Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
' DE POLÍTICA VOL. 2 NORBERTO BOBBIO, NlCOLA MATTEUCCI B GlANFRANCO PASQUINO l ]uedição Tradução Caimcn C. Varriale, Gaclano Lo Mônaco, João Ferreira, Luís Guerreira Pinto CüCfllS e Renzo Dini Coordenação da tradução João Ferreira Revisão geral João Ferreira c Luís Guerreiro Pinto Cacais f' /V L-0 RELAÇÕES INTERNACIONAIS 1089 RcIbçõcs intcrnncionnis. I. A DIÇOTOMIA "SODERANIA ESTATAL-ANAfl. QUIA INTERNACIONAL" COMD FUNDAMENTO DA DISTINÇÃO ENTRE IIKLAÇÕES INTERNAS E RELA ÇÕES internacionais. _ A expressão Relações internacionais indica, nos lermos mais Genéricos, n complexo das reluções que inlcrmedeiam entre \ os Estados, entendidos quer comouparelhus quer ij como comunidades; implica a distinção da esfera v específien das Relações Internacionais da esfera yf^fidas relações Internas dos Estados. Tal distinção V cstrl, com efeito, associada, mesmo n nível do ^•Ç sentir comum, n itlcin de que existem importantes O^j elementos de diferença entre as relações internas rv_j c as Relações internacionais. Isto nos põe, por- ^3 ^ tnnlo, diante da necessidade preliminar de csclo- y^ Q recer rigorosamente lais diferenças, isto ê, de [ restabelecer um crilério qualitativo de dislinção /,^±C\ dos duos esferas de relações. liste crilério não *y- poderá fundar-se na divcisidadc dos atores, ou , \Osejn,~n6r essencialmente a diferença no fato de q ^ que, no.'contexto das Relações internacionais, os !// ** atores seriam os Esladns, cnqunnlo, no das rc- ^ loções Internos, os ntores seriam os indivíduos c os sujeitos coletivos não estatais, como os par tidos, os sindiculos,ns enipresus, cie, Coiii efeilo,junto com os Estados, possuem lambem um papel importnntc nas Relações Iniernacionnls organis mos de índole Inlcrnocloual (ONU. NATO e outros sistemas de alianças Internacionais, CO- MECON, 01'F.C, etc), organismos integralivos como ns comunidades européias, grupos de pres são como as empresas multinacionais e ns inter nacionais partidárias e sindicatos, orgnnizaçõcs como n OLP c por nf afora. Esse crilério tombem não pude basear-se csscncialmcnle na diferença relativo ao' conteúdo,.porque, no contesta inter nacional como no interno, existem lelnçücs de conlcúdu político, econômico, social, cultural, etc., de caráter cooperativo ou confliluosn e, nlen- dendo sõ a esle aspecto, não se revelam diferen ças tão claras e evidentes que possam servir cie liasc a um clarificador critério de dislinção. Na realidade, tul critério não pode senão referir-se essencialmente no modo diverso como ns relações internas c Internacionais se regulam, ou seja, ao fato de que, enquanto ns primeiras se desen volvem normalmente sem o recurso à violência, que é monopólio da autoridade soberana, ns se gundas se desenvolvam "íi somhro da guerra"' (R. Aron), isto é, envolvem a possibilidade per manente da guerra ou da sua ameaça, quando nãa suo experiência frcqílenle. O conceito fundamental de onde se há de partir é que, se n Soiikoania (v.), ou monopólio \yj^ <f <? :? í: I .• J... internacional da força, é o puder de garantir, cm última instância, a eficácia de um ordenamento jurídico, sendo por isso o garantia da manutenção de relações pacíficas dentro do Iislodo. ela é também, por outro lodo, a cousn do guerra nos .reluções entre us Estadas (Knnt). No contexto internacional, a saberaniu do Estudo significo na realidade que ele não está sujeita n leis que lhe sejam impostas por uniu autoridade supraestu- bclccida, doludu do monopólio dn lorça; signi fica, por outras palavras, o existência de uma situação anárquica. Não podendo, pois, us con trastes que surgem nas Relações internacionais ser resolvidos mediante decisão de um poder sobe rano capaz de impar um ordenamento jurídico eficaz, os Estados recorrem, em úllimo análise, à prova de forço, vendo-se obrigados, cm visla da constante possibilidade de tal situação, o ar- marem-sc uns contra os outros ou, se não puderem conffcuvsri em snusnrmos, a npoiarcm-se nas ar- niasNrliicias. Esld aqoi», portanto, a rai?. profunda dn( política de potencial da guerra, do imperia- j, entendido estepe seu contexto maisgeral, quer awm_c*p«ms!10(los Eslndos mais fortes cm detrimento dos Estados ou povos mais débeis,. quer como imposição da vontade e dos interesses daqueles n esles. Este conceito das Relações inter nacionais c do sua diferença qunnio üs relações internas não é desmentido pelo existência de um dircilo internacional, que muitos juristas consi deram um ordenamento originário, plenamente vinculndor porá quantos lhe estão sujeitos. Nn realidade, se se analisam ns normas do dircilo internacional sob o aspecto, não dn sua volidade, mas da sua eficácia, fica fora de dúvida que esta repousa, cm última instância, na vontade que tivetem os destinatárias de us acatar, o fato de que o dclci minados organismos internacionais, como a ONU, seja icconhccida pelos seus mem bros a faculdade de cunhecer das contendas en- lic ns nações e de coillinnr simções, nõu modifica os termos dn qucstfto. se se considera que, salvo cnsns tntnlmcnlc secundários, a execução de san ções desse gênero levn o guerra, que é o contrária do dircilo. Tudo istosignlflcn que, enquanto tem sentido afirmar serem ns relações dos homens den tro do Estado reguladas pelo direito, uma afir mação desse tipo não tem qualquer fundamento, se referida às Relações inicrnoclonois, onde o direito internacional, conquanto desempenhe ní um papel preciso, pelos raíões que mais adiante serão melhor esclarecidas, possui essencialmente a função de servir de instrumento das políticas externas dos Estados, detcinilnadas pelo jogo dos interesses c dos relações de força. Sc é claro que a diferença realmente essencial que cxislc entre as Relações internacionais e as OH 1Ü9D RELAÇÕES .INTERNACIONAIS 9 intenins diz respeita uo modo como elas se re gulam, será"possível compreender como tal dife rença estrutural influi também cm seu conteúdo. Eu] substância, se excetuarmos os situações de profunda Crise institucionalou uié de guerra civil, existe dentro do Estado um grau de cetteza e de previsibilidade nas relações entre os homens que, 'mesmo sendo rclutlvo, visto haver sempre Uimbém dentro do Estada timii esfera nua climi- nável de relações untijurídicas. ó, de qualquer modo, qualitativamente diverso da natureza es- Iruiurnlineule aleatória que caracteriza as Rela ções intcrnucioiiaic. Estos, com efeito, além de estarem subordinadas uu Cxilo das guerras, tor nam-se mais difíceis mesma nos momentos de paz (ou melhor, de tiéguu), estando'sempre de nlgum modo sujeitas b. necessidade da segurança militar, que, coma esclarece a teoria'da Razão de Estado (v.), possui um valor prioritário em relação aos princípios jurídicos, morais, políticos e^ econômicos, considerados, no entanto, impera tivas, quando nãoesli em jogo n segurança. A sltuuçãn estrutural de anarquia que carac terizo us Relações internacionais é, por outro Iodo, igualmente relevonle quanto aos atores que ope ram nesse contexto.. Sc é verdude, coma vimos, que aqui, ao lado dus Estados, desempenham tum- bém um papel inipoituniu atures não estatais, se è verdade que tais atores tem um papel deci sivo e a iniciativa num grande uúmero de crises e de eunfllios internacionais (pense-se nas cm- •presnG multinacionais), Inmbém 6 verdade, por outro lado, que, quando se chega us provas de força, não são eles que us levam a efeito, mas os Esiudus, que monopolizam a força, c os resul tados dessus provas são afinal avaliados segundo a influência que eles têm no vida dos Estados envolvidos. O que indica que os Estadas são, se nãu os únicos, certamente os atores decisivos no contexto das Relações internacionais. O raciocínio baseado mi dicolatuiu "soberania eslntnl-anurquiu internacional", i necessário ainda precisar, não 6 absolutamente valido; o á em relação ao contexto histórico especifico u deter minado, conquanto de grandes dinicusõcs c im portância, caracterizudo pela existenein dos mo dernos Estados soberanos (ou de enlidudes n eles ossçmelhadps). Na realidade,sõ onde existe o fenômeno de uma pluralidade- de Estadas sobe ranos ê que se pode distinguir, cm sentido estrito, uma esfera de relações internas, ou seja, subor dinadas à soberania, de uma esfera de Relações internacionais, isto c, desenvolvidas entre enti dades soberanas, não siihnnliniidiis. n uma autori dade superior. Em concreto, o contexto histórico que corresponde de modo paradigmático a estes requisitos i5 o du Europa moderou (depois também •o do mundo iniclro, conr o afirmação no século XX de um sistema mundial de Estados e a genc- ,ra|izoçãD em lodo o mundo das formas do Estado piodemp). A Europa moderna começou a formar- •se em conseqüência das transformações operadas .entre o fim .da Idade Média e u paz de Weslfáliu .(1648), que representa, ao mesmo tempo, um mo- mcnio decisivo rio processo de realização c con solidação da monopólio da força dentro do Es tado, o momento em que se reconhece formal mente, de modo geral, a soberania absoluta do Estada no plano Internacional, c também aquele cm que se definem oficialmente as bases do di reito internacional, ou seja, do direito destinado ii regular us relações entre os Estudos soberanos. 'Çam esta situação contrastam, de formo paradig mática, por razões apostas, tanta a condição me dieval de dispersão da soberania, onde, não exis tindo nenhumu autoridade efetivamente soberana,Í uxtrçmumenli; problemático, se não impossível, distinguir as relações internas dus biiernucionals. quanto u época cm que o império romano doml- nnu de forma quase completa a árcu da civili zação clássica mediterrânea, depois de nela haver eliminudu todo u Estado ou povo independente. Mas existe, ao contrario, uma certa analogia entre a Europa moderno e n siluoçdo dos cldades-Es- lados da antiga Grécia, no período, do seu ninior florescimento e da sua independência. A mesma semelhança se encontra também nus prhicipudos italianos do século XV. Em geral, us coutexlos históricos caracterizados pela existência durável de unia pluralidade de Estudos soberanos cons tituem os modelos de referência indispensáveis na analise de situações embrionárias ou interme diárias que emergem em diversos contextos his tóricos u culturais. Deve-se, enfim, observar, pa ra concluir csic ponto, que us conseqüências vin culadas â aluai existência de unia pluralidade de Estados soberanos estão fadados a desaparecer, caso £C chegue ü criação de um único Estado mundial. II. O sistema uos Estados e o governo do mundo. — Sc com o conceito de anarquia inter nacional se põe cm evidência o dado estrutural constituído pelo uusGuciu de um ordenamento jurídico eíicuz c pelo cunseqüenU: predomínio da lei da força tias Relações internacionais, Lsso niia significa em absoluto julgar que a realidade inter nacional seja uma situação totalmente caótica, dominada pelo chuque contínuo, irracional e imprevisível entre os Estudos, uma situação, por tanto, destituída de toda o ardem. Na realidade, os teóricos du ruzão du Estudo começaramu per ceber desde o início que existem no contexto internacional outros elementos estruturais, ul-iui RELAÇÕES INTERNACIONAIS 1091 do mais geral da anarquia, que tornam menos caóiicu, e, conseqüentemente, relativamente muis compreensível e previsível cm seu desenvolvi mento concreto,'tu! contexto. O pensamento que foram progressivamente elaborando c aperfei çoando (c que sobretudo nestes dois últimos sé culos atingiu um notável rigor teórico), na tenta tivo de esclarecer os demais elementos estrutu rais que atuam na realidade Internacional e de o controlar de mudo mais apropriado, centraliza- se no conceito de "sistema dos Estados", que trataremos ogora de explicar cm seus aspectos fundamentais, O ponto de partida desta teoria c u consta tação de que as relaçõesde força existentesentre os Estados levaram a formação de uma férrea hierarquia entre eles, uma hierarquia que dlscrl- minu us "grandes potências", ou se.jn, os Estudos realmenle capazes de defender de modo autôno mo, ou com u-própria força, us seus Interesses, dus médias e pequenas polências, que ptccisum, em vez disso, de buscar u proteção de uma das grandes potências, a menos que eslas lhe reco nheçam concordemente u ncutiolldude. Uma tal situação implica automaticamente que as decisões fundamentais de que depende a evolução dus Ra lações internacionais sejam tomadas pelas gran des polências c, conseqüentemente, par um núme ro muito reduzido de Estados soberanos em re lação ao seu total. No sistema dos Estados euro peus, ns grandes potências, que não foram sempre os mesmas, nunca excederam o número de seis, no passo que. no atual sistema mundial, foram duas nté há pouco tempo c hoje, com o emergir An Chino, tendem a ser três ou oié incsino quatro, com u progressivo consolidação dn Comunidade Européia. Sc a existência das grandes potências constitui um primeira c decisiva elemento estrutural no quadro da anarquin internacional, nele introdu zindo indubitavelmente um fator de ordem muito genérico, qúu preside particularmente ás relações entre os grandes e os pequenos Estados, o segun- du elemento estrutural básico é o cqullibriu, que regulo, ao invés, as relações entre as grandes polêncius, introduzindo também ele um novo fator de ordem. Au ver no equilihrio o dado estrutural fundamental que condiciona as reluções entre as grandes potências, quer-se ressaltar antes de tudo uma situação de fato, ou seja, que entre as grandes potências dominantes no sistema euro peu e mundial (bem como na das cidadcs-Esludos da Grécia e no italiano do século XV) se criou uma situação duradoura de não excessiva dife rença no plano du força, capaz de impedir que qualquer delas se sobrepusesse a todas as demais e, par conseguinte, de conter toda a tentativa hegemônica, quer pela coalizão das restantes po tências contra o Estado mais forle e seus aliados, quer simplesmente devido â capacidade de resis tência de umu só das polências. no caso de o sislemu ser furniadu apenus por duas grandes polêncius. Esle mecanismo pôde funcionar, en quanto se manteve, giuçus a que as grandes po tências aifoluram como regra de cumporlauienlo no plauu internacional a palílica do equilíbrio. Isso não quer dizer que a manutenção du equi líbrio entre as grandes potências lenha consti- luídu sempre o objetivo primário e conslnnle da política externa de cada uma dessas polêncius^- quer upenus dizer que cada uniu delas, nãu lendo possibilidade objetiva de aspirar a hegemonia, agiu regularmente de tal forma que pudesse im pedir que um Estado ou coalizão de Estados acumulassem forças superiores às dus seus rivais coligados. Fizeram-no pela simples mas decisiva razão de que a ruptura radical do equilíbrio traria consigo a hegemonia de um Esindo sobre tudus os outros c. par conseguinte, a perda da própria soberania c independência. Esle mecanismo do equilíbrio não trouxe consiga, como é evidente, a superação da anarquia internacional com suus mnnifcstoçães violentas e belicosas. A própria política de equilíbrio torna indispensável, uliás, que lodn a grande poiência aumente sem cessar a sua força num inunda caracterizada por um conllnun progresso econômico, demográfico e tecnológico, e esteja, enfim, também dispostu a fazer a guerra para manter precisamente o equi líbrio. Por outro lado, o equilíbrio é o mecanismo que tornou possível, no sistema europeu e mun dial, a manutenção da uutonumin das graiídes polências e, em conseqüência, de um sislemu pluralista de Estados soberanos, que permitiu, entre nutras coisas, garantir um mínimo de auto nomia às médios a pequenas potências. A hicrarquiu entre os Estadas e o equilíbrio entre us grandes polências constituem, pois, no quadro da anarquia internacional, as dois ele mentos estruturais básicos que a transformam, de simples pluralidade caótica de Estados, num sistema ds Estadas, ou seja, numa realidade ca racterizada por uma relativa ordem e. por isso, relativamente mais compreensível e previsível em seu desenvolvimento concreto. O equilíbrioentre as grandes polêncius consumi, em purticulnr, a condição concreta que induziu os Estudos n se reconhecerem reciprocamente, ale de mndu for mal, comu Estadas soberanos c que, no caso da Europa moderna, loruou lealmente possível a afirmução e progressiva difusão do dircilo inter- nucionul, gurautindo-lhe a eficácia em medida mais ou menos umplo, conforme us casos, apesar de cie não derivar de um poder soberano. Com 1032 RELAÇÕES INTERNACIONAIS efeito, segundo o pontode visto dn doutrina da razão do Estado .(Hlnlze), ns normas do direito Internacional que são efetivamente observadas pelos Estudos, vfio buscar sua validade falua). não tanto ao principio pacto sutil servanda, que 6 csscacialmeate um juíza de-valor, quanto so bretudo ao falo de que. dado o equilíbrio, Isto 6, o impossibilidade rcol de eliminar n soberania dos outros Estados, os atores- principais do :sis- tema Internacional tiveram de .reconhecer n nn- cessldado de conviverde algummodo.mesmosem renunciar o política de. potência-e5 guerra como extrema ratla, c, consequentemente, de regular de alguma forma essa convivência de caráter anárquico, fazendo nascerum dircilo sirigenerís, na medida cm que legitima o uso normal da violfinclo. Era substancie, se não existeum poder soberano que garanta o respeitopelodireitointer nacional, existe em-lodo caso uma situação de poder, embora instável como o equilíbrio entre as potências, que oblém de .alguma maneira o/ mesma efeito. Jr A hierarquiaentre os Estados c o papel domi nante dos grandes potências configuram, por ou tro lodo, a presença de uma espécie de Governo no quadro do sistema dos Estados, definido como "Governo da mondo" com referência b fase em qua o sistema europeu conseguiu dominar o mundo inteiro, mas, com mais razão, cm relação ò fase do atual sistema mundial. Troto se eviden temente de um Governo de tipo quolitotivomenle diverso tio existente no quadro da um Estado, pois lhe folio o requisito da soberania, sendo cons tituído por um conjunto de potências soberanas que praticama políticade potênciaentre si o em relação aos demais Estados. A soberania implica, com efeito, que as dedsõcx da Estado relativas aos cidadSos, mesmo sendo produto de discussões a(6 muita ásperas (mas não violentas) entro os vários partidos e grupos ecomSmico-scciaii, uma vez traduzidas em normas que passarão a fazer parte do ordenamento-jurídico, sejam impostas pelo poder Irresistível:do Estado, mediante o ação conjunta dos seus órgãos; Pelo contrário, os decisões de valor internacional dos grandes potências, tomados com base nas relações de força entre grupos armados, ou mesmo na guerra, e traduzidas em normas de direito internadonol, tratados de vario gênero, alianças, distribuição de zonas de influencia,regrasformaise informais, etc, possuem sempre uma eficácia cstcururBlmcn- te inferior em comparecia com si decisões In ternas dos Estados e criam bIIudcocs estrutural- mente mais precárias e aleatórias, NSn obstante tais diferençasde qualidade,nSo é Injustoafirmar qua os grandes potênciasexercem o Governo do jnuzuio (ou do cisterna dos Estados), uma vez que aos encontramos diante de uma aituaçSo em qüii as dedsdes de um-número relativamentepe queno.de sujeitos internacionais traçam as lindas ÍQrtdamctitalsi do desenvolvimento- dni relações entre os noçOes e delimitam em especial, de forma decisivo, com uma Intensidade e rigor diversos conformo os circunstancias, o campo de bçRo dpj» médias e-pequenas polênciai. Panamos, além djiso, observar que, cm certos períodos, tais de cisões conseguem controlar a cvoluçSa da situa ção internacional com tal eficácia que garantem uina notável estabilidade (caracterizado parti cularmente pela ausência de guerras gerais, ou guerras qus envolvem as grandes -polências, c pela ausência ou fraco- presença: de guerras limi tadas ou locais) e estabelecem, por Isso, uma verdadeira c autêntica "ordem internacional", isto i, uma situação que, conquanto sempre qualita tivamente diversa da situação Interna de um Es tado, tende o assemelhar-se a.eln.Estnj fases, mais.oi)-menos duradouras, seo.,em todo caso regularmente interrompidas por. fases de crise onuda na ordem internacional, ou seja, o mais dás vezes, por guerras gerais,(ornados inevitáveis pelo fato de que, quando surgem contrastes pro fundosentreos grandes potências ou as potências emergentes, tendem a modificar o ordem Inter nacional para a ajustar fis suas crescentes neces sidades, o único modo de resolver raies contrastes d o guerra, de cujo desfecho dependerá depois o nova configuração dn ordem internacional. Além deste Incapacidade estrutural de gerir pacifica mente os contrastes graves e e necessidade de mudanças profundos, o Governo do mundo, é preciso observar ainda,,apresenta Um carátermar-, cadamènte antidemocrático. Mesmo quo existam procedimentos democráticos eficazes no seio das grandes como das. médias e pequenas potências, n sua eficácia se delem na fronteiro dos Estados, Íá: que. as decisões do Governo do mundo são ruto de relações do puro forco entre na grandes polências e não de um debateou de procedimen tos democráticos, sendo impostas aos demais Es tados sem que eles tenham, podido sequer con tribuir para a sua elaboração. -III. Sistemas multipolares e sistemas bi- polares. —;Os modelos:mais: tfpicos de- confi guração das relações do-força são:o multipalar o o bipolnr: ou os atores principais, cujas forças nüo são tatcesslvamenla desiguais, são relativa mente numerosos, ou então,so 4a\s nlores domi nam de tal modo seus rivais ous se transformam em centros de coalizões, sendo os atores secun dáriosobrigados a tomar posição em relação eos dois "blocos", aderindo a um ou n outro, a ratnoi que tenham o possibilidade, graças em parte a RELAÇÕES INTERNACIONAIS sua posição gcopuHtlca, mas, sobretudo, ao acor do formal ou incito das superpotências, de se manterem ncutrals. São possíveis modelos Inter médios, deacordo com o número dos atores prin cipaise da maiorou menordistancia, mormente naconfiguração blpolar, entre os maiores potên cias e as potências médias. Mas vejamos agora ns característica» principal* das modelos típicos que servem lambem de paradigma no análisedas situações -intermediárias e na compreensão das vorioções que nelas ocorrem. O exemplo, fundamental do equilíbrio raulti- polor (dele se aproxima, com algumas reserves relativas aa processo ainda incompleto dn for mação du Estado moderno, o sistema dos prln- cipados italianos do século XV, cm cujo âmbito se Impôs, entra outrus, o uso das embaixadas es táveis, cujo escopo original era Justamente o da acompanhar de perto a evolução da potência dos outros Estados, para se poderem tomar medidas adequadas è manutenção do equilíbrio) está no sistema dos Estados europeus, que pode manter essaconfiguraçSa até se dissolverno atual sistema mundial, principalmente por causa do constante popcl de equilíbrio nele desempenhado pela po tência Insular Inglesa. A característica mais evidente do equilíbrio mtiltipolar e, h primeira visto, umn rclollvo elas ticidade sob dois aspectos. Antes de mais nada, sob o nspeoto dos alianças, que tendem n nSo enrijecer masa mudar segundo as exigências da manutenção doequiiibrio, exigências queImpelem os Estados e coligarem-se contra o mais forte dentro eles ou, em gemi, n formarem contra- alianças diante de alianças que se afiguram amea çadoras para a equilíbrio, sem se deixarem geral mente guiar, naescolha dos aliados c namudança de alinhamento, por considerações referentes o solidariedade Ideológica, ou seja, a homogenei dade ou não das regimes internos dos Estados. Em segundo lugar, as médias e pequenas potên cias possuem, aqui. cm confronto com o configu ração blpolar, possibilidades relativamente maio res de escolha e uma maior autonomia, e isso já porque sfio mais numerosos os atores princi pais onda as pode encontrar opoio, já porque a passagem do campo de uma grande potência ao de outra podemais facilmente ser tolerada, dados as possibilidades de recquilfbrio que oferece a existência da"terceirnspessoas", em que poderão apoiar-se osatores que viram diminuir seu poder. A estas indicações 6 precisa acrescentar algu mas particularidades de importãncin. Quando ns diferenças entra as.forças dos atores principais se tornam muito pequenas e nenhum deles, por conseguinte, pode ler em mira fins hegemônicos ou aspirar de qualquer modo a mudanças de relevo nasituação do poder cm beneffeio próprio, o sistema torna-se muito estável, no sentido do 2UC garantelongosperíodosde paz ou de guerras mltodas quanto aos meios e moderados quanta aos objetivos. Nestas condições (pensemos espe cialmente cm grande parte do período que vai dos tratados de Uirecht e Rastatt ao Inicio das guerras desencadeadas pela Revolução Francesa e, mais ainda, no que vai do Congresso da Viena ao começo da era guilhermina), particularmente nos momentos de maiorestabilidade e equilíbrio, tendem n afirmar-se, de modo vinculatlvo, algu mas regras semtformois de comportamento das Estados, que visem moderar a política de potên cia, islo é. o subordiná-la deliberada c conscien temente, para além do vínculo objetivo do equi líbrio das forças, às exigências gerais du preser vação do equilíbrio. E toma-se até possível a formação de estruturas quasc-formnis, como o entendimento europeu daépoca da Santa Aliança, tendentesa resolver pacificamente, do modo mais amplo possível, as disputas entre os Estados e o preservar coletivamente a ordem internacional. Pelocontrario, quando as diferenças de potência se tornam multo relevantes pelo feto de um dos atores principais ocumular tal força que se sobre põe aos outros, usando-o para modificar radi-. calmenle a seu favoro quadro existente das Re lações internacionais, e quando, em conseqüência, surge um Impulso hegemônico que provoca a coalizão das outros atores principais (que seman terá estável, enquanto durar o perigo hegemô nico), e configuração multipolar tende efetiva mente a aproximar-se da blpolar, com os' carac terísticas de rigidez das alianças, instabilidade do sistema, tensão constante e dimensão total das guerras que veremos ogora serem típicas de tal configuração. O modelo de equilíbrio blpolar encontra a sua realização mais completo no sistema mundial que se formou após- o termo da Segunda Guerra Mundial. Desta modelo se aproximam tanta ns fases de guerras begemânteas do sistema europeu (mas neste casose poderio dizer que e configu ração blpolarpossui um caráter mais conjuntural que estrutural), quanto o sistema dos cidodes- EsladcM da Grécia, fundado na primazia de Ate nas e de Esperta. A sua característica mais clara está nn rigidezda políticode equilíbrio postacm prática pelos dois atores principais, ou seja, no falo da eles terem extremo dificuldade ou impos sibilidade cm renunciar a posições de poder mes mo mínimas c, consequentemente, cm eceitur o passagem de um nliodo parao bloco oposto. Isso dependo fundamentalmente de que, nin havendo "terceiras pessoas" capazes de contrabalançar as diferenças de equilíbrio,qualquer diminuição do 1094 RELAÇÕES INTERNACIONAIS força de um dos dois pólos, por relativamente | contribuições que o abordagem teórica na dou- pequena quis-saja- deixa automático e unilateraJ- farinada razão de Estado Iraz à teoria das Reta mente cm vanlagem-o oulro pólo, Implicando, por |cões- internacionais, é precisa ainda examinar o isso, imediatamente um perigoso desequilfortoj ^problema da. relação enlre política externa èpo- Com efeito, na"configuração blpolar.' a~ corrida HÍtica Interna. Esta abordagem tem como carec- aos armamentos ó sempre mola acentuadaque na s,terfstica mais evidente, neste contexto, a rejeição multipolar, os crises ligadas àsmudanças ou ten- ida tesedo "primado da política Interna" (v- Ra- tnlivasde mudança'-dé posição assoz mais peri- -.zâo DE Estado), segundo a qual a política, ex- gosas paraa manutenção da paz, e, enfim, quan- : lenut dependeria cssenclulmcnlc das estruturas do irrompe a guerra entre os atores principais, :internas dos Estudos. Mas não contrapõe a essa tende fatalmente a adquirir um caráter total, quer •• tese,'sic et simplicilar, a tesa do "primado da no:sentida do envolver toda o sistema, quer no : políticaexterna", segundo a qual a evolução io de comprometertodasos energias disponíveis das terna dos Estados seria essencialmente determi- maiores potências. nada pelas exigências da política de potência no Pelo que respeita aos ateres menores, a far- plano internacional, uma leseque surgiu na dou- maçHo de blocos fortemente hegemanizadoa por 'riiui alemã do EsUtdo-poiência, mas que foi su- uma pntência-gula — inevitável, dadii a limita- ieita' a revisão crítica pelos maiores-expoentes dissima liberdade de escolha de que gozam na dcjm tradição de pensamento. Na realidade, o configuração bipolor as médias a pequenas potên- raciocínio que desenvolvem a tnl respeito os mais cias — implica necessariamente, sobretudo nas agudos teóricos da razão do Estado 6 multomuis zonas de. grande importância estratégica, a Itmi- complexo, lendo como ponto de partida'o"re lação de forma considerável do próprio autonomia conhecimento da autonomia da políUca externo dedecisIolnternadosEstadassubordInBdos.com «" JKla^So is esimluras Internas dos Estados, isso se pretende poder' impor aos "satélites" ep- p0"1 is,° ac °nm,B cra «»"»k> q"C se por um ções ideológicas e. emdecorrência disso, a ado- k**0 "" conieildos políticos, econômicos, sacieis ção oumanutenção deestrutures políticas e eco- « culturais das Relações internarionais e, conse- nfimico-sociais homogêneos, ou. de quolquer ma- 1?""**™*. ««<« conluios que nelas surgem, va- netra, vantajosas quanto as necessidades do sls- rüun «ianforalc MÍB0CBS c u diversos estruturas tema político oeconómlcc-soclal dapotência bege- poUttcaa e económlco-sociaU internas dosEstados mornea, que 6, por outro Iodo, obrigada a pro- (eanHuros que. era parte, refletem as condições curar Impedir profundos transformações internas BW"* « o nível de dvltoaçto de uma época, e nos Estados pertencentes Asua zona de Influên- cm parte dlvergcm.de Estado para Estado no cia. Justoraente para evitar a sua passagem ao ""f010 P«*»*»>. « instrumentos com queos Es-bloco oposto -lados regulam, por oulro lado, laia relações, ou Estas característicos fundamentais do equlll- Na- a poUtlca.de potência, a política de equilí brio blpolar tendem o ntenuar-se &medida que brio e «» Buerra (instrumentos que, como seviu. a diferença de potência entre os atores principais e secundários diminui, pondo assim em crise a posição de superioridade das superpotências. Alem disso, um fator decisivo que se bi de ter cm conta para compreender o funcionamento do sistema mundial pós-bélico e para lhe captar a originalidade cm relação a qualqueroutro sistema de EstàdoS anterior i a existência das armas' de destruição total, que, tornando totalmente ab surda e inconcebível a guerra geral e direta entre as superpotências (o que fez'surgir o chamado "equilíbrio do terror"), impediram, da fato. que ela se deflagrasse, não obsumlo a elcvadlisíina intensidade da competição doa armamentos e, em geral, a-rigidez e tensão peculiares de uma con- figuração -bipolor, c-abriram-por Isso caminho a possibilidade de controle e nlé mesmo de limi tação dns armamentos. IV. Política externa, e política interna. — Para completar a explicação das principais deixara-umacerto.margemde eficácia ps normas de direito internacional), mantêm-se substancial mente; os mesmas, excetuados os condicionamen tos que a evolução tecnológica-exerce sobre os armamentos c sabre a condução da guerra, en quanto subsistir a anarquia internacional, isto é, a pluralidade dos Estados soberanos. Com efeito, as mudanças mais radicais de regimes, ocorridas na história moderna'desde a Revolução France sa & soviética, mudaram' decerto profundamente as:coadIçoes Internas dos Estados e as condições do sistema internacional cm fleuconjunto, e. por tanto, cs conteúdos das Relações internacionais, dos respectivos conflitos e dós próprios alinha mentos, mas afio fizeramcessar as leis funda mentais das relacões<de potência e de equilíbrio. Identificados os termos mais gerais da auto nomia da política externaem relação es estruturas Internas, c possível depois enquadrar de modo teoricamente válido tanto as' formos em que s*e manifesta mais claramente a influência da siiua- RUI.AÇÕES INTERNACIONAIS IU9S ção Internacional sabre a evoluçãu interna dos Estados, como aquelas cm que se verifica u fenô meno contrário. Sobre o primeiro puniu se pude constatar como a anarquia internacional, ao obrigar us Estudos a criar e a reforçar constantemente, c a usar caiu freqüência, as aparelhas milharei destinados a defesa externa, exerce em geral influência sobre a evolução interna dos Estados, favorecendo us tendências autoritárias, e exacerba em particular, nos Estadas cuja segurança é mais precária par causa da-sua posição geupolflica, a tendência à centralização do poder c o preponderância do executivo sohre us demais poderes do Estado. Este ponto de vista é indispensável pnrnexplicar de modo satisfatória um problema fundamcmal da história do Europa moderna, o da profunda diferença entre as experiências históricas dos Es tados de tipo insulur (como a Gra-Brctaniui c os Estados Unidas da América — estes até se tomarem, cm 1445, um dos dois pólos da equl- líbriu mundial), constantemente caracterizadas por uma política exiemn propensumente mais pacífica e por uma evolução Intenta tendente n estruturas pulítico-íociais liberais, elásticas c des centralizadas, e os experiências dos Esludus de tipo coqtinental (como a Piússia-Alcmanhn, a França, a Itália, etc.) camcterlzudus ao contrário par uma político externa indubitavelmente mais agressiva e belicosac. carrelativãmente, pela ten dência interna no ccnlralisnto auiuriiário. O dado centrei que d preciso ter presente para se com preender estu diferença é, no realidade, o exis tência de. fronteiras terrestres o a necessidade de us defender contra o perigo sempre presente de uma invasão por via terrestre. Nestas condições, a necessidade de segurançaimpôs uma orientaçüu tendentemente ofensiva que procura não raio anteceder, o adversário com ataquesde surpresa; determinou,por isso, a formação de enormeapa relho militar, utilizável com a máxima rapidez passível;' (ornou, enfim, necessárias estruturas políticas centralizadas u autoritárias, capuzes de realizar, com fins defensivos,a rápidac completa mobilizaçãode todos os energias disponíveis. To das estos sujeições pesaram, ao contrario, infini tamente menos sobre os países insulares, dada a sua favorabilfssima posição estratégica, pois não havia fronteiras terrestres a defender. Com efeito, nesses países, o defesa pôde até há bem pouco tempo ser essencialmente garantida nela frota de guerra, evitando-se assima custosacriação, um lermoseconômicos,mus sobretudopolítico-sociais, dos enormes exércitos de terra dos Estados con tinentais c dos aparelhos burocráticas centrali zados a eles conexos. Passandoao segundo ponto, o fenômeno mais relevante que ha de se tomar cm cuasideração 6 a tendência dos Estados com fortes tensões político-sociais internas a tentar dominá-las e re primi-las, pondo cm prática ali uma política de expansão extema ou, cm lodo caso, de exacer bação da tensão Internacional. Esta política acar reta geralmente a consolidação do Governo ou do regime que a tevam a efeito, a menos que conduza â derrotaou ruína dú Esladoem questão; nesse casa, as tensões internas que se procurara desviar paro fora desembocam quase irremedia velmente em fenômenos de Irunsfúrmuçãu revo- lucionâriu du regime. Esta leiidí-iieiu (também chamada llmuipartisma) se traduz indubitavel mente numa influência notável da evolução in tenta de um Estado cm sua política externa e, pur conseguinte, nu situação internacional. Con tudo, não se deve cair nn erra de ver no hona- parllsmo a causa central e dominante dos pro cessos Imcrnaciunuis de que, no eninnlo, cons titui um importante futar. Na realidade, a ma nobra banapurtisln pressupõe,nfio é elo que criu a anarquia internacional com a conjunta autono mia dn política externa. Paroutro lado, na his tória du sistema dos Estadas europeus, os exem plos mais relevantes de política bonapartisia (a política externa da Alemanhanazista c o último e mais clamoroso exemplo) concernem exclusi vamente às potências continentais, ande a ten dência n desviar para u exterior as tensões inter nas se insere tanto no caráterjá de per si belicoso e cxpnnsinnlsta da política externa, objeUvaincntc dependente da posição continental, cama na in fluência de sentido centralizador, autoritário c conservador (tudo fatores de acentuação das ten sões Internas), exercida pcln posição continental sabre n evolução interna. Pelo contrário, se o fenômeno da dificuldade objetiva que os Estadas fortemente descentrali zados ou federais e com uma efetiva separação das poderesenfrentem parapâr em prática uma política externa belicosa e exponsiunislu (pois o equilíbrio entre os poderesdo Estadoé um obs táculo u rapidez de decisão c intervenção no plana internacional), põe em evidência um mo mento importante da influência, cm sentida cla ramente oposto ao da casa precedente, das estru turas internas sobre a pnlfticn externo, deve.-pur oulro lado, ser enquadrado no contexto mais amplo da influencia que a posição no sistema dos Estados tem sobre a política externa e, pur cun- seguinte, sabre a evolução interna de certas Es tados. £ cloro que nas referimos aqui à proble mática da Estado insular, 1036 RELAÇÕES INTERNACIONAIS V. CttínCAS AO MODELO DICOTÔMICO SOBE1U- j NIA ESTATAL-ANAROUtA IHTERNACtONAL. — En-| quanto n teoria dos Relações internacionais, de' que expusemos o urdidura canccptual básica,! mergulhn os sues raízes numa tradição de pen-'' samcnlo que remonta cm suas bases mais gerais! o Mnquiovel, o estudo dessas relações como dis-! clpllna acadêmica e ciência oulônomn no Bmbito mais abrangente da ciência política ê um fenô meno relativamente recente, que, depois de al gumas antecipações no entremeio das duas guer ras mundiais, se desenvolveu sobretudo neste último pós-guerra, graçasprincipalmente a alguns estudiosos anglo-snxães. Que relação tem enlre si estos duas orienlaçOcs? Em parte pode existir ai uma ralaçãode inte gração reciproca. Isso conto particularmente quanto a coleção de uma Infinda quantidade de dados empíricos (que constitui um dos mais no táveis contributos, se bem que cm st insuficiente, da ciência americana das Intcriinthtwt Rclatlans), que podem ser utilizadas com proveito na abor dagem teórico aclmn examinndn. cujas análises exigem, sem dúvida, cm não poucos casos, serem providas de uma mais completa e orgânica re colha de dadas. Na que respeito ao usa por parte dos estudiosas de International Relattons dn me todologia comporlnmentisto, das processos de quantificação de dados, da leoria gerai das sis temas, da teoriados jogos, de complexas modelos cibernéticos, pudemos observar que ISO tafisil- eados formas metodológicas não são cm si con traditóriascm relaçãoaos ensinamentos derivados do doutrino da razão de Estada. Como exemplo assaz significativo pode-se Indicar, o propósito, o esforço par tornar mais rigoroso o discursa so bre sistemas de Estados, enquadrendo-o na teoria geral dos sistemas (Morton A. Koplnn). Com isso . não se esquecem, por oulro. lado, ns recentes e - essaz difusas criticas co comportementlsmo c a tendênciaconexaò quantificaçãoe motemaliiaeão dos dados, críticas que estão levando n uma geral e substancial reavaliação da abordagem tradi cional, parecendo cedovez mois claroaüe a per feccionismo metodológico c, principalmente, a tendência a operar só com dados quantifmoveis obrigam a pesquisa' a concentrar-se em termos que são secundários. Paro alam dos aspectos que podem com algu mas reservas ser considerados complementarcs, surgem, não obstante, no panorama das Inter national Rclalions, algumas leses alternativas cm relação &teoria dos relações internacionais, fun dada na doutrinada razão de Estado. Em resumo, segundo um modo de ver bastante generalizado, os conceitos basilares da soberania estatal e de anarquia inteniacianal pareceriam Cada vez mais destituídos de capacidade descritiva e explica tiva dentro da tenlldnde contemporânea, como conseqüência da presença de alguns fenômenos de grande relevo, quo envolvem, todas ales, em vária medida, uma limitação substancial da sobe- rnnin, lento nos Relações internacionais como nas internas, e, conseqüentemente, a desaparição du próprio fundamento da diferença qualitativa en tre relações Internacionais e internas. Os fenôme nos mais geralmente citados são os seguintes: — a crescente interdependência no plano eco nômico, social, ecológico c cultural entre todos os Estados do atual sistemo mundial, interde pendência que deu origem a um desenvolvimento sem igual, em confronto com épocas anteriores, das estruturas da organização Internacional (de que n ONU é o exemplo fundamental) que tem exatamente a incumbência de gerir, pelo método da cooperaçãointerestatale mediante um enorme desenvolvimento, tsnto no plBno quantitativo co mo qualitativo, do direito Internacional, esss mesma Interdependência; — o progresso e aprofundamento de tal Inter dependência, sobretudo no solo dos blocos e das zonas de Influência cm que se articula o atual sistema mundial dos Estados; mas lambem fora dele se desenvolvem formas de Integração entre os Estados, no plano econômico c/ou militar (NATO, Pocio do Versaria, CEE, COMECON, Pacto Andino, ASEAN, etc), que pouca relação têm com ns alianças tradicionais, uma vez que limitam consideravelmente a soberania estalai; — a existência, embora ligada a uma inter dependência econômica de nível mundial eada vez mais acentuado,das grandesempresas multi nacionais, os quais, conquanto não gozem de so berania, possuem de feto um poder multo supe rior eo de numerosos Estados soberanos, sendo capazes de lhes restringir substancialmente a so berania. ' A grandeimportância destes fenômenos no con texto atual das Relações tnternacionata e o neces sidade de que n respectivodisciplinaos enquadre de forma adequada são coisas fora de discussão. O que nos parece pelo contrário Inteiramente infundado ó à tese de que eles põem em dúvida o Valor da teoria dás Relações inlemacranais ba seada no esquema dicotômica soberania estatal- anarquia internacional. São Necessários a tal res peito alguns esclarecimentos. Sobre o primeiro pontoé preciso observar quóo existência de uma certa Interdependência (obviamente variável nas formas, nosconteúdos e na intensidade de época para época) entre as sociedades cujos Estados fazem parle de um sistema de Estados foi sempre condição contexlual da existência de tais slste- RELAÇOES INTERNACIONAIS 1097 mas. À luz da análise histórica, cies aparecem sempte efetivamente ligados a existência de al guma forma de sociedade iransnoriona! que, cm lermos muito genéricos, constitui uma civilização comum e implico por isso relações constantes no plano ccon&mh», social, cultural, etc, entre os membros de tais sistemas, isto é. relações tran*- nacionnis que se desenvolvem entre as sociedades politicamente Incorporados cm cada um dos Es tadas.Masaquic conveniente umacertadistinção termlnológlca. Embora exista a tendência ossaz freqüente de usar indistintamente as expressões "sistemo inteniadonfl!" e "sistema dos Estados", seria mais carreio,a nosso entender, usar a pri meira expressão quando nas referimos ao com plexo constituído pelo sistema dos Estados c pelo sociedade iraninaclonnl que aquele abrange, c a segunda expressão quando, ao Invés, nas limi tamos a considerar n sistema dos Estados, pres cindindo do tipo concreto de sociedade transno- cional a que está ligado. Depois disso deve-sc observar que, quando os relações iransnocionais alcançam uma notável Intensidade, elas impelem as Estadas a criar formas mais ou menos desen volvidas iáeorganização internacional destinadas a regulá-los. O modo como Isto acontece no quadrodo sistemo dos Estudos nãualcança nunca, por oulro lado, o mesma grau de eficãcln com que são reguladas os relações internas de cada Estada, jáque In! ílítctiia 6 um sistema política sem o requisito da soberania e lomn por isso Inevitáveis ú político de potência c as guerras periódicas, que. conquanto não interrompam nurien de formo completa ou definitiva ns relações IrnnsnBciohnls é n cçãa das organizações Inter nacionais, os tornam cm lodo coso estruturatmente precárias. Isto vale também parao atual sistema Internacional c há de valer enquanto ele não tiver adquirido as mesmas características das sistemas políticos dotados de soberania. Quanto nos fenômenos de integração entre os Estados, ó preciso uflrmar que eles constituem em certos casos a forma especifica como se organizam as relações fortemente hierárquicas entre os atores principais e os atores secundários de um sistema de Estados de tipo bipolor (NATO, Pacto de Vantóvlo,COMECON), enquantoeraoutroscasos (sobretudo o da integração dn Europa Ocidental, v. Intéoraçâo BURoréiA) correspondem a ten dendo — revelada no século passado, se bem que em formas diversas, com o unificação italiana c alemã — de criar entidades estatais de dlmca- sues mais-amplas em zonas onde a Interdepen dência atinge particular profundidade e onde só através da unificação supranacional 6 possível recuperar ou alcançar, participando de uma co munidade estatal mais ampla, um papel de ator principal no sistema das Estados. No que res peito eo fenômeno dns empresas multinacionais, não se há de esquecer que, se d verdade que elas são capazes cm muitas casos du limitar substan cialmente a soberania de numerosas Estados es truturalmente débeis, quer pelas suas dimensões quer pela sua formação recente c/ou incompleta, Isso. lornou-sc passível devido ua apuia direto ou indireta de uma grande potência, cuja força é fator decisivo, sobretudo quando a atividade de tais empresas provoca graves conflitos. Em resumo, se o papel que hoje desempenham as empresas multinacionais está vinculado, por um lado, à peculiar profundidade que alcançou a interdependência econômica, sobretudo entre os países du economiade mercado, ele depende, por oulro lado, do hierarquia que existe entre as Estados c caracteriza o atual sistema mundial, isto 6, uma das manifestações do atual govemo do mundo. Feitos estes esclarecimentos sobre o falo de que, na realidade internacional atual, o esquema dicotômico suberanio estntal-onarquia internacio nal mantém intatn n suo capacidade explicativa, não só lem sentida, como £ absolutamente inevi tável encarar outra questão. Temos de nus per guntar seriamente se os fenômenos de crescente Interdependência das relações humanos cm escala mundial (e entre eles se há ds também considerar o fenômeno, que poderíamos definir como de interdependência negativa, representado pelaexis tência de armas capazes de destruir o mundo in teira) não demonstram que a estruture anárquica da sociedade interestatal d cada vez mais incon ciliável com ns exigências de sobrevivência c desenvolvimento do gênero humano, e não nos põem diante do problema da criação de um Go verno mundial eficaz e democrático e, por isso, concretemente. diante da problema das vias e eventuais etapas intermédias para alcançar esse objetivo. VI. Sistema dos Estados e evolução do mói» nu produzir. — Por último resta enfren tar o problema de fundo suscitado pelo pensa mento de orientação marxista c, particularmente, pela tcorio do matcriolismo histórico, mi seja, a necessidade de explicar a relação existente enlre o evolução do modo de produção c a evolução das supcrcstruiuras políticos, entre ns quais ocupa um lugar relevante o sistema dos Estados, em que se concentra aqui a atenção. O que leva a enfrentar este problema 6 a verificação de que alguns processos da grande relevo encontrados na análise da problemática dos Relações interna cionais não contam, no quadro da respectiva teo ria, com um instrumento que permite compreen- 11)98 RELAÇÕES INTERNACIONAIS dê-los em profundidade. Refcrirao.nosparticular mente aos processos de onde nascem os modernos Estados soberanos c o sistema dos Estados, qus provocara a formação c desenvolvimento da so ciedade transnaclonal, politicamente incorporada pelo sistema dos Estados, que fomentam o trans formação gradual ou revolucionária dus regimes políticas e das estruturas ecunômico-sacisls in ternas dos Esiodos, e que, fazendo crescer a inter dependência da atividade humana pura-alem dos confins dos Estados, impelem à formação de Es tados de dimensões cuda vez mais amplas, por tanto aos fenômenos de integração supranacional. c. preponderantemente, & unificação do mundo inteiro. Por ura lado, parece bastante evidente que estú fora da função e das possibilidades da toaria dos Relações internacionais identificar os forças motrizes destes processos, c isso porque elo, como qualquer teoria cientifica, c uma teoria parcial dos fenômenos inler-humanos. que se pro põe especialmente identificar uma serie de deter minações dos comportamentos do homem, deri vados dos fenômenos da anarquia inlernadcnal, c, por conseqüência, do sistema das Eslados e da sua influência na evolução Interna de coda um deles; deve justiftcadamcntc deixar para ou tras ciências a tarefa adma referida. Por outro lado, visto que tais processos exercem uma in fluência decisiva sobre o sistema das Estados, pais mudam a sua base cconômico-social (as so ciedades englobadas pelos Estados e a sociedade [ransnodonal), mudam os seus atores e a hierar quia enlre eles existente, mudam a própria ma lária dos conflitos, etc, é indispensável que haja critérios de orientação que permitam explicar, pelo menos nos seus. aspectos mais gerais, os modos de relação entre os fatores que provocam lais processos, bem como a evolução do sistema dus Estados. Ora, as indicações mais ccrlos para enfrentar corretamente esla problemáticaprovêm, a nosso entender, do materialisma histórico, única abordagem teórica que procura explicar de modo cientifico o interação existente entro os diversos setores da atividade humana a as determinações delas provenientes. Pelo que concerne ao tema que 6 abjeto desla análise, o materialisrao histó rico, com a lese do caráter supra-estruturo!do Es tado c conseqüentemente lambem do sistemados Estudos cm relação a evolução da modo de pro duzir, mostra, antes de tudo, a estrada mestra que c precisoseguir paiadescobriros fatoresdeci sivos que ausdtam os processos antes indicados. Em segundo lugar,com a tese da autonomiarela tiva dns supereslruturas (que. embora-claramente implfdta nas análisesde Marxe Engds, se desen volveu de forma mala clara e completo depois), indica cuuuj explicar a complexo relaçãode Intc- pção dialética queexiste entre osdeterminações provenientes da evoluçãodo modo de produção o as provenientes do sistema dos Estados. '•• Qunnto h primeira das teses, é preciso remon tar às análises que mostraram de modo convin cente como a formação da moderno sistema eu ropeu das Estados tem a sua basti material na consolidação da mudu capitalista de produção, quu, par umlado, constitui o alicerce principal do moderna Estado soberano (o monopólio da força e a conseqüente certeza do dircilo são indispen sáveis para permitiro funcionamento de um sis tema econômico-sadul bem mais complexa que d feudal c com outras formas de conflitos sociais) c, por outro, faz nascer progressivamente o cha mado mercado mundial, isio 6, uma crescente interdependência entro as soriedudesorganizadas por cadaum dos Estados c, em decorrendo,uma sociedade transnaclonal politicamente englobada pelo sistema dos Estados. Dentro desta linha de análise, têm sida realizados estudos de grande interesse e valor sobre a relação entre desenvol vimento capitalista e, portanto, industrial, de um lado, e a progressivo fortalecimento do domínio dos polênciaseuropéiassobreo mundo, do aulro; explicou-se o nexo das sucessivas fas.es do desen- volvimealo capitalista 6 da Revolução Industriai com o aumento das dimensões do Estado, pondo- sc em evidênda, cm tal contexto, como a inco- paddade dos Estados europeus em se fundirem numa comunidade estatal mais vasta abriu cami nho a hegemonia das potêndas do dimensões continentais; caracterizou-se o impulso que os conflitos sociais criados pdas sucessivas fases de . desenvolvimento capitalista e industrial deram à transformação gradual ou revolucionária das es truturas internas dos Eslados c das próprias ca racterísticas da sociedade transnacional; e assim por ul afara. Passando agora à tese do autonomia relativo do sistema dos Estados cm relação a evolução do modo da produzir, dois pontas têm du ser ressaltados. Em geral, com base nesta tese, se pode tornar claro qua, se a evolução da modo de produção constitui, no sentida acima indicado, a base material da sistema das Estados e o fator determinante das transformações fundamentais que nele se verificam, por outro lado, uma vez constituído tal sistema ou reestruturado cm con- seqtlênda de transformações nele ocorridas, as determinações daf provenientes o individualizadas pela teoria dn razSo de Estado exercem uma in- fluêntía autônoma o decisiva sobre os comporta mentos humanos e, conseqüentemente, sobre o processo histórico, e hão de exercê-la, enquanto a evolução da mudo de produção não levar & REPRE5 superaçãodo sistema dos Estudossoberanos. Esta lese, porém, permite subreludo compreender a capacidade que O sistema das Eslados tem de bloquear ou desviar, por longos períodos histó ricos, o processo de ajustamento da sua configu ração à evolução do modo de produzir, ou seja, permite compreender que o ajustamento da su- puresiruiura i evolução da base estrutural nãa possui um caráter mecânico, o que constitui um dado decisivo para a compreensão em profun didade das grandes guinadas do processo histó rico, Um exempla significativo paro a visuali zação deste ponto é o do imperialismo dus Es tados' nacionais europeus, que foi também um modo da evitarenfrentar o problema da criação de uma comunidadu política da dimensões con tinentais, apresentado aos europeus com a passa gem a fase do produção Industrial de massa, u encontrou umaalternativa histórica na Integração européia posterior ao descalabro, em 1945, da potência das Estadosnacionais (v. Imperialismo e Integração européia). Outro exemplo sigoiflcatlvo é o da política de tipoboaapartista (cujo pressuposto^eslá. como vimos, na autonomia da política externa), que permite diferir u transformação do regime interno de um Estado, enquanto naoocorrer o desmoro namento da sua potência. BtsuoaxAfM. _ R. Abom. Paut «turro ita teaatmt (1962), Edizicai dlComuniti, Mítico1970; L.Bonamate. // íisltma buertmlonale. ia//monda contemporâneo. Poll- ifeubuernazlaaaU, LaNuovsItália, Franze 1979; K_ W. Deutscji, Le rtloiloniInternaslonali (1968), II Mulmo Botogoa 1970; O.Httrra, Staat and Yrrfasiwrg. Viade- ohock & Ruprcdlt, Oollíngcn 1970; S. HomMNN. The uate ofwar, ICnopí. New York 1965; M. A. íCju-un, System and process in huematlonal poliilcs, Witey and Sons, New York I9S7; Internationale Beslehvngen, a cui dada de E. Kjumvndoxf, Kiepenhetier &. Witsch, Koln 1973; Id„ Inurnattonates Systems ais Gtsetíckit. Einjüh- natg In dle Inttmatianates üeitehmgm I, Compus, Frank furt 1975; tu., Internationale Utilehmgen ais Wlsiem- chafu BnJUhrwtg 2,ibld., Frankfurt t977; LoxD LoniUN, Paelflsm Is not tnaugh. nar patrlottsm ríiner. Oxford Univ. Press, Londoa 1915; II. J. Morgentiuu, Politta amongnations. Koopí, NewYork 1948; Político dlpaterna e imperlalltmo. acuidado deS.Pistons, F.Angeü, Milana 1971; J. N. RaSENAU, Unkage polida. Essays ait the eoavergtnee ojnattonal and intenmtlonal systenu, Knopf, New Yark 1969; Ia., Inlcrnattanal polittes and foreign policy. Ibld. 1969; Ia., The Sclenllficstudy offiuelgh policy. Ibld. 1971; A. WaUBts, Distaráandtottahoimkn. lobas Hopklas Unlvtnity Press. DiUimorc 1962. (Sérgio Pistom;)
Compartilhar