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A_TRANSCENDENTALIDADE_DO_OBJETO_DA_GEOGRAFIA

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A TRANSCENDENTALIDADE DO OBJETO DA GEOGRAFIA�
Lirian Melchior �
Apresentação
Este texto tem por objetivo principal a realização da discussão de algumas considerações acerca da construção e (re) construção do objeto da Geografia, numa análise que se apóia no desenvolvimento das rupturas paradigmáticas da ciência geográfica, portanto, num corte filosófico de perfil histórico.
Partiremos, portanto, de uma análise da relação entre sujeito e objeto, na perspectiva de uma relação dialética indissociável entre ambos, pois trata-se de uma relação de condição e de negação existencial. Daí nosso entendimento de que a relação entre sujeito e objeto possibilita a formulação de uma proposta de entendimento da realidade, que exige uma flexibilidade inerente ao sujeito, em aceitar a proposta de, conjuntamente, com o objeto em questão, dar continuidade a uma interação e uma constante (re)construção. Assim, a (re) construção do sujeito e do objeto se dá de acordo com o nível de aprofundamento das problematizações postas e com as sucessivas aproximações com a realidade.
Portanto, trabalhamos com a concepção de que objeto é uma construção do pensamento, que parte do nível fenomênico, mas que o supera e o (re) constrói, na medida em que, por rebatimento, atribui as inquietações epistêmicas do sujeito, ou seja, uma relação de reciprocidade que conduz a aproximações sucessivas da realidade – de acordo com o posicionamento e inquietações que a referida relação propicia.
Neste sentido, encontramos em Armando Corrêa da Silva uma interpretação pautada na visão do movimento de construção do pensamento, herdada das formulações de Henri Lefèbvre, sobretudo da obra “Lógica Formal, Lógica Dialética”, com a qual procuramos embasar nosso raciocínio para pensar o objeto da Geografia. Pois, 
Um pré-requisito na consecução dos objetivos de uma pesquisa é, então, o de por-se o pensamento em movimento.
Isso implica em lidar com a conjuntura. Esta, pode ser entendida de vários modos, quanto à abrangência do objeto (como coisa) e do tema (enquanto relação).
[...]
Assim, o pesquisador é alguém em processo de múltiplas relações que o levam, aos poucos, da investigação á interpretação, invertendo/revertendo o projeto. É mesmo o caso da subversão do projeto inicial. Ou seja, a descoberta do eu cognoscente para mais longe da imediaticidade da consciência inicial.
Nesse processo de amadurecimento, que é dialético, o pensamento avança em direção ao desconhecido que, no decorrer do trabalho, precisa ser desvendado. É, então que a construção do objeto demanda a (re) construção do sujeito.
(SILVA, 1992, p. 106-108)
(grifos nossos)
E continua sua análise para chegar ao complemento do movimento do pensamento, quando afirma que:
A construção do sujeito implica na rejeição da sujeição que, não obstante, é parte do cotidiano consentido enquanto reconhecimento do institucional em sua legalidade e legitimidade. Daí que a liberdade passe a independer das restrições do objeto, que pode/deve ser (re)construído. Mas, fazê-lo é por-se como sujeito em construção.
Põe-se, então, a objetividade imaginada.
(SILVA, 1992, p. 112)
(grifos nossos)
Assim, neste texto, buscamos analisar as diferentes concepções do objeto da Geografia, vinculando aos diferentes contextos de suas formulações, evidenciando a existência do movimento do pensamento individualmente, como no decorrer de uma pesquisa e socialmente�, quando analisado o debate teórico-conceitual embasado no conhecimento acumulado, que avança em direção ás rupturas paradigmáticas, conforme discutido em Thomas Kuhn, em “a estrutura das revoluções científicas”. 
Portanto, iniciaremos nossa análise com uma discussão sobre a idéia do movimento do pensamento e a relação entre sujeito e objeto, para em seguida, apresentar uma discussão sobre a construção do objeto na Geografia, buscando uma vinculação com o conhecimento produzido e acumulado em diferentes períodos históricos.
O movimento do pensamento que constrói o conhecimento. Sujeito e objeto
A perspectiva de se compreender o pensamento enquanto um movimento constante está vinculado à dialética marxista, onde buscamos na interpretação de Henri Lefèbvre, o apoio para o debate.
Desta maneira, entendemos que o conhecimento possui movimento que tende a percorrer do abstrato (elaborado pela reflexão) ao concreto; do formal (lógico) ao conteúdo (práxis); do imediato ao mediato.
Assim, do ponto de vista da metodologia que acompanha a construção do conhecimento, Lefèbvre (1979) elenca alguns momentos importantes do movimento, como:
a) o ponto de partida é neutro (formal/nulo), enquanto o outro ponto extremo é uma totalidade;
b) no curso da realização do projeto do conhecimento, encontram-se conteúdos;
c) esses conteúdos são diferentes, diversos, específicos (lógica da diferença ou lógica dialética)
d) cada conteúdo exige (a partir da forma) uma análise infinita.
e) não se trata de objetos recortados e isolados
f) todo percurso possui uma dupla determinação (finito/infinito)
Sendo, então, que o conteúdo se desloca incessantemente do pólo lógico, racional, aquele da forma pura, para o pólo real, a “natureza”, o prático sensível, a práxis – o conteúdo. (ver quadro 01)
Quadro 01. Construção da lógica dialética
Fonte: Formulado a partir de Lefèbvre (1979)
Temos, portanto, na construção do conhecimento, um movimento do pensamento que se desloca da forma ao conteúdo, buscando vislumbrar a realidade através da possibilidade de identificar diferenças e contrariedades e/ou contradições e antagonismos, sendo então, movimento da reflexão, ou seja, os raciocínios.
Quadro 02. A busca pelo desconhecido na relação entre sujeito e objeto
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O Quadro 02 busca explicitar a relação entre sujeito e o fenômeno que somente adquire significado quando da construção do objeto, que recebe para além da forma, um conteúdo que se refere às preocupações do sujeito, ou seja, uma construção humana que pode variar de acordo com a concepção filosófica, com o método, com a teoria e com a categoria de análise adotada. Ressaltamos que, em nosso esquema, a possibilidade de vislumbrar o desconhecido está na construção do objeto e não na observação do fenômeno, pois este é desprovido de significado e, portanto, de análise.
Assim, o conhecimento é um fato: desde a vida prática mais imediata e mais simples, nós conhecemos objetos, seres vivos e seres humanos. Sujeito e objeto estão em perpétua interação, sendo esta, dialética, onde há uma relação entre dois elementos opostos e, não obstante, partes de um todo, como numa discussão ou num diálogo. 
Para que o conhecimento se torne um problema, é preciso que a análise separe e isole o que é dado efetivamente como indissoluvelmente ligado – sujeito e objeto. Daí a preocupação de discutir a construção do objeto da Geografia. 
A construção do Objeto da Geografia
Milton Santos (1978) chama a atenção para a preocupação que os geógrafos devem ter ao definir o objeto de estudo dessa ciência, pois quando se está preocupado em definir o que é Geografia, e não qual o seu objeto de estudo pode-se cair no equívoco de trabalhar mais ou menos exclusivamente com conceitos do que com coisas.
Este autor diz que 
reproduzir uma lista de definições da geografia é sempre cansativo, talvez, contraproducente. Se uma ciência se define por seu objeto, nem sempre a definição dessa disciplina leva em conta esse objeto. Este é, particularmente, o caso da geografia, cuja preocupação com o objeto explícito – o espaço social – foi sempre deixado em segundo plano. 
(SANTOS, 1978, p. 114-115).
Contrariamente a essas colocações, ao tentar responder o que é Geografia, MORAES (1989), afirma que existe uma indefinição do que seja o objeto da Geografia, ou então, que existem múltiplas definições para este objeto, o que provoca intensas controvérsias sobre a matéria tratada por esta disciplina.
Sobre a questão das múltiplas definições do objeto da Geografia, Moraes (1989), apresenta um rol de interpretações que foram sendo construídasno decorrer da História do Pensamento Geográfico, conforme segue:
a) demonstra que um dos objetos desta ciência advém do significado etimológico do termo Geografia – descrição da terra – ou seja, o estudo da superfície terrestre. Porém, adverte que a superfície terrestre é o teatro privilegiado por toda a reflexão científica, o que desautoriza a colocação de seu estudo como especificidade de uma só disciplina. 
b) No estudo da paisagem como objeto da Geografia, a análise geográfica estaria restrita aos aspectos ‘visíveis’ do real, por outro lado, a Geografia também estudaria a individualidade dos lugares, abarcando todos os fenômenos que estão presentes numa dada área, compreendendo o caráter singular de cada porção do planeta. 
c) O estudo da diferenciação de áreas também é descrito como sendo o objeto da Geografia e além de buscar uma individualização das áreas, os geógrafos deveriam buscar uma comparação, generalizando-as e explicando-as.
d) O estudo do espaço, como objeto, enfatiza a busca da lógica da distribuição e da localização dos fenômenos, o qual seria a essência da dimensão espacial. 
e) Outro objeto de estudo geográfico seria a relação entre o homem e o meio, ou entre a sociedade e a natureza, buscando explicar o relacionamento entre estes dois domínios da realidade, portanto, a Geografia seria uma disciplina de contato entre as ciências naturais e humanas. Dentro desta perspectiva aparecem três visões distintas de objetos: uma que dá ênfase à influência da natureza sobre o desenvolvimento humano; outra que prioriza o estudo da relação homem–natureza, enfatizando a ação do homem na transformação do meio; e, por último, a relação em si, dos dados humanos e naturais, em relação de igualdade.
Dentro desta diversidade de objetos, anteriormente descritos, poderemos indagar sobre qual seria o objeto da Geografia na atualidade. -Teríamos apenas um objeto de estudo ou uma variedade de objetos?; -Quais as características que o objeto da Geografia apresentaria neste início do século XXI?; -Existiria um objeto da Geografia?; -O objeto da Geografia seria a região?; -O território?; -O espaço?; -A sociedade?; -O homem e sua relação com a natureza?; -A paisagem? O que difere a Geografia das demais ciências?
Ressaltamos que não temos a pretensão de esgotar este tema tão importante para a ciência geográfica, mas sim, a realização de uma reflexão sobre as problematizações anteriormente arroladas, o que possibilitará uma melhor compreensão dos caminhos e descaminhos de uma pesquisa em Geografia, fato de fundamental interesse para pesquisadores desta ciência. Conforme afirma Sposito (2004, p.70):
[...] aprendemos o conhecimento geográfico através da sua história, da leitura detalhada dos conceitos que sustentam toda a produção científica e a reflexão epistemológica dessa produção, da interpretação das obras dos grandes nomes que produziram esse conhecimento, das categorias que estruturam o pensamento geográfico; enfim de todos os elementos (historicidade e ciência), que concorrem para a abrangência, do universo que contém o saber geográfico.
Será dentro desta perspectiva histórica e científica que buscaremos situar o objeto da Geografia na evolução do pensamento geográfico, portanto, faz-se necessário retomar os pressupostos históricos, materiais e filosóficos. 
Assim, a Geografia situa-se, epistemologicamente, num posicionamento, enquanto ciência parcelar, que transita sob variadas áreas do conhecimento, sendo que há uma grande preocupação com a interdisciplinaridade, fato bastante caro à Geografia, pois já a custou o ideário de ser ciência de síntese, o que reduziria a Geografia a apenas uma compilação de outras ciências.
Por sua vinculação com a construção da relação entre sociedade e natureza, a Geografia assume algumas particularidades interessantes, pois desenvolve uma potencialidade de refletir sobre a mediação de ambas, a qual ocorre pelo movimento de interação e conflito, através do trabalho. (ver quadro 03)
Quadro 03. Produção geográfica
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Fonte: Elaborado a partir de Casseti (1995, p.17)
Desta maneira, temos uma ciência que possibilita articulação entre diversos níveis e dimensões da realidade, constituindo um movimento do pensamento que se torna amplo. E é justamente aí que se encontram grandes desafios epistemológicos da Geografia, pois em muitas interpretações ela pode se perder como a ciência que estuda o todo, porém, para fins de análise, o todo somente existe com suas imbricações com as partes. 
É importante mencionar que estamos utilizando uma concepção da sistematização da ciência sob os auspícios iluministas, onde há uma aproximação da ciência com a racionalidade burguesa, produzindo uma fragmentação letal ao conhecimento, fato que dificulta o entendimento e a compreensão da realidade. Portanto, quando nos referimos à Geografia enquanto ciência parcelar, estamos buscando chamar a atenção à sua inserção na ciência de caráter iluminista. (fragmentária)
Portanto, temos que refletir sobre a especificidade da Geografia, que pelo caráter anteriormente mencionado, também enfrenta um grave empobrecimento de sua reflexão devido há uma dificuldade de romper com as fragmentações impostas pela presença do iluminismo e se dicotomiza em Geografia Física e Geografia Humana, que se subdividem em sub-ramos cada vez mais específicos que tendem a perder conexões com o tronco epistêmico original. 
Para isto a análise da construção do objeto se faz fundamental, pois possibilita a compreensão das especificidades das pontes de relação entre o singular e o universal, na busca pelo desconhecido. (a realidade)- [Ver quadro 04]
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Quadro 04. Geografia e interdisciplinaridade
Fonte: Adaptado de Monteiro (1980)
Assim, temos uma relação de aproximação com ciências de diferentes áreas do conhecimento onde há a instrumentalização da ciência geográfica de aportes que lhe permitem realizar a discussão sobre o ambientalismo, o desenvolvimento e a justiça social, entre outros possíveis. Porém, há que se ter a clareza de que este temário de discussões assume, para a Geografia, uma característica específica que lhe atribui diferenças de enfoque, diferenças estas que residem na construção do Objeto da Geografia. 
Delimitar o ‘objeto’, consequentemente, não significa produzi-lo materialmente, mas simplesmente que ao denominá-lo estamos configurando, de forma particular, uma parte da totalidade concreta do real, o que significa que essa denominação e delimitação dependerão, por um lado, da relação sujeito-objeto singular, e por outro, da mediação contextual histórico-cultural do sujeito.
(ESCOLAR, 1996, p. 36) 
Assim, temos uma relação que não basta ser apresentada, deve ser desenvolvida de acordo com as referências contextuais de cada período relacionado.
Os pressupostos históricos, materiais e filosóficos da origem da Geografia Moderna�
Na análise da construção do pensamento geográfico, enfatizando seu objeto de estudo, dentro de uma perspectiva histórico-científica, faz–se necessário retomar os pressupostos históricos e estruturais que auxiliaram na origem da Geografia Moderna.
No início do século XIX, a teia de pressupostos históricos, quer de ordem material ou de ordem ideológica, necessária à efetivação da geografia como corpo de conhecimentos sistematizados, tecida num processo lento, marcado por inúmeros condicionantes, já está suficientemente fortalecida.
(PEREIRA, 1999, p.84).
A Geografia Moderna� surge, portanto, de um processo lento, e sua sistematização objetiva-se na constituição do modo capitalista de produção e, desde seu princípio, carrega uma forte postura ideológica.
Assim, a Geografia Moderna, possui sua gênese num momento histórico de forte vinculação entre os interesses de uma burguesia em processo de consolidação e do anseio da expansão territorial dos Estados Nacionais. Desta maneira, temos uma ciência que passa a atuar sob encomenda, produzindo conhecimentos estratégicos para os interesses anteriormente mencionados e possibilitando a realizaçãode operações militares, fato que levou Yves Lacoste a afirmar no título de seu célebre livro “A Geografia serve, isto sim, para fazer a Guerra”.
A ideologia capitalista, estruturada por uma classe social em ascensão, buscou construir uma Geografia que contribuísse com respostas às suas necessidades de expansão territorial. “Era necessário, portanto, criar condições para a expansão do comércio”. (SANTOS, 1978, p.13)
Tal processo remonta do período da expansão comercial marítima, iniciada pelos países europeus no início de um processo que propiciou o conhecimento efetivo de todo o planeta, através da incorporação de novas terras e que culminou com uma representação brusca alteração na produção cartográfica, sendo que esta passou a ser dotada da racionalidade burguesa e passou a ser produzida visando a busca da precisão métrica e evitando representações que conduzissem a subjetividades.(século XVII)
Através das expedições exploratórias e, posteriormente, da apropriação de novas áreas, insere-se como parte ativa desse processo à transição do feudalismo para o capitalismo que se manifestam num alargamento do horizonte espacial, tanto comercial, como territorial.
Com a descoberta de novas terras torna-se possível a expansão extra-européia das relações capitalistas, a apropriação e incorporação desses territórios exigem o conhecimento de realidades distintas do quadro europeu como diferenciadas entre si. Daí porque, com a exploração colonial, o levantamento de informações vai ser feito de forma criteriosa, dando origem a um enorme acervo de dados.
(PEREIRA, 1999, p.85). 
Este processo de exploração e colonização e a descoberta de novos mundos vão propiciar não só o conhecimento de novos territórios, mas também, um conhecimento efetivo e cumulativo das características desses lugares.
Para Moraes (1989) o acúmulo dessas descrições fornece a base empírica para a comparação entre as áreas, núcleo germinador das indagações associadas na sistematização geográfica.
A formação desses conhecimentos e posteriormente o acúmulo das mesmas será a segunda condição para o aparecimento da Geografia Moderna.
Além desse acúmulo de informações e do aprimoramento das descrições subjacentes ao avanço da expansão mercantil, há outro elemento que surge associado aos já mencionados. “Trata-se do desenvolvimento dos meios de representação cartográfica, que se constituem no instrumental, por excelência do trabalho do geógrafo” (MORAES, 1989, p.18).
Nesse momento, o avanço da linguagem cartográfica está associado a uma preocupação em estabelecer de forma mais aproximada possível a representação das rotas e a localização das terras e dos portos, devido à ampliação do tráfego terrestre e marítimo; e a demarcação do limite real da extensão das colônias.
O uso de mapas vai popularizar-se com a descoberta e o aprimoramento das técnicas de impressão. Estas permitem na difusão das cartas, melhoradas pelas aferições empíricas retiradas nas intensificações das viagens. O instrumento cartográfico vai agregar-se como meio privilegiado de representação, às técnicas de descrição, dando-lhes, já uma tonalidade propriamente geográfica nas crônicas dos viajantes naturalistas dos setecentos.
(MORAES, 1989, p.19).
Portanto, a possibilidade de efetuar uma representação ordenada de todo o planeta e a existência de uma grande quantidade de informações sobre numerosos pontos da superfície terrestre é o que Moraes (1989) descreve como os imperativos elementares da sistematização geográfica.
Esses dois condicionantes articulavam a questão principal dessa disciplina: a busca de uma relação teórica entre a unidade da superfície terrestre e a diversidade dos lugares. Tais pressupostos estarão plenamente realizados em meados do século XVIII.
A simples existência dos pressupostos materiais não tece mecanicamente a explanação geográfica, sendo necessário um determinado arcabouço teórico, metodológico e filosófico já estabelecido que propiciasse a formulação dessas postulações. Nesse caso, a condição de realização passa a ser não apenas um desenvolvimento histórico material, mas um desenvolvimento da história das idéias e da ciência.
Segundo Moraes, (1989,p.210) 
[...] um dos pontos destacados de tal movimento ideológico residiu na afirmação de uma concepção racionalista do mundo. A ordem feudal legitimava uma concepção teológica da mundo, em que a essência do fenômeno era visto como incognoscível, pois pousava na teologia divina. Contrapondo-se a essa ordem, o pensamento burguês vai valorizar a possibilidade da razão humana, passa-se para uma visão que defende a observação sistemática em busca de constâncias, ritmos e relações entre fenômenos. 
Justifica-se a busca de uma explicação racional do mundo, no bojo da qual se constituem as ciências modernas.
A dominação da natureza se concretiza e se expressa através da valorização positiva do trabalho. A ação do homem sobre a natureza lhe permite sua exploração com grandes vantagens, fazendo produzir de acordo com suas metas e com seus interesses. Essa ação passa a ser necessária para que se possa validar o próprio saber humano.
(PEREIRA, 1999, p.89).
Os fenômenos naturais constituirão o campo principal no qual incide a maioria das indagações das ciências nascentes e, conseqüentemente, da Geografia. Buscava-se compreender a natureza para compreender a natureza humana, de forma a ajustar-se a ela as instituições sociais propiciando um incentivo às propostas acadêmicas da disciplina sintética.
O desenvolvimento das ciências naturais e sintéticas foram alimentadoras diretas do processo de sistematização da Geografia. As primeiras forneceram-lhes conhecimento ordenado sobre fenômenos singulares em seu temário (classificação, teorias particulares, etc.) As segundas forneceram a possibilidade lógica de formulação de uma ciência sistêmica. Assim, a formulação explicita destas ciências constituem-se objetivamente em pressupostos da geografia moderna.
 (MORAES, 1989, p.22).
Fora das ciências naturais e sintéticas, a Geografia vai encontrar outros pressupostos para legitimação dos temas geográficos, vai ser no pensamento iluminista que a ciência geográfica busca um dos temas mais destacados, qual seja: a relação da sociedade com o território. Este tema de tradição no pensamento político desde a renascença vai ocupar um papel de destaque nas formulações de vários geógrafos modernos. 
Outro pressuposto importante que permite o surgimento da sistematização da Geografia é a discussão sobre as teses que vinculam a proposta evolucionista.
As teorias evolucionistas davam um destaque fundamental às questões que constituíam o temário geográfico (pense-se no conceito de meio ou organismo) Os principais autores vão aparecer nas obras dos formuladores pioneiros da sistematização geográfica. A teoria da adaptação dos organismos, as condições externas, o conceito de associação dos elementos, apresentação do desenvolvimento como estímulo pela diversidade ambiental, enfim toda a teorização desenvolvida pelos evolucionistas apontava para um sistema de explicação do mundo onde a problemática geográfica aparecia num lugar central e vital.
(MORAES, 1989, p. 24).
A articulação desses elementos apresentados se constituiu na realização das condições intelectuais para o surgimento da Geografia Moderna. Tais condições se configuram num ambiente cultural propício que buscava a afirmação das relações capitalistas.
Com o declínio do medievalismo e o alastramento das relações capitalistas e com a revolução burguesa inglesa e seu início na França, pode-se dizer que se encerra o longo período preliminar para a origem da Geografia Moderna. 
A gênese do processo de sistematização da Geografia possui uma origem bem particular expressa em duas nacionalidades bem específicas. Tal processo foi obra do pensamento alemão e francês, por isso, o estímulo direto para sua origem deve ser buscada na particularidade histórica do desenvolvimento do capitalismo.
Dentro desses países destacam-se as obras de Humboldt, Rittere Ratzel, cujas considerações sobre o objeto da Geografia será descrito a seguir dentro da Geografia tradicional, pois os mesmos marcaram o processo de construção e teorização da chamada Geografia Moderna.
Vale destacar que a sistematização do conhecimento geográfico só ocorreu no início do século XIX, mediante o conhecimento efetivo da extensão real do planeta, repositório de informações sobre variados lugares da Terra e o aprimoramento das técnicas cartográficas. Todos estes, representaram as condições ao avanço e domínio das relações capitalistas e à evolução do pensamento, marcado pela decadência ideológica do pensamento burguês. 
Os pensadores que dão o impulso inicial à sistematização geográfica, elaborando os primeiros delineamentos claros do domínio desta disciplina em sua acepção moderna; as primeiras tentativas de definição do objeto de estudo e as primeiras padronizações conceituais foram os alemães Alexander Von Humboldt e Karl Ritter.
Humboldt (1769 a 1859), com formação em geologia e botânica, entendia a Geografia como a parte terrestre da ciência do cosmos, isto é, como uma espécie de síntese de todos os conhecimentos relativos à Terra. Neste sentido, segundo Moraes (1983 p. 47) o objeto geográfico constituía “a contemplação da universalidade das coisas, de tudo que coexiste no espaço concernente a substâncias e forças, da simultaneidade dos seres materiais que coexistem na Terra”, onde as conexões são constantes entre os fenômenos da superfície terrestre, apontando para a unidade da Terra e da natureza.
A análise das individualidades se subordina à busca da generalidade. Assim, o único (local) é apenas um caminho para um conhecimento mais elevado. A observação constitui-se no princípio de todo o processo cognitivo, pois a contemplação da natureza transmite uma sensação ao sujeito, que encontra correspondência com suas representações interiores.
O método proposto é o empirismo raciocinado (intuição na observação) o qual combina a observação, a medição e a descrição com a elaboração indutiva, a comparação e a generalização num procedimento de pesquisa que articula diversidade e unidade (estudos sistemáticos e sintéticos); individualidade e universalidade (escala local e global) e ainda subjetividade e objetividade (impressões e dados empíricos). Suas principais obras são Quadros da Natureza e Cosmos.
Ritter (1779 - 1858) com formação em filosofia e história, atribuía à Geografia o estudo dos lugares em busca da individualidade, numa perspectiva religiosa, onde a ciência aparece como uma forma de relação entre o Homem e o “criador”. (MORAES, 1983)
O método proposto constituiu-se na análise empírica “observação em observação”, originando a “Geografia Comparada”, que na preocupação de dar ao conhecimento geográfico uma feição de ciência, aproximou os procedimentos de levantamento e análise e estabeleceu um inventário do estágio atual dos conhecimentos acumulados, apresentando-os regionalmente a partir de uma divisão continental da superfície terrestre, ou seja, a Geografia apresenta-se como a ciência ainda por fazer. 
Percebe-se claramente que o seu objeto primeiro de toda investigação geográfica é a Terra, apreendida enquanto teatro dos acontecimentos naturais, mas também “morada do Homem” ou “teatro da história”.
Um importante desdobramento de suas idéias foi a proposta antropocêntrica, que inaugurou uma das principais vias de discussão geográfica que corresponde à problemática da relação Homem – Natureza, no entanto, o Homem aparece como fator de compreensão da realidade terrestre, sendo esta, e não o Homem em si, o objeto primordial do estudo. Suas principais obras são Europa, Quadros Geográficos, Históricos e Estatísticos; Geografia Comparada e; Introdução à Geografia Geral Comparada.
Os objetos de estudo da Geografia na evolução do pensamento Geográfico�
Geografia Tradicional
A Geografia Tradicional se desenvolveu sob os postulados do positivismo, os quais preconizam que os estudos devessem restringir-se aos aspectos visíveis do real, mensuráveis, palpáveis e os procedimentos de análise limitados à indução, como a única via de qualquer explicação científica, predominando o empirismo, a descrição e a classificação. Caracterizou-se, ainda, por realizar uma ampla naturalização de relações sociais.
Segundo Löwy (1998) o positivismo se fundamenta sobre premissas que estruturam um “sistema“ coerente e operacional, quais sejam:
1) A sociedade é regida por leis naturais, isto é, leis invariáveis, independentes da vontade e da ação humanas; na vida social, reina uma harmonia natural.
2) A sociedade pode, portanto, ser epistemologicamente assimilada pela natureza (o que classificaremos como ‘naturalismo positivista’) e ser estudada pelos mesmos métodos, démarches [trajetórias] e processos empregados pelas ciências da natureza.
3) As ciências da sociedade, assim como as da natureza, devem limitar-se à observação e à explicação causal dos fenômenos, de forma objetiva, neutra, livre de julgamentos de valor ou ideologias, descartando previamente todas as prenoções e preconceitos.
(LÖWY, 1998, p. 17)
Com base nestas premissas, a Geografia encontrou elementos para a consolidação de seu status quo de ciência reconhecida com tal�. Enquanto ciência aceita, emerge uma geografia sistematizada, que apesar de assumir-se como campo autônomo de conhecimento científico, toma como elemento de sua identificação esta característica assistemática, propondo como legitimação da sua especificidade a diferenciação introduzida pela perspectiva associativa ou sintética, que trabalha com uma variedade enorme de fenômenos estudados, cada um pelas mais diferentes ciências. Desta forma, não emergiu uma geografia sistemática, um estudo voltado para a compreensão de um fenômeno particular ou classe de fenômenos. (Moraes, 1983)
Este pensamento geográfico sustentou-se às custas de alguns princípios elaborados em seu processo de constituição, os quais foram tidos como inquestionáveis e indispensáveis enquanto conhecimentos definitivos sobre o universo de análise do geógrafo. Dentre estes, Moraes (1983) destaca: 
a) o princípio da unidade terrestre - a Terra é um todo, que só pode ser compreendido numa visão de conjunto; 
b) o princípio da individualidade - cada lugar tem uma feição própria;
c) o princípio da atividade - tudo na natureza está em constante dinamismo; 
d) o princípio da conexão - todos os elementos da superfície terrestre e todos os lugares se inter-relacionam; 
e) o princípio da comparação - a diversidade dos lugares só é apreendida pela contraposição das individualidades; 
f) o princípio da extensão - todo fenômeno manifesta-se numa porção variável do planeta; 
g) o princípio da localização - a manifestação de todo fenômeno é possível de ser delimitada.
Segundo Moraes (1983, p.26) “estes princípios atuaram como um receituário de pesquisa, definindo regras gerais, no trato com o objeto, que não podiam ser negligenciadas. De certo modo, definiam os traços que faziam um estudo aceito como de Geografia”.
A formação de escolas� 
Vale destacar que, já no final do século XIX, período de constituição real do Estado Nacional alemão, Friedrich Ratzel, promove um revigoramento no processo de sistematização da Geografia, apresentando como objeto geográfico “o estudo das influências que as condições naturais exercem sobre a humanidade, mediatizadas pelas condições econômicas e sociais”.
O método proposto foi o empirismo, tendo como procedimentos de análise a observação e a descrição, e uma visão naturalista, onde o Homem é reduzido a um animal. No entanto, inovou quando propôs ir além da descrição, buscando a síntese das influências na escala planetária.
Nesta perspectiva, a sociedade aparece como um organismo que mantêm relações duráveis com o solo, manifestadas, por exemplo, nas necessidades de moradia e alimentação, e o progresso significa maior uso dos recursos do meio, através de uma relação mais íntima com a natureza, e quando esta sociedade se organiza para defender o território,transforma-se em Estado.
O progresso implica na ampliação do território, para tanto, Ratzel busca elaborar o conceito de “espaço vital”, o qual representa uma porção de equilíbrio entre a população de uma dada sociedade e os recursos disponíveis para suprir suas necessidades, definindo assim suas potencialidades de progredir e suas premências territoriais.
A Geografia de Ratzel, da forma como foi desenvolvida, constitui-se num poderoso instrumento de legitimação dos desígnios expansionistas do Estado Alemão. Sua influência foi tão marcante que Lucien. Febvre, chegou a denominá-la de “manual de Imperialismo” (MORAES, 1983, p. 52). 
Os desdobramentos da proposta de Ratzel manifestou-se na constituição da Geopolítica, corrente dedicada ao estudo da dominação dos territórios, formas de defesa, manutenção e conquista destes; e a escola ambientalista, corrente que propõe o estudo do Homem em relação aos elementos do meio em que ele se insere.
Sua principal obra denomina-se Antropogeografia - fundamentos da aplicação da Geografia à História.
Em 1870 desenvolveu-se o pensamento geográfico francês, que segundo MORAES (1983, p. 64) “foi antes de tudo um diálogo com Ratzel”, sob a incumbência de combater a ação imperialista alemã.
É importante destacar que a Geografia contou com o apoio maciço do Estado Francês, que a colocou em todas as séries do ensino básico e também criou cátedras e institutos.
A Escola Francesa foi fundada por Vidal de La Blache, o qual empreendeu uma série de críticas às formulações de Ratzel, lançando sobre estas, novas propostas, com tom mais liberal e análises tendo como ponto de partida o Homem abstrato.
Dentre as críticas, cita-se a politização explícita do discurso, pois as teses ratzelianas tratavam abertamente de questões políticas e La Blache utiliza-se do clássico argumento liberal “necessária neutralidade do discurso científico”, dissimulando, mediatizando e sutilizando o imperialismo francês.
Imprimiu ao pensamento geográfico o mito da ciência asséptica, o qual originou-se do recuo do pensamento burguês, temeroso do potencial revolucionário do avanço das ciências do Homem.
Vidal criticou o caráter naturalista o qual minimizava o elemento humano, defendendo o componente criativo (a liberdade) contido na ação humana, no entanto, não rompeu com esta visão naturalista à medida que o interesse estava no resultado da ação humana na paisagem e não em si mesma.
A concepção fatalista e mecanicista da relação entre o Homem e a Natureza também foi fator de crítica por Vidal que propôs uma postura relativista no trato deste assunto considerando que tudo o que se refere ao Homem é mediado pela contingência.
Com estas informações percebe-se que o objeto de estudo foi a relação Homem - Natureza na perspectiva da paisagem, onde o Homem aparecia como ser ativo, que sofria a influência do meio, porém, atuava sobre este transformando-o e a natureza representava as possibilidades da ação humana. No entanto, não abordava as relações entre os Homens.
Quanto ao método, este foi um prosseguimento das formulações de Ratzel, com enfoque menos generalizador, fundamentos positivistas e empírico-indutivos, destacando enquanto encaminhamento para a análise geográfica a observação de campo; a indução a partir da paisagem; a comparação das áreas estudadas e do material levantado.
O principal desdobramento da proposta vidalina foi a Geografia Regional, a qual atribuía ao geógrafo à delimitação, descrição e explicação das regiões do globo.
A partir dos anos 30, a Geografia Americana apresentou um grande desenvolvimento, impulsionada pela produção de Hartshorne, que defendia a idéia de que as ciências se definiriam por métodos próprios e não por objetos singulares. Assim, a Geografia teria sua individualidade e autoridade, decorrentes de uma forma própria de analisar a realidade. O método viria do fato de esta disciplina trabalhar o real em sua complexidade, abordando fenômenos variados, estudados por outras ciências. Desta forma, o estudo geográfico não isolaria os elementos e assim trabalharia com as inter-relações, não mais enfatizando a necessidade de procurar um objeto da Geografia, entendendo-a como um “ponto de vista”.
No entanto, as inter-relações não interessavam em si, mas à medida que desvendavam o caráter variável das diferentes áreas da superfície da Terra.
Hartshorne empreendeu como formas de estudo, a denominada Geografia Idiográfica, caracterizado por uma análise singular e unitária que propicia um conhecimento profundo de determinado local; e a Geografia Nomotética, onde o pesquisador parava na primeira integração, e a reproduzia em outros lugares, o que permitia chegar a um padrão de “variação”, esta perspectiva abriu possibilidades para o uso da quantificação e da computação, ensejando um movimento de renovação da Geografia, que veremos mais adiante. 
É neste contexto e sob estes pressupostos que foram gestadas as reflexões iniciais da Geografia Moderna, constituindo-se nos elementos da sua sistematização. A Geografia Tradicional tentou justificar e operacionalizar com um instrumental positivista uma proposta assentada num fundamento não positivista, que segundo MORAES (1989, p. 132) estava informada pela teoria do conhecimento e que valorizava o papel da subjetividade no processo cognitivo.
A Geografia Tradicional permeada pela idéia de ciência de síntese e empirista deixou um corpo de conhecimentos sistematizados que articularam uma disciplina autônoma mediante a elaboração de um rico acervo, através do levantamento de realidades locais, possibilitou a identificação de problemas e elaborou alguns conceitos, tais como: território, região, habitat, ambiente, entre outros.
No entanto, em meados da década de 50, a Geografia Tradicional [devido a grandes alterações na conjuntura internacional de pós-guerra, que variavam desde uma maior agilidade imposta pela reprodução capitalista, onde o fordismo atinge escala planetária e a tecnologia que passa a avançar numa considerável velocidade], entra em processo de questionamentos, os quais foram desencadeados por inúmeras razões de cunho político e econômico, agrupadas em três grandes eixos, conforme descrito anteriormente.
O primeiro, diz respeito às alterações na base social - a entrada do modo capitalista de produção na era monopolista; a revolução tecnológica e o planejamento econômico que passa a ser uma grande arma do Estado para a perpetuação do poder. O segundo, envolve o desenvolvimento do capitalismo que tornou a realidade mais complexa, possibilitando graus elevados de urbanização, industrialização e a mecanização da atividade agrícola. E o terceiro, representa as fraquezas de seu fundamento filosófico (positivismo clássico), quanto à indefinição do objeto de análise e a generalização.
Neste sentido, as ciências “tiveram” de acompanhar tais transformações para não correrem o risco de perderem seus status estabelecidos. Se o mundo necessitava de tecnologia a ciência deviria dar respostas com a tecnologia.
Geografia Pragmática ou Nova Geografia
A Geografia Pragmática ou Nova Geografia emerge da crítica à Geografia Tradicional, propondo uma ótica prospectiva, ou seja, um conhecimento voltado para o futuro, que instrumentalize uma geografia aplicada, através da renovação metodológica (tecnologia geográfica), e desenvolva o planejamento, uma nova função, posta para as ciências humanas pelas classes dominantes.
Segundo Moraes (1983, p.101) a Geografia Pragmática é uma tentativa de contemporaneizar este campo específico do conhecimento, sem romper seu conteúdo de classe. Desta forma, suas propostas visam apenas uma redefinição das formas de veicular os interesses do capital. Representou uma atualização técnica e lingüística.
Nesta atualização do discurso burguês a respeito do conhecimento geográfico, ocorre a passagem do positivismo clássico para o neopositivismo, ou seja, troca-se o empirismo da observação direta, levantamentos dos aspectos visíveis, para um empirismo mais abstrato, dos dados filtrados pela estatística.Para tanto, propôs algumas vias de objetivação, dentre as quais citamos: a Geografia Quantitativa com o uso de métodos matemáticos; a Geografia Sistêmica com o uso de modelos de representação e explicação e, a Geografia da Percepção com a valorização subjetiva do território e consciência do espaço vivenciado.
Todas estas, constituíram-se em instrumentos da dominação burguesa, à medida que ao informar a ação do planejamento, geram um tipo de conhecimento operacionalizável que permite a intervenção sobre a organização do espaço. A superfície da Terra, passa a ser caracterizada por um espaço abstrato de fluxos ou uma superfície isotrópica, sob a qual se inclina o planejador.
Desta forma, percebe-se que, apesar da sofisticação técnica e lingüística, segundo Moraes (1983, p.102), esta permanece formal, presa às aparências do real e agora mais pobre, em função da abstração.
Milton Santos (1978), faz algumas considerações quanto à limitação atribuída a esta Nova Geografia, que segundo ele, suprimiu o Homem, despersonalizando o homo sapiens substituindo-o pelo homo economicus; excluiu o movimento social e eliminou de suas preocupações o espaço das sociedades em movimento permanente; matou o futuro, por não fazer menção às tendências e desconhecer a existência do tempo.
Geografia Crítica
A Geografia Crítica� é uma vertente que procura romper com o pensamento da Geografia Tradicional e se iniciou na década de 1960 em virtude do ambiente contestatório nos Estados Unidos, em função da Guerra do Vietnã, da luta pelos direitos civis, da crise da poluição e da urbanização. Esta denominação advém de uma postura crítica radical, frente à geografia existente (seja tradicional ou pragmática), a qual será levada ao nível de ruptura com pensamento anterior.
Geografia Crítica visa ultrapassar e substituir a Nova Geografia. Os seus propagadores consideram a Nova Geografia como sendo pragmática, alienada, objetivada no estudo dos padrões espaciais e não nos processos e problemas socioeconômicos e com grande função ideológica. Portanto, encontra-se implícito o esforço de integrar os processos sociais e os espaciais no estudo da realidade, interessando-se pela análise dos modos de produção e das formações socioeconômicas. 
Cada modo de produção reflete-se em formações socioeconômicas espaciais distintas, cujas características da paisagem geográfica devem ser analisadas e compreendidas. Com o fito de atingir tais objetivos, surge a ênfase sobre os temas de relevância social, a fim de incentivar os mecanismos das lutas de classe, tais como: a pobreza, as desigualdades e as injustiças sociais, a deterioração dos recursos ambientais, as desigualdades espaciais e sociais nas estruturas urbanas e outros. 
Outro aspecto importante refere-se à questão metodológica, pois a Geografia Critica se assenta nos procedimentos metodológicos do materialismo histórico e dialético.
A fim de considerar que os procedimentos metodológicos baseados no positivismo lógico são inadequados, em vários textos radicais o termo "científico" surge com conotação pejorativa. No setor da metodologia, os geógrafos radicais têm-se esforçado em fazer uma crítica profunda e intensa sobre as perspectivas positivistas e funcionalistas imperantes na Geografia. Mas não se usa da mesma preocupação e critérios para analisar a perspectiva marxista na Geografia.
Entre os geógrafos brasileiros, Milton Santos destacou-se nessa perspectiva geográfica, através de diversos artigos e de várias obras expressivas que traduziam seu amadurecimento intelectual no seu percurso por vários países e na construção de uma crítica do modo capitalista de produção e da própria Geografia. De onde advém o título de um importante livro, que representa um marco no Brasil, “Por uma Geografia Nova. Da crítica da Geografia para uma Geografia Crítica”.
Milton Santos ao descrever a importância da interdisciplinaridade dentro do estudo geográfico, diz que existe a necessidade de uma definição do objeto da Geografia, que para ele, trata-se da produção do espaço social.
Este objeto, dentro da Geografia Crítica pressupõe estudá-lo como um espaço social ou humano, histórico, portanto, como obra do trabalho, morada do homem, assim, como uma categoria para compreender a realidade e que pode ser explicada pela produção.
Entretanto, o espaço é também um fator, pois é uma acumulação de trabalho, uma incorporação de capital na superfície terrestre, ou seja, as rugosidades, que teriam o papel de uma memória de um modo de produção, pois é uma acumulação de trabalho, uma incorporação de capital na superfície terrestre, estas criam imposições sobre a ação presente da sociedade, representa uma inércia junto à dinâmica temporal incorporada na paisagem e duram mais que os processos que as produziram.
Para Santos (1978, p.138) o papel das rugosidades dentro do espaço seria uma memória, de uma testemunha de um momento de um modo de produção, que são determinadas pelos modos de produção, cuja longevidade, porém só é conhecida a posteriores.
O homem ao desenvolver uma atividade produtiva sobre a superfície terrestre, cria novas formas, de tal modo que produzir é produzir espaços, portanto, a organização do espaço é determinada pela tecnologia, pela cultura e pela organização social da sociedade , que a constroem, manifestando uma combinação de capital, trabalho e tecnologia, expressos nas rugosidades.
Portanto, a Geografia Crítica tem em seu objeto de estudo a preocupação de analisar cada manifestação concreta, vendo espaço como um lugar de luta, de transformação da realidade, buscando desenvolver uma Geografia engajada nos movimentos de lutas para transformação da sociedade.
Para terminar - A Contemporaneidade 
A Geografia passou por várias transformações em termos de métodos, de concepções filosóficas, de diretrizes temáticas, de acordo com os diferentes períodos históricos. 
Na atualidade, a efervescência dos movimentos sociais oriundos da década de 1960, deixou uma marca profunda na Geografia quanto ao seu posicionamento político, pois esta passa a se preocupar com o entendimento de questões que conduzem as desigualdades sociais, e para tanto se utiliza de um instrumentário marxista ou fenomenológico, para realizar uma leitura geográfica da realidade. Passa a refletir sobre diferentes agentes que produzem as desigualdades de maneira a optar de acordo com as preocupações e inquietações propostas e formuladas o emprego de categorias e conceitos para a aproximação com o desconhecido:
 Estudos sobre o desvendamento da paisagem enquanto cristalizadora de relações sociais em seu processo de produção de uma natureza segunda, que contém e domina a primeira;
 Estudos sobre a produção e organização do espaço e suas variadas espacialidades resultantes da ação humana em confluência com a dinâmica da natureza numa sobreposição espaço-temporal contínua;
 Da construção e delimitação dos territórios como possibilidade de entendimento dos jogos de poder e territorialidades imanentes.
 Da identificação e formulação dos estudos regionais com os diferentes elementos que envolvem sua realização, como as ações regionalistas e empresariais.
Trata-se da análise de um mundo que possui novas dinâmicas, novas lógicas e novas estratégias que exigem que a pesquisa geográfica também se utilize de novas metodologias alternativas.
Portanto, constituiria num reducionismo descabido afirmarmos qual seria o objeto da Geografia, pois este pode variar de acordo com os interesses e preocupações do pesquisador, sendo que o objeto de investigação que se constrói possui um caráter que o diferencia de outras ciências, atribuindo especificidade ao estudo geográfico. 
Esta especificidade se dá pelo posicionamento epistemológico da Geografia, conforme anteriormente discutido, o que lhe atribui possibilidades de variar entre natureza e sociedade pautada em determinados conceitos e categorias particulares. Daí afirmarmos que o objeto da Geografia não poderia ser o espaço, pois este constitui o objeto de estudo de outras várias ciências,como astronomia, física, arquitetura etc. Para a Geografia deve-se refletir qual o interesse em se pensar o espaço. Ou seja, o entendimento da geograficidade que se transfigurará na análise topológica, sendo uma ordem que se estabelece de acordo com condicionantes naturais e sociais, não ao acaso, mas segundo uma conjuntura específica de agentes, interesses e variações no espaço-tempo, entendido numa perspectiva de espiral que articula processos e formas espaciais em diferentes escalas que se articulam sob vários níveis de imbricações. (local, regional e global). Daí a realidade (o desconhecido) possuir arranjos determinados que precisam ser desvendados através da pesquisa científica.
Os estudos geográficos contemporâneos trazem uma multiplicidade de temas que trabalham o desvendar da realidade segundo o entendimento que ora estamos desenvolvendo que, no entanto, não nos sentimos a vontade para citar alguns pela possibilidade de não escolher os mais representativos no Brasil e no Mundo, o que demandaria uma pesquisa de certo fôlego, mas que representaria importantes resultados para a epistemologia da Geografia.
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Teoria dos Conteúdos
Lógica da forma
Lógica dialética
SUJEITO
OBJETO
REALIDADE
(o desconhecido)
FENÔMENO
Construção humana
Nível de construção da problemática
Varia de acordo com:
concepção filosófica
método
teoria
categoria de análise
CIÊNCIAS
Biológicas
Da terra
“Ambientalismo”
Geografia
“Desenvolvimento”
“Justiça Social”
Sociais
Econômicas
� Texto produzido como avaliação final da disciplina “Metodologia em Geografia” ministrada pelo Prof. Eliseu Savério Sposito junto ao Programa de pós-graduação em Geografia da UNESP de Presidente Prudente-SP.
� Doutoranda do curso de Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP Campus de Presidente Prudente.
e-mail: lirian@ourinhos.unesp.br
� É importante frisar que tal separação entre o movimento do pensamento individual e social, é para fins didáticos, pois concebe-se uma união indissociável entre ambos, pois o individual se concebe no e pelo social e este, somente se constrói pelo individual.
� É importante frisar que esta análise apóia-se na interpretação de alguns autores sobre a Geografia Moderna, não constituindo uma pesquisa mais aprofundada da História do Pensamento Geográfico.
� Destaque-se que optamos em iniciar a discussão a partir da Geografia Moderna por esta possibilitar uma maior agilidade na obtenção de fontes, porém, consideramos que a construção da Geografia remonta da antiguidade, desde algumas noções até na construção de conhecimentos articulados de maneira coerente que contribuíram na produção de conhecimentos que foram amplamente utilizados por impérios para manutenção de suas dominações, conforme destaca Sodré (1983).
� Ressalte-se que optamos por utilizar a periodização proposta por Moraes (1989) por razões de objetivar o trabalho. No entanto, sabe-se que existem outras possibilidades de classificação e periodização que possam fornecer graus de explicação maiores.
� Faz-se importante ressaltar que, neste período histórico particular, segundo Löwy, o positivismo possuía um conteúdo revolucionário, pois representava uma forte ruptura com dogmas estabelecidos que dificultavam a produção científica. 
� Nomenclatura e classificação de Moraes (1989) e Andrade (1987) Tais autores descrevem como escolas pertencentes à Geografia Clássica ou Tradicional, a alemã, a Francesa, a Inglesa, a Soviética e a Norte Americana. Baseiam-se na noção de que representavam uma unidade entre elas pelo fato de produzirem conhecimentos que se seriam apropriados diretamente pelos Estados Nacionais e pelas elites de seus países com fins expansionistas e imperialistas, mas que mantinham certas singularidades entre cada uma delas, por mais variadas razões, que eram perpetuadas entre os pesquisadores no tempo e no espaço, fato este, que levou estes autores à classificação em escolas. Em nossa análise utilizaremos apenas as escolas Alemã, Francesa e Norte Americana, por serem mais significativas para discussão que propomos.
� Nomenclatura adotada por Moraes (1989) que refere-se à Geografia produzida a partir dos referenciais da dialética marxista.

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