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6-Rosenberg A Institucionalização da Inovação

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1
A INSTITUCIONALIZA<;::Ao DA INOVA<;::Ao,
1900-19901
Como fizemos no tar no capitulo introdut6rio, nenhum registro de
inova<;:aotecnol6gica na economia norte-americana do se~ulo XX
pode confinar-se a discussao de setores ou tecnologias especificas.
Outro elemento central da evolu<;:aode todas as economias indus-
trializadas durante esse seculo foi a transforma<;:ao cia estrutura e da
organiza<;:aodo processo de inova<;:ao.Tal como muitos outros avan-
<;:ostecnol6gicos importantes dessas economias, 0 desenvolvimento
da pesquisa industrial organizada foi iniciado durante os anos 1870
par empresas da industria quimica alema. Contudo, empresas indus-
triais de produtos quimicos e de outros ramos dos EUA rapidamen-
te emularam esse desenvolvimento e, ja par volta dos anos 1920, as
firmas norte-americanas tornaram-se coletivamente os principais
empregadores industriais de cientistas e engenheiros.
o sistema de P&D narte-americano que se originou no inicio
do seculo XX sofreu profundas mudan<;:asestruturais durante esse se-
culo. Essas mudan<;:astiveram dois amplos componentes. 0 primeiro
foi a rapida explora<;:aopelas firmas norte-americanas da "inven<;:aoda
arte de inventar", antes iniciada na Alemanha. 0 segundo compo-
nente relacionado com a evolu<;:aodo sistema de P&D foi 0 constan-
te deslocamento dos papeis da industria, do governo e das universi-
dades como financiadores e realizadores de P&D. A magnitude dos
deslocamentos da importancia desses tres setores no ambito dos EUA
durante 0 seculo XX pode ter excedido a de qualquer outra econo-
mia industrial. 0 sistema de P&D do pas-guerra, com suas grandes e
bem financiadas universidades de pesquisa e seus contratos federais de
pesquisa com a industria, tinha poucos ou nenhum precedente na era
anterior a 1940, e contrastava com a estrutura dos sistemas de P&D de
outras economias industrializadas do pas-guerra. Num sentido bem
realista, os Estados Unidos desenvolveram no pas-guerra um sistema
de P&D que era unico internacionalmente. Por outro lado, as mudan-
<;:asocorridas desde 1989 no contexto politico internacional, que tan-
to influenciou 0 crescimento no pas-guerra do sistema de P&D nor-
te-americano, continuado a ter conseqiiencias profundas na estrutura
do sistema e na sua singularidade internacional.
o crescimento da pesquisa industrial nos EUA foi uma parte imp or-
tante da reestrutura<;:ao das empresas industriais norte-americanas
no final do seculo XIX e inicio do seculo xx. Os laboratarios de
pesquisas industriais internos as empresas apareceram primeiro na
industria de produtos quJ:micos da Alemanha durante os anos 1870
(Beer, 1959), e na virada do seculo uma serie de firmas dos EUA nos
ramos da industria quJ:mica e de equipamentos eletricos estabelece-
ram instala<;:5essimilares.
o crescimento da P&D industrial tanto nos EUA quanto na Ale-
manha foi influenciado por avan<;:osna nsica e na quJ:mica durante
o ultimo ter<;:odo seculo XIX, que criaram um consideravel potencial
para a aplicac;:aolucrativa de conhecimentos cientificos e tecnicos. as
primeiros investimentos em P&D industrial foram feitos por empresas
alemas procurando comercializar inovac;:5es baseadas no campo da
quimica organic a, entio em rapido desenvolvimento. Muitos dos pri-
meiros investidores corporativos dos EUA na pesquisa industrial, tais
como a General Electric e a Alcoa, foram estabe1ecidos a partir de
inovac;:5es de urn produto ou processo baseados em recentes avanc;:os
da nsica e da quimica. Mas as mudanc;:as na base do conhecimento
cientifico e tecnologico nao podem explicar por si so 0 crescimento
da P&D industrial nos EUA. Novas oportunidades tecnicas influencia-
ram a decisao de investir em P&D industrial, mas e1asnao podem ex-
plicar 0 crescimento da participac;:ao das atividades de P&D ocorrida
no interior das empresas.2
as laboratorios de P&D empresarial trouxeram grande parte do
processo de desenvolver e melhorar a tecnologia industrial para 0 in-
terior das empresas industriais dos EUA, reduzindo a impordncia dos
inventores independentes na gerac;:aode patentes (Schmookler, 1957).
Em industrias como as do ac;:oe do processamento de carnes, os seto-
res de inspec;:aoe teste de materiais, muitos dos quais haviam sido cria-
dos a medida que foi crescendo a escala de produc;:ao no final do se-
culo XIX, gradativamente expandiram suas atividades para as areas da
inovac;:ao de processos e de produtos (Mowery, 1981; Rosenberg,
1985). Mas as sec;:5esinternas de pesquisa das grandes empresas norte-
americanas nao se preocuparam exclusivamente com a criac;:aode no-
vas tecnologias. Elas tambem passaram a monitorar desenvolvimentos
tecnologicos fora da firma e a aconselhar seus administradores na
aquisic;:aode tecnologias desenvolvidas externamente.
2 Urna rede consideravel de laboratorios de P&D independentes tern oferecido servi,os de pesquisa em
base contratual ao longo dos anos da forma,ao da P&D industrial nos Estados Unidos. Contudo, a par-
ticipa,ao dessas organiza,6es de pesquisapor contrato no emprego em P&D diminuiu durante a
primeira metade do seculo XX.Alem disso,muitos de seus clientes eram firmas com instala,6es proprias
de P&D, sugerindo que a P&D interna e por contrato constituern modalidades complementares, mais
do que substitutas (Mowery, 1983).
A mudanya estrutural em muitas grandes empresas industriais norte-
americanas que fomentaram investimentos em pesquisa industrial foi
influenciada pe1a politica antitruste dos EUA. Ja no final do seculo
XIX, interpretayoes judiciais da Lei Antitruste de Sherman tinham
feito que acordos entre empresas para 0 controle dos preyos e da pro-
dUyao fossem alvos de processos civis. A onda de fusoes de 1895 a
1904, e particularmente 0 surto de fusoes apos 1898, foi uma respos-
ta a este novo contexto legal. Como a fixayao de preyos, informal e
formal, assim como os acordos de divisao de mercado tinham sido
dec1arados ilegais em urn nlimero crescente de casos, as empresas re-
correram a fusoes horizontais para controlar preyos e mercados.3
o encorajamento de fusoes horizontais pela Lei Sherman ter-
minou com a decisao da Suprema Corte de 1904 sobre 0 caso da Nor-
thern Securities, mas a influencia da politic a antitruste no crescimen-
to da pesquisa industrial estendeu-se alem de seus efeitos nas fusoes de
empresas e permaneceu importante muito alem de 1904. A oposiyao
do Departamento de Justiya dos EUA as fusoes horizontais subjacentes
ao caso da Northern Securities levou as grandes empresas norte-ame-
ricanas a procurar formas alternativas de crescimento corporativo. As
ameayas de uma ayao antitruste resultantes de sua dominancia de urn
limco setor levaram-nas a diversificar suas atividades para outras areas.
A P&D interna contribuiu para essa diversificayao, dando suporte a
comercializayao de novas tecnologias que foram desenvolvidas inter-
3Ver Stigler (1968). A Corte Suprema julgou nos casos da Trans Missouri Association em 1898 e da
Addyston Pipe em 1899 que a Lei Sherman considerava ilegais todos os acordos entre empresas com
rela~ao a pre~os ou divisao de mercados. Dados de Thorelli (1954) e Lamoreaux (1985) indicam um
aumento nas atividades de fusao entre os periodos 1895-1898 e 1899-1902. Lamoreaux (1985) argu-
menta que outras fatores, incluindo a crescente densidade de capital das tecnologias de pradu~ao e 0
aumento resultante em custos fixos, foram influencias mais importantes na onda de fusees nos EDA,
mas seu relato (p.109) tambem reconhece a importancia da Lei Sherman no pico da onda de fusees.
Lamoreaux tambem enfatiza os incentivos criados pela maior firmeza na aplica~ao da Lei Sherman apos
1904 para as firmas perseguirem alternativas it fusao ou carteliza~ao como estrategias para alcan~ar ou
preservar poder de mercado.
namente ou compradas de· fontes externas. Ameac;:ado por process os
antitruste de agencias estaduais e federais, George Eastman percebeu
na pesquisa industrial urn meio de apoiar a diversificayao e 0 cresci-
mento da .Eastman Kodak (Sturchio, 1988, p.8).4 Acompanhia Du
Pont usou a pesquisa industrial para diversificar suas atividades para
alem do ramo de p61vora negra e sem fumaya mesmo antes da deci-
sao antitruste de 1913 que a obrigou a alienar uma parte de seus ne-
g6cios de p61vora e dinamite (Hounshell & Smith, 1988, p.57).5
Apesar de ter desencorajado fusoes horizontais entre grandes
empresas dos mesmos ramos de neg6cios, a politica antitruste dos
EVA, durante grande parte do periodo anterior a 1940, nao desenco-
rajou os esforc;:osdessas empresas em adquirir novas tecnologias de
fontes externas. Muitas das inovac;:oesde produtos e processos da Du
Pont durante esse periodo, por exemplo, foram obtidos de fontes ex-
ternas, e a Du Pont os desenvolveu e comercializou ulteriormente no
mercado norte-americano (Mueller, 1962; Hounshell & Smith, 1988;
Hounshell, 1996).6
4 Sturchio (1988) discutiu a funda<;aodo laboratorio de P&D da Eastman Kodak nos seguintes termos,
notando a importante influencia da politica antitruste tanto estadual como federal: "0 mais importan-
te, entretanto, foi provavelmente a preocupa<;ao crescente de Eastman com rela<;aoao aumento no sen-
timento antitruste em ambos os mveis, estadual e federal. Ja em 1903, a Eastman Kodak tinha enfrenta-
do uma a<;aoestadual contra a sua alegada posi<;aomonopolista na industria de materiais fotograficos,
e em 1911 houve sinais de que a Kodak tambem poderia cair na malha do Departamento de Justiy" co-
mo tinha acontecido com a Standard Oil e com a American Tobacco ... Eastman, como seus equiva-
lentes em outras grandes corpora<;oes, viu na pesquisa a solu<;aopara as novas restri<;oes a competi<;ao
tradicional criada pelas medidas antitruste. Se fusoes e combina<;oes horizontais nao seriam mais per-
mitidas, a pesquisa e 0 desenvolvimento poderiam levar a urn crescimento continuado atraves da des-
coberta de novos mercados e de novos negocios de modo consoante a progressiva rejei<;aoas praticas
tradicionais do 'big business"'.
5As atividades de pesquisa da Du Pont Company come<;arama mirar a diversifica<;aopara fora do ramo
da polvora negra e sem fuma<;amesmo antes da decisao antitruste de 1913, que for<;ou a aliena<;aode
parte dos negocios de polvora e dinamite da firma. Discutindo a pesquisa industrial inicial da Du Pont,
Hounshell & Smith (1988) argumentam que "a estategia de diversifica<;aoinicial da Du Pont era basea-
da na utiliza<;aodas plantas, know-how, e capacidade de P&D da companhia na tecnologia de polvora
sem fuma<;a (i.e., mtrocelulose). 0 objetivo era encontrar outros usos para as plantas de nitrocelulose
porque os desenvolvimentos politicos em Washington apos 1907 [restri<;oesdo Congresso a aquisi<;ao
pela Marinha de polvora de trustes] sinalizavam para um declimo significativo, se nao 0 fim, dos nego-
cios da Du Pont com 0 Governo." (p.57).
6 As instala<;oesde pesquisa da AT&T foram providenciais na aquisi<;aodo "triodo" do inventor inde-
pendente Lee de Forest, e pesquisadores da AT&T aconselharam os gerentes corporativos semores em
No inicio da decada de 1940, Schumpeter argumentou em seu
livro Capitalismo, socialismo e democracia que a pesquisa industrial inter-
na as empresas havia substituido 0 inventor-empresario (uma hip6te-
se igualmente sustentada por Schmookler, 1957) refor~ando, ao inves
de reduzir, a posi~ao das empresas dominantes. Os dados de emprego
em pesquisa e de turnover entre as duzentas maiores empresas norte-
americanas sugerem que, de 1921 ate pe10 menos 1946, os efeitos da
pesquisa industrial foram consistentes com suas previsoes.7 As fusoes,
a reorganiza~ao gerencial e 0 desenvolvimento de empresas industriais
gigantes na economia norte-americana durante 0 periodo de 1890 a
1920 estiveram associados a uma maior estabilidade na estrutura de
mercado da industria e um declinio no turnover das firmas (Edwards,
1975; Kaplan, 1964; Collins & Preston, 1961). Niveis mais e1evados de
emprego em P&D estiveram associados a menores probabilidades
de deslocamento de firmas nas c1assifica~oes das duzentas maiores
empresas industriais norte-americanas no periodo de 1921 a 1946
(Mowery, 1983). Na medida em que a politica federal antitruste mo-
tivou 0 investimento em pesquisa industrial por parte das grandes em-
presas dos EVA antes e durante 0 periodo de entre-guerras, essa poli- -
tica pode ter paradoxalmente auxiliado a sobrevivencia dessas firmas
e 0 crescimento de uma estrutura de mercado relativamente estavel e
oligopolista em muitas indus trias de transforma~ao norte-americanas.
sua decisao de obter a tecnologia de bobinas indutivas de Pupin (Reich, 1985). As opera~6es de pes-
quisa da General Electric monitoraram avan~os tecno16gicos estrangeiros em filamentos de Himpadase
em atividades inventivas de outras empresas ou de individuos, e procuraram obter patentes para inova-
~6es desenvolvidas no mundo todo (Reich, 1985,p.61).A Standard Oil Company de Nova Jersey esta-
beleceu 0 seu Departamento de Desenvolvimento precisamente para desenvolver tecnologias obtidas de
outras fontes, ao inves de pesquisas originais (Gibb & Knowlton, 1956, p.525). As opera~6es de P&D da
Alcoa tambem monitoravam de perto, e freqiientemente compravam, inova~6es de processos de fontes
externas (Graham & Pruitt ,1990, p.145-7).
7 De forma interessante, e ao contrario da formu1a~ao usual de uma das "hip6teses" de Schumpeter, ess-
es resultados sugerem que a conduta das empresas (emprego ern P&D) foi uma importante in£1uencia
na estrutura de mercado (turnover). De modo geral eles tambem sac consistentes corn os resultados de
estudos com dados mais recentes da rela~ao entre investimentos ern P&D e estrutura de mercado, os
quais sugerem que a estrutura e os investimentos ern P&D sac deterrninados conjuntamente (Levin,
Cohen & Mowery, 1985).
o papel das patentes nas origens
da pesquisa industrial dos EUA
Os efeitos da politica antitruste dos EUA no crescimento da pesquisa
industrial foram refon;:ados por outras a<;:oesjudiciais e legislativas, no
fim do seculo XIX e inicio do seculo xx, que fortaleceram os direi-
tos de propriedade intelectual. A revisao pelo Congresso norte-ame-
ricano das leis de patentes em 1898 estendeu a dura<;:aoda prote<;:ao
dada pelas patentes norte-americanas cobrindo inven<;:oespatentea-
das em outros paises (Bright, 1949,p.91).8 A decisao da Suprema Cor-
te de 1908 (Continental Paper Bag Company vs. Eastern Paper Bag
Company) de que patentes relativas a bens fora de produ<;:aoeram va-
lidas (Neal & Goyder, 1980, p.324) ampliou a utilidade dos grandes
portfolios de patentes com objetivos defensivos.
Outras a<;:oesdo Congresso nas duas primeiras decadas do se-
culo XX aumentaram 0 numero de examinadores da Divisao de Pa-
tentes, tornaram mais eficientes os procedimentos de revisao funcio-
nais e transferiram a Divisao de Patentes do Departamento do
Interior para 0 do Comercio, orgao governamental acusado de re-
presentar os interesses da industria dos EUA (Noble, 1977, p. 107-8).
8 A clausula original da Lei de Patentes dos EUA e 0 momento de suas mudan<;assac indicadores do
crescente pape! dos Estados Unidos como fonte de tecnologia industrial, e de uma mudan<;a de seu
status hist6rico de "mutuario" de tecnologias industriais de fontes estrangeiras. Como nota Bright
(1949, p.88), "As leis de patentes naque!e tempo [anos 1890] continham uma clausula de que uma
patente norte-americana era vilida somente pe!o prazo da patente de vida mais curta em urn pais
estrangeiro, se a patente estrangeira tivesse sido emitida primeiro. A patente canadense [para 0 filamen-
to de carbono de Edison] foi declarada invalida pelo subcomissario de patentes do Canada, em 16 de
fevereiro de 1889, par desobediencia aos estatutos canadenses referentes it industria e importa<;ao. Se
aque!a decisao tivesse sido mantida, a patente norte-americana provave!mente teria sido invalidada tam-
bern, pois a patente canadense tinha sido aprovada antes da norte-americana". Pressoes de empresas dos
EUA que haviam tornado-se proprietarias de patentes levaram it revisao desse estatuto:"As leis norte-
americanas de patentes foram revisadas a partir de primeiro de janeiro de 1898, para incluir uma clau-
sula estipulando que requerimentos de patentes nacionais podiam ser apresentados a qualquer momen-
to no intervalo de sete meses a partir do primeiro requerimento estrangeiro sem prejudicar 0 prazo total
de dezessete anos da patente norte-americana, nao importando a sua data de emissao.Esta revisao resul-
tou em grande parte da agita<;aocriada durante 0 inicio dos anos 1890 quando a patente de Edison e
algumas outras patentes fundamentais de outras indus trias foram interrompidas antes de seu prazo final.
A modifica<;aoteve uma importante influencia na extensao da prote<;ao it patente na ilumina<;aoincan-
decente ap6s aque!a data" (Bright, 1949, p.91).
Essas mudanc;:as na politica e na organizac;:ao da Divisao de Patentes
foram introduzidas em parte para melhorar a velocidade e consisten-
cia dos procedimentos atraves dos quais eram estabelecidos os direi-
tos de propriedade intelectual. Direitos de propriedade intelectual
mais fortes e mais claros facilitaram 0 desenvolvimento de urn mer-
cado para a aquisic;:aoe venda de tecnologias industriais. A tolerancia
judiciaria com politicas de licenciamento restritivas de patentes au-
mentou ainda mais 0 valor das patentes nas estrategias de pesquisa
empresanalS.
Embora a procura de novas patentes tivesse fornecido urn in-
centivo para 0 prosseguimento da pesquisa industrial, sua iminente
expirasao criou outro importante impeto para 0 estabelecimento de
laborat6rios de pesquisa industrial. Tanto a American Telephone and
Telegraph como a General Electric, por exemplo, estabeleceram
ou expandiram seus laborat6rios pr6prios como resposta a intensa
pressao competitiva que resultou da expirac;:ao de patentes cruciais
(Reich, 1985;Millard, 1990, p.156). Esforc;:osintensivos para melhorar
e proteger 0 patrimonio tecnol6gico empresarial foram combinados
com urn crescente aumento da aquisic;:aode patentes em tecnologias
relacionadas de outras empresas e de inventores independentes.
As patentes tambem permitiram a algumas empresas manter
seu poder de mercado sem infringir as leis antitruste. A sentenc;:aju-
dicial de 1911 encerrando 0 processo antitruste do governo federal
contra a General Electric deixou 0 seu esquema de patentes em
grande medida intocado, permitindo que a empresa mantivesse am-
pIa margem de manobra no ajuste dos termos e condic;:6es das ven-
das de Iampadas produzidas por suas licenciadas, podendo, assim, pre-
servar urn cartel efetivo no mercado de Iampadas dos EVA (Bright,
1949, p.158). 9 0 licenciamento de patentes forneceu a base para a
9 Bright (1949, p.158) notou que: "0 que a sentenc;:a[de 1911] nao requeria era de importancia equi-
valente. Nenhuma restric;:aofoi instaurada sobre 0 direito do fabricante de adquirir patentes para for-
talecer seus interesses. Alem disso, a senten,a determinava explicitamente que os Iicenciamentos de
patentes deveriam especificar quaisquer prec;:os,termos e condi,oes de venda desejados, embora nao
participayao da General Electric e da Du Pont nos carteis internacio-
nais das industrias de produtos quimicos e de equipamentos eletricos
no periodo de entre-guerras. Os participantes norte-americanos nes-
ses acordos de divisao do mercado internacional fizeram gran des es-
foryos para transformar seus acordos internacionais em esquemas de
licenciamento de patentes, argumentando que arranjos de licenyas
exc1usivas e restriyoes na explorayao comercial de patentes nao iriam
infringir as leis antitruste dos EUA.10
Mudanyas na estrutura do sistema de propriedade intelectual
dos EUA no inicio do seculo xx, assim como 0 tratamento da proprie-
dade intelectual pelo Poder Judiciario, intensificaram os incentivos as
empresas tanto para internalizar a pesquisa industrial como para inves-
tir em tecnologias de fontes externas. Tendo como pano de fundo
uma aplicayao mais rigida da legislayao antitruste, as decisoes judiciais
autorizando 0 uso de patentes para criar ou manter posiyoes de po-
der no mercado tambem criaram incentivos adicionais para promover
atividades de P&D internas. Direitos de propriedade inte1ectual mais
fortes e mais consistentes tambem' melhoraram 0 funcionamento do
mercado de propriedade intelectual, facilitando 0 usa das instalayoes
de pesquisa internas as empresas para adquirir novas tecnologias.
pudessem fixar pre<;osde revenda. Aquela permissao deixou uma abertura enorme para a continuida-
de do controle da industria de l:'impadas incandescentes pela General Electric, e essa empresa !ider
aproveitou-se disso em anos seguintes. Como as liimpadas GEM [General Electric Metalized] de t:'in-
talo e tungstenio estavam rapidamente substituindo as lampadas ordinarias de carbono, urn mere ado
aberto de l:'impadasde carbono nao tinha muita import:'inica. 0 controle da General Electric dos pre-
<;oscobrados por suas licenciadas nao foi seriamente afetado, e ela reteve 0 seu monop6lio de paten-
tes nos novos tipos de l:'impadas".
10 Discutindo 0 acordo de Patentes e Processos de 1929 entre a lCI e a Du Pont, Taylor & Sudnik (1984,
p.126) argumentam que: "Embora ambas as partes esperassem estabelecer urn entendimento dentro do
qual sens mercados nacionais seriam protegidos e seriam estabelecidos dispositivos para uma explora<;ao
ordenada de novas tecnologias quimicas, a Du Pont esfor<;ou-separa fazer 0 acordo conforme as leis anti-
truste norte-americanas, como estas eram entendidas em 1929.]ohn K.]enney, secretario do comite de
rela<;6esexteriores da Du Pont naquela epoca, sustentou que: 'Segundo a opiniao de nossos advogados,
era perfeitamente legal relacionar restri<;6escomerciais as patentes '" Era legallicenciar uma patente ou
urn processo secreta em uma base exclusiva, que tinha 0 efeito de prevenir a exporta<;aopelo outorgan-
te da licen<;ada patente de urn produto coberto por aquela patente ou processo secreto"'.
Embora a historiografia recente sobre a pesquisa industrial nos EUA
esteja focada principalmente na industria eletrica (uma exces:ao e
Hounshell & Smith, 1988), os limitados dados disponiveis sobre 0
crescimento das atividades de pesquisa industrial sugerem que os pro-
dutos quimicos e os setores a eles relacionados foram os primeiros in-
vestidores dominantes em P&D. As industrias de produtos quimicos,
vidro, borracha e petr6leo representaram aproximadamente 40% do
numero de laborat6rios fundados entre 1899 e 1946.0 setor de pro-
dutos quimicos tambem dominou 0 emprego em atividades de pes-
quisa entre 1921 e 1946. Em 1921, as industrias de produtos quimicos,
vidro, borracha e petr6leo eram responsaveis por pouco mais de 40%
do total de pesquisadores cientistas e engenheiros empregados no se-
tor industrial. A dominancia das industrias relacionadas a produtos
quimicos no emprego de pesquisadores foi suplementada durante es-
se periodo por industrias cujas tecnologias de produtos e processos
baseayam-se na fisica. Os fabricantes de maquinario e instrumentos
eletricos eram responsaveis por menos de 10% do total de empregos
em pesquisa em 19210Ja em 1946, entretanto, essas duas industrias ti-
nham mais do que 20% de todos os cientistas e engenheiros empre-
gados em pesquisa industrial nos EUA, e as indus trias baseadas em
produtos quimicos haviam aumentado a sua participas:ao para pouco
mais do que 43% do total de empregos em pesquisa.
A Tabela 1 fornece dados sobre empregos em laborat6rios de
pesquisa em 1921, 1927, 1933, 1940 e 1946 em 19 setores industriais e
na industria de modo geral (excluindo setores de produtos diversos).
o emprego de cientistas e engenheiros em pesquisa nesses ramos in-
dustriais cresceu de aproximadamente 3 mil em 1921 para quase 46
mil em 1946.110 ordenamento dos ramos industriais por intensidade
11 Os dados da Tabela 1 foram extraidos originariamente das pesquisas do National Research Council
sobre emprego em pesquisa industrial, conforme tabula~ao de Mowery (1981).
de pesquisa mostra-se notadamente estavel - com os produtos qui-micos, borracha, petr61eo e maquinario eletrico figurando entre as
. indus trias de maior densidade de pesquisa, responsaveis por 48% a
58% do emprego total de cientistas e engenheiros em pesquisa indus-
trial durante todo esse periodo. Os principais empregadores de pes-
quisadores do pre-guerra continuaram figurando entre as indus trias
com maior densidade de pesquisa durante boa parte do periodo p6s-
guerra, apesar do crescente financiamento federal para a pesquisa na
industria. As industrias de produtos quimicos, borracha, petr61eo e
maquinario e1etrico eram responsaveis por mais de 53% do emprego
na pesquisa industrial em 1940 e representavam 39,7% dos empregos
em pesquisa da industria norte-americana em 1995 (National Science
Foundation, 1996).12
12 Uma estabilidade similar e revelada pela concentra,ao geografica do emprego em pesquisa industrial
durante esse periodo. Cinco Estados (Nova York, Nova Jersey, Pensilvania, Ohio e Illinois) concentra-
vam mais de 70% dos profissionais empregados em pesquisa industrial em 1921 e 1927; suas participa-
,oes declinaram modestamente, para pouco mais que 60%, em 1940 e 1946. Em outras palavras, a con-
centra,ao regional de firmas de alta tecnologia e de P&D nos Estados Unidos estavaja bem estabelecida
antes dos anos 1950.
TABELA 1 - Emprego de cientistas e engenheiros em laborat6rios de pes-
quisa industrial de empresas industriais dos EVA, 1921-1946
Numero de empregados (empregos por mil trabalhadores na produ~ao)
Setores industriais 1921 1927 1933 1940 1946
Alimentos/bebidas 116 354 651 1.712 2.510
(0,19) (0,53) (0,973) (2,13) (2,26)
Fumo 4 17 54 67
Texteis 15 79 149 254 434
(0,015) (0,07) (0,15) (0,23) (0,38)
Confec<;:6es 4 25
(o,OOS) (0,°3)
Produtos de madeira 3° 50 65 128 187
(0,043) (0,16) (0,22) (0,30) (0,31)
M6veis 5 19 19
(0,041) (0,10) (0,07)
Papel 89 189 302 752 77°
(0,49) (0,87) (1,54) (2,79) (1,96)
Editorial 4 9 28
(0,015) (0,03) (0,06)
Produtos quimicos 1.102 1.812 30255 7.675 14·066
(S,2) (6,52) (12,81) (27,81) (30,31)
Petr61eo 159 465 994 2.849 4.750
(1,83) (4,65) (11,04) (26,38) (28,79)
Produtos de borracha 2°7 361 564 1.000 1.069
(2,04) (2,56) (5,65) (8,35) (5,2)
Couro 25 3S 67 68 86
(0,09) (0,11) (0,24) (0,21) (0,25)
Minerais nao-metalicos 96 410 569 1.334 1·5°8
(0,38) (1,18) (3,25) (5,0) (3,72)
Metais primarios 297 538 850 2.113 2-460
(0,78) (om) (2,0) (3,13) (2,39)
Produtos metalurgicos 193 334 5°0 1·332 1.489
(0,27) (0,63) (0,153) (2,95) (1,81)
Maquinario nao-eletrico 127 421 629 2.122 2·743
(0,25) (0,65) (1,68) (3,96) (2,2),
Maquinario eletrico 199 732 1.322 30269 6·993
(1,11) (2,86) (8,06) (13,18) (11,01)
Equipamentos de 83 256 394 1.765 4-491
transporte (0,204) (0,52) (1,28) (3,24) (4,S8)
Instrumentos . 127 234 581 1.318 2.246
(0,396) (0,63) (2,69) (4,04) (3,81)
TOTAL 2·775 6.274 10.918 27·777 45.941
Fonte: Mowery (1981).
Obs.: Os numeros entre parenteses correspondem as participa~6es percentuais de cada setor.
As atividades de pesquisa foram reconhecidas como profissoes im-
portantes tanto na industria dos EUA como no ensino superior ape-
nas ao final do seculo XIX, e a pesquisa em ambos f01 influenciada
peIo exemplo (e, no caso da industria norte-americana, pela pres-
san competitiva) da industria e da Academia alemas. A dependencia
de muitas universidades dos EUA em reIa<;:aoaos financiamentos do
Estado, a modesta dimensao desse financiamento e a rapida expan-
san de suas atividades de treinamento contribuiram para 0 cresci-
mento dos vinculos formais e informais entre a pesquisa industrial
e a universitaria. As universidades tornaram-se urn ponto focal pa-
ra 0 monitoramento das atividades de tecnologia externa de mui-
tos laborat6rios industriais de pesquisa dos EUA antes de 1940, e pe-
10 menos algumas dessas conexoes entre as universidades e as
empresas envolveram 0 desenvolvimento e comercializa<;:ao de no-
vas tecnologias e produtos.
Esses vinculos entre a pesquisa academic a e a industrial foram
poderosamente influenciados pela estrutura e financiamento descen-
tralizados do ensino superior nos EUA, especialmente das institui<;:oes
publicas dentro do sistema. 0 financiamento publico criou urn siste-
ma de ensino superior substancialmente maiar do que 0 da maio ria
das na<;:oeseuropeias. A fonte desse financiamento publico foi, entre-
tanto, igualmente importante. 0 proeminente papel dos governos es-
taduais no financiamento do sistema de ensino superior dos EUA no
pre-guerra levou as universidades publicas a procurar oferecer benen-
cios economicos as suas regioes atraves de vinculos formais e infor-
mais com 0 setor industrial (Rosenberg & Nelson, 1994).
Tanto 0 curriculo como a pesquisa do ensino superior dos EUA
tornaram-se mais voltados para as oportunidades comerciais do que
na maioria dos sistemas europeus de ensino superior. Swann (1988)
descreveu as amplas conexoes entre pesquisadores academicos, de
institui<;:oes educacionais tanto publicas como privadas, e empresas
farmaceuticas que se desenvolveram ap6s a Primeira Guerra Mun-
dial.13 Hounshell & Smith (1988, p.290-2) documentaram uma ten-
dencia similar com rela<;:aoa Du Pont, que financiou bolsas de p6s-
gradua<;:aoem 25 universidades durante os anos 1920, e expandiu seu
programa na decada de 1930 para inc1uir 0 apoio a pesquisadores de
p6s-doutorado. Durante os anos 1920, as escolas e as universidades as
quais e1aconcedera financiamento para bolsas de p6s-gradua<;:ao tam-
bem pediram a Du Pont sugest6es de temas para pesquisa, e, em 1938,
urn pesquisador tider da Du Pont deixou a empresa para tornar-se
chefe do Departamento de Engenharia Quimica da Universidade de
Delaware (Hounshell & Smith 1988, p.295).
Outra universidade com fortes vinculos a empresas locais e na-
cionais era 0 MIT, fundado em 1862, com recursos da Lei Morrill, pe-
10 Estado de Massachusetts.14 Em 1906, 0 Departamento de Enge-
nharia Eletrica do MIT estabe1eceu urn comite consultivo que inc1uia
Elihu Thomson da General Electric, Charles Edgar da Edison Electric
Illuminating Company de Boston, Hammond V Hayes da AT&T,
Louis Ferguson cia Chicago Edison Company, e Charles Scott da
Westinghouse (Wildes & Lindgreen, 1985, p.42-3).A Divisao de Pes-
quisas em Engenharia Eletrica do Departamento, estabelecida em
1913, recebeu contribui<;:6es financeiras regulares da General Electric,
AT&T e Stone and Webster, entre outras empresas. 0 MIT iria ter mais
13 De acordo com Swann (1988, p.50), 0 apoio da Squibb para bolsas universitarias de pesquisas cres-
ceu (em valores correntes) de US$ 18,4 mil em 1925 para mais de US$ 48 mil em 1930, e representava
urn setimo do or,amento total da firma em P&D para 0 periodo.]a em 1943, de acordo com Swann,
bolsas de pesquisa universitarias somando mais que US$ 87 mil significavam 11% do or,amento em P&D
da Eli Lilly and Company. Swann ainda cita programas similares patrocinados pela Merck e pela Upjohn.
140 exemplo do MIT tambem ilustra os efeitos das redu,oes no financiamento estatal no imReto das
Universidades para procurar patrocinadores de pesquisa na industria. Wildes & Lindgreen (1985, p 63)
notaram que a retirada do apoio financeiro ao MIT pelo Estado de Massachusetts em 1919,junto com
o termino do acordo do Instituto com a Universidade de Harvard para ministrar cursos de Engenharia
naquela universidade, levaram 0 presidente do MIT, Richard C. Maclaurin, a estabelecer uma Divisao de
Coopera,ao e Pesquisa Industrial. Essa organiza,ao foi financiada por empresas industriais em troca
de acesso a bibliotecas, laboratorios e equipes do MIT para consultoria em problemas industriais.
Outro vinculo institucional entre 0 MIT e a industria baseada em pesquisa dos EUA foi a Escola Pra-
tica de Engenharia Quimica, estabelecida em 1916 (Mattill, 1991).
tarde urn importante pape1 no desenvolvimento da engenharia qui-
mica nos EVA, e apoiou de perto as empresas norte-americanas de
produtos quimicos e de petr61eio nesse empreendimento (veja a dis-
cussao sobre este assunto mais adiante).
o treinamento de cientistas e engenheirospelas universidades
publicas para empregos em pesquisa industrial tambem uniu as uni-
versidades a industria durante esse periodo. Os doutores treinados em
universidades publicas tiveram uma participa~ao importante na ex-
pansao do emprego na pesquisa industrial durante esse periodo (Thac-
kray, 1982, p.211).150 tamanho desse acervo de mao-de-obra treina-
do foi tao importante quanto a sua qualidade. Embora a situa~ao
houvesse melhorado na decada anterior a 1940, Cohen (1976) notou
que virtualmente todos os cientistas norte-americanos "serios" haviam
completado seus estudos em universidades europeias. Thackray et al.
(1985) argumentaram que a pesquisa norte-americana em quimica
durante esse periodo atraiu a aten~ao (na forma de cita~6es em ou-
tros trabalhos cientificos) devido tanto a sua quantidade como pe1a
sua qualidade.16
15 Hounshell & Smith (1988, p.298) informam que 46 dos 176 doutores orientados por Carl Marvel,
antigo professor do Departamento de Quimica da Universidade de Illinois, foram traba!har para uma
unica empresa, a Du Pont. De acordo corn Thackray (1982, p.221), 65% dos 184 doutores orientados
pelo professor Roger Adams da Universidade de Illinois durante 1918-1958 foram diretamente para urn
emprego industrial. Ern 1940, trinta dos 46 doutores formados pelo Departamento de Quimica da Uni-
versidade de Illinois foram inicialrnente empregados pela industria.
16 "De urn relativo anonimato antes da Primeira Guerra Mundial, a Quimica norte-americana ergueu-
se gradualmente na estima ate uma posiyao de dominio internacional. Quase metade das citayoes nos
Annual Reports [Annual Reports in Chemistry, descrita como 'a principal revista de resenhas britanica']
de 1975 referiam-se a publicayoes norte-americanas. Similarmente, quase metade das citayoes da litera-
tura ern idiomas que nao fosse 0 alemao da Chemische Berichte [a 'principal publicayao ern quimica
alema'] do mesmo ano referia-se a trabalhos, norte-americanos. E impressionante que essa hegemonia
fosse 0 ponto culminante de uma tendencia de presenya crescente de cinqiienta anos, e nao meramen-
te 0 resultado dos desenvolvimentos ocorridos ap6s a Segunda Guerra Mundial. Em segundo lugar, pa-
rece claro que a atenyao crescente recebida nas duas' decadas anteriores it Segunda Guerra Mundial re-
Betiu 0 volume crescente da quimica norte-americana, mais do que uma mudanya na avaliayao do seu
valor. Desde a Segunda Guerra Mundial, entretanto, tanto na Chemische Berichte quanto nos Annual
Reports, a quimica dos EUA foi proporcionalrnente mais citada do que !he seria assegurado somente
pelo crescimento ern quantidade. A proeminencia dos trabalhos norte-americanos na literatura interna-
cional foi sustentada pela sua qualidade" (Thackrayet aI., 1985, p.157; grifos do original).
o PAPEL DO GOVERNO FEDERAL
DOS EVA NA P&D ANTES DE 1940
Apesar das implicas;oes permissivas da c1ausula sobre a "prosperidade
geral" da Constituis;ao dos EVA, 0 apoio federal a ciencia antes da Se-
gunda Guerra Mundial foi limitado. Durante a Primeira Guerra
Mundial, os militares orientaram a P&D e os meios de produs;ao para
o esfors;o de guerra, com exces;ao da industria de munis;oes, na qual
o governo federal contava com a Du Pont.17 Se uma das fors;as arma-
das identificava alguma necessidade cientifica, uma pessoa com as
qualificas;oes apropriadas era convocada para aquela funs;ao. Urn le-
gada dos programas da Primeira Guerra para 0 desenvolvimento da
tecnologia foi 0 National Advisory Committee on Aeronautics -
Naca [Comite Consultivo Nacional Sobre Aeronautica], fundado em
1915 para "investigar os problemas cientificos relacionados com 0 voo
e para dar conselhos aos servis;os aereos militares e outros servis;os de
avias;ao do governo" (Ames, 1925). 0 Naca, que foi absorvido pela
National Aeronautics and Space Administration [Administras;ao Na-
cional da Aeronautica e do Espas;o] em 1958, deu contribuis;oes im-
portantes ao desenvolvimento de novas tecnologias aeronauticas pa-
ra aplicas;oes tanto civis como militares durante sua existencia, mas
foi particularmente importante durante a epoca anterior a 1940.18
17 Sapolsky (1990, p. 13), descrevendo a organiza,ao da Divisao de Pesquisa Cientifica e Desenvolvi-
mento na Segunda Guerra Mundial, caracterizou a experiencia da Primeira Guerra Mundial do seguin-
te modo: "Os militares estavam inicialmente relutantes em admitir a necessidade de assistencia externa
no desenho de armas, e insistiram em dominar 0 esfor,o cientifico criado as pressas e que somente co-
me,ou com 0 envolvimento de tropas norte-americanas nos campos de batalha. Os cientistas que de-
sejavam contribuir para a guerra realizando pesquisas relacionadas com armas eram solicitados, com ra-
ras exce,aes, a aceitar comissaes militares e a trabalhar em instala,aes do governo sob procedimentos
de comando militar. As prioridades das pesquisas eram determinadas pelos militares, e nenhuma aten-
,ao era dada a liga,ao entre 0 desenvolvimento de armas e a experiencia operacional".
18 Vannevar Bush, que 0 chefiou durante os anos 1930, mencionou 0 Naca com aprova,ao como mo-
delo para sua proposta pas-guerra de uma Funda,ao Nacional de Pesquisas em seu influente relatario
de 1945, Science: the Endless Frontier. "0 paddo muito bem-sucedido de organiza,ao do National Ad-
visory Committee for Aeronautics, que promoveu pesquisas basicas em problemas sobre avia,ao duran-
te os ultimos trinta anos, tern sido cuidadosamente considerado na proposi,ao do metodo de designa-
,ao dos Membros da Funda,ao e na defini,ao de suas responsabilidades" (PAO).
Em 1940, ultimo ana a nao ser dominado pelos grandes gastos
associados a mobilizayao do periodo da Guerra, as despesas federais
totais em pesquisa, desenvolvimento e infra-estruturade P&D che-
garam a US$ 74,1 milhoes (National Science Foundation, 1966,
p.149). Desse total, os gastos do Departamento de Agricultura soma-
ram US$ 29,1 milhoes, ou 39%. Em 1940,0 oryamento de pesquisa
do Departamento de Agricultura excedeu 0 oryamento das agencias
que eventualmente seriam combinadas no Departamento de Defe-
sa, cujo oryamento total somava US$ 26,4 milhoes. Esses do is de-
partamentos somados eram responsaveis por 75% de todos os gastos
federais com P&D. OS destinatarios dos restantes 25% foram, em
ordem descendente de importancia: 0 Departamento do Interior
(us$ 7,9 milhoes), 0 Departamento de Comercio (US$ 3,3 milhoes),
o Serviyo de Saude Publica (us$ 2,8 milhoes) e 0 ja citado Naca
(US$ 2,2 milhoes).
Os gastos federais em P&D durante os anos 1930 representaram
de 12% a 20% dos gastos totais dos EUA em P&D. A industria arcou
com quase dois teryos do valor total. 0 restante veio das universida-
des, dos governos estaduais, de fundayoes privadas e de institutos de
pesquisa. Vma estimativa sugere que fundos estatais foram responsa-
veis por ate 14% do financiamento a pesquisa universitaria em 1935
e 1936 (National Resources Planning Board, 1942, p.178). Alem dis-
so, com base nesses dados, e possivel observar que a contribuiyao dos
governos estaduais para pesquisas nao-referentes a agricultura em
universidades parece ter excedido a contribuiyao federal, em nitido
contraste com 0 periodo p6s-guerra.
o IMPACTO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
NA ESTRUTURA DE P&D DOS EUA
Os preparativos para e a entrada dos Estados Vnidos na Segunda
Guerra Mundial em dezembro de 1941 transformaram abruptamente
o buc6lico cenario dos gastos federais em P&D apresentado acima. Fi-
nanciamentos para as categorias de P&D nao-relacionadas com a de-
fesa diminuiram substancialmente em termos reais durante a Guerra.
Mas 0 total de gastos federais em P&D (em d6lares de 1930) subiu de
us$ 83,2 milhoes em 1940 para urn pica de us$ 1.313,6 milhoes em
1945. Durante 0 mesmo periodo, os gastos com pesquisa do Depar-
tamento de Defesa subiram de us$ 29,6 milhoes para US$ 423,6 mi-
lhoes (em d6lares de 1930).
o sucesso e a estrutura organizacional do macic;o programa fe-
deral de P&D durante a Guerra deixaram diversos legados importantes.
o termino bem-sucedidodo Projeto Manhattan, cujo orc;amento de
pesquisa nos anos de pico de 1944 e 1945 excedeu substancialmente 0
orc;amento do Departamento de Defesa, deu origem a urn complexo
de pesquisa e de produc;ao de armas que introduziu a era da verdadei-
ra big science. lronicamente, 0 exito do Projeto Manhattan na criac;ao de
armas com poder destrutivo sem precedentes contribuiu para favorecer
pilidas percepc;oes no p6s-guerra sobre as possibilidades construtivas da
ciencia em grande escala para 0 avanc;o do bem~estar da sociedade.19
Muito menor em termos financeiros, mas relevante como ino-
vac;ao institucional, foi o. Office of Scientific Research and Develop-
ment - OSDR [Escrit6rio de Pesquisa e Desenvolvimento Cientifico],
uma agencia civil dirigida por Vannevar Bush, que passou a firmar
contratos de pesquisa com empresas privadas e universidades. 0 maior
beneficiario das bolsas e contratos do OSDR durante 0 tempo da
Guerra (e 0 inventor daquele dispositivo muito amado pelos adminis-
tradores de pesquisa universitarios, 0 overhead, ou taxa institucional)
foi 0 MIT, com 75 contratos com urn valor total de mais de US$ 116
19 Alguns dos grandes programas de P&D que foram montados par exigencias da Guerra geraram, no
entanto, enormes bene/kios sociais nos anos do p6s-guerra. Urn "drastico" programa da epoca gerou a
penicilina, talvez a maior descoberta medica do seculo XX, amplamente disponivel para 0 tratamento
de molestias infecciosas. Outro programa em grande escala (discutido numa se~ao subseqiiente) fez que
a borracha sintetica de baixo custo se tornasse amplamente disponivel e teve efeitos duradouros nas
indus trias quimicas e petroquimicas nos EUA. E as pesquisas da epoca em microeletronica, dirigidas a
objetivos militares como a melhoria nos sistemas de radares, deixaram urn rico legado de capacidades
tecnol6gicas ampliadas para 0 mundo do p6s-guerra.
milhoes (Owens, 1994; Gruber, 1995).0 maior beneficiario empresa-
rial dos fundos do OSDR foi aWestern Electric, que recebeu apenas
Us$ 17 milhoes (Pursell, 1977, p.364).
o contraste entre a organizar;:ao da P&D durante os periodos
da Primeira e da Segunda Guerra Mundial reflete as capacidades de
pesquisa mais avanr;:adasdas universidades e do setor privado duran-
te 0 segundo confuto global. Os arranjos contratuais desenvolvidos
pe10 OSDR durante a Segunda Guerra Mundial permitiram que es-
sa agencia aproveitasse 0 ample conjunto de capacidades de P&D
academic as e industriais instaladas no periodo entre as duas Guerras.
Os membros da comunidade cientifica foram chamados para reco-
mendar e guiar, assim como para participar em pesquisas cientificas
com benencios militares. 0 OSDR nao era subordinado aos militares
e tinha acesso direto ao presidente, bem como aos comites de ver-
bas do Congresso que fossem pertinentes.
o exito desses arranjos contratuais com 0 setor privado durante
a Guerra contribuiu, no p6s-guerra, para 0 crescimento de urn sistema
de P&D que dependia fortemente do financiamento federal para pes-
quisa e desenvolvimento extramuros.20 Em 1940,0 grosso dos recursos
da P&D federal destinara-se a apoiar pesquisas realizadas no setor publi-
co - por funcionarios publicos federais do National Bureau of Standards
[Escrit6rio Nacional de Pesos e Medidas], do Departamento de Agri-
cultura e do Servir;:ode Saude Publica, ou de instituir;:oes estatais finan-
ciadas por bolsas federais, como as estar;:oesexperimentais de agricul-
tura. No periodo do p6s-guerra, pelo contrario, a maioria dos fundos
de P&D federais apoiaram a realizar;:ao de pesquisas por parte de or-
ganizar;:oes nao-governamentais. Alem disso, 0 dramatico crescimento
do financiamento federal para pesquisas nas universidades contribuiu
para a criar;:aode urn enorme complexo de pesquisa basica nesse setor.
Junto com os contratos federais de compras, 0 financiamento federal
20 Para urna analise euidadasa dessas questoes cantratuais, apesar de atualrnente saar urn pauea datado,
veja-se a estuda de Danhof (1968).
para P&D na industria teve profundas conseqiiencias para 0 sugimento
de uma serie de novas industrias de alta tecnologia no pas-guerra.
As duas caracteristicas marcantes no dispendio em P&D do pas-Guer-
ra sao a magnitude do investimento nacional total e 0 tamanho do
orc;:amento federal para P&D. Durante 0 periodo de 1940 a 1995, os
gastos federais em P&D representaram grande frac;:aodo amplo inves-
timento nacional em P&D. 0 volume total dos recursos destinados a
P&D desde 0 fim da Segunda Guerra Mundial nao somente tem sido
grande quando comparado a histaria previa do pais, mas tambem em
comparac;:ao com 0 de outros paises membros da Organizac;:ao para
Cooperac;:ao e Desenvolvimento Economico. Com efeito, ainda em
1969, quando as despesas em P&D combinadas das maiores economias
estrangeiras (Alemanha Ocidental, Franc;:a,Reino Unido e ]apao)
eram de us$ 11,3 bilhoes, as despesas dos EUA alcanc;:avamUS$ 25,6
bilhoes. Foi somente no final dos anos 1970 que a soma daqueles qua-
tro paises passou a exceder 0 total dos Estados Unidos.
No ambito do sistema de P&D do pas-guerra, os gastos federais
financiaram algo entre metade e dois terc;:os do total da P&D, cuja
maior parcela foi realizada por empresas industriais privadas. Em
1995, a industria foi responsavel por 71% do total nacional de P&D;
pouco mais de 36% da P&D financiada pelo governo federal foi rea-
lizada pela industria privada. Somente 27% da P&D financiada pelo
governo federal foi realizada em laboratarios de ambito federal, em-
bora fontes federais tivessem financiado mais que 35% de toda a P&D
dos EUA em 1995. Os fundos federais tem sido particularmente im-
portantes no apoio a pesquisa basica. Os recursos federais financiaram
58% de toda a pesquisa basica norte-americana em 1995, embora os
estabe1ecimentos de pesquisa federais tivessem realizado somente
9,1% da pesquisa basica dos EUA. As universidades aumentaram sua
impordncia como realizadoras de pesquisa basica durante esse perio-
do. Em 1953, menos de urn ten;:o de toda a pesquisa basica era feita
em universidades e em centros de P&D financiados pelo governo fe-
derallocalizados em universidades e faculdades. Em 1996, entretanto,
essas institui<;:oes realizaram 61% de toda a pesquisa bisica dos EUA
(cf. dados extraidos da National Science Foundation, 1996).
Talvez a outra caracteristica mais re1evante do sistema de P&D dos
EUA do pas-guerra tenha sido a amplitude assumida pela presen<;:afede-
ral no seu ambito, de uma forma que diferiu dramaticamente daque1a
que fora prevista por uma das figuras mais famosas e influentes da poli-
tica cientifica dos EUA durante esse seculo, Vannevar Bush. Em resposta
a uma solicita<;:aodo presidente Roosevelt (uma solicita<;:aoque ele mes-
mo tinha pedido), Bush, 0 adrninistrador da politica de P&D do periodo
da Guerra, redigiu 0 famoso re1atario de 1945 sobre a politica cientifi-
ca federal do pas-guerra: Science: The Endless Frontier. Antecipando ana-
lises economicas subseqiientes, Bush argumentou que a pesquisa bisica
era a fonte fundamental de crescimento economico. Ele defendeu a
cria<;:aode uma agencia federal unica encarregada da responsabilidade
de financiar a pesquisa basica em todas as areas, tanto da defesa como de
nao-defesa, incluindo a saude. A argumenta<;:ao de Bush a favor da di-
re<;:aoda pesquisa basica militar por civis refletia suas experiencias da
epoca da Guerra, tal como sua recomenda<;:ao para que a "Funda<;:ao
Nacional de Pesquisas" focasse 0 seu apoio financeiro a pesquisas ex-
tramuros, principalmente nas universidades da na<;:ao(ver Mowery, 1997,
para uma discussao mais detalhada).As complexidades da politica nacio-
nal do pas-guerra e a resistencia de Vannevar Bush a supervisao pe10
Congresso da agencia terminaram por obliterar sua proposta. Em lugar
de uma unica agencia civil coordenando toda a politica cientifica e os
financiamentos federais, varias agencias especificas, incluindo as milita-
res e os Institutos Nacionais de Saude, assumiram papeis importantes no
apoio a pesquisabasica e aplicada.Ja no fim do ano fiscal de 1950, mais
de 90% dos gastos federais em P&D eram controlados pe10 Departamen-
to de Defesa e pe1aAgencia de Energia Atomica.
Os servi<;:osmilitares tern dominado 0 or<;:amento federal de P&D des-
de a decada de 1970, apenas ficando abaixo dos 50% dos recursos
comprometidos para esse fim em tres anos (ver Figura 1). Em 1960, a
pesquisa vinculada a defesa representou nao menos que 80% dos fun-
dos federais para P&D. Esse percentual declinou acentuadamente em
rela<;:aoaquele mvel (urn declinio contrabalan<;:ado pelo crescimento
do programa espacial) e pairou em torno de 50% ate 0 inicio dos anos
1980, quando voltou a aumentar rapidamente, entrando em lento de-
clinio no final daquela decada e imcio dos anos 1990.
Como resultado da enfase no desenvolvimento da P&D relacio-
nado a defesa e do grande vulto do or<;:amento de P&D destinado a
defesa, a distribui<;:ao do or<;:amento federal em P&D entre os setores
industriais permaneceu altamente concentrada. Aproximadamente
55% desses recurs os federais foram destinados em 1993 para apenas
duas industrias - a de avioes e rnisseis (42%) e a de instrumentos de
mensura<;:ao e cientificos (12%) (National Science Board, 1996). Al-
guns analistas argumentaram que os gastos militares fortaleceram as
capacidades inovadoras das empresas dos EUA nessas industrias duran-
te 0 periodo do pos-guerra (Derian, 1990). Entretanto, avaliar 0 im-
pacto comercial dos gastos militares americanos em P&D no pos-
guerra torna-se complicado pelo fato de que a influencia de tais
gastos e confundida com a influencia das compras militares. Separar
a influencia dos gastos em P&D do Pentagono dos gastos em compras
do proprio Pentigono e ainda mais complicado pela pratica de se
consignar urn percentual dos contratos de aquisi<;:oesmilitares a for:-
necedores de defesa a adendos para "P&D independente" , que geral-
mente nao sao inc1uidos quer no or<;:amento formal de P&D da defe-
sa, quer nos relatorios de gastos com P&D das empresas recebedoras.
FIGURA 1 - 0 comportamento da pesquisa e desenvolvimento fede-
rais: distribuic,:ao dos recursos entre despesas para defesa e nao-defesa (anos
fiscais 1949-1996). Os gastos de 1995 SaDestimados. Os gastos de 1996 SaD
projec,:oes.
go
80
7°
60
'"'":J...,
c 5°OJ
u
00-
40
30
,.-~~
"20 :
10
-- Defesa
------- Nao-defesa
Em algumas tecnologias-chave, como as da aviaS;ao, dos semi-
condutores e computadores, os investimentos em P&D relacionados a
defesa geraram importantes "transferencias" tecno16gicas das aplica-
s;5es militares para aplicas;5es civis durante os anos 1950. Entre as mais
importantes influencias dessas transferencias tecno16gicas, destaca-se
a extensao da similaridade generic a dos requerimentos civis e milita-
res para a adoS;ao de uma tecnologia (ver Nelson, 1984, para discus-
SaDmais detalhada). Freqiientemente, as exigencias comerciais e mi-
litares de desempenho, custo, robustez e outros SaDmuito parecidas
entre si no desenvolvimento inicial de uma nova tecnologia.21 Essa
ampla similitude de requisitos parece ter estado associada a significa-
tivas transferencias de tecnologia microeletronica no inicio dos anos
1960, quando as demandas dos mercados comercial e militar por mi-
niaturizas:ao, baixo calor na operas:ao e robustez nao divergiram mui-
to dramaticamente. A seme1hans:a entre os requerimentos comerciais
e militares em microe1etronica declinou, entretanto, e a demanda mi-
litar e atualmente responsivel por uma parcela muito menor da pro-
dus:ao total de semicondutores nos EUA. Durante os anos 1950 e 1960,
os motores a jato eram aplicados a equipamentos militares estrategi-
cos - como bombardeiros, transportadores e avioes-tanque - os quais
tinham requerimentos de desenho da fuselagem e de desempenho do
motor que se assemelhavam a algumas das necessidades do transpor-
te aereo comercial. Com 0 passar do tempo, entretanto, 0 tamanho e
ate a dires:ao da transferencia dessas tecnologias parecem ter mudado,
como temos notado.22
Outro e1emento novo na estrutura do sistema de pesquisa dos EUA no
pas-guerra foi a expansao da pesquisa financiada publicamente nas
universidades norte-americanas. Apesar de a recomendas:ao deVanne-
var Bush de uma unica agencia de financiamento para a pesquisa basi-
ca nao ter sido posta em pritica, e de sua defesa de urn financiamento
21 De modo interessante, os programas de computadores (softwares) parecem ter sido uma tecnologia
na qual as demandas militares e comerciais divergiram significativamente nos primordios dessa indus-
tria. Como resultado, as transferencias da area militar para a civil que ocorreram nessa tecnologia flui-
ram do financiamento relacionado com a defesa de pesquisas academicas em ciencia da computa,ao
(Laglois & Mowery, 1996).
22 Flamm & McNaugher (1989) sugeriram que as mudan,as na politica de P&D do Departamento de
Defesa contribuiram para 0 declinio da transferencia de tecnologia entre aplica,Des militares e civis. Eles
citam declinios na rubrica de pesquisa basica nos gastos de P&D do Departamento de Defesa e um
aumento na demanda do Congresso para que esses programas de P&D levassem a aplica,Des em siste-
mas de armas a curto prazo, como dois fatores que reduziram essas transferencias.
institucional em lugar de urn baseado em projetos tambem ter sido ig-
norada, as universidades dos EUA tiveram, no entanto, aumentos signi-
ficativos de apoio federal a P&D durante esse periodo. Qualquer que se-
ja 0 criterio de avaliac;:ao,a pesquisa academica cresceu dramaticamente.
A partir de urn myel estimado em aproximadamente US$ 500 milhoes
em 1935-1936, a pesquisa universitaria (exc1uindo FFRDCS) aumentou
para mais de us$ 2,4 bilhoes em 1960, e para US$ 16,8 bilhoes em 1995
(National Science Board, 1996; todos os valores em d6lares de 1987).0
aumento no apoio federal a pesquisa universitaria transformou as prin-
cipais universidades norte-americanas em centros mundiais para a rea-
lizac;:ao de pesquisa cientifica, urn papel que difere significativamente
do papel da Academia dos EUA nos mos do pre-guerra.
o governo federal nao se limitou a expandir a demanda por
pesquisa universitaria. As ac;:oes federais no lado da oferta aumenta-
ram 0 estoque de pessoal cientifico e apoiaram a aquisic;:ao de equi-
pamentos materiais e de instalac;:oes essenciais para a realizac;:ao de
pesquisas de alta qualidade. No caso da Ciencia da Computac;:ao, 0
apoio federal para compras pelas universidades de gran des computa-
dores centrais foi urn elemento indispensavel para a institucionaliza-
c;:aoda nova disciplina academica nas universidades norte-americanas.
Ap6s a Segunda Guerra Mundial, os programas federais tambem au-
mentaram 0 apoio financeiro para estudantes do ensino superior.23
Ao fornecer simultaneamente fundos para 0 ensino universita-
rio e para 0 apoio a pesquisa academica, 0 governo federal fortaleceu
o compromisso das universidades com a pesquisa e reforc;:ou os vln-
culos entre a pesquisa e 0 ensino. A combinac;:ao de pesquisa e ensi-
no nas universidades tornou-se mais aprofundada nos Estados Uni-
dos do que em qualquer outro lugar. Na Europa e ~o Japao, por
23 0 mais conhecido dessesprogramas foi 0 GI Bill, que forneceu substancial apoio financeiro para to-
dos os veteranos de guerra que se matricularam em programas educacionais de nivel universitario; ou-
tros incluiram bolsas de p6s-gradua,ao apoiadas por fundos da National Science Foundation e da Co-
missao de Energia At6mica, bolsas de treinamento dos National Institutes of Health, e bolsas do
National Defense Education Act.
exemplo, uma parcela maior das pesquisas e realizada em institutos
especializados sem vinculos diretos com 0 ensino superior e em la-
borat6rios operados pelos governos.24
Desde 0 inicio dos anos 1980,0 papel central do governo fede-
ral no apoio a pesquisa academic a tern sido suplementado pelo cres-
cente financiamento vindo das industrias, com as liga<;:6esentre uni-
versidades e a industria tendo atraido comentarios consideraveis.Entretanto, como foi notado em' nossa discussao sobre 0 sistema de
P&D pre-1940, essas liga<;:6esja estavam bem estabelecidas antes da Se-
gunda Guerra Mundial. De fato, a parcela dos gastos com pesquisas
em universidades financiadas pela industria parece ter declinado du-
rante a maior parte do periodo p6s-guerra.25 Em 1953, a industria ha-
via financiado 11% da pesquisa universitaria, uma parcela que caiu pa-
ra 5,5% em 1960 e para 2,7% em 1978, em parte como resultado do
aumento de financiamentos do governo federal para pesquisas acade-
micas. Ja em 1992, 0 apoio industrial para pesquisas. academic as tinha
24Ver National Research Council (1982) e Okimoto & Saxonhouse (1987), Sharp (1989, p,12-3) argu-
menta que 0 papel menos proeminente da pesquisa cientifica em universidades da Europa contribuiu ai
para urn crescimento mais lento das pequenas empresas de biotecnologia: "0 pesquisador de urn labora-
tario do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) frances, ou de urn laboratario do Max
Planck Institut alemao, e urn empregado de dedica~ao exclusiva daquela institui~ao, Como pesquisador,
sua responsabilidade primaria e com a ciencia publica, e nao a privada. Alem disso, como empregado de
dedica~ao exclusiva, elel ela nao vai achar facil empreender as 'misturas' de pesquisas frequentemente rea-
lizadas por professores norte-american os, que combinarn suas posi~oes academicas com consultorias no
setor privado. Com efeito, a tradi~ao de financiar durante somente nove meses do ana as posi~oes acade-
micas nos EVA, esperando que' 0 academico desejoso de realizar pesquisas nas ferias consiga fundos de
pesquisa para cobrir os tres meses de salarios remanescentes, encorajararn explicitamente 0 academico em-
presarial. Em claro contraste, seu equivalente alemao no Max Planck Institut vai encontrar todos os cus-
tos da pesquisa, incluindo equipe e equipamentos, financiados como parte da contrapartida institucional,
o risco de deixar tal ambiente de pesquisa pela inseguran~a de uma pequena empresa e enorme, pois,
uma vez tendo deixado a estrutura academica na Alemanha Ocidental, torna-se mais dificil entrar nela
novamente, 0 mesmo se da na Fran~a, com 0 desestimulo adicional dos pesquisadores franceses serem
funcionarios publicos e de perderem com a saida do sistema tanto a seguran~a dos beneficios acumulados
quanta a dificuldade de nele reingressarem caso necessario. Nessas circunstancias, talvez nao seja cio sur-
preendente que apare~arn poucas empresas derivadas do setor publico, ou que, nesse caso, a maioria das
empresas spin-offs da Europa sejam encontradas na Inglaterra, cuja organiza~ao da ciencii academica e si-
milar i dos EVA. No Reino Vnido, e significativo que - com a exce~ao da Celltech e da Agricultural
Genetics Company - a maioria dos spin-offs da biotecnologia tenharn surgido das universidades".
25 Poder-se-ia argumentar que 0 enfraquecimento dos vinculos de pesquisa entre as universidades e a
industria durante uma por~ao significativa do periodo do pas-guerra constituiu uma altera~ao real das
crescido novamente, tendo sido responsavel por aproximadamente 7%
dos gastos em pesquisas academicas, com 0 financiamento industrial
permanecendo aproximadamente nesse mvel ate 1997.
Outras importantes institui<;:oes academicas que tern recebido
muito menos aten<;:ao dos estudiosos, mas que provaram ser uma fon-
te de inova<;:oes enormemente significativas durante 0 periodo do pos-
guerra, foram os centros medicos universitarios. Combinando a pes-
quisa cientifica com a pratica clinica, os centros medicos universitarios
dos Estados Unidos foram capazes de conectar a ciencia e a inova<;:ao
num grau notavel, tornando possivel uma rapida obten<;:ao de feedbacks
dos cientistas por parte dos medicos no desenvolvimento de novos dis-
positivos e procedimentos, facilitando os testes clinicos de novos far-
macos, e contribuindo poderosamente para inova<;:oes tanto em dispo-
sitivos medicos quanto em produtos farmaceuticos. Essa combina<;:ao
de aplica<;:oescientmcas e clinicas em uma unica institui<;:ao nao e usual
- como apontaram Henderson, Orsenigo & Pisano (1998) e Gelijns &
Rosenberg (1998). A maioria das institui<;:oes medicas da Europa oci-
dental enfatiza a pratica clinica e as aplica<;:oesmuito mais expressiva-
mente do que a pesquisa cientifica propriamente dita. Assim, tal como
em outros segmentos cia pesquisa academic a nos EVA, os incriveis
avan<;:osnas tecnologias biomedicas durante 0 periodo do pos-guerra
e os grandes e multifuncionais centros medicos universitarios foram
tendencias historicas. Hounshell & Smith (1988, p.355) resumem urn oficio de 1945 de Elmer Bolton,
diretor do que posteriormente viria a ser a laboratorio de pesquisa central da companhia Du Pont, em
defesa de uma maior auto-suficiencia da firma em pesquisa basica: "Tres coisasseriam necessarias:a Du
Pont teria que fortalecer suas organiza<;5esde pesquisa e aloja-las em instala<;5esmodernas; as proces-
sos existentes na firma teriam que ser me!horados e novos processos e produtos desenvolvidos; e a
'pesquisa fundamental, que constitui urn alicerce para novas avan<;osem quimica aplicada, deveria ser
expandida nao somente no Departamento de Quimica, mas tambem em nossos laboratorios de pesqui-
sa industrial e no Departamento de Engenharia'. Bolton ressaltou que nao era mais 'passive! contar na
mesma extensao do que no passado com a pesquisa universitaria para suprir esse apoio e que, portan-
to, em anos futuros seria necessaria que a Companhia fornecesse esse conhecimento numa extensao
muito maior atraves de seus proprios esfor<;os'.Para 'manter sua lideran<;a'a Du Pont teria que 'realizar
pesquisas fundamentais em uma escala muito mais ampla, para fornecer mais conhecimentos para ser-
vir de base a pesquisa aplicada"'. Swann (1988, p.170-81) tambem argumenta que as vinculos de pesc
quisa entre as universidades norte-americanas e a industria farmaceutica se enfraqueceram significativa-
mente logo apos a Segunda Guerra Mundial, em parte como resultado do considerave! aumento do
financiamento federal para pesquisas academicas nas ciencias da saude.
beneficiados por substanciais influxos de financiamentos federais. Os
National Institutes of Health, em particular, tiraram proveito de urn
forte apoio politico bipartidirio durante decadas, e 0 financiamento de
P&D em ciencias e aphca<;:oesbiomedicas foi abundante. Mas essa dis-
cussao tambem subestima a medida em que as universidades e as ins-
tala<;:oesde pesquisa academic a mantiveram uma presen<;:aimportante
no "D" tanto quanta na "p" da P&D durante 0 periodo p6s-guerra.
Como foi deixado claro na se<;:aoanterior, as empresas privadas con-
tinuaram a dominar a P&D dos EUA durante 0 p6s-guerra, mediante
deslocamentos das fontes de seu financiamento a P&D. Em 1993, ape-
sar de reahzar 68% do total da pesquisa e desenvolvimento dos EUA,
a industria era responsivel por pouco mais de 50% dos investimentos
em P&D dos EUA. Sua primazia como 6rgao executivo de P&D signi-
ficou, entretanto, urn crescimento continuo dos empregos em pes-
quisa industrial - de menos de 50 mil em 1946 (ver Tabela 1) para
aproximadamente 300 mil cientistas e engenheiros em 1962; 376 mil
em 1970; e quase 800 mil em 1996 (Birr, 1966; U.S. Bureau of the
Census, 1987, p.570; National Science Foundation, 1996, p.109).
A politica antitruste dos EUA permaneceu como influencia im-
portante na pesquisa e inova<;:aoindustrial durante 0 periodo p6s-
guerra, mas tanto a politica como a natureza de sua influencia muda-
ram.A designa<;:aode Thurman Arnold em 1938 para chefiar a Divisao
Antitruste do Departamento de Justi<;:ados EUA, combinada com as
criticas crescentes das grandes empresas e com a concentra<;:ao econo-
mica (haja vista as investiga<;:oesdo Federal Temporary National Eco-
nomic Committee) deram origem a uma politica antitruste muito
mais dura que se estendeu ate os anos 1970. Os processos suscitados
por Arnold e seus sucessores, muitos dos quais foram decididos ou re-
solvidos atraves desenten<;:asde consenso nos anos 1940 e no inicio
da decada de 1950, transformaram as estrategias de pesquisa industrial
do pos:-guerra de muitas grandes empresas norte-americanas.
Essa politica antitruste revisada tornou mais dincil para as gran-
des empresas dos EVA a aquisic;ao de empresas com tecnologias ou
atividades "relacionadas",26 e levou-as a empenhar-se mais firme-
mente no desenvolvimento de fontes intrafirmas para suas novas tec-
nologias. No caso da Du Pont, 0 usa do lab oratorio central e do de-
partamento de desenvolvimento na busca de tecnologias de fontes
externas foi descontinuado pela administrac;ao central em vista da
percepc;ao de restric;oes antitruste a aquisic;oes de empresas em ramos
relacionados. Como resultado, as descobertas internas (assim como
desenvolvimento inter no) de novos produtos tornaram-se uma ne-
cessidade fundamental (Hounshell & Smith, 1988, enfatizam a expan-
sac em P&D da empresa no pos-guerra e sua procura de "novos
nylons"),27 em contraste com a estrategia da firma em P&D anterior a
Segunda Guerra Mundial.
No caso da Du Pont, essa mudanc;a na estrategia de P&D enfra-
queceu os vinculos entre suas crescentes instalac;oes centrais de pes-
quisa, nas quais cada vez mais se concentravam seus esforc;os de
pesquisa basica e suas divisoes operacionais. Os esforc;os de P&D das
unidades ja estabelecidas eram orientados para melhorias cada vez
mais custosas de processos e produtos ja existentes, e a produtividade
da P&D da Du Pont como urn todo decaiu (Hounshell & Smith,
26 Hawley (1966) analisou 0 deslocamento das politicas antitruste no New Deal. Arnold assumiu em
1938, e entre 1938 e 1942, iniciou 312 processos antitruste, consideravelmente mais do que os 46 pro-
cessos iniciados entre 1932 e 1937 ou os 70 iniciados no periodo 1926-1931 (Fligstein, 1990, p.168).
27 Hounshell & Smith (1988) e Mueller (1962) argumentam que a descoberta e desenvolvimento do
nylon, uma das inova~6es de maior sucesso comercial da Du Pont, foi na realidade atipica da estrategia
da empresa em P&D antes de 1940. Em vez de ter sido desenvolvido ao ponto de comercializa~ao a
partir de sua aquisi~ao pela Du Pont, 0 nylon foi baseado na pesquisa basica de Wallace Carothers den-
tro das instala~6es de pesquisa centrais da empresa. 0 desenvolvimento com sucesso do nylon a partir
da pesquisa basica ate a comercializa~ao no entanto exerceu uma forte influencia na estrategia em P&D
da Du Pont no pas-guerra, mesmo porque muitos dos principais executivos da Du Pont tinham tido
um contato direto com 0 projeto do nylon. Hounshell (1992) mostra que a Du Pont teve muito menos
sucesso ao empregar as "li~6es do nylon" para administrar suas custosas inova~oes do pas-Guerra em
fibras sinteticas como 0 Delrin.
1988, p.598). A orientac;:ao para dentro da pesquisa da Du Pont pare-
ce ter afetado 0 desempenho inovador da empresa no pas-Guerra,
embora seus laboratarios centrais tivessem conquistado uma excelen-
te reputac;:ao no ambito da comunidade cientifica global.
Em outras empresas dos EVA, os administradores mais ex-
perientes procuraram manter 0 crescimento atraves da aquisic;:aode
empresas de ramos nao-relacionados, criando conglomerados com
poucas ou ate sem conexoes tecnolagicas de produtos e processos.
Chandler (1990) e outros autores (por exemplo, Ravenscraft & Sche-
rer, 1987; Fligstein, 1990) argumentaram que essa diversificac;:aoexten-
siva enfraqueceu tanto 0 entendimento quanto 0 comprometimento
desses administradores em re1ac;:aoao desenvolvimento das tecnolo-
gias que historicamente tinham sido essenciais para 0 exito compe-
titivo dessas empresas, corroendo a qualidade e a consistencia de suas
tomadas de decisao em assuntos relacionados a tecnologia.
Urn exemplo disso foi a RCA, que seguiu uma estrategia de di-
versificac;:aoconglomerada, mas manteve 0 seu grande campus de pes-
quisa fundamental perto de Princeton, Nova Jersey, que havia dado
contribuic;:oes importantes para tecnologias militares e de produtos
eletronicos. Apesar disso, a empresa foi encontrando crescentes difi-
culdades para obter urn retorno comercial de sua considerave1 capa-
cidade de pesquisa. Assim, a RCA tentou 0 desenvolvimento da extre-
mamente cara e mal sucedida tecnologia do video disco de
entretenimento caseiro (Graham, 1986a), mas falhou em manter a sua
lideranc;:ana produc;:ao de apare1hos de televisao.
Ao mesmo tempo que empresas estabelecidas estavam mudan-
do estrategias de P&D que muitas delas vinham empregando desde 0
inicio do seculo xx, novas firmas comec;:aram a ter urn papel imp or-
tante no desenvolvimento das novas tecnologias geradas pe10 siste-
ma de P&D norte-americano do pas-guerra. A proeminencia das
pequenas empresas na comercializac;:ao de novas tecnologias em e1e-
tronica nos Estados Unidos do pas-guerra contrastava com seu pa-
pel mais modesto nesse setor durante 0 periodo de entre-guerras.
Em industrias que efetivamente nao existiam antes de 1940, tal co-
mo as de computadores e de biotecnologia, as maiores inovas;5es fo-
ram comercializadas basicamente atraves das iniciativas de novas fir-
mas.28 Essas industrias norte-americanas no p6s-guerra diferiam de
suas contrapartes nas economias do Japao e da maior parte da Euro-
pa ocidental, onde as grandes empresas ja estabelecidas nos ramos da
industria eletronica e farmad~utica dominaram a comercializas;ao
dessas tecnologias.
as argumentos de Chandler (1990) e de Pavitt (1990) sobre 0
dominio de novas tecnologias pelas grandes empresas requerem assim
alguma qualificas;ao ao serem aplicados as industrias de alta tecnolo-
gia nos Estados Unidos do p6s-guerra. As significativas contribuis;6es
feitas por grandes empresas no campo dos semicondutores, por
exemplo, nao foram compativeis com 0 seu papel na comercializas;ao
dessas tecnologias. Na biotecnologia, as pequenas empresas desempe-
nharam urn papel importante na expansao do acervo de tecnologias
e na comercializas;ao de seus conteudos.Alem disso, tanto no caso dos
semicondutores como no dos computadores, novas pequenas firmas
cresceram rapidamente ate atingirem posis;6es de tamanho conside-
ravel e amplas fatias de mercado.
Diversos fatores tern contribuido para esse papel proeminente
das empresas novas e pequenas no sistema de inovas;ao do p6s-guer-
ra. as grandes estabelecimentos de pesquisa existentes em universi-
dades, no governo e em diversas empresas privadas serviram de "in-
cubadoras" para 0 desenvolvimento de inovas;5es que "sairam pela
28 Com isto nio se quer negar 0 pape! fundamental de grandes empresas como a IBM em computa-
dores e aAT&T em rnicroe!etronica. Em OU\roscasos, grandes firmas adquiriram companhias menores
e aplicaram a sua experiencia em produ,io e marketing para expandir os mercados de novos produtos
tecno16gicos. Contudo, parece claro que firmas iniciantes foram muito mais ativas na comercializa,io
de novas tecnologias nos Estados Vnidos do que em outras economias industrializadas. Malerba (1985)
e Tilton (1971) real,ararn a importancia das novas e pequenas empresas da industria de sernicondutores
dos EVA; Flamm (1998) descreve seu pape! significante na tecnologia de computadores; e Orsenigo
(1988) e Pisano, Shan &Teece (1988) discutem a impord.ncia dessas firmas na industria de biotecnolo-
gia dos EVA. Bollinger et al. (1983) fizeram igualmente urn levantamento da literatura sobre as "firmas
baseadas em novas tecnologias".
porta" com os individuos que criaram suas firmas para comercializa-
las. Esse padrao foi particularmente significativo nas industrias de
biotecnologia, de microeletronica e de computadores. De fato, os al-
tos indices de mobilidade funcional dentro das aglomeravoes regio-
nais de empresas de alta tecnologia serviram tanto como urn im-
portante canal de difusao da tecnologia quanto como urn ima para
outras empresas com tecnologias afins.
A fundavao e a sobrevivencia de novas e vigorosas empresas
tambem dependeram de urn sofisticado sistema financeiro privado
que apoiou as novas empresas durante a sua inrancia. 0 mercadode
capitais de risco desempenhou urn papel especialmente importante
na implantavao de muitas empresas de microeletronica durante as de-
cadas de 1950 e 1960, e contribuiu para 0 crescimento das industrias
de biotecnologia e de computadores. De acordo com 0 Office of
Technology Assessment (1984, p.274), 0 f1uxo anual de capital de ris-
co para investimentos industriais variou entre US$ 2,5 e US$ 3 bilhoes
entre 1969 e 1977. Os investimentos apoiados por capital de risco es-
pecificamente dirigidos a novas empresas foram, entretanto, substan-
cialmente menores, com uma media de aproximadamente US$ 500
milhoes par ana durante os anos 1980 (Florida & Smith, 1990). Os
fundos de investimento de capitais de risco foram sendo gradualmen-
te suplementados por ofertas public as de participavao.29 As econo-
29Ver Perry (1986) e Mowery & Steinmueller (1994). Sharp (1989, p.9-10) argumenta que "0 merca-
do de capital de risco na Europa e subdesenvolvido. 0 mercado de capitais de risco mais ativo e 0 do
Reino Unido, onde meia duzia de fundos especializados em biotecnologia estao ativos com urn total
estimado de mais de US$ 1 bilhao investidos desde 1980 ... 0 decano desse mercado e 0 Biotechnol-
ogy Investments Ltd (BIL), do Rothschild Fund - agora capitalizado em US$ 200 rnilhoes, e sendo
atualmente 0 maior fundo especializado da Europa. Em contraste, 0 maior fundo de capital de risco ale-
mao, Techno Venture Management, fundado em 1984, tinha uma capitaliza,ao inicial de US$ 10
milhoes, e em 1989 valia apenas US$ 50 milhoes.A disponibilidade de capital de risco, entre tanto, e ape-
nas uma parte da equa,ao. Por exemplo, a BIL, cujos investimentos abarcam biotecnologia e tecnologia
medica, nao encontrou na Europa a qualidade de investimento que eles estavam procurando. Devido a
isso, 75% de seus investimentos estao nos Estados Unidos, e somente 25% na Europa, e estes concen-
trados quase que inteirarnente no Reino Unido. Esse paddo de investimento e espelhado por pratica-
mente todos os fundos de investimento, os quais investem uma grande propor,ao de seus investimen-
tos em biotecnologia no setor de pequenas empresas nos EUA, e somente uma propor,ao muito
pequena em pequenas firmas da Europa".
mias da Europa ocidental ainda tern que gerar suas fontes abundan-
tes similares de capital de risco para novas iniciativas nas industrias de
alta tecnologia (Sharp, 1989, p.9-10). Okimoto (1986, p.562) estimou
que as empresas de capital de risco japonesas nao forneceram mais
que US$ 100 rnilhoes em financiamentos em 1986.
A prote<;:aoformal da propriedade intelectual teve efeitos com-
plexos no crescimento pas-guerra de novas empresas nas varias in-
dustrias de aha tecnologia dos EUA. Em divers as dessas industrias, uma
prote<;:ao formal re1ativamente fraca auxiliou 0 crescimento precoce
dessas novas firmas. A comercializa<;:ao de inova<;:oesem microeletro-
nica e em hardware e sciftware de computadores pe1as novas firmas foi
auxiliada pelo regime de propriedade intelectual permissivo, que fa-
cilitou a difusao de tecnologia e eximiu as novas empresas do encar-
go de litigios re1ativos a inven<;:oes que se originaram parcialmente
em empresas ja estabelecidas. Na microeletronica e na industria de
computadores, as politicas .de sciftware livre e de licenciamento cruza-
do foram subprodutos de processos antitruste, ilustrando as estreitas
conexoes entre esses ramos da politica governamental norte-ame-
ricana. As duas senten<;:asjudiciais de 1956 que encerraram os pro-
cessos contra a IBM e a AT&T determinaram 0 sciftware livre dessas tec-
nologias, reduzindo as barreiras a entrada de novas firmas no setor
entao ainda embrionario dos computadores e semicondutores
(Flamm, 1988).
o ingresso e a expansao de novas empresas de alta tecnologia
foram beneficiados por outra politica federal do pas-guerra, as com-
pras militares. Como foi notado na nossa discussao sobre semicondu-
tores, a politica de aquisi<;:oesmilitares contribuiu para 0 crescimento
de urn considerave1 numero de novas empresas de microeletronica e
contribuiu para os altos indices de transferencia de tecnologia entre
essas firmas. Especialmente nos estagios iniciais dessa industria, as
conseqiiencias das politicas de compras militares foram ainda mais in-
tensificadas pelas transferencias tecnolagicas que fluiram dos produtos
militares para os civis.
Nossa discussao da evolu~ao do sistema norte-americano de P&D en-
fatizou duas transforma~5es estruturais - aquela associada ao apareci-
mento de gran des empresas corporativas no inicio do seculo xx,
muitas das quais foram pioneiras no desenvolvimento dos laborata-
rios de pesquisa industrial, e as mudan~as provocadas nesse sistema
pela Segunda Guerra Mundial e suas seqiielas. A estrutura (se nao ne-
cessariamente tambem a escala) do sistema de P&D pre-1940 nos EVA
era similar aos sistemas de outras economias lideres daquela epoca,
tais como 0 Reino Unido, aAlemanha e a Fran~a. A industria era en-
tao patrocinadora e realizadora de P&D e 0 financiamento do gover-
,no central ainda era modesto. Em contraste com isso, 0 sistema de
P&D dos EVA no pas-guerra passou a diferir daquele das outras eco-
nomias industriais em pelo menos tres aspectos: pequenas novas em-
presas tern sido entidades importantes na comercializa~ao de novas
tecnologias; 0 financiamento da P&D e das compras relacionadas a de-
fesa exerceu uma influencia generalizada nos setores de alta tecnolo-
gia da economia norte-americana; e a politica antitruste dos EVA du-
rante 0 periodo do pas-guerra foi singularmente rigorosa.
Essas tres caracteristicas do sistema no pas-guerra foram mu-
tuamente interdependentes. A P&D e as compras governamentais re-
lacionadas a defesa foram indispensaveis para 0 crescimento de em-
presas iniciantes rtas industrias de semicondutores e computadores.
As politicas antitruste contribuiram para a rapida difusao da proprie-
dade intelectual atraves das industrias nascentes de semicondutores e
de computa~ao. Alem disso, e claro, 0 apoio das agencias federais de
financiamento as empresas e universidades contribuiu para aumen-
tar a oferta de novos desenvolvimentos com potencial comercial. A
comercializa~ao desses desenvolvimentos freqiientemente dependeu
da extensao a empresas muito menores do sistema participativo do
financiamento industrial, algo que distingue a economia norte-ame-
ncana daquelas da Alemanha e do Japao. Muitas das tecnologias
desenvolvidas com 0 apoio dos gastos em P&D relacionados a defesa
durante os anos 1950 e 1960 tambem encontraram aPlicac;:ortucr. 4:--
tivas e substanciais em mercados comerciais. ~.
Os fatores que deram origem a essas caracteristicas estruturais
{micas do sistema de P&D dos EUA no p6s-guerra poderao perder
boa parte de sua influencia nos pr6ximos anos. Em primeiro lugar,
e de modo mais 6bvio, porque os grandes orc;:amentos de defesa que
caracterizaram a economia norte-americana durante a Guerra Fria
foram reduzidos para aproximadamente urn terc;:o,e provavelmente
ficarao abaixo dos niveis de gastos reais dos anos 1980 em futuro
pr6ximo.Alem de sua impord.ncia dec1inante, a transferencia de tec-
nologia para a esfera comercial associada aos altos niveis de gastos
em P&D relacionada a defesa tambem parecem ter decrescido desde
os anos 1950 e 1960, conforme ja notamos neste capitulo. Niveis me-
nores de gastos em P&D e em compras relacionados a defesa, junto
comniveis menores de transferencias de tecnologia, deverao reduzir
a influencia dos gastos com defesa na inovac;:ao comercial dos Esta-
dos Unidos.
A politica antitruste tambem tern sofrido mudanc;:as conside-
raveis desde os anos 1980. A administrac;:ao Reagan deslocou subs-
tancialmente sua filosofia de aplicac;:aopara longe da rigida postura
adotada por praticamente todas as administrac;:oes anteriores. Alem
disso, a partir do National Cooperative Research Act de 1984, 0
Congresso modificou 0 tratamento regulamentar das atividades de
pesquisa associadas a produc;:ao. Essas mudanc;:as de politica decorre-
ram em grande

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