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[12/07/2002] Crescimento e terminação de bovinos de corte. 1. Aspectos gerais do crescimento e desenvolvimento Geralmente técnicos e produtores procuram abater animais extremamente pesados, sem considerar que muitas vezes este tipo de animal não é lucrativo, pois o peso de abate ideal pode ter sido ultrapassado. O peso ideal para o abate é definido através da composição corporal, ou seja, a maior quantidade de músculo possível, para menor quantidade de osso, e a quantidade de gordura na carcaça exigida por determinado mercado. Tem que se ter em mente que estes tecidos têm diferentes taxas de crescimento, que se alteram ao longo da vida. O crescimento pode ser definido como processo pelo qual a massa corporal aumenta em um determinado período de tempo, com a deposição de proteína, gordura e minerais (Luchiari Filho, 2000; Owens et al 1995). A taxa de crescimento, a composição do ganho (proteína e gordura) e, consequentemente, o peso à maturidade são dependentes de diversos fatores, como a idade, sexo, raça, e, principalmente, o nível nutricional ao qual o bovino foi submetido nas diferentes fases da vida. Os tecidos do corpo crescem e se desenvolvem de forma e em seqüência específica, começando com o tecido nervoso, seguido com ossos e músculos, e, por último, o tecido adiposo (gordura). É claro que existe uma superposição, isto é, os diferentes tecidos crescem ao mesmo tempo, mas a taxas diferentes, de tal forma que completam o seu desenvolvimento na seqüência citada. Pode-se dizer que o crescimento e o desenvolvimento do animal se iniciam imediatamente após a concepção, continuando até a maturidade. Ao nascer os animais apresentam o esqueleto bastante desenvolvido em relação ao tamanho adulto (Figura 1). Após o nascimento e até puberdade, a taxa de crescimento do tecido muscular é maior do que as taxas do tecido ósseo e do adiposo, enquanto após a puberdade até a maturidade passa a predominar o crescimento do tecido adiposo (Figura 2). Celso Boin Engenheiro Agrônomo, PhD, Professor convidado da ESALQ/USP e consultor Marcelo de Queiroz Manella Médico veterinário, doutor na ESALQ e Instituto de Zootecnia Figura 1: Relação entre o tamanho corporal de algumas partes do corpo do animal por ocasião do nascimento e ao atingir a fase adulta. Fonte: Luchiari Filho (2000). Figura 2: Curva de crescimento dos músculos, gordura e ossos. Adaptado Luchiari Filho (2000). Como pode ser observado na figura 2, o crescimento ósseo pós-natal é pequeno, apresentando desenvolvimento mais precoce, mantendo-se depois pequeno e constante praticamente durante a vida toda do animal . O tecido muscular tem seu maior desenvolvimento após o nascimento, sendo mais tardio em relação aos ossos, predominando até atingir a maturidade, sendo o principal constituinte do ganho de peso. O tecido adiposo é o último a se depositar tendo seu crescimento de maneira mais acentuada após a puberdade, ou seja, quando o crescimento muscular começa a diminuir. A gordura apresenta 4 áreas distintas de deposição, sendo a seqüência de deposição basicamente a seguinte: primeiro a gordura abdominal, renal-iguinal e pélvica, em segundo a intermuscular, depois a subcutânea ou de cobertura e, por último, a intramuscular ou a de marmoreio. Fatores que afetam a deposição da gordura serão tratados nos próximos radares. Na maturidade o crescimento muscular é zero, ou melhor, é o momento em que a massa muscular atinge o ponto máximo, onde o ganho de peso é composto apenas de gordura (Owens et al. 1995). Portanto, ganhos nessa fase implicam em maiores quantidades de alimentos e, portanto, maiores custos. Daí a importância do abate ser feito em função do acabamento mínimo exigido pelos diferentes mercados. As diferenças de grau de estrutura corporal entre raças e ou linhagens dentro de raças são fatores preponderantes para determinar a rapidez com que os animais atingem o peso de abate. Animais com menor peso à maturidade atingem o peso de abate em idade mais precoce do que animais com maior peso à puberdade (raças britânicas x continentais; ver radar: Tipos biológicos de bovinos para produção de carne). Quanto maior a taxa de maturação (rapidez com que os animais atingem a composição corporal adulta) menor será o peso adulto (Tedeschi et al., 2000). Para um mesmo peso, raças de maturidade mais precoce vão apresentar mais gordura e menos proteína que as raças mais tardias. Outro fator que altera o peso à maturidade é o manejo na alimentação. Tedeschi et al (2000) observaram que animais que receberam suplementação a pasto durante o ano todo, apresentaram menor peso adulto e maior taxa de maturidade, enquanto que os animais suplementados apenas no período seco não apresentaram alteração no peso adulto em relação aos animais não suplementados. O sexo associado a ambos os fatores (grau de estrutura corporal e alimentação) também tem grande influência no crescimento e desenvolvimento animal, sendo que novilhas atingem a maturidade mais rápido que machos castrados, e estes, por sua vez, mais rápidos que animais inteiros. Nos próximos radares iremos fazer uma rápida abordagem sobre alguns aspectos que afetam o crescimento e a terminação de bovinos de corte, bem como estratégias para otimizar a produção de carcaças bem acabadas. Referências: Luchiari Filho, A. Pecuária da carne bovina. 1a ed. São Paulo, 2000.134p. Owens, F. N.; Gill, D. R.; Secrist, D. S. et al. Review of some aspects of growth and development of feedlot cattle. J. Anim. Sci.. v.73, n.10, p.3152. 1995. Tedeschi, L. O.; Boin, C.; Nardon, R. F.; Leme, P. R.; Estudo da curve de crescimento de animais da raça guzerá e seus cruzamentos alimentados a pasto, com e sem suplementação. 2. Avaliação dos paraâmetros da curva de crescimento. Revista da Soc. Brasileira de Zoot. v.29, n.5,p. 1578. 2000. Texto reproduzido do site BeefPoint [www.beefpoint.com.br] [26/07/2002] Crescimento e terminação de bovinos de Corte - 2. Crescimento compensatório No Brasil, a restrição alimentar dos animais durante a seca, devido à estacionalidade de produção de forragens impede o crescimento contínuo do animal. Nessa situação, pode ser observada ocorrência biológica chamada de crescimento compensatório. Ou seja, animais que sofreram restrição alimentar tendem a apresentar taxas de ganho de peso no período de ausência de restrição superiores aos de animais que não sofreram restrição. A compensação pode ser: - total, raramente observada, ocorre quando o ganho de peso após o período de restrição é alto o suficiente para que os animais que passaram por restrição são capazes de atingir peso de abate na mesma idade dos animais que não passaram por restrição. - parcial, a mais comum, onde também ocorre ganho compensatório, mas não o suficiente para que os animais que passaram por restrição atinjam o mesmo peso de abate à mesma idade dos animais que não passaram por restrição. - ausente, isto é, sem compensação, relativamente comum em situação de campo, principalmente quando a restrição ocorre no início da vida do animal, está relacionada a nutrientes classificados como estruturais e é de longa duração. Na re-alimentação os animais apresentam ganhos iguais ou menores que os que não foram restringidos, atingindo o peso de abate em idades bem mais avançadas. Em muitas circunstâncias estes animais podem apresentar carcaças mais leves para uma mesma composição corporal quando comparados com animais que não passaram ou que apresentaram compensação total ou parciala uma restrição alimentar. Na figura 1 são apresentadas as curvas de crescimento de animais machos Nelore submetidos a quatro tratamentos durante um ano após a desmama (Manella et al., no prelo). Os tratamentos foram: Teste - pasto de braquiária brizanta e suplementação mineral; Banco - idem teste, com acesso a banco de proteína, no caso de Leucena; Seca - pasto de braquiária brizanta com suplementação durante a seca; Ano - pasto de braquiária brizanta com suplementação durante os períodos de seca e de águas. No período da seca os ganhos foram de 534, 486, 277 e 201 g/d, e no das águas de 584, 782, 741 e 645 g/d, respectivamente para os tratamentos: Seca, Ano, Banco e Teste. Celso Boin Engenheiro Agrônomo, PhD, Professor convidado da ESALQ/USP e consultor Marcelo de Queiroz Manella Médico veterinário, doutor na ESALQ e Instituto de Zootecnia Figura 1: Ganho de peso acumulado (kg) de bovinos em Brachiaria brizantha (Teste), suplementados durante o ano todo (Ano), no período das secas (Seca), ou com livre acesso a banco de proteína de Leucaena leucocephala (Banco). Fonte: Manella et al. (no prelo). Observando as curvas de ganho acumulado pode se observado que: os animais do tratamento Banco apresentaram compensação parcial durante o período das águas em relação aos animais do trat. Seca; não ocorreu crescimento compensatório durante o período das águas dos animais do trat. Teste em relação aos animais do tratamento Seca; durante parte do período das águas (verão), os animais do trat. Seca apresentaram ganho semelhante aos animais do trat. Ano. O maior ganho de peso do tratamento banco nas águas ocorreu devido a maior disponibilidade da leguminosa. A severidade e a duração do período de restrição, bem como a idade em que ocorre são fatores que afetam o grau de compensação. Animais que sofrem restrição alimentar precocemente, ou seja, logo após o nascimento tendem não apresentar ganho compensatório e por muitas vezes irreversíveis, tendo diminuição significativa do peso adulto. Berge (1991) compilou dados de diversos trabalhos onde a idade dos animais variou de 0 a 25 meses, sendo estes divididos em 2 grupos, de acordo com o início da restrição alimentar (antes ou depois dos sete meses). Segundo os autores, o grupo de animais que sofreu restrição durante a fase de amamentação, levou em média 14 a 18 meses para compensar 70-80% no atraso no seu crescimento, enquanto que animais que sofreram restrição após a desmama levaram apenas de 4 a 7 meses para apresentar o mesmo grau de compensação. Em contrapartida alguns relatos indicam que quanto mais próximo do peso adulto ocorrer a restrição, menor a probabilidade de compensação total. Boin e Tedeschi (1997) revisaram trabalhos mostram que a duração do período de compensação é tão longo quanto o período de restrição. Entretanto, períodos demasiadamente extensos de consumo limitado, principalmente de nutrientes considerados estruturais, podem não permitir a compensação parcial, com os animais atingindo a mesma composição corporal ao abate mais leves e mais velhos. O tipo de restrição alimentar (energia ou proteína) imposta aos os animais pode influenciar o grau de compensação do animal. Drouillard et al. (1989), assim como outros autores antes dele, propuseram que o crescimento limitado de bezerros era melhor compensado após restrição energética ao invés de protéica. Faulkner e Ireland (S/data) observaram ganhos lineares de bezerros quando suplementados com níveis crescentes de proteína em creep- feeding. Quando confinados após a desmama, os ganhos continuaram a apresentar as mesmas tendências, isto é, sem apresentação de ganho compensatório. Sains (1998) estudou os efeitos de diferentes níveis nutricionais, variando a concentração energética da dieta, a quantidade de alimento fornecido, e a alternância dos níveis nutricionais sobre a ingestão de matéria seca, composição do ganho e tamanho dos orgãos. Os animais em uma primeira fase (237-327 kg PV) receberam dieta de alta qualidade (C, concentrado) ad libitum (CA) ou limitado (CL), ou uma dieta de baixa qualidade (F, forragem) ad libitum (FA). Na segunda fase (327-.481 kgPV) os animais receberam a dieta C, ad libitum (CA) ou limitado em 70% de CA (CL), perfazendo 5 combinações. As curvas de ganho acumulado são apresentadas na figura 2 e os dados para os diferentes parâmetros avaliados na tabela 1. As combinações (tratamentos) de maior interesse no presente caso são os com consumo ad libitum na segunda fase (CA-CA; CL-CA e FA-CA). Figura 2: Crescimento compensatório em novilhos. Adaptado Sains (1998). Tabela 1: Desempenho de animais alimentados de diferentes formas em duas fases. As curvas da figura 2 mostram que, em relação aos animais do tratamento CA-CA (sem restrição), os do tratamento CL-CA apresentaram compensação parcial, enquanto os do tratamento FA-CA não, embora tenham atingido peso e composição semelhantes (tabela 1). Os resultados (tabela 1) demonstram que os animais previamente restringidos responderam a re-alimentação aumentando o consumo de matéria seca e melhorando a conversão alimentar de 22 e 30% (CL-CA) e 30 e 10%(FA-CA) em relação ao controle (CA-CA). O autor associou a diferença entre CL-CA e FA-CA quanto ao tempo para atingir o peso para abate devido a diferença observada na exigência de mantença. No trabalho acima, o fígado apresentou redução significativa para ambos os tratamentos (CL e FA), devido a deficiência de nutrientes absorvíveis e metabolização. Porém, os animais que receberam concentrado apresentaram menor proporção órgãos do aparelho digestivo/peso vazio do que os animais que receberam forragem. Tal aumento é explicado pelo maior tempo de retenção de alimentos de baixa qualidade no trato intestinal. Estima-se que 40-45% das exigências de mantença do animal seja destinada aos orgâos internos. Estima-se que a mudança em 1% na proporção destes orgãos no corpo vazio, é capaz de produzir uma mudança em 6% na mantença. Durante a fase de restrição animais do grupo CL e FA apresentaram mudanças médias no tamanho de vísceras em relação ao peso vivo de -3 e +5%, respectivamente, explicando parcialmente as alterações na mantença. De modo geral, a intensidade da restrição alimentar e principalmente o tipo de alimento a ser fornecido na fase de re-alimentação, influenciam o grau e o tempo de compensação, além de fatores como a composição corporal e principalmente o consumo de materia seca. A compensação pode ser usada de maneira estratégica e consciente em sistemas de produção a pasto ou em confinamento. Literatura Consultada Berge, P. Long-term effects of feeding during calfhood on subsequent performance in beef cattle (a review). Livestock Production Science, v. 28, p. 179-201, 1991. Boin, C.; Tedeschi, L. O. Sistemas Intensivos de produção de carne bovina. II. Crescimento e Acabamento. In. Anais do 4a Simpósio sobre Pecuária de Corte. Produção do Novilho Precoce. Fealq. Piracicaba, SP. p. 205. 1997. Drouilard, J. S. et. al. Compensatory growth following metabolizable protein or energy restrictions in beef steers. Journal of Animal Science., v. 69., p. 811-818.. 1991. Faulkner, D. B. e Ireland, F. A. Performance of nursing calves fed supplement with varying protein levels. http://beefnet.outreach.uiuc.edu/. S/Data. Manella, M. Q.; Lourenço, A. J.; Leme, Recria de Bovinos Nelore em Pastos de Brachiaria brizantha com Suplementação Protéica ou Com Acesso a Banco de Proteína de Leucaena lecocephala. I. Desempenho Animal. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia. (no prelo). Sains, R. Crescimento compensatório em bovinos de corte. Simpósio sobre Produção Intensivade Gado de Corte. CBNA. p. 22. 1998. Texto reproduzido do site BeefPoint [www.beefpoint.com.br] [09/08/2002] Crescimento e terminação de bovinos de Corte. 3. Efeitos da Nutrição na fase de terminação e eficiência alimentar O nível nutricional e o manejo alimentar adotado durante a vida do animal afeta a taxa de crescimento, o tempo de acabamento, o peso e a proporção dos componentes da carcaça (músculo, gordura e ossos). A eficiência de crescimento ocorre em função de duas características básicas, a taxa de ganho de peso e a composição dos tecidos depositados. Do ponto de vista nutricional pode ser abordada de duas formas: eficiência energética, que é expressa em Mcal depositada/Mcal ingerida; ou eficiência alimentar, expressa em termos de kg de ganho de peso vivo/kg de alimento ingerido. O inverso da eficiência alimentar, conversão alimentar (kg de alimento/ kg de ganho de peso vivo), é mais conhecida e usada. A eficiência também pode ser definida ou abordada de forma comercial, por exemplo, custo por kg de carcaça produzida. Como pode ser observado no radar anterior (Crescimento e terminação de bovinos de Corte- 2. Crescimento compensatório), a composição corporal, bem como o peso em que o animal a atinge, é afetada também por períodos de ocorrência de restrição alimentar durante a vida do animal. Em nosso país, os animais são tradicionalmente criados e terminados a pasto sem suplementação alguma além da suplementação mineral. Em função do valor nutritivo das forragens tropicais, da maior exigência de mantença devido às atividades de pastejo e da estacionalidade de produção de forragem, os animais têm que ser abatidos mais velhos e ou com pesos de carcaça menores. quando comparados com animais terminados em semi ou em confinamento. Com o uso de suplementação é possível obter carcaças melhores acabadas e mais pesadas com animais mais jovens, pelo fato de propiciar uma complementação energética e protéica das pastagens, explorando o potencial de ganho de peso dos animais. Tal efeito é possível ser observado em trabalho realizado por Souza (2002), que suplementou animais no período da seca (tabela 1). Os animais que foram suplementados apresentaram maior peso, maior rendimento de carcaça e tendência de melhor acabamento do que os animais terminados exclusivamente a pasto.. Celso Boin Engenheiro Agrônomo, PhD, Professor convidado da ESALQ/USP e consultor Marcelo de Queiroz Manella Médico veterinário, doutor na ESALQ e Instituto de Zootecnia Tabela 1: Peso, rendimento de carcaça, e espessura de gordura dos animais terminados a pasto ou suplementados. A densidade enérgica da dieta modifica a composição do corpo animal. JONES et al. (1985), observaram que animais alimentados com dietas à base de concentrado apresentaram maiores teores de gordura na carcaça do que aqueles que receberam dietas à base de volumoso. Ao analisarmos os dados referentes ao trabalho de Sains (1998), discutidos no radar anterior, pode-se notar claramente as diferenças na composição dos ganhos, entre animais criados numa primeira fase (recria) com dieta de alta qualidade porém com consumo limitado (CL) ou com forragens (FA), e em uma segunda fase (terminação) com dieta de alta qualidade ad libitum (CA) ou limitado (CL, 70% de CA). Neste radar vamos abordar apenas o desempenho e a composição do ganho na fase de terminação (327-481 kg PV), tabela 2. Tabela 2: Desempenho de animais alimentados de diferentes formas na fase de terminação. É possível observar na tabela 2 que os animais que receberam dietas CA, ou seja, não tiveram restrição de energia na fase de terminação apresentaram maiores ganhos de peso vazio, e maior % de gordura na carcaça do que os animais submetidos à restrição de energia nessa fase, embora os pesos fossem semelhantes. Bren et al. 2002 forneceram três níveis crescentes de concentrado (0,8, 1,1 e 1,4% do PV) para bovinos de corte dos 12 (PVI= 278 kg) aos 17 meses de idade. As principais alterações observadas segundo os autores foram o aumento nas taxas de ganho de peso refletindo em maior peso vivo final e peso de carcaça, e com acabamento mínimo desejado pelos frigoríficos no país (3 mm de gordura) e boa musculosidade (área de olho de lombo, tabela 3). Tabela 3: Nível de concentrado e desempenho de bovinos. Maior densidade energética da dieta, quer pelo aumento de concentrado ou pelo uso de volumosos de alto teor de grãos, apresentam maior eficiência na formação dos tecidos, em função principalmente da maior disponibilidade de nutrientes para absorção e incorporação. Literatura Consultada Souza, A. A. Uso de subprodutos da agroindústriais para suplementação de novilhos em terminação durante o período da secas. ESALQ-USP Dissertação (Mestrado), Piracicaba, SP. 2002 Sains, R. Crescimento compensatório em bovinos de corte. Simpósio sobre Produção Intensiva de Gado de Corte. CBNA. p. 22. 1998. Jones, S.D.M., Rómpala, R.E., Jeremian, L.E. et al. Growth and composition of the empty body in steers of different maturyty types fed concentrate of forage diets. J. Anim. Sci., v. 60, n.2, p.427-433, 1985. Bren L.: Júnior P. R.; Moletta, J. L.; et al. Desempenho em confinamento de novilhos de corte alimentados com diferentes níveis de concentrado na dieta. In: Reunião Anual da Soc. Bras. De Zootecnia, 35. Recife, PE, 2002. Anais... 2002. Cd-Room. Texto reproduzido do site BeefPoint [www.beefpoint.com.br] [30/08/2002] Crescimento e terminação de bovinos de Corte 4 - Qual peso ideal de abate? O peso de abate depende da nutrição, genética, idade do animal, tipo de manejo adotado, e principalmente da exigência do mercado. Muitos ainda acreditam que o abate de animais extremamente pesados melhora a rentabilidade do sistema, o que pode ser uma falsa impressão. O abate de animais muito pesados e com gordura em excesso pode afetar de maneira negativa, tanto pelo aumento de aparas e diminuição do rendimento dos cortes cárneos, como pela menor eficiência de conversão (kg de ganho/kg de alimento ingerido), aumentando o custo de produção. Para facilitar o entendimento de como o peso para o abate pode afetar o sistema, é preciso entender a evolução da composição do ganho do animal nas diferentes fases de crescimento e acabamento, e a eficiência com que cada tecido é depositado. Conforme o animal vai se aproximando do peso adulto ou de abate, a porcentagem de gordura no ganho aumenta, enquanto que a da proteína a diminui (gráfico 1). Após atingir o máximo do desenvolvimento da massa muscular, o ganho passa a ser composto basicamente de gordura. Em termos de energia (Mcal depositada/Mcal ingerida) a deposição de gordura na carcaça é mais eficiente que a de proteína, pois 60% da energia consumida é retida na deposição de gordura, comparada com retenção de 35% para proteína. Por outro lado, a deposição de proteína é mais eficiente em termos de peso de tecido depositado (tabela 1). Isto ocorre pois para cada unidade de proteína depositada cerca de três unidades de água são depositadas em associação, formando o músculo. Celso Boin Engenheiro Agrônomo, PhD, Professor convidado da ESALQ/USP e consultor Marcelo de Queiroz Manella Médico veterinário, doutor na ESALQ e Instituto de Zootecnia Grafico 1: Relação do estágio de crescimento com a % de proteína e gordura no ganho,e a % gordura no corpo vazio de bovinos de corte de tamanho corporal médio com ganho diário de 1 kg no peso vazio. Adaptado NRC (1996). Tabela 1: Eficiência de deposição de energia e tecidos Em outras palavras, animais quando abatidos além da composição corporal considerada ideal para um determinado mercado, apresentam menor eficiência (kg de ganho/ kg MS consumida), implicando em maior consumo de alimentos, e consequentemente maiores custos. Esse é um aspecto importantíssimo em termos de competitividade. Tais afirmações podem ser compreendidas de maneira mais prática em trabalho realizado no Instituto de Zootecnia, onde o desempenho e o rendimento de cortes comerciais de bovinos da raça Nelore e seus cruzamentos, abatidos em diferentes pesos (430, 470 e 530 kg PV em jejum) foram avaliados (Maldonado et al. 2002). Tabela 2: Abate de bovinos de corte em diferentes pesosa. O aumento no peso de abate dos animais (tabela 2), obviamente propiciou carcaças mais pesadas, porém com maior tempo de confinamento e piora na conversão alimentar, pela menor eficiência no ganho, que foi basicamente de gordura. Observou-se um aumento significativo na gordura corporal com tendência de diminuição do rendimento das porções comestíveis. Outro ponto que merece atenção, é que ao abater animais com 21@ foram necessários 90 dias a mais de confinamento do que os animais abatidos com 17 @. O total de alimento consumido foi de 1,8 vezes a mais para produzir apenas 4@ a mais. Se neste sistema os animais fossem abatidos com 17@, seria possível, com o mesmo custo de alimentação, terminar 2 animais, produzindo mais 17@. Na tabela 3 é possível observar tendências em diminuição do rendimento dos cortes comerciais (em percentagem da carcaça) com aumento no peso de abate , pois a maior proporção de gordura na carcaça "dilui" a de músculo, e quando o seu excesso é aparado diminui a fração aproveitável da carcaça . Tabela 3: Rendimento de corte tradicionais de bovinos abatidos em diferentes pesos As diferentes raças bem como os tipos biológicos apresentam pesos de acabamento diferenciados (veja radar Tipos Biológicos de bovinos para produção de carne). Na tabela 4 é possível observar as diferenças entre três raças abatidas com o mínimo de 4,5 mm de gordura medidos pelo ultrasom. Animais com maiores taxas de crescimento e maior peso à maturidade (Canchim) apresentaram menor proporção de gordura, atingindo o acabamento pretendido com maior peso. Tabela 4: Características de Carcaça de diferentes grupos genéticos* abatidos com o mínimo de 4,5mm de gordura Para um mesmo acabamento, pesos de abate também variam em função do sexo do animal (inteiros, castrados ou novilhas), do uso ou não de esteróides anabolizantes. O peso e o acabamento recomendados para o abate devem ser estabelecidos com base nas exigências de mercado, explorando os conhecimentos disponíveis em termos de manejo nutricional e de recursos genéticos. É obvio que cada produtor deve usar as alternativas mais lucrativas para as suas condições. Literatura Consultada ALLEONI, G. F.; LEME, P. R.; BOIN, C; DEMARCHI, J. A. A.; et al. Composição química corporal e taxas de deposição dos constituintes químicos do corpo vazio em bovinos das raças Nelore, Canchim e Brangus. In: Reunião Anual da Soc. Bras. De Zootecnia, 35. Recife, PE, 2002. Anais... 2002. Cd-Room. MALDONADO, F. ; ALLEONI, G. F. ; QUEIROZ, A. C.; et al. Características da carcaça de bovinos de três grupos genéticos terminados em confinamento e abatidos em três categorias de peso. In: Reunião Anual da Soc. Bras. De Zootecnia, 35. Recife, PE, 2002. Anais... 2002. Cd-Room. MALDONADO, F.; QUEIROZ, A. C.; ALLEONI, G. F.; et al. Composição física e rendimento dos cortes comerciais da carcaça de bovinos de três grupos genéticos terminados em confinamento e abatidos em três categorias de peso In: Reunião Anual da Soc. Bras. De Zootecnia, 35. Recife, PE, 2002. Anais... 2002. Cd-Room. MALDONADO, F.; QUEIROZ, A. C.; ALLEONI, G. F.; et al. Consumo, ganho de peso e conversão alimentar de bovinos de três grupos genéticos, terminados em confinamento e abatidos em três categorias de peso. In: Reunião Anual da Soc. Bras. De Zootecnia, 35. Recife, PE, 2002. Anais... 2002. Cd-Room. NRC. National Research Council of Beef Cattle. 1996. 7a ed. Texto reproduzido do site BeefPoint [www.beefpoint.com.br]
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