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Ligações Covalentes Polares Ácidos e Bases Baseado em Q. Orgânica, J. McMurry, 6ª Edição Introdução Os temas que veremos nessa aula se relacionam a aspectos fundamentais da reatividade química. Além disso, eles estabelecem as bases para a discussão de reações específicas que veremos mais adiante. Ligações Covalentes Polares Ligações covalentes podem apresentar caráter iônico parcial. Quando isso ocorre, estamos diante de ligações covalentes polares, que exibem as seguintes características: os elétrons do par de ligação são mais fortemente atraídos por um dos átomos; a distribuição da nuvem eletrônica não é simétrica entre os átomos. Polaridade de Ligação e Eletronegatividade A polaridade nas ligações surge em razão das diferenças de eletronegatividade dos átomos. Eletronegatividade (EN) é definida como a habilidade que um átomo tem de atrair para si os elétrons compartilhados na ligação covalente. A eletronegatividade dos elementos é expressa em uma escala de valores arbitrários, em que flúor é o elemento mais eletronegativo (EN = 4) e césio é o menos eletronegativo (EN = 0,7). Metais alcalinos e alcalino-terrosos, no lado esquerdo da tabela periódica, atraem fracamente os elétrons, têm baixas eletronegatividades. Halogênios e outros não metais ativos, no lado direito da tabela periódica, atraem fortemente os elétrons, têm altas eletronegatividades. A eletronegatividade do carbono é 2,5. Eletronegatividade na Tabela Periódica Polaridade de Ligação e Efeito Indutivo As eletronegatividades dos átomos podem ser usadas para prever o tipo de ligação entre eles: • Ligações Covalentes Apolares – são as ligações covalentes entre átomos com que têm eletronegatividades próximas. • Ligações Covalentes Polares – átomos da ligação têm eletronegatividades que diferem em menos de duas unidades. • Ligações Iônicas - as eletronegatividades dos átomos da ligação diferem em duas ou mais unidades. • Os químicos orgânicos usam a expressão efeito indutivo para se referir à capacidade de um átomo em polarizar uma ligação. Efeito indutivo é o deslocamento dos elétrons em uma ligação em resposta à eletronegatividade dos átomos próximos. Previsão de Polaridade nas Ligações de Carbono • As ligações C-H são relativamente apolares. • As ligações de carbono com elementos mais eletronegativos, como C-O e C-X (X = halogênio) são ligações polares. Nessas ligações o par de elétrons da ligação covalente se desloca para o átomo mais eletronegativo: • o carbono adquire uma carga parcial positiva, d+; • o átomo mais eletronegativo adquire uma carga parcial negativa, d-. Mapas de Potencial Eletrostático Mapas de potencial eletrostático são representações geradas por computador, que mostram a distribuição de sítios de cargas nas espécies. As regiões em vermelho são as mais ricas em elétrons, as em azul são regiões pobres em elétrons. A seta cruzada na base é utilizada para indicar a direção da polaridade da ligação. A parte cortada da seta é o sítio pobre em elétrons (d+) do dipolo, a cabeça da seta é o sítio rico em elétrons (d-) do dipolo. Ligações Covalentes Polares Momento de Dipolo • A polaridade das moléculas é o resultado do somatório vetorial das polaridades individuais das ligações e das contribuições dos pares não ligados existentes na molécula. • Momento de dipolo (m) –É definido como o produto da carga Q nas extremidades do dipolo molecular multiplicada pela distância r entre as cargas. Em uma molécula poliatômica é a polaridade resultante da composição vetorial dos dipolos individuais na molécula. • Momentos de dipolo são expressos em debyes (D). • 1D = 3,336 x 10-30 Coulomb metro (C m). (Dessa forma, se uma carga negativa, 1,60 x 10-19 C, estiver afastada 100 pm de uma carga positiva, o momento de dipolo será 4,80 D ou 1,60 x 10-29 C m.) rQm Momentos de Dipolo da Água e Amônia • As moléculas acima apresentam grandes momentos de dipolo. As razões são: • a EN do oxigênio e a EN do nitrogênio são maiores do que as eletronegatividades do hidrogênio e a do carbono; • tanto oxigênio quanto nitrogênio têm pares de elétrons não ligados. • Moléculas fortemente polares são solúveis em solventes polares, como a água. Substâncias apolares são insolúveis em água. Momento de Dipolo Momentos de dipolo podem ser medidos com relativa facilidade no laboratório. Moléculas Apolares Ausência de Momento de Dipolo Em moléculas simétricas, como o dióxido de carbono, as polaridades individuais das ligações se cancelam. ÁCIDOS E BASES Definições de Brønsted-Lowry e de Lewis Ácidos e Bases de Brønsted-Lowry • Há algumas definições de ácidos e bases. A definição de Brønsted-Lowry (abreviaremos para Brønsted) e a definição de Lewis são as que mais usaremos em nosso curso. • Um ácido de Brønsted-Lowry é uma espécie que doa próton (íon hidrogênio H+) e uma base de Brønsted- Lowry é uma espécie que recebe próton. De modo geral: Ácidos e Bases de Brønsted-Lowry H Cl + H O H Ácido Base OH H H + + Cl- Ácido conjugado Base conjugada C C OH O H H H C C O O H H H + O H- - + O H H Ácido Base Base conjugada Ácido conjugado O H H Ácido + N H H - Base O H- Base conjugada N H H H Ácido conjugado Exemplos: Observe que a água pode agir tanto como um ácido quanto como uma base. Ácidos e Bases de Brønsted-Lowry Força de ácidos e bases • Ácidos diferem amplamente em sua capacidade de doar H+: • ácidos fortes, como o HCl, dissociam completamente em água; • ácidos fracos como o ácido acético (CH3CO2H) dissociam muito pouco. • A força de um dado ácido HA pode ser avaliada pela constante de equilíbrio, Keq, para o equilíbrio de sua dissociação em água: HA + H2O A - + H3O + OHHA AOH 2 3 eqK Lembre-se, os colchetes significam concentrações em mols por litro, M. Ácidos e Bases de Brønsted-Lowry Nas medidas de acidez são usadas soluções aquosas diluídas e podemos considerar a concentração de água, que é o solvente, como constante em aproximadamente 55,6 mol/L a 25 ºC. Podemos então reescrever a equação, usando uma nova quantidade denominada constante de acidez, Ka. Equilíbrio Expressão de Ka HA AOH OH 32 eqa KK HA + H2O A - + H3O + • A constante de dissociação HA (Ka) permite avaliar a força relativa de diferentes ácidos: quanto maior o valor de Ka mais forte é o ácido HA. • Valores de Ka > 1 correspondem a ácidos fortes. • Valores de Ka < 1 correspondem a ácidos fracos. Ácidos e Bases de Brønsted-Lowry Considerações sobre o equilíbrio de dissociação em água: • ácidos fortes estão extensamente dissociados em água, têm o equilíbrio deslocado para a direita, possuem valores elevados de Ka; • ácidos fracos estão pouco dissociados em água, têm o equilíbrio deslocado para a esquerda, possuem valores pequenos de Ka. • Os valores de Ka variam amplamente: de 10 15 para os ácidos mais fortes até 10-60 para os ácidos mais fracos. • Ácidos inorgânicos fortes como H2SO4, HNO3 e HCl possuem valores de Ka na faixa de 10 2 a 109. • Ácidos orgânicos geralmente possuem valores de Ka na faixa de 10-5 a 10-15, são ácidos fracos. HA + H2O A - + H3O + Ácidos e Bases de Brønsted-Lowry pKa • A força de umácido é normalmente expressa em valores de pKa : • Um ácido forte (Ka grande) tem um valor pequeno de pKa. • Um ácido fraco (Ka pequeno) tem um valor grande de pKa. • Na tabela a seguir vamos comparar valores de pKa para avaliar forças relativas de ácidos e de suas bases conjugadas. aa logp KK Ácidos e Bases de Brønsted-Lowry • Na tabela mostrada anteriormente fica clara a relação inversa entre a força de um ácido (acidez) e a força da base (basicidade) conjugada. • Portanto, podemos afirmar que: • quanto mais forte é um ácido, mais fraca será sua base conjugada, um ácido forte perde o íon H+ com facilidade, sua base conjugada tem pouca afinidade pelo próton; • quanto mais forte uma base, mais fraco seu ácido conjugado, a base forte retém fortemente o próton gerando um ácido conjugado fraco. Exercício: O íon amida (H2N -) é uma base mais forte do que o íon hidróxido (HO-). Sabendo disso, compare a acidez de NH3 e H20. Ácidos e Bases de Brønsted-Lowry Previsão de Reações Ácido-Base a partir de Valores de pKa • O íon H+ sempre será deslocado do ácido mais forte para a base mais forte, ou seja, um ácido sempre transferirá o próton para a base conjugada de um ácido mais fraco. • Podemos dizer que nas reações ácido-base, os produtos serão ácidos conjugados e bases conjugadas mais fracos, menos reativos, do que os reagentes (o ácido e a base de partida). Ácidos e Bases de Brønsted-Lowry • Examinando os valores de pKa do reagente ácido e o valor de pKa do ácido conjugado formado em uma reação, poderemos avaliar a posição do equilíbrio. Se o ácido conjugado formado for mais fraco (maior pKa) do que o ácido de partida, o equilíbrio estará deslocado para lado dos produtos e podemos avaliar que a transferência do próton ocorre conforme proposto na equação. Ácidos e Bases de Brønsted-Lowry • Exercícios • Prever a ocorrência das reações ácido-base de Brønsted no sentido em que foram apresentadas: H3C CH3 O Acetona pKa = 19 + Na + - NH2 H3C CH2 O - Na+ + N H3 Amônia pKa 36 a) b) HC CH + Acetileno pKa 25 -OH HC C - + H2O Amida de sódio Água pKa 15,74 Ácidos Orgânicos de Brønsted-Lowry Ácidos Orgânicos de Brønsted • São caracterizados por possuírem átomos de H positivamente polarizados na estrutura. Mais comumente são de dois tipos: • os que apresentam H ligado a oxigênio (O-H); • os que apresentam H ligado a carbono próximo a uma dupla C=O (O=C-C-H) . Ácidos Orgânicos de Brønsted-Lowry • Álcool metílico tem uma ligação O-H e é um ácido muito fraco. • Ácido acético, que também apresenta um grupo O-H, é um ácido mais forte que metanol, embora ambos sejam ácidos fracos. A acidez dos dois ácidos está relacionada à base conjugada com carga negativa no oxigênio, átomo altamente eletronegativo, que estabiliza a bem a carga negativa que adquire: A ressonância estabiliza o íon acetato, a acidez do ácido acético é cerca de 1011 vezes mais ácido do que metanol. Ácidos Orgânicos de Brønsted-Lowry • A base conjugada formada pela perda de um próton da acetona apresenta ressonância. Uma das formas de ressonância apresenta carga negativa no oxigênio, que a estabiliza melhor do que o carbono. Essa é a razão da elevada acidez desse próton ligado a carbono. Note que estruturas de ressonância não são necessariamente equivalentes. Nesse exemplo, uma delas apresenta a carga negativa no carbono; a outra mostra a carga negativa no oxigênio. Elas contribuem diferentemente para o híbrido de ressonância. A mais estável das formas, a que apresenta a carga negativa no oxigênio, contribui mais para o híbrido de ressonância, que se parece mais com ela. Ácidos Orgânicos de Brønsted-Lowry • Quando comparamos a acidez de fenóis e alcoóis, observamos mais um exemplo da importância da ressonância como fator de estabilização da base conjugada. • Fenol é 106 mais ácido do que o etanol, apesar da semelhança dos grupos funcionais. O íon fenóxido, base conjugada do fenol, apresenta ressonância, mas o etóxido, base conjugada do etanol, não. • Exercício: escrever as estruturas de ressonância para íon fenóxido. OH Fenol pKa = 10 CH3CH2OH Etanol pKa = 16 O - Íon fenóxido Bases Orgânicas de Brønsted-Lowry Bases Orgânicas de Brønsted • Caracterizam-se por apresentarem na estrutura átomos com par, (ou pares), de elétrons isolados que podem se ligar ao H+: • compostos de nitrogênio, como as aminas, são tipicamente bases orgânicas; • alguns compostos contendo átomos de oxigênio podem agir como bases frente a ácidos fortes e como ácidos frente a bases fortes. Ácidos e Bases: a Definição de Lewis • A teoria de ácidos e bases de Lewis é muito mais geral e abrangente que a de Brønsted-Lowry, já que não se limita apenas à transferência de prótons. • Um ácido de Lewis é uma substância que aceita um par de elétrons. Uma base de Lewis é uma substância que doa um par de elétrons. O par de elétrons doado é compartilhado entre o ácido e a base em uma ligação covalente. Ácidos e Bases: a Definição de Lewis A definição de Lewis inclui como ácidos: • cátions metálicos, como Mg2+, Li+, Ag+ e outros; • compostos eletrodeficientes como BF3, AlCl3, que possuem orbitais vazios na camada de valência; • compostos de metais de transição, TiCl4, FeCl3, ZnCl2 e SnCl4, entre outros. • Compostos orgânicos que reagem com bases de Lewis são denominados de eletrófilos e são, portanto, ácidos de Lewis. Nas reações ácido-base de Lewis são mostradas setas curvas que indicam o fluxo de elétrons da base (rica em elétrons) para o ácido (eletrodeficiente). Reações Ácido-Base de Lewis Reações Ácido-Base de Lewis Outros exemplos: • A reação abaixo, que vimos anteriormente como reação ácido- base de Brønsted, pode ser classificada como reação ácido-base de Lewis. Reações ácido-base de Brønsted são uma subcategoria de reações ácido-base de Lewis. • Reações de substituição nucleofílicas, que veremos mais adiante em nosso curso, podem ser interpretadas como reações ácido- base de Lewis: H O - H Br+ HOH + Br Íon hidróxido Base de Lewis Brometo de hidrogênio Ácido de Lewis Água Íon brometo - Íon hidróxido Base de Lewis Ácido de Lewis Íon brometo - H O - H3C Br+ HO CH3 + Br Bromometano Metanol Ácidos de Lewis Orgânicos • Ácidos de Lewis comportam-se como eletrófilos (ou “reagentes que buscam elétrons”). • Bases de Lewis comportam-se como nucleófilos (ou “reagentes que buscam sítios com carga positiva”). • Exemplos de ácidos de Lewis orgânicos são os compostos orgânicos que podem transferir prótons (já que a reação ácido-base de Brønsted é uma subcategoria de reações ácido-base de Lewis): H3C OH O OH CH3CH2OH Ácido acético Fenol Ácidos carboxílicos Fenóis Alcoóis Etanol Bases de Lewis Orgânicas • A maioria dos compostos orgânicos que têm oxigênio ou nitrogênio são bases de Lewis, pois apresentam par ou pares de elétrons não-ligados. Tab. 1.8
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