos o urdidura canccptual básica,!
mergulhn os sues raízes numa tradição de pen-''
samcnlo que remonta cm suas bases mais gerais!
o Mnquiovel, o estudo dessas relações como dis-!
clpllna acadêmica e ciência oulônomn no Bmbito
mais abrangente da ciência política ê um fenô
meno relativamente recente, que, depois de al
gumas antecipações no entremeio das duas guer
ras mundiais, se desenvolveu sobretudo neste
último pós-guerra, graçasprincipalmente a alguns
estudiosos anglo-snxães. Que relação tem enlre
si estos duas orienlaçOcs?
Em parte pode existir ai uma ralaçãode inte
gração reciproca. Isso conto particularmente
quanto a coleção de uma Infinda quantidade de
dados empíricos (que constitui um dos mais no
táveis contributos, se bem que cm st insuficiente,
da ciência americana das Intcriinthtwt Rclatlans),
que podem ser utilizadas com proveito na abor
dagem teórico aclmn examinndn. cujas análises
exigem, sem dúvida, cm não poucos casos, serem
providas de uma mais completa e orgânica re
colha de dadas. Na que respeito ao usa por parte
dos estudiosas de International Relattons dn me
todologia comporlnmentisto, das processos de
quantificação de dados, da leoria gerai das sis
temas, da teoriados jogos, de complexas modelos
cibernéticos, pudemos observar que ISO tafisil-
eados formas metodológicas não são cm si con
traditóriascm relaçãoaos ensinamentos derivados
do doutrino da razão de Estada. Como exemplo
assaz significativo pode-se Indicar, o propósito,
o esforço par tornar mais rigoroso o discursa so
bre sistemas de Estados, enquadrendo-o na teoria
geral dos sistemas (Morton A. Koplnn). Com isso .
não se esquecem, por oulro. lado, ns recentes e -
essaz difusas criticas co comportementlsmo c a
tendênciaconexaò quantificaçãoe motemaliiaeão
dos dados, críticas que estão levando n uma geral
e substancial reavaliação da abordagem tradi
cional, parecendo cedovez mois claroaüe a per
feccionismo metodológico c, principalmente, a
tendência a operar só com dados quantifmoveis
obrigam a pesquisa' a concentrar-se em termos
que são secundários.
Paro alam dos aspectos que podem com algu
mas reservas ser considerados complementarcs,
surgem, não obstante, no panorama das Inter
national Rclalions, algumas leses alternativas cm
relação &teoria dos relações internacionais, fun
dada na doutrinada razão de Estado. Em resumo,
segundo um modo de ver bastante generalizado,
os conceitos basilares da soberania estatal e de
anarquia inteniacianal pareceriam Cada vez mais
destituídos de capacidade descritiva e explica
tiva dentro da tenlldnde contemporânea, como
conseqüência da presença de alguns fenômenos
de grande relevo, quo envolvem, todas ales, em
vária medida, uma limitação substancial da sobe-
rnnin, lento nos Relações internacionais como nas
internas, e, conseqüentemente, a desaparição du
próprio fundamento da diferença qualitativa en
tre relações Internacionais e internas. Os fenôme
nos mais geralmente citados são os seguintes:
— a crescente interdependência no plano eco
nômico, social, ecológico c cultural entre todos
os Estados do atual sistemo mundial, interde
pendência que deu origem a um desenvolvimento
sem igual, em confronto com épocas anteriores,
das estruturas da organização Internacional (de
que n ONU é o exemplo fundamental) que tem
exatamente a incumbência de gerir, pelo método
da cooperaçãointerestatale mediante um enorme
desenvolvimento, tsnto no plBno quantitativo co
mo qualitativo, do direito Internacional, esss
mesma Interdependência;
— o progresso e aprofundamento de tal Inter
dependência, sobretudo no solo dos blocos e das
zonas de Influência cm que se articula o atual
sistema mundial dos Estados; mas lambem fora
dele se desenvolvem formas de Integração entre
os Estados, no plano econômico c/ou militar
(NATO, Pocio do Versaria, CEE, COMECON,
Pacto Andino, ASEAN, etc), que pouca relação
têm com ns alianças tradicionais, uma vez que
limitam consideravelmente a soberania estalai;
— a existência, embora ligada a uma inter
dependência econômica de nível mundial eada
vez mais acentuado,das grandesempresas multi
nacionais, os quais, conquanto não gozem de so
berania, possuem de feto um poder multo supe
rior eo de numerosos Estados soberanos, sendo
capazes de lhes restringir substancialmente a so
berania. '
A grandeimportância destes fenômenos no con
texto atual das Relações tnternacionata e o neces
sidade de que n respectivodisciplinaos enquadre
de forma adequada são coisas fora de discussão.
O que nos parece pelo contrário Inteiramente
infundado ó à tese de que eles põem em dúvida
o Valor da teoria dás Relações inlemacranais ba
seada no esquema dicotômica soberania estatal-
anarquia internacional. São Necessários a tal res
peito alguns esclarecimentos. Sobre o primeiro
pontoé preciso observar quóo existência de uma
certa Interdependência (obviamente variável nas
formas, nosconteúdos e na intensidade de época
para época) entre as sociedades cujos Estados
fazem parle de um sistema de Estados foi sempre
condição contexlual da existência de tais slste-
RELAÇOES INTERNACIONAIS 1097
mas. À luz da análise histórica, cies aparecem
sempte efetivamente ligados a existência de al
guma forma de sociedade iransnoriona! que, cm
lermos muito genéricos, constitui uma civilização
comum e implico por isso relações constantes no
plano ccon&mh», social, cultural, etc, entre os
membros de tais sistemas, isto é. relações tran*-
nacionnis que se desenvolvem entre as sociedades
politicamente Incorporados cm cada um dos Es
tadas.Masaquic conveniente umacertadistinção
termlnológlca. Embora exista a tendência ossaz
freqüente de usar indistintamente as expressões
"sistemo inteniadonfl!" e "sistema dos Estados",
seria mais carreio,a nosso entender, usar a pri
meira expressão quando nas referimos ao com
plexo constituído pelo sistema dos Estados c pelo
sociedade iraninaclonnl que aquele abrange, c a
segunda expressão quando, ao Invés, nas limi
tamos a considerar n sistema dos Estados, pres
cindindo do tipo concreto de sociedade transno-
cional a que está ligado. Depois disso deve-sc
observar que, quando os relações iransnocionais
alcançam uma notável Intensidade, elas impelem
as Estadas a criar formas mais ou menos desen
volvidas iáeorganização internacional destinadas
a regulá-los. O modo como Isto acontece no
quadrodo sistemo dos Estudos nãualcança nunca,
por oulro lado, o mesma grau de eficãcln com
que são reguladas os relações internas de cada
Estada, jáque In! ílítctiia 6 um sistema política
sem o requisito da soberania e lomn por isso
Inevitáveis ú político de potência c as guerras
periódicas, que. conquanto não interrompam
nurien de formo completa ou definitiva ns relações
IrnnsnBciohnls é n cçãa das organizações Inter
nacionais, os tornam cm lodo coso estruturatmente
precárias. Isto vale também parao atual sistema
Internacional c há de valer enquanto ele não
tiver adquirido as mesmas características das
sistemas políticos dotados de soberania. Quanto
nos fenômenos de integração entre os Estados,
ó preciso uflrmar que eles constituem em certos
casos a forma especifica como se organizam as
relações fortemente hierárquicas entre os atores
principais e os atores secundários de um sistema
de Estados de tipo bipolor (NATO, Pacto de
Vantóvlo,COMECON), enquantoeraoutroscasos
(sobretudo o da integração dn Europa Ocidental,
v. Intéoraçâo BURoréiA) correspondem a ten
dendo — revelada no século passado, se bem
que em formas diversas, com o unificação italiana
c alemã — de criar entidades estatais de dlmca-
sues mais-amplas em zonas onde a Interdepen
dência atinge particular profundidade e onde só
através da unificação supranacional 6 possível
recuperar ou alcançar, participando de uma co
munidade estatal mais ampla, um papel de ator
principal no sistema das Estados. No que res
peito eo fenômeno dns empresas multinacionais,
não se há de esquecer que, se d verdade que elas
são capazes cm muitas casos du limitar substan
cialmente a soberania de numerosas Estados es
truturalmente débeis, quer pelas suas dimensões
quer pela sua formação recente c/ou incompleta,
Isso. lornou-sc passível devido ua apuia direto
ou indireta de uma grande potência, cuja força
é fator decisivo, sobretudo quando a atividade
de tais empresas provoca graves conflitos. Em
resumo, se o papel que hoje desempenham as
empresas multinacionais está vinculado, por um
lado, à peculiar profundidade que alcançou a
interdependência econômica, sobretudo entre os
países du economiade mercado, ele depende, por
oulro lado, do hierarquia que existe entre as
Estados c caracteriza o atual sistema mundial,
isto 6, uma das manifestações do atual govemo
do mundo.
Feitos estes esclarecimentos sobre o falo de
que, na realidade internacional atual, o esquema
dicotômico suberanio estntal-onarquia internacio
nal mantém intatn n suo capacidade explicativa,
não só lem sentida, como £ absolutamente inevi
tável encarar outra questão. Temos de nus per
guntar seriamente se os fenômenos de crescente
Interdependência das relações humanos cm escala
mundial (e entre eles se há ds também considerar
o fenômeno, que poderíamos definir como de
interdependência negativa, representado pelaexis
tência de armas capazes de destruir o mundo in
teira) não demonstram que a estruture anárquica
da sociedade interestatal d cada vez mais incon
ciliável com ns exigências de sobrevivência c
desenvolvimento do gênero humano, e não nos
põem diante do problema da criação de um Go
verno mundial eficaz e democrático e, por isso,
concretemente. diante da problema das vias e
eventuais etapas intermédias para alcançar esse
objetivo.
VI. Sistema dos Estados e evolução do
mói» nu produzir. — Por último resta enfren
tar o problema de fundo suscitado pelo pensa
mento de orientação marxista c, particularmente,
pela tcorio do matcriolismo histórico, mi seja,
a necessidade de explicar a relação existente enlre
o evolução do modo de produção c a evolução
das supcrcstruiuras políticos, entre ns quais ocupa
um lugar relevante o sistema dos Estados, em
que se concentra aqui a atenção. O que leva a
enfrentar este problema 6 a verificação de que
alguns processos da grande relevo encontrados
na análise da problemática dos Relações interna
cionais não contam, no quadro da respectiva teo
ria, com um instrumento que permite compreen-
11)98 RELAÇÕES INTERNACIONAIS
dê-los em profundidade. Refcrirao.nosparticular
mente aos processos de onde nascem os modernos
Estados soberanos c o sistema dos Estados, qus
provocara a formação c desenvolvimento da so
ciedade transnaclonal, politicamente incorporada
pelo sistema dos Estados, que fomentam o trans
formação gradual ou revolucionária dus regimes
políticas e das estruturas ecunômico-sacisls in
ternas dos Esiodos, e que, fazendo crescer a inter
dependência da atividade humana pura-alem dos
confins dos Estados, impelem à formação de Es
tados de dimensões cuda vez mais amplas, por
tanto aos fenômenos de integração supranacional.
c. preponderantemente, & unificação do mundo
inteiro. Por ura lado, parece bastante evidente
que estú fora da função e das possibilidades da
toaria dos Relações internacionais identificar os
forças motrizes destes processos, c isso porque
elo, como qualquer teoria cientifica, c uma teoria
parcial dos fenômenos inler-humanos. que se pro
põe especialmente identificar uma serie de deter
minações dos comportamentos do homem, deri
vados dos fenômenos da anarquia inlernadcnal,
c, por conseqüência, do sistema das Eslados e
da sua influência na evolução Interna de coda
um deles; deve justiftcadamcntc deixar para ou
tras ciências a tarefa adma referida. Por outro
lado, visto que tais processos exercem uma in
fluência decisiva sobre o sistema das Estados,
pais mudam a sua base cconômico-social (as so
ciedades englobadas pelos Estados e a sociedade
[ransnodonal), mudam os seus atores e a hierar
quia enlre eles existente, mudam a própria ma
lária dos conflitos, etc, é indispensável que haja
critérios de orientação que permitam explicar,
pelo menos nos seus. aspectos mais gerais, os
modos de relação entre os fatores que provocam
lais processos, bem como a evolução do sistema
dus Estados. Ora, as indicações mais ccrlos para
enfrentar corretamente esla problemáticaprovêm,
a nosso entender, do materialisma histórico, única
abordagem teórica que procura explicar de modo
cientifico o interação existente entro os diversos
setores da atividade humana a as determinações
delas provenientes. Pelo que concerne ao tema
que 6 abjeto desla análise, o materialisrao histó
rico, com a lese do caráter supra-estruturo!do Es
tado c conseqüentemente lambem do sistemados
Estudos cm relação a evolução da modo de pro
duzir, mostra, antes de tudo, a estrada mestra
que c precisoseguir paiadescobriros fatoresdeci
sivos que ausdtam os processos antes indicados.
Em segundo lugar,com a tese da autonomiarela
tiva dns supereslruturas (que. embora-claramente
implfdta nas análisesde Marxe Engds, se desen
volveu de forma mala clara e completo depois),
indica cuuuj explicar a complexo relaçãode Intc-
pção dialética queexiste entre osdeterminações
provenientes da evoluçãodo modo de produção o
as provenientes do sistema dos Estados.
'•• Qunnto h primeira das teses, é preciso remon
tar às análises que mostraram de modo convin
cente como a formação da moderno sistema eu
ropeu das Estados tem a sua basti material na
consolidação da mudu capitalista de produção,
quu, par umlado, constitui o alicerce principal do
moderna Estado soberano (o monopólio da força
e a conseqüente certeza do dircilo são indispen
sáveis para permitiro funcionamento de um sis
tema econômico-sadul bem mais complexa que
d feudal c com outras formas de conflitos sociais)
c, por outro, faz nascer progressivamente o cha
mado mercado mundial, isio 6, uma crescente
interdependência entro as soriedudesorganizadas
por cadaum dos Estados c, em decorrendo,uma
sociedade transnaclonal politicamente englobada
pelo sistema dos Estados. Dentro desta linha de
análise, têm sida realizados estudos de grande
interesse e valor sobre a relação entre desenvol
vimento capitalista e, portanto, industrial, de um
lado, e a progressivo fortalecimento do domínio
dos polênciaseuropéiassobreo mundo, do aulro;
explicou-se o nexo das sucessivas fas.es do desen-
volvimealo capitalista 6 da Revolução Industriai
com o aumento das dimensões do Estado, pondo-
sc em evidênda, cm tal contexto, como a inco-
paddade dos Estados europeus em se fundirem
numa comunidade estatal mais vasta abriu cami
nho a hegemonia das potêndas do dimensões
continentais; caracterizou-se o impulso que os
conflitos sociais criados pdas sucessivas fases de .
desenvolvimento capitalista e industrial deram à
transformação gradual ou revolucionária das es
truturas internas dos Eslados c das próprias ca
racterísticas da sociedade transnacional; e assim
por ul afara.
Passando agora à tese do autonomia relativo
do sistema dos Estados cm relação a evolução
do modo da produzir, dois pontas têm du ser
ressaltados. Em geral, com base nesta tese, se
pode tornar claro qua, se a evolução da modo
de produção constitui, no sentida acima indicado,
a base material da sistema das Estados e o fator
determinante das transformações fundamentais
que nele se verificam, por outro lado, uma vez
constituído tal sistema ou reestruturado cm con-
seqtlênda de transformações nele ocorridas, as
determinações daf provenientes o individualizadas
pela teoria dn razSo de Estado exercem uma in-
fluêntía autônoma o decisiva sobre os comporta
mentos humanos e, conseqüentemente, sobre o
processo histórico, e hão de exercê-la, enquanto
a evolução da mudo de produção não levar &
REPRE5
superaçãodo sistema dos Estudossoberanos. Esta
lese, porém, permite subreludo compreender a
capacidade que O sistema das Eslados tem de
bloquear ou desviar, por longos períodos histó
ricos, o processo de ajustamento da sua configu
ração à evolução do modo de produzir, ou seja,
permite compreender que o ajustamento da su-
puresiruiura i evolução da base estrutural nãa
possui um caráter mecânico, o que constitui um
dado decisivo para a compreensão em profun
didade das grandes guinadas do processo histó
rico, Um exempla significativo paro a visuali
zação deste ponto é o do imperialismo dus Es
tados' nacionais europeus, que foi também um
modo da evitarenfrentar o problema da criação
de uma comunidadu política da dimensões con
tinentais, apresentado aos europeus com a passa
gem a fase do produção Industrial de massa, u
encontrou umaalternativa histórica na Integração
européia posterior ao descalabro, em 1945, da
potência das Estadosnacionais (v. Imperialismo
e Integração européia).
Outro exemplo sigoiflcatlvo é o da política
de tipoboaapartista (cujo pressuposto^eslá. como
vimos, na autonomia da política externa), que
permite diferir u transformação do regime interno
de um Estado, enquanto naoocorrer o desmoro
namento da sua potência.
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(Sérgio Pistom;)

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