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Professora Pâmella Tayná CRIMES CONTRA VIDA ELESOES CORPORAIS GRAN CURSOS ONLINE #8CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE TÍTULO I CRIMES CONTRA A PESSOA CAP. CRIMES CONTRA A VIDA Há grande relevância em saber quais são os crimes contra a vida, isso porque alguns deles possuem regramento diferenciado. A vida é um direito fundamental e, ainda que goze de expres- siva importância, a exemplo de todos os direitos fundamentais, não é absoluto, pois há casos em que pode ser relativizado, como na hipótese da pena de morte em caso de guerra declarada. Código Penal arrola quatro crimes contra a vida: homicídio (art. 121, CP); induzi- mento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação (art. 122, CP); infanticídio (art. 123, CP) e aborto (art. 123 a 128, CP). A Constituição, em seu art. 5°, XXXVIII, "d", traz a competência mínima para julgamento dos crimes DOLOSOS contra a vida pelo Tribunal do Júri. Isso implica em uma série de mudan- ças procedimentais no processo de apuração do ato criminoso. Perceba que a competência do Tribunal do Júri é para julgamento de crime DOLOSO, logo, dos crimes acima referenciados, apenas homicídio culposo não será de competência do Júri, já que inexiste a figura culposa nos crimes de infanticídio, induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação. No tocante à ação penal, todos os crimes desse capítulo são de ação penal pública incondicionada. Isso significa que titular da ação penal é, a priori, Ministério Público. Con- tudo, havendo inércia, nada impede a utilização do permissivo constitucional do art. 5°, LIX, da CF: ação penal privada subsidiária da pública. 1. (2021/FGV/PC-RJ/PERITO CRIMINAL ENGENHARIA CIVIL) Do ponto de vista legis- lativo, constitui espécie de crime contra a vida: a. lesão corporal seguida de morte. b. abandono de recém-nascido com resultado morte. C. maus-tratos com resultado morte. d. instigação, auxílio ou induzimento à automutilação. e. tortura com resultado morte. Letra d. capítulo do CP cuida de todos os crimes contra a vida, sendo eles: homicídio (art. 121, CP); induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação (art. 122, CP); infan- ticídio (art. 123, CP) e aborto (art. 123 a 128, CP). A despeito de todos os crimes citados na questão invocarem resultado morte, legislador optou por reconhecer como crime contra a vida apenas os já citados. Note, também, que um dos critérios diferenciadores dos crimes é que, nos crimes contra a vida, o dolo do su- jeito ativo é, desde o princípio, atentar contra a vida da vítima, já nos outros crimes, dolo inicial é a prática de outra conduta, sendo a morte apenas resultado. www.grancursosonline.com.br 2CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Art. 121. Homicídio Homicídio simples Caso de diminuição de pena (privilegiado) Art. 121. Matar alguem: § 1° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante Pena - reclusão, de seis a vinte valor social ou moral, ou sob o DOMÍNIO de violenta emoção, logo anos. em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço (- 1/6 a 1/3). Aumento de pena § 4° Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. Homicídio culposo Perdão judicial § 3° Se o homicídio é culposo: (vide § 5° Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar Lei n. 4.611, de 1965) a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente Pena detenção, de um a três anos. de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Aumento de pena § 4° No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Homicídio qualificado § 2° Se homicídio é cometido: mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; (natureza subjetiva Incomunicável a coautores e partícipes comentário nosso) por motivo futil; (natureza subjetiva incomunicável a coautores e partícipes comentário nosso) Doloso Privilégio parte) Causa de aumento de pena. Hediondo III com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; (natureza objetiva comunicável a coautores e partíci- pes comentário nosso) IV à traição (natureza subjetiva), de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido; (natureza objetiva comunicável a coautores e partícipes comentários nossos) V para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: (natureza subjetiva incomunicável a coautores e partícipes comentário nosso) VII contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integran- tes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei n. 13.142, de 2015) VIII com emprego de ARMA DE FOGO de uso restrito ou proibido: (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019) (destaques nossos) www.grancursosonline.com.br 3CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Homicídio qualificado § 2°-A Considera-se que há razões de condição de sexo femi- nino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei n° 13.104, de Feminicídio (Incluído pela Lei n. 2015) 13.104, de 2015) violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei n° 13.104, VI contra a mulher por razões de 2015) da condição de sexo feminino: menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Inclu- (Incluído pela Lei n. 13.104, ído pela Lei n° 13.104, de 2015) de 2015) (natureza objetiva pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a comunicável a coautores e Doloso Privilégio parte) Causa de aumento de pena. Hediondo metade se o crime for praticado: (Incluído pela Lei n. 13.104, de partícipes comentário nosso) 2015) (destaques nossos) I durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei n. 13.104, de 2015) contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos, com deficiên- cia ou com doenças degenerativas que acarretem condição limi- tante ou de vulnerabilidade física ou mental; (Redação dada pela Lei n. 14.344, de 2022) Vigência III na presença física ou virtual de descendente ou de ascen- dente da vítima; (Redação dada pela Lei n. 13.771, de 2018) IV em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, e III do caput do art. 22 da Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei n. 13.771, de 2018) Homicídio contra menor de 14 § 2°-B. A pena do homicídio contra menor de 14 (quatorze) anos (quatorze) anos (Incluído pela é aumentada de: (Incluído pela Lei n. 14.344, de 2022) Vigência Lei n. 14.344, de 2022) 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa com defici- ência ou com doença que implique o aumento de sua vulnerabili- IX contra menor de 14 (qua- dade; (Incluído pela Lei n. 14.344, de 2022) Vigência (destaques torze) anos: (Incluído pela Lei n. nossos) 14.344, de 2022) Vigência 2/3 (dois terços) se autor é ascendente, padrasto ou Pena reclusão, de doze a trinta madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, pre- anos. ceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela. (Incluído pela Lei n. 14.344, de 2022) (des- taque nosso) www.grancursosonline.com.br 4CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Homicídio simple Homicídio simples Art. 121. Matar alguém (destaque nosso): Pena reclusão, de seis a vinte anos. crime de homicídio simples é conceituado como a eliminação da vida extraute- rina praticada por outra pessoa. Tendo por base esse conceito, já podemos extrair pontos importantes: Quem pode ser sujeito ativo e passivo do crime crime de homicídio é classificado como comum, assim, em regra, qualquer pessoa pode praticá-lo, seja individualmente ou em concurso de pessoas. Nesse caso, comportam-se coautoria e participação. Agora imagine a hipótese em que crime seja praticado por xifópagos (irmãos siameses); nesse caso, será necessário saber se delito foi praticado por ambos os irmãos ou só por um deles. Se tiver sido praticado por ambos, não temos dúvidas, ambos respon- derão (pau que dá em Chico dá em Francisco). Se for praticado por apenas um deles, a absol- vição será a medida imposta em virtude do dever legal do princípio da pessoalidade da pena. Quanto à sujeição passiva, o delito também é comum, ou seja, qualquer pessoa pode ser sujeito passivo. É como diz ditado popular, "para morrer, basta estar vivo". Quanto ao sujeito passivo o morto -, é necessário atentar-se que a proteção jurídica prevista nesse artigo é a vida extrauterina, logo, se a vida humana for intrauterina (ainda não houve o parto), não teremos homicídio, mas sim aborto. Se já iniciado o trabalho de parto, a eliminação da vida humana pode caracterizar homicídio ou infanticídio, a depender do caso concreto. Considera-se que a vida extrauterina é iniciada com a primeira respiração autônoma da pessoa que está nascendo, sendo irrelevante perquirir se essa vida tem viabilidade ou não de permanecer, e encerra-se com a morte encefálica. Ainda quanto ao sujeito passivo, é preciso ter em mente princípio da especialidade, pois há casos nos quais as condições pessoais da vítima fazem incidir normas específicas previstas em legislação extravagante, como é caso de homicídio doloso do Presidente da República, que constitui crime contra a segurança nacional (Lei n. 7.170/1983); crime de genocídio (Lei n. 2.889/1956), quando há a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo racial, étnico ou religioso etc. b. Qual é a conduta nuclear do tipo? núcleo do tipo no crime de homicídio é verbo "matar". Diante da simplicidade do caput do art. 121 ("matar alguém"), temos dois pontos a tratar: www.grancursosonline.com.br 5CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Ação ou omissão: crime ocorre de forma livre, ou seja, pode ser praticado tanto por ação quanto por omissão. Quanto à forma omissiva, é preciso lembrar que vínculo entre a omissão e óbito será estabelecido apenas em razão da relevância da omissão do art. 13, § 2°, do CP. Forma direta ou indireta: a forma direta é quando o próprio agente fisicamente manu- seia meio de execução (exemplo: golpes de faca). A forma indireta ocorre quando o agente manipula um terceiro para que este execute crime em seu lugar (exemplo: o dono que ordena ao cão que ataque um terceiro). 2. (2009/CEBRASPE/PM-CE/SOLDADO DA POLÍCIA MILITAR - CURSO DE FORMA- ÇÃO) Lívia, mãe de um recém-nascido, decidida a não mais cuidar da criança, deixou de amamentá-la, vindo bebê a falecer por inanição. Nessa situação, Lívia responderá por omissão de socorro. Errado. Trata-se do crime de homicídio doloso praticado por omissão. núcleo do tipo do art. 121 é verbo "matar", mas é crime de forma livre. Admite, portanto, qualquer meio de execução e pode ser praticado por ação ou por omissão, desde que presente dever de agir, por se enquadrar agente em alguma das hipóteses previstas no art. 13, § 2°, do Código Penal. Como Lívia era a mãe do recém-nascido, ela responde por homicídio, e não por omissão de socorro. 3. DE POLÍCIA CIVIL) Rafael conta a Sandra que tem intenção de matar Raimundo e pede opinião da amiga. Sandra, que secretamente de- sejava a morte dessa mesma pessoa, incentiva que Rafael pratique delito de homicídio contra Raimundo. Influenciado pelas palavras de Sandra, Rafael chama Raimundo para sair com objetivo de matá-lo. Todavia, poucas horas antes, Rafael desiste e manda mensagem para Raimundo desmarcando o encontro. Nessa hipótese, assinale a alternativa correta. Rafael e Sandra devem responder por tentativa de homicídio praticado em concurso de pessoas. b. Nem Rafael nem Sandra poderão ser responsabilizados penalmente. C. Apenas Rafael deve responder por tentativa de homicídio. d. Caso Rafael viesse, efetivamente, a matar Raimundo, Sandra poderia ser conside- rada coautora do delito. e. Apenas Sandra deve responder pelo delito de tentativa de homicídio, a título de par- ticipação, pois Rafael beneficia-se da desistência voluntária. www.grancursosonline.com.br 6CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Letra b. Nem Rafael, nem Sandra poderão ser responsabilizados. Rafael, por não ter adentrado na realização de atos executórios do homicídio que cogitou cometer; Sandra, que participou mo- ralmente da conduta de Rafael, por não ter praticado qualquer ato punível, uma vez que os atos executórios do crime de homicídio que ela estimulou Rafael a praticar não tiveram início. Elemento subjetivo homicídio pode ser doloso ou culposo. dolo de matar é denominado de animus necandi e não se condiciona a nenhuma finalidade especial, ou seja, sujeito intencional- mente matou um indivíduo ou assumiu risco de fazê-lo. Muito já se discutiu sobre a possi- bilidade de dolo eventual no crime de homicídio. Hoje, contudo, é pacificado que há compa- tibilidade entre dolo eventual e crime de homicídio. A maior discussão acerca da possibilidade ou não do reconhecimento do dolo eventual para crime de homicídio envolve a influência do álcool na direção de veículo automotor. Em 2018, STF decidiu que simples fato de condutor do veículo estar embriagado não gera a presunção de que tenha havido dolo eventual, sendo imprescindível demonstrar que o agente tenha assumido risco do resultado: Verifica-se a existência de dolo eventual no ato de dirigir veículo automotor sob a influ- ência de álcool, além de fazê-lo na contramão. Esse é, portanto, um caso específico que evidencia a diferença entre a culpa consciente e dolo eventual. O condutor as- sumiu o risco ou, no mínimo, não se preocupou com risco de, eventualmente, cau- sar lesões ou mesmo a morte de outrem (STF. Turma. HC n. 124.687/MS, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/5/2018 Info 904). 4. (2018/FUNDATEC/DPE-SC/ANALISTA TÉCNICO) Pode-se asseverar que se o agente ativo, portador de HIV AIDS, tem por intenção transmitir a sua doença a outrem, poderá responder pelo delito de perigo de contágio de moléstia grave, se o seu dolo se dirigir tão somente à transmissão da doença; poderá responder pelo delito de homicídio ou de tentativa de homicídio, se seu dolo se dirigir para além da transmissão da doença à morte da vítima; ou, ainda, poderá responder por lesão corporal de natureza gravíssima, se seu dolo se dirigir à produção de ofensa à integridade física ou saúde da vítima, com o resultado enfermidade incurável, ou, ainda, por lesão corporal seguida de morte, acaso essa ocorra, mas dolo do agente abranja apenas a intenção de lesionar a vítima. www.grancursosonline.com.br 7CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Certo. Esse tema é bastante polêmico. Não há consenso sobre a correta tipificação. A princípio, a conduta não se enquadra no crime de perigo de contágio venéreo (art. 120, CP), pois a AIDS não é moléstia venérea e não é transmitida apenas sexualmente. STF, contudo, já disse que a conduta pode configurar crime de perigo de contágio de moléstia grave (art. 121), crime de lesão corporal gravíssima ou, ainda, crime de homicídio. Tudo depende do dolo do agente. 5. E DE INSPETOR DE POLÍCIA TARDE) dolo do homicídio pode ser direto (o agente quer resultado) ou eventual (o agente assume risco de produzi-lo). Letra 6. (2018/FGV/TJ-AL/TÉCNICO JUDICIÁRIO ÁREA JUDICIÁRIA) Arlindo desferiu diver- golpes de faca no peito de Tom, sendo que, desde início dos atos executórios, tinha a intenção de, com seus golpes, causar a morte do seu desafeto. No início, os primeiros golpes de faca causaram lesões leves em Tom. Na quarta facada, porém, as lesões se tornaram graves, e os últimos golpes de faca foram suficientes para alcançar o resultado morte pretendido. Arlindo, para conseguir resultado final mais grave, praticou vários atos com crescen- tes violações ao bem jurídico, mas responderá apenas por um crime de homicídio por força do princípio da: a. subsidiariedade, por se tratar de progressão criminosa. b. alternatividade, por se tratar de crime progressivo. C. consunção, por se tratar de progressão criminosa. d. especialidade, por se tratar de progressão criminosa. e. consunção, por se tratar de crime progressivo. Letra e. A questão busca saber da aplicação do princípio da consunção. Como a intenção do agente era, desde princípio, a morte de Tom, é caso de crime progressivo, ou seja, o dolo sempre foi atingir resultado mais grave, mas, para que isso fosse possível, agente precisou praticar conduta menos grave. Na progressão criminosa (há mudança de dolo), dolo inicial era menos grave e, poste- riormente, agente resolve executar um crime mais grave. Já no crime progressivo (meio necessário), desde princípio agente quer praticar a conduta mais grave, mas, para isso, precisa praticar conduta menos grave como meio para alcançar um crime mais grave. www.grancursosonline.com.br 8CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE d. Consumação e tentativa A consumação do crime de homicídio se dá com a morte do indivíduo, ou seja, no momento em que há a cessação da atividade encefálica. Por isso que se diz que o homicídio é um crime material e instantâneo, pois a consumação requer um resultado naturalístico (a morte do indi- víduo) que ocorre num momento determinado, sem continuidade no tempo (morte encefálica). Quanto ao momento da consumação, é importante salientar que parte da doutrina considera ser mais adequada a classificação como crime instantâneo de efeitos permanentes, já que a morte ocorre num determinado momento, mas os efeitos dela são irreversíveis e persistentes. A tentativa (conatus) é permitida, uma vez que é possível fracionamento do iter cri- minis. Isso quer dizer que, após dar início à prática delituosa, o sujeito ativo pode desistir de dar continuidade aos atos (desistência voluntária) ou ser impedido de continuar (tentativa). e. Classificação do homicídio: Simples: possui um único bem jurídico protegido. Bicomum: pode ter qualquer pessoa como sujeito ativo e passivo. Material: a consumação requer um resultado naturalístico. De forma livre: admite qualquer meio de execução. Comissivo ou omissivo: a regra é que seja comissivo (por ação), mas é possível que seja praticado por omissão, quando houver dever de agir. Instantâneo (para a doutrina majoritária) ou instantâneo de efeitos permanentes: instantâneo, porque a consumação se dá num momento específico e determinado; ins- tantâneo de efeitos permanentes em razão de os efeitos serem irreversíveis. Unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual: praticado por um só agente ou por vários em concurso de pessoas. Plurissubsistente: iter criminis pode ser fracionado. Crime progressivo: para alcançar o resultado mais grave, passa, necessariamente, pelo menos grave. www.grancursosonline.com.br 9CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Homicídio privilegiado Caso de diminuição de pena § 1° Se agente comete crime IMPELIDO por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob DOMÍNIO de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço (- 1/6 a 1/3) (destaques nossos). Primeiramente, é importante saber que a nomenclatura "homicídio privilegiado" é uma cons- trução doutrinária, já que texto do Código Penal diz apenas que é uma causa de diminuição de pena. A relevância de se saber a natureza jurídica de qualquer instituto reside na forma de seu tratamento, pois, tendo essa natureza jurídica de causa de diminuição de pena, incide na terceira fase de dosimetria da pena, e, assim, pode transpor os limites máximo e mínimo da pena base. Vamos imaginar a seguinte situação hipotética: Ricardo, conhecido por suas brinca- deiras de mau gosto, certo dia ultrapassa todos os limites e utiliza de bullying para provocar João. Ricardo o fez de tal forma que faz João ser tomado de violenta emoção e, com isso, João acaba por matar Ricardo. Ao analisar o caso, Juiz, atentando-se ao disposto no art. 68 do CP, aplica a pena de quatro anos de reclusão em razão do seguinte cálculo: na primeira fase da dosimetria da pena, analisando art. 59 do CP, Juiz entende por aplicar a pena no mínimo legal (seis anos). Na segunda fase, vê-se a presença da atenuante etária (art. 65, "ser agente menor de 21 anos, na data do fato"), mas, por força da Súmula 231 do STJ, essa circunstância não poderá ser aplicada a João, já que sua pena já estava no mínimo legal. Na terceira fase da dosimetria, Juiz reconheceu a presença da circunstância privilegiadora da violenta emoção, o que enseja a aplicação causa de diminuição de pena do § 1° do art. 121. Ao analisar caso concreto, o Juiz entende que João faz jus à diminuição de 1/3 da pena. Aqui, mesmo a pena já estando no mínimo legal previsto no art. 121 do CP, haverá a incidência da diminuição de pena, ficando a pena final em quatro anos (pena base 1/3 = 4 anos). Essa causa de diminuição de pena apresenta um caráter subjetivo, já que diz respeito a emoções do agente. Justamente por possuir caráter subjetivo, não é comunicável aos demais coautores ou partícipes, pois, de acordo com o art. 30 do CP, se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime." Lembra do caso hipotético de João e Ricardo? Imagine a mesma situação, mas, agora, com acréscimo de Maria. Maria, namorada de João, ao chegar e se deparar com a cena de João agredindo Ricardo, sem saber ao certo as razões daquele fato, adere a João e, juntos, acabam por matar Ricardo. Nesse caso, como Maria não ostentava as circunstâncias privi- legiadoras, responderá por homicídio simples sem qualquer causa de diminuição de pena, enquanto João responderá por homicídio privilegiado. www.grancursosonline.com.br 10CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE 7. (2014/UFMT/MPE-MT/PROMOTOR DE JUSTIÇA/ADAPTADA) O denominado homicí- dio privilegiado se constitui em uma causa de diminuição de pena prevista no art. 121, § 1°, do Código Penal. dispositivo tem caráter subjetivo, razão pela qual, em confor- midade com o art. 30 do Código Penal, não se comunica aos autores e partícipes. Certo. É exatamente isso. Veja o que o art. 30 dispõe: "Art. 30 Não se comunicam as circunstân- cias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime". Pense: se as circunstâncias são PESSOAIS, por qual razão ela comunicaria aos agentes que não sustentam aquelas circunstâncias? Somente nos casos em que forem elementa- res do crime, ou seja, constituírem parte/requisito do crime. A despeito de § 1° afirmar que Juiz "pode reduzir a pena", a doutrina e a jurisprudên- cia são firmes ao tratarem como causa de redução obrigatória, havendo espaço para a discricionariedade apenas no quantum da diminuição, que deve ser motivado à luz do caso concreto. 8. (2010/CEBRASPE/MPE-SE/PROMOTOR DE JUSTIÇA) Estando agente em uma das situações que ensejem reconhecimento do homicídio privilegiado, juiz é obrigado a reduzir a pena, mas a lei não determina o patamar de redução. Errado. Provado privilégio, Juiz pode ou deve diminuir a pena? O parágrafo fala em "pode", mas é um dever. Alguns falam em direito subjetivo do réu, mas, como é uma espécie de homicídio doloso, julgado pelo Tribunal do Júri, a concessão do privilégio acaba sujeita à soberania dos veredictos (art. 5°, XXXVIII, da CF). que resta no campo do livre conven- cimento motivado ("pode") é a quantidade de diminuição. Lembra que falei sobre a importância de se saber sobre a natureza de crime doloso con- tra a vida? Então, por ser crime doloso contra a vida, a competência para julgamento e reconhecimento das circunstâncias do crime (tanto autoria, materialidade, qualificadoras e causas de aumento ou diminuição de pena) é do corpo de jurados do Tribunal do Júri, cabendo ao Juiz togado única e exclusivamente fazer a dosimetria do quantum da pena. 9. (2021/INSTITUTO DE POLÍCIA CIVIL) No homicídio, se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um a dois terços. Errado. Atenção para quantum de diminuição da pena (- 1/6 a 1/3). www.grancursosonline.com.br 11CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Passadas essas causas gerais de aplicabilidade do instituto, vamos entender cada hipóte- se de incidência do privilégio, que pode se dar por três circunstâncias: Relevante valor social OU relevante valor moral A fim de deixar a explicação mais didática, vou falar sobre essas duas circunstâncias num mesmo tópico, mas tenha em mente que são duas circunstâncias diversas: 1) motivo de relevante valor social e 2) motivo de relevante valor moral. Tanto o motivo de relevante valor social quanto o de relevante valor moral são, também, circunstâncias atenuantes da pena, previstas no art. 65, III, "a", do CP. Embora tais circuns- tâncias sejam, em tese, as mesmas, há três diferenças cruciais entre as atenuantes e essa causa de diminuição de pena: I - as atenuantes incidem na fase de dosimetria de pena, logo, nesse momento ainda há a limitação da pena base, sendo impossível diminuir a pena abaixo do mínimo legal previsto na pena em abstrato; II as atenuantes são aplicadas a todo e qualquer crime indistintamente; a causa de di- minuição de pena do art. 121, CP, por sua vez, aplica-se tão somente ao crime de homicídio; III para caracterização da atenuante genérica, é suficiente que o crime tenha sido come- tido por influência de motivo de relevante valor social ou moral, já privilégio requer que o agente tenha atuado impelido por motivo de relevante valor social ou moral. Agora passemos aos motivos: motivo de relevante valor social é aquele que diz respeito a um interesse coletivo, sem se considerarem as pessoais do agente. Exemplo: matar o traidor da pátria ou um criminoso que cometeu uma chacina. motivo de relevante valor moral, por outro lado, diz respeito a aspectos intrínsecos ao agente. Exemplo: matar o estuprador de sua filha. 10. (2013/IBFC/PC-RJ/OFICIAL DE CARTÓRIO) homicídio praticado por agente público, que tem como vítima morador de uma comunidade carente suspeito de colaborar com os traficantes locais, caracteriza figura privilegiada, em decorrência do relevante valor social da conduta. Errado. Perceba que, no caso da questão, não há que se falar em relevante valor social. A conduta do morador da comunidade não é louvável, mas não cabe a qualquer pessoa, ainda mais um agente público, revelar sua insatisfação e ceifar a vida de outrem sob tal pretexto. www.grancursosonline.com.br 12CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE 11. (2013/IBFC/PC-RJ/OFICIAL DE CARTÓRIO) pai de um jovem viciado em "crack" que, em ato de desespero, mata o traficante que fornece drogas para seu filho, poderá ter sua pena reduzida em face da caracterização do homicídio privilegiado por relevante valor moral. Certo. Outro ponto relevante sobre o relevante valor moral é a discussão acerca da eutanásia. Código Penal, no item 39 da Exposição de Motivos da Parte Especial, consigna como exemplo de relevante valor moral apto a ensejar o reconhecimento do privilégio no homicí- dio "a compaixão ante irremediável sofrimento da vítima (caso do homicídio Perceba que a eutanásia, mesmo que seja motivada por razões humanitárias, não é causa de exclusão da ilicitude da conduta ou da culpabilidade do agente, já que a vida é direito indisponí- vel. A despeito disso, não há discussão a respeito da possibilidade do reconhecimento do privi- légio para o caso, constituindo-se, então, crime de homicídio com causa de diminuição de pena. 12. (2021/MPE-RS/PROMOTOR DE JUSTIÇA/ADAPTADA) À luz das diretrizes indicadas na Exposição de Motivos da Parte Especial do Código Penal brasileiro, a eutanásia ativa direta como tal entendida a provocação, por comissão intencional, da morte de alguém, a seu pedido, em situação de doença acompanhada de padecimento de sofri- mento intenso deve ser considerada crime de homicídio minorado, previsto no artigo 121, § 1°, do Código Penal (Art. 121 Matar alguém: Pena reclusão, de seis a vinte anos. § 1° Se agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço). Certo. É exatamente isso que a exposição de motivos diz. Ainda que a eutanásia seja um motivo extremamente altruísta, a conduta é criminosa, mas, a priori, poderá ser entendida como homicídio privilegiado. a. Domínio de violenta emoção, após injusta provocação da vítima Essa modalidade de privilégio requer a presença de três requisitos: DOMÍNIO de violen- ta emoção + injusta provocação da vítima + reação imediata. domínio de violenta emoção é algo muito intenso, capaz de alterar a capacidade do agente de se portar de forma como ordinariamente se porta. A emoção e a paixão não se confundem. A paixão é tida como mais duradoura, sendo inaplicável privilégio para essa modalidade, ainda que presente a alegação de total domínio, já que, por ser mais duradou- www.grancursosonline.com.br 13CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE ra, se mostra incompatível com a imediatez da reação do agente. A emoção, por possuir caráter mais volátil, em tese, pode caracterizar a circunstância privilegiadora. Para ser injusta, a provocação não precisa ser necessariamente criminosa. A provocação injusta é aquela que ultrapassa os limites do simples aborrecimento, é aquela apta a de- sencadear a violenta emoção do sujeito, prescinde que essa provocação tenha propósito específico de despertar reação, sendo suficiente que o agente a compreenda dessa forma, como ocorre no caso de bullying. Essa injusta provocação nem sequer precisa ser direcionada ao agente. Pode ser direcio- nada a alguma pessoa próxima ao agente ou aos seus afetos, como ocorre na hipótese de ofensa a algum familiar do agente (exemplo: um terceiro ofende a mãe ou a esposa do agente) ou até mesmo contra um animal. Imagine quantas pessoas tratam seus animais de estimação como verdadeiros filhos e uma pessoa qualquer machuca esse animal essa conduta, sem dúvidas, provocará emoções no agente. É importante perceber que o que tipo penal exige para reconhecimento do privilégio é a injusta PROVOCAÇÃO do agente, e não AGRESSÃO injusta. Se houver injusta agressão, o agente estará acobertado pela excludente de ilicitude de legítima defesa. Nesse caso, o fato deixa de ser crime, que não ocorre com a injusta provocação, isto é, se presentes os demais requisitos. último requisito que se impõe é a imediatidade da reação a essa injusta provocação. Embora não haja um critério objetivo para definir qual é lapso temporal correspondente ao "logo em seguida", entende-se que objetivo do legislador é impedir uma relevante in- terrupção entre momento da provocação injusta e cometimento do homicídio. 13. (2020/CEBRASPE/MPE-CE/PROMOTOR DE JUSTIÇA DE ENTRÂNCIA INICIAL/ ADAPTADA) Constitui forma privilegiada do crime de homicídio doloso seu cometi- mento por agente impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob_influ- ência de violenta emoção provocada por ato injusto da vítima. Errado. Atenção a cada palavra da questão: ela disse ser INFLUÊNCIA, e é justamente essa única palavra que tornou a assertiva errada. Aconselho a já grifar aí na sua lei seca a palavra DOMÍNIO e indicar # INFLUÊNCIA. Perceba que as questões exploram a diferenciação entre a atenuante genérica e essa cau- sa de aumento de pena, sendo possível fazer esse pequeno comparativo: www.grancursosonline.com.br 14CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Art. 121, S Art. 65, III, § 1° Se agente comete o crime IMPELIDO por Art. 65 São circunstâncias que sempre atenuam a motivo de relevante valor social ou moral, ou pena: sob o DOMÍNIO de violenta emoção, logo em cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou seguida a injusta provocação da vítima, o juiz em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou pode reduzir a pena de um sexto a um terço sob a influência de violenta emoção, provocada por 1/6 a 1/3). ato injusto da vítima; [...]. A aplicável apenas ao homicídio doloso. A atenuante genérica é aplicável para qualquer crime. Para a atenuante genérica, basta a influência de vio- privilégio requer o domínio de violenta emoção. lenta emoção. Injusta provocação da vítima. Ato injusto da vítima. Reação imediata: logo em seguida. Pode ocorrer a qualquer momento. Havendo privilégio, exclui-se a atenuante genérica. Por fim, é necessário salientar: A premeditação é incompatível com privilégio, já que a arquitetura da trama criminosa fere requisito da imediatez. O privilégio é compatível com dolo eventual. Exemplo: filho maior de idade que, de- pois de ser humilhado injustamente pelo pai, o agride de tal forma que assume risco de causar sua morte. O homicídio qualificado privilegiado não é hediondo. Homicídio culposo Homicídio culposo § 3° Se homicídio é culposo: (Vide Lei n. 4.661, de 1965) Pena detenção, de um a três anos. homicídio culposo é um tipo penal aberto e, por isso, contém um elemento norma- tivo do tipo: a culpa. elemento normativo do tipo é aquele que depende de um juízo de valor do magistrado. A culpa depende dessa valoração do magistrado porque a lei não determina claramente que a constitui. Dendo assim, magistrado, tomando por base homem médio, irá verificar se resultado da ação era ou não esperado de uma pessoa em circunstâncias normais de inteligência e sociabilidade. homicídio culposo resta configurado quando sujeito, violando dever objetivo de cui- dado, realiza uma conduta voluntária e, dessa conduta, advém um resultado naturalístico (a modificação no mundo exterior) involuntário, resultado este objetivamente previsível e evitá- vel, já que qualquer pessoa comum poderia prever a possibilidade de ocorrência do resultado. www.grancursosonline.com.br 15CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Como em todos os crimes culposos, homicídio culposo pode decorrer de imprudência, negligência e imperícia. Imprudência ou culpa positiva: consiste em um agir, e esse agir é perigoso, preci- pitado e imponderado. A característica fundamental da imprudência é seu desenvolvi- mento no decorrer da ação, assim, enquanto o agente pratica a conduta comissiva, vai ocorrendo a imprudência. Ex.: manusear arma de fogo em local movimentado. Negligência: consiste num não fazer, na ausência de precaução na ação do sujeito. Ex.: deixar uma arma de fogo ao alcance de uma criança. Imperícia: é a falta de habilidade técnica para exercício de arte, profissão ou ofício para qual agente se disponibiliza a fazer. Ex.: cirurgião médico que mata sua paciente por falta de habilidade em realizar a cirurgia. ! ATENÇÃO O crime culposo, salvo no caso de culpa imprópria, não admite tentativa. O homicídio culposo praticado na direção de veículo automotor tem regramento próprio no art. 302 do 14. (2021/IDECAN/PC-CE/INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL) Wilson, engenheiro civil, está construindo um edifício em região pantanosa. Durante a obra, é alertado pelo seu mes- tre de obras acerca da necessidade de criar uma fundação mais profunda, já que terreno onde prédio está sendo construído possui leito de rocha mais profundo que usual. Do contrário, segundo alerta feito, a construção poderia adernar e chegar a cair, ocasionando a morte de pessoas. Levando em conta os custos da construção e sem se importar com as consequências, Wilson decide não seguir as orientações do mestre de obras e leva a obra adiante. Infelizmente, dois anos após a inauguração do prédio, ele desaba e seis pessoas morrem. Nessa hipótese, é correto afirmar que Wilson a. deve responder por seis delitos de homicídio culposo, praticados com culpa cons- ciente, em concurso formal de delitos. b. deve responder por seis delitos de homicídio, praticados com dolo eventual, em con- curso formal de delitos. deve responder por seis delitos de homicídio, praticados com dolo direto, em con- curso material de delitos. d. não praticou crime algum, mas deverá responder na esfera civil. e. deve responder por seis delitos de homicídio preterdoloso, praticados em concurso material de delitos. www.grancursosonline.com.br 16CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Letra b. Perceba que, no caso hipotético, engenheiro civil foi alertado sobre a necessidade de criar uma fundação mais profunda, mas, considerando apenas custos da construção e sem se importar com as consequências, Wilson decide não seguir as orientações do mestre de obras". Não é possível caracterizar culpa consciente, já que, nesta, muito embora o resultado seja previsível, agente acredita sinceramente que não acontecerá. Não é possível se falar em dolo direto, porque a conduta do agente não foi direcionada ao resultado morte. Lembre-se de que dolo, para o sistema finalista, é composto pela von- tade + consciência. Resta, então, dolo eventual, já que agente, sabendo da possibilidade da ocorrência do resultado, não age de forma a evitá-lo, não se importando com ele. E será em concurso formal de crimes em razão do exposto no art. 70, caput, do CP: "Quan- do agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade." Vale lembrar que, em decorrência da pena, in abstrato, prevista para delito de homicídio culposo, é cabível benefício da suspensão condicional do processo, desde que estejam presentes os demais requisitos do art. 89 da Lei n. 9.099/1995. Causas de aumento de pena Aumento de pena § 4° No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as con- sequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos (Redação dada pela Lei n. 10.741, de 2003) (destaques nossos). Esse parágrafo traz a incidência de causas de aumento de pena em dois "crimes dife- rentes": a) crime doloso e b) crime culposo. Vamos tratá-las separadamente para ficar de melhor compreensão. www.grancursosonline.com.br 17CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Causas de aumento no homicídio culposo A primeira parte do § 4° do art. 121 arrola quatro hipóteses de causas de aumento de pena aplicáveis única e exclusivamente ao homicídio culposo. São elas: I) inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício; II) deixar de prestar imediato socorro à vítima; III) não procurar diminuir as consequências do seu ato; IV) fugir para evitar prisão em flagrante. A inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício incide apenas ao pro- fissional, ou seja, àquele que exerce a arte, ofício ou profissão. Essa inobservância de regra técnica não se confunde com a imperícia, que ocorre quando sujeito não reúne a qualifi- cação técnica esperada em sua profissão. Já a inobservância de regra técnica visa coibir o profissional desidioso: aquele que detém as habilidades necessárias para o desempenho do cargo, mas, por desídia, não as observa. Perceba que a culpa pode ocorrer em três modalidades: negligência, imperícia e impru- dência, e o STF já entendeu não haver bis in idem no reconhecimento do homicídio culposo com a causa de aumento de pena de inobservância de regra técnica. A segunda e terceira hipótese de incidência de causa de aumento de pena no homi- cídio culposo é deixar de prestar imediato socorro à vítima e não procurar diminuir as consequências de seu ato. Essas causas de aumento se relacionam diretamente com os crimes culposos praticados na direção de veículo automotor, mas a eles não se restringe. É importante lembrar que art. 302, § 1°, III, do Código de Trânsito Brasileiro já traz a causa de aumento de 1/3 à metade (perceba que no CP a causa de aumento de pena é de 1/3 e pronto) traz uma úpara à hipótese de homicídio culposo na direção de veículo automotor: Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: § 1° No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se agente: (Incluído pela Lei n. 12.971, de 2014) (destaques nossos III deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; (Incluído pela Lei n. 12.971, de 2014). É preciso se atentar a três pontos: essa causa de aumento de pena não tem cabi- mento quando ocorrer a morte instantânea e incontestável da vítima, bem como no caso em que o agente não prestou socorro por não ter condições de fazê-lo sem se expor ao perigo; ao agente que presta socorro não incide a atenuante genérica do art. 65, III, "b", do CP. Art. 65 São circunstâncias que sempre atenuam a pena: (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984) III ter agente: (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984) www.grancursosonline.com.br 18CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE b. procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado dano; [...]. Perceba que a causa de aumento por não procurar diminuir as consequências do seu ato é um desdobramento normal da causa de aumento de deixar de prestar socorro, uma vez que incidirá apenas se agente deixou de prestar socorro direto ("prestar socorro à vítima") por uma justa razão, mas deixou de exercer qualquer atividade a fim de minorar as consequ- ências do ato, como, por exemplo, no caso do agente que nem sequer telefona ao Corpo de Bombeiros para que estes realizem os atendimentos de primeiros socorros. Por derradeiro, a última causa de aumento do homicídio doloso é a fuga para evitar prisão em flagrante. Aqui legislador buscou punir aquele que pratica atos a fim de assegu- rar sua impunidade, dificultando, assim, a ação da justiça. A doutrina salienta que essa causa de aumento não incide no caso em que agente fugiu em razão de ameaças dos populares que presenciaram ato criminoso. 15. Não é possível aplicar a causa de aumento de pena de 1/3 em homicídio culposo come- tido por médico. Errado. O STJ já sustentou pela possibilidade da incidência da causa de aumento. É possível a aplicação da causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 4°, do CP no caso de homicídio culposo cometido por médico e decorrente do descum- primento de regra técnica no exercício da profissão. Nessa situação, não há que se falar em bis in idem (STJ. Turma. HC n. 181.847-MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. para acórdão Min. Campos Marques [Desembargador convocado do TJ/PR], julgado em 4/4/2013 Info 520). b. Causas de aumento no homicídio doloso A segunda parte do § 4° do art. 121 prevê duas causas de aumento de pena aplicáveis única e exclusivamente ao homicídio doloso, como o próprio artigo diz claramente, e estas são aplicáveis em quaisquer das modalidades desse crime: simples, privilegiado, qualificado, consumado ou tentado. Isto é, desde que agente tenha conhecimento da idade da vítima, pois todas as elementares e circunstâncias do crime devem integrar o dolo do agente, sob pena de se caracterizar responsabilidade objetiva. Assim, se agente desconhecer a idade da vítima, não incidirá a causa de aumento. www.grancursosonline.com.br 19CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Pelo próprio texto do tipo legal, vê-se a natureza objetiva e cogente dessas causas de aumento. Natureza objetiva, porque não faz nenhuma referência a questões internas do agente, e cogente, porque não concede ao Juiz nenhuma margem de discricionariedade quanto à aplicação ou não da causa de aumento de pena. A circunstância majorante diz respeito à idade da vítima ao tempo do cometimento do de- lito: menor de catorze anos ou maior de sessenta anos de idade. A importância de se saber esse detalhe de quando será considerada a idade da vítima decorre do caso em que agente for atingido numa data e o óbito em si só ocorrer dias após completar catorze anos ou, no caso da vítima maior de sessenta anos, agente praticar a conduta quando a vítima tinha 59 anos e falecimento ocorrer quando já tinha sessenta anos. Imagine só que insegurança jurídica! Quanto à causa de aumento em razão de a vítima ser menor de catorze anos, agora é necessário tomar MUITO cuidado. A Lei n. 14.344, de 24 de maio de 2022, introduziu inciso IX no § 2° e § 2°-B, que tratam, respectivamente, da qualificadora ao crime pratica- do contra o menor de catorze anos e de duas causas de aumento de pena para a mesma hipótese. Observe: Homicídio qualificado § 2° Se homicídio é cometido: IX contra menor de 14 (quatorze) anos: (Incluído pela Lei n. 14.344, de 2022) Vigência Pena reclusão, de doze a trinta anos. § 2°-B. A pena do homicídio contra menor de 14 (quatorze) anos é aumentada de: (Incluído pela Lei n. 14.344, de 2022) Vigência 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa com deficiência ou com do- ença que implique aumento de sua vulnerabilidade; (Incluído pela Lei n. 14.344, de 2022) Vigência II - 2/3 (dois terços) se autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela. (Incluído pela Lei n. 14.344, de 2022) Vigência (destaques nossos). Essas inovações legislativas precisam observar os princípios da legalidade e da especiali- dade, mormente por se tratar de norma mais gravosa. A lei que alterou CP começou a ter vigência 45 dias após oficialmente publicada. Assim, se o agente tiver cometido a conduta antes de 08 de julho de 2022, a ele será aplicada a causa de aumento do § 4°, mas, se ele cometer o homicídio doloso após 08 de julho de 2022, responderá por homicídio qualifica- do; se houver a incidência de alguma causa de aumento do § 2°-B, poderá, ainda, ter uma causa de aumento, sendo, portanto, um homicídio qualificado circunstanciado. www.grancursosonline.com.br 20CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Outro ponto importante de se observar é que o art. 61, II, "f", "g", "h" e "i" prevê hipóteses de circunstâncias agravantes com conteúdo protetivo semelhante. Por serem hipóteses semelhantes, o magistrado, por força do princípio ne bis in idem, não poderá reconhecer a agravante (segunda fase de aplicação da pena) e a causa de aumento (terceira fase de aplicação da pena) de pena em razão do mesmo fato. Art. 61 São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam crime: ter o agente cometido crime: f. com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de co- abitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica; (Redação dada pela Lei n. 11.340, de 2006) g. com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão; h. contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida; (Re- dação dada pela Lei n. 10.741, de 2003) i. quando ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade; [...]. 16. (2021/CEBRASPE/PC-AL/AGENTE DE POLÍCIA PROVA ANULADA) Em janeiro de 2021, Lucas, com 20 anos de idade e nítida vontade de matar Rafael, adquiriu uma arma de fogo e começou a procurá-lo pela cidade. Na semana anterior ao aniversário de 14 anos de Rafael, Lucas encontrou Rafael enquanto este conversava com uma pessoa e, então, disparou cinco tiros contra a vítima, que veio a óbito trinta dias depois. Posteriormente, em seu interrogatório, Lucas afirmou que havia matado Rafael por este ser enteado de um policial civil que o investigava por outros crimes. Considerando essa situação hipotética, julgue o item a seguir. Ainda que Lucas soubesse a idade de Rafael quando do cometimento do crime, não haverá a incidência da previsão de aumento de pena baseada na idade da vítima, pois, no momento de sua morte, Rafael tinha mais de quatorze anos. Errado. Código Penal adota a teoria da atividade para definir o tempo do crime. Sendo assim, a idade da vítima será aferida no momento do cometimento do delito, ainda que a vítima venha a falecer dias ou meses após o fato. www.grancursosonline.com.br 21CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE 17. A morte instantânea da vítima sempre afasta a majorante de 1/3 pelo fato de agente não ter prestado imediato socorro à vítima. Errado. Se a vítima tiver morte instantânea, tal circunstância, por si só, é suficiente para afastar a causa de aumento de pena prevista no § 4° do art. 121? NÃO. No homicídio culposo, a morte instantânea da vítima não afasta a causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 4°, do CP, a não ser que o óbito seja evidente, isto é, per- ceptível por qualquer pessoa. STJ. Turma. HC n. 269.038-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 2/12/2014 (Info 554). 18. A tenra idade da vítima é fundamento idôneo para a majoração da pena-base do crime de homicídio pela valoração negativa das consequências do crime. Certo. homicídio perpetrado conta a vítima jovem ceifa uma vida repleta de possibilidades e perspectivas, que não guardam identidade ou semelhança com aquelas verificadas na vida adulta. Há que se sopesar, ainda, as consequências do homicídio contra vítima de tenra idade no núcleo familiar respectivo: pais e demais familiares enlutados por um crime que subverte a ordem natural da vida. Não se pode olvidar, ademais, aumento crescente do número de homicídios perpetrados contra adolescentes no Brasil, o que reclama uma resposta estatal. Assim, deve prevalecer a orientação no sentido de que a tenra idade da vítima (menor de 18 anos de idade) é elemento concreto e transborda aqueles inerentes ao crime de homicídio, sendo apto, pois, a justificar o agravamento da pena-base, mediante valoração negativa das consequências do crime, ressalvada, para evitar bis in idem, a hipótese em que aplicada a causa de aumento prevista no art. 121, § 4° (parte final), do Có- digo Penal. STJ. Seção. AgRg no REsp n. 1.851.435-PA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 12/08/2020 (Info 679). pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, // ou por grupo de extermínio (hediondo) (Incluído pela Lei n. 12.720, de 2012) (grifos e comentários nossos). Essa causa especial de aumento de pena é aplicável exclusivamente ao homicídio do- loso, na modalidade simples ou qualificada (modalidade de crime) praticado por milícia privada (qualidade especial do sujeito ativo) e, ainda, sob pretexto de prestação de www.grancursosonline.com.br 22CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE serviço de segurança (finalidade especial) ou por grupo de extermínio (qualidade espe- cial do sujeito ativo), sem estar condicionado, nesse último caso, a uma finalidade especial. A milícia privada é um agrupamento armado e estruturado (por civis ou militares) cujo objetivo da formação do grupo é restaurar a segurança, são grupos de justiceiros. Já grupo de exter- mínio, como o próprio nome diz, é um grupo cuja finalidade é exterminar classes de indivíduos. Feitos esses devidos esclarecimentos, vamos passar para o aspecto mais cobrado em provas de concursos: a hediondez, tanto do homicídio praticado por grupo de extermínio quanto do homicídio qualificado. Hediondez Art. 1° São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 Código Penal, consumados ou tentados: I homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de ex- termínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2°, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII); (Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019) (grifos e comentários nossos). homicídio simples, via de regra, não será crime hediondo. Contudo, quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que por um só agente, nos termos do art. 1°, I, da Lei de Crimes Hediondos, será crime hediondo. O grupo de extermínio, na verdade, nem precisa existir, sendo suficiente que a ATIVIDADE seja típica de grupo de extermínio. Ex.: pessoa que resolve matar moradores de rua simplesmente pelo fato de estes serem moradores de rua. Há uma parcela da doutrina que entende ser possível dar tratamento privilegiado ao grupo de extermínio quando suas razões sejam de relevante valor moral. Ex.: um policial que, durante sua folga, resolve exterminar ladrões que atentavam reiteradamente na cidade (motivo de relevante valor social). Nesse caso, por haver a incidência de causa subjetiva e, também, em consideração ao tratamento dado ao homicídio qualificado-privilegiado, enten- de-se que também não seria caso de hediondez. As outras hipóteses de hediondez no delito de homicídio são todas as modalidades qua- lificadas do delito, exceto quando for hipótese de homicídio e desde que a qualificadora seja de ordem objetiva. Assim, temos: www.grancursosonline.com.br 23CRIMES CONTRA VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE NÃO HEDIONDOS HEDIONDOS Simples Qualificados Qualificado privilegiado (híbrido) Grupo de extermínio Praticado por milícia privada 19. (2014/UFMT/MPE-MT/PROMOTOR DE JUSTIÇA) homicídio simples não é crime hediondo, exceto quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente. Certo. 20. (2022/CEBRASPE/DPE-RS/DEFENSOR PÚBLICO) reconhecimento da causa es- pecial de diminuição de pena, quando coexistir com o homicídio qualificado, afastará o caráter hediondo do delito. Certo. 21. (2019/FUNDEP GESTÃO DE CONCURSOS/DEFENSOR PÚBLICO) homicídio qua- lificado-privilegiado, nos termos da jurisprudência predominante do STJ, é considerado crime hediondo, porque a qualificadora prepondera sobre o privilégio, pois este é mera causa de diminuição da pena. Errado. 22. (2021/FCC/DPE-AM/DEFENSOR PÚBLICO) Sobre o crime de homicídio: a. Não é possível o reconhecimento da causa de diminuição de pena quando praticado mediante o emprego de veneno. b. É possível o reconhecimento do homicídio qualificado-privilegiado quando a qualifica- dora for de natureza subjetiva. C. De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o homicídio qualifi- cado-privilegiado não é considerado crime hediondo. d. Não é admitido pela jurisprudência reconhecimento do homicídio qualificado-privile- giado, uma vez que as qualificadoras preponderam sobre a causa de diminuição de pena em razão da gravidade do crime. e. É possível o reconhecimento do homicídio qualificado-privilegiado, permanecendo nesta hipótese o seu caráter hediondo, em razão de previsão expressa na Lei n. 8.072/1990. Certo. www.grancursosonline.com.br 24CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE 23. (2019/FUNDEP GESTÃO DE CONCURSOS/DPE-MG/DEFENSOR PÚBLICO) É pos- sível homicídio desde que a qualificadora tenha natureza obje- tiva, já que todas as causas de privilégio são de natureza subjetiva. Certo. Perdão judicial § 5° Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem próprio agente de forma tão gra- ve que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei n. 6.416, de 24.5.1977) (grifos nossos). Como se sabe, homicídio culposo é aquele em que não houve vontade do agente quanto ao resultado que dele decorreu. Assim, legislador prevê que, nos casos em que as consequências advindas do homicídio sejam dolorosas ao agente, não há razão de aplicação da pena. Com isso, Juiz, mesmo reconhecendo que existem provas suficientes para conde- nar o réu, não aplica nenhuma pena. Perceba que fato é típico, ilícito e culpável, mas não haverá a aplicação da pena. A lei penal determina que a aplicação do perdão judicial requer que "as consequências da infração atinjam agente de forma tão grave que a sanção penal se torne e a doutrina esclarece que essas consequências podem ser físicas (exemplo: o sujeito ficou tetraplégico) ou psicológicas (exemplo: perda de um filho). perdão judicial, conforme a Súmula 18 do STJ, tem natureza de causa extintiva da punibilidade (art. 107, IX, CP), sendo assim, a contar da sentença concessiva, que possui natureza declaratório, não surtirá mais nenhum efeito negativo para réu, nem mesmo rein- cidência (art. 120, CP). Súmula 18/STJ. A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extin- ção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório. Art. 120. A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efei- tos de reincidência. www.grancursosonline.com.br 25CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE 24. DE JUSTIÇA SUBSTITUTO CONCURSO XXXVI) Em algumas hipóteses, CP autoriza o juiz a "deixar de aplicar a pena". Assinale a alter- nativa que apresenta crimes aos quais, a depender das demais condições que o CP estabelece, juiz pode "deixar de aplicar a pena", concedendo perdão judicial. a. Outras fraudes; difamação; furto. b. Receptação; injúria; homicídio. C. Calúnia; excesso de exação; desobediência. d. Dano; apropriação indébita previdenciária; ameaça. e. Sonegação de contribuição previdenciária; parto suposto; esbulho possessório. Letra b. 25. (2017/FEPESE/PC-SC/AGENTE DE POLÍCIA CIVIL) De acordo com Código Penal, quando juiz deixar de aplicar a pena na hipótese de homicídio culposo, por considerar que as consequências da infração atingem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária, ocorre fenômeno: a. da desclassificação da conduta. b. da imputabilidade familiar. da excludente de ilicitude. d. do perdão judicial. e. da atipicidade judicial. Letra d. Homicídio qualificado art. 121, § 2°, do CP traz hipóteses de homicídio qualificado, que é assim denomi- nado por agregar circunstâncias especiais ao tipo fundamental escrito no caput. Essa agre- gação de circunstâncias tem por consequência imediata a alteração dos parâmetros de pena. Enquanto homicídio simples tem pena de 6 (seis) a 20 (vinte) anos de reclusão, homicídio qualificado, em todas as suas hipóteses, tem a pena base de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. É de suma importância lembrar que homicídio qualificado, em todas as suas modali- dades, é hediondo e a implicação disso reverbera no tratamento que a lei penal vai dar à apli- cação da pena, à possibilidade de substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, na progressão de regime etc., mas isso não é tema para ser tratado neste material. As qualificadoras, justamente por serem circunstâncias especiais agregadas ao tipo fundamental, podem possuir natureza objetiva ou subjetiva e a principal consequência dessa diferenciação é a possibilidade (ou não) de comunicarem-se aos coautores e partícipes no concurso de pessoas. www.grancursosonline.com.br 26CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE As circunstâncias de natureza subjetiva dizem respeito ao agente e não ao fato pra- ticado. As de natureza objetiva, por outro lado, dizem respeito ao fato praticado, e não às condições pessoais do agente. Assim, em caso de concurso de pessoas, as circunstân- cias subjetivas não são comunicáveis aos demais agentes, já as de natureza objetiva, se forem de conhecimento de todos os indivíduos, comunicam-se. É importante perceber que, para que as qualificadoras objetivas sejam comunicáveis aos coautores e partícipes, elas precisam ser de conhecimento dos indivíduos e, ainda, inte- grar dolo do agente, sob pena de se caracterizar responsabilidade penal objetiva. Com isso, quero dizer que dolo deve abranger todos os elementos objetivos da conduta crimi- nosa, tanto no tipo fundamental (a ação de matar alguém) quanto nas qualificadoras (o meio empregado para causar a morte, por exemplo). Aqui é importante lembrar do que dispõe art. 19 do CP: "Art. 19 Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que houver causado ao menos cul- posamente". Outro ponto de extrema relevância que se atrela à natureza das qualificadoras é a pos- sibilidade do reconhecimento do homicídio Se as qualificadoras forem de ordem objetiva e sujeito ativo reunir os requisitos subjetivos do § 1° do art. 121 do CP, Magistrado poderá reconhecer o privilégio no crime. Com isso, passemos às qualificadoras propriamente ditas. I Motivo torpe Homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: mediante paga ou promessa de recompensa, ou por OUTRO motivo torpe; [...] (destaques nossos). A qualificadora do inciso I do § 2° do art. 121 é de natureza subjetiva e traz duas hipóte- ses casuísticas (paga ou promessa de recompensa) e uma fórmula genérica (ou por OUTRO motivo torpe). Essa fórmula genérica é proposital e tem por finalidade permitir a interpreta- ção analógica, uma vez que, num primeiro momento, o legislador deixa nítido que a paga ou a promessa de recompensa são motivos torpes, mas que não são os únicos motivos torpes, sendo possível, portanto, aplicar mesmo entendimento para hipóteses não contempladas no texto, ou seja, não há um rol taxativo de hipóteses de motivo torpe. A paga ou promessa de recompensa são denominadas de homicídio mercenário ou homicídio por mandato remunerado. que as diferencia é que, na paga, recebimento da recompensa é prévio ao crime, já na promessa de recompensa, pagamento é convencio- nado para momento posterior à execução do delito. Note que, na segunda modalidade, não é necessário que haja efetivo pagamento, sendo suficiente a mera PROMESSA de pagamento. www.grancursosonline.com.br 27CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Para caracterização dessa qualificadora, é necessário a presença de, no mínimo, duas pessoas: mandante aquele que paga ou promete a recompensa e executor aquele que pratica a conduta de matar alguém. Perceba, portanto, que se trata de crime plurissub- jetivo ou de concurso necessário. primeiro questionamento a respeito da qualificadora de paga ou promessa de recompensa é se ela é aplicável tanto ao mandante quanto ao executor do delito. Veja- mos esta questão: 26. (2021/FCC/DPE-GO/DEFENSOR PÚBLICO) crime de homicídio é considerado qua- lificado para mandando e privilegiado para executor, se cometido mediante paga. Errado. A qualificadora de "paga de recompensa" é definida pelo legislador como uma espécie de torpeza, sendo assim, no tocante ao executor do delito, jamais poderá ser privilegiado. mandante do crime não responderá pela qualificadora de "paga de uma vez que ele é quem efetua o pagamento, e não quem recebe. Contudo, nada impede que esse sujeito seja condenado por homicídio privilegiado ou pela qualificadora da torpeza, tudo dependerá do caso concreto. A doutrina diz que, por ser uma qualificadora de natureza subjetiva, a comunicação entre coautor e partícipe (mandante e executor) não é automática, sendo necessário avaliar o caso concreto para saber as razões que levaram mandante a encomendar homicídio. Se essas razões forem torpes, incidirá a qualificadora em razão da torpeza genérica, e não em razão da paga ou promessa de recompensa. Com base nesse raciocínio, vê-se que é plenamente possível que mandante seja conde- nado por homicídio privilegiado, e executor, por homicídio qualificado. motivo torpe é aquele que é vil, repugnante, moralmente reprovável. Muito se questiona sobre a possibilidade de a vingança e ciúme caracterizarem motivo torpe. A doutrina majoritária é no sentido de que a vingança não caracteriza automaticamente a torpeza, assim, mais uma vez, será necessário perquirir qual foi motivo que levou a agente a querer se vingar. Já o ciúme não é considerado torpe. www.grancursosonline.com.br 28CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE 27. (2018/MPE-MS/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO) Assinale a alternativa incorreta. a. É possível a aplicação da interpretação analógica no tipo de homicídio qualificado pelo fato de o crime ter sido praticado mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe. b. fato de a vítima de homicídio doloso ter mais de sessenta anos constitui circunstân- cia agravante, prevista no artigo 61 do Código Penal, considerada na segunda fase de aplicação da pena. C. No homicídio doloso qualificado pela motivação torpe, é possível reconhecimento da atenuante genérica do cometimento do crime por motivo de relevante valor moral. d. homicídio híbrido é admitido pela jurisprudência, desde que a circunstância qualifi- cadora tenha caráter objetivo. e. homicídio é qualificado pela conexão quando cometido para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime. Letra b. b. Se a vítima de homicídio doloso tiver mais de 60 anos, incidirá a causa de aumento de pena do art. 121, § 4°, do CP, e não a agravante genérica do art. 61 do CP. Perceba que não se trata de homicídio qualificado-privilegiado, mas sim de homicídio qualificado pelo motivo torpe e atenuado pelo motivo de relevante valor moral. Na primeira hipótese, há expressa vedação, uma vez que só é permitido reconhecer privilégio nas qualificadoras de ordem objetiva. Já no segundo caso, a jurisprudência do STJ já entendeu como possível há muito. Veja só a decisão do STJ: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXAME DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. TRI- BUNAL DO JÚRI. RECONHECIMENTO DA ATENUANTE GENÉRICA DO RELE- VANTE VALOR MORAL OU DA INFLUÊNCIA DE VIOLENTA EMOÇÃO NO DELITO DE HOMICÍDIO QUALIFICADO PELO MOTIVO TORPE. POSSIBILIDADE. AUSÊN- CIA DE CONTRADIÇÃO NOS QUESITOS. DEMAIS ARGUMENTOS BUSCANDO A INVERSÃO DO JULGADO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7 DESTA CORTE. 1. Embora reconheça que, no âmbito do sistema difuso de controle de constitucio- nalidade, Superior Tribunal de Justiça, bem como os demais órgãos jurisdicionais de qualquer instância, tenha poder de declarar incidentemente a inconstitucio- nalidade de lei, mesmo de ofício, tal atribuição, contudo, não lhe autoriza analisar suposta violação a dispositivos da Constituição, pois se estaria desrespeitando a competência estabelecida no art. 102, III, da Carta Magna. www.grancursosonline.com.br 29CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE 2. De outra parte, de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal e desta Corte, é possível a coexistência, no crime de homicídio, da qualificadora do motivo torpe, prevista no art. 121, § 2°, I, do Código Penal, com as atenuantes genéricas inseridas no art. 65, II, "a" e do mesmo dispositivo, podendo, pois, concorrerem no mesmo fato. 3. Com efeito, reconhecimento pelo Tribunal do Júri de que paciente agiu sob por motivo torpe, em razão de ter premeditado e auxiliado na morte de sua esposa para ficar com todos os bens do casal, e, concomitantemente, das atenuantes genéricas do relevante valor moral ou da violenta emoção, provocada pela descoberta do adultério da vítima, um mês antes do fato de- lituoso, não importa em contradição. 4. Cumpre ressaltar que, no homicídio privilegiado, exige-se que agente se encontre sob domínio de violenta emoção, enquanto na atenuante gené- rica, basta que ele esteja sob a influência da violenta emoção, vale dizer, privilégio exige reação imediata, já a atenuante dispensa requisito tempo- ral (AgRg no Ag n. 1.060.113/RO, relator Ministro Og Fernandes, Sexta Turma, julgado em 16/9/2010, DJe de 4/10/2010) (grifos nossos). 28. (2019/FUNDEP GESTÃO DE CONCURSOS/DPE-MG/DEFENSOR PÚBLICO) De acordo com STJ, a qualificadora do feminicídio pode coexistir com a qualificadora do motivo torpe, pois feminicídio tem natureza objetiva, que dispensa a análise do animus do agente, enquanto motivo torpe tem natureza subjetiva, já que de caráter pessoal. Certo. STJ já decidiu reiteradas vezes que o feminicídio tem natureza objetiva e que o motivo torpe possui natureza subjetiva. Sendo assim, não há óbice para a coexistência entre as qualificadoras. Não caracteriza bis in idem reconhecimento das qualificadoras de motivo torpe e de feminicídio no crime de homicídio praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar. Isso se dá porque o feminicídio é uma qualificadora de ordem OBJETIVA vai incidir sempre que crime estiver atrelado à violência doméstica e familiar pro- priamente dita, enquanto que a torpeza é de cunho subjetivo, ou seja, continuará adstrita aos motivos (razões) que levaram um indivíduo a praticar delito. STJ. Turma. HC n. 433.898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/04/2018 (Info 625). www.grancursosonline.com.br 30CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Não há dúvidas acerca da natureza subjetiva da qualificadora do motivo torpe, ao passo que a natureza do feminicídio, por se ligar à condição especial da vítima, é objetiva, não havendo, assim, qualquer óbice à sua imputação simultânea. É inviável afastamento da qualificadora do feminicídio mediante a análise de aspectos subjetivos da motivação do crime, dada a natureza objetiva da referida qualificadora, ligada à condição de sexo feminino. STJ. Turma. REsp n. 1.739.704/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 18/09/2018. 29. É possível haver homicídio qualificado pelo motivo torpe praticado com dolo eventual. Certo. fato de réu ter assumido risco de produzir resultado morte (dolo eventual), não exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a conduta. STJ. Turma. REsp 1601276/RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/06/2017. Motivo fútil por motivo fútil; [...]. O motivo fútil é caracterizado como algo insignificante, de pouca importância, des- proporcional ao resultado da conduta. Por ser uma qualificadora de natureza subjetiva, ela requer análise no caso concreto, levando em consideração todo o contexto da sociedade em que sujeito está inserido. É necessário fazer alguns esclarecimentos sobre as situações em que não se considera como motivo fútil: A ausência de motivo não é equiparada ao motivo fútil. Todo crime tem sua motivação, ainda que não seja proporcional à ação do autor. ciúme também não pode ser entendido como motivo fútil, uma vez que pode ser interpretado como uma paixão (lembra da explicação sobre isso na parte em que trata- mos sobre homicídio privilegiado?). A embriaguez também é incompatível com o motivo fútil, depender de como a embria- guez tenha se apresentado no caso, pode ser uma excludente de culpabilidade (art. 28, e do CP) ou uma agravante (art. 61, II, "I", do CP) O motivo injusto não se confunde com motivo fútil, até porque todo crime é, de certa forma, injusto. "racha" não é circunstância apta a caracterizar motivo fútil. www.grancursosonline.com.br 31CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Não é possível coexistir motivo fútil e motivo torpe: ou é um ou outro, obriga- toriamente. 30. (2019/FUNDEP GESTÃO DE CONCURSOS/DPE-MG/DEFENSOR PÚBLICO) De acordo com entendimento firmado no Superior Tribunal de Justiça, responde por homi- cídio simples aquele que pratica delito sem motivo, não se admitindo a incidência da qualificadora do motivo fútil pelo simples fato de delito ter sido praticado com ausência de motivos. Certo. 31. (2013/IBFC/PC-RJ/OFICIAL DE CARTÓRIO) cliente que suprime a vida do dono de um bar porque este se negou a servir-lhe uma dose de bebida fiado comete o crime de homicídio qualificado pelo motivo fútil. Certo. 32. Não incide a qualificadora de motivo fútil (art. 121, § 2°, II, do CP), na hipótese de ho- micídio supostamente praticado por agente que disputava "racha", quando o veículo por ele conduzido em razão de choque com outro automóvel também participante do "racha" tenha atingido veículo da vítima, terceiro estranho à disputa automobilística. Certo. trecho da questão é exatamente a ementa do HC n. 307.617-SP (STJ. Turma. HC 307617-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/4/2016 Info 583). 33. A qualificadora do motivo fútil é compatível com dolo eventual. Certo. fato de o réu ter assumido o risco de produzir resultado morte (dolo eventual) não ex- clui a possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a conduta. STJ. Turma. REsp n. 1.601.276/RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/06/2017. www.grancursosonline.com.br 32CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE 34. homicídio é qualificado por motivo fútil quando fato que surgiu como uma bobagem, mas virou briga. Errado. Se o fato surgiu por conta de uma bobagem, mas depois ocorreu uma briga e, no contexto desta, houve o homicídio, tal circunstância pode vir a descaracterizar o motivo fútil. Vale ressaltar, no entanto, que a discussão anterior entre vítima e autor do homicídio, por si só, não afasta a qualificadora do motivo fútil. Assim, é preciso verificar a situação no caso concreto. STJ. Turma. AgRg no REsp n. 1.113.364-PE, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 06/08/2013 (Info 525). III Qualificadoras de meio III com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insi- dioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; [...]. Esse inciso traz cinco circunstâncias e outras três fórmulas genéricas que ensejam o reconhecimento da interpretação analógica. Há, então, três gêneros de qualificadoras de meio: insidioso, cruel e que possa resultar em perigo comum. Cinco espécies: veneno, fogo, explosivo, asfixia e tortura. E, ainda, encerramento do inciso contém uma fórmula genérica ("ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum") que traduz a abertura para a interpretação analógica. O meio insidioso é aquele em que agente faz uso de fraude para cometer um crime sem que a vítima perceba. meio cruel é aquele que causa à vítima um intenso e desneces- sário sofrimento físico ou mental. meio de que possa resultar perigo comum é aquele que expõe não só a vítima ao risco, mas todos as pessoas que estão ao redor. As espécies podem ser compreendidas, em sua maioria, no seu sentido literal, mas ainda assim é preciso que observemos algumas possíveis variantes: veneno é conceituado como "qualquer substância, preparada ou natural, que por sua atuação química é capaz de destruir ou perturbar as funções vitais de um organismo". Contudo, algumas substâncias, inofensivas para as pessoas em geral, podem se revelar como verdadeiros venenos no organismo de outras pessoas, como é caso da glicose para diabético. Perceba que até nas qualificadoras de meio é necessário analisar a situação específica de casa pessoa. A asfixia pode constituir meio cruel ou meio insidioso, dependerá da forma em que for utilizada. Se for um afogamento ou soterramento, será cruel. Se for o uso de gás tóxico, se a vítima não notar, será meio insidioso. www.grancursosonline.com.br 33CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE A tortura pode ser física ou mental e constitui meio cruel. A grande questão é: qual é a dife- rença entre homicídio qualificado pela tortura e a tortura com resultado morte? que diferencia os crimes é o dolo do agente. No homicídio qualificado pela tortura (art. 121, § 2°, III, CP), agente tem o dolo de matar desde princípio e a tortura é a "ferramenta" que ele utiliza para atin- gir sua finalidade. Na tortura com resultado morte (art. 1°, § 3°, da Lei n. 9.455/1997), crime essencialmente preterdoloso (dolo na conduta antecedente e culpa no resultado), dolo inicial do agente era de torturar a vítima, e, dessa conduta, resulta a morte, mas culposamente. 35. DE CARTÓRIO) agente que emprega violência física reiterada contra suspeito da prática de um crime visando extrair-lhe a confissão, mas lhe causa a morte em decorrência da intensidade das sevícias, responde pelo crime de homicídio qualificado pela tortura. Errado. Perceba que, pelo caso apresentado na questão, dolo inicial do agente era obter a confissão. 36. (2021/CEBRASPE/MPE-SC/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO PROVA 1) No homicídio qualificado, dolo eventual é incompatível com meio cruel. Errado. A qualificadora do meio cruel é compatível com dolo eventual: não há incompatibili- dade entre dolo eventual e reconhecimento do meio cruel, na medida em que dolo do agente, direto ou indireto, não exclui a possibilidade de a prática delitiva envolver empre- go de meio mais reprovável, como veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel (art. 121, § 2°, III, do CP). STJ. Turma. AgRg no REsp n. 1.573.829/ SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/04/2019. STJ. Turma. REsp n. 1.829.601-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 04/02/2020 (Info 665). 37. dolo eventual no crime de homicídio é incompatível com as qualificadoras de meio. Errado. Esse ponto específico é objeto de divergência no próprio STJ. Por isso, o gabarito da questão está errado, pois, para que fosse correto, deveria haver uma maior ponderação, ou seja, não poderia ser tão categórico. Perceba: corrente: SIM. dolo eventual no crime de homicídio é compatível com as qualificadoras objetivas previs- tas no art. 121, § 2°, III e IV, do Código Penal. www.grancursosonline.com.br 34CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE As referidas qualificadoras serão devidas quando constatado que autor delas se utilizou dolosamente como meio ou como modo específico mais reprovável para agir e alcançar outro resultado, mesmo sendo previsível e tendo admitido resultado morte. STJ. Turma. REsp 1836556-PR, Rel. Min. Joel llan Paciornik, julgado em 15/06/2021 (Info 701). corrente: NÃO. A qualificadora de natureza objetiva prevista no inciso III do § 2° do art. 121 do Código Pe- nal não se compatibiliza com a figura do dolo eventual, pois, enquanto a qualificadora su- gere a ideia de premeditação, em que se exige do agente um empenho pessoal, por meio da utilização de meio hábil, como forma de garantia do sucesso da execução, tem-se que o agente que age movido pelo dolo eventual não atua de forma direcionada à obtenção de ofensa ao bem jurídico tutelado, embora, com a sua conduta, assuma risco de produzi-la. STJ. Turma. EDcl no REsp n. 1.848.841/MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 2/2/2021. 38. DE POLÍCIA CIVIL) O Código Penal estabelece como hipótese de qualificação do homicídio cometimento do ato com emprego de ve- neno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum. Esse dispositivo legal é exemplo de interpretação a. analógica. b. teleológica. C. restritiva. d. progressiva. e. autêntica. Letra a. A interpretação analógica é aquela em que o legislador lança uma formula genérica ("ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum") e fica a cargo do intérprete conhecer do caso concreto e fazer juízo de adequação. www.grancursosonline.com.br 35CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE 39. A reiteração de golpes, por si só, configura a qualificadora do meio cruel. Errado. A doutrina majoritária entende que a reiteração de golpes isoladamente considerada não configura a qualificadora do meio cruel. Assim, a caracterização da qualificadora depende da produção de intenso e desnecessário sofrimento à vítima. juiz, na decisão de pronúncia, só pode fazer decote (retirada) da qualificadora imputada se ela for manifestamente improcedente, ou seja, se estiver completa- mente destituída de amparo nos elementos cognitivos dos autos. Isso porque verdadeiro julgador dos crimes dolosos contra a vida são os jurados. juiz togado somente deve atuar em casos excepcionais em que a pretensão estatal estiver claramente destituída de base empírica idônea. fato de agente ter praticado o crime com reiteração de golpes na vítima, ao menos em princípio e para fins de pronúncia, é circunstância indiciária do "meio cruel", previsto no art. 121, § 2°, III, do CP. STJ. Turma. REsp n. 1.241.987-PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 6/2/2014 (Info 537). IV Qualificadora da traição IV à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; [...]. Essa qualificadora é marcada, notadamente, pela dificuldade ou impossibilidade de essa vítima se defender. Aqui, homicídio é qualificado pelo modo de execução e, de forma semelhante ao inciso anterior, legislador usou da interpretação analógica para encerrar o inciso de forma não categórica ("ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido"). As qualificadoras desse inciso possuem natureza majoritariamente objetiva. Contudo, a doutrina majoritária leciona que a traição, à exceção das demais, possui natureza subje- tiva, uma vez que agente se vale da confiança que o ofendido depositava nele para matá- -lo num momento em que estava sem vigilância. Vale destacar que o homicídio não será qualificado pela traição se a vítima teve tempo para fugir ou se ocorreu um ataque frontal e repentino (mera surpresa). ATENÇÃO Traição: natureza subjetiva. Emboscada, dissimulação ou recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima: natureza objetiva. www.grancursosonline.com.br 36CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Cléber Masson alerta que a relação de confiança na qualificadora de traição é preexistente ao crime. Já na hipótese em que agente se aproxima da vítima única e exclusivamente com fim de fazer nascer um vínculo de confiança, a qualificadora será a de dissimula- ção, e não a de traição. A emboscada (tocaia) ocorre naquelas situações em que agente faz a famosa "casinha": ele aguarda escondido a passagem da vítima, para que, assim, possa matá-la quando esta passar. O outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima é qual- quer meio análogo à traição, à dissimulação ou à emboscada. 40. (2008/ACAFE/PC-SC/DELEGADO DE POLÍCIA) Na "emboscada" sujeito ativo aguar- da ocultamente a passagem ou chegada da vítima, que se encontra desprevenida, para fim de atacá-la. É inerente a esse recurso a premeditação. Certo. Não existe "emboscada" se não houver planejamento da ação, de acordo com a dou- trina penal. 41. dolo eventual no crime de homicídio é incompatível com as qualificadoras de traição, emboscada e dissimulação. Errado. Esse ponto específico é objeto de divergência no próprio STJ. Por isso, o gabarito da questão está errado, pois, para que fosse correto, deveria haver uma maior ponderação, ou seja, ele não poderia ser tão categórico. Perceba: corrente: SIM. dolo eventual no crime de homicídio é compatível com as qualificadoras objeti- vas previstas no art. 121, § 2°, III e IV, do Código Penal. As referidas qualificadoras serão devidas quando constatado que autor delas se utilizou dolosamente como meio ou como modo específico mais reprovável para agir e alcançar outro resultado, mesmo sendo previsível e tendo admitido o resultado morte. STJ. Turma. REsp n. 1.836.556-PR, Rel. Min. Joel llan Paciornik, julgado em 15/06/2021 (Info 701). corrente: NÃO. dolo eventual não se compatibiliza com a qualificadora do art. 121, § 2°, IV (trai- ção, emboscada dissimulação). Para que incida a qualificadora da surpresa, é indispensável que fique provado que agente teve a vontade de surpreender a vítima, impedindo ou dificultando que ela se defendesse. Ora, no caso do dolo eventual, agente não tem essa 37CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE intenção, considerando que não quer matar a vítima, mas apenas assume risco de produzir esse resultado. Como o agente não deseja a produção do resultado, ele não direcionou sua von- tade para causar surpresa à vítima. Logo, não pode responder por essa circuns- tância (surpresa). STF. Turma. HC n. 111.442/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/8/2012 (Info 677). V - Conexão V para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: [...]. Essa qualificadora está intimamente relacionada às motivações do agente. Perceba que o agente vai praticar delito com a finalidade de assegurar a execução, a ocultação, a impu- nidade ou a vantagem de outro delito, sendo, portanto, qualificadora de natureza subjetiva. Esse inciso prevê duas espécies de conexão: a teleológica e a consequencial. Na tele- ológica tem por finalidade assegurar a execução de outro CRIME (se for contravenção, não incidirá a qualificadora). Exemplo: agente mata segurança de uma famosa para em seguida sequestrá-la. Nessa hipótese, o agente responde tanto pelo homicídio qualificado pela cone- xão (homicídio do segurança) quanto pelo crime que objetivava assegurar (sequestro da famosa), caso consiga executar esse segundo crime, por óbvio. Se não conseguir executar esse segundo crime, responderá apenas pelo homicídio qualificado pela conexão teleológica. ! ATENÇÃO Se homicídio for praticado para assegurar a execução de uma contravenção penal, não incidirá a qualificadora! Na conexão consequencial, agente pratica homicídio a fim de assegurar a ocultação, a impunidade ou a vantagem do outro crime. Aqui, diferentemente da conexão homicídio será praticado em momento posterior ao crime que agente busca assegurar. A doutrina alerta que, tanto na ocultação quanto na impunidade, não é necessário que o agente seja responsável tanto pelo crime anterior quanto pelo homicídio, assim, basta que esse agente tivesse a intenção de ocultar o cometimento do primeiro delito ou assegu- rar a impunidade desse delito anterior. www.grancursosonline.com.br 38CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE 42. (2019/VUNESP/PREFEITURA DE CERQUILHO SP/GUARDA MUNICIPAL III) Hér- cules havia cometido um crime de roubo e ficou sabendo que Medusa foi testemunha ocular desse delito. Assim, resolve tirar a vida de Medusa, crime este que veio a exe- cutar, pessoalmente, mediante disparo de arma de fogo. Nessa situação hipotética, considerando apenas essas informações, segundo Código Penal, é correto afirmar que Hércules cometeu crime de homicídio simples. b. homicídio simples, com atenuante, por ter agido sob domínio de violenta emoção. feminicídio em razão de a vítima ser mulher. d. homicídio qualificado, por ter agido para assegurar a impunidade de outro crime. e. homicídio qualificado, em razão de a vítima ser mulher. Letra d. Vou aproveitar essa questão para fazer uma pequena diferenciação entre ocultação, impu- nidade e vantagem. Na ocultação, agente quer impedir a descoberta da prática de outro crime (exemplo: o agente mata a única testemunha do crime de furto que cometera). Na impunidade, o agen- te busca dificultar o reconhecimento do autor do crime (exemplo: o agente estupra uma pessoa e depois a mata para que não seja reconhecido posteriormente). Já na vantagem, o agente quer assegurar o produto/proveito do crime (exemplo: dois agentes cometeram, em concurso, um furto, daí um deles mata comparsa para ficar com todo valor furtado. 43. (2008/ACAFE/PC-SC/DELEGADO DE POLÍCIA) O "outro crime" de que fala a qualifica- dora do homicídio sob o inciso V do § 2° do artigo 121 (conexão teleológica) do Código Penal somente pode ser executado pelo agente do homicídio. Errado. "outro crime" pode ser inclusive que venha a ser executado por outra pessoa. Basta que agente pratique o homicídio com a finalidade de assegurar outro crime, ainda que não venha a ser praticado por ele. www.grancursosonline.com.br 39CRIMES CONTRA VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE VI Feminicídio Feminicídio (Incluído pela § 2°-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando Lei n. 13.104, de 2015) crime envolve: (Incluído pela Lei n. 13.104, de 2015) (grifos nossos) VI contra a mulher por violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei n. 13.104, de 2015) razões da condição de sexo menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei feminino: (Incluído pela Lei n. n. 13.104, de 2015) 13.104, de 2015) (natureza § 7° A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se objetiva comunicável crime for praticado: (Incluído pela Lei n. 13.104, de 2015) (grifos nossos) a coautores e partícipes) I durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído (comentários nossos) pela Lei n. 13.104, de 2015) contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou com doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabili- dade física ou mental; (Redação dada pela Lei n. 14.344, de 2022) Vigência III na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; (Redação dada pela Lei n. 13.771, de 2018) IV em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, e III do caput do art. 22 da Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei n. 13.771, de 2018) feminicídio é homicídio doloso cometido contra a mulher por razões da condição de a pessoa ser do sexo feminino. Perceba que, para ser feminicídio, não basta que a vítima seja uma pessoa do sexo feminino, é necessário que essa condição tenha sido a motivação para a prática do delito. homicídio contra uma mulher, sem que esse seja o fator motivacio- nal da conduta, é denominado de femicídio. 44. SUBSTITUTO) agente que matar sua empregadora por ter sido dispensado sem justa causa responderá por feminicídio, haja vista a vítima ser mulher. Errado. Para que seja feminicídio, é necessário que homicídio seja praticado em razão da condição de mulher. caso da questão não apresentou essa hipótese, sendo, então, um femicídio. Muito embora o feminicídio seja assim compreendido levando-se em consideração aspec- tos internos do agente (o motivo do delito), STJ compreende que essa qualificadora pos- sui natureza objetiva, uma vez que § 2°-A, norma penal explicativa, buscou delimitar o que é compreendido nesta categoria de da condição de sexo feminino" utilizando, para tanto, conceitos de outra lei: § 2°-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando crime envolve: (Incluído pela Lei n. 13.104, de 2015) (grifos nossos). violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei n. 13.104, de 2015) menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei n. 13.104, de 2015) www.grancursosonline.com.br 40CRIMES CONTRA VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE art. 5° da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) determina: "configura violência do- méstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe causa morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial (gri- fos nossos)" e, em seus incisos, traz explicações sobre a delimitação dos campos afetivos. Já inciso do § 2°-A estabelece que haverá razões de condição do sexo feminino quando hou- ver "menosprezo ou discriminação à condição de mulher". Nesse caso, não se exige a vio- lência doméstica e familiar, sendo a qualificadora configurada com o menosprezo ou discrimina- ção à condição de mulher, ou seja, agente mata a mulher por considerá-la como um ser inferior. Embora crime seja comumente praticado por homem, ele é classificado como crime comum, pois o sujeito ativo pode ser homem ou mulher (exemplo: uma mulher mata sua namorada em uma discussão por considerar que ela não tinha direito de romper com relacionamento). A vítima será obrigatoriamente uma pessoa do sexo feminino (criança, adulta, idosa, pessoa com deficiência, desde que seja do sexo feminino), então, quanto à sujeição passiva, crime é classificado como próprio. Nesse contexto, houve intensa discussão acerca dos homos- sexuais, travestis e transgêneros. Hodiernamente, o que prevalece é que os homossexuais e os travestis não podem ser vítimas de feminicídio; a mulher transgênero, por outro lado, pode ser vítima tanto de violência doméstica e familiar contra a mulher quanto de feminicídio. § 7° do art. 121 traz as causas de aumento de pena aplicáveis exclusivamente ao femi- nicídio. Essas causas de aumento de pena incidem na terceira fase de aplicação da pena e, para que sejam reconhecidas no caso concreto, devem integrar dolo do agente. São as causas de aumento: § 7° A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se crime for praticado: (Incluído pela Lei n. 13.104, de 2015) (grifos nossos) durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei n. 13.104, de 2015) (grifos nossos) II contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou com doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; (Redação dada pela Lei n. 14.344, de 2022) III na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; (Redação dada pela Lei n. 13.771, de 2018) IV em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, e III do caput do art. 22 da Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei n. 13.771, de 2018) Essas causas de aumento visam a aumentar rigor da norma no caso em que houver nítida situação de vulnerabilidade. Perceba que a causa de aumento de pena do inciso IV não vai incidir no descumprimento de toda e qualquer medida protetiva de urgência, mas apenas as previstas no art. 22, I, e III, da Lei n. 11.340 de 2006: www.grancursosonline.com.br 41CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: I suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao ór- gão competente, nos termos da Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003; afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III proibição de determinadas condutas, entre as quais; a. aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limi- te mínimo de distância entre estes e agressor; b. contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; C. frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida; [...]. 45. (2017/IBADE/PC-AC/AGENTE DE POLÍCIA CIVIL) Terêncio, em razão da condição de sexo feminino, efetua disparo de arma de fogo contra sua esposa Efigênia, percepti- velmente grávida, todavia atingindo, por falta de habilidade no manejo da arma, Nereu, um vizinho, que morre imediatamente. Desconsiderando os tipos penais previstos no Estatuto do Desarmamento e levando em conta apenas as informações contidas no enunciado, é correto afirmar que Terêncio praticou crime(s) de: a. feminicídio majorado. b. aborto, na forma tentada, e homicídio. homicídio culposo, feminicídio majorado, na forma tentada, e aborto, na forma tentada. d. aborto, na forma tentada, e feminicídio majorado. e. homicídio culposo e aborto, na forma tentada. Letra d. A primeira informação que precisamos saber aqui é a respeito do erro, previsto no art. 73 do CP. No caso de erro na execução, o agente responde como se tivesse atingido quem ele pretendia atingir (vítima virtual). É bem verdade que a causa de aumento do I, determina que crime terá a pena au- mentada se o feminicídio ocorrer durante a gestação e o agente conhecesse tal circunstân- cia. Ocorre que a causa de aumento tutela a vida da gestante e não propriamente do feto. Por isso que não há bis in idem no reconhecimento do feminicídio majorado e também do aborto, até porque são crimes diferentes. Com isso, teremos alguns desdobramentos: A mulher e feto sobrevivem o agente responde por tentativa de feminicídio e por tentativa de aborto. www.grancursosonline.com.br 42CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE A mulher e feto morrem agente responde por feminicídio consumado e por aborto consumado. A mulher morre e feto sobrevive - o agente responde por feminicídio consumado, em concurso com uma tentativa de aborto. A mulher sobrevive e feto morre agente responderá por feminicídio tentado, em concurso com o aborto consumado. 46. DE POLÍCIA PROVA ANULADA) Para fins de tipificação penal, admite-se a possibilidade de incidência da qualificadora do motivo torpe em caso de crime de feminicídio, visto que este possui natureza objetiva na qua- lificadora do crime de homicídio, não havendo, com as incidências, bis in idem. Letra Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de motivo torpe e de femi- nicídio no crime de homicídio praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar. Isso se dá porque o feminicídio é uma qualificadora de ordem OBJETIVA vai incidir sem- pre que o crime estiver atrelado à violência doméstica e familiar propriamente dita, enquan- to que a torpeza é de cunho subjetivo, ou seja, continuará adstrita aos motivos (razões) que levaram um indivíduo a praticar delito. STJ. Turma. HC 433898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/04/2018 (Info 625). Não há dúvidas acerca da natureza subjetiva da qualificadora do motivo torpe, ao passo que a natureza do feminicídio, por se ligar à condição especial da vítima, é objetiva, não havendo, assim, qualquer óbice à sua imputação simultânea. É inviável afastamento da qualificadora do feminicídio mediante a análise de aspectos subjetivos da motivação do crime, dada a natureza objetiva da referida qualificadora, ligada à condição de sexo feminino. STJ. Turma. REsp 1739704/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 18/09/2018. www.grancursosonline.com.br 43CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE 47. (2021/CEBRASPE/MPE-AP/PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO) Tiago, movido por um sentimento de posse, disparou dois tiros contra sua companheira, Laura, que morreu em razão dos ferimentos causados pelos disparos. Laura estava grávida de seis meses e, quando da prática do crime, Tiago sabia da gravidez dela. Nessa situação hipotética, Tiago praticou o crime de feminicídio apenas. b. os crimes de homicídio qualificado por motivo torpe, feminicídio e aborto. o crime de feminicídio em concurso com de aborto. d. os crimes de homicídio qualificado por motivo torpe e feminicídio apenas. e. o crime de feminicídio em concurso com o de aborto na modalidade culposa. Letra b. PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. DE- CISÃO DE PRONÚNCIA ALTERADA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. INCLUSÃO DA QUALIFICADORA DO FEMINICÍDIO. ALEGADO BIS IN IDEM COM MOTIVO TORPE. AUSENTE. QUALIFICADORAS COM NATUREZAS DIVERSAS. SUBJETIVA E OBJETI- VA. POSSIBILIDADE. EXCLUSÃO. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. ORDEM DENEGADA. 1. Nos termos do art. 121, § 2°-A, II, do CP, é devida a incidência da quali- ficadora do feminicídio nos casos em que delito é praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar, possuindo, portanto, natureza de ordem objetiva, o que dispensa a análise do animus do agente. Assim, não há se falar em ocorrência de bis in idem no reconhecimento das qualificadoras do motivo torpe e do feminicídio, porquanto, a primeira tem natureza subjetiva e a segunda objetiva. 2. A sentença de pronúncia só deve- rá afastar a qualificadora do crime de homicídio se completamente dissonante das provas carreadas aos autos. Isso porque referido momento processual deve limitar-se a um juízo de admissibilidade em que se examina a presença de indícios de autoria, afastando-se, assim, eventual usurpação de competência do Tribunal do Júri e de risco de julgamento antecipado do mérito da causa. 3. Habeas corpus denegado. (STJ. HC n. 433.898-RS 2018/0012637-0, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 24/04/2018, T6 SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 11/05/2018). www.grancursosonline.com.br 44CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE 48. (2021/INSTITUTO AOCP/PC-PA/ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL) Assinale a alternativa correta no que concerne aos crimes contra a vida. a. No homicídio, se agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta pro- vocação da vítima, juiz pode reduzir a pena de um a dois terços. b. A pena do feminicídio é aumentada de um terço até a metade se o crime for praticado durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto. C. É possível homicídio privilegiado qualificado, desde que a qualificadora tenha natu- reza subjetiva. d. No crime de instigação ao suicídio ou à automutilação, a pena é triplicada se crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil. e. Sendo doloso homicídio, a pena é aumentada pela metade se o crime é praticado contra pessoa menor de quatorze ou maior de sessenta anos. Letra b. a. A diminuição é de 1/6 a 1/3. A qualificadora deve ser de natureza objetiva. d.A pena é duplicada. 49. DE JUSTIÇA DE ENTRÂNCIA INICIAL) A qualificadora do feminicídio, caso envolva violência doméstica, menosprezo ou discri- minação à condição de mulher, não é incompatível com a presença da qualificadora da motivação torpe. Certo. Importante destacar que, de acordo com entendimento jurisprudencial do STJ, a qualifica- dora do feminicidio tem natureza OBJETIVA. 50. (2019/CEBRASPE/DPE-DF/DEFENSOR PÚBLICO) A circunstância do descumprimen- to de medida protetiva de urgência imposta ao agressor, consistente na proibição de aproximação da vítima, constitui causa de aumento de pena no delito de feminicídio. Certo. Lembre-se de que apenas descumprimento de medidas protetivas específicas é que faz incidir a causa de aumento no crime. 45CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE 51. (2018/FCC/MPE-PE/TÉCNICO MINISTERIAL ADMINISTRATIVA) Ficou comprovado que houve assassinato, pela única razão de menosprezo à condição de mulher, pratica- do por Samuel contra sua vizinha Maria de Fátima, de trinta anos de idade, que possuía um filho ao qual deu à luz dois meses exatos antes do crime. Com base nas disposições da Lei no 13.104/2015 (Lei do Feminicídio), nesse caso, crime de feminicídio a. está caracterizado e a pena prevista em lei será aumentada de um terço até a metade. b. não está caracterizado, pois não houve violência doméstica. C. está caracterizado em sua modalidade simples, não havendo aumento de pena. d. está caracterizado e a pena prevista em lei será aumentada de um a dois terços. e. está caracterizado e a pena prevista em lei será aumentada de um sexto a um terço. Letra a. VII Homicídio funcional VII contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Públi- ca, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, com- panheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei n. 13.142, de 2015) Esta qualificadora tem a finalidade de tornar mais severa a pena do homicídio praticado contra os integrantes dos órgãos de segurança pública ou contra as pessoas a eles ligadas, seja por casamento, união estável ou parentesco consanguíneo. Com isso, percebe-se que essa qualificadora tem natureza subjetiva, pois está intimamente relacionada com a motiva- ção do agente e, consequentemente, não admite a figura Trata-se de norma penal em branco, uma vez que a descrição típica depende da complemen- tação dos arts. 142 e 144 da CFRB/1988. A incidência dessa qualificadora requer a presença de dois requisitos: sujeito que figura na condição de vítima e a correlação entre crime e sua função. www.grancursosonline.com.br 46CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Requisito 1: Requisito 2: Condição da vítima Relação com a função Forças Armadas; Polícia Federal; Polícia Rodoviária Federal; Polícia Ferroviária Federal; Desde que crime tenha sido praticado Polícias Civis; contra a pessoa no exercício das funções Polícias Militares; ou Corpos de Bombeiros Militares; em decorrência dela. Guardas Municipais; Agentes de segurança viária; Sistema Prisional Força Nacional de Segurança Pública. Cônjuge Em razão da condição de cônjuge, compa- Companheiro nheiro ou parente consanguíneo até 3° Parente consanguíneo até o 3° grau. grau do agente de segurança pública. Fonte: Dizer direito. Os integrantes das Guardas Municiais, muito embora não sejam classificados como agentes dos órgãos de segurança pública no caput do art. 144 da CF, estão inseridos nessa previsão porque possuem resguardo no art. 144, § 8°, da CF. A previsão não contempla, con- tudo, os Policiais Legislativos, uma vez que estão previstos apenas nos art. 51, IV e art. 52, XIII, da CF, e não nos art. 142 e 144, como requer expressamente Código Penal. A doutrina alerta, ainda, que a qualificadora abarca apenas os funcionários públicos da ativa, assim, se a vítima tiver deixado de exercer a função de agente de segurança pública, mesmo que há pouco tempo, estará excluída a figura qualificada, ainda que crime tenha sido motivado pela atividade anteriormente desempenhada por ele. O tipo penal também engloba cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até o 3° grau, em razão dessa condição. Cônjuge é aquele que é formalmente casado com o agente de segurança pública, seja homem ou mulher, já companheiro é aquele que dete- nha união estável com o agente. parente consanguíneo até terceiro grau são os pais, avós, bisavós, filhos, netos, bisnetos, irmãos, tios e sobrinhos. Quanto à consanguinidade, ela diz respeito ao vínculo biológico (parente de sangue), sendo assim, a qualificadora não abarca filho adotivo nem o parentesco por afinidade (aquele adquirido em razão do casamento ou união estável. Ex.: sogro, sogra, genro, nora e cunhado). Em razão do princípio da taxatividade e da proibição da analogia in malam partem, o intérprete não pode ampliar o alcance da norma penal para incluir no âmbito de proteção o filho adotivo, ainda que a CF traga em seu texto a isonomia entre os filhos biológicos e os adotivos (art. 227, § 6°, da CF). www.grancursosonline.com.br 47CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE 52. (2019/FUNDEP GESTÃO DE CONCURSOS/DPE-MG/DEFENSOR PÚBLICO) A qua- lificadora do chamado homicídio funcional, de acordo com o texto legal, só abrange o vínculo consanguíneo, de forma que ela não incide se a vítima for o filho adotivo do agente de segurança. Certo. 53. (2018/FUMARC/PC-MG/ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL) A policial Michele Putin, na noite de 14 de março de 2018, quando retornava para sua casa, após liderar uma exito- sa operação contra o tráfico de entorpecentes na comunidade de "Miracema do Norte", foi abordada por dois homens armados e friamente assassinada. Num fenomenal traba- lho investigatório, a Polícia Civil logrou êxito em identificar os assassinos como sendo os irmãos Jorge e Ernesto Petralha, apurando que tal homicídio se deu em represália pelas prisões ocorridas quando da citada operação policial. Diante desse quadro, podemos asseverar que os assassinos responderão por: feminicídio, conduta tipificada no art. 121, § 2°, VI, CP. b. homicídio funcional, conduta tipificada no art. 121, § 2°, VII, CP. homicídio qualificado por motivo fútil, conduta tipificada no art. 121, § 2°, II, CP. d. homicídio qualificado por motivo torpe, conduta tipificada no art. 121, § 2°, II, CP. Letra b. 54. DE POLÍCIA PROVA ANULADA) Em janeiro de 2021, Lucas, com 20 anos de idade e nítida vontade de matar Rafael, adquiriu uma arma de fogo e começou a procurá-lo pela cidade. Na semana anterior ao aniversário de 14 anos de Rafael, Lucas encontrou Rafael enquanto este conversava com uma pessoa e, então, disparou cinco tiros contra a vítima, que veio a óbito trinta dias depois. Posteriormente, em seu interrogatório, Lucas afirmou que havia matado Rafael por este ser enteado de um policial civil que investigava por outros crimes. Considerando essa situação hipotética, julgue item a seguir. Lucas cometeu crime de homicídio doloso qualificado pela impossibilidade de defesa da vítima e pela relação de parentesco dela com policial civil que investigava Lucas. www.grancursosonline.com.br 48CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE Errado. Não incidirá a qualificadora do homicídio funcional porque Rafael era apenas enteado de um policial civil, e enteado não é parente consanguíneo. Assim, não incidirá essa qualifica- dora, porque o Direito Penal brasileiro não admite analogia in malam partem. Sobre a qualificadora "que impossibilite a defesa da a priori, não está presente no caso, já que a simples surpresa não é suficiente para tipificá-la. 55. (2019/FUNDEP GESTÃO DE PÚBLICO) A qua- lificadora do chamado homicídio funcional, de acordo com texto legal, só abrange vínculo consanguíneo, de forma que ela não incide se a vítima for filho adotivo do agente de segurança. Certo. Não há consanguinidade, ou seja, relação de sangue, que permita reconhecimento de um tronco comum com relação ao filho adotivo. Dessa forma, infelizmente, se o homicídio for praticado contra o filho adotivo de um policial, em razão dessa condição, não podere- mos aplicar a qualificadora do VII do § 2° do art. 121 do CP, tendo em vista que, caso assim fizéssemos, estaríamos utilizando a chamada analogia in malam partem (GRECO, 2015, apud BARBOSA; PEIXOTO). VIII Arma de fogo VIII com emprego de ARMA DE FOGO de uso restrito ou proibido: (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019) (grifos nossos) [...]. Essa qualificadora, introduzida pelo Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/2019), buscou trazer maior rigor ao julgamento do crime cometido com arma de fogo, seja ela de uso restrito ou proibido. Ou seja, se o homicídio for praticado com uso de arma branca (exemplo: faca) ou arma de fogo de uso permitido, não será qualificado. ATENÇÃO Essa é uma qualificadora de natureza objetiva. www.grancursosonline.com.br 49CRIMES CONTRA A VIDA E LESÕES CORPORAIS GRAN CURSOS Pâmella Tayná ONLINE 56. (2022/INSTITUTO AOCP/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO) Em relação aos crimes do- losos contra a vida, analise as seguintes afirmações: - crime de homicídio é privilegiado se praticado sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima. As qualificadoras do motivo torpe e do feminicídio são incompatíveis entre si, de modo que é vedado sua imputação simultânea, sob pena de bis in idem. III homicídio é qualificado se praticado com o emprego de arma de fogo. Considerando a legislação aplicável e o entendimento dos Tribunais Superiores, está INCORRETO que se afirma em a. II. b. e II. e III. e III. e. e III. Letra d. Todas as afirmativas estão incorretas. I Será privilegiado se praticado mediante DOMÍNIO de violenta emoção + injusta provo- cação da vítima + reação imediata. O STJ entende ser compatível a qualificadora do motivo torpe com feminicídio. III Somente será qualificado pelo emprego de arma de fogo de uso RESTRITO ou PROI- BIDO. Se a questão disser apenas "arma de fogo", estará errada. IX Menor de catorze anos (qualificadora Henry Borel) Homicídio contra menor de 14 (qua- § 2°-B. A pena do homicídio contra menor de 14 (quatorze) torze) anos (Incluído pela Lei n. 14.344, anos é aumentada de: (Incluído pela Lei n. 14.344, de 2022) de 2022) Vigência Vigência IX contra menor de 14 (quatorze) anos: I 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é pessoa com (Incluído pela Lei n. 14.344, de 2022) deficiência ou com doença que implique aumento de sua Vigência vulnerabilidade; (Incluído pela Lei n. 14.344, de 2022) Vigên- cia (grifos nossos) 2/3 (dois terços) se o autor é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela. (Incluído pela Lei n. 14.344, de 2022) Vigência (grifos nossos) www.grancursosonline.com.br 50